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A oração em três recortes da vida de Santo Agostinho

5 de outubro de 2015 Santo Agostinho

1. Introdução
A vida de Santo Agostinho é demarcada por diversos documentos que nos
apresentam o perfil espiritual agostiniano. Três dentre esses documentos
mostram-nos de modo especial o esboço de sua espiritualidade.
O primeiro deles é a carta de número 10. Nesta carta, dirigida a seu amigo
Nebrídio, Santo Agostinho expressa seu desejo mais profundo: “deificari (…) in
otio”, ou seja, encher-se de Deus, deificar-se no ócio santo. Tal era o sonho de
Santo Agostinho depois de sua conversão: dedicar-se à contemplação, à oração,
ao estudo, ao trabalho manual e à vida em comunidade. Sabemos bem que os
planos de Santo Agostinho – o desejo de oração, de encher-se de Deus e de
dedicar-se unicamente a Ele serão mudados e transformados pelo próprio Deus,
pois ele será chamado à vida pastoral, fato que o Papa emérito Bento XVI
designaria como sua segunda conversão: a conversão à vida pastoral. Embora
seja verdade que a vida pastoral não o afastará de seu ideal e de sua prática
contemplativa, Santo Agostinho terá, a partir de então, que dedicar-se a um
trabalho em favor da Igreja.
É como vemos manifestado num segundo documento, a carta 21, que Santo
Agostinho dirige a seu Bispo, Valério, pedindo-lhe que, antes da ordenação, lhe
concedesse um tempo para preparar-se para a vida pastoral. Mais uma vez
aparece aqui o desejo de Santo Agostinho de dedicar-se à oração, ao estudo, de
preparar-se interiormente para poder assumir o trabalho pastoral.
Santo Agostinho pedia três meses antes de poder começar esse trabalho pastoral,
para recolher-se em seu interior. Entretanto, a carta 21 mostra-nos também um
dos “destinos fatais” agostinianos, que é o de não ter tempo, ou de não ter o tempo
que gostaria para dedicar-se absolutamente a Deus, porque os três meses que
pedia acabaram reduzidos escassamente a um só, antes que começasse seu
labor pastoral: para a Quaresma de 391, já precisava ocupar-se com a catequese
dos catecúmenos. Santo Agostinho teve de tirar tempo de onde não havia para
encontrar-se com Deus, para encher sua alma de Deus e para dedicar-se também
a orar em meio a seu labor pastoral.
Um último documento que nos apresenta os desejos e o ímpeto agostiniano de
dedicar-se à oração seria a carta 213, na qual Santo Agostinho – sendo já um
Bispo idoso, praticamente no final de sua vida, por volta dos anos 426 e 427 –
nomeava o seu sucessor na pessoa do presbítero Heráclio. Nessa carta 213, ele
pedia ao povo, mais uma vez, que o deixasse descansar, que lhe deixasse tempo
livre, porém não para um repouso físico, e sim para rezar e para estudar as
Sagradas Escrituras.
Torna a aparecer assim, no ocaso da vida de Santo Agostinho, aquele seu prístino
desejo, o da carta 10: poder dedicar-se a orar e a estudar. E ambos os
documentos acham-se separados por um intervalo de cerca de quarenta anos!
Santo Agostinho quer dedicar-se somente à oração; quer dedicar-se a encontrar o
Deus vivo, presente nas Sagradas Escrituras. Uma inquietude, portanto, que o
acompanhou ao longo de toda a sua vida. A partir dos três documentos
mencionados, podemos perceber qual é o desejo agostiniano: a sede que Santo
Agostinho tinha de Deus.
Sabemos também a respeito da profundidade da oração de Santo Agostinho
quando lemos os seus vários escritos. Se for certo que, para escrever suas obras,
Santo Agostinho investigava e lia muito, não é menos verdade que ele era um
homem que combinava a ciência do conhecimento, da investigação, do estudo,
com a ciência sagrada da oração. Era um homem, portanto, que contemplava e
apresentava o que contemplava em seus diversos escritos, como diz São
Possídio, seu primeiro biógrafo: “Aquilo cujo entendimento Deus lhe revelava
enquanto meditava e rezava, ele ensinava tanto a presentes como a ausentes,
com suas palavras e com seus escritos”.
Os abismos insondáveis do mistério de Deus que Santo Agostinho esquadrinha
acham-se em parte expressos em sua obra De Trinitate. Entretanto, não se trata
apenas de um homem que se dedicou a refletir. Santo Agostinho é um homem que
orou e que teve um encontro vivo e contemplativo com o Deus Uno e Trino. A
oração, portanto, será para Santo Agostinho um empenho contínuo ao longo de
sua vida toda. Era um homem que, sabemos, rezava de diferentes maneiras. Uma
delas – que seria talvez um dos grandes segredos agostinianos – era a oração
contínua. Santo Agostinho é o santo da oração contínua, como ele mesmo o revela
na carta 130, dirigida a Proba, o grande tratado agostiniano sobre a oração, ainda
que toda a obra agostiniana esteja embebida no tema da oração.
Santo Agostinho faz o propósito de viver sua vida inteira como uma oração
contínua. Para viver a oração contínua,
Santo Agostinho nos daria três conselhos particulares.
Em primeiro lugar, no que quer que façamos, nunca saiamos do centro de nossa
atenção, que é Deus. Vivamos sempre recolhidos neste centro vital que é Deus.
Um segundo conselho da oração contínua seria o desejo: o desejo contínuo de
Deus converte-se na oração contínua. “Se desejarmos continuamente alcançar a
Deus e a vida eterna, com um amor vivo e intenso, estaremos em oração”:
“Por conseguinte, ora com fé, na esperança; e com amor ora, pelos desejos
incessantes (…)”.
“Orai sem cessar. O que querem significar as palavras do Apóstolo a não ser
desejai sem cessar a vida feliz e eterna (…)”?
O terceiro conselho é o de elevar frases breves e curtas, inflamadas no amor, que
impulsionem o nosso pensamento em direção a Deus. Se pudermos pronunciar,
no mais profundo do coração, essas jaculatórias – tais como são conhecidas na
tradição espiritual ocidental -, se pudermos repetir essas frases breves e curtas,
cheias e impregnadas de amor, reavivaremos o nosso vínculo de amor com Deus,
isto é, a nossa oração. A jaculatória também torna viva a oração:
Conta-se que os monges no Egito fazem frequentes orações, mas brevíssimas e,
por assim dizer, lançadas de súbito, para que a intenção – aplicada com toda a
vigilância e tão necessária a quem ora – não venha a dissipar-se e afrouxar pela
excessiva demora.
A experiência de Santo Agostinho seria similar à de Santo Ezequiel, que não só
dedicava longos períodos à oração, mas que aconselhava se mantivesse um trato
amoroso e contínuo com Jesus Cristo para poder-se avançar na vida espiritual:
“Trate muito com o Divino Mestre Jesus Cristo e Ele a ensinará a viver como Ele o
quer”.
2. A oração na comunidade
Santo Agostinho era plenamente consciente de que um dos momentos mais
importantes da vida da comunidade é o momento da oração. Nela, os irmãos
unem-se como membros de um mesmo Corpo, que é a Igreja e que é a sua
própria comunidade, para elevar sua voz a Deus. Um primeiro tipo de oração que a
comunidade, Corpo de Cristo que é, não pode esquecer, é a oração litúrgica.
Trata-se da oração “oficial” da Igreja, a oração que o Corpo de Cristo dirige à sua
própria Cabeça, Cristo, e em que é preciso identificar quem está a falar e o que se
está a pedir. Desse modo, Santo Agostinho convidar-nos-ia, na vida de
comunidade – e seguindo os ensinamentos do donatista Ticônio – a orar com os
salmos, com a Liturgia das Horas, conscientes de que é preciso reconhecer a
nossa voz dentro dos salmos e saber que, por vezes, quem fala nos salmos é o
próprio Cristo como Cabeça, ou então somos nós, como Corpo de Cristo, que nos
dirigimos a Ele:
Quando falamos com Deus, suplicando, não separemos daí o Filho; e quando roga
o Corpo do Filho, não separe de si a sua Cabeça; e seja assim o único Salvador
de seu Corpo, nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, que ore tanto por nós
como em nós, e que a Ele também oremos nós. Ora por nós como nosso
sacerdote; ora em nós como nossa Cabeça; nós oramos a Ele como nosso Deus.
Reconheçamos n’Ele, portanto, as nossas palavras e as palavras d’Ele em nós.
Por outro lado, é fundamental para Santo Agostinho que a oração litúrgica seja
feita com o coração, não apenas com os lábios, pois uma oração feita só com os
lábios e não com o coração é vazia. Santo Agostinho convida-nos a elevar o
coração a Deus no momento de orar:
Quem duvida que o clamor que sobe a Deus dos que oram se produzido pelo som
da voz corporal e não por
um coração voltado para Deus, inutilmente se faz?
A Regra insiste precisamente nisso: é preciso sentir e viver com o coração o que
os lábios vão pronunciando, para evitar que a oração litúrgica se converta numa
rotina vazia. Santo Agostinho dirá na Regra: “que esteja no coração o que se
profere com a voz”. Dar vida ao clamor, que nossa voz expresse realmente o
sentimento próprio do coração quando oramos com a oração vocal. Que sejamos
capazes de dar a força própria do coração à nossa voz, para que haja uma
sintonia entre o coração e a própria voz. Quando esta se quebra e o nosso
coração fica por terra, sem elevar-se a Deus, o som da nossa voz é vão, é mera
repetição rotineira.
Algo similar afirma a Madre Mariana de São José num de seus conselhos e
máximas:
A oração não tem força nem é eficaz se não for feita com espírito contrito e
humilhado, é orando assim que se bebe o vinho espiritual que alegra o coração do
homem; eis a unção do Espírito Santo que embriaga a alma e infunde o
esquecimento das coisas do mundo.
Santo Agostinho nos convida a que façamos a nossa oração (especialmente a
oração vocal) com toda a força e o clamor do nosso coração, elevando o nosso
coração a Deus. Cabe ressaltar que este é o movimento espiritual agostiniano
essencial: elevar o coração. Que ele não fique por terra, mas que sejamos
capazes de elevá-lo a Deus, de tal forma que a nossa oração seja uma elevação
do coração, com a força do Espírito:
“Corações ao alto! Não o tenhais embaixo: o coração apodrece na terra, elevai-o
ao céu”.
Diz Santo Agostinho: “Se o clamor se produzir no coração, mesmo que a voz
corporal silencie, pode ocultar-se a qualquer outro homem, não a Deus”.
“Quando o clamor não se faz com a voz, mas com o coração, os seres humanos
não o escutam, mas Deus sim. Por mais que clamemos em silêncio, Deus escuta o
clamor do coração”.
Santo Agostinho prossegue: “Quando oramos a Deus, quer com a voz da carne,
quando necessário, quer em silêncio, deve-se clamar com o coração”.
Na oração que fazemos, tanto quando oramos com os lábios, isto é, quando
recitamos a Liturgia das Horas ou as nossas outras orações vocais, como quando
o fazemos em silêncio, havemos de ter o coração elevado a Deus.
Como diz Santo Agostinho, em toda circunstância, “deve-se clamar com o
coração”. A oração é, pois, o clamor, o grito desejoso e enamorado do coração.
3. O exemplo de Jesus
O exemplo de oração para a comunidade e para o próprio religioso é Cristo. Nosso
Senhor aparece continuamente nos Evangelhos afastando-se das multidões para
dedicar-se à oração (Me 6, 46). Santo Agostinho também observa que, apesar de
que possa haver jornadas muito intensas, deve-se encontrar sempre tempo para
orar. É verdade que Santo Agostinho recomenda que façamos de toda a nossa
vida uma contínua oração, mas isso não obsta – como ele também diz – a que, em
certos momentos do dia, todas as demais atividades sejam deixadas para que os
religiosos se dediquem somente a orar:
Todavia, por causa de cuidados e interesses outros, que de certo modo arrefecem
o desejo, concentremos em horas determinadas o espírito para orar; as palavras
da oração nos ajudam a manter a atenção no que desejamos (a vida feliz e eterna
e nenhuma outra). No texto que nos serve de orientação para esta reflexão, Cristo
ensina seus discípulos a orar, convidando-os a orar a um Deus que, antes de tudo
e sobre todas as coisas, é Pai. Muito interessantes são os comentários
agostinianos a esse respeito.
Em primeiro lugar, Santo Agostinho nos recorda que, no momento de orar, não é
preciso o palavrório, mas sim a piedade e a devoção. Não por força do muito falar
seremos escutados. Na oração, o que conta é o afeto do coração manifestado pela
piedade:
Nosso Senhor suprime, portanto, em primeiro lugar, o palavrório, para que não
leves a Deus muitas palavras, como se quisesses ensinar algo a Deus com elas.
Quando rezas, é preciso piedade, não verbosidade (pietate opus
est, non verbositate).
Por outro lado, Santo Agostinho indica com clareza que não é lícito pedir algo que
não esteja incluído no Pai-nosso, o modelo mais excelso de oração cristã:
Não te é lícito pedir coisa diferente do que aí (no Pai-nosso) está escrito.
Santo Ezequiel convida-nos também à oração, pois poder chegar a imitar as
virtudes é uma graça que se consegue por meio da oração, na qual, através do
trato contínuo com o Mestre divino, vão sendo adquiridas as suas próprias
virtudes:
“Seja agradecida para com o Esposo, e para sê-lo, seja como Ele, obediente, e
que seu coração, a exemplo do Coração divino, seja manso e humilde. Estas
virtudes e outras se alcançam tratando muito com Ele, andando sempre em Sua
divina presença, vivendo escondida n’Ele e convencida de que só Ele basta, não
apetecendo outra coisa senão Ele, nem gozando senão com Ele”.
4. Pai-nosso: Pai
Na obra intitulada De sermone Domini in monte (o Comentário ao Sermão da
Montanha), Santo Agostinho mostra como o próprio nome de Pai, aplicado a Deus,
deve inflamar o coração dos que são seus filhos de adoção e fazer com que o
coração deles se encha de amor:
“… (recebemos) o espírito de adoção filial, pelo qual clamamos: Abba, Pai!(…) É
essa a graça que mencionamos no início desta oração, ao dizermos “Pai nosso”.
Com esse nome, inflama-se o amor, pois o que pode ser mais amado pelos filhos
do que o seu Pai”?
E Santo Agostinho vai além: num texto muito interessante, indica que Deus tem
um rosto tanto de Pai como de Mãe, pois reúne elementos de paternidade e de
maternidade:
“É Pai porque cria, chama, manda e governa; é Mãe porque protege, alimenta,
amamenta e conserva.”
Desse modo, Santo Agostinho mostra que Deus é Pai, em primeiro lugar, porque
cria. A criação é uma das características que nos falam da onipotência de Deus, já
que quando Santo Agostinho menciona esse fato, pensa na criação a partir do
nada.
Em segundo lugar, Deus é Pai porque chama. Todos os que podem chegar a ser
filhos de Deus são-no não porque se aproximaram, por si mesmos, de Deus, mas
porque receberam um chamado de parte do próprio Deus, que nos faz vir até Ele e
nos atrai a Cristo (Jo 6, 44), não forçando a nossa vontade, mas com laços de
amor, como Santo Agostinho descreve em seu comentário ao quarto Evangelho.
Uma terceira característica de Deus como Pai é a de ordenar e mandar. Sua
vontade e seu desígnio regem o universo. O homem, por sua vez, alcança a
felicidade e a própria realização na medida em que obedecer aos mandatos de
Deus, cuja infinita sabedoria conhece o que convém ao homem em cada momento
de sua vida e, por isso, tudo ordena conforme esse plano amoroso e onisciente.
O último traço, segundo Santo Agostinho, é o governar todas as coisas. Trata-se
de uma ideia paralela aos mandatos e desígnios de Deus. Ninguém mais rege e
governa a ordem do universo senão Deus. Não há outro deus com quem Ele
precise competir, nem luta alguma precisa ser travada. Uma vez que Santo
Agostinho expôs os traços da paternidade de Deus, passa e enumerar uma série
de características divinas próprias de uma mãe, as quais também nos podem
ajudar a conhecer algumas peculiaridades de Deus. Em primeiro lugar, indica a
proteção, o abrigo, o acalanto, o abraço e o resguardo, seguro e adequado, que
Deus pode brindar nos momentos de tribulação e de desolação, exatamente como
faz uma mãe com seus filhos. Em segundo lugar, Santo Agostinho observa que
Deus, em seu aspecto materno, nos nutre e alimenta.
A terceira característica que Santo Agostinho atribui a Deus, na perspectiva da
maternidade, é a de conservar
ou conter, fazendo-nos ver que o ser humano não pode viver fora de Deus, como o
embrião não pode existir fora do seio da mãe. Deus contém-nos, rodeia nos e
protege-nos de tal maneira, que não se pode ir para fora d’Ele, pois fora de Deus,
não há existência; mais ainda, como também afirma Santo Agostinho, se Deus não
pensasse em nós, sequer poderíamos existir. É Pai porque cria, chama, manda e
governa; é Mãe porque protege, alimenta, amamenta e conserva.
5. Pai nosso, que estais nos céus
É curioso que Santo Agostinho mais se aprofunde nas primeiras palavras do Pai-
nosso (“que estais nos céus”) logo no seu primeiro comentário sobre essa oração,
contido na obra que escreveu sobre o Sermão da Montanha.
Naquele tempo, como jovem sacerdote, por volta de 391, Santo Agostinho explica
que essas palavras do Pai-nosso devem levar-nos a pensar que cada cristão, cada
batizado, converteu-se num templo de Deus porque dentro dele habita o Deus
Trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Por isso, ele diz:
(…) entenda-se que as palavras “Pai nosso, que estais nos céus significam que
Ele está no coração dos justos, onde Deus habita como em seu santo templo. Por
aí também, quem ora há de querer ver habitar em si mesmo Aquele a quem ora, e
nessa nobre ambição será fiel à justiça, que é o melhor modo de convidar Deus a
vir estabelecer Sua morada na própria alma”.
Exercícios Espirituais Agostinianos
Reflexões – Volume 1

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