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A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO PSICOLÓGICO

(Uma visão histórico-filosófica)


Maria Tereza da Cunha Coutinho
Mércia Moreira

Apesar do título deste capítulo se referir a uma visão


histórico-filosófica do conhecimento psicológico, é importante
esclarecer o seguinte:
• Não é possível se estabelecer relações exatas de
correspondência entre as diversas teorias psicológicas existentes
e os pressupostos filosóficos a elas subjacentes, uma vez que se
depara, neste contexto, com um complexo de noções irredutíveis
entre si.
• Por outro lado, é também impossível se concluir por uma
linearidade na história da Psicologia, já que a diversidade
teórica que se instalou neste campo de conhecimento, quase que
simultaneamente, não permite falar de evolução de uma para outra
teoria, mas de oscilações entre uma e outra teoria, em consonância
com a sua base epistemológica e com as circunstâncias
socioculturais dos países nos quais emergiram. Isto significa que
as teorias psicológicas produzidas não estão fundadas nos mesmos
pressupostos, o que faz com que cada uma delas tenha seguido o seu
próprio curso de desenvolvimento. Daí, alguns autores se
referirem, em função da persistência desta diversidade e apesar do
surgimento de esforços de unificação, não a uma história da
Psicologia, mas às várias histórias da Psicologia.
O que esta introdução pretende, portanto, é mostrar que a
Psicologia, a exemplo do que ocorreu com as demais ciências, teve
como berço os conhecimentos filosóficos que buscavam, ao longo dos
séculos, explicar os fenômenos do universo e a própria natureza
humana. Essas explicações deram origem aos principais eixos
epistemológicos que embasam, uns mais outros menos, as várias
teorias psicológicas da atualidade.
Os primórdios da construção do conhecimento sobre o psiquismo
humano datam de época tão remota que coincidem com as primeiras
manifestações do homem em tentar compreender o meio circundante,
meio definido pelas coordenadas de espaço e tempo.
O homem primitivo, por não possuir noções naturalistas acerca
dos acontecimentos de seu meio e de si próprio, atribuía às forças
superiores e externas o controle e a dinâmica dos eventos. Da
mesma maneira que interpretava os acontecimentos do meio ambiente
sob uma perspectiva animista e antropomórfica, explicava o
comportamento humano através da mística, da religião e da
superstição, sem se ater a uma reflexão crítica. Esta perspectiva
antropomórfica e animista é que fez com que o sol, a lua, a terra,
os animais, as plantas, da mesma maneira que as emoções, o
pensamento e as ações humanas fossem interpretados como
decorrentes de forças exteriores, dos deuses, de espíritos e
correlates. Os gregos da antiguidade, por exemplo, acreditavam que
as moiras, divindades da mitologia grega, dirigiam o movimento das
esferas celestes, organizavam a harmonia do mundo, assim como
determinavam a sorte dos homens. Uma das moiras, Cloto, fiava e
tecia os destinos dos mortais. Laquesis punha o fio no fuso, e
Átropos cortava, impiedosamente, o fio que media a vida de cada
indivíduo. Tanto os eventos do meio ambiente, quanto a ação e o
comportamento humano, neste mito, são ligados aos desígnios dos
deuses e, portanto, fora do controle das pessoas.
Esta visão mítica e supersticiosa do mundo e do comportamento
humano difere grandemente da visão filosófica. Enquanto no mito e
na superstição não existem categorias de análise logicamente
sistematizadas, sendo o conhecimento, daí advindo, parcial,
assistemático e emocional, o conhecimento filosófico é organizado
de modo racional e lógico.
O conhecimento filosófico se desenvolveu na história
ocidental, a partir do século VI a.C. com o advento da filosofia
grega.
Uma das características mais marcantes desta outra maneira de
construir conhecimentos é a utilização da razão lógica, através de
demonstrações e argumentações, como método de análise. O esforço
da filosofia grega dirigiu-se para uma explicação racional de
mundo: do mundo da natureza, do mundo do espírito, do mundo da
arte, do mundo da técnica e do mundo da política.
No primeiro período da filosofia grega, denominado pré-
socrático, o interesse dos pensadores se dirigia mais para a
natureza ou cosmos, uma vez que procuravam a causa ou o princípio
primordial do mundo. Acreditavam que este princípio das coisas
estaria no interior da própria coisa e não fora dela, a exemplo
dos mitos, que dependiam da vontade dos deuses.
A partir do segundo período da filosofia grega, o interesse se
desloca do cosmos para o homem. Os filósofos buscam compreender o
homem em suas relações com o mundo. Sócrates (480-399 a.C), Platão
(429-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.) procuravam entender,
entre outras questões, a origem do conhecimento, a diferença entre
os homens, a moral, a virtude, o bem e o mal, a liberdade, o
conteúdo da mente humana, as emoções, o corpo e o espírito, o
estado e as classes sociais, a organização da educação, as
categorias da logicidade, a consciência.
O terceiro e o quarto períodos da filosofia grega se voltaram
para os problemas morais e religiosos, respectivamente.
Apesar de nos limitarmos à abordagem de alguns poucos
filósofos da antiguidade e da modernidade, inúmeros outros
pensadores podem ser tomados como referência, para a compreensão
da história da Psicologia em uma perspectiva filosófica.
O pensamento grego e mais tarde o greco-romano dominaram o
mundo até, aproximadamente, o século V da nossa era. Com a queda
do império romano por ocasião das invasões bárbaras e com o
consequente desaparecimento dos centros culturais e políticos,
houve profundas mudanças na construção, acumulação e divulgação do
conhecimento acerca do meio ambiente e sobre o homem e seu
comportamento. Enquanto os gregos davam ênfase primordial à razão
como condição de conhecimento, a Idade Média submete a razão à fé.
Nesta perspectiva, o verdadeiro conhecimento é o conhecimento
revelado. E as questões sobre o meio ambiente e sobre o homem já
estavam respondidas, de acordo com esta perspectiva de
conhecimento, nas Escrituras Sagradas.
Nos dez séculos de Idade Média, onde há o predomínio do
pensamento judaico-cristão, não se tem notícia de avanços
significativos na construção do conhecimento do meio e do homem em
suas relações com o mundo, numa perspectiva mais objetiva e
pragmática, uma vez que o pensamento medieval manteve-se mais
preocupado com a alma e sua salvação.
Por volta de 1500/1600, inicia-se uma época crítica de grandes
conflitos sociais, econômicos, políticos, religiosos, filosóficos
e artísticos, determinados por profundas mudanças em todos os
aspectos da vida medieval: volta aos ideais gregos humanistas em
que o homem é o centro do saber, em contraposição à visão
teocêntrica de mundo; fortalecimento do poder dos reis em
detrimento do poder do senhor feudal; mudança nas relações de
produção, com o surgimento da burguesia como ciasse social;
desenvolvimento de inúmeras interpretações para as Escrituras,
como o protestantismo e o calvinismo; mudança da visão geocêntrica
para heliocêntrica e, consequente me n te, a construção do
conceito de universo infinito, aberto no tempo e no espaço;
alargamento das fronteiras do mundo pelos grandes descobrimentos e
as grandes invenções; valorização do saber prático e naturalista
em lugar do saber contemplativo e revelado. Assim, em dois
séculos, aproximadamente, mudanças radicais ocorreram na maneira
de descrever o mundo, nos modos de pensar, nas relações sociais,
políticas e econômicas, nas relações religiosas, nas artes e nos
valores. É o advento da era moderna na história da civilização
ocidental.
A construção do conhecimento do meio ambiente tem, na
Renascença, sua maior expressão em Galileu Galilei (1564-1642),
que fundamenta o conhecimento na experiência. Constrói o método
científico baseado na observação, na formulação de hipóteses, na
experimentação com a consequente formulação de leis. Galileu
utiliza seu método de base indutiva para a compreensão dos
fenômenos da natureza e desvendamento de suas leis, em
substituição a uma abordagem metafísica que busca descobrir a
essência imutável das coisas. A ciência galileana é ativa, com
explicações quantitativas e mecanistas de causa e efeito, segundo
leis necessárias e universais, Galileu é considerado o pai da
revolução científica, pois foi o primeiro a combinar a
experimentação científica com a linguagem matemática.
O procedimento metodológico indutivo usado por Galileu é
formalizado por Francis Bacon (1561-1626) que lança as bases
lógicas de uma nova ciência que deveria dar ao homem o domínio da
realidade.
A obra iniciada por Galileu e Bacon teve em Descartes (1596-
1649) um eminente continuador que definiu os rumos a serem tomados
na construção do conhecimento da natureza e do comportamento
humano. Ele é considerado o fundador da filosofia moderna e do
racionalismo. Descartes rompe efetivamente com o ideal medieval do
conhecimento pela fé e resgata o sujeito conhecedor e o método
racionalista como o verdadeiro método de construção de
conhecimento.
Em decorrência das mudanças profundas que estavam ocorrendo em
sua época, mudanças essas já citadas nos parágrafos anteriores,
Descartes coloca todo o conhecimento passado sob suspeição.
Critica todos os conhecimentos fundados na tradição, na fé, nas
Escrituras ou mesmo nos órgãos de sentido que, segundo ele, não
são capazes de revelar o conhecimento verdadeiro.
Descartes instaura a dúvida metódica ou dúvida organizada, que
procura fazer a crítica a todo conhecimento até então construído,
seja da natureza ou do homem. A dúvida metódica duvida de todo o
conjunto dos conhecimentos medievais, eliminando os "a priores" e
destruindo os dogmas.
Pretende chegar a uma primeira verdade da qual não se possa
duvidar, ou a um ponto fixo a partir do qual seja possível pensar
e agir. Analisando a dúvida, Descartes descobre: não se pode
duvidar sem pensar. Portanto, o pensamento é a essência da
natureza humana. O pensamento é o ponto de partida para o
conhecimento, e todas as coisas que concebemos peio pensamento
claro e distinto são verdadeiras. Para assegurar a consistência do
conhecimento, Descartes enfatiza o método. O método cartesiano é
analítico, porque consiste em decompor os problemas em suas partes
constituintes e organizá-las em sua ordem lógica. A decomposição
dos problemas tomou-se uma característica essencial da ciência
moderna, pois acredita-se que todo e qualquer evento possa ser
compreendido, se reduzido às suas partes.
Além da ênfase no método, ou seja, na organização do
conhecimento. Descartes diz haver no mundo três substâncias: uma
substância pensante (res cogitans) - alma; uma substância material
(res extensa) - o corpo; e uma substância infinita, ou seja, Deus.
No pensamento medieval e mesmo no pensamento greco-romano,
admitia-se uma pluralidade infinita de substâncias, pois definia-
se substância como toda realidade capaz de existir ou subsistir
por si mesma. Assim, cada animal diferente, cada vegetal, cada
mineral ou cada indivíduo era formado por uma substância
diferente. Com Descartes, há uma simplificação grande neste
conceito, pois a extensão torna-se o atributo definidor de toda a
matéria; o pensamento é o atributo definidor da alma, e o infinito
como Deus, o incriado. A tricotomia cartesiana – alma, corpo, Deus
– define os rumos do desenvolvimento da Psicologia e das outras
ciências, até os tempos atuais.
A divisão entre mente e matéria trouxe consequências
importantes para a construção do conhecimento do ambiente e do
homem. Para Descartes, o universo material é uma máquina perfeita,
porque funciona segundo leis mecânicas e matemáticas e pode ser
explicado em função da organização e do desenvolvimento de suas
partes. O mundo de Descartes é um mundo de pontos, linhas,
ângulos, esferas que estão em movimento. A ciência moderna parte
deste mundo de realidade quantitativa, deixando de lado a
qualidade que deve ser sempre transformada em quantidade. Esta
quantidade deve ser tratada matematicamente, pelos recursos da
geometria analítica, pelo cálculo diferencial e integral e outros
cálculos.
O mecanicismo do universo tomou-se, então, o paradigma
dominante da ciência moderna. As plantas e os animais, como não
possuíam alma, de acordo com Descartes, passaram a ser
considerados como sendo "simples máquinas" e, portanto, possíveis
de serem conhecidos através do mesmo método aplicado aos objetos.
A alma, entretanto, deveria ser estudada de maneira diferente do
estudo do mundo dos objetos, das plantas e dos animais. Por isto,
tomaram rumos ou caminhos diferentes, os construtores do
conhecimento do meio ambiente e dos objetos em relação aos
construto- ^ rés do conhecimento psicológico ou da alma. Enquanto
o conhecimento do meio ambiente galgou os caminhos abertos pela
experimentação, iniciando a constituição das ciências da natureza,
o conhecimento sobre a alma do homem ainda estava na dependência
absoluta dos sistemas filosóficos.
A partir de Descartes, dois grandes sistemas filosóficos vão
se desenvolvendo – o racionalismo e o empirismo – que, por mais
divergentes que fossem, visavam, ambos, libertar o homem da tutela
das Escrituras Sagradas e fundamentar novas perspectivas de
construção do conhecimento em uma nova ordem social, que já estava
causando a desintegração do mundo medieval. Tais sistemas
filosóficos são definidores dos pressupostos epistemológicos de
muitas das teorias psicológicas no mundo contemporâneo, como:
Teorias Maturacionais, Teorias Comportamentistas, Teorias de
Campo, entre outras.
As perspectivas racionalista e empirista do conhecimento,
subjacentes às teorias citadas, floresceram nos séculos XVII e
XVIII; ambas preocupadas com o problema do conhecimento e
concordantes em que o homem não conhece diretamente as coisas, mas
o conhecimento das coisas, a saber, as impressões que os objetos
exercem sobre ele mesmo: sobre o seu intelecto (racionalismo) e
sobre seus órgãos de sentido (empirismo). O problema fundamental
para os filósofos é, nesse momento, explicar o mundo através de
sua representação ou através do pensamento. Para isto. o
conhecimento do pensamento humano, de como surge, de como se
desenvolve e de como se relaciona com o mundo dos objetos, torna-
se o ponto central dos sistemas filosóficos.
Os racionalistas têm como pressuposto que todo o conhecimento
é reduzido à razão, ou seja, que o homem, através da razão, pode
chegar ao conhecimento verdadeiro. O conhecimento é gerado pelo
homem de dentro para fora, por meio de uma intuição pura que
prescinde dos dados do mundo, ou por uma intuição abstrativa que
parte dos fatos mas os ultrapassa. Este tipo de conhecimento é
considerado como anterior a qualquer experiência e depende de uma
programação inata, inerente à razão humana. Nesta perspectiva, a
razão humana apresenta-se como um ponto de referência sólido para
o conhecimento do meio e do próprio homem, favorecendo a sua
libertação dos esquemas religiosos medievais.
Para os empiristas, por sua vez. o conhecimento humano
enraíza-se nos fatos e acontecimentos do mundo e, por isto, jamais
pode atingir a verdade de maneira absoluta e definitiva, como
pretendiam os racionalistas. Negam a intuição intelectual e
colocam o conhecimento humano na dependência do plano sensível ou
empírico. Desta maneira, na explicação da formação da mente
humana, consideravam que todo conhecimento, lodo pensamento e
todas as ideias são formados a partir das estimulações ambientais,
ou seja, de fora para dentro. As sensações são o efeito subjetivo
dos objetos do mundo exterior sobre os nossos órgãos de sentido. A
associação das sensações (cores, sons, sabores, odores, forma,
movimento, etc.) forma a mente do homem que, ao nascer, nada mais
é que uma folha de papel em branco. Assim, a mente é formada pelas
sensações dos objetos do mundo, e, desta forma, não há ideia ou
pensamento inato, como explicavam os racionalistas.
A "síntese crítica" do racionalismo e do empirismo é feita por
Kant (1724-1804), um dos filósofos alemães mais influentes no
pensamento moderno. Para Kant, a inteligência não se limita a
receber marcas do ambiente, como uma cera mole, como diziam os
empiristas, para os quais os objetos determinavam o sujeito. Nem
tão pouco o sujeito determinava os objetos, como queriam os
racionalistas. Segundo Kant, a inteligência percebe os objetos por
meio do entendimento a priori que se manifesta no momento exato da
experiência. Nenhum conhecimento precede a experiência, mas todos
os conhecimentos começam com ela. O entendimento, a noção de tempo
e espaço, as relações lógico-matemáticas não são propriedades que
pertencem às coisas do mundo, mas ao homem e, a priori, são
condições para que essas coisas sejam percebidas. Daí a
necessidade tanto do a priori da razão quanto da experiência dos
sentidos, para ocorrer o conhecimento.
Mas, para Kant, os homens não conhecem as coisas em si ou como
elas são de verdade, pois somente Deus tem capacidade para isso.
Eles conhecem as coisas de acordo com a apreensão de seus sentidos
e de seu intelecto que, por natureza, são limitados. Daí, a
limitação dos homens em conhecer o mundo. Para haver o
conhecimento, a simples experiência sensorial não basta, pois o
que o homem conhece é, antes, a ideia que faz da realidade e não a
realidade em si. Observa-se que esta é, ainda, uma solução
idealista para o problema do conhecimento.
Os sistemas filosóficos pós-kantianos se abrem a várias posições
que muito influenciaram a constituição da Psicologia
contemporânea, dentre as quais se destaca o positivismo. O
positivismo surge na segunda metade do século XIX, como uma reação
ao apriorismo dos idealistas, da mesma maneira que o empirismo foi
uma reação às ideias inatas. O positivismo admite, como sendo a
única fonte de conhecimento e o único critério de verdade, os
dados sensíveis e os fatos observáveis. Enfatiza a metodologia
indutiva, a determinação causal dos fenômenos ou as relações de
sucessão destes fenômenos e a elaboração de leis, como protótipo
de todo conhecimento verdadeiramente científico. Como as ciências
da natureza – a Física, a Astronomia, a Química, a História
Natural – vinham se valendo desse tipo de metodologia, por que não
submeter o estudo do pensamento humano a essa mesma abordagem?
Assim, a construção do conhecimento psicológico é fortemente
influenciada, a partir do século XIX, pelo positivismo e, somente
a partir daí, a Psicologia se constitui num ramo de conhecimento
definido, através de um objeto de estudo delimitado – as
atividades psíquicas ou a consciência, ou o comportamento – e
através de uma metodologia voltada para uma observação cuidadosa e
sistematizada.
A partir da influência do positivismo na construção do
conhecimento psicológico, a psicologia da alma e do espírito é
substituída por uma Psicologia fundada nos dados obtidos pela
Neurologia, pela Fisiologia, pela Medicina, pela Psicofísica e
pela Biologia que, por esta ocasião, já estavam efetivamente
constituídas.
A fundação do primeiro laboratório de psicologia experimental,
em 1879. Em Leipzig, na Alemanha, por Guilherme Wundt (1832-1920),
positivista, mas também crítico do próprio positivismo, é
considerada, pela maioria dos historiadores da Psicologia, como o
marco formal da emancipação da Psicologia como ciência autônoma.
Wundt e seus seguidores estudavam as imagens, os pensamentos e
os sentimentos, os três elementos que, na sua opinião, formariam a
estrutura da consciência. O método utilizado nesse estudo era o
método introspectivo. Este psicólogo seguia a orientação
elementarista, ou seja, a divisão da mente em suas partes
constituintes. Estes elementos se combinariam através da
associação, formando as atividades psíquicas.
A esta visão atomista das atividades mentais surgiram
oposições de psicólogos que enfatizaram a unicidade dos fenômenos
da consciência, como William James (1842-1910) nos Estados Unidos.
Ele defendia a interação corpo e mente, sendo a consciência como
um fenômeno pessoal, integral e processual, A natureza dinâmica
mutável da atividade mental foi realçada por James, bem como as
maneiras pelas quais um organismo se ajusta a um ambiente.
Wundt e seus seguidores estudavam a estrutura da mente; daí, a
sua escola ser chamada de Estruturalista. William James, por
estudar a dinâmica funcionalista da mente, é considerado um dos
fundadores do Funcionalismo.
Após a criação do laboratório de Wundt, na Alemanha,
rapidamente a psicologia experimenta] se estabelece na França, na
Inglaterra e nos Estados Unidos. Daí se expande por várias outras
nações do mundo.
O racionalismo e o empirismo, como foi visto, foram os eixos
epistemológicos, a partir dos quais as principais teorias
psicológicas do século passado se desenvolveram. Na
contemporaneidade, estes mesmos eixos epistemológicos, juntamente
com o criticismo kantiano, o idealismo em suas diversas vertentes
e o materialismo histórico e dialético (dos quais falaremos a
seguir), de modo geral, subsidiaram as principais teorias
psicológicas do desenvolvimento e da aprendizagem.
Teorias Psicológicas Contemporâneas do Desenvolvimento e
Aprendizagem

Podemos organizar, didaticamente, algumas das teorias


psicológicas do desenvolvimento e da aprendizagem em vigência,
atualmente, em:

Teorias maturacionais

Não tão influentes, na atualidade, no campo da educação quanto


as teorias psicogenéticas de Piaget e de Vygotsky, as teorias
classificáveis na categoria de maturacional podem ser consideradas
como pertencentes ao eixo epistemológico do racionalismo. Arnold
GeselI (1880-1961), Francis Galton (1822-1911), Cattell (1860-
1944), Stanley Hall (1845-1924) e Alfred Binet (1857-1911), entre
outros, são representantes desta categoria de teorias, cuja
premissa básica implica na constatação de que as características
fundamentais de qualquer organismo vivo estão programadas em sua
constituição genética e enraizadas em processos biológicos,
significando que há uma sequência ordenada no desenvolvimento do
comportamento humano.
Gesell, por exemplo, enfatizava o papel da maturação no
desenvolvimento infantil, devido à grande semelhança entre o
comportamento apresentado pelas crianças, em uma mesma idade,
apesar de reconhecer, também, a atuação da estimulação do meio
ambiente. Mas, para este autor, os limites da atuação do ambiente
estariam condicionados pela programação genética que determinaria
todas as direções possíveis do desenvolvimento. Tal perspectiva
teórica provocou, principalmente nas décadas de 30, 40 e 50, os
famosos estudos normativos, nos quais o ritmo e as sequências
previsíveis do desenvolvimento infantil eram caracterizados.
Binet, juntamente com Theodore Simon, publicou o primeiro
teste de inteligência ou de QI (Quociente intelectual), em 1905,
na Franca, baseado na perspectiva de que os itens ou questões do
teste representavam comportamentos típicos de cada faixa etária.
Binet não acreditava que a inteligência fosse fixa e imutável
durante toda a vida do indivíduo, o que o diferia dos psicólogos
norte-americanos que fizeram a revisão de seus testes. Ele
admitia, isto sim, que a inteligência podia mudar, mas que a
pretensão de seu teste era de medi-la numa dada ocasião. Na
escolha dos itens que iriam compor as questões típicas de cada
idade cronológica do teste do QI, a perspectiva maturacional
estava implícita, na medida em que tais itens ou questões eram
consideradas como referentes a comportamentos normativos, isto é,
a comportamentos próprios de uma certa idade.
Em Stanley Hall, através de sua lei do desenvolvimento – a
ontogênese recapitula a filogênese –, observa-se a ênfase em
determinantes genéticos e maturacionais. Ao afirmar, por essa lei,
que o indivíduo, em seu processo de desenvolvimento, passa pelas
mesmas etapas de desenvolvimento de sua espécie, expressa a
epistemologia da pré-formação de estruturas mentais.
Nos dias atuais, apesar das várias críticas sofridas pelas
teorias maturacionais por parte das outras abordagens, que dão
maior ênfase aos estímulos ambientais e sociais no desenvolvimento
e na aprendizagem, um novo olhar tem sido dirigido, pelos
estudiosos, aos fatores genéticos e maturacionais do
comportamento. O Projeto Genoma, em andamento em vários países do
mundo, procurando mapear todo o código genético humano,
provavelmente, lançará, muito em breve, novas perspectivas para a
compreensão do comportamento humano. As teorias psicológicas
incorporarão, com certeza, o resultado dessas novas pesquisas
sobre os genes humanos, articulando-os a seu conceituai básico.

Teorias comportamentistas

A crítica ao racionalismo cartesiano produzida pelo empirismo


inglês propiciou a emergência do pressuposto de que todo o
conhecimento provém da experiência, pedra angular das teorias
comportamentistas. O empirismo, como já foi dito, questiona o
sujeito do conhecimento, nega as ideias inatas e advoga as
sensações como elementos psicológicos mínimos que são organizados
pelas associações. O empirismo, aliado ao positivismo, que, por
sua vez, propõe como ideal de objetividade a utilização de uma
metodologia experimental com vistas à elaboração de leis gerais, e
destes com alguns aspectos da perspectiva funcional is ta, advinda
dos estudos da Biologia, fundaram a base epistemológica e
metodológica para o desenvolvimento do behaviorismo ou das teorias
comportamentistas que, por volta de 1914, começaram a se organizar
nos Estados Unidos. Marcante no behaviorismo é a ruptura com o
objeto tradicional da Psicologia, ou seja, a alma, o espírito, a
consciência, os fenômenos psíquicos. Para os behavioristas, o
objetivo de estudo da Psicologia é o comportamento ou as reações
observáveis de um organismo através de respostas a estímulos do
meio ambiente, também observáveis. A evidência científica, para o
behaviorismo, é justamente a crença na possibilidade do controle
objetivo do estímulo do meio ambiente na determinação de respostas
do indivíduo a tais estímulos.
Nesta perspectiva, o que se observa é que o comportamento humano é
não só fracionado em seus elementos constituintes, ou seja, em (E
– R) estímulos e respostas, como também é totalmente formado a
partir das estimulações do meio. Assim, todo e qualquer
comportamento pode ser previsto, bastando que para isto se
estabeleçam relações funcionais com o ambiente.
Como se vê, o behaviorismo é uma psicologia de base
mecanicista, ou seja, uma psicologia que reduz todo comportamento
a sequências mecânicas ou respostas condicionadas, refletindo a
crença na possibilidade de manipulação do comportamento humano.
Seus principais representantes são: John Watson (1878-1958) e
Skinner (1904-1990), entre outros.

Teorias de campo

A Psicologia da Gestalt ou Psicologia da Forma, uma das


principais representantes deste grupo de teorias, nasceu na
Alemanha, tendo como base epistemológica o racionalismo e o
idealismo. A Psicologia da Gestalt surgiu como uma reação à
psicologia elementarista que explicava o comportamento mediante o
seu fracionamento em estímulos e respostas.
Wundt, citado anteriormente, já percebera a natureza complexa
dos três elementos (imagens, pensamento e sentimentos) que,
segundo ele, formavam a estrutura da mente. No entanto, para
Wundt, a associação destes elementos não se constituía num mero
processo aditivo, mas havia também a ocorrência da "síntese
integradora", irredutível às partes constituintes. Apesar de ser
considerado um elementarista, pois ainda concedia aos elementos
uma realidade própria, já vislumbrava a emergência de uma nova
perspectiva de análise para o psiquismo humano. Essa nova
perspectiva vai ser desenvolvida pelas teorias de campo, através
do conceito de qualidades formais ou configuracionais que só
existem no contexto dos conjuntos estruturados.
Nessa perspectiva, os comportamentos e as experiências humanas
não são fracionáveis, uma vez que, segundo essa visão, o todo não
é a soma das partes, do mesmo modo que o simples ajuntamento de
notas musicais, por exemplo, não faz a melodia.
Enquanto Wundt procurava identificar as unidades dos fenômenos
comportamentais para depois reconstituí-los em sua complexidade,
os teóricos gestaltistas procuravam descrever e compreender tais
fenômenos a partir da observação da experiência dos sujeitos. Na
tentativa de garantir a objetividade dessas observações, evitando
a natureza individual, arbitrária e idiossincrática que, por
ventura, pudesse ocorrer, os estudiosos gestaltistas procuravam
encontrar leis gerais explicativas para o comportamento humano.
Daí, a convicção e a busca de organizações universais nos campos
perceptivos dos indivíduos, uma vez que esta universalidade é que
possibilitava, de acordo com o positivismo, um discurso
verdadeiramente científico. Segundo a Gestalt, o ser humano é
dotado, então, de estruturas pré-formadas que determinam e
condicionam todas as suas experiências perceptuais. Os principais
gestaltistas foram Wertheimer (1880-1943), Kóhler (1887-1967),
Koffka (1886-1941) e Kurt Lewin (1890-1947).

Teorias psícanalítica e neopsicanalíticas


Fundada pelo médico vienense Sigmund Freud (1856-1939), a
teoria psicanalítica não se desenvolveu no ambiente da história da
Psicologia, mas no da Medicina. O interesse de Freud era descobrir
as causas da doença mental. De início, Freud buscou causas
orgânicas, lesões cerebrais, ou fatores patogênicos para as
neuroses e psicoses, tal qual a orientação desenvolvida pela
medicina experimental. Fortemente influenciado por Charcot, médico
francês que fez uso da sugestão hipnótica no tratamento da
histeria, Freud põe em dúvida a abordagem organicista da
psiquiatria da época e passa a utilizar uma abordagem psicológica
para o estudo da doença mental. Apesar de usar o modelo cartesiano
de ciência, discorda dos racionalistas no que se refere à razão
humana. Para Freud, o homem é grandemente comandado pelo
inconsciente, sendo que a consciência lógica e racional representa
uma fina camada sobre um vasto domínio de forças instintivas e
inconscientes. A psicanálise de Freud é a base do surgimento de
teorias
neopsicanalíticas produzidas por outros teóricos, tais como Eric
Erikson (1950), Margareth Mahler (1977), Spitz (1954), entre
outros.

Teorias fenomenológicas e humanistas

Sendo difícil precisar a filiação epistemológica subjacente ao


grupo das teorias fenomenológicas e humanistas, podemos apenas
considerá-la como relacionada com o criticismo kantiano e com seus
desdobramentos f através do idealismo e da fenomenologia. Isto
significa dizer que esta matriz epistemológica postula uma
consciência a priori intencional, ou seja, uma consciência
constituída pela relação sujeito-objeto. Nessa perspectiva, o
sujeito individual torna-se a origem e o fim do conhecimento,
atrelando a si o objeto e retirando-lhe toda existência autônoma.
As teorias psicológicas fenomenológicas e humanistas
representam, com tal eixo epistemológico, uma alternativa ao
reducionismo behaviorista, que tenta explicar todo comportamento
humano através de estímulos e respostas, e, ao mesmo tempo, uma
reação à irracionalidade psicanalítica, que postula o inconsciente
como mola mestra das atividades humanas. As teorias
fenomenológicas e humanistas não compreendem o homem em termos
mecanicistas ou em termos irracionalistas e enfatizam a pessoa
como um ser que se direciona e evolui através de suas experiências
e valores, visando, antes de tudo, ao seu próprio bem-estar neste
mundo e à sua realização pessoal.
Entre outros, podemos citar como representantes das teorias
humanistas e fenomenológicas: Maslow (1972), Rogers (1975) e Combs
(1975).
Rogers, por exemplo, é bastante conhecido no Brasil e
desenvolveu uma teoria psicoterápica – método não diretivo –,
segundo a qual o cliente é que orienta a relação terapêutica. De
acordo com esta perspectiva, o passado de uma pessoa e o seu
organismo interno biológico não são determinantes de seu modo de
viver e, portanto, as soluções para os seus problemas devem ser
buscadas a partir de sua percepção da realidade. A tarefa do
terapeuta centrado no cliente é, justamente, prover um clima de
aceitação e compreensão, para possibilitar ao indivíduo um maior
entendimento de seu campo perceptual e, consequentemente, de si
mesmo.
A esta perspectiva fenomenológica acrescenta-se a perspectiva
humanista, segundo a qual o referido autor considera que o homem,
sendo inerentemente bom, tende à manutenção de si mesmo e à sua
autorrealização. Para Rogers, o objetivo da educação, tendo em
vista a sua experiência psicoterápica, é propiciar uma
aprendizagem significante, que não se circunscreve a uma
acumulação de informações, mas que provoca uma reorganização de
toda a vida da pessoa: das emoções, da cognição, dos valores e das
atitudes. Para que esta aprendizagem ocorra, ela deve ser
autoiniciada pelo aluno, de acordo com seus objetivos, e deve se
basear nas atitudes empáticas do professor, que se torna um
facilitador desta aprendizagem e não simplesmente um planejador
curricular, ou um mero usuário de livros e audiovisuais, ou um
formulador de provas ou atribuidor de notas. Tal perspectiva
implica que o ensino seja centrado no aluno, nas suas motivações e
interesses; que o professor deixe o aluno livre para aprender,
para escolher o seu próprio curso de ações; que o professor tenha
uma confiança básica de que o aluno é digno e merecedor de
oportunidades para o seu desenvolvimento; que o professor tenha
compreensão empática, ou seja, que consiga colocar-se no lugar do
estudante.

Teorias psicogenéticas

JeanPiaget (1896-1980), Vygotsky í 1896-1934), Leontiev (1903-


1979), Luria(I902-J977) e Wallon (1879-1962) têm sido considerados
os representantes mais eminentes de um grupo de teóricos que
procuram explicar o comportamento humano dentro de uma perspectiva
na qual sujeito e objeto interagem em um processo que resulta na
construção e reconstrução de estruturas cognitivas. São os
chamados teóricos interacionistas.
Para se compreender epistemologicamente o interacionismo,
podemos nos remeter, como ponto de referência inicial, à atuação
do sujeito e do objeto nas epistemologias racionalistas e
empiristas.
Como já dissemos anteriormente, a epistemologia racionalista e
os vários desdobramentos do idealismo explicam o psiquismo humano
como possuidor ou de ideias inatas, ou de espírito e alma. ou de
intuição e sensibilidade, ou de razão, ou de a priori. ou de
consciência, etc., inerentes à condição humana. É este sujeito
pré-formado que significa o objeto. Por sua vez, a epistemologia
empirista, negando as noções acima, coloca o psiquismo humano na
dependência do plano sensível ou empírico para a sua constituição.
E o sujeito tábula-rasa é moldado pelos objetos físicos e objetos
sociais que compõem o meio ambiente.
No interacionismo, como o próprio nome diz, há a interação entre o
sujeito e o objeto, para a construção do psiquismo do sujeito e
para a construção dos próprios objetos. Fundamental para a
compreensão desta nova perspectiva epistemológica é justamente a
explicitação dos processos subjacentes a esta interação.
Retomando Kant como o filósofo que procurou a síntese entre o
racionalismo e o empirismo, observamos, no entanto, que a sua
solução para o problema do conhecimento é ainda racionalista. Para
este filósofo, nós conhecemos as coisas na forma em que elas são
apreendidas pelo nosso intelecto, que possui, a priori,
entendimento, sensibilidade, noções de tempo e de espaço. E
Piaget, através de suas observações e experimentações sobre a
construção do número, do espaço, do tempo e da causalidade, vai
justamente mostrar que os próprios, "a priores" kantianos são
resultado de um processo de interação entre o sujeito e o meio.
Para Piaget, o conhecimento (psiquismo), no recém-nascido, não
está nem no sujeito nem no objeto, mas num ponto P, periférico,
externo ao sujeito e ao objeto. À medida que o sujeito interage
com os objetos penetrando nas suas propriedades intrínsecas, ele
vai se construindo como sujeito. À medida que ele vai construindo
o seu psiquismo, a sua interação com os objetos vai se tornando
mais elaborada e diversificada. De acordo com Piaget, este é um
processo dialético de trocas.
Este processo interacionista não pode ser, em hipótese
nenhuma, confundido com a atualização progressiva de pré-
formações, característica da perspectiva maturacional, e nem tão
pouco pode ser comparado com uma atuação mecânica do objeto sobre
o sujeito, característica do comportamentismo. Deve ser
considerado como constituído por construções autênticas em que uma
estrutura é pré-condição para a estrutura subsequente, como foi
uma ampliação da estrutura anterior.
Vygotsky é um interacionista que desenvolveu uma teoria (não tão
detalhada e elaborada como a Teoria Psicogenética de Piaget,
devido a sua morte prematura) sobre a construção do psiquismo
humano, utilizando-se de categorias conceituais inspiradas no
materialismo histórico e dialético de Marx e Engels.
Da mesma maneira que, para Marx, a história da humanidade não
deveria ser estudada como sendo decorrente de um propósito divino
ou dos ideais dos homens, mas a partir da ação do homem concreto,
para Vygotsky a constituição do psiquismo não poderia ser
encontrada nas profundezas da alma ou nos pré-formismos da mente,
mas nas relações sócio-históricas.

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