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Índice 1 Introdução
1 Introdução 1
2 O mínimo como caminho 4 Para aquele jovem literato em formação, e
3 Jogos lúdicos 8 também estudante de Química na Curitiba
4 A inversão hipertextual de Paes 11 dos anos 1940, o ofício de poeta resumia-
5 Os poemas: análise concisa 13 se ao talento do amigo paranaense Glauco
6 Conclusão 15 Flores de Sá Brito. A aguçada atenção
7 Referências 15 sobre a atividade literária do autor de O
marinheiro (1947), primeiro livro de poe-
mas lançado por Brito, estimulara um cu-
rioso José Paulo Paes a desvendar não só o
RESUMO: que havia de especial na lírica espontânea
do “camarada de lutas literárias” (PAES,
No referido artigo, analisou-se o uso de 1997, p. 182), mas também de enig-
metáforas visuais no livro Meia palavra mático na produção de badalados autores
– cívicas, eróticas e metafísicas (1973), modernistas. “Grande alquimista” na in-
do poeta paulista José Paulo Paes (1926- fância, quando produzia poções mágicas no
1998). Além da reconstituição de car- quartinho-laboratório construído pelo pai no
acterísticas centrais à poética do escritor, quintal de casa, Paes partiria, não racional-
confrontaram-se os conceitos de “hiper- mente, em busca da “pedra filosofal” de sua
texto” e “transleituras” – cunhados, respec- própria poética futura: a arte de transformar,
tivamente, por Pierre Lévy e pelo próprio na mais simples e fina concisão, a experiên-
J.P.Paes – para análise de três poemas visuais cia cotidiana em poesia.
do livro aqui abordado. José Paulo enxergava Glauco como poeta
Palavras-chave: José Paulo Paes. Mod- “no sentido mais forte da palavra” (PAES,
ernismo. Poesia visual. Hipertexto. 1997, p. 182). Em ensaio dedicado a
Brito, escrito já na década de 1990, Paes ex-
plica a capacidade lírica do colega curitibano
através da distinção entre o criador autên-
2 Maurício Guilherme Silva Júnior
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José Paulo Paes e a inversão do hipertexto 3
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4 Maurício Guilherme Silva Júnior
“mistério que é o ‘eu”’ (BOSI, 1976, p. 322). (1947), livro de estréia do autor, com ver-
Em certa medida, Augusto dos Anjos é re- sos nitidamente carregados da herança do
sponsável por ressaltar no escritor paulista modernismo, o autor paulista revela-se um
o primeiro gosto pelo ofício poético. Aos “poeta que ainda não chegara a escrever
16 anos, Paes escreve os primeiros versos, os próprios poemas”, segundo expressão de
plágios confessos da obscuridade do Eu, que Carlos Drummond de Andrade, cuja opinião
representam o mergulho definitivo do poeta de crítico/leitor foi que, de fato,
no oceano literário pré-modernista.
as influências são sensíveis em
Além do obscurantismo de Augusto dos
v. [José Paulo Paes], e até con-
Anjos, contudo, até 1945, as preocupações
fluências (“Canção do afogado”
estéticas de José Paulo Paes mantêm-se atre-
identifica-se com “Balada”, do
ladas à realidade dos dramas sociais, frutos
Glauco; são simultâneas?). A ver-
da instabilidade política do período, quando
dade é que há um ar de família
da eclosão da Segunda Guerra Mundial
entre os novos poetas brasileiros,
(PAES, 1996, p. 10). Do ponto de vista
ar de família que estou aflito para
literário, e mais especificamente, poético,
eles perderem, marchando cada
eram tempos de consolidação do traço mod-
um para o seu rumo difícil. (AN-
ernista e de definitiva valorização dos versos
DRADE, 1997, p. 35)
livres.
A preocupação social afeta muito o jovem O recado de um dos mestres acaba por se
José Paulo Paes, de quem os primeiros ver- revelar vital ao futuro literário de Paes. Tanto
sos livres, ao invés de se espelhar nos mod- é que o poeta paulista, em outro período de
ernistas, são escritos segundo o molde dos sua vida, ressaltaria exatamente o quanto o
Poemas proletários (s/d), de um hoje es- conselho da carta de Drummond fora respon-
quecido Paulo Torres. Tal produção poética sável por seus primeiros frutos literários:
surge como extensão natural do sentimento “Anos mais tarde, numa entrevista, eu diria
político que caracteriza o período. Segundo que toda a minha trajetória de poeta se ori-
o próprio Paes, que à época lia entusias- entou para a conquista de uma voz própria,
ticamente Cacau e Suor (1931), de Jorge fraca que fosse, mas minha” (PAES, 1996, p.
Amado, além de livros de divulgação marx- 15).
ista e romances políticos de Gorki, Gladkov
e Malraux, dentre outros, “uma angústia in-
definida nos roía por dentro, refletindo-se no 2 O mínimo como caminho
que tentávamos escrever” (PAES, 1996, p.
10).
Apesar disso, curiosamente, Paes revela- Carlos Drummond de Andrade, portanto, fiz-
se ao universo das letras como estrito apren- era o autor atentar para uma de suas princi-
diz dos modernistas, sem maior influência pais preocupações: ter sua arte própria, por
do mistério de Augusto dos Anjos ou das mínima que se configurasse4 . Neste ponto,
preocupações ideológicas de Paulo Torres. 4
Na referida carta, Drummond dá ainda outra
Nos nove poemas que compõem O aluno importante sugestão a José Paulo Paes, que o mar-
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6 Maurício Guilherme Silva Júnior
grama, gênero clássico5 retomado por Paes 59). Paes aprendera com “os fundadores da
segundo propostas – além de inteiramente nossa modernidade poética” que
pessoais - bastante modernas. No ver de
Arrigucci Júnior, “pela fórmula peculiar de poesia é ver as coisas do mundo
redução do mundo, cada poemeto traz em como se fosse pela primeira vez
seus próprios fundamentos os traços típicos e exprimir essa novidade de visão
do epigrama e sua vocação para exprimir os da maneira mais concisa e intensa
traços da modernidade” (ARRIGUCCI JR., possível, numa linguagem onde só
1998, p. 30). haja lugar para o essencial, não
Quando se fala em miniaturização do para o acessório. Daí, a elimi-
mundo, ou, de outro modo, em redução nação de tudo quanto cheire a en-
da experiência cotidiana à essência poética, feite ou ornato, inclusive rima e
não há como escapar da influência direta métrica, se necessário for. Nunca
dos modernistas na formação do poeta. De mais esqueci essa lição funda-
certa forma, ele absorve exatamente o que mental; disso dá testemunho a
diz o mestre Manuel Bandeira em seu Itin- dicção econômica das dezessete
erário de Pasárgada (1954): “Meditei na coletâneas de poemas que até hoje
lição [do crítico João Ribeiro, que havia tran- publiquei. (PAES, 1996, p. 34)
scrito uma quadra de Carlyle reduzida à es-
sência] e até hoje em toda poesia que escrevo Ao absorver, e reinterpretar subjetiva-
me lembro dela e procuro só pronunciar as mente, as propostas dos autores modernistas,
palavras essenciais” (BANDEIRA, 1984, p. Paes passa a definir sua poética, sempre
calcada na eliminação de excessos. Nasce
5
Segundo Davi Arrigucci Júnior, “desde suas for- assim o poeta cuja obra extrai elementos
mas clássicas, enquanto inscrição feita na pedra para de diversas tendências, mas não se limita
assinalar o reconhecimento de que ali alguma coisa
é, até o amplo desenvolvimento que teve na poesia
a nenhuma delas. Em relação à chamada
greco-latina e, posteriormente, nos empregos pontuais Geração de 456 , por exemplo, à qual o
ao longo dos séculos da cultura poética ocidental, o escritor paulista estaria ligado cronologica-
epigrama sempre se mostrou renitente à definição pre- mente, sua obra mantém considerável dis-
cisa. Em princípio, constitui uma fórmula condensada tância. A começar pela noção do grupo,
em poucos versos, na qual se mesclam os gêneros, po-
dendo combinar a notação épica do acontecimento e 6
A Geração de 45 provocara polêmica no meio
o sentimento do drama ao tom lírico da elegia ou à literário brasileiro, justamente, por desprezar a liber-
verve satírica, a que em geral vem associado nos nos- dade conquistada, até então, pelo movimento mod-
sos dias”. Ao retomar a técnica do epigrama, Paes, ernista. Ao contrário do verso livre, diversos autores
além de exibir técnicas e abordagens bastante moder- da época retomam formas fixas de cunho clássico,
nas, como a recorrência à temática do cotidiano, in- como o soneto, a ode e a elegia. Segundo Alfredo
corpora ao estilo epigramático sua “verve” marcada, Bosi, em sua História concisa da literatura brasileira,
principalmente, por recursos como o chiste, que em os representantes de tal grupo, que se dedicavam
Paes, segundo o próprio Arrigucci Jr., assume “força à pesquisa formal, “repropuseram no meio literário
catártica, como o desafogo que pudesse redimi-lo ou brasileiro um problema básico: o da concepção de
a todos nós de uma pressão indizível.” (ARRIGUCCI poesia como arte da palavra, em contraste com outras
JR. Agora é tudo história. In: PAES. Melhores poe- abordagens que privilegiam o material extra-estético
mas, p.12). do texto”.
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José Paulo Paes e a inversão do hipertexto 7
não seguida por Paes, presente na nota ao de sangue em cada poema (1917) comenta
Panorama da nova poesia brasileira (1951), os dois níveis de trabalho artístico, que mais
em que o antologista Fernando Ferreira de tarde sistematizaria como o processo de
Loanda comenta a busca de tal geração por
separação nítida entre o estado de
um “novo estado poético”, no qual os camin-
poesia e o estado de arte, mesmo
hos seriam traçados fora dos limites do mod-
na composição dos meus poemas
ernismo. É interessante dizer que havia po-
mais ‘dirigidos’. As lendas na-
emas de Paes em tal publicação, como tam-
cionais, por exemplo, o abrasileira-
bém de João Cabral de Melo Neto e Ferreira
mento lingüístico de combate. Es-
Gullar, ambos também distantes das preten-
colhido um tema, por meio das
sões neomodernistas7 .
excitações psíquicas e fisiológi-
Na verdade, José Paulo Paes prima pelo
cas sabidas, preparar e esperar a
que chama de “lucidez da técnica e da ex-
chegada do estado de poesia. Se
periência” (PAES, 1996, p.5), cuja aquisição
este chega (quantas vezes nunca
só aconteceria após anos e anos de árduo tra-
chegou...), escrever sem coação de
balho e imensa vontade de escrever. Tal lu-
espécie alguma tudo o que me
cidez a que alude o escritor vai ao encontro
chega até a mão – a ‘sinceridade’
de muitas das idéias do combativo Mário de
do indivíduo. E só em seguida, na
Andrade de O movimento modernista, texto
calma, o trabalho penoso e lento da
de 1942 onde o autor interpreta as ações
arte – a ’sinceridade’ da obra-de-
do grupo. Ao comentar o surgimento de
arte, coletiva e funcional, mil vezes
sua obra Paulicéia desvairada (1922), Mário
mais importante que o indivíduo”.
conta como, em determinada noite, bastante
(ANDRADE, 1972, p. 234)
alterado pelas discussões familiares, saíra
para espairecer. Na volta noturna, aconte- Na famosa conferência de 1942, três anos
ceria, similarmente ao que se dera com Paes, antes de sua morte, Mário de Andrade con-
o “estalo”: em um pequeno caderno, Mário cede ao movimento de inteligência mod-
rabisca, pela primeira vez, o título do livro ernista o status de preparador de mudanças
que começa a criar no mesmo instante. É im- político-sociais. Para ele, o modernismo
portante reforçar, neste ponto, o processo de marcara-se como “criador de um estado
trabalho de Mário ao conceber a obra. Difer- de espírito revolucionário e de um senti-
entemente do que apregoavam os integrantes mento de arrebentação” (ANDRADE, 1972,
da Geração de 45, o mecanismo de criação já p. 241). Dessa forma, revela as três prin-
se moldava pelo apuro estético. Em O movi- cipais características do movimento mod-
mento modernista, o autor de Há uma gota ernista: “o direito permanente à pesquisa es-
7
tética; a atualização da inteligência artística
Cunhado por Tristão de Ataíde, em artigo publi-
cado em julho de 1947, o termo Neomodernismo assi- brasileira; e a estabilização de uma consciên-
nalava a morte do modernismo e a aparição de um cia criadora nacional” (ANDRADE, 1972, p.
novo movimento, absolutamente oposto ao anterior. 242).
Neomodernistas, pois, seria o codinome para os com- Trata-se de três importantes características
ponentes das chamada Geração de 45.
que fizeram com que a Geração de 45 encon-
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trasse, em sua década de estréia, um cenário enxuta e a certa observação minimalista das
de liberdade muito bem descrito por Mário nuances de seu tempo.
de Andrade, em que o artista brasileiro
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10 Maurício Guilherme Silva Júnior
presa de um primeiro contato que o automa- invenção – como os azuis ângelus de Mal-
tismo da repetição embotara” (PAES, 1996, larmé, que transmitem a paz intensa das
p. 22). Em Para uma pedagogia da Metá- cores do céu ao entardecer – e as de con-
fora, ensaio escrito na década de 1990, o po- venção – como no caso de arranha-céu, em
eta explica o modo como, no processo de que tal idéia é automaticamente associada
miniaturização poética do mundo, é impor- somente à existência de prédios imensos.
tante lançar mão de metáforas cuja signifi- Importante explicar, contudo, que as metá-
cação deve se caracterizar por certo ar “es- foras de convenção já perderam sua labili-
trangeiro”, alheio aos sentidos – e empregos dade – e também o certo ar estrangeiro – de-
– práticos da palavra. vido ao uso corrente e coloquial. São, assim,
No ver de Paes, as metáforas são as únicas incorporadas por designação direta, e não
capazes de, no verso, promover um enlace mais metafórica. Segundo o poeta paulista,
entre o ser e o não-ser “de maneira a mais elas terminam “seus dias como meros sinôn-
estranha” (PAES, 1997, p. 24). Para explicar imos no dicionário da língua” (PAES, 1997,
sua visão acerca da utilização dos recursos p. 20). Em pólo oposto, as metáforas
metafóricos, José Paulo recorre a uma analo- de invenção caracterizam-se pela “labilidade
gia com determinado jogo infantil, no qual dinâmica”, capaz de instalar,
um adulto, diante de uma criança pequena,
entre o real e o imaginário, uma
esconde o rosto para, rapidamente, revelá-
ponte de mão dupla por onde a
lo de novo. No caso, há certa alternância
surpresa da descoberta irá transitar
de presença e ausência a que se associam,
comprazidamente num repetido ir
simultaneamente, sensações de prazer e de-
e vir. Esse tipo de metáfora imanta
sprazer. Segundo a teoria de Paes, a ráp-
com suas linhas de força toda a ex-
ida mudança de sensações a que está su-
tensão da fala e não apenas o ponto
jeita a criança faz parte da própria idéia do
dela em que instaurou uma impert-
jogo lúdico. Exatamente como acontece com
inência semântica. Com isso funda
a metáfora. “Na contínua alternância en-
o próprio discurso poético, o qual
tre o sim/não encontra a metáfora o mo-
se constitui num desvio tão radi-
tor da sua dinâmica, assim como o encontra
cal da lógica da fala comum com
nosso jogo [infantil] na reiteração do enco-
que Julia Kristeva o define como o
brir/descobrir” (PAES, 1997, p. 17-18).
discurso da negatividade. (PAES,
Neste ponto, comenta o que chama de “la-
1997, p. 21)
bilidade dinâmica” da expressão metafórica,
responsável por unificar presença e ausên- Tal visão do discurso poético como “neg-
cia numa só ocorrência verbal. Na metá- atividade”, a partir do uso das metáforas de
fora, o inanimado torna-se animado. “Mais invenção, aparece amiúde na obra de José
que isso, um estatuto de duplicidade passa Paulo Paes, para quem, na economia do pro-
a consorciar labilmente entre as coisas e os cesso metafórico literário, “figurante e figu-
seres, o humano e o não-humano” (PAES, rado vão alcançar estatuto de plena equipon-
1997, p. 17). Paes ressalta, então, a ex- derância” (PAES, 1997, p. 13). Em in-
istência de dois tipos de metáforas: a de úmeros momentos, Paes leva ao extremo
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tal desvio do sentido ordinário das palavras, definir, segundo critérios pessoais, o poema-
principalmente através da criação de pe- piada modernista. E o autor revela que, rap-
quenos – e intensos – chistes. Em Paes, idamente, as técnicas da poesia concreta lhe
o chiste pode ser definido como o recurso atraíram pela
capaz de unificar, condensar e metaforizar
o mundo dentro da pequena célula poética. extrema condensação de sentidos
De outra forma, pode-se dizer que o poeta, alcançada pela eliminação, total
através do lúdico jogo do chiste, encontra ou parcial, das conexões gramat-
sua forma peculiar de tratar das questões so- icais, já que a atenção do poeta
ciais, políticas e econômicas de seu tempo. se voltava para as palavras em si,
Davi Arrigucci Júnior ressalta que em Paes não para a sucessão delas no verso.
“o prazer lúdico do lance verbal, o gosto Por outro lado, a exploração do
do disparate, tudo o que parece fazer a ten- branco na página ou fragmentos de
são, a graça e o prazer do chiste assume palavras ali disseminados ganhas-
nele força catártica, como o desafogo que sem ênfase e ressonâncias. (PAES,
pudesse redimi-lo ou a todos de uma pressão 1996, p. 55)
indizível, feito uma arma de combate em luta Principalmente em Meia palavra, tudo
contra a repressão vinda de dentro ou fora do passa a se reduzir ao mínimo, como se numa
poeta” (ARRIGUCCI JR., 1998, p. 12). incessante busca por incluir o mundo em
apenas um grão de areia. Trata-se, em ver-
dade, da incorporação do signo não-verbal
4 A inversão hipertextual de à poesia de José Paulo Paes. Além da
Paes preocupação anti-retórica, o poeta paulista
percebe que a ênfase dos concretos na
medula ideogrâmica vai ao encontro da poe-
Já nas décadas de 1960 e 1970, aviva-se sia epigramática que ele próprio já produz,
em José Paulo Paes o interesse pela poe- como reação
sia Concreta. Neste sentido, Anatomias
(1967) e Meia Palavra – cívicas, eróticas a certo metaforismo ornamental
e metafísicas (1973) revelarão o interesse em voga entre os da minha ger-
de Paes pela então propalada obra dos po- ação [Geração de 45] e seus con-
etas concretos. A veia epigramática, concisa tinuadores; nessa reação, não tive
e cômica do autor, aliada à desconstrução medo de ir até o poema-piada
poética do concretismo, culminará com po- de 22 tão abominado por eles.
emas criados a partir de recursos como de- Não cheguei a ser um poeta con-
struição paródica; desmontagem do verso e creto em sentido estrito; faltavam-
destaque da palavra isolada; remontagem vo- me raízes poundianas ou mallar-
cabular e trocadilhos; e incorporação do vi- maicas. Outrossim, mais do que o
sual à estrutura da composição poética. De projeto teórico, interessou-me so-
certa forma, pode-se dizer que Paes irá re- bretudo a prática poética dos con-
cretos. Utilizei-lhes alguns dos
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