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PESQUISA NO ENSINO DE QUÍMICA

Sobre a importância do conceito


transformação química no processo de
aquisição do conhecimento químico
Maria Inês de Freitas Petrucci S. Rosa
Roseli Pacheco Schnetzler

A seção “Pesquisa no ensino de química” relata investigações cimento científico, constituindo-se em


relacionadas a problemas no ensino de química, explicitando os concepções alternativas do objeto de
fundamentos teóricos e procedimentos metodológicos adotados na ensino (Rosa, 1996).
pesquisa e analisando seus resultados. Tal constatação decorre de contri-
Este artigo apresenta e discute as principais concepções de alunos buições de inúmeras pesquisas, cujos
do ensino médio sobre transformações químicas, obtidas a partir de principais resultados merecem ser
uma extensa revisão bibliográfica de pesquisas sobre tal conceito considerados na prática docente, uma
fundamental. vez que esta implica o diagnóstico e o
conhecimento de idéias dos(as) alu-
transformação química, ensino de química, concepções alternativas nos(as) para levá-las em consideração
no processo de ensino. A justificativa
para tal é que elas influenciam como
os(as) alunos(as) entendem e desen-
volvem as atividades que lhes apresen-
tamos em nossas aulas (Schnetzler, 31

A
o considerar a relevância de se riamente em nossas vidas, como o me-
aprender química na socie- tabolismo, a ação de medicamentos, 1994).
dade de hoje, temos em mente o cozimento de alimentos, entre tantos Concepções alternativas de
a construção da cidadania no que se outros exemplos.
aluno(a)s sobre
refere à participação consciente e deli- Aliado ao ponto de vista da forma-
berada dos indivíduos na sociedade. ção do cidadão, podemos ainda apon- transformação química (TQ)
Para isso, é necessário que o cidadão tar que, epistemologicamente, para Dentre as pesquisas revisadas
disponha de informações, dentre elas que o sujeito conheça a química, en- sobre concepções alternativas de alu-
aquelas oriundas do conhecimento tender esse conceito se torna uma ne- nos(as) sobre transformação química,
químico relacionadas ao avanço tec- cessidade central. Afinal, “a atividade uma das mais significativas é a de
nológico dessa mesma sociedade central do químico é compreender as Andersson (1990), que analisa as con-
(Santos & Schnetzler, 1997). transformações (reações) químicas e cepções de estudantes de 11 a 17
Nessa perspectiva, assumimos que delas tirar pro- anos, identificadas nos se-
o estudo das transformações químicas veito. Às vezes, guintes trabalhos: Anders-
contribui para o entendimento do im- seu interesse É muito comum os son e Renstrom (1981,
pacto causado pelo avanço da indús- está em produ- alunos conceberem a 1983a , 1983b), Pfundt
tria química moderna no meio ambien- zir uma transfor- ferrugem como uma (1982), Shollum (1982),
te. Podemos considerar, por exemplo, mação, outras espécie de química Andersson (1984,1986),
o conjunto de problemas gerados pelo vezes, em evitá- que surge na umidade Méheut e col. (1985) e De
lixo produzido pela sociedade capita- la. Em todos os e fica no ar, atacando Vos e Verdonk (1985 a,b,
lista moderna. O estudo das transfor- casos, ele de- algum metal quando 1986, 1987 a,b).
mações químicas que ocorrem no lixo seja compre- este é umedecido. Para Na sua análise, An-
pode auxiliar a compreender por que, ender e contro- eles, ferrugem é uma dersson configura cinco ca-
neste caso, os plásticos se transfor- lar as transfor- espécie de fungo tegorias de idéias de alu-
maram em um problema ambiental, mações quími- nos(as) sobre transforma-
provocando a necessidade de os quí- cas que podem ocorrer”. (Edart, 1967) ções químicas, a saber: (a) desapare-
micos começarem a produzir plásticos Dificultando o acesso a esse enten- cimento, (b) deslocamento, (c) modi-
biodegradáveis. dimento e à viabilização de processos ficação, (d) transmutação, (e) interação
Compreender a ocorrência e os de aprendizagem, as idéias que cos- química.
mecanismos das transformações quí- tumam circular em âmbito escolar a As características da categoria (a)
micas permite ainda o entendimento respeito desse conceito estão muitas apontam para a concepção de que du-
de muitos processos que ocorrem dia- vezes bastante distantes do conhe- rante uma transformação química

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ocorre o mero desaparecimento de A categoria (d), transmutação, re- tada por De Vos & Verdonk (1985a).
alguma(s) substância(s). Andersson e presenta uma série de transformações Esses autores, investigando alunos(as)
Renstrom (1983, p. 56) formularam a ‘proibidas’ na química, como por holandeses(as) de 14 a 15 anos,
seguinte questão a 2800 alunos(as) de exemplo: energia se transformando em iniciantes no currículo de química,
12 a 15 anos: “Um carro pesa 1000 matéria ou vice-versa, ou mesmo identificaram as seguintes noções
kg. Ele é abastecido com 50 kg de matéria se transformando em outro tipo sobre o comportamento das substân-
combustível . O carro é dirigido até que de matéria, o que é permitido nas leis cias, suas transformações e a natureza
o tanque de combustível fique vazio. químicas. Assim, por exemplo, naquele de suas partículas:
O carro volta a pesar 1000 kg. Aproxi- problema sobre os gases de escape • Há a idéia de que existem ‘molé-
madamente, qual é a massa dos gases já citado, alguns alunos responderam: culas quentes’ e ‘moléculas frias’.
de escape expelidos durante a perda “...parte do petróleo se transformou em • Um metal é bom condutor de
de peso do carro?”. Cerca de 15 por calor e energia cinética.” calor porque cada átomo é bom
cento dos(as) alunos(as) responderam A categoria (e), interação química, condutor de calor.
que o combustível usado no carro sim- do ponto de vista do processo de ensi- • Nos líquidos, as moléculas são
plesmente desapareceu, sem fazer no-aprendizagem, é a mais desejável, pequenas e em forma de pequenas
qualquer suposição sobre a massa indicando uma concepção dinâmica e gotas.
perdida ou sobre a transformação corpuscular da matéria por parte • A expansão de objetos ocorre por
ocorrida. dos(as) alunos(as). causa da expansão das moléculas.
Na categoria (b), a Os alunos costumam Todavia, na maioria • Uma substância ‘macia’ não
idéia de deslocamento pensar que os átomos dos trabalhos pode ser feita de moléculas ‘rígidas’.
exprime a noção de são pequenos grãos analisados por • A transparência de algumas
que durante uma trans- que podem dilatar, Andersson, somente substâncias deve-se ao fato de suas
formação química po- contrair, mudar de 15 por cento do(a)s moléculas serem transparentes.
de ocorrer mudança de estado, como qualquer alunos(as) expres- • Substâncias que têm cheiro são
espaço físico da subs- outra porção de saram a idéia de cercadas por uma ‘aura de cheiro’
tância, isto é, ela pode matéria transformação quími- esférica.
32
desaparecer de um da- ca dessa forma. Em • A cola funciona devido a uma fina
do lugar simplesmente porque se alguns casos, apenas 2 por cento das camada adesiva que a própria subs-
deslocou. Shollum (1982) entrevistou respostas pertenciam a essa categoria tância possui.
estudantes de 11 a 17 anos sobre mesmo após os(as) alunos(as) terem • Em organismos vivos as molé-
transformação química e obteve vários sido submetidos(as) ao ensino de culas estão vivas, exceto em cabelos
exemplos de respostas. Nessa cate- transformação química. (Andersson e e dentes.
goria, ao se lhes pedir explicações so- Renstrom, 1981, 83). Ben-Zvi e col. (1987), investigando
bre a ferrugem formada em um prego, É interessante notarmos, ainda, um 337 alunos(as) israelenses com idade
surgiu a seguinte explicação: outro tipo de concepção sobre trans- entre 13 e 15 anos, constataram que
formação química entre estudantes eles apresentavam grande dificuldade
Ferrugem é uma espécie de secundaristas, a qual foi detectada por em mudar seus raciocínios do campo
química. Ela surge na umidade Andersson e Renstrom (1986) em 10 fenomenológico para o nível atômico-
e fica no ar todo o tempo, e por cento dos participantes da pes- molecular pois, por exemplo, atribuíam
quando algum metal é umede- quisa. Estes afirmaram que transfor- propriedades como cor e fase a
cido, ela se propaga e o ataca. mação química ocorre com certos ma- átomos e moléculas individuais. Nesse
É uma espécie de fungo. teriais porque “é natural ou esperado sentido, foram encontradas manifes-
Esta resposta expressa a idéia de que seja assim” (“it is just like that”). tações do tipo: “o ouro é dourado por-
que a ferrugem está no ar e se desloca Os mesmos autores constataram que possui átomos de cor dourada e
para o prego porque ele está úmido. que, mesmo após terem tido aulas de a água é líquida porque é composta
Na categoria (c), a concepção de química, poucos(as) alunos(as) em- de moléculas líquidas”.
modificação revela a conotação de pregam os conceitos de átomo e molé- Cachapuz (1988) também identi-
cula em seus raciocínios sobre trans- ficou a mesma tendência com relação
mudança de estado físico ou de forma
formação química. Muitos concebem às idéias de alunos(as) secundaristas
durante a transformação, como foi
o nível atômico-molecular como se fos- portugueses(as) sobre o que ocorre
constatado por Andersson numa das
se uma extrapolação do nível fenome- durante a cocção de um ovo. Foram
respostas obtidas por Meheut e col.
nológico. Em outras palavras, o que se encontradas respostas do tipo:
(1985) com relação à combustão do
aplica ao macro também se aplica ao “...quando aquecemos um ovo ele se
álcool:
micro. torna maior (...) o tamanho das partí-
Quando o álcool queima, há Essa extrapolação que os estudan- culas aumenta e elas se tornam mais
vapor de álcool... quando você tes fazem do nível macroscópico (feno- compactas...” Na mesma pesquisa foi
aquece água em um prato, há menológico) para o microscópico (teó- constatada, ainda, a noção de ‘reagen-
vapor de água. rico, conceitual) foi também consta- te principal’ em uma transformação

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química. Segundo o autor, essa idéia química e mistura no processo de propriedades. Neste caso, uma
é considerada uma versão contempo- ensino-aprendizagem investigado. substância é considerada uma ‘fonte’
rânea da dualidade entre os princípios Também Rosa (1996), ao investigar de propriedades. Assim, pode-se ouvir
do enxofre e do mercúrio, usados pe- as idéias prévias de alunos(as) da pri- os estudantes falando sobre con-
los alquimistas do século XIII para meira série do ensino médio brasileiro, servação de substância em reações
explicar fenômenos naturais. Assim, as pôde constatar que 20 por cento de- químicas com frases do tipo ‘X se torna
transformações químicas ocorreriam les(as) concebiam transformação quí- Y’, onde X é uma substância e Y uma
tendo sempre um material ‘mais impor- mica como uma simples mistura de propriedade. Um exemplo é: “o cobre
tante’ que é transformado devido à materiais. Por outro lado, a maioria des- se torna preto se é posto na chama”.
ação de outros ses(as) alunos(as) Esta expressão pode ser interpretada
reagentes. Segundo o Usualmente, as idéias (65 por cento), ao se como implicando a conservação da
referido autor, o dos alunos sobre manifestarem a res- substância cobre, que passa a ser
‘reagente principal’ se- transformações peito de transforma- preta.
ria sempre um sólido, químicas são bastante ções químicas, apon- Segundo Driver (1989), é possível
pois é maciço, visível, distintas daquelas tava processos onde que os(as) alunos(as) assimilem con-
ou um ácido, porque é cientificamente aceitas ocorrem mudanças ceitos sobre átomos e moléculas e
forte. De acordo com de estado físico ou de suas representações do modo preten-
este raciocínio, o gás oxigênio, por cor. dido nas aulas de ciências mas, quan-
exemplo, não é importante nas Nessa perspectiva, Stravidou e do se encontram diante de um fenô-
reações de combustão porque é Solomonidou (1989) também constata- meno que tenham que explicar,
invisível, evidenciando que nessas ram que estudantes gregos se expres- tendem a considerar relevantes não as
concepções há uma influência clara sam sobre transformações químicas noções que lhes foram ensinadas mas
de experiências vividas pelos alunos num nível de ‘concretude’ restrito a sim as idéias intuitivas próprias, das
no cotidiano. manifestações externas visuais de mu- experiências de cada um(a).
As influências que as mudanças vi- danças da matéria. Mais uma vez, as Parece ser consenso entre os(as)
suais exercem na construção de idéias autoras constataram que todos os atri- pesquisadores(as) que a manifestação 33
dos(as) alunos(as), e que se manifes- butos de transformação química ex- de concepções de alunos(as) afasta-
tam de forma extensiva no nível micros- pressos pelos estudantes restringiram- das da visão cientificamente aceita
cópico, já haviam sido também nota- se ao nível macroscópico, não haven- torna-se acentuada devido à ausência
das por Shollum (1982) ao investigar do referência a nenhum atributo mi- de discussões sobre ciência nas aulas,
35 estudantes na Nova Zelândia sobre croscópico. à ênfase na visão empiricista do co-
cinco eventos do cotidiano envolvendo Essa ausência de limites entre o nhecimento e à falta
transformações químicas. As conside- o b s e r v á v e l de relacionamento ex-
rações feitas por esses(as) alunos(as) (fenomenológico) e o Alunos do ensino plícito entre os níveis
mostraram que qualquer mudança (for- nível explicativo ou médio costumam micro e macroscópico
ma, cor ou estado) é considerada interpretativo (nível pensar que nos do conhecimento quí-
transformação química, implicando atômico-molecular) líquidos as moléculas mico em processos
uma confusão muito grande entre parece se atribuir às são pequenas e em
de ensino tradicionais.
transformação química e mudanças de dificuldades dos(as) forma de pequenas
Neste caso, não são
estado. alunos(as) em com- gotas, pois aplicam ao
enfatizadas as rela-
Além dessa concepção de trans- preender o papel dos nível microscópico o
ções existentes entre
formação química como simples mu- modelos teóricos na que observam em
teorias (modelos) que
dança visual ou de estado, Aragão e interpretação de fe- termos
tentam explicar a
col. (1991) apontam outra idéia que nômenos e a deficiên- fenomenológicos
natureza da matéria e
aparece entre alunos(as) da primeira cias na construção de os fenômenos obser-
série do ensino médio brasileiro: trans- outros conceitos fundamentais do váveis. Aliás, Haight já disse há 20 anos
formação química como uma simples conhecimento químico, como por que a fonte da confusão na química
mistura. Outro resultado dessa inves- exemplo o de substância. Vogelezang reside no fato de os estudantes terem
tigação aponta que após o processo (1987), estudando o desenvolvimento que articular dois mundos diferentes:
de ensino, somente 49 por cento desse conceito em cursos o macroscópico e o microscópico. Her-
dos(as) alunos(as) passaram a con- secundários, constatou que o conceito
ron, quase na mesma época, identi-
ceber transformação química como transformação química, definido como
ficou um terceiro mundo: o simbólico
uma transformação onde há formação o aparecimento de novas substâncias,
(apud Bodner, 1992). Johnstone (1982)
de novo(s) material(is), enquanto 20 não leva necessariamente os
explicitou esses níveis do conheci-
por cento continuaram presos(as) à estudantes a aceitar essa visão. Eles
mento químico da seguinte forma:
concepção de simples mistura. Esses assumem, pelo menos inicialmente,
resultados foram atribuídos à ausência que em uma reação química o material a) Nível descritivo e funcional
de discriminação entre transformação é conservado e apenas adquire novas (macroscópico): é o campo on-

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de se pode ver e manusear ma- Nesse contexto de idéias, Yarroch essas paredes.
teriais, analisar e descrever as (1985), trabalhando no nível represen- O que depreendemos dessas
propriedades das substâncias tacional, já havia constatado que para idéias é que os(as) alunos(as) podem
em termos de densidade, ponto os estudantes o ato de escrever uma até entender o modelo científico, mas
de fusão etc. e observar e des- equação química significa fazer um têm dificuldades para aceitá-lo, já que
crever suas transformações. ‘exercício algorítmico’ onde correta- cultivam a noção de que “a natureza
mente balanceiam a equação, sem, no abomina o vazio”. Assim, para eles(as)
b) Nível simbólico (represen- entanto, conseguirem elaborar um dia- os átomos são pequenos grãos de ma-
tacional): é o campo onde repre- grama de partículas para a mesma téria que podem dilatar, contrair, mudar
sentamos substâncias químicas equação. de estado, como qualquer outra por-
por fórmulas e suas transforma- Hesse e Anderson (1992) publi- ção de matéria.
ções por equações. É a lingua- caram uma investigação realizada com Entre os(as) alunos(as) aparece,
gem sofisticada do conheci- estudantes americanos que já haviam ainda, uma outra maneira de explicar
mento químico. recebido instrução sobre transforma- as transformações químicas, que é a
ção química mas que, apesar disto, forma ‘animista’. Essa característica é
c) Nível explicativo (microscó- revelaram dificuldades em três níveis atribuída às substâncias como se fos-
pico): é o nível onde invocamos epistemológicos: conhecimento quí- sem seres vivos e tivessem ‘vontade’
átomos, moléculas, íons, estru- mico, raciocínio de conservação e de se combinar. Mortimer e Miranda
turas, que nos dão um quadro idéias explicativas. (1995) relatam um exemplo dessa
mental para racionalizar o nível Os autores concluíram que a con- situação, em que foram investigadas
descritivo mencionado acima. servação da matéria nas transforma- as idéias dos alunos durante uma
ções químicas é para os alunos muito experiência de combustão. Essa expe-
Por isso, Nakhleh (1992) afirma: “se
mais difícil de entender do que normal- riência é bastante utilizada em livros de
o(a) aluno(a) não souber como explicar
mente o professor supõe. Além do ciências e consiste em fixar uma vela
a química utilizando-se de ferramentas
mais, se o aluno não consegue enten- num prato, ao qual se adiciona um
ideacionais no nível microscópico, ele(a)
34 dê-la, torna-se praticamente impossí- pouco de água. Quando a vela é acesa
efetivamente não aprendeu química”.
vel para ele aceitar e compreender e se coloca um copo sobre ela, o fogo
Considerando tal assertiva e a re-
modelos microscópicos que a expli- se apaga em pouco tempo e o nível
visão bibliográfica das concepções
quem. Essa dificuldade de aceitar a da água dentro do copo, fica mais alto.
alternativas dos(as) alunos(as) sobre
conservação da matéria aparece prin- Um aluno, ao observar isto, afirmou
transformação química, podemos
cipalmente quando se trata de reações que “o fogo puxa a água do prato so-
perceber o quanto estas se encontram
de combustão, onde os alunos costu- bre o qual está o copo na esperança
distantes da citação acima. Notada-
mam pensar que as substâncias se de encontrar oxigênio, pois dentro des-
mente, podemos constatar o fato de
tornam mais leves depois de queima- te o oxigênio acabou”.
os estudantes expressarem idéias pau-
das, e que parte do material envolvido
tadas em aspectos observáveis, Conclusões
é perdida em forma de fumaça.
revelando também um fraco enten-
As dificuldades relatadas por esses A conclusão desta revisão ampla a
dimento do modelo corpuscular da
autores, assim como os obstáculos respeito de concepções alternativas de
matéria como uma construção mental
que surgem na construção de modelos alunos(as) sobre transformação quí-
explicativa para vários fenômenos
que expliquem a constituição da ma- mica configura um quadro composto,
abordados em ciências. Com relação
téria, são elementos de uma configu- principalmente, dos seguintes proble-
a isso, Romanelli aponta que:
ração de idéias onde é marcante a não mas:
“A construção de modelos aceitação pelos(as) alunos(as) do • A concepção de continuidade da
mentais complexos que pos- modelo corpuscular. Mortimer e Mi- matéria constitui para os alunos(as) um
sam fundamentar a explicação randa (1995) nos relatam que apesar obstáculo importante na construção do
de fenômenos como o da disso- de a maioria dos estudantes adoles- conceito transformação química.
lução do açúcar em água ou o centes representar os materiais por • As explicações dos alunos sobre
da constituição da matéria exige meio de partículas, continua sendo transformação química concentram-se
um considerável esforço por inadmissível para eles a idéia de que no nível macroscópico, isto é, no cam-
parte do aluno para construir entre as partículas existam espaços po fenomenológico.
‘entidades abstratas’ e usar cer- vazios. Essa concepção se apóia na • A transferência de aspectos
tos parâmetros, descrevendo as idéia de que “a natureza abomina o va- observáveis no nível macroscópico
suas inter-relações através de zio”. Assim, por exemplo, ao sugarem para o nível microscópico impede que
idéias. O foco do aluno nas per- o ar que está dentro de uma embala- os(as) alunos(as) construam modelos
cepções sensoriais concorre gem de papelão vazia, a tendência é explicativos coerentes que se apro-
para criar uma barreira ao pen- que eles digam que o vácuo é que ximem mais dos modelos científicos.
samento abstrato genera- puxa as paredes da caixa, e não que a Acreditamos que esse quadro sus-
lizado.” (Romanelli, 1992, p. 35) pressão atmosférica exterior empurra tenta a premissa de que um projeto de

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melhoria no ensino de química precisa mação química. química, também pela Unicamp, é docente do
levar em conta a importância de tratar Departamento de Química e Núcleo de Educação em
Maria Inês de Freitas Petrucci S. Rosa, Ciências da Universidade Metodista de Piracicaba -
essas questões epistemológicas ao se SP. Roseli Pacheco Schnetzler, bacharel e
bacharel e licenciada em química pela Unicamp,
planejar um processo de ensino- especialista em química orgânica, mestre em licenciada em química e doutora em educação
aprendizagem do conceito transfor- educação na área de metodologia de ensino de química, é professora do programa de pós-graduação
em educação da Unimep.

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