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Universidade de São Paulo

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas


São Paulo, 04 de Dezembro de 2018
Aluno (a): Larissa Anjos dos Santos – N°: 10876952
Turma: Noturno, 1° horário.
Disciplina: Introdução aos Estudos Literários II
Professor (a): Betina Bischof

Análise do conto “Passagem de ano entre dois jardins” de Modesto Carone.

O conto a ser analisado foi publicado primeiramente na Folha de São Paulo em 1993, e
se inicia de forma que se faz possível o estabelecimento de certas características estruturais,
como por exemplo, a presença de um “Narrador-Protagonista” que narra a história em
primeira pessoa e centraliza, tanto o ângulo de visão, como todas as ações da narrativa,
encaixando-se assim na categoria apresentada por Friedman em seu artigo “O ponto de vista
na ficção”. Essa forma também permite que o leitor tenha total acesso ao que a personagem
sente ou pensa, porém, consequentemente perde a capacidade de se separar desse “filtro” que
se torna o narrador, como pode ser visto no trecho abaixo:
“Volto pra casa sem saber o que faço e durmo com uma dor que se amplia na
garganta”
Por manter a narrativa sempre ligada aos pensamentos da personagem, a subjetividade
na narração torna o texto suscetível aos recursos relacionados à falta de sentido, traço
constante em toda a obra do autor, como a frequente alternância de tempos, sempre entre o
presente e o passado da personagem, numa estrutura baseada na acronia utilizando-se do que
Genette chama de analepses1 que consistem no “recuo pela evocação de momentos
anteriores”2, como num flashback. No entanto, não é possível identificar quaisquer
delimitações concretas entre esses dois tempos, fazendo com que o leitor se perca nas
passagens entre o cronológico e o psicológico, principalmente pelo fato de o autor
condicionar a narração, em ambos, aos verbos conjugados no presente do indicativo, visto que
este “denotaria o ponto zero de orientação no mundo”3, e assim, a partir dele se conduziria o
tempo ao passado ou futuro na narração, o que não ocorre.

1
GENETTE, Gerard. Discours dú récit: essais de méthode. In: Figures III. Paris, Seuil. 1972, p. 82
2
NUNES, Benedito. O Tempo na Narrativa. Editora Ática. São Paulo, SP. 1995, p. 32
3
Ibid, p.40
“A poucos passos mora a tia do meu colega de escola, estudamos na sala cheia de
almofadas, ela é loira, tem quadris largos e costura para fora. À noite sonho que estou em
cima da sua carne alva (...). Mas o sobrado diminuiu de tamanho e é possível que ela tenha
ido para outra cidade, por isso caminho sem olhar para trás”
O fragmento acima exemplifica como o autor faz uso dos mecanismos gramaticais
para fundir o passado ao presente. A referência espacial no começo do trecho tem como
origem a posição física da personagem no tempo presente da narração, porém logo em
seguida se inicia uma descrição vinculada ao passado (quando o narrador menciona o colega e
seus sonhos de tempos anteriores), isso caracteriza, de acordo com Gerard Genette, uma
narração “que só conhece um tempo único, o presente, e uma só linguagem, uma objetividade
e uniforme. Isso pode ser um ato presente, aquilo uma recordação, isso ainda uma
mentira…”4, fator intensificado pela predominância de cenas nem sempre ligadas diretamente
à personagem ao decorrer do texto analisado, esse aspecto pode ser explicado por Lukács em
“Narrar ou Descrever” quando compara acontecimentos escritos por Tolstói e por Zola e diz
que, diferentemente do russo, o francês os apresenta de forma que se transformem “aos olhos
do leitor, em um quadro, ou melhor, em uma série de quadros”5 que só podemos observar.
Essa sequência ininterrupta de cenas sem uma ação centralizadora apenas reitera a
falta de sentido que o conto apresenta, visto que assim apenas constrói uma visão superficial
da vida humana, pois “só se descreve aquilo que se vê, (...) situações estáticas, imóveis,
descrevem-se estados das almas dos homens ou estados de fato das coisas. Descrevem-se
estados de espírito ou natureza mortas”6 , visto isso pode-se dizer que as descrições não
relacionadas provocam um certo distanciamento do leitor quanto às ações por não ter a
oportunidade de se aprofundar em qualquer uma delas e às confere a mesma importância,
como pode ser visto na passagem a seguir:
“A primeira esquina à esquerda tem uma placa antiga e me aproximo da travessa
esperando algum aviso. Ela está quase deserta e um clube de dança ocupa o velho terreno
baldio; o em pé no meio das mamonas a prostituta franzina atrai os homens de chapéu
debaixo do poste.”
Nele pode-se observar que todos os acontecimentos foram descritos de forma a atribuir
um mesmo grau de relevância para o restante da narrativa, porém, logo em seguida o
protagonista narra um evento igualmente autônomo - que como todos os outros, não se sabe

4
GENETTE, Gerard. Vertige Fixé. Alain Robbe-Grillet, Dans le labyrinthe. 1976, p.287
5
LUKÁCS, Georg. Ensaios sobre literatura, Narrar ou descrever. 1965, p. 50
6
Ibid. p.65-66
se acontece no presente ou no passado do texto - com maiores detalhes, embora mantenha a
mesma distância quanto a narração , o que abre margem a interpretações mais sutis sobre a
real importância desse evento. O único ponto de convergência entre esse trecho e o restante
do conto é a presença de uma árvore: o conto se inicia com a cena do reencontro entre ela e o
protagonista e acaba da mesma forma, após a personagem ter feito uma rápida peregrinação -
espacial ou psicológica - pelas ruas de sua infância. Não é, portanto, inconcebível a analogia
entre ele e o menino entre os galhos da mangueira se for levado em consideração o fato de
que no início do texto, após subir na árvore ele afirma “Não ouço mais os gritos”, estes que
poderiam ser de seus pais pedindo para que descesse antes de ser levado pela ambulância.
Essa alternância sem sustentação narrativa de tempos e de interioridade e exterioridade
partilha do processo usado por Virginia Woolf para permear entre as tantas mentes que
contam suas obras dotadas da técnica de narração a partir da onisciência seletiva múltipla 7,
que ao alternar de uma personagem para outra, a narrativa sofre digressões e
consequentemente a inserção de trechos de tempos que não seguem uma sequência, como por
exemplo:
“É meia-noite, os rojões estouram no céu baixo, as folhas e os ramos estremecem, piso
na relva crescida e toco o tronco cheio de nós com a ponta vermelha dos dedos - é inaceitável
aprender a morrer.”
O final apresentado como uma epifânia por Carone reverbera a interpretação inicial na
medida em que a árvore é novamente posicionada como elemento central no que seriam os
tempos presente e passado. O que chama a atenção, no entanto, é a repetição de “ponta
vermelha dos dedos” que provavelmente remete ao hábito de escalar o tronco, mas dessa vez
acompanhada de “piso na relva crescida” como um elemento de conexão entre os tempos
admitindo que ele estava novamente escondido entre as folhas, porém, agora, crescido como a
relva.
A última frase é, se possível dizer, a de maior impacto em todo o conto, não somente
pelo momento de revelação sobre a vida e a morte para o protagonista, mas também por
alcançar o leitor, a essa altura, já acostumado aos saltos temporais com uma surpresa que sem
dúvidas é essencial para o conto e apenas corrobora o que Júlio Cortázar diz em “Alguns
aspectos do conto” sobre a estrutura desse gênero:

7
FRIEDMAN, Norman. O ponto de vista na ficção, O desenvolvimento de um conceito crítico. Revista USP, n.
53, 2002, p.177
“(...) o conto deve ganhar por knock-out. (...) o bom contista é um boxeador muito
astuto, e muitos dos seus golpes iniciais podem parecer pouco eficazes, quando na realidade,
estão minando já as resistências mais sólidas do adversário”8
Conceito este que define perfeitamente “Passagem de ano entre dois jardins” que além
de trabalhar com maestria a passagem temporal em nuances psicológicos com a profundidade
que um bom conto exige e por tratar do tempo e do espaço como se estivessem “condensados,
submetidos a uma alta pressão espiritual e formal” capazes de resultar numa obra completa
em todos os sentidos, dando seus “pequenos golpes” durante a trama, para concluir-se com
um golpe final.

8
CORTÁZAR, Júlio. “Alguns aspectos do conto”, In: Valise de Cronópio, p.153
Referências Bibliográficas
CARONE NETTO, M. Passagem de ano entre os jardins. Folha de Sao Paulo. Mais, São

Paulo, 1993, p. 3.

CORTÁZAR, J. Valise de Cronópio. Perspectiva, São Paulo,1974, p.147-163

FRIEDMAN, N. O ponto de vista na ficção; O desenvolvimento de um conceito crítico.

Revista USP n.53, São Paulo, 2002, p. 166-182

GENETTE, Gerard. Discours dú récit: essais de méthode. In: Figures III. Paris, Seuil. 1972, p.

82

GENETTE, Gerard. Vertige Fixé. Alain Robbe-Grillet, Dans le labyrinthe. 1976, p.287

LUKÁCS, G. Ensaios sobre literatura, Narrar ou descrever. 1965, p. 43 - 94

NUNES, B. O Tempo na Narrativa. Editora Ática. São Paulo, SP. 1995, p. 27 - 56

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