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*Paulo Nassar
Uma crise nanceira pode, muitas vezes, revelar a pior linhagem de um comunicador, especialmente
quando ela tem rami cações sociais sensíveis, além de econômicas. É aquele que, a surfar na
incerteza, transforma medo em terror ao retransmitir – sem interpretação e com muita opinião –
informações que alcançam a sociedade por meio das redes de relacionamento, os empregados,
fornecedores, e se ampli ca pela mídia. É um ambiente em que pouco se fala sobre construir, mas, a
cada dia, comunicadores se reúnem para contar os mortos e projetar o que será ceifado.
Este terrorismo oriundo do ambiente empresarial e da mídia de massa sobre a crise lembra-nos o
mito da Caverna de Platão: pessoas aprisionadas no fundo da caverna, sem nenhum contato com o
exterior, percebiam o mundo apenas por meio das sombras, que vinham de fora e eram falsamente
entendidas como monstros.
A pesquisa “Communication and Communicators in the Financial Crisis”, mostra que felizmente a
maioria dos comunicadores empresariais observa a crise sem se transformar em objeto dela. O
trabalho realizado pela IABC, em parceria com a Mercer, foi aplicado em 1.442 membros da IABC,
entre 29 de outubro e 12 de novembro de 2008. Entre os respondentes, 59% estavam nos EUA e
26% em empresas no Canadá. O complemento da amostra veio de países como Brasil, Austrália,
China, entre outros.
O estudo do IABC foi feito com o objetivo de saber como os comunicadores estão envolvidos na
crise e como isso afeta suas funções. A maioria dos comunicadores consultados tinha cargo de
diretores ou gerentes de corporações. Questionados sobre o impacto da crise em suas
organizações, alguns disseram que não havia crise. Canadenses e australianos relataram que suas
empresas não sofreram muito impacto; 40% avaliam que os impactos da crise são signi cantes,
drásticos ou consideráveis e 36% consideram esses impactos moderados.
Em outro item, 8% têm muito medo de perder seus empregos devido à crise, 34% um pouco e 51%
não têm medo algum. Dentre os que responderam “drásticos e consideráveis” estão aqueles que
trabalham em áreas nanceiras e os norte-americanos, áreas consideradas geradoras da grande
crise. Sobre se a crise afeta a motivação e con ança dos funcionários, a resposta de 37% foi que não
afeta de maneira nenhuma, enquanto 34% disseram que afeta moderadamente.
A percepção dos funcionários em relação aos gerentes é de 46% de credibilidade e 33% de alguma
con ança, sendo que os gerentes que não tinham a con ança de sua equipe, já não eram
considerados con áveis antes da crise. Por m, questionados se suas organizações tinham pedido
por um plano de comunicação devido à crise, a maioria respondeu que não (70%).
A pesquisa do IABC mostra que a maioria dos comunicadores sabe que, pelo menos no curto prazo,
o mundo não vai acabar. E que o melhor para os negócios – e para a alma – é trabalhar na
consolidação da comunicação junto aos empresários e à sociedade como campo de conhecimento e
estratégia para a sustentabilidade das atividades produtivas.
Além disso, esta crise nanceira global é um momento de reconhecer os comunicadores que, além
de selecionar aquilo que informam, interpretam e opinam de forma tranqüila e quali cada. Os
“educomunicadores”, com certeza, contribuem para diminuir, as incertezas geradas pela crise, a
dureza das medidas tomadas pelas empresas e a tristeza desse tempo de pouca esperança.
*Paulo Nassar é professor da Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo (ECA-
USP). Diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (ABERJE). Autor
de inúmeros livros, entre eles O que é Comunicação Empresarial, A Comunicação da Pequena
Empresa, e Tudo é Comunicação.
Fonte: GifeOnline
Data: 29/12/08
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