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PRÉDICA E MÚSICA

Mauro Batista .de Souza

1. Prédica, pregação, homilética - .AJgumas definições

Por que falar de prédica e dê' ·p regação em um livro que


trata sobre a música na igreja? Qual é a relação entre música e
pregação da palavra de Deus? Ou, r:e finando a pergunta, qual o
pap~l ~-~ i:núsica na igreja da Palavra? Este artigo tem por objeti-
vo buscar algumas respostas a essas perguntas.
Em primeiro lugar, precisamos estabelecer que as reflexões
aqui contidas compreendem pregação e música como partes es-
senciais do culto comunitário cristão.;Música e pregação têm pa-
pel in1portante em outros 1nomentos da vida da igreja, mas é seu
papel no culto que nos interessa aqui. No culto cristão acontece o
encontro da comunidade co1n DeusJ~ de Deus com a comunida-
de. O culto é a reunião de irmãs e irfnãos na fé, em local e tempo
especialmente preparados e escolhi<:los. É quando a comunidade
fica na pres.e nça do próprio Deus, ·_ através da Palavra (cantada,
orada, falada, ouvida, pensada) e dqs sacramentos.
Pode~1os considerar como pr~gação todas as for1nas pelas
quais a igreja co1nunica a palavra de Deus. Faz parte dessa co-
1nunicação o anúncio da vontade de Deus e a denúncia daquilo
que vai contra ela. Essa "vontade" de Deus está testemunhada
nos relatos bíblicos e, de for1na especial, na pregação e atuação

39
de Jesus Cristo. Existem vários tipos de pregação: a pregação li- f
túrgica (que acontece dentro de um culto e que é conhecida, de- 1
pendendo a tradição, por prédica, homilia, sermão, mensagem, (i
·. ~

alocução, testemunho), a liturgia toda, as cores e os símbolos li- _;


túrgicos, a diaconia e o serviço, os programas de rádio, TV, inter- ·t·,f
f.

net, jornal, a catequese e o ensino, a exortação mútua, a vivência, l~,,


o aconselhamento pastoral, o silêncio, os sinos, etc. A música é
'ti
l
uma fonna privilegiada de pregação. K
f
~
E1n outra perspectiva, podemos classificar a pregação da i
f
igreja como sendo interna e externa. A pregação interna tem a f
J
ver com o ensino, a consolação, a celebração, a motivação ao dis- f
' ~
cipulado. A pregação externa refere-se à evangelização, à ação }

!
social, à denúncia das injustiças, às palavras públicas da igreja it (

í
diante de temas controversos. f
[
O termo mais específico "prédica" (comu1nente utilizado tt
r
na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil) designa f. .t

un1 tipo de pregação; prédica é u1na reflexão religiosa dirigida a !f r.

uma co1nunidade reunida, que segue a leitura de uma ou mais ií


passagens bíblicas e tem vínculo litúrgico com o culto. Homiléti- 1~'':
ca, por sua vez, é uma disciplina da Teologia Prática que se ocu- i~
pa com a reflexão sobre a pregação da igreja. A homilética visa a •i
oferecer subsídios para que a mensage1n que Deus te1n a dizer se i
torne realidade viva para as. pessoas hoje. g
f
'
A homilética possibilita a proclamação da teologia; é a sua li
voz; é a "tradução" da teologia por meio de experiências e con- i.f
ceitos que possam ser compreendidos, experimentados e viven-
1
ciados pela comunidade. O que a retórica é para a filosofia, a ho-
milética é para a teologia. Homilética visa a pern1itir que a igreja,
através da voz de seus pregadores e pregadoras, transfonne a
fala de Deus en1 fa]a hun1ana.
J-Io111ilética lida co111 dois tipos de palavra: a palavra de r
Deus e as palavras humanas. Deus criou tudo o que existe ao !
~

pronunciar sua palavra, co1no en1 Gênesis 1.14-15: "E disse Deus, f
l
- ha_ja luz! E assim se fez". Tan1~é1n as palavras hun1anas criam t
i'
{.
40
.f
realidade, para o be1n ou para o mal: "até que a morte os separe",
ou "eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo",
ou "você está demitido!" Palavras tê1n poder de criar, dar vida,
empoderar, libertar, n1as ta1nbém de oprimir, silenciar, n1atar.
Dentre as principais passagens bíblicas que sublinham a
importância da pregação podemos citar:
a) Deus criou o mundo e tudo o que existe a partir de sua
própria pregação: "E disse Deus ... e assim se fez" (Gn
1-2).
b) A pregação é parte importante da atuação de profetas
e profetizas. Quando Jeremias argumentou com Deus
que era muito jovem para pregar, Deus disse: " Não
diga que é muito jovem, mas vá e fale com as pessoas a
quem eu o enviar e diga tudo o que eu 1nandar" (Jr 1.7).
A pregação ta1nbém foi in1portante para a profetiza
II
Ana, que falava a respeito do menino ... " (Lc 2.36-38);
II
Míriam, que invocava a cantar ao Senhor" (Êx 15.20-
21 ); Débora, que atendia debaixo de sua palmeira" (J z
II

4.5); Hulda, que profetizava palavras difíceis de des- ·


truição (2Rs 22.14ss ), além de tantas outras passagens
em Isaías, Ezequiel, Amós e outros profetas.
c) Lucas 4.16-21: relata o co1neço da pregação de Jesus.
Confere à prédica três características, amplamente di-
fundidas no cristianismo. Prédica parte de uma exegese
(estudo do texto bíblico), está dentro de um contexto
litúrgico (na reunião da comunidade) e possui papel
profético (co1nunica a vontade de Deus, anunciando e
denunciando a realidade).
d) Mateus 28.18-20: Jesus incu1nbe seus discípulos a ir e
ensin~r adiante aquilo que aprenderatn.
e) Atos 6.4: pregar a palavra é incun1bência ·d ada à igreja.
f) Efésios 4.11 : o serviço e o 1ninistério da pregaçfh1 são
do1n, dádiva e incun1bência .

41
g) Romanos 10.14-17: a fé ve1n pela pregação da palavra
de Deus.
h) Sendo assim, pregamos não son1ente por tradição ou
porque achamos que é bom. Pregamos porque essa é
uma tarefa da con1unidade cristã, dada pelo próprio
Cristo.
Jesus Cristo é o logos encarnado. É palavra feita carn'e que
habitou entre nós e nos mostrou os caminhos, a lógica, a ética, o
perdão, o amor de Deus. Mostrou-nos Suas palavras. Palavras
que têm papel fundamental: elas nos dizem quem som9s e a
que1n pertencemos. Palavras que nos orientan1, nos dirigem, nos
convidam à ação. Mantemo-nos vivos por causa da palavra de
Deus, que cria, suscita e ressuscita.
· Havia um prófessor de ho1nilética que costumava citar o
escritor estado-unidense T. S. Eliot, que afirmava que o papel da
literatura é transformar sangue e1n tinta. A literatura captura recor-
tes da vida e os apreende em sinais gráficos (palavras escritas).
Se considerarmos a Bíblia como literatura, podemos afirmar que
também ali há vida transformada em-tinta .. Assim,--o papel de
que1n prega a partir do texto bíblico é transformar tinta novmnen_te
ern sangue.
O papel de quem prega é tentar ouvir, perceber, compreen-
der, sentir a vida pulsando nos relatos bíblicos, e trazê-la de volta
para seus ouvintes. O papel de que1n prega é transfonnar letras e
palavras e1n pernas, braços, cabeças, corações, água, pão, a1nor,
fon1e, guerra, alegria, sofrimento, tristeza, abundância, fartura,
solidão, paixão. Não é, portanto, un1a tarefa das mais simples.
Tan1pouco é tarefa ü11possível.
Conta uma história que u1n arcebispo foi assistir a u1na
peça de teatro. Ficou tão comovido e impressionado co1n a quali-
dade dos atores e das atrizes que, ao final da apresentação, não se ·
conteve e foi ter com eles em seu can1ariln. "Con10 vocês conse-
guen1 1nexer tanto con1 a plateia, con10 vocês consegue1n cativar
a gente de fonna tão profunda? O que vocês dirian1 a u1n pobre f
l

42 J
1
::J:
pregador?" - perguntou. "Meu se1~or, eu não tenho resposta,
mas acho que nós, atores e atrizes, falamos de coisas in1aginárias
como se fossem reais. Vocês pregadores ... vocês muitas vezes fa-
lam de coisas reais como se fosse1n i1:1aginárias."
Eis aqui um grande desafio para nós pregadores e prega-
doras: co1no falar das coisas reais (salvação, perdão, reconcilia-
ção, amor) nas quais acreditamos de fonna concreta, palpável,
experimentável? Será que a música pode contribuir para que
nossa pregação se torne n1ais concreta, 1nais pé no chão?
Deus faz uso de 1nuitas 1nanei_r~s para fazer chegar Sua pa-
lavra até nós. Deus utiliza inclusive a nós próprios. Já vimos que
há n1uitas formas pelas quais podemos co1nunicar a palavra de
Deus. Un1a dessas formas é através -da música.
Pessoas que trabalham co1n música nas comunidades es-
tão desen1penhando papel importantíssimo do ponto de vista
da pregação da Palavra. Quem lida :com música na igreja está
lidando também con1 dimensões teológicas, litúrgicas, históricas,
antropológicas, poimênicas e muita~_outras.
A-música é uma forma privilegiada de pregar a palavra de
Deus. Seus ele1nentos sonoros e rítp:licos, e mesmo poéticos (no
caso das músicas letradas) possue~ bem mais atrativos do que
as palavras planas pronunciadas através da voz.
Que1n nunca se arrepiou ao ouvir o introito de um culto de
Pentecostes executado por um coral de trombones? Quem nunca
se emocionou ao cantar use as águas do n1ar da vida" ao sepul-
tar um ente querido? A música pertence a lugares profundos da
existência hun1ana. Não é à toa que é urn dos principais elemen-
tos em cada cultura e tem aco1npanhado a ca1ninhada do povo
de Deus desde os prin1órdios.
A música ~ntra pelos ouvidos e pelos poros, antecipa-se
e son1a-se à razão, e encontra n1orada no coração -e nas entra-
nhas. Aristóte]es já afirn1ava que nada está no intelecto que não
tenha prüneiro passado peJos sentidos. A n1úsica ten1 o poder de
alegrar, comover, acaln,ar, e1nocion~r, 1nas tan1bé1n pode irritar,

43
deprin1i:r, fazer lavagen1 cerebral, preparar para a guerra. Muito
de seu resultado depende dos objetivos com os quais é utilizada.
A n1aioria das pessoas pode não se le1nbrar da prédica que
ouviu no culto do domingo·passado, mas certamente se lembra-
rá das músicas e dos hinos ·que cantou. Neste aspecto, é preciso 1

esclarecer que simplesmenté "lembrar" de uma prédica não é o


mais importante. Mais impprtante é aquilo que a prédica fez por
nós. Se ela nos confortou em momentos difíceis; se ela nos trouxe
pistas para uma tomada de decisão em momentos de dúvida; se
ela nos xingou quando nos considerávamos os donos do mundo;
se uma prédica fez algo, se -ela proporcionou alguma experiên-
cia, então ela cumpriu boa parte de sua função .
A música também fazisso . Ela cria experiências. A música
cria realidade na vida das pessoas, cria sentimento de pertença,
gera comunidade. Mais do que o ensinamento, 1nais do que seu r.
l
conteúdo teológico, dirigidos ao cérebro dos ouvintes, a música, · 1'
sua melodia e seus ritmos ecoam nas profundezas da alma. t

É fato conhecido que a_. Reforrna protestante do século XVI, !


que teve Martim Lutero (1483-1546) como um de seus principais jf
protagonistas, deve muito à prédica. Tamanha foi a ünportância
daquele veículo de co1nunic.ação eclesial para a divulgação das
descobertas teológicas reformatórias que, não fosse .pela prédi-
ca, talvez hoje não houvesse_~grejas protestantes espalhadas pelo
mundo afora. ·
Ao lado da prédica estava a música no movimento da Re- ,:_1•.

forma. Há hinos que conta~,toda a história da salvação e1nJesus


Cristo, compostos num te~r,o em que as pessoas não tinham os
textos bíblicos para ler e nãà ·guardavam tudo o que ouviam na
' .
1t

pregação. A 1núsica foi usada para a trans1nissão de conteúdos


teológicos importantes para o 1novimento reformatório. Lutero 1
!
pregou com todos os n1eios,:q11e estavam à sua disposição. 1
Vale lembrar que, no te1npo de Lutero, a ünprensa estava J
dando seus primeiros passos; Livros era111 raros e, portanto, ca- 1
ríssimos. A prédica, a pregação º:iunda dos púlpitos das igrejas, ·t
1

44 :I
. i ',i,'
:{}
/r
era u1n dos mais importantes meios de co1nunicação. Para Lute-
ro, pr~ga-se o evangelho com a boca e co1n a 1não. Evangelho é
palavra e ação unidas de forma indissolúvel.
Como já menciona1nos anterionnente, a 111úsica teve papel
iguahnente in1portante naquele movünento reformatório. Se-
gundo Ari Kafer,

A partir da Reforma Luterana no século XVI, a


música ganhou um novo sentido na igreja. A co-
111unidade passou de ouvinte de cantos gregoria -
nos a protagonista, entoando ela mesma os hinos
nos cultos. Isso significou uma verdadeira liber-
tação para as incipientes co1nunidades luteranas
(KÃFER, 2009, p. 22) .

Kafer afir1na que

Desde os primórdios, os luteranos cultivam a n1úsi-


ca e o canto em seus mais diversos níveis, do erudi-
to ao popular. [... ] Não importam o nível de sofisti-
cação e o estilo; o que importa é que tudo seja feito
com fé e muito amor (KÃFER, 2009, p. 22).

"Os ü11igrantes alemães luteranos," continua Kafer, .u ao se


instalarem no sul do Brasil, trouxeram consigo a Bíblia, o Catecis-
1no Menor, o Livro de Orações e o hinário" (KÀFER, 2009, p. 22).
Nós vivemos os frutos dessa herança em nossas co1nunida-
des evangélicas luteranas. Temos, de acordo con1 a região e tra-
dição, u1na diversidade enorme de músicas, de grupos de canto,
coros, corais e orquestras. Não é possível ünaginar a vida de unia
comunidade da IECLB se1n a presença da n1úsica nos cultos, nas
reuniões dos grupos, nos sepultamentos, nos casa1nentos .
. O canto çomunitário aproxin1a as pessoas. Coloca-3s no
1 .

mesmo nível, e1n pé de igualdade. São bocas, lábíós, gargantas,


cordas'. vocais - corpos inteiros - colocados a serviço de Deus. No
canto há união e cu1nplicidade, coisas que deverian1 acontecer
com n1ais frequência e1n outros 111on1entos da vida con1unitária.

45
Quando cantamos, tornamo-nos ao mesmo tempo pes- 1
soas portadoras, emissoras e receptoras de un1a mensagen1. Te- ;
mos un1 papel ünportante no culto. Co1n variações contextuais '.(
e pastorais, com alguma precisão poden1os considerar que em
um culto regular na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no 1
Brasil cantam-se e1n torno de cinco hinos mais uns cinco cantos i
litúrgicos. Se calcularmos que cada hino tem uma duração média 1
de quatro minutos e cada parte litúrgica mais un1 minuto, pode- tr..
t

1110s arriscar que, ao participar de um culto, a pessoa canta em 1


'
torno de 25 111inutos. Ou seja, a pessoa participa ativamente, pro-
nunciando a palavra de Deus contida nos hinos, por 111ais ou menos a
1netade do culto. Não é pouco. É claro que as pessoas parhcipam
ativan1ente de todo o culto, mes1no que essa participação se re-
suma a ouvir, o que não diminui em nada a ünportância da sua
presença.
Por causa da alegria que temos em saber que son1os pes-
soas aceitas pela nossa fé, compomos e cantamos hinos a Deus.
Através da música, transformamos palavras e1n entes tridimen-
sionais. Mes1no que esqueçamos a letra, a 1nelodia já é em si
uma mensagem. A música é uma forma riquíssima de melhorar
aquilo que queremos dizer com nossas palavras. E mais, através
da música, conseguimos expressar aquilo que palavras sozinhas
não conseguem.
Resumindo:
Hornilética: disciplina da Teologia Prática encarregada de
refletir sobre a prática da pregação da igreja. Relaciona-se com
diversas áreas: teologia, filosofia, retórica, sociologia, con1unica-
ção, etc. A partir do estudo e da exegese dos relatos bíblicos, a
função da ho1nilética é pern1itir que o pregador chegue a un1a
n1ensagen1 central (a Boa-Nova, o Evangelho), con1 a qual ele
pode observar e con1parar o 111undo e a realidade, e propor às
pessoas ouvintes conforto, ensinamento, desafio ou celebração.
Pregação: tern10 genérico que designa todas as forn1as pe-
las quais a igreja con1unica a vontade de Deus_. São exen1plos de

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regação: a pregação litúrgica, a liturgia como um todo, a mú -
~ca, as cores e os símbolos litúrg:iCos, a diaconia e o serviço, os
progra 1nas de rádio, TV, jornal, a ~atequese e o ensino, a exorta-
ção mútua, a vivência, o aconselhà_m ento pastoral, o silêncio, os
sinos, etc.
Prédica: é u1na fala dirigida a un1a comunidade reunida em
oração que tem vínculo bíblico e litúrgico. Outras confissões reli-
11 11
giosas usan1 os termos "homilia" mensagen1", sennão", tes-
1 _"

temunho", entre outros. ·

2. Novos impulsos homiléticos

Na década de 1960, surgiu, 110s púlpitos e seminários teo-


lógicos da América do Norte, um movimento chamado Nova
Hon1ilétic~. Sua principal caractérística foi argumentar que a
prédica, urp.a vez que é um eventq ,oral, deveria seguir as leis da
comunicaç~o oral, e não os princíp.ios do texto escrito e os funda-
mentos
. da .literatura, característicos da homilética mais tradicio-
nal. A comunicação oral acontece de maneira espontânea e livre,
e a sua forma é tão importante quanto seu conteúdo. Ao fazer
essa opção, a Nova Homilética estava resgatando de volta para
dentro da sua disciplina o elemento -da fonna.
Cabe ressaltar que qualquer estudo de homilética e, por
conseguinte, qualquer preparação de prédica precisam levar em
conta pelo menos três elementos essenciais: o conteúdo, a forma
e o contexto. O conteúdo é o "o quê" da prédica: as infonnações,
as palavras, os ensinamentos, as experiências contidas na prédi-
ca. A forn1a é o "como": o jeito que se fala, as pausas, a entonação,
a utilização de auxílios didáticos, _visuais, sonoros, etc. Contexto
II
é o onde": para que1n, com quem, e1n que situação, sob quais
circunstâncias en1ocionais, litúrgicas, etc.
Defensores da Nova Homilética passaram a questionar
e acusar os n1étodos ho1niléticos tradicionais de não 1nais res-

47
.. i~
pondere1n às necessidadel das pessoas ouvintes. Uma vez que )
produzem prédicas geralmente unidirecionais (isto é, o pregador ,
fala para a comunidade, q~~ recebe a comunicação), esses méto- ·/
dos são bastante dependentes da autoridade de quem fala. Im- ,
portante lembrar que, no fi1:1al dos anos de 1960, uma verdadeira
revolução cultural estava a,~'o ntecendo no mundo, na qual todo
tipo de autoridade (e especialmente a da igreja) estava sendo se-
veramente questionada. Em outras palavras, os métodos mais
tradicionais tendem a ser mais discursivos, explanatórios, dedu-
tivos, e não possuem muito espaço para formas ma~s democrá-
ticas de comunicação, que possibilitem o diálogo, a pergunta, o
questionamento.
Nos m.odelos mais tradicionais de prédica, as pessoas que
pregam entendem a Bíblia como um livro de ideias a serem pre-
gadas. Quando essas ideias são encontradas, o próprio texto bí-
blico (em toda a sua complex~dade e multiplicidade de possíveis
mensagens e experiências) pode ser deixado de lado, uma vez
que o tema central foi destilado. A partir daí, esse tema deve ser
11
"passado", transmitidoff às -pessoas ouvintes, sem q:i,ie essas te-
nham a chance de pensar ou concluir com seus próprios esforços.
Fred Craddock public~u, em 1971, As One Without Autlw-
rity (unia tradução literal poderia ser "Como Alguém Sem Au-
toridade"), um livro no qual materializava essa crítica aos mo-
delos tradicionais de prédic~: Seu método, chamado de ✓/ prega-
ção indutiva", defende que, ;s endo comunicação oral, a prédica
pertence a todas as pessoas que a ouvem. Ou seja, quem ouve
participa ativamente da prédica, podendo, inclusive; chegar às
suas próprias conclusões. Craddock argumentou que a prédica
deve ser c~n1pletada no ouvido das pessoas ouvintes. Assün, ele
coloca a pessoa que ouve no _centro e co1no ponto de partida da
teoria homilética. Pode-se dizer, então, que a homilética passou
a ser co1npreendida não 1nais como un1a "técnica para conseguir
algu1na coisa falada", 1nas co1no a "arte de obter algun1a coisa
ouvida".

48
O problema que Craddock queria destacar é que as pessoas
que pregam havian1 se agarrado co1n tanta força ao conteúdo de
sua pregação, que tinham se esquecido do elemento da forma.
II
Ele defende que o co1no" já é em grande parte o o quê" da
II

prédica. O crédito dessa afirmação é do filósofo e educador ca-


nadense Marshall McLuhan (1911 -1980), que disse 0 meio é a
11

mensagem" . Se a prédica é uma comunicação oral, e se grande


parte da mensage1n vem da forma como ela é transmitida, então
a linguagem do corpo e o jeito de falar são essenciais para uma
boa prédica. Isso já foi co1nprovado em números.
O pesquisador Albert Mehrabian (MEHRABIAN, 1971, p .
43-44) afirn1a que em torno de 55 % daquilo que realmente é co-
municado em u1na situação frente a frente (como é o caso de uma
prédica) provê1n da linguage1n corporal, 38% vê1n da paralin-
guagem (o jeito, o tom, as ênfases, as pausas, as entonações, etc.)
e somente 7% vê1n das palavras propriamente ditas. Ou seja, o
corpo e o jeito de falar são·muito mais eficazes, do ponto de vista
comunicativo homilético, do que o conteúdo, do que as palavras
en1 si. Isso significa que, quando o conteúdo de uma prédica e o
jeito com o qual ela é apresentaçia se contradize1n (andam em di-
reções opostas), as pessoas acreditam muito n1ais no que o corpo
e a paralinguagem estão dizendo do que nas palavras propria-
mente ditas.
É assim que funciona a c;omunicação oral. Pensamentos e
linguagem falada aco1npanham a linguage1n do corpo. Um auxi-
lia o outro de maneira natural, simplesn1ente porque é assim que
as pessoas se comunicam no seu dia-a-dia, de maneira infonnal
e de forn1a espontânea.
A coerência entre conteúdo, jeito de falar e linguage1n cor-
poral fica bem n1ais prejudicada quando uma prédica é pensada
a partir das regr~s e nonnas do texto escrito. O texto·escrito pren-
de bem mais o pregador e dificulta a espontaneidade de seus
gestos. Pior ainda fica quando unia prédica é sin1ples1nente lida,
sem acompanhamento da linguagem corporal, com pouco ou ne-

49
nhurn contato olho a olho, sern pausas apropriadas e variação t
nas entonações. L
Claro que o contrário é iguahnente catastrófico. Uma pré- J'.
dica que tem apenas forma e jeito, 1nas que não te1n conteúdo, ,.
tambén1 não serve. Seria aquilo que comumente se chama de
11 11

encenação". A prédica de hoje foi unia encenação", isto é, ela


não foi genuína, não foi verdadeira, ficou somente na forma. .,.
O que se pretende é que o conteúdo da prédica, o o quê" II
i_;

da prédica, a sua n1ensagen1, seja apresentado através de uma t


forma viva, dinâmica, que capture a atenção das pessoas ouvin- 1
tese as cative. Costu1na-se dizer que as pessoas que pregam dis- t
põem somente dos dois primeiros minutos de sua prédica para 1
obter a atenção das pessoas ouvintes. Se falharem ali, dificilmen- f:
l
te conseguirão a atenção no decorrer da prédica. f
f
Podemos afinnar que o 1nais importante da Nova Homilé- tf
tica é que ela devolveu a prédica ao inundo da oralidade. É ali, na f
din1ensão do te1npo, no evento da linguagem oral é que prédica
1
acontece. Prédica, na definição da Nova Homilética, passa a exis- 1
tir no momento em que ela é apresentada, no 1nomento em que
ela é incorporada pela pessoa que está pregando. Prédica é mui-
l
to 1nais o resultado final, aquilo que é ouvido e experünentado,
do que aquilo que foi preparado e saiu dos lábios da pregadora.
I
A comunicação oral é indutiva, isto é, ela parte do menor
I
para o maior; do particular para o geral. A comunicação dedutiva
n1ovünenta-se justamente ao contrário: do maior para o 1nenor,
1
do geral para o particular, da conclusão para a experiência. Para 1
Craddock e outros neo-hon1ilistas, a pregação que seguir o mé- ,
todo indutivo terá 111ais chances de obter ouvidos, considerando l
[
que as pessoas viven1 suas vidas de fonna indutiva, acun1ulando i
f
pequenas experiências que vão se so1nando até se tornar ensina- t!:
r
n1entos de vida. i ~
7
No que se refere à prédic_a, dedução significa con1eçar a .1
fala co1n a tese central, que é a conclusão a que o pregador che- ítí
~.
gou a partir do estudo do texto bíblico. Depois, segue-se para os _tt
. l'

'
·1,
.- :·
50
~
pontos menores ou teses secundárias que visan1 a apoiar e pro-
var a tese central. Esses pontos menores poden1 ser divididos en1
itens ainda ~enores, que, finalmente, são "aplicados" à situação
vivencial das pessoas ouvintes. A pergunta que se coloca é: se a
conclusão já foi dada logo no início, por que se deveria ouvir o
restante da prédica?
Outra perspectiva interessante ~a Nova Hon1ilética está na
concepção de que urna pregação (a _prédica, por exemplo) não é
meramente sobre um terna, un1 assu1i.to, urna questão. A função
da prédica, além de proporcionar iajormação, é proporcionar unia
e1-periência. Há diferenças entre pré~!cas cuja função é co1nunicar
ideias e prédicas que têm por obj~Hvo proporcionar experiên-
cias. Assim, uma prédica sobre o an~~)f de Deus é muito diferen-
te de uma prédica que consegue proporcionar uma experiência
,( ·.

do amor de_Deus. Saber que Deus nós ama é bom, n1as sentir-se
amado por Deus é muito melhor. U_l?!ª prédica indutiva, narrati-
va, capaz de envolver as pessoas e1n sua tra1na, te1n bem 1nais
. '
chances de criar esse espaço para vrna experiência do que un1a
prédica-dedutiva, expositiva, que mais se assen1elha a uma aula
sobre algum assunto. .
A homilética indutiva de Craqdock afirma que o ponto de
partida da ~omilética é o ouvinte e n~o o pregador. Pregação é u1n
evento comunitário no qual tanto as -pessoas que prega1n quanto
as que ouve!n participan1 ativa1nente. Nas palavras de Craddock:
"As prédicas deveriam proceder de, torn1a tal que as pessoas ou-
vintes tenham algo e1n que pensar, sentir, decidir, e até fazer du-
rante o desemolar das mesmas" (CRADDOCK, 2001, p. 25).
A enciclopédia de homilética caracteriza a prédica induti-
va co1no aquela que encoraja as pes's oas ouvintes a pensar seus
próprios pensarpentos, sentir seus ·próprios sentin1entos, tirar
suas próprias conclusões e tomar suas próprias de~isões de for-
ma tal que elas serão as donas da n1ensagen1. Pregação torna-se
uma atividade co1npartilhada entre a pessoa que prega e a con1u-
nidade que ouve (WILLIMON & LISCHER, 1995, p . 270).

51
A Nova Homilética afirma que prédica é um evento que
acontece no tempo. É participativa, democrática, dialogal. É mais
processo do que produto. Não é assim também com a música?
Música passa a existir no momento de sua pe1formance. Não ouvi-
mos _un1a música para chegar ao seu final. Ouvimos un1a música
porque o durante é o que importa.
Na música, a coerência entre meio e conteúdo acontece
com extrema naturalidade'. ._Isso porque não há como separar
1neio de conteúdo. Na música, o meio (o ritmo, a 1nelodia) é seu
próprio conteúdo. E a letra :- precisa estar de acordo com a me-
lodia e demais ele1nentos musicais. Boa música é naturalmente
coerente. Como veículo de-trans1nissão de uma mensagem, ela
não se contradiz. Isso facilita a comunicação e pode ensinar uma
bela lição a pregadores e p;tegadoras: é preciso coerência entre
n1eio e conteúdo.
A 1núsica provoca sentimentos, causa experiências. Uma
música bem selecionada pode fortalecer e empoderar as pala-
vras proferidas durante a prédica e vice-versa. Não é à toa que
muitas experiências religiosas se utilizam da música para criar
determinadas experiências ~m seus praticantes. Assim como na
prédica, a n1úsica precisa auxiliar as pessoas a atingir suas pró-
prias cohclusões e tomar suas_próprias decisões. Ambas, prédica
e música, não podem. ser usadas para manipular, subjugar e di-
minuir a pessoa, o que, infeliz1nente, acontece mais seguido do
que gostaríamos de reconhecer.

3. Centros de apelo retórico ·

É fundan1ental reconhecer e afinnar que todos os n1étodos


homiléticos têm o seu valor. A,ssin1 con10 toda forn1a de n1úsica.
Deus usa todo e qualquer 111~todo ho1nilético, qualquer forma de
pregação, para abençoar, an:t~r, curar, questionar, salvar as pes-
soas. O resultado final de U\~1ª prédica, aquilo que a palavra de

52
Deus Jaz na vida das pessoas depende de Deus. Un.1 dos segredos
hon1iléticos mais be1n guardados é que a diversidade de rnéto-
dos e a variação de .fonnas de prédica são urr1a bênção.
Não pode1nos negar que há tan1bé1n métodos homi) éticos
que visam a dominar, silenciar, diminuir a capacidade das pes-
soas de refletir e tomar suas próprias decisões. Há prédicas que
tornam as pessoas depen~entes da pregadora e do pregador. Es-
ses m.étodos não são evangélicos, pois não liberta1n, não possibi-
litam o crescimento na fé . O mesmo vale para o uso da 1núsica.
O que se espera de alguém que sobe ao púlpito? Que seja
uma pessoa de fé falando . Espera-se que essa pessoa consiga de-
monstrar que a palavra de Deus passou por ela, modificou-a e
a fez crescer. Só depois é que essa pessoa poderá dirigir-se aos
ouvintes. Atentar para os centros de apelo retórico do corpo hu-
mano pode ser valioso nesse processo.
Leland Powers, u1n radialista e comunicador estado-uni-
dense, escreveu, lá em 1916, um livro cha1nado Practice Book.
Nesse livro, Powers 1nenciona que existe1n no corpo hun1ano
pelo 111enos três centros de apelo retórico. Isto é, cada evento co-
municativo parte e é recebido por um desses três centros com
mais intensidade. Esses centros são o racional (1nental), o e1noti-
vo (111oral) e o quinestésico (vital) .
Em outras palavras, podemos dizer que o corpo humano
possui três partes que ajuda1n a e1nitir e a receber 111ensagens: o
cérebro, o coração e as entranhas. Toda con1unicação que parte
ou que chega à pessoa atinge, de rnaneira mais forte, u1n dos três
centros. Há formas verbais que parte1n e se dirige1n ao cérebro:
"Vainos agora calcular quanto será o PIB de un1 país ... ". ()utras
fonnas atingem com 1nais vee1nência a parte das e1noções, dos
sentimentos: "A, 1nulher pobre e negra foi enviada para outro
hospital, cujo endereço foi escrito à caneta en1 seu braço pel0 n1 é-
dico de plantão. A criança foi infelizn1ente perdida no trc1jeto" .
Há ta1nbém atos con1unicativos que atingen1 a parte digestiva:

53
"Ô seu bandeirinha, ele não estava ünpedido não, seu mal-inten- :: ·( .

cionado". !"

A questão que nos interessa aqui é que boa parte dos re-
latos bíblicos, a partir dos quais a maioria das prédicas se origi-
1
na, pode ser classificada a partir desse tipo de análise. Se obser- í
vanno~ com atenção o contexto em que são proferidas, ditas ou
exclamadas, as palavras bíblicas partem e se destinam a centros
retóricos distintos. Alguns exemplos. Os famosos "Ais" dos 1
profetas (Isaías 5.8-23, An1ós 6.1) ou as palavras de João Batista, i

"Raça de víboras ... " (Mateus 3.7), claramente pertencem aq apelo 1


retórico vital. Já algurrLas cartas de Paulo e suas explicações teoló- I
gicas (Ron1anos 3; 1 Coríntios 15) tên1 a ver com o apelo racional. t
Palavras de Jesus: "Deixem que venham a mim os pequeninos"
(Marcos 10), ou "Não andeis ansiosos pela vossa vida ... " (Mateus
6.25) tê1n como apelo retórico dominante o en1otivo. f
Pregadores poderão beneficiar-se desse conhecii;nento, 1
organizando suas pregações para que sejam coerentes retorica- .
n1ente. Se a prédica tiver como função o consolo, então as pala- f
vras deverão ser dirigidas mais à emoção, ao coração; se a função
é motivar à ação, então palavras mais fortes poden1 ser as esco- li
lhidas, co1n gestos condizentes. Caso a prédica objetive algum
tipo de ensinamento, então as palavras podem ser dirigidas n1ais
à razão. Claro que não há u1na linha divisória rígida separando
1
um centro de apelo retórico do outro. No entanto, prestar aten-
ção para esse fator poderá ser benéfico para que a co1nunidade
1
possa se encontrar con1 a palavra de Deus durante a prédica.
1

4. Experiência: grupo de canto '


1

Unia experiência en1 particular pern1itiu que eu vivesse na í;


prática a relevância da n1úsica na pregação da palavra de Deus. l
Aconteceu durante o período en1 que servi corno pastor en1 unia
con1unidade da IECL,13. Assí1n que cheguei pdra trabalhar naco- l
I
!

1
f
54 ,:{
-~
111 unidade, etn 1998, incentivei pe~soas a formar u1n grupo de
canto, haja vista 111uitas das nova~ composições que eu havia
aprendido no seminário teológico ~ão eram conhecidas naquele
an1biente. ·, ..
A ideia inicial foi sin1plesn1eftte convidar as pessoas a sair
de suas casas e reunir-se em _grupi, a fün de que pudessem re-
partir, aprender, ensinar, ouvir, cantar, falar, enfim, comparti-
lhar um pouco de suas vidas. A sifl}ples presença dessas pessoas
já cumpria boa parte da razão de s~j- do grupo.
Dentre os principais objetivof do grupo estavam:
• Ser u1n espaço de valorizãção da autoestima, da solida-
II
riedade e da igualdade, P:<?,is quando cantamos somos
todos e todas iguais". ,.- ·
r.
• Ser um espaço de encontr~i e confraternização.
• P~oporcionar o aprendizido de novos hinos, músicas
• f, ~-
e ritmos. i-

• Ser um espaço de troca d~ ~ 'J ;


saberes teológicos a partir
do estudo bíblico e do estudo da letra-das músicas.
Obviamente que cantar tamb~tn estava na razão de ser do
1 "

grupo. Voz afinada não era o 1naif· importante. Boa parte das
pessoas integrantes não passaria eÍ~{ um teste de afinação vocal.
Co1n trabalho, paciência e parceri~;_'.o grupo perdeu o medo de
;r,__,1,_ ::.:
cantar e passou també1n a colaboràí em cultos, ofícios e outras
' . '.,.i .'
celebrações. · ·
1
Para cantar, no entanto, era Jpreciso conhecer um pouco
daquilo qu~ se estava cantando. Po},isso, antes de conhecermos
a melodia ou o ritmo das músicas/,: e.studávamos o conteúdo de
suas letras. Pelo menos uma das du'às horas da reunião era usada
para ler e estudar em conjunto o co;nteúdo das letras e das poe-
sias (a teoldgia, :1 visão de inundo ,çie quem a escreveu e aquilo
que intencionou trans1nitir). i

Depois, partían1os para cantar. Não para ensaiar visando


d
a um concerto, mas cantar por cantar. O canto já era un1 fin1 e1n
si n1esmo. O exercício de cantar, d~, criar coragen1 e pronunciar
~··
55
/1

\r. •,.,

palavras com melodias já era o suficiente. Tratava-se de, através '


do canto e da música, permi_tir que as pessoas tivessem uma voz e
o direito de pronunciá-la. Assim acontece a libertação: pessoas his-
toricamente silenciadas aprendem que elas també1n têm uma voz.
Mesmo com minha saída, o grupo continuou se reunindo.
Ao regressar àquela mesma comunidade cinco anos depois, reto-
mei os trabalhos com o grupo. Então, além de cantar_como havía-
mos nos proposto no início, também incluímos a visitação como
um objetivo. Uma vez por µiês, saíamos para fazer visitas. Buscá-
vamos visitar pessoas doentes, acamadas, solitárias, enlutadas.
Visávamos especialmente às pessoas que não tinham mais con-
dições de ir à igreja. Cantávamos para elas e com elas. Depois, na
medida do possível, pedíamos para que as pessoas visitadas nos
contassem algo de suas vidas que desejassem compartilhar. Não
participo mais daquele grupo, pois resido em uma região distan-
te, mas a experiência continua até hoje, p assados onze anos.

Conclusão

Palavra e música. Música e pregação. Prédica e música.


Duas forças importantes na_missão de Deus e em suas iniciati-
vas de se comunicar com a humanidade. A fé ve1n pela palavra
pregada, mas também vem pela palavra cantada, tocada, ouvida,
assoviada. Ao perceberem a dimensão homilética de sua atuação
na igreja, musicistas estarão esmerando--se cada vez 1nais e1n co-
locar sua arte e seu dom a serviço da comunicação de Deus para i
com a co1nunidade, entendendo que a música é parte integrante -l
i
do culto e não um show à parte. -l
_Por outro lado, pregadores e pregadoras precisan1 enten- j
der que a música não exist~ para preencher os espaços vazios na ii
liturgia do culto. Música é)):leio e .fün; é o veículo de uma men- .J
J
sagem e é também a própria n1ensagem. De 1nãos dadas, prédi- j
ca e música, pregadores/ as :,e 1.nusicistas tê1n a possibilidade de i
J
..,, 1
56 ; ." .: ~~
transforn1ar o culto en1 um momento único, em que a palavra de
Deus encontra ouvidos, cérebros, corações e entranhas, e neles
faz sua morada.

Ref er.ências

CRADDOCK, Fred B. As One Without Authority. St. Louis: Chalice


Press, .2001 [1971].
_ _ _ .Preaching. Nashville: Abingdon Press, 1985.
KÃFER, Ari. Com a Boca no Trombone. ln: NovOlhar, Ano 7, n . 25,
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MEHRABIAN, Albert. Silent Messages: Implicit Communication of
Emotions and Attitudes . Behnont: Wadswort, 1981.
McLUHAN, Marschall. Understanding Media: The Extensions of Man.
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P0WERS, Leland. Practice Book. Boston: Haven Merrill Powers Pu b-
lishing, 1916.
WILLIMON, William H .;. LISCHER, Richard (Eds.). Concise Encyclo-
pedia of Preaching. Louisville: Westminster/John Knox Press, 1995 .

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