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PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL UMA VISÃO SISTÊMICA

Maria Cecília Castro Gasparian

Como psicopedagoga institucional sistêmica devo ser parceira da professora,


tenho que entrar dentro da classe, construir junto com ela, detectar os nichos
das crianças rejeitadas, das crianças atentas, das desatentas, das que faltam,
etc., você constrói um perfil da classe.

Como surgiu a psicopedagogia institucional na sua vida?

A Psicopedagogia Institucional é uma atividade ainda nova. A minha formação


foi na PUC no ano de 1995, foi o primeiro ano e a primeira turma, onde se
instituiu a psicopedagogia voltada para a instituição.
Na época não tinha bibliografia para ser consultada, na realidade só havia a
tese de doutorado da Profa. Neide Noffs para nos dar apoio, mas não existia
uma teoria que falasse de psicopedagogia dentro da instituição. Existia a
psicopedagogia clínica que era aquela que tirava o cliente de fora e seu
habitat educacional e se trabalhava com ele dentro de um "laboratório".

Qual foi o percurso desta sua experiência e porque o olhar sistêmico?

Sou professora formada pela Escola Normal (de primeiro grau, de 1ª a 4ª


série), fiz Pedagogia e por ter trabalhado por mais de 20 anos em escola
queria sair fora dela, primeiro porque a escolas pagavam pouco e segundo
meu trabalho não era reconhecido por ninguém ( e acho que nem por mim
mesmo e nem pelo próprio pedagogo). Não pretendia ser psicopedagoga
institucional, queria sair fora da escola. Mas descobri que trabalhar com
psicopedagogia dentro da instituição requer um outro paradigma, não pode
ser só embasado nos quatro alicerces da psicopedagogia: psicanálise,
lingüística, construtivismo (que diga-se de passagem, é sistêmico) e a
psicologia social. Teria que ter um outro ponto de apoio que seria o
embasamento Sistêmico.
O embasamento sistêmico é o ponto que une os quatro alicerces, ele dava
significado na minha vida como professora, não ainda como psicopedagoga.
Foi a partir desse referencial que decidi fazer a psicopedagogia institucional
na PUC e desenvolver o meu trabalho dentro do referencial sistêmico.
Nosso grupo resumia-se em seis pessoas divididas em três pares: uma
fonoaudióloga, fazia par com uma psicóloga, uma professora de Português
com formação em Semiótica comigo (pedagoga e a única com pensamento
sistêmico), uma professora de História com uma outra pedagoga. Não
tínhamos a menor noção de como um psicopedagogo entra dentro de uma
escola, como se chega para um diretor de escola para oferecer seus serviços,
não se sabia nem qual era o campo da psicopedagogia institucional, para que
colocar um psicopedagogo dentro de uma escola. Naquela época era assim,
vamos colocar um psicopedagogo dentro da escola para trabalhar com
problemas de aprendizagem, crianças que não estão conseguindo aprender,
que estão três anos na primeira série, não consegue ler e nem escrever, então
tínhamos que trabalhar com eles fora da sala de aula. Sem contar que éramos
constantemente confundidas com psicólogas, tanto por parte crianças, mas o
que era pior pelos professores.

O que foi que chamou sua atenção neste início da psicopedagogia


institucional?

Em primeiro lugar foi a falta total de um referencial teórico nesta área. Em


segundo lugar eu achava que tinha que trabalhar com a pessoa que ensina, ou
seja, como é que esta pessoa que ensina, está ensinando este ser, que não
está aprendendo? Veja bem, aqui eu já estou delimitando o campo de
atuação, fazendo uma grande diferenciação entre Psicólogo educacional,
coordenador pedagógico e o psicopedagogo institucional. O campo de atuação
do psicopedagogo institucional é o ser epistêmico ( basicamente, o ser que
adquire conhecimento, que aprende), acho lindo este nome, mas no fundo eu
não sabia o que queria dizer isso, portanto, nós trabalhamos com a
aprendizagem, enquanto a Pedagogia atua no campo da ensinagem e a
Psicologia no campo do desenvolvimento da psique humana.
Se todo sintoma é uma denúncia, isto significa que alguma coisa não está
bem, o psicopedagogo, vai investigar a queixa, a denúncia. Temos que ter
muito cuidado entre "queixa" e "lamento", mas isto é uma outra entrevista,
certo?
E para entrar na escola tenho que entrar via um mandato, um pedido de
socorro que é um sintoma que a escola apresenta, então pensei: para mim a
psicopedagogia institucional é clínica, então não é mais a clínica clássica
vinda de uma psicologia, mas preciso criar um campo clínico psicopedagógico
institucional.
Havia uma divisão (se não estou enganada) que a Ana Maria Muniz fazia, que
dizia que a institucional era preventiva, não penso desta forma, acho que a
institucional é clínica e preventiva, e a clínica também é preventiva e clínica.
Eu me perguntava: como posso prevenir um problema de aprendizagem, se eu
não sei se ele vai ocorrer? Então ela não pode ser preventiva. Literalmente
falando, eu não posso prevenir uma coisa, que eu não sei se vai ocorrer ou
não. Não é como uma doença, uma epidemia, tenho que me prevenir contra a
gripe porque muita gente está morrendo com ela. Paradoxalmente, este
exemplo que eu estou dando cabe bem na educação. Para prevenir futuros
problemas de aprendizagem, neste ponto de vista teremos que trabalhar o
problema de ensinagem, certo? Então tenho que trabalhar a pessoa do
profissional que está criando indivíduos que não estão conseguindo aprender
e/ou que estão tendo dificuldades em aprender. Não vamos tirar o lugar do
coordenador pedagógico que vai trabalhar com os programas, grades
curriculares e planejamento de ensino, vamos trabalhar a pessoa deste
profissional em ativa relação com o seu saber adquirido no decorrer da sua
vida, dando significado na sua prática.

Mas o preventivo aí não fica em outra esfera? Ter psicopedagogos


acompanhando o processo ensino – aprendizagem, junto à escola?

Tudo é possível para o psicopedagogo sistêmico. Em primeiro lugar para eu


defender a psicopedagogia institucional, acho que o psicopedagogo deve ser
contratado pela escola, ele não é "funcionário" da escola, ele é um
profissional liberal que vai entrar dentro da escola por um pedido dela, e se
perguntar qual é o sintoma? O que é que eu quero? Não deve existir a história
de vestir a camisa da escola, mas sim, a camisa da psicopedagogia que
trabalha com dificuldades (em vária níveis) do aprender, tanto do aprender de
quem ensina, como o do aprender de quem aprende.

O psicopedagogo como corpo docente da escola não funciona?

O psicopedagogo como membro da escola, fica envolvido, de certa maneira


com a instituição, passa a estar engessado de forma que não há
distanciamento necessário para intervir adequadamente no sintoma.
O psicopedagogo é um profissional liberal especializado em problemas de
aprendizagem, e com as dificuldades de aprender em todos os níveis. Não vou
entrar aqui na discussão entre problemas, dificuldade e distúrbios de
aprendizagem. É um tema amplo e complexo.
O processo de aprendizagem fica muito preso dentro da escola e com isso
comprometido e nós psicopedagogos aprendemos que: eu aprendo com você,
você aprende comigo, eu aprendo quando no encontro com o outro, o que ele
me passa, quando ressoa dentro da minha história de vida e a história de vida
do outro, fazendo sentido. Eu é que autorizo você a me ensinar, você pode
usar qualquer técnica, qualquer método, mas se não houver um vínculo eu
não aprendo, (e Pichòn na Teoria do Vínculo fala muito bem sobre o Vínculo,
apesar dele não ser explicitamente Sistêmico, ele o é implicitamente), é no
encontro com o outro que se produz o ensinar e o aprender.
Por isso é que fica muito difícil situar a psicopedagogia num campo, ela fica
na inter-relação da ensinagem e da aprendizagem.

Qual a diferença do psicólogo educacional, o pedagogo e o psicopedagogo?

A Psicologia Educacional, como área profissional específica, caracteriza-se, há


muito tempo por atividades de treinamento de crianças com problemas de
aprendizagem e comportamento baseados em teorias do comportamento, por
exemplo. Hoje pode ter mudado um pouco, no campo teórico, nas no prático,
tenho a impressão que continua a mesma coisa. A Psicopedagogia baseia-se
nos quatro vértices citados acima, então é bem diferente um campo do outro.
A Pedagogia tem sua própria ciência e muitas das descobertas da Psicologia
são utilizadas para definir métodos, técnicas e estratégias de ensino, mas
parece que isso não está mais dando certo nas escolas visto o alto nível de
reprovação e evasão escolar. A psicopedagogia se baseie em muitas das
descobertas da psicologia, dos métodos, técnicas e estratégias da pedagogia
cada uma dessas disciplinas tem seu campo específico, e o psicopedagogo se
firmar num determinado encontro que não é nem pedagógico, nem
psicológico, mas é um outro ser, uma outra entidade, que tem:
personalidade, características, objetivos e destino próprio. Não vou também
entrar aqui na discussão sobre os cursos de formação de psicólogos e de
pedagogos que já estão defasados e sucateados e nos cursos de
psicopedagogia que também não estão adequados aos novos tempos que se
aproximam, isso fica para uma outra oportunidade.
Qual a diferença entre o enfoque da psicopedagogia institucional e a
psicopedagogia clínica?

O enfoque psicopedagógico institucional é um outro universo, diferente do


que eu chamo de "clínico clássico", aquele que tira o indivíduo de seu habitat
educacional, do seu meio, da sua ecologia, onde ele está aprendendo, e leva-
lo para um laboratório, ou para dentro de uma clínica, para mim como
sistêmica, perde totalmente o valor, ou melhor, fica comprometido.
Como psicopedagoga institucional sistêmica devo ser parceira da professora,
tenho que entrar dentro da classe, construir junto com ela, detectar os nichos
das crianças rejeitadas, das crianças atentas, das desatentas, das que faltam,
etc., você constrói um perfil da classe. Olhar, enfim, a dinâmica do que
acontece naquele lugar específico de ensino e aprendizagem.

Por que é importante olhar essa dinâmica dentro da classe?

Minha experiência mostrou que a dinâmica da classe é muito parecida com a


dinâmica familiar, e num sistema maior, a escola é muito parecida com o
sistema familiar, como se organiza, como as crianças fazem as chantagens,
como os pais e professores fazem as chantagens com as crianças e como
circula este saber nos dois sistemas, seus mito e crenças, tanto da escola
como de seus membros.
Comecei a desenvolver um olhar sistêmico, ao ver como é que o sistema
funcionava, como os sub-sistemas dentro das classes se formavam, e formular
hipóteses sobre para que crianças eram rejeitadas, qual era a função desses
grupos dentro da classe.
Daí começava a valorizar a pessoa do estudante, assim como a pessoa do
professor, acho importante se trabalhar a pessoa do profissional da educação,
e essa não é a função nem do psicólogo e nem a do pedagogo, é a função do
psicopedagogo institucional.

Qual a função do psicopedagogo institucional?

O psicopedagogo não vai dizer ao professor o que é que ele tem que ensinar, o
professor sabe muito bem, e melhor do que qualquer profissional ligado à
área, mas o psicopedagogo vai pontuar o "como" ele tem que ensinar,
psicopedagogo questiona sempre como fazer, e para que fazer, qual é a
função de tudo isso. No fundo o psicopedagogo vai auxiliar o professor a
refletir sobre si e sobre a sua prática e como articula-las.
O psicopedagogo sistêmico não pergunta por que? Quando você pergunta por
que, você fecha o quadro da resposta, quando você pergunta para que? Você
amplia o seu quadro, e temos que estar sempre ampliando possibilidades, esta
é a nossa função, é mostrar para o seu cliente as várias possibilidades que ele
tem para sair daquela situação difícil e problemática. É se utilizar
possibilidades criativas e eficazes, e só através da reflexão do professor e do
seu aluno é que se conseguirá uma real transformação do indivíduo e isso é
aprendizagem.
Dentro desta vivência, comecei "inventando" condutas para o psicopedagogo
dentro da instituição, como ele faz o diagnóstico psicopedagógico dentro da
instituição, que não é um diagnóstico psicológico da instituição, este tem
regras básicas, tem maneiras, posturas diferentes de um psicólogo, tem que
se criar vínculos com a instituição que não sejam vínculos empregatícios, mas
vínculos afetivos com a instituição, têm que se acolher a instituição, e os seus
vários sub-sistemas, mas no acolhimento pontuar o que nós poderemos fazer.
O psicopedagogo sugere alternativas de condutas, não impõe.

Qual a importância deste vínculo, psicopedagogo institucional com a


instituição?

Eu só sou alguma coisa, quando o outro me autoriza a ser, é assim que


descobrimos como estamos no mundo.
Temos um nome que nos foi dado, ninguém nos pergunta como queremos nos
chamar, dentro desse nome tem um contexto, a partir daí faremos uma
história de vida, temos que fazer nossa biografia, nos localizarmos e criarmos
uma identidade pessoal, tendo uma bagagem não só hereditária, mas uma
bagagem psicológica e uma bagagem afetiva, social e cultural, e uma posição
que temos dentro da família, que será diferente de todos.
A mesma coisa acontece dentro da escola, o professor não tem identidade, a
auto-estima é baixa, o professor não é qualificado para ensinar, ele aprende
muito mal dentro dos cursos de formação e das licenciaturas em geral, e o
pedagogo também é mal formado. Aliás, todos nós somos muito mal formados.
Não aprendemos a pensar, vivemos da maneira mais cômoda possível:
paradoxalmente queremos fórmulas para ensinar. E como ensinar através de
fórmulas indivíduos tão diferentes e tão iguais ao mesmo tempo? Isso é
questão para a Psicopedagogia Institucional.
O estabelecimento de um vínculo positivo entre a instituição e o profissional
irá facilitar a difícil relação entre o que é detectado pelo profissional e a
disposição da instituição. O que realmente acontece nas escolas é como nas
famílias: "quero que tudo mude, mas que tudo fique do mesmo jeito. Não
quero perder o meu poder de decisão, não quero perder o meu prestígio, etc".
Só um vínculo positivo, consistente e firme poderá ter sucesso nestas
questões.

Quem dá esta estrutura?

A psicopedagogia me deu uma identidade, não nos modelos atuais baseados na


psicanálise, baseie-me numa visão sistêmica, assim como eu fui influenciada
pela minha família, como eu influencio minha família, dentro das nossas
relações.
O psicopedagogo vai trabalhar em síntese, as relações, ele trabalha neste
espaço entre eu e você, que é um "meta-lugar".
A psicopedagogia sistêmica leva em conta a estrutura, o contexto e o processo
da aprendizagem e nunca desvincula esses três fatores.

Se fosse dada uma formação melhor para um pedagogo, para um psicólogo,


precisaria dos psicopedagogos?

Acredito que a partir do próximo século, os cursos de pedagogia, de psicologia


e de cursos de formação de professores em geral, terão uma nova dinâmica
onde a interdisciplinaridade será implantada.
Estamos num momento histórico de transformação muito rápido, estamos num
processo de aceleração de conhecimento, que foi muito grande no começo
deste século, e foi se consolidando através de grandes descobertas da Ciência,
mais o ser humano foi esquecido como pessoa.
O salto que ele tem que dar, não é o salto de quantidade, mas um salto de
qualidade, ou seja, investir-se na pessoa, no ser humano.
É uma expansão da sua mente, e para isso terá que deixar o cueiro, e ninguém
quer deixar de ser criança, a humanidade tem que deixar de ser infantil e
adolescente para virar adulta e mais sábia.
A psicopedagogia será a primeira profissão regulamentada do próximo milênio
baseada na interdisciplinaridade. Isto é um marco histórico.

Onde você vê o grande nó dos profissionais de hoje?

A humanidade ainda é muito primitiva, elitista, pré-conceituosa, segmentada


em disciplinas e em "especialista" e depois dos "especialistas em especialista",
mostrando a nossa fragilidade em não dar conta mais de todo o saber que
existe hoje.
Se nos despojarmos das nossas "arrogâncias" de donas do saber, daríamos um
salto tão desejado e esperado para humanidade que se baseia na humildade
de sabermos frágeis perante o saber. A aprendermos a lidar e a conter as
nossas angustias e ansiedades, e vermos no outro o nosso parceiro e não o
nosso rival, só assim daremos um grande salto nas nossas relações inter e
intrapessoais, este será o novo profissional.
Não devemos trabalhar com as perdas, mas sim com as trocas. A vida é um
paradoxo, a hierarquia sempre irá existir, mas não como forma de poder e
manipulação, mas como forma de parceria.
A vida como processo é conquistada a cada dia, entendo que temos dois
grandes caminhos para seguir e conseqüentemente evoluir, ou você segue o
caminho pela dor, pelo sofrimento, ou segue o caminho pelo amor, pela
fraternidade, pelo companheirismo, pela parceria, pela cooperação.
Guardamos dentro de nossas mochilas, como proteção, a inveja, o desejo de
estar no lugar do outro, a sua posição.

Esta é a visão sistêmica?

Atualmente o ser humano não consegue olhar sistemicamente, ainda não


conseguimos olhar holisticamente, que é olhar o todo, ainda não temos
instrumentos mentais para levar adiante, porque não temos palavras para
definir as coisas, temos ainda que criar palavras.
Quando olhamos sistemicamente, olhamos como se estivéssemos vendo
através de uma radiografia, você vê através, e vê o jogo de relações das
pessoas.
O psicopedagogo sistêmico é um articulador das relações, ele tem que
entender não só desses quatro pilares que consubstanciam a psicopedagogia,
mas ele tem que entender da pragmática da comunicação tem que entender
para que a pessoa está falando isso, qual a intenção de estar falando o que
está falando. Tem que entender um pouco de semiótica, para entender o
valor das palavras e o peso delas, tem que ser diferente do que é hoje. Muitos
se intitulam psicopedagogos, mas não sabem situar o que fazem e para que
fazem.
Viram meros professores de aula particular, fazem "joguinhos" nas clínicas, é
muito primitivo, tem a hora do jogo onde ele observa, e faz o que com o que
vê. Ele só vê o que ele aprendeu a ver, e o que acredita estar vendo, a nossa
realidade é inventada com o outro que tanto pode ser um indivíduo medíocre
ou ser uma pessoa com grandes potenciais, dependendo do nível de reflexão e
de consciência que temos de nós mesmos.

Qual então sua visão da psicopedagogia como um todo?

Minha visão de psicopedagogia é ampla, é para um SER diferente, é para um


SER que tenha qualidades éticas e morais, diferentes das que tem hoje, senão
você não será um psicopedagogo.

Você é a favor de manuais?

Conheço métodos, técnicas e estratégias para se trabalhar com alguém,


quanto mais métodos e estratégias eu tenho, tenho mais instrumentos para
utilizar, para trabalhar com este ser.
Mas é como o cirurgião, pode ter só um canivete e ser extremamente criativo
e curar o paciente, como ele pode ter os instrumentos mais sofisticados e
matar o paciente, porque ele não sabe utilizar.
O profissional do próximo milênio deverá estar baseado na ética e na moral,
se o profissional não mudar sua maneira de ver o mundo, de ver as pessoas e
olhar as pessoas como parceiros, e colaboradores, que estão em processo de
evolução, não iremos a lugar nenhum.
A postura tem que ser a mudança de ver o mundo, pegar outros óculos, olhar
por uma outra ótica.
Começa numa postura de auto-reflexão, numa postura do tipo: "o que é que
eu faço comigo; para que eu faço isso; o que estou fazendo comigo e com o
outro, e como posso fazer cada vez melhor.

Qual o lugar da psicopedagogia?

Psicopedagogia está no lugar do três, onde um mais um é igual a três.


Portanto ela não é uma disciplina. Ela é interdisciplinar. E o que vem a ser
interdisciplinar? Só podemos falar de interdisciplinaridade na interlocução de
duas ou mais disciplinas, de uma interlocução criadora, na qual se transcende
o espaço da subjetividade para ir ao encontro de muitas subjetividades /
disciplinas em diálogos.
É importante, entretanto, explorar com cuidado esta questão. A
intersubjetividade, só é possível, ou melhor, ganha seu verdadeiro significado,
quando se definem com clareza os sujeitos, as subjetividades, as disciplinas.
Com freqüência, fala-se em interdisciplinaridade referindo-se a uma "mistura"
de saberes, uma "soma" de enfoques, de abordagens, numa tentativa de
ampliação do conhecimento. Ela é mais do que isso. Tentar ampliar o
conhecimento é um desafio maior que se coloca ao homem, na aventura que é
a sua vida com os outros, em sociedade. Vida que ele faz, acionando os
instrumentos que dispõe - sua razão, sua imaginação, seus sentimentos, seus
sentidos, mas também submetendo-se a condições que não são criadas por ele
- e que o que determinam, de alguma forma. "trocando em miúdos", estamos
falando de limites e possibilidades da vida humana - aventura partilhada,
experiência que ganha seu significado na relação.
O saber humano há 300 anos atrás você podia dominar, hoje o conhecimento é
impossível de se dominar, acho besteira você ficar criando disciplinas, ficou
tudo tão compartimentado.
A psicopedagogia não é uma especialidade (porque especialidade é condição
disciplinar), psicopedagogia é uma teoria de vida, de postura, é filosofia, é
ciência que ainda está para ser estudada com instrumentos próprios, portanto
é uma atividade surgida de uma demanda da própria escola que não conseguia
resolver seus problemas.

Como funciona a psicopedagogia institucional nas empresas?

Nas empresas iremos trabalhar as relações hierárquicas, a parceria, como as


pessoas se comunicam, o que elas dizem, e o que querem dizer. Trabalhamos
o ser humano, sua relação consigo mesmo e com o mundo, visando a melhoria
da empresa, a empresa como parceira, não como rival.
Nossa função é divulgar que você pode ser competitivo, agressivo, sem ser
rude. Pode ser um Diretor de uma empresa sem pisar em cima de ninguém,
pode ser melhor através de sua ética, de sua moral, da criatividade humana.
Mais uma vez, abrir a mochila e tirar aquilo que atrapalha a vida das pessoas.
Tem que ter uma postura construtivista.
Na visão construtivista, você vai construindo com o outro, não a visão vulgar
do construtivismo, que é colocar um tijolinho em cima do outro, mas o
construtivismo dinâmico, uma rede, ele é abrangente, você cresce, o outro
cresce e nós crescemos juntos numa espiral progressiva de evolução, que não
é aritmético como colocar um tijolinho em cima do outro, mas é um
crescimento geométrico. Crescimento ético e moral. Não podemos pensar a
psicopedagogia institucional sistêmica que é interdisciplinar sem pensarmos
na ética e na moral.
Atuar dentro de uma instituição escolar ou empresarial, o psicopedagogo não
vai ser diferente, ele não vai trabalhar com métodos, estratégias de ensino,
que é a área do pedagogo. Assim como os "distúrbios" serão trabalhadas pelo
psicólogo.
O psicopedagogo vai trabalhar a pessoa do professor, do gerente, o que ele
tem de melhor, o aqui e agora, é um trabalho bem gestáltico, é um trabalho
de transformação.
Essa transformação deve fazer com que o professor não veja o seu aluno como
inimigo, que o gerente não veja que o seu subordinado quer pegar o seu lugar,
mas que veja como parceiro, trabalhar em parceria.

Dentro da realidade, hoje, o que você vê que possa ser feito, ou se já está
sendo feito aonde, qual o caminho?

Em trabalhos psicopedagógicos muito recente, e em algumas monografias


apresentadas no Encontro Cultural patrocinado pela Associação Brasileira de
Psicopedagogia em São Paulo notou-se uma tendência a novas possibilidades
de atuação em Psicopedagogia. São trabalhos que apontam para um nova a
abordagem sistêmica.
Tem também o trabalho do Antônio Nóvoa, que está bem voltado para este
campo da pessoa do professor, um olhar que não se intitula sistêmico, mas é
implicitamente.
Sara Paín, é sistêmica. Alicia Fernandez é sistêmica embora ela não se intitule
assim, tive a satisfação pessoal de fazer uma análise da primeira folha do livro
"A inteligência Aprisionada", até a última página da bibliografia que ela sita,
linha por linha, analisando com um olhar sistêmico, vejo o quanto Alicia é de
uma criatividade imensa ao instituir a psicopedagogia com corpo, ela
implicitamente fala sobre a teoria e olhar sistêmico, quando fala que o
indivíduo é organismo, desejo e corpo.
O Piaget também é sistêmico, mas nada explicitamente.

Por que estes autores não se intitulam sistêmicos então?

Minha conclusão pessoal é porque eles talvez não vejam relevância no fato.
Mas eu, como professora que fui de Didática, acho que devemos explicitar, ou
melhor, tratar de assuntos relevantes de forma mais didática. Por exemplo,
esta entrevista poderia ser mais didática, mais explicada, mais passo a passo,
mas esse não é o objetivo desta entrevista, senão vira aula, certo?
Acho, também, que nenhum desses autores situou-se como sistêmico, porque
existe uma dicotomia entre a teoria e a prática e porque existe um saber
acadêmico, baseado numa ciência clássica de experimentação no qual, ainda,
a ciência sistêmica embora tenha os seus próprios instrumentos de estudo, e
por ser instrumento pessoal íntimo e subjetivo tem dificuldades de ser
entendida de maneira objetiva como pode a ciência clássica.
A subjetividade agora está sendo discutida nas universidades, começou na
década de 90. Está começando a se criar um movimento subjetivo, que nada
mais é do que a incorporação do terceiro elemento, que é o observador,
aquele que se coloca dentro do processo.
Olhar a subjetividade com mais objetividade, que são duas óticas diferentes,
é muito complicado para as pessoas entenderem e colocarem no papel, mas é
um salto que se dá, da quantidade para a qualidade.
Portanto, é muito mais fácil colocar a sua argumentação na linha acadêmica
tradicional do que colocar numa linha sistêmica. Todo o embasamento
sistêmico tem uma filosofia diferente de vida, é a maneira de como você vê o
mundo, as pessoas, de modo completamente diferente.

Dentro desta sua visão, a regulamentação da profissão de psicopedagogo não


seria precipitada?

Não. Quem pensa sistemicamente, não trabalha com erros, trabalhamos com
situações no máximo inadequadas.
Como a vida é processo, tudo é válido, o ponto pode não estar aqui
exatamente, mas você sabe que estará mais a frente, onde terá que fazer
uma curva.
No meu ponto de vista estamos reivindicando um vir a ser que de fato já é, o
que precisamos é ser autorizado perante a lei.
O importante é o caminho que percorremos para chegar lá, se eu ficar
parada, não ando, e o que é pior, se eu ficar parada, eu estarei indo para
trás, existe um processo do qual não podemos deixar de viver. Portanto tudo
o que está acontecendo tem que acontecer e temos que ter responsabilidades
desses atos. Não me preocupo, pois se a profissão não for regulamentada
agora será mais tarde. Tudo que tem que ser tem força, portanto vamos
esperar.
O psicopedagogo precisa ser mais reflexivo, e a regulamentação ajudaria a
posicionar a busca pelo saber que é contínua, é muita reflexão sobre si
mesmo.

Qual o foco do psicopedagogo?

O psicopedagogo tem que trabalhar dentro das diferenças, entrar de cabeça


dentro de um paradoxo que faz parte de nossa vida, por isso tem que ter
muita reflexão.
A questão da aprendizagem é uma questão central da psicopedagogia, existe
milhões de teorias para se explicar à aprendizagem, mas nunca explicaremos
totalmente a aprendizagem, porque nós fazemos parte da aprendizagem, a
aprendizagem é processo, aprendizagem é vida, não é finito, ou melhor, só
deixamos de aprender quando morremos, nossa última aprendizagem é
aprender a morrer.
Nenhuma teoria de aprendizagem será abrangente para se trabalhar, então
trabalhamos parte deste todo que pode representar o todo, mas não é o todo,
porque o todo é muito mais do que a soma de suas partes.

Dentro da visão sistêmica, quando o homem começará a crescer?

A intuição é o próximo passo, se você não for um ser humano para o próximo
milênio intuitivo, você estará perdido, você não pode ser mais medíocre.
A intuição é razão, se você colocar emoção no meio da intuição, você não faz
mais nada.
Observando o comportamento humano de forma racional, podemos ajudar
mais os outros do que colocando a emoção, seria utilizar mais o
prolongamento dela, que é o sentimento e pode ajudar mais. Temos que ser
mais responsáveis com o que fazemos e falamos. Uma palavra mal falada pode
prejudicar toda uma vida. Não gosto e não uso rótulos. Aprendi na minha
prática que o ser humano tem um potencial inimaginável, então não podemos
usar rótulos para ninguém, isso é ser um profissional irresponsável.
Quanto mais você controla suas emoções, mais livre você é para sentir o que
você quiser, a pessoa que é extremamente emoção é irracional. Na emoção
você tem uma descarga de adrenalina, fica tudo preto e acabou, depois o que
vem dela demora minutos, dias, meses, ou anos para ser digerido e o que é
pior ser perdoado.

Como você vê a psicologia social neste contexto?

A psicologia social é fundamental para o psicopedagogo institucional, algo que


ajuda muito na compreensão da postura do psicopedagogo, entender como os
grupos se formam, como as pessoas interagem, mais interessantes do que
olhar do ponto de vista psicanalítico, que também tem a sua importância para
que você se instrumentalize, mas não para ser um psicanalista ou um
psicólogo.
A psicologia social está muito mais próxima do trabalho psicopedagógico
institucional, mas não é ela.
Repito que a psicopedagogia tem seu objeto de estudo o ser que aprende, é
muito mais abrangente do que eu e você podemos hoje imaginar. Não sou
ingênua a ponto de achar, por exemplo, que esta entrevista se encerra aqui,
ela é mais do que as simples palavras que eu disse, ela é a psicopedagogia e
mais que eu disse, ela é mais do que a soma das minhas parcas idéias sobre
ela.
Quando alguém ler essa entrevista no futuro vai ver o quanto tudo o que está
escrito está inadequado para o presente deles.
Espero que não tenha confundido mais as cabeças já tão confundidas do
psicopedagogos.

Maria Cecília Castro Gasparian - Mestre e Doutora em Educação: Currículo


PUCSP. Pedagoga, Psicopedagoga Clínica e Institucional PUCSP, Terapeuta de
Família, Membro da AMCE Associación Mundial da Ciências de la Educación,
Pesquisadora do GEPI Grupo de Estudos e Pesquisa da Interdisciplinaridade da
PUCSP

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