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The Cloud Minders: a luta de classes em Star Trek TOS

The Cloud Minders (TOS, 3X19)


Escrito por:​ David Gerrold e Oliver Crawford
Teleplay:​ Margaret Armen
Direção:​ Jud Taylor
Estreia:​ 28/02/1969

"Este conturbado planeta é local dos mais violentos contrastes. Os que recebem as
recompensas são totalmente separados daqueles que carregam o fardo. Não é uma liderança
sábia." ​-​ Spock

Frequentemente, a terceira temporada de TOS é tida como a mais fraca, com roteiros
inferiores aos das temporadas anteriores e com diversos problemas na produção. Mesmo
assim é uma temporada com ótimos episódios, que carregam o espírito de Star Trek,
possuindo temas profundos e abordando problemas contemporâneos, com forte crítica social.
Um destes episódios é "The Cloud Minders" (TOS 3x19 - "Os Guardiões das Nuvens",
na versão brasileira), onde o planeta Merak II está sendo assolado por uma praga que pode
destruir toda a sua vida vegetal e como consequência exterminar sua população. A fim de
resolver o problema a Enterprise desloca-se até o planeta Arnada - única fonte do mineral
zienite, capaz de deter a praga - de modo a obter um carregamento desta substância que
poderá salvar Merak II.
Ao descerem no planeta Kirk e Spock são atacados por um grupo de mineiros
separatistas - liderados por Vanna e conhecidos como troglytes -, sendo salvos pelo Alto
Conselheiro de Ardana e levados em seguida para a cidade nas nuvens, que abriga uma
sociedade totalmente intelectual, que supostamente eliminara a violência por completo.
No entanto, Kirk e Spock logo descobrirão que as relações sociais no planeta Ardana
são mais complexas do que a aparente tranquilidade que Stratos sugere. Para que os cidadãos
de Stratos possam usufruir de uma vida confortável nas nuvens, dedicando toda sua energia às
artes e às atividades intelectuais, se faz necessária a exclusão da maior parte da população do
planeta, que vive na superfície em condições adversas.
Karl Marx afirmou que a história da humanidade é a história da luta de classes. Isto
significa que as sociedades são o palco do eterno conflito entre opressores e oprimidos. "The
Cloud Minders" aborda justamente esta questão, ao mostrar uma sociedade rigidamente
dividida entre trabalhadores intelectuais - que vivem na cidade Stratos, nas nuvens do planeta
- e trabalhadores manuais - os troglytes, que habitam as insalubres minas de Ardana. A
divisão social do trabalho que se concretizou em Ardana é reveladora das relações que se
estabeleceram entre as duas classes, ou seja, os cidadãos de Stratos e os troglytes.
Os primeiros, livres do trabalho pesado e manual, podem se dedicar exclusivamente ao
pensamento e ao espírito, ao mesmo tempo em que consideram os troglytes inferiores,
justificando assim sua dominação, pois é desta que advém sua liberdade; os segundos,
"escravizados" sob as condições duras nas minas de zienite, encontram-se embrutecidos e
alienados, algo que é metaforizado na história na solução narrativa do gás emanado pelo
mineral zienite, que provocava a perda de 20% da capacidade intelectual dos troglytes.
Somente aqueles que deixam de ser expostos ao gás podem ascender socialmente.
Quando Plasus, ao não acreditar na eficácia da máscara providenciada pelo Dr.
McCoy para utilização por parte dos troglytes, afirma que seus antepassados saíram das minas
e mesmo assim conseguiram construir Stratos, Spock lhe responde: "A evolução desigual não
começou até que seus ancestrais saíssem da exposição constante ao gás". Touchè! Um golpe
vulcano na falaciosa meritocracia do Alto Conselheiro.
Por fim, o componente ideológico, que os fazia crer - tanto cidadãos de Stratos quanto
os troglytes - que os indivíduos da classe que vivia na superfície do planeta não eram
biologicamente adaptados à luminosidade e ao calor da cidade das nuvens. Aqui é possível
estabelecermos também uma relação com o Mito da Caverna, de Platão, já que os troglytes
vivem em cavernas e, segundo os habitantes de Stratos é lá que devem permanecer.
No entanto, a relação com o pensamento de Marx e Engels é clara, a partir do que
estes pensadores afirmam em "A Ideologia Alemã":

"O representar, o pensar, o intercâmbio espiritual dos homens, aparecem aqui como emanação direta
de seu comportamento material" (1977, p. 36).

Isto é, segundo Marx e Engels, a relação que as pessoas possuem com a natureza e
com os seus meios de vida são determinantes na imagem que elas fazem de si mesmas e do
mundo ao redor, ou seja, a vida material está profundamente entrelaçada com a ideologia de
uma sociedade. Não somente na sociedade ardaniana, quanto na nossa sociedade capitalista
atual, por exemplo: é tácita a aceitação da necessidade de trabalhadores braçais que
possibilitam a existência dos trabalhadores intelectuais.
Ou ainda pior: uma classe de párias, que nada produz, sendo carregada nas costas pela
classe trabalhadora. De certa forma, este parece ser o caso de Ardana, onde os habitantes de
Stratos representam a burguesia, enquanto o proletariado ganha forma nos troglytes. A
extrema futilidade de Droxine, filha do Alto Conselheiro Plasus parece confirmar esta
hipótese. Esta personagem é o oposto da líder dos separatistas, Vanna, "dominada pela
violência vinda do desespero", nas palavras de Spock, que por fim, em diálogo com Droxine
conclui: "eles fazem o trabalho pesado necessário para manter Stratos". "É a função deles em
nossa sociedade", responde Droxine.
Finalmente, há ainda uma importante questão, materializada no cenário onde se
desenvolve a ação do episódio. Percebam que a cidade "pacífica" e "evoluída" se encontra nos
céus, nas nuvens. Já os "brutos" e "instáveis" troglytes vivem na terra. É uma grande e genial
metáfora daquilo que Marx e Engels tinham em mente ao escrever "A Ideologia Alemã",
dando os primeiros passos do materialismo histórico: a crítica ao idealismo dos filósofos
neo-hegelianos. O habitante de Stratos acredita que as ideias são autônomas, preexistindo às
condições materiais; os troglytes provam que a verdade é o inverso:

"Totalmente ao contrário do que ocorre na filosofia alemã, que desce do céu à terra, aqui se ascende da
terra a céu. Ou, em outras palavras: não se parte daquilo que os homens dizem, imaginam ou
representam, e tampouco dos homens pensados, imaginados e representados para, a partir daí. chegar
aos homens em carne e osso; parte-se dos homens realmente ativos e, a partir de seu processo de vida
real, expõe-se também o desenvolvimento dos reflexos ideológicos e dos ecos desse processo de vida."
(1977, p. 37).

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