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ISBN 978-85-352-6937-6
ISBN (versão digital): 978-85-352-8344-0
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Inclui bibliografias.
ISBN 978-85-352-6937-6.
CDD 551.098153
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Simone Schreiner
Petrobras/E&P-SERV/US-SUB/Gerência de Geologia Marinha
schreiner@petrobras.com.br
Agradecimentos
uso futuro. Dessa forma, esperamos ter contribuído para constituir um importante
patrimônio da pesquisa brasileira e mundial sobre o assunto.
Tendo tido a oportunidade e o privilégio de acompanhar o desenvolvimento des-
sa linha de pesquisa ao longo dos últimos quatro anos, permito-me partilhar deste
momento de celebração pela conclusão dos trabalhos. Parabéns aos profissionais
pelos resultados e pelo legado, à altura do esforço, da dedicação e da seriedade que
tive a oportunidade de testemunhar!
Palavras-chave
Resumo
Uma visão geral do arcabouço estrutural e da estratigrafia da Bacia de Campos é apresentada, com
especial enfoque na cronologia da atividade das falhas.
Castro, R.D., Picolini, J.P. 2014. Principais aspectos da geologia regional da Bacia de Campos. In: Kowsmann, R.O., editor. Geologia
e Geomorfologia. Rio de Janeiro: Elsevier. Habitats, v. 1. p. 1-12.
2 P r inci pai s aspectos da geolog ia reg i onal da B ac i a de Campos
Máxima (m)
Sequências
Sedimentação
Espessura
Natureza da
Litoestratigrafia
Geocronologia Ambiente
Discordâncias
Ma Deposicional Grupo Formação Membro
Período Época Idade
0
Pleistoceno N60
Gelasiano
Emborê
NEO MESO
Plioceno EO
Piacenziano Pleistocênica N50
Zancleano
Messiniano
Grussaí
Mioceno Superior
Barreiras
N40
4050
NEO
Neógeno
São Tomé
10 Tortoniano
1620
Mioceno
EO
Burdigaliano Mioceno Inferior N10
20
1324
Siri
Oligoceno Superior
Oligoceno
Marinho Regressivo
Ubatuba
4050
30
EO Rupeliano
Oligoceno Inferior E74
Grussaí
Oligoceno Inferior E72
NEO Priaboniano Eoceno Superior
1620
E60
Bartoniano
Paleógeno
40
Eoceno
MESO
Eoceno Médio
Emborê
E40-E50
Lutetiano
3320
50
EO Ypresiano Eoceno Inferior
2940
E30
Campos
Geribá
Thanetiano Paleoceno
Paleoceno
E10-E20
NEO
60 Selandiano
EO Daniano
Intracampaniana II
K100-
K110
Tamoios
2250
Campaniano
1500
Carapebeus
Marinho Transegressivo
80
Intracampaniana I
NEO
Profundo
Santoniano
K90
Coniaciano
Coniaciano
K86-
90
K88
Turoniano
K82-
Namorado
K84
Cenomaniano Intracenomaniano Imbetiba
500
Goitacás
100
Macaé
Cretáceo
Outeiro K70
Albiano
(Gálico)
Plataforma Quissamã
Bú
1050 K60
zi
110 Rasa
os
Ma
500
Lagunar
cab
Lagoa Feia
K46
au
Alagoas
u
Aptiano Pré-neo-alagoas
120
Continental
EO
Jiquiá
Barre- Buracica Lacustre Atafona 2000 K36
miano
130
Aratu Topo Basalto
K20-
(Neocomiano)
Halte-
K34
Cabiúnas
650
riviano
Valan-
giniano Rio
140 da
Berria- Serra
miano
Titho- Dom
Jurás-
sico NEO niano João
150
542
Pré-Cambriano Embasamento
NO Quebra da SE
Linha de Costa Plataforma
Poço
2000 Distal Nível do Mar Tectônica e Magmatismo
0m MA
2000 Fundo do Mar
0
BAR
10
BAR
EBR/GRU
BAR
UBT/GBA 20
EBR/SR
30
UBT/GBA
Magmatismo 40
UBT/GBA
Magmatismo
Cretáceo-
Paleógeno 60
CRP
UBT/TM 70
CRP
Magmatismo
Santoniano-
Campaniano 80
UBT/TM CRP
90
UBT/TM Drifte
GT NAM
100
GT OUT NAM
QM
GT QM/BZ Magmatismo
Alagoas 110
RT
GGU
MCB
ITA Pós-Rifte
120
CQ
ITA ATA
Rifte 130
CB
140
150
542
Faixa Ribeira
Figura 1B. Coluna estratigráfica da Bacia de Campos (Winter et al., 2007). (Continuação.)
6 P r inci pai s aspectos da geolog ia reg i onal da B ac i a de Campos
Alto de 7.700.000
Vitória
N
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os
Fa
Província de
Domos de Sal
7.600.000
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Alto
Alto
Alt
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da Barra
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10
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10
7.500.000
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20
ira
Alto de
ne
ALTOS ESTRUTURAIS
Cabo Frio
ar
Ch
BAIXOS ESTRUTURAIS
CONTINENTE
ÁREA MARINHA
100m BATIMETRIA
50 km
Figura 2. Principais compartimentos estruturais da Bacia de Campos (Guardado et al., 2000), Projeção: UTM
DATUM: SAD-69, MC: 039.
compostos por arenitos finos a médios, geralmen- distal dessa sedimentação carbonática. Os calcare-
te estratificados ou laminados (Guardado et al., nitos oolíticos e oncolíticos, depositados em ban-
1989). cos de águas rasas, são os principais reservatórios
A Formação Quissamã é o registro de um sis- de hidrocarbonetos do Grupo Macaé.
tema carbonático composto por fácies de baixa a A Formação Outeiro posiciona-se estratigra-
alta energia. Apresenta um zoneamento ambien- ficamente acima da Formação Quissamã e ocorre
tal da área proximal, caracterizada por rochas de de maneira discordante na área proximal e concor-
composição mista siliciclástica-carbonática, para a dante na área mais distal. Registra uma sedimenta-
distal, onde se desenvolveu uma fácies tipicamen- ção siliclástica-carbonática condizente com oceano
te carbonática. Os litotipos carbonáticos incluem mais profundo. Suas rochas apresentam uma dis-
calcilutitos com bioturbação, calcarenitos finos a tribuição da base para o topo composta por calci-
grossos oolíticos e oncolíticos, derivados de sis- lutitos que gradam para intercalação de calcilutitos
temas de barras carbonáticas e interbarras, geral- com margas. No topo desse membro, predomi-
mente definindo ciclos de raseamento para o topo. nam folhelhos e margas. Há ocorrência de vazas
Folhelhos e margas caracterizam a deposição mais de microfósseis e conteúdo moderado de matéria
Águas Águas Águas
NO Rasas Profundas Ultraprofundas SE
0
Sal
Km
6
Alto de Alto
Badejo Externo
8 Alto
Central
Baixo de
Corvina-Parati
10 Gráben
Leste
Figura 3. Seção geológica regional da Bacia de Campos (Guardado et al., 2000) mostrando as principais estruturas do embasamento e da tectônica salífera e as
sequências estratigráficas. Notar a diferente influência da tectônica salífera na seção rasa da bacia, em águas profundas e ultraprofundas. Ver texto para os ambientes
deposicionais correspondentes.
8 P r inci pai s aspectos da geolog ia reg i onal da B ac i a de Campos
orgânica, o que condiz com a subida progressiva e muito empregados nas datações dos principais in-
acentuada do nível relativo do mar e melhor circu- tervalos da bacia.
lação das águas em relação à Formação Quissamã A Formação Carapebus corresponde a sedi-
(Guardado et al., 1989). mentos arenosos submarinos depositados a partir
Intercalados a esses sedimentos finos, existem, de fluxos gravitacionais sedimentares (Middleton e
corpos de arenito, originados por fluxos gravita- Hampton, 1976), principalmente turbiditos. A es-
cionais. Denominados Arenito Namorado, eles são pessura desses depósitos alcança desde poucas
importantes reservatórios de hidrocarbonetos. A dezenas até centenas de metros. A textura dos se-
ocorrência desses turbiditos evidencia um aumen- dimentos clásticos abrange desde conglomerados
to da subsidência da plataforma e consequente in- até arenitos muito finos, comumente associados
cremento na movimentação salífera, que caracte- a sedimentos lamosos (pelágicos/hemipelágicos
riza a evolução da bacia a partir do Cenomaniano e/ou de correntes turbulentas diluídas de baixa
(Dias et al., 1990; Guardado et al., 1989). densidade), com depósitos subordinados de es-
Sobreposto às rochas do Grupo Macaé, posi- corregamentos e fluxos de detritos (Guardado et
ciona-se o Grupo Campos, composto por rochas al., 1989). Desenvolvem complexos de canais sub-
depositadas em ambientes proximais (Formação marinos formados por conjuntos de canais amal-
Emborê), marinhos distais (Formação Ubatuba) e gamados ou segregados espacialmente (Moraes
depósitos turbidíticos (Formação Carapebus). A et al., 2006). Os complexos de canais são comu-
ocorrência desses turbiditos deve-se a quedas re- mente confinados em cânions e/ou em calhas (tec-
lativas do nível do mar, associadas possivelmente tônicas, erosivas, entre outras). Em regiões com
a: a) reativação tectônica do embasamento, com redução significativa de gradiente, como em mi-
movimentações de blocos crustais na área da Serra nibacias, ou quando os sedimentos alcançam o as-
do Mar, b) subsidência térmica da bacia, c) criação soalho oceânico além do Alto Externo, é comum o
de condutos e minibacias associadas à movimen- desenvolvimento de complexos de espraiamento,
tação salífera e d) variações eustáticas globais (Dias aprisionados ou terminais, que são dominados por
et al., 1990). canais distributários e lobos (Oliveira et al., 2012).
A passagem do Grupo Macaé para o Grupo De forma subordinada, ocorrem complexos de re-
Campos, há 93 M.A., é caracterizada por discor- trabalhamento por correntes de fundo, que, em
dância erosiva bem marcada em quase toda a ba- geral, tendem a formar intervalos interlaminados,
cia, especialmente nas áreas proximais (Dias et al., comumente lamosos e intensamente bioturbados
1990; Guardado et al., 1989). (Moraes et al., 2007). O intervalo de tempo que
A Formação Emborê é caracterizada por con- abrange esses sedimentos se estende desde o Neo
glomerados polimíticos e arenitos grosseiros tí- cretáceo, quando as condições de águas profundas
picos de depósitos de leques aluviais, além de foram estabelecidas, até o presente. A Formação
arenitos de contexto de praia, geralmente finos a Carapebus abrange os principais reservatórios de
médios, com estratificação cruzada e laminação hidrocarbonetos da Bacia de Campos, incluindo os
marcada por linhas de minerais pesados. Nas posi- campos gigantes de Roncador, Albacora, Albacora
ções de paleoborda de plataforma, desenvolveu-se Leste, Barracuda e o complexo Marlim, que abran-
uma plataforma carbonática, denominada Mem- ge os campos de Marlim, Marlim Sul e Marlim Les-
bro Siri, formada por bancos de algas vermelhas, te (Bruhn et al., 2003).
com predomínio de calcirruditos bioclásticos. Durante o Neomioceno, uma espessa cunha
A Formação Ubatuba é caracterizada por de- progradante, constituída de margas e folhelhos
pósitos finos típicos de sedimentação hemipelági- de ambiente de águas profundas, desenvolveu-se
ca, incluindo folhelhos e margas, que se apresen- na porção central da Bacia de Campos, dando a
tam ricos em foraminíferos e nanofósseis calcários, essa região o perfil convexo que caracteriza hoje
Geolog ia e G eomorfolog i a 9
sua fisiografia. Souza Cruz (1995) atribuiu a cons- quiescência tectônica. A partir de então, foram
trução dessa cunha à ação de correntes de fundo, depositados os sedimentos da Sequência Tran-
condicionadas pelas mudanças climáticas e paleo- sicional, com grande aporte de sedimentos silici-
ceanográficas que acompanharam a glaciação do clásticos nas áreas proximais e desenvolvimento
Continente Antártico. de carbonatos microbiais nos altos estruturais.
Com a implantação de crosta oceânica, o ambiente
evoluiu para um regime de golfo hipersalino, que
4. Síntese da Evolução Geológica experimentava comunicações esporádicas com o
A Bacia de Campos, como as demais bacias da oceano aberto, gerando, como resultado, a depo-
margem brasileira, foi consequência da ruptura do sição de rochas evaporíticas.
Supercontinente Gondwana, através de um pro- Essa morfologia de golfo evoluiu para condi-
cesso distensivo que teve início no Mesojurássico ções de mar franco, onde se estabeleceu, duran-
(Mizusaki, 2000; Mizusaki e Thomaz Filho, 2004). te o Albiano, um ambiente de sedimentação car-
O rifteamento resultou em uma estruturação de bonática com alinhamentos de bancos oolíticos e
falhas normais antitéticas e sintéticas, bem como oncolíticos balizando lagunas de carbonatos finos
em zonas de acomodação e falhas de transferên- micríticos e peloidais.
cia (Chang et al., 1992). O sistema de falhas gerado No Mesoalbiano, ocorreu intensa instabiliza-
configurou a compartimentação do embasamento ção gravitacional da camada de sal (halocinese),
Pré-Cambriano em uma série de horsts e grábens, resultando em sua fluência para leste, devido ao
com padrão estrutural de blocos rotacionados, in- basculamento da bacia em direção offshore. Na
formalmente chamado estilo dominó. A propaga- área mais proximal, a halocinese segmentou a ca-
ção do rifteamento atingiu a Bacia de Campos no mada contínua de sal original, gerando acumu-
Eocretáceo, mais precisamente no Hauteriviano, lações com forma de almofadas de sal. As almo-
como evidenciado pelos basaltos da Formação Ca- fadas de sal induziram a formação de falhas de
biúnas, cujas idades estão em torno de 135 a 124 crescimento lístricas que ocasionaram estruturas
M.A. Nesse contexto tectônico, foram depositados do tipo rollover, o que propiciou o crescimento
os sedimentos da Sequência Rifte, com predomínio de espessos bancos carbonáticos. Na área distal,
de clásticos aluviais e deltaicos nas porções pro- o deslocamento do sal arrastou consigo pacotes
ximais, depósitos lacustres argilosos preenchendo carbonáticos sobrepostos, dando origem às es-
os baixos deposicionais e barras bioclásticas reco- truturas do tipo jangadas.
brindo os altos mais isolados. A partir do Andar No Cenomaniano, uma subida global do nível
Buracica (Neobarremiano), o processo de subsi- do mar (Haq et al., 1987) ocasionou o afogamento
dência foi intensificado, formando baixos depo- da plataforma carbonática, resultando na deposi-
sicionais mais profundos. O ambiente sedimentar ção de uma sucessão de calcilutitos, margas e are-
evoluiu de lacustre de água doce, durante o Andar nitos subordinados.
Buracica, para lacustre de água salobra a salgada Do Turoniano em diante, as condições de mar
no Andar Jiquiá (Eoaptiano). Nos baixos dessa fase aberto se estabeleceram definitivamente, predo-
rifte, foram depositadas as principais camadas de minando, desde então, a deposição de folhelhos
rochas geradoras de hidrocarbonetos da bacia, os e margas. Turbiditos foram depositados preferen-
folhelhos Buracica e Jiquiá. Os altos estruturais fo- cialmente durante os recorrentes rebaixamentos
ram sítios deposicionais predominantemente para do nível do mar.
coquinas, ricas em pelecípodes (Dias et al., 1990). Um importante evento magmático subalcalino
A partir do Andar Alagoas (Aptiano), cessou a alcalino ocorreu no sul da bacia entre 83 e 45
a subsidência mecânica, tendo início a subsidên- M.A., resultando em corpos intrusivos de diabásio
cia térmica, processo que resultou em relativa e extrusivos de basaltos, assim como em brechas
10 P r inc ipa is aspectos da geolog ia reg i onal da B ac i a de Campos
como reativou alguns preexistentes. Durante es- c) a atividade sísmica recente, embora signi-
se evento foi gerado o marco estratigráfico in- ficativa, é relativamente fraca, com baixo
formalmente conhecido como Pebbly. Trata-se risco para romper o sistema de equilíbrio
de uma camada de diamictitos rodolíticos, pro- dos hidrocarbonetos trapeados nas diver-
venientes da destruição, por abalos sísmicos, da sas acumulações da Bacia de Campos. Os
borda da plataforma rica em bioconstruções for- estudos dos mecanismos focais de eventos
madas por extensas colônias de algas vermelhas. sísmicos (Assumpção, 1998), da ovalização
4) Tectônica Neógena – Principalmente no Meso- de poços (Lima et al., 1997) e de testes de
mioceno, diversas falhas foram reativadas, atin- fraturamento hidráulico (Lima Neto e Be-
gindo o fundo do mar de então, podendo ter neduzi, 1998), citados em Cobbold et al.
sido esse o grande evento de dispersão e exsu- (2001), atestam que o regime de estresse da
dação de óleo na bacia. A porção superior da margem continental leste-sudeste brasilei-
maioria dessas falhas foi posteriormente trun- ra, em profundidade, é de compressão. Isso
cada pela erosão generalizada que conformou reforça a noção de que as falhas com raiz
a discordância do Mioceno Superior (“Marco profunda, conectadas aos diversos reserva-
Cinza”), por volta de 10 a 8 M.A. tórios de hidrocarbonetos, encontram-se
Atualmente, essas falhas que atingem a fechadas, não atuando como dutos favorá-
seção sedimentar mais superficial têm baixo veis à exsudação.
potencial para vazamento de hidrocarbonetos
por três motivos: Isso explica por que, apesar de armazenar um
a) as porções mais rasas dessas falhas encon- imenso volume de óleo em reservatórios porosos,
tram-se geralmente imersas em argilitos as exsudações naturais na bacia constituem uma
higroscópicos e muito plásticos, que aju- exceção.
dam a selar rapidamente o plano de falha
logo após qualquer eventual reativação;
b) o truncamento erosional do ápice dessas Agradecimentos
falhas ocasionado pela discordância do Agradecemos ao geólogo Tiago Agne de Oli-
Neo mioceno está recoberto por argilitos veira, pelas valiosas informações sobre os turbidi-
compactados por deformação (slumps e de tos da Bacia de Campos. Aos revisores, agradece-
pósitos de debris flows), que tamponam o mos os comentários que muito contribuíram para
topo dessas falhas; o aprimoramento deste trabalho.
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Geomorfologia e sedimentologia
da plataforma continental
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14 Geomorfologi a e sedi mentolog i a da plataforma cont inental
21° S
Rio Paraíba
do Sul
Cabo de
São Tomé
Cabo
Frio
24° S
24° S
N
LIMITES DA BACIA DE CAMPOS
de ondas predominantes para a região. As alturas de clima de ventos fracos, com direção predominante
2 a 3 m apresentam maiores frequências nos qua- proveniente do quadrante nordeste. Essa preferên-
drantes norte-nordeste, ao passo que os períodos cia de sentido vem acompanhada de ventos que se
médios observados se concentram entre 6 a 8 s para originam nos quadrantes norte e leste, e totalizam
o quadrante nordeste e 8 a 10 s para o quadran- 65% dos ventos observados. As velocidades pre-
te sudeste. As ondas do quadrante sudoeste pos- dominantes desses quadrantes variam entre 4,0 e
suem alturas médias de 1 a 2 m e de 3 a 5 m, apre- 6,0 m.s–1, sendo que as maiores velocidades médias
sentando os maiores períodos (10 a 12 s). se concentram nos quadrantes norte e nordeste,
Pinho (2003) e Carvalho (1998) descrevem a com velocidades médias de 8,32 e 8,22 m.s–1, res-
região da Bacia de Campos com características de pectivamente.
16 Geomorfologi a e sedi mentolog i a da plataforma cont inental
Os ventos de sul e sudoeste são associados à dos sistemas frontais polares e sua migração em
passagem de ciclones extratropicais. À medida que o direção ao Equador; (3) o resfriamento das massas
ciclone evolui, os ventos de sudoeste giram para su- de água superficiais; (4) o resfriamento e a ressur-
deste, passando para as direções norte ou noroeste gência das massas de água superficiais ao longo
(Pinho, 2003), apresentando velocidades médias de 5 das zonas de divergência equatoriais; (5) a inten-
a 7 m.s–1 e valores de alturas médias de ondas de 3,6 sificação da circulação de fundo; (6) o menor acú-
m com períodos médios de 9,5 s (Machado, 2009). mulo de vasas calcárias no Atlântico Sul e (7) a mo-
A Corrente do Brasil exerce sua influência na pla- dificação da fauna planctônica (Kowsmann e Costa,
taforma da Bacia de Campos nas porções da plata- 1979; Kowsmann et al., 1978).
forma externa a partir da isóbata de 100 m, aumen- A morfologia observada nas plataformas conti-
tando sua influência no talude superior a partir da nentais exibe registros sedimentares provenientes
isóbata de 200 m, região onde apresenta maior com- de oscilações glacioeustáticas ocorridas no Quater-
petência de transporte (Della Giustina, 2006). Para nário. Nesse período, os eventos que mais influen-
Assireu (2003), as forçantes oceanográficas que exer- ciaram a morfologia e a cobertura sedimentar atual
cem influência na região incluem ondas aprisionadas desses ambientes foram a regressão ocorrida no fi-
à costa, correntes de talude, correntes de contorno, nal do Pleistoceno Superior e o decorrente proces-
vórtices, transporte de Ekman, marés e correntes so transgressivo já no Holoceno (Kowsmann e Cos-
inerciais e ondas internas. Essa complexidade de in- ta, 1979). Partindo desse princípio, diversos autores
terações entre fatores atmosféricos e oceanográficos concentraram suas investigações no estudo de
influencia de maneira direta a modelagem da mor- geomorfologia, sedimentologia e estratigrafia des-
fologia de fundo da plataforma da Bacia de Campos. ses ambientes, correlacionando esses parâmetros
com as flutuações eustáticas (últimas glaciações) e
a dinâmica sedimentar moderna, conforme obser-
4. Geomorfologia e sedimentologia vamos nos trabalhos de Kowsmann et al. (1977);
da plataforma continental Kowsmann e Costa (1979); Zembruscki (1979); Cor-
Por volta de 20.000 anos A.P., a regressão al- rêa et al. (1980); Dias et al. (1982); Brehme (1984);
cançou seu clímax, expondo vastas áreas de plata- Ponzi et al. (1990); Corrêa (1996); Castaños (2002);
forma no mundo. Esse evento global é descrito por Artusi (2004); Figueiredo Jr. e Tessler, (2004); Fi-
vários autores, a exemplo de Wright et al. (2009), gueiredo Jr. e Madureira (2004); Lopes (2004); Della
que apresentam uma compilação baseada na ra- Giustina (2006); Simões (2007); Cetto (2009); Maya
zão isotópica 18O/14C obtida em registros fósseis et al. (2010); Pacheco (2011), entre outros.
de corais soerguidos na Nova Guiné, em Barbados, Na margem continental brasileira, o último
nas Ilhas de Araki, em conjunto com informações evento regressivo foi responsável pela exposição
preexistentes dos trabalhos de Chappell e Shackel- da plataforma a uma intensa erosão. Essa super-
ton (1986), Fairbanks (1989), Bard et al. (1990), Sha fície plana foi dissecada por vales fluviais que de-
ckelton (2000), Chappell (2002), Cutler et al. (2003), positavam seus sedimentos diretamente no talu-
Siddall et al. (2003), Raymo et al. (2004), Hodell et de (Kowsmann e Costa, 1979). Essa sedimentação
al. (2003) calibrados para a margem continental de também possibilitou o estabelecimento de um
New Jersey (EUA). Segundo esses autores, o mar sistema regressivo progradante pleistocênico so-
esteve por volta de 100 a 130 m abaixo da posição toposto aos depósitos biodetríticos. Estes, por sua
atual na porção norte do Oceano Atlântico. vez, se formaram a partir do processo erosivo que
Dentre os impactos que esse fenômeno oca- teve início com a fase transgressiva subsequente
sionou sobre os sistemas oceânicos, podemos ci- que desgastou a superfície pleistocênica, forman-
tar: (1) a elevação das taxas de sedimentação terrí- do em algumas porções da plataforma depósitos
gena; (2) o aumento do gradiente térmico ao longo de linha de praia (Kowsmann et al., 1978).
Geolog ia e G eomorfolog i a 17
–10
–30
5
–1
00
–35
–2
0
–1
–2
95
–5
–1
–30
7680000
7680000
–65
5
Rio
–1
–90
Itapemirim
–1
5
5
–65
–1
Rio
–5
–40
Itabapoana
–25
–24
5
–5
–2
0
–25
–95
7600000
7600000
–45
–245
Rio Paraíba
do Sul
-28
5
–5
0
–3
–32
Lagoa
–20
0
Feia
-95
0 –75
–6
80
–10 –15
–5 –105 –2
5
–5
7520000
–5
65
5
–8
–1
5
–6
–5
80
5
–4
–1
0
–6
45
–10
–1
55
Cabo 0
–7
–1
0
–1
Frio
0
–8
–15
0
–9
50
5
–5
–1
Lagoa de
Araruama
40
–100
7440000
7440000
–9
–1
0
–1 HIDROGRAFIA
15
60
ISÓBATAS INTERVALO
–1
DE 5 M
85
–1
0 5 10 20 30
70
–1
km
90
–145
Figura 2. Batimetria da plataforma continental da Bacia de Campos obtida a partir da junção de dados provenientes
de folhas de bordo e de sísmica 3D. Exagero vertical do Modelo Digital do Terreno de 300× para a batimetria prove-
niente de folhas de bordo e de 10× para o Modelo Digital do Terreno extraído de sísmica 3D.
Geolog ia e Geomorfolog i a 19
Os dados de teor de carbonato, por sua vez, Tabela 2. Distribuição das amostras de sedimento se-
foram classificados a partir do esquema de classi- gundo classificação simplificada de Dias (1996).
ficação de Dias (1996) modificada de Larsonneur
Teor de carbonato Quantidade
(1977) para a elaboração de cartas sedimentoló-
Litoclástico 849
gicas da margem continental brasileira. Essa clas-
Litobioclástico 120
sificação discrimina o sedimento de acordo com o Biolitoclástico 75
teor de carbonato e sua granulometria. Da mesma Bioclástico 311
forma, levando em consideração o limite amostral
dos dados, a classificação de Dias (1996) foi sim-
aleatória, mas forma conjuntos que diferenciam a
plificada apenas quanto a seu teor de carbonato.
plataforma interna da externa e a da porção sul da
Dessa forma, o sedimento foi classificado em lito-
área para a porção norte da área.
clástico para teores de carbonato inferiores a 30%,
litobioclástico para teores maiores que 30% e me-
6.1 Granulometria
nores que 50%, biolitoclástico para teores maiores
Quanto à distribuição em mapa, a areia predomi-
que 50% e menores que 70% e em bioclástico, para
na em toda a plataforma continental, principalmente
teores superiores a 70% (Figura 4).
a sul do Rio Itapemirim, sendo apenas localmente su-
As informações referentes ao teor de carbona-
perada por cascalhos e lama (Figura 5 A). A lama tem
to também foram obtidas junto ao Bampetro e à
maior incidência na região de Cabo Frio e na borda
Petrobras, totalizando 1.355 registros dos quais a
de plataforma continental, ao passo que os cascalhos
grande maioria, 849, possui valores de carbonato
aparecem com maior frequência na plataforma con-
inferior a 30%, seguido de sedimento com teor de
tinental externa e na porção norte da área.
carbonato acima de 70% (Tabela 2).
Cascalho
100%
Bioclástico
CaCO3 > 70%
Cascalho
(10)
Areia Lama
(1) (4) Litoclástico
CaCO3 < 30%
Cascalho
100%
(a)
Cascalho
(10)
50% 50%
7680000
7680000
Areia Lama
(1) (4)
Rio
Itapemirim
100% 50% 100%
Areia Lama
Rio
Itabapoana
7600000
7600000
Rio Paraíba
do Sul
Lagoa
Feia
7520000
7520000
Cabo
Frio
HIDROGRAFIA
Lagoa de
ISÓBATAS INTERVALO
Araruama
7440000
7440000
DE 5 M
CASCALHO
AREIA
LAMA
0 4 8 16 24
km
UTM SIRGAS 2000 – ZONA 24S
Figura 5a. Distribuição dos dados sedimentológicos segundo classificação das amostras em cascalho,
areia e lama, a partir da classificação simplificada de Shepard (1954).
Geolog ia e Geomorfolog i a 21
Bioclástico
(b)
CaCO3 > 70%
Litobioclástico Biolitoclástico
30% < CaCO3 < 50% 50% < CaCO3 < 70%
7680000
7680000
Litoclástico Rio
CaCO3 < 30% Itapemirim
Rio
Itabapoana
7600000
7600000
Rio Paraíba
do Sul
Lagoa
Feia
7520000
7520000
Cabo
Frio
HIDROGRAFIA
7440000
DE 5 M
BIOCLÁSTICO
BIOLITOCLÁSTICO
LITOBIOCLÁSTICO
LITOCLÁSTICO
0 4 8 16 24
km
UTM SIRGAS 2000 – ZONA 24S
Figura 5b. Distribuição dos dados sedimentológicos considerando o teor de carbonato, segundo classi-
ficação simplificada de Dias (1996).
22 Geomorfologi a e sedi mentolog i a da plataforma cont inental
predominam na plataforma externa, ao passo que principalmente entre Cabo Frio e São Tomé (Zem-
na porção norte predominam em toda a extensão. bruscki, 1979; Pacheco, 2011).
A distribuição do sedimento litoclástico é coinci- Para Figueiredo Jr. e Madureira (2004), a co-
dente com a distribuição de areia e a do bioclástico bertura sedimentar da plataforma possui dois do-
com os cascalhos, demonstrando que o cascalho é mínios bem distintos: um terrígeno (litoclástico) e
de natureza carbonática (Figuras 5A e 5B). outro carbonático (bioclástico). No entanto, nesta
pesquisa de maior detalhe, observou-se um predo-
6.3 Integração da granulometria com teor mínio litoclástico, que recobre 63% da plataforma
de carbonato e morfologia interna e média. As fácies biolitoclásticas e litobio-
Os dados granulométricos gerados a partir da clásticas se concentram entre as plataformas média
classificação simplificada de Shepard (1954) e da clas- e externa, recobrindo aproximadamente 32% da
sificação modificada de Dias (1996) foram integrados área (Figura 6). O domínio terrígeno recobre áreas
à morfologia para que fosse possível associar o tipo próximas à linha de costa e algumas porções da
de sedimento à morfologia de fundo (Figura 6). A plataforma externa, onde se encontram localmente
morfologia foi representada de forma sombreada, ao interrompidos por lentes de lama paralelas ao con-
passo que a granulometria foi representada em cores torno da batimetria. Essas lentes de lama estão lo-
e o teor de carbonato em hachuras em um ambiente calizadas em sua grande maioria ao largo de Cabo
de sistema de informação geográfica. Frio. Já os cascalhos se concentram na plataforma
Esses dados integrados realçam o predomínio continental média e externa ao norte do Cabo de
do sedimento litoclástico principalmente na por- São Tomé e principalmente a norte de Itabapoana.
ção sul, no Cabo de São Tomé avança até a bor- A projeção da fácies lamosa de Cabo Frio em
da de plataforma e a norte se estende até o Rio direção à quebra da plataforma ocorre em função
Itapemirim. O sedimento litoclástico tem caráter das forçantes oceanográficas de nordeste e de su-
suavizado, com exceções dos bancos arenosos e doeste que se alternam ao longo do ano. Da mes-
grandes paleocanais. ma forma, a fácies arenosa do Cabo de São Tomé
Os sedimentos bioclástico e biolitoclástico pre- também é projetada em direção à quebra da pla-
dominam na plataforma continental média e exter- taforma pelos já referidos agentes de transporte
na na porção sul e adentram até a plataforma in- hidrodinâmicos. A existência de fácies lamosa em
terna a norte do Rio Itapemirim. A morfologia é de Cabo Frio e arenosa em São Tomé está relacionada
caráter rugoso e de vales incisos bem preservados. ao tipo de sedimento disponível. A região de São
Tomé, ao longo de todo o Quaternário, foi abaste-
cida pelo Rio Paraíba do Sul, como pode ser evi-
7. Discussão denciado pela extensa planície deltaica formada
A plataforma continental da Bacia de Campos por esse curso fluvial. Diferentemente, a região de
apresenta largura máxima de 120 km em sua por- Cabo Frio não dispõe de grandes rios que possam
ção sul, entre Cabo Frio e Macaé. Em direção ao depositar areias e existe uma grande área lamosa.
norte, observa-se que a plataforma torna-se mais Segundo Dornelles (1993), Dornelles et al. (2001)
estreita e rasa, atingindo uma largura média de e Saavedra (1994), essa lama seria oriunda do ma-
42 km com profundidade de aproximadamente 60 m terial em suspensão, aportado pelo Rio Paraíba do
na quebra da plataforma ao largo da foz do Rio Sul e, em parte, da Baía de Guanabara.
Itabapoana. As declividades se apresentam suaves, Ao sul do Cabo de São Tomé, na porção interna
variando de 0 a 0,5 grau e os maiores gradientes da plataforma continental (isóbatas de 10 a 40 m),
encontram-se nos vales incisos na porção nor- os gradientes máximos não ultrapassam 0,5 grau e
te da área ao largo de Vitória. Os gradientes me- se encontram pontualmente localizados ao largo
nores que 0,1 grau predominam em toda a área, de Cabo Frio e de Búzios. Os declives entre 0,1 e
Geolog ia e Geomorfolog i a 23
–100
–50
7680000
7680000
Rio
Itapemirim
–10
Rio –20
Itabapoana
–10 –20
7600000
7600000
Rio Paraíba
do Sul
Lagoa –50
Feia
–10
–100
–20
7520000
–50 7520000
Cabo HIDROGRAFIA
Frio ISÓBATAS
7440000
LAMA
0 48 16 24
km
UTM SIRGAS 2000 – ZONA 24S
0,25 grau na porção interna apresentam-se associa- carbonática que ocorre na forma de bancos car-
dos a ondas de areia e ao cúspide ao largo do Cabo bonáticos, lineamentos carbonáticos com direção
de São Tomé. Mais ao norte, observa-se a presença próxima ou paralela à atual linha de costa, linea-
de paleocanais entre a foz do Rio Itabapoana e Pon- mentos em forma de barras perpendiculares à li-
ta da Fruta. Estas feições podem apresentar declives nha de costa atual e patamares com relevo suave
que chegam a 0,7 grau (Pacheco, 2011). Os maiores (Figuras 2 e 6).
declives observados na plataforma continental ex- Os carbonatos são predominantemente cons-
terna variam entre 0,25 e 0,5 grau, se localizam entre tituídos pela associação de rodolitos/crostas de
Búzios e o Cabo de São Tomé e estão associados a algas calcárias e briozoários de formas coloniais
lineamentos de arenitos de praia, os quais se apre- variadas. Essas bioconstruções de algas vermelhas
sentam delimitados entre as isóbatas de 70 e 80 m podem ocorrer na forma de nódulos carbonáticos,
(Pacheco, 2011). Esses lineamentos têm sua origem que se constituem a partir de incrustações resul-
atribuída a arenitos de praia de um nível de mar tantes de laminações superpostas por sucessivos
mais baixo, tendo em vista sua semelhança morfo- episódios de crescimento. Esses carbonatos, por
lógica com os arenitos observados junto às praias sua vez, podem ser encontrados em suas formas
atuais. Feições semelhantes a esta, mas de dimen- livres, recebendo a denominação de rodolitos.
sões menores, foram descritas por Della Giustina Quando essas formas livres encontram uma super-
(2006) ao largo do Cabo de São Tomé. fície rígida a ela se fixam, desenvolvendo-se para
Ao norte da foz do Rio Itabapoana, a platafor- bancos carbonáticos (Pereira, 1998; Della Giustina,
ma é mais estreita, as bacias de drenagens conti- 2006; Cetto, 2009).
nentais são restritas e, portanto, contribuem com Neste setor da plataforma, observam-se dois
um pequeno aporte sedimentar. Nestes casos, a lineamentos carbonáticos de abrangência regio-
sedimentação carbonática predomina na platafor- nal. O primeiro ocorre entre as isóbatas de 120 e
ma interna (Figura 6). 150 m, ocupando a plataforma continental exter-
A partir das caracterizações morfométrica e na, e apresenta comprimento de aproximadamen-
sedimentológica, apresentadas no Modelo Digital te 160 km, que se estende do Cabo de São Tomé
do Terreno, e dos dados de sedimentologia e teor até Cabo Frio (Figura 8). O segundo lineamento
de carbonato, foi possível identificar feições como: ocorre entre as isóbatas de 70 e 80 m e apresen-
pontais arenosos; campos de ondas de areia; vales ta um comprimento aproximado de 110 km, que
incisos e lineamentos de arenitos de praia. Com o se estende para o sul, entre o Cabo de São Tomé
intuito de sistematizar a discussão, a área foi divi- e Macaé. Ambos lineamentos seguem orientação
dida em quatro setores (Figura 7). sudoeste-nordeste. A partir da interpretação do
O Setor 1 possui fundo rugoso, com lineamen- modelo sombreado, é possível observar que esses
tos e predomínio de carbonatos; o Setor 2 constitui lineamentos se encontram restritos a uma cota ba-
uma plataforma suavizada, em que predominam timétrica seguindo esse contorno regionalmente
sedimentos terrígenos; o Setor 3 consiste em uma (Pacheco, 2011).
área rugosa, com predomínio de cristas e linea Os bancos carbonáticos, os patamares carbo-
mentos carbonáticos com influência de aporte de náticos e as barras carbonáticas foram mapeados
material terrígeno; e o Setor 4, apresenta-se como por Della Giustina (2006), entre a Lagoa Feia e o
uma área rugosa, com vales incisos. Cabo de São Tomé, na plataforma continental ex-
terna. A partir da interpretação dos modelos de re-
7.1. Setor 1: Fundo rugoso com levo sombreado (Figura 8), observa-se que essas
lineamentos e predomínio de carbonatos feições se prolongam para o sul, principalmente
Este setor da plataforma possui seu relevo os bancos carbonáticos e os patamares carboná-
marcado por um padrão deposicional de origem ticos cujas ocorrências se verificam na plataforma
Geolog ia e Geomorfolog i a 25
Setor 4
7680000
7680000
Rio
Itapemirim
Rio
Itabapoana
7600000
7600000
Rio Paraíba
do Sul
Setor 3
Lagoa
Feia
7520000
7520000
Setor 2
Setor 1
Cabo
HIDROGRAFIA
Frio
DIVISÃO DE SETORES
SETOR 1: FUNDO RUGOSO COM PREDOMÍNIO
DE CARBONATOS
Lagoa de
SETOR 2: PLATAFORMA SUAVIZADA COM
Araruama
7440000
7440000
30 15 0 30
km
UTM SIRGAS 2000 – ZONA 24S
Figura 7. Setores da plataforma continental da Bacia de Campos definidos a partir de suas características mor-
fológicas e sedimentológicas.
240000 300000 360000 420000 480000
–10
–20
át tos
os
on en
ic
–30
rb m
7520000
Ca inea
–40
L
–50
os
át s
on o
ic
rb nc
Ca Ba
–60
os
on e
ic
rb ras
át
N
Ca ar
es , B
ar s
Lineamentos 0 3 6 12 18
m co
Carbonáticos
ta an
–70 km
Pa B
–80
7440000
7440000
–90
–100
Bancos
Carbonáticos
–110
ISÓBATAS INTERVALO
DE 10 M
–120 EXAGERO VERTICAL
–150 PLATAFORMA INTERNA 300X
–130 PLATAFORMA EXTERNA 10X
N
N
–140
0 4 8 16 24
Patamar 0 3 6 12 18 km
Carbonático km UTM SIRGAS 2000 – ZONA 24S
240000 300000 360000 420000 480000
Figura 8. Fundo do mar com superfícies rugosas representativas de bancos, lineamentos, barras e patamares carbonáticos.
Geolog ia e G eomorfolog i a 27
300000 360000
Paleocanal
7600000
7600000
Cúspide do Cabo
de São Tomé
Ondas
de Areia
–10
–20
–100
7520000
7520000
–50
0 4 8 16 24
km
300000 360000
Figura 9. Feições notáveis do Setor 2 da Bacia de Campos: ondas de areia, cúspide do Cabo de São Tomé
e paleocanal. Exagero vertical da plataforma interna 300X, UTM SIRGAS 2000, Zona 24S.
Geolog ia e G eomorfolog i a 29
Cetto (2009), ao fazer a interpretação dos pa- A partir do detalhamento dessa morfologia
leocanais de Itapemirim e Guarapari, associa-os associado à sedimentologia, foi possível compar-
a uma única bacia de drenagem de caráter re- timentar o ambiente de plataforma em quatro se-
gional que se desenvolveu a partir da Bacia do tores, que, por sua vez, apresentaram boa correla-
Rio Itapemirim, deslocando-se para nordeste. A ção entre um padrão de variação de rugosidade do
proximidade de áreas carbonáticas junto à cos- Modelo Digital do Terreno com as características
ta é observada pela alta rugosidade do terreno, sedimentológicas.
principalmente entre as isóbatas de 10 e 30 m. O No Setor 1, destacam-se os lineamentos carbo-
domínio do carbonato junto à costa é atribuído náticos nas isóbatas de 120 e 150 m, que apresen-
às pequenas bacias de drenagem implantadas no tam comprimento de aproximadamente 160 km,
Grupo Barreiras com rios de pequena carga sedi- e os identificados nas isóbatas de 70 e 80 m, com
mentar e também a uma plataforma continental 110 km de comprimento, ambos com orientações
estreita, e com um baixo gradiente, possibilitando sudoeste-nordeste. Estes, por sua vez, são indi-
o desenvolvimento dos carbonatos. Os vales inci- cativos de paleolinhas de praia que resistiram ao
sos, por sua vez, permanecem preservados, pois processo transgressivo que se desenvolveu após
não foram soterrados pela carga sedimentar nem o Último Máximo Glacial (UMG). As característi-
arrasados durante a transgressão holocênica. cas faciológicas, morfológicas e evolutivas ob-
servadas no Setor 3 se aproximam das do Setor
1, onde atualmente predomina a sedimentação
8. Conclusões carbonática.
A utilização de uma grande densidade de da- No Setor 2, destaca-se a morfologia suavizada
dos batimétricos integrados a informações de gra- dos sedimentos litoclásticos na plataforma conti-
nulometria e teor de carbonato permitiu maior de- nental interna e média da região sul. Junto ao Cabo
talhamento e inferência das feições morfológicas e de São Tomé, o cúspide arenoso, as ondas de areia
sedimentológicas do fundo do mar da plataforma e dunas evidenciam a ação de uma hidrodinâmica
continental da Bacia de Campos, já conhecidas na vigorosa modelando o relevo.
literatura, bem como a descoberta de novas fei- No Setor 4, destacam-se os paleocanais de Ita-
ções até então não mapeadas. pemirim e Guarapari, onde se observa atualmen-
A integração dos dados de granulometria, teor te alto desenvolvimento de rodolitos/crostas de
de carbonato e morfologia mostrou que existe pre- algas calcárias e briozoários de formas coloniais
domínio de sedimento litoclástico na plataforma variadas. Essas paleodrenagens depositaram seus
continental interna e média. Na altura do Cabo de sedimentos diretamente sobre o talude na região
São Tomé, esse sedimento avança até a borda da Norte da plataforma da Bacia de Campos.
plataforma e a cabeceira de cânions. Em direção
norte, domina a plataforma continental interna e
média até o Rio Itapemirim. A partir deste ponto, Agradecimentos
há predomínio carbonático. Quanto à morfologia, Os autores agradecem à Petrobras pelo aces-
as áreas cobertas por sedimento litoclástico têm so aos dados de sísmica 3D obtidos na plataforma
caráter suavizado, com exceções para os bancos continental, o que possibilitou melhor entendimen-
arenosos e grandes paleocanais. to sobre as feições geomorfológicas de superfície.
Os sedimentos bioclástico e biolitoclástico pre- Esta iniciativa constitui um marco significativo e de-
dominam na plataforma continental média e exter- veria, na medida do possível, ser seguida por outros
na na porção sul e adentram até a plataforma in- setores.
terna, a norte do Rio Itapemirim. A morfologia é de À Marinha do Brasil, através da Diretoria de Hi-
caráter rugoso, com vales incisos bem preservados. drografia e Navegação (DHN), pela permissão de
30 Geomorfologi a e sedi mentolog i a da plataforma cont inental
acesso aos dados das folhas de bordo impressas Agradecimentos também ao Banco de Dados Am-
e em meio digital da Bacia de Campos, assim co- bientais para a Área Petrolífera (Bampetro), pe-
mo pela disponibilização de sua infraestrutura da la disponibilização dos dados de sedimentologia,
Seção de Fotocartografia para a realização das fo- e à Petrobras, pela cessão dos dados de Sísmica
tografias das mesmas. Também agradecemos ao 3D para a composição do Modelo Digital do Ter-
suporte recebido para acesso às informações do reno. Os autores agradecem ainda à estagiária do
Banco Nacional de Dados Oceanográficos (BNDO) Laboratório de Geologia Marinha (UFF/LAGEMAR)
e ao Arquivo Técnico do Centro de Hidrografia Ingrid Mello, pela ajuda na digitalização das folhas
da Marinha. À Seção de Planejamento e Contro- de bordo.
le do Arquivo Técnico, pela inestimável ajuda na Aos revisores, nossos agradecimentos pelas
reunião das informações das folhas de bordo. críticas e sugestões.
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3
Geomorfologia do talude
continental e do Platô de São Paulo
Palavras-chave
Resumo
Este trabalho apresenta uma caracterização geomorfológica do fundo do mar do talude continental da Bacia
de Campos e do Platô de São Paulo adjacente. Essa caracterização teve como base um mosaico de dados bati-
métricos obtidos de 37 projetos sísmicos de 3D, 12 levantamentos de multibeam e batimetria de varredura por
interferometria de sonar, onde foi mapeado o refletor sísmico do fundo do mar (Schreiner et al., 2007/2008).
Mapas de curvas batimétricas, declividade e várias imagens de visualização 3D foram gerados para se
descrever a geomorfologia regional. A bacia foi dividida em três grandes áreas, com base na forma dos
perfis batimétricos e nas feições geomorfológicas características de cada uma delas.
Foram gerados, para os diversos cânions e feições de drenagem associadas, parâmetros morfométricos,
tais como comprimento, largura, desnível, declividade e sinuosidade.
Um mapa das falhas geológicas de raízes profundas e que atingem o fundo do mar mostra que os câ-
nions e a drenagem turbidítica associada estão relacionados com a tectônica salífera. Na parte distal da
bacia, as muralhas de sal, limitadas por falhas, modelam o fundo do mar.
Terraços e mounds de sedimentos foram esculpidos pela circulação oceânica. Cicatrizes e ravinas, con-
dicionadas pela topografia acentuada, foram geradas por processos gravitacionais, tais como deslizamen-
tos, escorregamentos e fluxos de detrito, e resultaram em depósitos com relevo irregular.
Almeida, A.G., Kowsmann, R.O. 2014. Geomorfologia do talude continental e do Platô de São Paulo. In: Kowsmann, R.O., editor.
Geologia e Geomorfologia. Rio de Janeiro: Elsevier. Habitats, v. 1. p. 33-66.
34 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo
ES
0
20
0 12,5 25 50
–1
km
00
21° S
21° S
21° S
DATUM: SIRGAS 2000
–1
–50
–100
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0
20
–2
0
B
–2100
Norte
Região
–2300
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–2600
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00 0 0
–2600 –2
50
–2200 0
RJ
22° S
22° S
22° S
–3000
–2600
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0
–5
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–2000
60 0
–2
–1500
–2500–2
–2 3
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70
–1 0 0
C –29
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CONTORNO BATIMÉTRICO
–2
F –3000
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30
PROVÍNCIAS FISIOGRÁFICAS
–1
0
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0
–23
10 PLATAFORMA CONTINENTAL
–1
0
0
–15
TALUDE CONTINENTAL
00
–2 5
24° S
800 00
–1700 –1 –2
0
SOPÉ CONTINENTAL
50
–2
Figura 1. Mapa batimétrico da Bacia de Campos com os limites das províncias fisiográficas e divisões geomorfo-
lógicas adotadas neste trabalho. O espaçamento entre as curvas batimétricas é de 50 m na plataforma continental
e de 100 m no talude continental e no Platô de São Paulo. Os perfis batimétricos A-B, C-D e E-F, característicos
das regiões norte, central e sul da bacia, respectivamente, são mostrados na Figura 5.
36 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo
ES
21° S
21° S
RJ
22° S
22° S
23° S
23° S
DECLIVIDADE (°)
0–2
3–4
5–6
7–8
9–10
11–12
13–14
15–16
17–18
N
24° S
24° S
19–20
21–22
0 12,5 25 50
23–24
km
DATUM: SIRGAS 2000 25–83
Figura 2. Declividade (em graus) do fundo do mar da Bacia de Campos. Baseado no Modelo Digital do Terreno
de Schreiner et al. (2007/2008).
Geolog ia e G eomorfolog i a 37
ocorreram preferencialmente nos períodos de nível Na Figura 4, é possível observar relação direta
relativo de mar baixo (Kowsmann e Viana, 1992). entre o desnível das bordas dos cânions e a largura
A Tabela 1 mostra as informações morfomé- do vale submarino. Neste gráfico, o Cânion Itape-
tricas dos cânions da Bacia de Campos. Os câ- mirim se destaca com os mais elevados valores de
nions Almirante Câmara e Goitacá apresentam as desnível e largura. Em geral, as declividades da li-
maiores médias dos desníveis das paredes, com nha de talvegue são maiores nas proximidades da
335 m na margem direita e 360 m na margem cabeceira e tendem a diminuir gradativamente até
esquerda, respectivamente. O Cânion Itapemirim a desembocadura dos cânions.
apresenta maior largura média, com 8.047 m. Os A região do talude continental ao Platô de São
cânions Tupiniquim e São Tomé apresentam os Paulo da Bacia de Campos foi dividida, neste traba-
maiores valores médios de declividade da parede, lho, em três grandes regiões (norte, central e sul) com
sendo 20 graus na margem esquerda do primei- características geomorfológicas peculiares, conforme
ro e 16 graus na margem direita do segundo. O proposto por Almeida e Kowsmann (2011).
Cânion Tabajara apresenta maior valor médio de A região norte compreende a região desde o
declividade da linha de talvegue. O Cânion Almi- limite norte da bacia, no Arco de Vitória (Rangel
rante Câmara apresenta maior comprimento, com et al., 1994, e Winter et al., 2007), até um ponto
36.068 m. Os valores diferentes de desnível e de- de inflexão da linha da quebra da plataforma, vis-
clividade das paredes opostas dos cânions, que to em mapa, próximo da margem esquerda do
conferem assimetria ao perfil transversal, estão Cânion Almirante Câmara. Nessa região, o talude
relacionados, em alguns casos, ao controle es- apresenta perfil côncavo (Figura 5, perfil A-B). Na
trutural de falhas geológicas e, em outros, à se- região norte, o talude superior ocorre numa faixa
dimentação de correntes de fundo, neste último com elevada declividade, de 5 a 10 graus, subja-
caso, como observado nos cânions do Grupo Nor- cente à quebra da plataforma, cujo limite inferior
deste (Viana et al., 1999). pode ocorrer entre as isóbatas de 300 m e 500 m,
O Platô de São Paulo é um platô marginal ano- dependendo da parte do talude. O talude mé-
malamente mais elevado que as áreas adjacen- dio apresenta declividade predominante de 2 a 4
tes da elevação continental. O Platô de São Paulo graus, é subjacente ao talude superior e sua base
apresenta envergadura regional, com largura de pode ocorrer entre 600 m e 1.100 m, dependendo
120 a 250 km (Figura 1). Do ponto de vista regional, da parte do talude. O talude inferior é subjacente
é plano, com declividade de 0 a 2 graus (Figuras 2 a este último, apresenta declividade predominante
a 3B), cujas principais irregularidades são causadas de 1 a 2 graus e seu limite inferior está situado en-
pela halocinese. Na Bacia de Campos, os limites tre as isóbatas de 1.300 m e 1.600 m.
leste e oeste são gradacionais: a oeste, com o ta- A região central da bacia, adjacente à região
lude continental, e a leste com o sopé continental, norte, estende-se até o Cânion Goitacá e englo-
através de um desnível de cerca de 200 a 500 m ba a região do talude que apresenta perfil convexo
(Castro, 1992), às vezes ausente, em profundida- (Figura 5, perfil C-D). Fazem parte os cânions: Al-
des de 3.400 a 3.000 m (Zembruscki, 1979; Castro, mirante Câmara, Tabajara, Curumim, Grussaí, Ita-
1992). O Platô de São Paulo é constituído por um pemirim, São Tomé e Goitacá. Este último faz parte
pacote de sedimentos lamosos (de fluxos de detri- dos cânions do Grupo Sudeste e marca a transição
tos e contornitos) sobre a camada de sal. O limi- para a região sul. Na região central, o talude su-
te da província de sal (com ou sem escarpamento) perior ocorre numa faixa com declividade de 2 a
não é coincidente com o limite do platô em toda a 6 graus, subjacente à quebra da plataforma e com
sua extensão. Em algumas regiões, o limite do Pla- limite inferior podendo ocorrer entre 400 m e 600
tô de São Paulo está um pouco além, sendo esta- m, dependendo da parte do talude. O talude mé-
belecido pela sedimentação pós-sal (Castro, 1992). dio apresenta declividade predominante de 1 a 4
Tabela 1. Morfometria dos principais cânions submarinos da Bacia de Campos.
Desnível Desnível Largura Declividade Declividade Declividade Forma
da margem da margem do vale da margem da margem da linha do Lâmina d’água predominante
esquerda* direita* submarino* esquerda* direita* talvegue* Comprimento da cabeceira do perfil
Nome do Cânion (metros) (metros) (metros) (graus) (graus) (graus) (metros) (metros) transversal
Almirante Câmara 335 285 3.592 15 15 3 36.068 115 U
Tabajara 152 139 1.028 14 13 6 23.460 425 U
Curumim 187 120 2.004 16 15 2 9.492 1.014 U
Grussaí 187 144 2.754 12 9 3 25.629 320 U
Itapemirim 402 332 8.047 9 10 3 30.697 150 U
São Tomé 212 222 2.387 16 16 4 25.000 230 U
Goitacá 320 360 4.000 7 10 2 42.497 566 U
Tupinambá 240 230 4.870 10 7 2 35.820 508 U
Temiminó 85 100 2.760 12 9 2 30.974 863 U
Tamoio 157 147 4.037 6 5 3 30.320 875 U
Tupiniquim 90 70 1.600 20 7 2 27.593 1.002 U
*Representa dados médios
Geolog ia e G eomorfolog i a 39
A
200000
180000
160000
140000
No de celas
120000
100000
80000
60000
40000
20000
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26
Declividade (em graus)
B
1000000
900000
800000
700000
No de celas
600000
500000
400000
300000
200000
100000
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26
Declividade (em graus)
Figura 3. Histograma de declividade da região do talude continental (A) e do Platô de São Paulo (B) da Bacia de
Campos.
graus e está situado subjacente ao anterior, po- A região sul é limitada a norte pelo Cânion Goi-
dendo seu limite inferior ocorrer em profundida- tacá, apresenta perfil côncavo (Figura 5, perfil E-F),
des entre as isóbatas de 1.200 m e 1.600 m. O talu- engloba os demais cânions do Grupo Sul-Sudeste
de inferior apresenta declividade predominante de e se estende até o limite sul da bacia, no Arco de
6 a 12 graus, está subjacente ao anterior e sua base Cabo Frio (Rangel et al., 1994; Winter et al., 2007).
pode ocorrer entre 1.900 m ou 2.200 m. Na região sul, o talude superior ocorre numa faixa
40 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo
600
500
400
+ ALMIRANTE CÂMARA
Desnível (m)
TABAJARA
300 – CURUMIM
+ GRUSSAÍ
+
+ ITAPEMIRIM
–++
200 + SÃO TOMÉ
–+––
GOITACÁ
TUPINAMBÁ
100 +
+
TEMIMINÓ
+
TAMOIO
TUPINIQUIM
+
0
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000
Largura (m)
com declividade de 4 a 20 graus entre a quebra da controle estrutural, fez-se o mapeamento das fa-
plataforma e a profundidade de 400 m ou 500 m, lhas profundas que, provavelmente, chegam ao
dependendo da parte do talude. O talude médio fundo do mar. O mapeamento foi realizado nos
é subjacente ao talude superior, apresenta declivi- mesmos volumes sísmicos 3D do mosaico de ba-
dade predominante de 2 a 12 graus e a base pode timetria apresentado neste trabalho, onde foram
ocorrer entre as isóbatas de 700 m e 1.300 m. O talu- traçados os polígonos dos planos das falhas que
de inferior é subjacente ao talude médio e apresenta atingem e estão entre os horizontes sísmicos do
declividade predominante de 1 a 4 graus, e o limite fundo do mar e do Marco Azul (Oligoceno Inferior)
inferior pode ocorrer entre 1.000 m e 1.900 m. (Figura 7).
Os nomes das principais feições geomorfoló- Neste trabalho, as falhas mapeadas receberam
gicas do talude continental e do Platô de São Pau- a denominação Fundo do Mar/ Marco Azul. Tendo
lo estão assinalados no modelo digital do fundo em vista a baixa resolução vertical dos dados sísmicos
oceânico da Bacia de Campos de Schreiner et al. para feições de subsuperfície, essas falhas são consi-
(2007/2008), na Figura 6. deradas subaflorantes no fundo do mar. A maior par-
te dessas falhas está associada à tectônica salífera e
ancorada em cristas de estruturas do sal como diápi-
3. Controle Estrutural do Relevo ros e almofadas situadas em subsuperfície.
Submarino Com algumas variações, existem duas direções
Além dos processos erosivos e deposicionais, predominantes para as falhas Fundo do Mar/Mar-
o revelo do fundo do mar tem sua forma contro- co Azul: nordeste-sudoeste e noroeste-sudeste.
lada por estruturas geológicas, tais como falhas Na região norte da bacia, entre o talude infe-
e domos de sal. Com o objetivo de representar o rior e o Platô de São Paulo, ocorre um conjunto de
Geolog ia e G eomorfolog i a 41
Talude
A Continental Platô de São Paulo B
500
0° 5°
0
2°
–500
1°
–1000 0°
–1500
–2000
0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000 80000 90000 100000 110000
–2500
–3000
0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000 80000 90000 100000 110000 120000 130000 140000
Talude
E Continental Platô de São Paulo F
500
0° 9°
0
4°
–500
3°
–1000
1°
–1500
0°
–2000
–2500
0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000 80000 90000 100000 110000 120000
Figura 5. Perfis batimétricos da região norte (perfil A-B), da região central (perfil C-D) e da região sul (perfil E-F).
Esses perfis apresentam escala em metros, exagero vertical de 10x, mencionados na Figura 1.
falhas com direção nordeste-sudoeste, paralelas à Cânion Itapemirim, que tem suas paredes controla-
direção da linha de quebra da plataforma e asso- das por falhas com direção leste-oeste, que passam
ciadas aos grábens de crista de sal. Os cânions do para a direção nordeste-sudoeste e tendem a se
Grupo Nordeste sofrem forte controle estrutural juntar com as falhas noroeste-sudeste que contro-
de falhas Fundo do Mar/Marco Azul, em especial o lam as paredes do Cânion São Tomé. Essa trajetória
42 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo
7700
0
Rio
–20
Ita
em
p
irim
ES Sistema Turbidítico
Marataízes
00
Debritos
–20
Rio Itab
a poana Leque Arenoso
Sistema Turbidítico Turbidítico
Itabapoana
Barreira de Sal
RJ
S
7600
7600
do Contorníticos
íba Almirante Câmara
Rio Para
Quissamã
Salio da
na
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São Tomé
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cia
on Expostos por
Plataforma Pa
le
Ca
rb Halocinese
a
Lim
m
Continental or Cicatrizes de
af
Deslizamento
at
Pl
Calha Distal do
7500
7500
Almirante Câmara
Talude
Mound Contornítico
Depósitos Lençol Arenoso
Contorníticos Contornítico Cadeias de Diapirismo
Salino
Goitacá
Tupinambá
Temiminó
Tamoio Grupo de Cânions SE
Cânions do Grupo Tupiniquim Imaturos
Sul-Sudeste
os
rit
eb
D
de
al
nt
e
Bacia de Campos
00
Av
–2
7400
7400
Ondas de Sedimento
00
de o
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–20
t riz me N
ca iza
Ci esl
D
0 10 20 30 40 50
km
Figura 6. Modelo digital da geomorfologia indicando as principais feições geomorfológicas do fundo do mar da
Bacia de Campos (Schreiner et al., 2007/2008).
Geolog ia e Geomorfolog i a 43
ES
0
20
–1
21° S
21° S
–50
–100
–2 2 0
0
–2300
–2100
–2200
7 00
–2
–2600
–4 0
0 –3
–6
00
00
–2 1 –2 5
00 00
–2 5
–2600
RJ
00
22° S
22° S
–2200
–3000
–2600
–2
00
0
–5
60 0
0
–2000
–2500 –25
–2
0
–1500
0
–23
70
–100
–2 9
00 –2
0
90
40
0 0 0
–1
–9
0
00
–1
00
–7
00 0 0
–8
90
10
–2
–1
20 0
–2700 –28
–2 60
0
00
0 0
–1
–5
0
00
0
00
0 0
–1
21 –260
–3
0 –
90
23° S
23° S
–100
0
–2
0
00
80
–2
–2
0
80
–1
0
40 FALHAS GEOLÓGICAS
–2 00
2 5
–
CONTORNO BATIMÉTRICO
8 00
–2
0
70
00
0
0
–3 0 0
–2
90
–2
–2
0
30
–1
00
–2 3
N
24° S
24° S
0 –1800 0 00
–170 –2
0
0 12,5 25 50
50
km
–2
Figura 7. Mapa de falhas geológicas cujos planos atingem o fundo do mar e o Marco Azul (Oligoceno Inferior).
44 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo
forma uma grande estrutura em forma de ferradu- que, no caso do Almirante Câmara, altera o curso
ra, a qual foi fielmente reproduzida através de uma em quase 90 graus em relação à direção de seu
modelagem física em caixa de areia por Cobbold cânion. A calha do Almirante Câmara, que atra-
e Szatmari (1991), com a utilização de silicone no vessa todo o Platô de São Paulo, coincide com a
lugar do sal e areia para simular a cunha de sedi- falha transcorrente que desloca o sal em direção
mentos progradantes do Mioceno (Figura 8). De- offshore, em um movimento semelhante ao de
monstraram claramente que o sistema de falhas em uma gaveta, em relação às áreas de sal vizinhas
forma de ferradura, que deu origem aos cânions, foi (Figura 9).
formado pela fluência do sal sob o peso da cunha Na parte distal do Platô de São Paulo, onde o
progradante. acúmulo de sal foi maior em razão da sua evacua
Outro controle estrutural marcante do sal ção do talude por fluência, o relevo do fundo do
consiste no trend noroeste-sudeste das calhas mar responde praticamente à morfologia do sal.
dos sistemas Almirante Câmara e São Tomé, no Isso é bem ilustrado na Figura 10, onde as formas
Platô de São Paulo. Ambas as calhas no Platô de do topo estrutural do sal e a dos contornos bati-
São Paulo são delimitadas por muralhas de sal, métricos são coincidentes.
2 cm
A B
25 km
1
12,5
0
0
Figura 8. A) Falha em ferradura, formadora dos cânions no talude continental da região central da Bacia de Cam-
pos, representada pela linha azul tracejada; B) falha reproduzida no experimento de Cobbold e Szatmari (1991). A
progradação do talude sobre a camada de sal, que resultou em sua fluência radial, enrugamento e na formação
da falha em colher, é simulada aqui através de areia (parte escura) e silicone (parte clara).
Geolog ia e Geomorfolog i a 45
A Fa
lh aT
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–22° re
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–24°
Di ns
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50 km
E
B
Al
m
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m
ar
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Sã
oT
om
é
15 km
Figura 9. Controle estrutural das muralhas de sal e das calhas dos sistemas turbidíticos. A) Topo estrutural do
sal, mostrando seu deslocamento em direção offshore em movimento de gaveta, através de falhas transcorrentes
(Figura modificada de Meisling et al., 2001 com nomenclatura segundo Waisman, 2008); B) Geomorfologia do
fundo do mar mostrando as calhas turbidíticas dos Sistemas Almirante Câmara e São Tomé e muralhas de sal
adjacentes, cujo trend é controlado pela falha a norte da Figura 9A. Notar o desvio sofrido pela calha do Almirante
Câmara em relação à direção de seu cânion.
46 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo
Padrão de Coordenadas
HORIZONTE DO
TOPO DO SAL EM
TEMPO DUPLO (ms)
3602
Calha Distal do
Almirante Câmara
22°15’S
6953
33
60 Minibacias
3200
22°30’S
Muralha de Sal
0
00
336 em Subsuperfície
384 40
3520 80 0
36
22°45’S
N
13 km
Figura 10. Topo estrutural do sal (padrão colorido) com os contornos em tempo duplo do fundo do mar (em
preto) superpostos, no extremo leste da Bacia de Campos. Notar coincidência entre ambos, mostrando que, na
região distal da bacia, a topografia do sal controla o relevo do fundo do mar.
No Platô de São Paulo, na região sul da bacia, Almirante Câmara. Essa região apresenta carac-
um trend de falhas Fundo do Mar/Marco Azul de terísticas geomorfológicas que a diferenciam das
direção nordeste-sudoeste se intercala e avança outras regiões da Bacia de Campos, sendo as prin-
talude acima, controlando a evolução morfológica cipais: a forma côncava do perfil batimétrico, a pre-
dos cânions do Grupo Sudeste, em particular a for- dominância de extensos canais submarinos que se
ma de cotovelo do Cânion Goitacá. prolongam até o Platô de São Paulo e a grande
ocorrência de cicatrizes de remoção e ravinamento
do talude médio e inferior (Figura 11).
4. Geomorfologia do talude O valor médio da declividade do talude con-
continental e Platô de São Paulo tinental próximo à quebra da plataforma é de 7
da região Norte da Bacia de graus e diminui para 1 grau no Platô de São Pau-
Campos lo. Essas características podem ser atribuídas ao
A região norte do talude continental da Ba- predomínio de rochas carbonáticas na plataforma,
cia de Campos está limitada, a norte, pelo Arco tornando-a mais íngreme, e ao pouco aporte de
de Vitória e, a sul, pela borda esquerda do Cânion sedimento.
Geolog ia e Geomorfolog i a 47
Cristas Falhadas de
Diápiros de Sal em
Subsuperfície
5 km
Complexo de Minibacias
Cicatrizes Leques de Depósitos entre Domos
N
Semicirculares de Movimento de
Massa Coalescentes
Figura 11. Imagem 3D em perspectiva do relevo sombreado do fundo do mar da região norte da Bacia de Cam-
pos (exagero vertical × 5, iluminação de Norte, escala varia com a profundidade na imagem). Feições geomorfoló-
gicas de destaque: o complexo de cicatrizes semicirculares; os leques de depósitos de movimento de massa com
lobos coalescentes; as cristas falhadas de diápiros de sal existentes em subsuperfície; e as minibacias entre domos.
Nessa região, a plataforma apresenta o maior da plataforma, ocorre uma faixa paralela a esta cuja
estreitamento da bacia, onde a distância da quebra declividade é de cerca de 20 graus, controlada pe-
da plataforma à costa varia de 43 a 73 km. lo substrato rígido da plataforma carbonática. Ainda
A linha da quebra da plataforma, no limite nor- no talude superior, no sentido da bacia, a declivida-
te, apresenta direção nordeste-sudoeste, e varia de diminui para valores médios de 12 graus. A de-
gradativamente para a direção noroeste-sudeste, clividade continua diminuindo gradativamente no
fazendo aumentar a largura da plataforma conti- talude médio para valores próximos de 7 graus, e 2
nental na parte central da bacia. graus no talude inferior. Na região do Platô de São
As feições mais importantes dessa região são Paulo, a declividade é de cerca de 1 grau.
os canais submarinos que compõem os sistemas A quebra da plataforma apresenta uma franja
turbidíticos de Marataízes e Itabapoana. de canais e ravinas retilíneas, os quais compõem
um sistema de drenagem de canais tributários ra-
4.1. Geomorfologia dos canais do mificados, que convergem no talude médio e se
Sistema Turbidítico Marataízes e das prolongam até o pé do talude, de onde parte um
áreas adjacentes canal até o Platô de São Paulo.
O sistema de canais que compõem o Sistema Os canais submarinos 1 e 2 (Figura 12), bem
Turbidítico Marataízes está instalado na região nor- como seus tributários, fazem parte do Sistema Tur-
te da bacia, cuja direção da linha da quebra da pla- bidítico Marataízes. A cabeceira desses canais está
taforma é nordeste-sudoeste. Os valores médios de situada na linha da quebra da plataforma, de onde
declividade do fundo do mar de áreas entre canais provêm os sedimentos arenosos que alimentam os
são os mais elevados da bacia. Próximo à quebra depósitos turbidíticos desses canais.
48 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo
Franja de Canais
Quebra da e Ravinas
Plataforma Retilíneas
Canais
Canais do Tributários
Sistema Menores
Turbidítico 2
Marataízes
1
3 4
Canais Sinuosos
no Talude Inferior
1 km
N Platô de
São Paulo
Figura 12. Imagem em 3D do relevo sombreado do fundo do mar na área do talude continental onde está situa
do o Sistema Turbidítico Marataízes (exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia com a profundidade
na imagem). Nessa figura, observam-se os canais tributários que alimentam o sistema turbidítico com sedimentos
provenientes da plataforma continental. Observar a mudança do padrão dos canais, de retilíneos, no talude supe-
rior, para sinuosos, no talude inferior.
Em sua região proximal, na quebra da plata- dos canais tendem a diminuir, salvo nos locais de
forma, o canal 1 encontra-se ramificado em três bifurcação, que tornam os canais mais largos. O ca-
canais. Na isóbata de 500 m, a largura desses ca- nal tributário maior do canal 1 nesse local apresen-
nais varia entre 600 e 750 m. Os desníveis das ta largura de 1.180 m, maior desnível na margem
bordas variam de 100 a 130 m. A declividade das esquerda de 70 m contra 50 m. A declividade das
paredes é em torno de 24 graus e, do talvegue, bordas é de cerca de 7 graus e, do talvegue, de 7
de 6 graus. graus. O tributário menor tem largura de 200 m,
O canal 2 também se apresenta ramificado em desníveis entre 25 e 30 m e perfil transversal em
três canais na cabeceira. Na isóbata de 450 m, a U. A declividade das paredes é de 12 graus e, do
largura desses canais está em valores entre 730 m talvegue, é de 5 graus.
e 1.060 m. Os desníveis de suas bordas variam de No talude inferior, os canais 1 e 2 se tornam si-
65 m a 125 m. Nessa profundidade, todos apresen- nuosos e com diques laterais (levees). Nessa região,
tam perfil do canal em V com um pouco de assime- a declividade do talude é mais baixa, em torno de
tria. A declividade média das paredes desses canais 2 graus, e ocorre maior acúmulo de sedimentos
é de 16 graus. A declividade da linha do talvegue é arenosos e lamosos trazidos da plataforma e do
de cerca de 10 graus. talude superior.
No talude médio, em torno da isóbata de No talude inferior, todos esses canais tributá-
1.100 m, ambos passam a ter dois canais tributá- rios confluem até o estabelecimento de um canal
rios. À medida que descem o talude, as dimensões principal na profundidade de 1.650 m (Figura 13).
G eolo g ia e G eo morfolo gia 49
Esse canal apresenta largura de 900 m e desnível dos canais 1 e 2 e drenam o talude, porém com
das bordas de cerca de 30 m. A declividade das grau de incisão menor.
paredes é de 20 graus e, do talvegue, de 4 graus. No Platô de São Paulo, o canal conectado do
Além do Sistema Turbidítico Marataízes, ocor- Sistema Turbidítico Marataízes adquire perfil trans-
rem mais a norte outros importantes canais sub- versal muito suave e alargamento da calha (Figura
marinos (canais 3 e 4 da Figura 12), embora mais 13). Esse canal corre na direção nordeste-sudoeste
restritos ao talude inferior. Os canais 3 e 4 com- com sinuosidade e pequenos depósitos em seu in-
põem sistemas de canais de padrão semelhante ao terior do tipo barra de meandro e diques marginais
Quebra da
Plataforma
Sistema
Turbidítico
Marataízes
Cicatrizes de
Remoção
do Talude
2 km
N Canais
Abandonados por
Avulsões Laterais
Figura 13. Imagem em 3D do relevo sombreado do fundo do mar do talude onde se situam o Sistema Turbidítico
Marataízes e o Platô de São Paulo (exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia de acordo com a profun-
didade na imagem). No platô, são observados três canais que já estiveram conectados aos canais do talude e que
foram abandonados por avulsões laterais. O canal mais moderno corre na direção nordeste-sudoeste, desviando-se
dos obstáculos formados por acumulações de depósitos de movimento de massa.
50 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo
(levee). Na isóbata de 1.697 m, esse canal apresenta 4.2. Geomorfologia dos canais do
largura de 592 m, desnível das margens de 25 m e Sistema Turbidítico Itabapoana e
assimetria das paredes com declividades de 4 graus das áreas adjacentes
e 8 graus, com o lado mais íngreme apresentando O Sistema Turbidítico Itabapoana consiste em
maior erosão e o outro, maior deposição. Aqui a de- dois grandes canais. O mais antigo, com a calha
clividade do talvegue é de 1 grau. Os demais canais abandonada (sem conexão com a cabeceira ori-
identificados nessa região do platô estão abando- ginal) e direção leste-oeste, teve a cabeceira cap-
nados. Esses canais se dispersam de forma radial a turada pela formação de outro grande canal que
partir dos canais do Sistema Turbidítico Marataízes passou a correr na direção sudeste-noroeste, pa-
(Figura 13). Aparentemente, foram abandonados ra contornar depósitos de movimento de massa
por avulsões laterais causadas pelo acúmulo sedi- em subsuperfície (Figura 14). Este é aqui denomi-
mentar que bloqueia e leva à formação de outro nado de canal principal da região norte da Bacia
canal para ultrapassar os depósitos lamosos dos de Campos, pois, em comparação com os demais,
canais mais antigos. Os obstáculos formados pelos apresenta características de que teve maior ativi-
depósitos preexistentes de amplos leques lamosos dade de transporte e erosão por incisão. Este canal
de fluxo de detritos (debris flow) do tipo desintegra- principal volta a cortar a calha do canal mais antigo
tivo e blocoso conferem aspecto rugoso ao fundo na isóbata de 1.470 m e continua se prolongando
do mar. Estes fazem parte do grande avental de de- até o Platô de São Paulo, já com a calha bem suavi-
pósitos de movimento de massa presente em prati- zada, com largura de 8.000 m e diversos pequenos
camente todo o pé de talude da Bacia de Campos. canais interiores de padrão anastomosado.
Quebra da
Pockmarks Alinhados Plataforma
Sistema de
Canais a Sul
do Sistema
Turbidítico de
Marataízes
Ravinas Captura
de Canal
1 km
Figura 14. Imagem em 3D do relevo sombreado do fundo do mar da região do talude continental onde está
situado o Sistema Turbidítico Itabapoana (exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia com a profundi-
dade nas imagens). Nesta figura podem ser observados os pockmarks alinhados e as ravinas que evoluem destes
no talude superior. Uma grande cicatriz se estende desde o talude superior até o inferior, cruzando um sistema de
canais ramificados com as cabeceiras na quebra da plataforma.
Geolog ia e G eomorfolog i a 51
No talude médio a sul do Sistema Turbidítico Esse complexo é constituído por várias cicatrizes
Itabapoana ocorre uma série de pockmarks alinha- erosivas de diferentes formas e tamanhos. Além
dos na direção perpendicular em relação às linhas das ravinas retilíneas mencionadas no tópico an-
batimétricas. Mais para o sul, esses pockmarks ten- terior, destacam-se na paisagem submarina duas
dem a se aglutinar com o crescimento por colapso, grandes ravinas com formas distintas (Figura 15).
até formar as grandes ravinas (cerca de 3.500 m A grande cicatriz observada na Figura 15A
de comprimento) observadas no talude médio (Fi- possui perfil transversal assimétrico, pois o talve-
gura 14). Essas ravinas representam provavelmente gue é coincidente com a base da parede a norte da
um estágio evolutivo anterior ao da formação dos cicatriz, que é mais íngreme, 5 graus contra 3 graus
canais encontrados nos sistemas turbidíticos an- da parede a sul. O desnível da parede a sul é maior,
teriormente mencionados. No talude superior, es- 200 m contra 100 m da parede oposta. A cabeceira,
sas ravinas apresentam largura de cerca de 400 m, que é fortemente controlada por uma falha geoló-
desnível das bordas de 50 a 80 m e perfil transver- gica Fundo do Mar/Marco Azul com direção no
sal em forma de V. A declividade de suas paredes roeste-sudeste, tem largura de 5.600 m, desnível
varia de 13 a 20 graus e a do talvegue é cerca de de 70 m e declividade de 12 graus. Na base, ad-
9 graus. quire perfil transversal em “U”, largura de 3.700 m,
No talude continental, entre os sistemas turbi- desníveis das bordas de cerca de 80 m e declivida-
dídicos de Itabapoana e Marataízes, está instalado de das paredes de 4 graus. A jusante, ocorre um le-
outro sistema de canais ramificados com grau de que de movimento de massa constituído por fluxo
entalhamento menor do que estes últimos e com de detritos e blocos lamosos oriundos do descas-
cabeceiras na quebra da plataforma (extremidade camento do talude.
direita da Figura 14). Do talude superior ao médio, A grande ravina observada na parte central da
onde a declividade, muito elevada, varia de 18 para Figura 15B tem uma calha bem desenvolvida e en-
6 graus, os canais são retilíneos. Até a profundida- caixada por paredes controladas por falhas rasas.
de de cerca de 840 m, ocorrem dois canais duplos Apresenta 7.300 m de comprimento e 1.250 m de
paralelos entre si e de perfil transversal em V. Sua largura, sendo o perfil transversal em V. As bordas
largura varia pouco, apresentando valores médios apresentam desnível de cerca de 110 m. As decli-
de 300 m. O desnível das bordas apresenta valores vidades médias da cabeceira e das paredes laterais
médios de 50 m, declividade das paredes de cerca são de 10 graus e 13 graus, respectivamente. Essa
de 20 graus e do talvegue de 8 graus. Diversos di- feição geomorfológica representa um estágio mais
minutos canais ocorrem nesse sistema, alguns com evoluído das ravinas existentes imediatamente a
cabeceira na quebra da plataforma e outros com norte, bem como uma fase anterior à de um cânion
cabeceira em pockmarks nas imediações do talude bem desenvolvido. Ainda na Figura 15B, no pé do
superior. Esses diminutos canais em geral apresen- talude é possível observar duas cicatrizes semicir-
tam largura de 200 m e desnível das bordas em culares bem definidas, que atuam na remoção de
torno de 14 m. As declividades das paredes e do material do talude.
talvegue são de cerca de 9 e 6 graus, respectiva- Entre essas grandes feições, ocorrem várias ci-
mente. catrizes de remoção menores geneticamente asso-
ciadas a pockmarks e ao descascamento do talude
4.3. Geomorfologia do complexo de médio e superior. Algumas cicatrizes apresentam
cicatrizes de remoção da região norte forma de anfiteatro e podem evoluir para cicatrizes
da Bacia de Campos maiores, devido à erosão continuada das bordas.
O complexo de cicatrizes de remoção da região Também ocorrem diversas diminutas ravinas no ta-
norte da Bacia de Campos está situado no talude lude superior, com largura de 100 m, 50 m de des-
continental, ao norte do Cânion Almirante Câmara. nível e 3 graus de declividade das bordas.
52 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo
1 km 1 km
N N
Figura 15. Imagens em perspectiva do relevo sombreado do fundo do mar do complexo de cicatrizes de remo-
ção da região norte da Bacia de Campos (exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia com a profundida-
de na imagem). A) Grande cicatriz de remoção e grande leque de fluxo de detrito a jusante. B) No talude superior
ocorre uma grande ravina, com calha bem desenvolvida e com cabeceira em forma de anfiteatro, e no talude
inferior podem ser observadas duas cicatrizes em forma de anfiteatro.
Sistema Turbidítico
Itabapoana
Depósitos de Lobos
Coalescentes de Debritos
Canais Abandonados
por Avulsões Laterais
Figura 16. Imagem 3D em perspectiva do relevo sombreado do fundo do mar com destaque para a área do Platô de São Paulo na região norte da Bacia
de Campos (exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia com a profundidade na imagem). Na parte central é possível observar os prolonga-
mentos dos canais conectados à grande ravina do complexo de cicatrizes de remoção do talude e ao Sistema Turbidítico Itabapoana. Na parte inferior,
são observados os domos halocinéticos, que controlam a sinuosidade daqueles canais.
54 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo
Plataforma
Continental
Cânion Almirante Câmara
Terraço Erosivo Cânion Tabajara
da Plataforma Cânion Grussaí
Carbonática
Cânion Itapemirim
Cicatrizes de Talude
Descascamento Continental
do Talude Cânion
Talude São Tomé
de Perfil
Convexo
(Tobogã)
N
5 km
Cadeias de
Faixa do Complexo de Platô de São Paulo Diapirismo
Cicatrizes de Remoção Halocinético
do Pé do Talude
Figura 17. Imagem 3D em perspectiva do relevo sombreado do fundo do mar da região central da Bacia de
Campos (exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia com a profundidade na imagem). Nesta figura,
observam-se os cânions do Grupo Nordeste no talude continental e a região de domínio dos domos halocinéticos
no Platô de São Paulo.
Geolog ia e Geomorfolog i a 55
isóbatas de 300 m e 500 m do talvegue, o vale sub- Figura 18. Imagem em perspectiva do relevo som-
marino do Cânion Almirante Câmara apresenta- breado do fundo do mar do Cânion Almirante Câmara
se mais estreito, com largura de cerca de 950 m, (exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia
de acordo com a profundidade na imagem).
desnível das paredes em torno de 215 m e razão
largura/desnível com média de 5, que indica alto
grau de incisão do vale submarino. Nessa área, as Na última porção do cânion, na área da desem-
paredes do cânion apresentam os mais elevados bocadura, entre 900 m e 1.200 m, a largura do va-
valores de declividade. A margem direita é relativa- le submarino atinge 4.700 m e desnível médio das
mente mais íngreme, com 28 graus contra 20 graus bordas de 360 m. A assimetria do perfil transversal
da margem esquerda. A declividade média ao lon- do vale submarino ocorre pelo maior desnível (média
go da linha de talvegue é de cerca de 6 graus. 430 m) e a menor declividade (média 10 graus) da
Na porção média do cânion, entre as profundi- margem esquerda e menor desnível (média 300 m)
dades de 500 m e 900 m do talvegue, o vale sub- e maior declividade da margem direita (média 16
marino sofre alargamento. Sua largura varia de graus). Essa assimetria é atribuída aos depósitos con-
2.600 m a 3.500 m, atingindo largura máxima torníticos (Viana et al., 1999) que progradam da mar-
de 6.100 m onde a margem esquerda apresenta ter- gem esquerda para o interior da calha do cânion.
raços em degraus de dois níveis principais formados
pelo abatimento causado por escorregamentos da 5.2. O canal interior do Cânion Almirante
borda (Figura 18). Nessa área, o desnível da borda Câmara
do vale submarino também é máximo, com 480 m. O canal submarino no interior do vale sub-
O valor médio dos desníveis é de 350 m. marino do Cânion Almirante Câmara se estende
56 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo
N
Vale Submarino
Que Contin
bra
da P ntal
Canal Interno
1 km
lata
e
mafor
ra
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nA aja mi
nio Tab uru
Câ n C
nio n ion
Câ Câ
Sistema Turbidítico
Almirante Câmara
Figura 19. Imagem do relevo sombreado do fundo do mar do talude continental na área dos cânions Almirante
Câmara, Tabajara e Curumim (exagero vertical × 5, iluminação de norte).
desde a cabeceira do cânion até depois de sua Ao longo de toda sua extensão, o canal interior
desembocadura (Figura 19). Esse longo canal do Cânion Almirante Câmara é bordejado por ín-
apresenta sinuosidade enquanto é interior ao câ- gremes cicatrizes semicirculares formadas pelo co-
nion e se torna mais retilíneo fora do cânion, a lapso das bordas do canal. As cicatrizes se revezam
partir da lâmina de água de 1.450 m. A partir de nos lados opostos da borda do canal, conferindo a
então, sofre inflexão para sudeste, a fim de des- alta sinuosidade do talvegue do canal interior.
viar de um domo halocinético no Platô de São A partir da lâmina d’água de 830 m, um segun-
Paulo, e vai de encontro ao canal do Cânion Taba- do canal, ainda incipiente, surge da base da pare-
jara, para formar o complexo de canais do Sistema de esquerda e se estende com sinuosidade muito
Almirante Câmara, a jusante. baixa na parte central da calha e paralelamente ao
A envoltória desse canal interior apresenta si- canal interior principal, que, a partir dessa região,
nuosidade moderada (1,2), que acompanha a sinuo corre junto à borda direita da calha do cânion. Am-
sidade da calha do cânion, porém seu talvegue bos os canais se ramificam em vários pequenos ca-
apresenta sinuosidade elevada (1,3). O desnível das nais entrelaçados na frente da desembocadura do
bordas varia de 80 m a 255 m (média de 134 m). O cânion.
canal não apresenta assimetria significativa em seu A região do talude entre o Cânion Almirante
perfil transversal. O desnível da parede da margem Câmara e o Cânion Tabajara apresenta perfil con-
esquerda é, em média, 144 m, e o da margem direi- vexo suave, com declividade que varia de 2 graus
ta, 124 m. A declividade média da parede da mar- a 3 graus. Na base do talude, aproximadamente
gem esquerda é de 23 graus e, da parede da mar- na profundidade de 1.184 m, destaca-se a escarpa
gem direita, é de 24 graus. A declividade média ao de uma cicatriz erosiva, como a principal irregu-
longo da linha do talvegue é de 6 graus. A largura laridade da área. Essa cicatriz erosiva está dispos-
do canal varia de 1.230 m próximo à cabeceira do ta na direção noroeste-sudeste, gera um desnível
cânion e diminui para 615 m na desembocadura. O de cerca de 170 m, possui 8 graus de declividade
valor médio da largura do canal é de 820 m. e atinge as bordas de ambos os cânions citados
Geolog ia e Geomorfolog i a 57
anteriormente. Acima dessa feição, ocorrem de- do perfil transversal. A presença de suaves cicatri-
pressões circulares muito suaves (pockmarks), de zes semicirculares no leito próximo à cabeceira in-
cerca de 900 m de diâmetro (Figura 19). dica o processo de erosão remontante ocorrido no
desenvolvimento do cânion, ao longo de um linea-
5.3. Geomorfologia do Cânion Tabajara mento de pockmarks.
O Cânion Tabajara está situado a sul do Cânion Entre 660 m e 1.200 m, na porção mediana
Almirante Câmara, apresenta baixa sinuosidade do cânion, o leito do cânion apresenta degraus
(1,1), seu vale submarino tem direção nordeste- formados por cicatrizes semicirculares provoca-
-sudoeste e não atravessa a quebra da plataforma das pela ruptura do material do leito. A jusante
(Figura 20). Trata-se de um cânion estreito, com da profundidade de 748 m, os valores tornam-
largura média de 1.400 m, com pouca variação. -se mais acentuados, a declividade média do
A cabeceira está situada na isóbata de 497 m. Até talvegue aumenta para 5 graus, assim como o
a profundidade de 748 m do talvegue, o cânion desnível e a declividade das bordas. As bordas
apresenta características morfológicas suaves, on- do cânion tornam-se bem definidas e com per-
de suas bordas não são bem definidas, e a decli- fil transversal simétrico e em forma de U, po-
vidade média do talvegue é de 3 graus. Nesse in- rém a borda esquerda apresenta maior desnível
tervalo de lâmina d’água, a largura do cânion varia (151 m) que a da direita (138 m). A largura do câ-
entre 1.500 e 1.000 m, os desníveis das bordas au- nion se mantém em torno de 1.000 m, e a média
mentam gradativamente até atingir 180 m e a ra- da razão largura/desnível, igual a 8, indica alto
zão largura/desnível de 25 indica o caráter suave grau de incisão do vale submarino.
Cânion Tabajara
Cânion Grussaí
Cânion Itapemirim
Cânion Curumim 1 km
N
1 km
Figura 20. Imagem do relevo sombreado do fundo Figura 21. Imagem do relevo sombreado do fun-
do mar em perspectiva dos cânions Tabajara e Curu- do do mar em perspectiva dos cânions Itapemirim e
mim (exagero vertical × 5, iluminação de norte, a esca- Grussaí (exagero vertical × 5, iluminação de norte, es-
la varia com a profundidade na imagem). cala varia com a profundidade na imagem).
58 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo
A região do talude continental entre os câ- as bordas são íngremes, com poucas irregularida-
nions Tabajara e Grussaí tem um perfil convexo des, e apresentam valores de declividade médios
típico. Apresenta valores mais baixos de declivi- de 13 graus na margem esquerda e de 12 graus
dade no talude superior, variando de 1 a 2 graus, na margem direita. O fundo do cânion não apre-
e se torna mais íngreme à medida que vai se apro- senta muitas irregularidades e possui declividade
ximando do pé do talude, com declividade varian- média de 3 graus.
do de 2 a 10 graus no pé do talude continental. Os
elevados valores de declividade no talude inferior 5.5. Geomorfologia do Cânion Itapemirim
se devem a uma grande cicatriz de remoção, pa- O Cânion Itapemirim possui ampla cabeceira
ralela às isóbatas, cujo topo encontra-se na pro- que atravessa a quebra da plataforma continen-
fundidade de 1.340 m. Essa feição atinge a borda tal, com largura máxima de 4.500 m. A cabecei-
direita do Cânion Tabajara e a borda esquerda do ra é constituída por um complexo de anfiteatros
Cânion Curumim. que, de forma ramificada, endentam a plataforma
O Cânion Curumim tem direção da calha nor- continental. A parte mais rasa da cabeceira está a
deste-sudoeste (Figura 20), a cabeceira encontra- 150 m de profundidade. As paredes da cabeceira
-se a 1.050 m de profundidade e a largura varia de apresentam-se muito irregulares devido à inten-
1.500 m próximo à cabeceira, até cerca de 2.000 m sa dissecação por cicatrizes de remoção. A decli-
próximo à boca da calha. O desnível da margem vidade da parede da cabeceira é relativamente
esquerda é de 187 m, e o da direita, 120 m. A razão baixa (7 graus), se comparada com as dos cânions
largura/desnível é 13, e o perfil transversal apre- adjacentes, e o desnível da borda da cabeceira até
senta-se em forma de “U”. A declividade das pare- o talvegue do vale submarino é de 470 m.
des esquerda e direita é de, respectivamente, 16 e O eixo principal do vale submarino possui dire-
15 graus. A declividade do leito é de 2 graus. ção geral leste-oeste e comprimento de 30.697 m.
A calha principal é retilínea. A largura do vale sub-
5.4. Geomorfologia do Cânion Grussaí marino varia de 7.880 na parte central a 5.500 m
O Cânion Grussaí possui o vale submarino com próximo da boca do cânion. A razão largura/desní-
direção geral leste-oeste e em forma de arco (Figu- vel é 22, indicando baixo grau de incisão. A parede
ra 21), devido ao forte controle estrutural de uma esquerda apresenta irregularidades morfológicas
grande falha profunda que também passa pela ca- em degraus de terraços erosivos, tendo como valo-
beceira do Cânion Itapemirim e se estende, contro- res médios de declividade e desnível, 9 graus e 400
lando a calha do Cânion São Tomé, localizado mais m, respectivamente. Já a borda direita apresenta
a sul (Szatmari e Demercian, 1991). desníveis menores, 330 m em média, e declividade
Esse cânion apresenta 20.830 m de compri- um pouco maior, cerca de 10 graus. A declividade
mento e perfil transversal em forma de U. A cabe- média do fundo do vale submarino, ao longo da
ceira está a 520 m de profundidade e encontra-se linha de talvegue, é de 3 graus em média.
junto com a borda norte da cabeceira do Cânion A margem direita do vale submarino apresen-
Itapemirim, porém não chega a atravessar a que- ta desnível menor devido à remoção de espesso
bra da plataforma. pacote do talude entre os cânions Itapemirim e
A largura do vale submarino não apresenta São Tomé, evidenciado pela grande cicatriz de
muita variação, com valores de 1.640 m próximo remoção com direção norte-sul, em cuja escarpa
da cabeceira até 3.200 m próximo da boca do câ- apresenta desnível de cerca de 200 m e 13 graus
nion. O desnível da borda esquerda, 187 m em de declividade. O pé do talude é marcado por
média, é maior que o desnível da borda direita, ondulações sedimentares escalonadas, com cris-
que apresenta valores médios de 144 m. A razão tas paralelas às isóbatas e relacionadas a depó-
largura/desnível de 17 indica alta incisão. Ambas sitos contorníticos. A sudeste da boca do Cânion
Geolog ia e Geomorfolog i a 59
Itapemirim ocorre uma feição dômica proeminen- da segunda. A seção transversal de ambas as calhas
te associada à atividade halocinética de subsu- das cabeceiras tem a forma de V típico. A calha a
perfície (Amorim, 2008), com cerca de 9.500 m de sudoeste apresenta parede mais irregular devido à
diâmetro (Figura 22). ocorrência de ravinas e ao acúmulo de depósito de
movimento de massa na base das paredes.
5.6. Geomorfologia do Cânion São Tomé A declividade do talvegue da calha da cabecei-
O Cânion São Tomé apresenta duas cabeceiras ra sudoeste é maior que a de nordeste, sendo de
bem desenvolvidas e estabelecidas na quebra da 13 graus da primeira e de 6 graus da segunda.
plataforma, adentrando, aproximadamente, 300 m Na porção intermediária do cânion, entre 690 m
na direção do continente (Figura 22). O cânion pos- e 1.260 m, a margem esquerda é mais irregular que
sui direção geral noroeste-sudeste, com cerca de a margem direita, que tem perfil suave. Na margem
25.000 m de comprimento, enquanto a linha de que- esquerda, ocorrem grandes cicatrizes semicircula-
bra da plataforma tem direção nordeste-sudoeste, de res relacionadas a grandes escorregamentos rota-
modo que uma cabeceira está mais a nordeste, na cionais, que formam patamares de terraços em de-
profundidade de 314 m, e a outra, mais a sudoeste, a graus. Essas grandes cicatrizes são responsáveis pelo
230 m. Ambas possuem calha praticamente retilínea. aumento da largura do vale submarino, fazendo
Próximo à cabeceira, os desníveis e as declividades com que este se estenda para norte. A confluência
das paredes da cabeceira sudoeste são maiores que das duas calhas ocorre na profundidade de 980 m,
da cabeceira nordeste, em torno de 189 m, e declivi- onde há uma cicatriz que indica a remoção do ma-
dade de 20 graus da primeira e de 171 m e 16 graus terial sedimentar que as separava. A partir desse
Terraço Erosivo
do Talude Superior
Cânion Itapemirim
Cânion São Tomé
Figura 22. Imagem do relevo sombreado do fundo do mar em perspectiva dos cânions São Tomé e Itapemirim, e
da grande escarpa de cicatriz entre esses cânions (exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia conforme
a profundidade na imagem).
60 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo
ponto, apesar do estabelecimento de um grande parede esquerda do cânion são de cerca de 153 m e
vale submarino, permanecem dois canais paralelos 20 graus e, na parede direita, de cerca de 221 m e 25
no leito do vale, um de 84 m de largura a sudoeste e graus. A declividade do talvegue varia de cerca de
outro de 100 m de largura a nordeste. A confluência 2 graus próximo da confluência e varia para 1 grau
desses canais submarinos só ocorre a 1.270 m de próximo à boca do cânion.
profundidade, onde um canal passa a dominar no No talude superior, entre os cânions São Tomé
talvegue. Próximo à boca do cânion, a 1.530 m de e Itapemirim, ocorre um amplo terraço erosivo que
profundidade, esse canal se estabelece ao longo da expõe as camadas da plataforma carbonática (Viana
base da parede esquerda do vale submarino. et al., 1998), com largura de 8.000 m entre 200 m e
Após a confluência das calhas das duas ca- 400 m e declividade em geral entre 0 e 1 grau.
beceiras, a largura do vale submarino varia de
5.400 m, próximo à confluência, até 2.865 m próxi- 5.7. Geomorfologia do talude continental
mo da boca do cânion. O vale submarino passa a convexo (Tobogã)
ter a seção transversal em forma de U, o desnível O talude continental de perfil convexo (tobogã)
e a declividade da parede esquerda do cânion são, se situa entre o Cânion Goitacá, a sul, e o Cânion
respectivamente, de cerca de 379 m e 12 graus e, São Tomé, a norte (Figura 23). Essa forma é atri-
na parede direita, de cerca de 272 m e 14 graus. buída ao padrão de empilhamento progradacio-
Próximo à boca do cânion, o vale submarino nal das camadas sedimentares em forma de uma
apresenta forma em U, o desnível e a declividade da grande sigmoide que se desenvolveu durante o
Complexo de Cicatrizes de
Remoção do Pé do Talude
(Tobogã)
Leques de
5 km
Fluxo de
Detrito
Blocoso
Lobos de Movimento
N
de Massa
Desintegrativo
Figura 23. Imagem 3D em perspectiva do relevo sombreado do fundo do mar da região central da Bacia de
Campos (exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia com a profundidade na imagem). Linha branca
tracejada corresponde à linha da quebra da plataforma.
Geolog ia e G eomorfolog i a 61
Grupo Sudeste
de Cânions Plataforma Continental
Talude Continental
(Tobogã)
Cadeias de
Diapirismo Salino
Calha Distal
Domínio de Regime
do Sistema
Compressivo da
Turbidítico
Tectônica Salífera
Almirante Câmara
5 km
Figura 24. Imagem 3D em perspectiva do relevo sombreado do fundo do mar da região do Platô de São Paulo
da região central da Bacia de Campos (exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia com a profundidade
na imagem). Em destaque as muralhas de sal, inclusive aquelas que formam a calha distal do sistema de drenagem
do Almirante Câmara através do Platô de São Paulo.
Cicatriz de
Descascamento
Complexo
de Ravinas
Leques de
5 km
Fluxo de
N Detritos
Platô de
São Paulo
Grupo Sudeste
de Cânions
Ondulações
Sedimentares
Canal
Submarino
Figura 25. Imagem 3D em perspectiva do relevo sombreado do fundo do mar da região sul da Bacia de Campos
(exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia de acordo com a profundidade na imagem).
Cânion
Cânion Temiminó
Tamoio
Cânion
Tupiniquim
Blocos de Lama
N
5 km
Figura 26. Imagem 3D em perspectiva do relevo sombreado do fundo do mar dos cânions do Grupo Sudeste e
dos cânions do Grupo Sul-Sudeste (exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia com a profundidade
na imagem).
64 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo
6.5. Geomorfologia do Cânion Tupiniquim norte, central e sul. Em cada uma observaram-se
O Cânion Tupiniquim apresenta calha retilí- feições e aspectos geomorfológicos particulares.
nea e perfil transversal em forma de U (Figura 26). Assim, a região norte apresenta: perfil batimétri-
Apresenta comprimento de 27.593 m. A cabeceira co com forma côncava; predominância de extensos
está situada a 1.002 m de profundidade. As pare- canais submarinos que se prolongam até o Platô de
des são marcadas por cicatrizes e ravinas. São Paulo; e alta ocorrência de cicatrizes de remo-
Próximo da cabeceira, a 1.700 m de profundida- ção e ravinamento dos taludes médio e inferior.
de no talvegue, os desníveis das paredes são de cer- A região central apresenta: uma projeção do
ca de 70 m e a largura do vale submarino é de cerca talude na direção da bacia constituído por cama-
de 3.215 m. As declividades das paredes são de cer- das sedimentares, num padrão de empilhamento
ca de 4 graus na margem esquerda e de 3 graus na progradante sigmoidal que confere forma conve-
margem direita, e a do talvegue é de 3 graus. xa ao perfil batimétrico do talude; os cânions do
Na parte do meio do cânion, a 2.007 m de pro- Grupo Nordeste, sendo os cânions Almirante Câ-
fundidade no talvegue, os desníveis das paredes são mara, Itapemirim e São Tomé classificados como
de cerca de 90 m na margem esquerda e de 120 m na cânions maduros sob o ponto de vista evolutivo,
margem direita, e a largura do vale submarino é de pois adentram a plataforma continental; no Platô
cerca de 1.600 m. As declividades das paredes são de São Paulo, ocorrem línguas de depósitos de
de cerca de 23 graus na margem esquerda e 7 graus movimento de massa e canais submarinos conec-
na margem direita, e do talvegue é de 3 graus. tados ao Cânion Almirante Câmara.
Próximo à boca do cânion, a 2.204 m de profun- A região sul apresenta: perfil batimétrico côncavo
didade no talvegue, os desníveis das paredes são de onde se instalam os cânions do Grupo Sudeste e os
cerca de 90 m na margem esquerda e de 70 m na cânions do Grupo Sul-Sudeste. Todos os cânions do
margem direita. A largura do vale submarino é de Grupo Sudeste são classificados como imaturos, pois
cerca de 1.180 m. As declividades das paredes são de nenhum atravessa a quebra da plataforma.
cerca de 20 graus na margem esquerda e de 25 graus Os cânions do Grupo Nordeste apresentam os
na margem direita, e a do talvegue é de 2 graus. mais elevados valores de declividade das paredes,
cerca de 15 graus, e da linha de talvegue, em torno
de 3 graus, enquanto os cânions do Grupo Sudeste
7. Conclusões apresentam as maiores médias de largura.
Neste capítulo, elaborou-se uma caracterização
descritiva das principais feições geomorfológicas
do talude continental e do Platô de São Paulo da Agradecimentos
Bacia de Campos, com base nos dados do modelo Agradecemos aos técnicos do grupo de SIG
digital batimétrico de Schreiner et al. (2007/2008). da Gerência de Geologia Marinha (Petrobras/E&P-
Os processos de formação e modelamento do re- SERV/US-SUB) pela edição final dos mapas. Ao
levo submarino foram controlados por fatores es- geofísico Benedito Souza Gomes, à geofísica Simo-
truturais associados à tectônica salífera de subsu- ne Schreiner e à geóloga Cízia Mara Hercos, pelas
perfície (Szatmari e Demercian, et al., 1991; Hercos discussões técnicas e análises críticas fundamen-
et al., 2004), por fatores oceanográficos de atuação tais à realização deste trabalho. Ao geofísico Marco
em diferentes escalas de tempo (Viana et al., 1998; Aurélio de Campos Merschmann, pelo apoio e o
Viana et al., 2002) e por processos erosivos eviden- incentivo na divulgação das informações apresen-
ciados por formas e depósitos de movimentos de tadas neste capítulo, e aos demais integrantes da
massa (Kowsmann et al., 2002). equipe de Geologia Marinha da Petrobras. Os co-
A região do talude continental ao Platô de São mentários dos revisores muito contribuíram para o
Paulo da Bacia de Campos foi dividida em regiões: aprimoramento deste trabalho.
66 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo
Referências
Almeida, A.G., Kowsmann, R.O. 2011. Caracterização geo- Reis, A. T. 1994. O Grupo Sudeste de cânions e sua relação
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da Bacia de Campos, RJ. 13o Congresso da Associação ção]. Rio de Janeiro: Observatório Nacional.
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4
Mapa batimétrico da
Bacia de Campos
Palavras-Chave
Resumo
Este capítulo representa uma nota explicativa do mapa batimétrico integrado da Bacia de Campos que
reúne em uma única imagem a batimetria da plataforma continental, do talude continental e do Platô de
São Paulo adjacente.
Schreiner, S., Mendonça de Souza, M.B.F., Migliorelli, J.P., Figueiredo Jr, A.G., Pacheco, C.E.P., Vasconcelos, S.C., Silva, F.T. 2014.
Mapa batimétrico da Bacia de Campos. In: Kowsmann, R.O., editor. Geologia e Geomorfologia. Rio de Janeiro: Elsevier. Habitats,
v. 1. p. 67-70.
68 M apa bati m é tr ico da Bac ia de C ampos
MG
Bacia do Espírito Santo N
–21°
ES
RJ
–22°
–23°
CONTORNO BATIMÉTRICO:
• IC: 5 m ATÉ 100 m
• IC: 100 m ATÉ –3.300 m
LIMITE DO DADO SÍSMICO
Bacia de
PROJEÇÃO GEOGRÁFICA DATUM SIRGAS2000
Santos 0 25 50 75 100 km
–24°
Bacia de Campos
Referências
Figueiredo Jr., A.G., Pacheco C.E.P., Vasconcelos S.C, Silva, F.T. Schreiner, S., Mendonça de Souza, M.B., Migliorelli, J.P.
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gia. Rio de Janeiro: Elsevier. Habitats, v. 1 p. 13-32. Petrobras. 16(1): 157-160.
5
Feições indicadoras de instabilidade
geológica no talude continental e
no Platô de São Paulo
Palavras-chave
Resumo
Visando à segurança das facilidades de produção a serem assentadas no leito marinho da Bacia de
Campos, foi confeccionado um mapa das feições morfológicas de fundo indicadoras de atividade se-
dimentar e instabilidade submarina, com base no imageamento de sísmica 3D da Bacia de Campos. As
naturezas dessas feições são descritas à luz dos estudos realizados nas últimas décadas na Bacia de Cam-
pos, e suas idades são inferidas através da análise e da datação dos testemunhos a pistão disponíveis.
Conclui-se que a maior parte das feições de risco geológico mapeadas são relíquias e foram formadas em
períodos de nível de mar baixo do Pleistoceno. Através deste estudo, no entanto, infere-se a persistência
do transporte de sedimentos através de alguns cânions submarinos e também da atividade da tectônica
salífera na porção distal da bacia, durante o Holoceno.
Kowsmann, R.O., Lima, A.C., Vicalvi, M.A. 2014. Feições indicadoras de instabilidade geológica no talude continental e no platô de
São Paulo. In: Kowsmann, R.O., editor. Geologia e Geomorfologia. Rio de Janeiro: Elsevier. Habitats, v. 1. p. 71-98.
72 Feições indicadoras de instabilidade geológica no talude continental e no Platô de São Paulo
7700
0
Rio
–20
Ita
em
p
irim
ES Sistema Turbidítico
Marataízes
00
Debritos
–20
Rio Itab
a poana Leque Arenoso
Sistema Turbidítico Turbidítico
Itabapoana
Barreira de Sal
RJ
S
7600
7600
do Contorníticos
íba Almirante Câmara
Rio Para
Quissamã
Salio da
na
osta
de C
vín tern
has a Debritos
átic
São Tomé
lin
Pro ite Ex
cia
o n Expostos por
Plataforma Pa
le
Ca
rb
o
Halocinese
a
Lim
m
Continental or Cicatrizes de
af
Deslizamento
at
Pl
Calha Distal do
7500
7500
Almirante Câmara
Talude
Mound Contornítico
Depósitos Lençol Arenoso
Contorníticos Contornítico Cadeias de Diapirismo
Salino
Goitacá
Tupinambá
Temiminó
Tamoio Grupo de Cânions SE
Cânions do Grupo Tupiniquim Imaturos
Sul-Sudeste
os
rit
eb
D
de
al
nt
e
Bacia de Campos
00
Av
–2
7400
7400
Ondas de Sedimento
00
de o
es nt
–20
t riz me N
ca iza
Ci esl
D
0 10 20 30 40 50
km
Figura 1. Modelo digital da geomorfologia indicando as principais feições geomorfológicas do fundo do mar da
Bacia de Campos (Schreiner et al., 2007/2008).
G eolog ia e Geomorfolog i a 75
Zonas de Quaternário
Idade Ericson e
Série/ Wollin, 1968 Foraminíferos Planctônicos
1.000 Época & Subzonas
anos MARCOS LOCAIS(*) E GLOBAIS
Vicalvi, 1999
Ogg e Lugowski (V.2.0), 2006 & Vicalvi, 1999 Espécies Características
0
HOLOCENO Z DPA Gr. (M) fimbriata Gr. (G) inflata UOL
10 11 *
DUR Pulleniatina spp.* *
15
Y1 B
Pulleniatina spp.* DUD
50 Y 42
150
W
G. truncatulinoides
Pulleniatina spp.
Obulina spp.
Grupo G. menardi
250
G. inflata
V
300
DPA Gs. ruber pink
350
400 DPA Gr. (Gr.) tumida flexuosa
DPA Gr. (H.) hirsuta
500 485
U
DUA Gr. tosaensis
610
DPA Gr. (Tu.) crassaformis hessi
T
1.000 990
S
DUA Gs. obliquus
1300
1.500 R
N. acostaensis DUA
1650
1810
Q DUA Gs. fistulosus
1810
Plioceno
Figura 3. Biozoneamento proposto por Vicalvi (2009a), baseado na distribuição estratigráfica quantitativa de tá-
xons selecionados de foraminíferos planctônicos. Biozonas interglaciais representadas em rosa e glaciais em azul.
G eolog ia e Geomorfolog i a 77
ES
Sistema
Marataízes
21° S
Sistema
Itabapoana
Cânion Leque
Almirante Câmara Muralha
Almirante de Sal
Câmara
Cânion
RJ Grussaí
Cânion
22° S
Itapemirim
Cânion
–1500
–2500
São Tomé
Terraço de
l
Albacora
ta
en
in
0
00
nt
o –1
C
m
a
lu de
r
t af o Ta
Pl a
00
–5
Tobogã
0
00
00
–3
–1
0
00
–2
00
–2
23° S
TALUDE CONTINENTAL ESTÁVEL
Cânions
do Grupo INDICADORES GEOLÓGICOS DE INSTABILIDADE (FEIÇÃO DE RISCO)
Sudeste AFLORAMENTO
AFLORAMENTO POR HALOCINESE
DEPÓSITO DE CORRENTE DE CONTORNO
0
o
50
ul
50
at
–1 TURBIDITO BIOCLÁSTICO
Pl
TURBIDITO LITOCLÁSTICO
N
ÁREA SOERGUIDA POR HALOCINESE
24° S
0 12.5 25 50
km
DATUM: SIRGAS 2000
Figura 4. Feições indicadoras de instabilidade em águas profundas da Bacia de Campos. Baseado na imagem
morfológica de Schreiner et al. (2007/2008) da Figura 1.
78 Feições indicadoras de instabilidade geológica no talude continental e no Platô de São Paulo
ES
Sistema
Marataízes
21° S
Sistema
Itabapoana
22° S
Itapemirim
Cânion
São Tomé
Terraço de
Albacora
0
00
–1
00
–5
Tobogã
00
–1
0
00
00
–2
–2
23° S
Cânions
TALUDE CONTINENTAL ESTÁVEL
do Grupo
Sudeste INDICADORES GEOLÓGICOS DE INSTABILIDADE (FEIÇÃO DE RISCO)
AFLORAMENTO
AFLORAMENTO POR HALOCINESE
DEPÓSITO DE CORRENTE DE CONTORNO
DEPÓSITO DE ESCORREGAMENTO (SLUMPS)
DEPÓSITO DE FLUXO DE DETRITOS
IDADE DO ÚLTIMO EVENTO 0 DEPÓSITO DE FLUXO DE DETRITOS SOERGUIDO HALOCINESE
DE INSTABILIDADE –300
DERRAMAMENTO DE AREIA POR CORRENTE DE CONTORNO
Z (0–11.000 ANOS)
TALUDE RETALHADO POR VOÇOROCAS
Y1A (11.000–15.000 ANOS) TERRAÇO DE EROSÃO POR CORRENTE DE FUNDO
Y1B (15.000–42.000 ANOS)
TURBIDITO BIOCLÁSTICO
Y1 (11.000–42.000 ANOS)
TURBIDITO LITOCLÁSTICO
Y2 (42.000–84.000 ANOS)
N
24° S
Figura 5. Feições indicadoras de instabilidade com a localização dos testemunhos a pistão que as amostraram.
Símbolos geométricos representam a biozona e a idade correspondentes ao último evento de instabilidade ocor-
rido em cada ponto.
G eolog ia e Geomorfolog i a 79
50 CB
500 m
X AIA
BANCO CARBONÁTICO 30
LAMA DE TALUDE
Nível do Mar
CB
70
BANCO CARBONÁTICO
550 m
AREIA
AIA
X
LAMA DE TALUDE 30
Holoceno
(Condições Atuais)
Nível do Mar
30
X CB
70
350 m
AIA
X
BANCO CARBONÁTICO
30
AREIA SILICICLÁSTICA
750 m
LAMA DE TALUDE
Figura 6. Modelo de formação do Terraço de Albacora (Viana e Faugères, 1998), esculpido pela Corrente do
Brasil quando seu eixo foi transferido para o talude superior durante o Último Máximo Glacial, e dos processos de
sedimentação pré e pós-glacial. X – orientação da corrente para dentro da página (norte), ponto – orientação da
corrente para fora do papel (sul). Números indicam velocidades de corrente inferidas em cm/s. CB – Corrente do
Brasil, ACAS – Água Central do Atlântico Sul, AIA – Água Intermediária da Antártica. Figura simplificada de Viana
et al. (2002b).
G eolog ia e Geomorfolog i a 81
S N
100 m
CP sw
CP CP
sw
400 m
dc
CB CB
CB
Figura 7. Processos oceanográficos atuantes na transferência de areia da plataforma continental para o talude
superior durante o Holoceno (Viana e Faugères, 1998). CP − Corrente de Plataforma*, CB − Corrente do Brasil,
CCB − Contracorrente do Brasil*, CST − Cânion São Tomé, sw – sand waves, setas ondulantes − transporte de
carga de fundo para o talude. A aceleração por constrição da CB limpa o cascalho carbonático da fração fina
(dc − depósitos cascalhosos) à direita da figura; vórtice na plataforma externa aumenta a mobilidade das areias,
à esquerda da figura. Notar os sentidos opostos das sand waves migrantes, na plataforma externa e no talude
superior. Figura modificada de Viana e Faugères (1998). *Nota do Editor: Não há consenso da comunidade científica no
uso destas classificações.
tempestade, marés e ventos), onde se apresentam (Figura 9). O complexo mais raso na estratigrafia foi
como ondas de areia migrantes no sentido NE (Fi- amostrado por vários testemunhos a pistão e furos
gura 7), em imagens de sonar de varredura lateral. As geotécnicos, e apresenta uma estratificação incli-
areias de derrame no talude são redistribuídas pela nada a dobrada, evidenciada por bandas de cores
Corrente do Brasil, no sentido contrário, aparecendo distintas das lamas e pelas intercalações arenosas
como ondas migrantes com sentido sudoeste. Esses (Caddah et al., 1998). Esses sedimentos apresen-
autores postulam que a fase mais intensa de transfe- tam resistências não drenadas muito superiores
rência de areias para o talude ocorreu durante a pri- às das encaixantes plano-paralelas, evidenciando
meira metade do Holoceno (entre 11.000-5.000 anos uma compactação por deformação (strain-harde-
atrás), e que esse processo de transferência ainda ning; Caddah et al., 1994). Uma simulação utilizan-
persiste, em menor escala, até hoje. do elementos finitos (Costa et al., 1994) mostrou
que, levando-se em conta as propriedades físicas
originais do sedimento marinho e a baixa declivi-
5. Depósitos de escorregamento dade do talude (< 2 graus), a fluência desses de-
Cinco complexos de movimentos de massa, pósitos cessaria espontaneamente por seu amarro-
caracterizados por geometria tabular e assinatura tamento e perda de fluidos intersticiais decorridos
sísmica caótica, foram mapeados na seção pleis- 10.000 anos do início da deformação. Posterior-
tocênica do talude superior e médio da Bacia de mente, Kowsmann et al. (2002) determinaram a
Campos (Castro et al.,1995). Esses complexos en- idade dos primeiros sedimentos não deformados
contram-se estaqueados verticalmente e separa- que ocorrem sobre o depósito de escorregamento,
dos entre si por estratos plano-paralelos, não de- tanto na zona de evacuação, a montante, quanto
formados (Figuras 8 e 9). Os depósitos abrangem na frente de deformação, a jusante, obtendo, res-
cerca de 40 km de comprimento por 30 km de lar- pectivamente, idades aproximadas de 70.000 anos
gura e estão localizados imediatamente a sul do e 50.000 anos (Figura 9). A duração do processo
Cânion de São Tomé (Figuras 8 e 9). Cada comple- de deformação, cerca de 20.000 anos, corresponde
xo apresenta espessura máxima entre 50 e 85 m ao dobro, mas da mesma ordem de grandeza que
42° O 41° O 40° O 39° O
MG ES
21° S
RJ
22° S
23° S
Cânion São Tomé
m
00
–2
00
m GL-10
–5
Fi
g.
7520000
9
N
0 20 40 km
GL-13
24° S
5-PC-32
0m
TALUDE CONTINENTAL ESTÁVEL
00
0m
–1
00
–2
FEIÇÕES DE INSTABILIDADE E TRANSPORTE SEDIMENTAR
0m
AFLORAMENTO
50
–1
AFLORAMENTO POR HALOCINESE
7500000
DEPÓSITO DE CORRENTE DE CONTORNO Fi
gs
DEPÓSITO DE ESCORREGAMENTO (SLUMPS) .1
DEPÓSITO DE FLUXO DE DETRITOS GL-30 0 e1
DEPÓSITO DE FLUXO DE DETRITOS SOERGUIDO HALOCINESE
1
DERRAMAMENTO DE AREIA POR CORRENTE DE CONTORNO GL-32
TALUDE RETALHADO POR VOÇOROCAS GL-33
TERRAÇO DE EROSÃO POR CORRENTE DE FUNDO
N GL-36
TURBIDITO BIOCLÁSTICO
TURBIDITO LITOCLÁSTICO
0 2 4 6 km
0m
ÁREA SOERGUIDA POR HALOCINESE 50
DATUM: SIRGAS 2000 –2
380000 400000 420000
Figura 8. Seções sísmicas apresentadas nas Figuras 9 e 10, com respectivos testemunhos, sobre o mapa de feições indicadoras de instabilidade. A seção
da Figura 9 atravessa os depósitos de escorregamento (slumps), ao passo que a seção da Figura 10 atravessa o talude inferior íngreme e propenso a
deslizamentos, conhecido como Tobogã.
GL-10 LAMA CINZA-OLIVA
AREIA
Y1
DEPÓSITO DE FLUXO DE DETRITOS
(DEBRIS-FLOW)
42.000
LAMA CINZA ESVERDEADA
20 m
DEPÓSITO DE ESCORREGAMENTO (SLUMP)
Y2
FRATURAS DE SOBRECARGA
68.000 GL-13
>84.000 Y1
42.000
X
Y2
51.000
84.000
1,0
X
>84.000
X 5-PC-32
10 m
Y1
42.000
1,4 1m
Y2
Seg. (2×)
53.000
1,8 2 km
Figura 9. Seção sísmica, indicada na Figura 8, mostrando os complexos de depósitos de escorregamento (slumps) do Pleistoceno da Bacia de
Campos (Castro et al., 1995). O depósito mais profundo assenta sobre sedimentos do Mioceno superior, falhados. Os testemunhos que amos-
traram o depósito de slump mais raso (intervalo cor laranja) revelam que esse depósito teve início há 68.000 anos (GL-10) e cessou há cerca
de 50.000 anos, durante a vigência da biozona Y2 (GL-13 e 5-PC-32). Esse evento escavou e incorporou sedimentos da biozona X (> 84.000
anos). Um depósito conglomerático mais novo (camada cinza com clastos, GL-10) também ocorreu na vigência da biozona Y2 (Kowsmann et
al., 2002).
84 Feições indicadoras de instabilidade geológica no talude continental e no Platô de São Paulo
aquela modelada por Costa et al., em 1994 (10.000 de sua geometria e da propensão a deslizamentos,
anos). Em termos paleontológicos, o evento de essa feição foi apelidada de Tobogã (Figura 10). Es-
escorregamento que gerou este último depósito sa erosão expõe estratos cada vez mais antigos em
ocorreu na vigência da biozona Y2 (42.000-84.000 direção ao pé do talude, gerando faixas de aflo-
anos A.P.) (Figura 9). ramentos de idades distintas (Kowsmann e Viana,
1992; Kowsmann et al., 2002). Observa-se na Figu-
ra 10 que, a montante, é exposto primeiramente
6. Afloramento de estratos no o depósito de escorregamento (slump) mais raso
talude inferior (depósito de transporte de massa na posição do
O talude inferior na porção central da Bacia de GL-30). Talude abaixo, afloram estratos mais con-
Campos tem um perfil convexo que acompanha a solidados do Pleistoceno Inferior (GL-32) e, em
forma sigmoidal da cunha progradante do Mioce- seguida, do Mioceno Superior (GL-33). Finalmen-
no subjacente (Figura 10). Na porção mais íngreme te, depósitos conglomeráticos de fluxo de detritos
desse perfil (8 a 10 graus), o talude é marcado por acumulam-se no pé do talude (posição do GL-36
inúmeras cicatrizes, fruto de eventos sucessivos de e depósito de transporte de massa na base do
instabilização em sua face mais íngreme. Em razão talude).
1.000
sec.
MTD
GL 30
1.500
Pleis
tocen
GL 32
o
MTD
2.000
Miocen
o GL 33
GL 36
2.500
MTD
2 km
3.000
Figura 10. Seção sísmica mostrando a feição do talude inferior na parte central da bacia conhecida como Tobo-
gã, indicado na Figura 8. O desabamento progressivo do talude e o consequente afloramento de camadas mais
antigas são condicionados pela geometria de progradação sigmoidal dos estratos do Mioceno Superior. Depó-
sitos de transporte de massa (MTD), linha vermelha − discordância erosiva entre os estratos do Mioceno e do
Pleistoceno (Viana et al., 1990). Testemunhos a pistão da Figura 11 estão projetados sobre esta figura.
G eolog ia e Geomorfolog i a 85
Em seção sísmica, todos esses estratos aparen- cânions foram amplamente testemunhados e apre-
tam estar aflorando do fundo do mar. No entan- sentam, invariavelmente, cobertura hemipelágica
to, testemunhos e perfis geotécnicos mostram que intacta sobre eles. As idades dos sedimentos mais
todos estão cobertos por uma capa de sedimen- antigos dessa cobertura remontam à biozona Y2
tos hemipelágicos, de alguns metros de espessu- (42.000-84.000 anos A.P.), à semelhança da cober-
ra, cuja idade mais antiga pertence à biozona Y2 tura hemipelágica sobre os afloramentos do talude
(42.000-84.000 anos A.P.) (Figura 11). O contato inferior e também sobre os depósitos de slump, nos
entre a cobertura hemipelágica do Holoceno/Pleis- taludes superior e médio.
toceno Superior e os estratos aflorantes mais anti- Os depósitos de detritos lamosos ocorrem
gos e consolidados é muito bem marcado por um também em grande escala nas porções mais dis-
salto abrupto nos perfis de resistência Su. A ida- tais do Platô de São Paulo, onde foram amostrados
de da base dessa cobertura é mais antiga (70.000 esparsamente. Eles se encontram, em parte, soer-
anos A.P.) na porção mais distal do Tobogã e se guidos pela halocinese, o que lhes atribui um as-
torna progressivamente mais nova (42.000 anos pecto rugoso na imagem de edge da morfologia (Fi-
A.P.) a montante. Isso mostra que o descascamen- gura 1) devido a seu truncamento erosivo e maior
to e a posterior cicatrização ocorreram de forma grau de consolidação. Esses depósitos também
remontante, ou seja, da base para o topo do talude preenchem as minibacias na porção distal do pla-
inferior. tô, onde são recobertos por areias. Embora espar-
samente amostrados, atribui-se a esses depósitos
de detritos distais uma idade Pleistoceno Inferior e,
7. Depósitos de fluxo de detritos portanto, mais antiga que aqueles do pé do talude.
Depósitos conglomeráticos de fluxo de detritos
ocorrem amplamente distribuídos por todo o pé do
talude e no Platô de São Paulo adjacente (Macha- 8. Sistemas turbidíticos litoclásticos
do et al., 2001; Kowsmann et al., 2004). São consti- Vários sistemas turbidíticos são visualizados
tuídos de conglomerados suportados por matriz e, na imagem da geomorfologia do fundo do mar
em menor escala, de clastos lamosos desprovidos de Schreiner et al. (2007/2008), na porção norte da
de matriz, de dimensões decimétricas a centimétri- bacia. Desses sistemas, o mais importante é o Al-
cas. Registros de conepenetrômetro que perfilaram mirante Câmara (Figura 4).
esses depósitos revelam espessuras de corpos indi- Em termos morfológicos, o sistema nasce no câ-
viduais da ordem de 5 m. Os depósitos apresentam nion de mesmo nome, de sentido geral nordeste, e
resistências heterogêneas e, em geral, bastante ele- no Platô de São Paulo sofre forte reorientação de sua
vadas, dependendo da concentração de clastos. Os calha para sudeste, devido à presença de uma mu-
depósitos conglomeráticos de fluxo de detritos no ralha de sal (Machado et al., 2004). A calha atravessa
pé do talude apresentam clastos provenientes dos o Platô de São Paulo encaixado na morfologia aci-
estratos erodidos do talude acima, inclusive daque- dentada induzida pela movimentação salífera (Ma-
les provenientes dos depósitos de slump, reconhe- chado et al., 2004), desembocando na Bacia do Brasil,
cidos por suas estruturas internas de deformação. externa ao Platô de São Paulo, onde contribui com
Já os depósitos de debris flows provenientes da de- sedimentos grossos para o desenvolvimento do Ca-
sembocadura dos cânions Itapemirim e Almirante nal Carioca (Castro, 1992; Viana et al., 2003). Em sua
Câmara apresentam geometrias linguoides, com porção mais distal no platô, a calha ocupa o eixo do
dezenas de quilômetros de extensão e alguns qui- gráben de colapso sobre uma muralha de sal.
lômetros de largura, e encontram-se amalgamados Um leque submarino conspícuo (Leque Almi-
e compensados uns sobre os outros (Figura 12). Es- rante Câmara) se desenvolve na porção proximal
ses depósitos de pé de talude e desembocadura de da calha através da superposição de complexos de
Vicalvi, 1997; este trabalho
Ericson & wollin, 1968
GL - 30 GL - 32 GL - 33 GL - 36
Nível do Mar
1.234 m 1.489 m 1.722 m 2.029 m
Su (kPa) Su (kPa) Su (kPa) Su (kPa)
Anos 0 40 80 120 0 40 80 120 0 40 80 120 0 40 80 120 160
0 MG
MG
0
Z Z MG
11.000 LR
MG LR
A LR
15.000 LL
Y1 LR
B
LL
42.000
Y LL 5
MTD MTD
D
Y2
P
Plei
84.000
X X P
Plei
M
Mio
GT 381A 10
Mio
M
LEGENDA
15
MG MARGA Plei
P SUBAFLORAMENTO DO PLEISTOCENO INFERIOR
LR LAMA RICA EM CARBONATO Mio
M SUBAFLORAMENTO DO MIOCENO SUPERIOR
LL LAMA LEVEMENTE CARBONÁTICA
DISCORDÂNCIA EROSIVA
MTD DEPÓSITO DE MOVIMENTO DE MASSA
GT 300 GT 380 GT 384 20 m
Figura 11. Seção geológica construída a partir de testemunhos (GL) e perfis (GT) de resistência não drenada (Su) distribuídos ao longo da linha sísmica apresentada na
Figura 10, localizada na Figura 8, no talude inferior. A seção mostra a capa contínua de sedimentos hemipelágicos (MG − marga, LR − lama rica em carbonato, LL − lama
levemente carbonática) de idade mínima de 42.000 anos que recobre depósitos de transporte de massa (MTD) e subafloramentos de sedimentos bem mais antigos e mais
consolidados (Pleistoceno Inferior e Mioceno Superior) expostos pela discordância erosiva. Escala à esquerda apresenta as biozonas de foraminíferos planctônicos e suas
idades correspondentes.
G eolog ia e Geomorfolog i a 87
10 km
Figura 12. Relevo do talude da porção central da Bacia de Campos mostrando as línguas de depósitos de debris
flow na desembocadura dos cânions (marrom) e o Sistema Turbidítico Almirante Câmara (amarelo), mapeados
com base em imagens de sonar de varredura lateral (Machado, 2001; Machado et al., 2004).
lobos canalizados (Machado et al., 2004; Abreu et uma única análise petrográfica efetuada em uma
al., 2005). Sua formação se deu quando línguas de areia turbidítica granodecrescente ascendente de
depósitos de fluxo de detritos lamosos, provenien- 90 cm de espessura, amostrada na calha proximal
tes do talude adjacente e da desembocadura do a montante do leque (Marcos Roberto Fetter Lopes,
Cânion Itapemirim, preencheram a calha principal comunicação pessoal, 2007). A maioria dos teste-
e a nivelaram com topografia circundante, per- munhos do leque apresenta uma cobertura hemi-
mitindo o extravasamento dos fluxos turbidíticos pelágica sobre o último pacote de areia, com idade
(Machado et al., 2004, Figura 12). mínima das biozonas Y1A (11.000-15.000 anos A.P.)
Testemunhos a pistão foram coletados na calha ou Y1B (15.000-42.000 anos A.P.) (Vicalvi, 2009b).
proximal (Machado et al., 2004) e no Leque Almi- A Figura 13, modificada de Abreu et al., 2005,
rante Câmara (Abreu et al., 2005). Os testemunhos apresenta uma seção litoestratigráfica dos teste-
amostraram pacotes decimétricos a centimétricos munhos a pistão obtidos no mais recente depo-
homogêneos a granodecrescentes para o topo, de centro de areia do Leque Almirante Câmara. Como
areia siliciclástica grossa a muito fina, intercalados atesta a crosta ferruginosa que constitui a camada
com lama hemipelágica. Uma composição petroló- guia do limite Holoceno/Pleistoceno, os principais
gica subarcoseana a arcoseana com grãos subar- corpos de areia pertencem à biozona Y do período
redondados a subangulares é inferida mediante glacial do Pleistoceno.
SW NE
2300
Lâmina d’Água
Z
2315 m
Holoceno
11.000 anos Pleistoceno
Y
G M F MF S A
Areia
G M F MF S A
LAC 9 G M F MF S A Areia
Areia G M F MF S A
LAC 7 Areia
0 LAC 8
LAC 6
LAMA
LAC
AREIA
NE
CROSTA FERRUGINOSA
1m
0 1 2 km SO
Figura 13. Seção litoestratigráfica de testemunhos a pistão no depocentro mais recente do Leque Almirante Câmara (figura modificada de Abreu
et al., 2005). Biozonas Z e Y de foraminíferos planctônicos. Notar que os corpos mais expressivos de areia pertencem ao Pleistoceno. Mapa de localização
esquemático da seção, destacando o Leque Almirante Câmara (LAC).
G eolog ia e Geomorfolog i a 89
A seção litoestratigráfica na franja do Leque 1998), em grande parte modeladas por correntes
Almirante Câmara (Figura 14) mostra também que de contorno (Viana et al., 2002b). Evidências dis-
poucas areias pertencem à biozona Z (Holoceno) e so são as grandes ondas de sedimento migrantes,
que os corpos arenosos mais espessos e grossos observadas em seção sísmica em vários sítios do
foram depositados na vigência da biozona Y (Pleis- talude da Bacia de Campos. Essas feições não são
toceno glacial) e, portanto, em nível de mar baixo. em si consideradas geohazards, mas representam
Apesar dessas considerações, vários testemu- um atestado da mobilidade sedimentar no passa-
nhos (notadamente localizados na calha a mon- do que persiste, em menor escala, no presente.
tante, mas também no próprio leque) apresentam A feição mais conspícua, de escala regional,
areias de idade holocênica, mostrando que a ativi- ocorre no talude inferior entre os cânions de São
dade do sistema persiste, embora com menor vigor Tomé e Itapemirim (Figura 15). Os depósitos na
do que durante o período glacial do Pleistoceno forma de complexos de ondas migrantes ocorrem
antecedente. Como a deposição do Rio Paraíba do ao longo da face frontal da cunha de sedimentos
Sul encontra-se hoje restrita a um delta constituído progradantes do Mioceno (Figura 15b). Essas on-
por cordões litorâneos, distante mais de 70 km da das migrantes geraram, no fundo do mar, uma
cabeceira do cânion, é provável que os turbiditos morfologia escalonada de grandes dimensões (Fi-
holocênicos advenham da remobilização de areias gura 15a).
relíquias da borda da plataforma continental, por Segundo o modelo proposto por Viana et al.
correntes de fundo, conforme o modelo apresen- (2002b), as ondulações são formadas por cor-
tado por Viana e Faugères (1998). rentes paralelas aos contornos batimétricos pro-
venientes de sul, associadas às massas da Água
Central do Atlântico Sul (ACAS) e da Água Inter-
9. Depósitos lamosos mediária da Antártica (AIA). Em função da força
contorníticos de Coriolis no Hemisfério Sul, essas correntes es-
Depósitos lamosos contorníticos são consi- cavam talude acima (esquerda do fluxo) e depo-
derados geohazards, por sua tendência a sofrer sitam talude abaixo (direita do fluxo), com o eixo
deslizamentos (Laberg e Camerlenghi, 2008). Em da corrente migrando progressivamente talude
altas latitudes, onde são mais frequentes, apre- acima (Figura 16).
sentam maior teor de argila, conteúdo de água Feições de leito ondulantes de composição la-
intersticial, índice de plasticidade e de liquidez, mosa, transversas às isóbatas, também foram re-
resultando em menor resistência ao cisalhamen- conhecidas no talude superior da Bacia de Cam-
to e maior sensitividade do que os sedimentos pos, induzidas pela Corrente do Brasil (Viana et al.,
glacigênicos intercalados (Kvalstadt et al., 2005). 2002b). A mesma corrente induz a formação de
Sujeitos à sobrecarga destes últimos, tendem a dunas tridimensionais constituídas por cascalho e
se comportar como uma superfície de descola- areia carbonática biodetrítica no terraço erosivo no
mento. Em baixas latitudes, como no Golfo de topo do talude adjacente, como mostra o esquema
Cádiz, áreas de constrição de correntes oceano- da Figura 17.
gráficas causam sua aceleração e, na presença de Na parte distal da Bacia de Campos, também
suprimento abundante de sedimentos lamosos ocorrem depósitos contorníticos. Nos mapas das
(deltaicos), provocam o transporte e a redeposi- Figuras 4 e 5, são assinalados dois depósitos de
ção desses sedimentos, gerando zonas de insta- corrente de contorno adjacentes a muralhas soer-
bilidade geotécnica em áreas de maior declivida- guidas pelo sal. O depósito mais a norte, imageado
de (Hernandez-Molina et al., 2006). no mapa edge da sísmica 3D (Figura 18), consiste
O talude normal da Bacia de Campos é com- em um mound contornítico (3) situado a leste da
posto de lamas hemipelágicas (Caddah et al., muralha e vários outros depósitos contorníticos
SW NE
2363
Lâmina d’Água
Z
11.000 anos
2412
G M F MF S A
Areia
LAC 23
Y
84.000 anos
G M F MF S A
Areia
X
LAC 27 G M F MF S A
G M F MF S A Areia
G M F MF S A
Areia
Areia
LAC 26
LAC 25
LAC 20
130.000 anos
0 LAC
W
LAMA
G M F MF S A NE
Areia
AREIA
LAC 24
1m
CROSTA FERRUGINOSA
SO
0 1 2 3 km
Figura 14. Seção litoestratigráfica de testemunhos a pistão na franja do Leque Almirante Câmara (figura modificada de Abreu et al., 2005). Biozonas Z, Y, X
e W de foraminíferos planctônicos (Z e X- interglacial, Y e W- glacial). Notar a abundância de areias abaixo do limite Holoceno/Pleistoceno (Z/Y) e as maiores
granulometrias e espessuras dos corpos arenosos depositados na biozona Y glacial, em nível de mar baixo. Mapa de localização esquemático da seção, des-
tacando o Leque Almirante Câmara (LAC).
G eolog ia e Geomorfolog i a 91
a
Cânion Itapemirim
A A’
Seg A A’
2x
Pleistoceno
1000
Cânion S. Tomé
1200
Ondas de Sedimento
Migrantes
1400
Mioceno
1600
Cunha Progradante
1800
2000
2200 1 km
b
Figura 15. (a) Imagem do fundo do mar no talude inferior da porção central da Bacia de Campos (Schreiner et al.,
2007/2008) com a localização da seção sísmica (b) mostrando as ondas de sedimento migrantes. A discordância
(linha preta) separa a cunha progradante do Mioceno do sedimento Pleistocênico sobrejacente.
N
Corrente do Brasil
Corrente de Sul
S 1000 m
100 m
Figura 17. Processo formação de estruturas primárias de fundo por correntes de contorno de sentidos opostos,
no norte da Bacia de Campos. A corrente de sul forma estruturas de ondas de sedimento lamoso paralelas ao
talude médio, ao passo que a Corrente do Brasil desenvolve estruturas lamosas transversas no talude superior.
Figura simplificada de Viana et al. (2002b).
Muralha de Sal
A b
Mound Contornítico
Sulcos
A’ c
3,5
A Mound Contornítico A’
Sulco Cobertura Recente
Sulco
Tempo Duplo
3 4,0
1 2
4,5 s
Sal 1 km
Figura 18. Depósitos de corrente de contorno associados à muralha de sal na porção distal da Bacia de Campos
(figura modificada de Viana, 2001). a) mapa fisiográfico e de amplitude sísmica com base em cubo sísmico 3D;
b) detalhe da morfologia do depósito de corrente de contorno montiforme (mound contornítico) cortado por
sulcos (furrows) com localização da linha sísmica; c) seção sísmica A-A’ atravessando a muralha de sal e o mound
contornítico adjacente (3). A corrente de fundo que construiu os depósitos contorníticos soterrados (1 e 2) e na
superfície (3) fluiu de sudoeste para nordeste ao longo do flanco leste da muralha, como mostra o símbolo em X
apontando para dentro da página. A cobertura sedimentar mais recente em onlap sobre o mound contornítico à
direita e a presença de sulcos sobre ele atestam que se trata de uma feição relíquia.
G eolog ia e Geomorfolog i a 93
160
Z (0–11.000 anos)
Y1 (11.000–42.000 anos)
Taxa de Sedimentação (cm/1000 anos)
80
40
0
400 800 1200 1600 2000 2400
Lâmina d’Água (m)
Figura 19. Taxas de sedimentação das biozonas Z, Y1 e Y2 em testemunhos a pistão da Bacia de Campos. Setas
indicam a convergência, em águas ultraprofundas, das taxas das biozonas glaciais Y2 e Y1 para valores do Holo-
ceno (Z).
94 Feições indicadoras de instabilidade geológica no talude continental e no Platô de São Paulo
70
Vasa
60
50
% CaCO3
Marga
40
30
20
Lama
10
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
Profundidade da Lâmina d’Água (m)
Figura 20. Teor de CaCO3 obtido por calcimetria dos sedimentos do topo de testemunhos a pistão (Holoceno)
coletados no talude da Bacia de Campos.
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6
Áreas propensas a escorregamentos
no talude continental
Palavras-chave
Resumo
Realizou-se uma avaliação regional das áreas suscetíveis à ocorrência de movimentos de massa sub-
marinos no talude continental e no Platô de São Paulo da Bacia de Campos. Para essa avaliação, foi uti-
lizada uma ferramenta de análise espacial disponível em um sistema de informação geográfica (SIG), em
conjunto com a aplicação de um modelo matemático desenvolvido para a previsão de áreas propensas a
deslizamentos, baseado em uma formulação de leis físicas.
A análise de estabilidade de taludes foi feita sob condições não drenadas, em termos de tensões totais,
considerando um solo argiloso normalmente adensado, e baseou-se no método determinístico para o
cálculo de fatores de segurança através da abordagem de equilíbrio limite – formulação de talude infinito-
-unidimensional para a condição submersa. Dessa forma, foi possível levar em consideração, no cálculo
dos fatores de segurança, o dado referente à geometria do fundo do mar (declividade) e as propriedades
mecânicas do solo marinho (resistência ao cisalhamento não drenada e peso específico submerso).
O resultado foi a obtenção de mapas regionais de fatores de segurança estáticos para avaliação de
propensão a deslizamentos submarinos translacionais rasos no talude e no Platô de São Paulo da Bacia de
Campos, considerando dois perfis de resistência ao cisalhamento não drenada do solo: um corresponden-
te a um limite inferior de resistência, e o outro referente a um valor de resistência intermediário.
Borges, R.G., Lima, A.C., Kowsmann, R.O. 2014. Áreas propensas a escorregamentos no talude continental. Kowsmann, R.O., editor.
Geologia e Geomorfologia. Rio de Janeiro: Elsevier. Habitats, v. 1. p. 99-136.
100 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental
SIG
km³, como ocorreu na África do Sul (Dingle, 1977). ativos de rios na margem continental, regiões de
Kvalstad et al. (2001) citam ainda que a extensão cânion, no talude continental e em ilhas oceâni-
em área e os volumes envolvidos em um cenário cas vulcânicas. A Figura 3 apresenta os percen-
de ruptura de talude submarino podem variar de tuais de casos de escorregamentos ocorridos na
escorregamentos locais, ou rastejos (creep), a enor- margem atlântica dos EUA de acordo com o am-
mes movimentos de massa submarinos envolven- biente submarino.
do milhares de metros cúbicos de solo. A Figura Grandes movimentos de massa foram observa-
2 relaciona a extensão em área com o número dos em taludes de baixa inclinação (Kvalstad et al.,
de casos de deslizamentos ocorridos na margem 2001). Esse aspecto pode ser observado na Figura
atlântica dos EUA, onde é possível notar predomi- 4, que apresenta a distribuição de deslizamentos
nância nos tamanhos entre 1 e 50 km². No Brasil, submarinos conforme a inclinação do talude. Um
Figueiredo Jr. et al. (1993) pesquisaram a região estudo baseado na teoria do talude infinito reali-
de Cabo Frio/RJ e, contrariando antigas pesquisas zado por Costa et al. (1994), no talude do Campo
realizadas na área, detectaram que cicatrizes de de Marlim (Bacia de Campos), mostrou que os fa-
pequenos escorregamentos são as feições domi- tores de segurança estáticos diminuem considera-
nantes na região. velmente com o aumento da poropressão e que
Segundo Hampton et al. (1996), escorrega- a influência da poropressão no valor do fator de
mentos são bastante comuns em cinco diferen- segurança é mais pronunciada em taludes de bai-
tes tipos de ambientes submarinos: fjords, deltas xas inclinações.
25
20
Número de Casos (%)
15
10
0
< 0,1
0,1 – 0,5
0,5 – 1
1–5
5 – 10
10 – 50
50 – 100
100 – 500
500 – 1.000
> 1.000
Figura 2. Extensão em área versus número de casos de escorregamentos submarinos ocorridos na margem
atlântica dos EUA. Adaptada de Lee (2004) por Silva (2005).
Geolog ia e G eomorfolog i a 103
50
40
Número de Casos (%)
30
20
10
0
Talude Cânions Cordilheiras Outros
Continental
Ambientes Submarinos
Figura 3. Ocorrência de movimentos de massa em diferentes tipos de ambientes submarinos na margem atlân-
tica dos EUA. Adaptada de Lee (2004) por Silva (2005).
15
399 Eventos
14
13
12
Densidade de Frequência (% / Graus)
11
10
0
<1
1–2
2–3
3–4
4–5
5–6
6–7
7–8
8–9
9 – 10
10 – 11
11 – 12
12 – 13
13 – 14
14 – 15
15 – 16
16 – 17
17 – 18
18 – 19
19 – 20
20 – 25
25 – 45
Figura 4. Distribuição da densidade de frequência do ângulo médio do talude relacionados aos deslizamentos
submarinos. Adaptada de Hance (2003).
104 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental
2.2. Fatores que influenciam a diversos estudos têm sido desenvolvidos por espe-
estabilidade do fundo do mar cialistas do mundo todo com o objetivo de enten-
Os deslizamentos submarinos resultam de uma der melhor as condições geológicas e geotécnicas,
interação complexa entre vários fatores diferen- bem como a dinâmica dos sedimentos submarinos
tes que atuam simultaneamente, com intensida- desses locais. Instabilidades geologicamente re-
des e escalas de tempo distintas, de acordo com o centes de taludes devem ser encaradas como um
ambiente geológico em que a área está inserida. risco potencial para as facilidades de exploração e
O ambiente geológico-tectônico-oceanográfico é produção de óleo ou gás.
o que regula a ação de cada fator que influencia a
estabilidade do solo marinho e cria, ou não, uma Estudos qualitativos
instabilidade potencial no local. Muitos tipos de escorregamentos de taludes
Hampton et al. (1996) resumiram as causas dos submarinos foram identificados no talude conti-
escorregamentos de taludes na Tabela 1: nental do Golfo do México. Alguns grandes movi-
mentos se iniciaram na quebra da plataforma con-
Tabela 1. Causas de movimentos de massa submari- tinental e se estenderam por grandes distâncias a
nos (Hampton et al., 1996). jusante do talude (Hooper e Prior, 1989). Muitos
desses escorregamentos provavelmente foram dis-
Fatores que influenciam Fatores que influenciam
a redução da resistência o aumento de tensões parados em períodos de nível de mar baixo, quan-
do solo no talude do sedimentos na borda da plataforma avançaram
Terremotos Terremotos
sobre a porção superior do talude (Suter e Berryhill,
Carregamento por ondas Carregamento por ondas 1985).
Mudanças de maré Mudanças de maré Campbell et al. (1986) estudaram o talude con-
Intemperismo Diapirismo tinental dos estados norte-americanos do Texas e
Sedimentação Sedimentação da Louisiana (a nordeste do Golfo do México), com
Gás Erosão o intuito de avaliar as condições geológicas e geo
técnicas do solo marinho para fins de projeto de
Segundo Costa et al. (1994), taludes natural- fundações. Eles verificaram que algumas regiões
mente estáveis podem tornar-se instáveis sob a apresentaram feições geológicas complexas, resul-
ação de um ou mais mecanismos de diversas na- tantes de atividades diapíricas de sal, falhamentos,
turezas, tais como: mudanças na morfologia que deslizamentos e outros tipos de movimentos de
alterem o equilíbrio de forças atuantes, como pro- sedimentos. Concluíram que a maioria dos movi-
cessos de erosão ou sedimentação; ação de for- mentos em larga escala parecia ter ocorrido em
ças externas, como atividade sísmica e efeitos de um passado geológico relativamente distante, mas
ondas; aumento da poropressão no solo causado a possibilidade de deslizamentos em menor escala
por carregamento ou deformação; diminuição das foi aventada. Assim, foram sugeridos levantamen-
tensões efetivas devido ao aprisionamento de po- tos geofísicos e geotécnicos mais detalhados, de
ropressão por variações no nível do mar e decrésci- forma que toda a região pudesse ser devidamente
mo progressivo da resistência ao cisalhamento do conhecida.
material, tanto por intemperismo ou degradação Estudos realizados por Caddah et al. (1998) e
quanto por acúmulo de deformações resultante de Kowsmann et al. (2002) também associaram a pe-
processos de creep ou de carregamentos cíclicos. ríodos de nível de mar baixo alguns depósitos de
movimentos de massa e camadas de debris flow
2.3. Trabalhos anteriores observados no talude continental e em regiões de
Desde que começaram as descobertas de cam- cânions na Bacia de Campos. No Platô de São Pau-
pos petrolíferos na região do talude continental, lo, foram notadas feições de movimentos de massa
Geolog ia e G eomorfolog i a 105
cicatrizes (remoção de sedimentos) ou de depósi- drenada ou não drenada, fornece o fator de segu-
tos sedimentares, resultado de escorregamentos rança mais adequado a cada caso.
ou de fluxo de detritos. As feições de remoção de Na análise probabilística, também realizada no
sedimentos foram identificadas a partir da análise Golfo do México, proposta por Nadim et al. (2003),
dos perfis sísmicos de alta resolução, em que os foi estabelecido um modelo de frequência de es-
refletores se apresentaram truncados, ou por meio corregamentos (ou seja, probabilidade anual de
de mapa fisiográfico, pelas alterações nos contor- ruptura) para avaliar os riscos inerentes às estru-
nos batimétricos. Essas feições foram comprovadas turas de engenharia submarinas. Esses autores de-
mediante a aquisição de testemunhos geológicos, fendem que a análise probabilística oferece maior
nos quais foram observadas discordâncias e ausên- precisão, pois o problema é conduzido de modo a
cia de biozonas, e de dados geotécnicos, median- lidar com as imprecisões comuns em análises de-
te o perfil descontínuo de resistência não drena- terminísticas, em que muitos parâmetros de resis-
da Su versus profundidade, evidenciando ausência tência do solo são incertos, fazendo com que os
de seção. No estudo, estabeleceu-se uma relação engenheiros utilizem valores conservativos. Foram
bastante clara entre os rebaixamentos do nível do definidos fatores de sensibilidade que quantifi-
mar e a iniciação de movimentos de massa. Nesse cam a contribuição de cada variável aleatória na
sentido, visto que a situação atual é de mar alto análise global de estabilidade. O estudo mostrou
e o tempo necessário para ocorrer uma mudan- grande relação entre altas taxas de sedimentação
ça nesse cenário é em muito superior ao tempo e escorregamentos rasos de solo. No Escarpamen-
de duração dos projetos de produção na Bacia de to San Pedro, a sudoeste da cidade de Long Beach
Campos, os autores concluíram que, atualmente, (Califórnia), onde feições morfológicas típicas de
não se esperaria a ocorrência de movimentos de grandes escorregamentos submarinos foram de-
massa em larga escala como os registrados na co- tectadas, Bohannon e Gardner (2004) desenvol-
luna sedimentar do talude de Marlim. Este traba- veram uma pesquisa com o objetivo de avaliar a
lho incorporou o estudo realizado por Costa et al. provável ocorrência de tsunamis. As cicatrizes de
(1994), que efetuou uma análise estática da estabi- escorregamentos e os depósitos de detritos ma-
lidade do talude fundamentada na teoria do talude peados e estudados constituem amplas evidências
infinito. de que a região foi fonte de pequenas e grandes
Um amplo estudo da estabilidade de taludes rupturas de taludes submarinos. Apesar de não se
foi realizado no escarpamento Sigsbee, junto aos poder afirmar que os escorregamentos resultaram
campos de Mad Dog e Atlantis, no Golfo do Mé- realmente em tsunamis, suas escalas sugerem a
xico. Nowacki et al. (2003) propuseram uma análi- possibilidade de ocorrência de tais eventos. Uma
se determinística de estabilidade de taludes com o razão teórica para essa afirmação foi obtida atra-
objetivo de obter uma estimativa do fator de se- vés de formulações em que a energia potencial da
gurança, estabelecer resultados de referência pa- massa de solo é transformada em energia cinética,
ra análises probabilísticas e, em combinação com uma vez detonado o movimento. A altura de onda
as análises probabilísticas, fornecer melhor com estimada foi de 12 m, mas os cálculos não levaram
preensão de como o fator de segurança aumen- em consideração a atenuação de acordo com a dis-
ta à medida que a superfície de cisalhamento se tância da fonte.
afasta da borda do escarpamento. Análises drena- Biscontin et al. (2004) utilizaram elementos fi-
da e não drenada indicaram taludes relativamente nitos para analisar o comportamento de taludes
estáveis, a não ser que um mecanismo disparador submarinos (depósitos de argila mole), quando
venha a rompê-los. Porém, o estudo não avaliou o dinamicamente solicitados (variação das relações
comportamento do solo em relação ao mecanismo tensão-deformação-resistência, assim como a ge-
disparador, não estabelecendo qual das análises, ração de poropressão). Concluíram que, além de
Geolog ia e G eomorfolog i a 107
gerar excesso de poropressão significante para de- foram comparadas com os resultados encontrados
sestabilizar um talude submarino durante o even- a partir da formulação clássica de talude infinito. A
to, um carregamento dinâmico também pode in- integração de dados geotécnicos e geofísicos foi
fluenciar sua estabilidade após o ocorrido, devido necessária para que todos os parâmetros utilizados
a redistribuição/processo de dissipação da poro- na metodologia pudessem ser obtidos. Os resul-
pressão no perfil de solo. tados indicaram dois pontos críticos ao longo da
Silva et al. (2004) apresentaram uma metodo- rota, ambos associados aos flancos do Cânion Ita-
logia de investigação de instabilidade de taludes pemirim, por apresentarem declividades elevadas.
submarinos fundamentada na integração de ferra- Foram realizados breves estudos com o objetivo de
mentas e métodos geofísicos e geotécnicos, além se avaliar o potencial destes pontos críticos sofre-
de avançadas técnicas de datação de sedimentos, rem instabilidades por meio de terremotos e ondas
e aplicaram-na em uma área localizada no talude de tempestade oceânica. Os resultados obtidos, no
continental do Texas-Louisiana, no Golfo do Méxi- entanto, descartaram tais mecanismos como fon-
co. Os estudos mostraram a ocorrência de várias tes de instabilidade.
rupturas de taludes na Bacia de Beaumont, situada
no centro da área de estudo. A altura desses talu-
des varia de 600 a 900 m, e há declividades localiza- 3. Aplicação de sistema de
das superiores a 25 graus. Análises realizadas atra- informação geográfica à
vés de equilíbrio limite, utilizando-se a geometria avaliação de suscetibilidade
conhecida dos taludes e os dados de resistência e a escorregamentos
densidade dos solos obtidos mediante sondagens Sistemas de informações geográficas têm si-
com um amostrador a pistão de grande diâmetro, do utilizados para a avaliação da suscetibilidade à
sugeriram que vários taludes se encontram em ocorrência de movimentos de massa subaéreos e
estado de ruptura incipiente sob condições dre- submarinos, tanto em abordagens regionais quan-
nadas. Já na Bacia de Calcasieu, localizada a no- to locais.
roeste da Bacia de Beaumont, a presença de um Os métodos para a avaliação de suscetibilida-
sedimento holocênico e de um pico de densidade de a movimentos gravitacionais de massa variam
foi observada nas amostragens no talude superior de puramente empíricos a modelos empíricos pro-
(norte), mas não nas amostragens realizadas ao sul. babilísticos e modelos puramente analíticos. Esses
Dessa forma, o pico de densidade foi interpretado modelos utilizam o mapeamento geológico, dados
como material proveniente de uma deposição de de pluviosidade (no caso de taludes subaéreos),
material escorregado, e a ausência do sedimento dados geotécnicos e dados do Modelo Digital do
holocênico sugeriu que o evento ocorreu em um Terreno associados a um sistema de informação
passado geológico recente (< 12.600 anos A.P.). geográfica, a fim de estimar espacialmente e de
Silva (2005) avaliou as condições de estabilida- forma temporal distribuições referentes à avaliação
de do solo marinho ao longo da rota de um duto de suscetibilidade a movimentos gravitacionais de
metálico de 10 polegadas de diâmetro revestido massa em um talude.
com concreto, localizado na Bacia de Campos. Os De acordo com Fernandes et al. (2001), os prin-
dados geológicos e geotécnicos foram adquiridos cipais procedimentos usados para a previsão de
por meio de um amplo levantamento geofísico e escorregamentos podem ser divididos em quatro
geotécnico realizado na diretriz do duto. As análi- grandes grupos:
ses de estabilidade se fundamentaram na teoria do
talude infinito, em metodologia aplicada por No- yy Análises a partir da distribuição dos escorrega-
wacki et al. (2003) nos campos de águas profun- mentos no campo: a distribuição de cicatrizes
das de Mad Dog e Atlantis, no Golfo do México, e e depósitos recentes, ou mesmo atuais, pode
108 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental
controlar futuros padrões de distribuição de são feitas na Engenharia Geotécnica, usam parâ-
instabilidade de taludes. Essas metodologias metros como a inclinação do talude, a coesão do
fazem uso de mapas que refletem a densidade solo, o ângulo de atrito, a poropressão, etc. O cál-
dos escorregamentos no campo (mapas feitos culo resulta em um fator de segurança contra des-
a partir de inventários de deslizamentos), seja lizamentos, o qual pode ser usado diretamente por
para um único evento, seja para uma série tem- engenheiros em projetos de infraestrutura ou em
poral. Entretanto, as informações geradas por trabalhos de remediação.
esse tipo de metodologia se limitam às áreas Neste trabalho, através de um sistema de infor-
onde ocorreram deslizamentos catalogados. mação geográfica, utilizou-se o modelo determi-
yy Análises a partir de mapeamentos geomorfoló- nístico para a avaliação regional de suscetibilidade
gicos e/ou geotécnicos: utilizam a combinação a movimentos de massa submarinos translacionais
de planos de informação em que se atribuem rasos no talude continental e no Platô de São Paulo
“notas” e “pesos” aos diversos planos, a partir da Bacia de Campos, tendo sido usado o método
da experiência do especialista. Apresenta gran- do equilíbrio limite – formulação de talude infinito
de limitação devido à enorme subjetividade submerso.
envolvida na caracterização de pesos e notas.
yy Modelos com bases estatísticas: utilizam o
4. Caracterização regional
princípio da existência de relações funcionais
da área de estudo
entre os fatores condicionantes e a distribui-
ção dos escorregamentos, ou seja, os fatores 4.1. Fisiografia
que causam a instabilização em certo local no A Bacia de Campos situa-se na margem Su-
passado serão os mesmos que gerarão futuros deste, em frente aos estados do Rio de Janeiro e
escorregamentos. Em sua maioria, esses mode- do Espírito Santo. Abrange uma área de cerca de
los utilizam análises estatísticas de correlação 100.000 km² até a cota batimétrica de -3.400 m,
entre as variáveis. sendo que apenas 500 km² encontram-se emersos
yy Modelos determinísticos: alguns desses proce- (Gonzaga, 2005).
dimentos utilizam modelagem matemática em Sua geologia regional é apresentada em Castro
bases físicas, com base em processos e leis fí- e Picolini (Capítulo 1, deste volume, e referências
sicas naturais. nele contidas). É uma bacia de margem divergente,
resultante da tectônica distensional relacionada à
Modelos determinísticos para estabilidade de quebra do continente Gondwana no Cretáceo In-
taludes têm sido usados desde o início do século ferior (Dias et al., 1990). O arcabouço da bacia foi
passado para o cálculo de estabilidade de taludes condicionado pelas estruturas do embasamento,
individuais (Nash, 1987). Apenas recentemente vá- mas o piso marinho foi particularmente afetado
rios pesquisadores começaram a adotar esse mode- pela tectônica salífera, que gerou falhas de caráter
lo para elaborar mapas de estabilidade de taludes extensional nas porções mais proximais e diapiris-
para grandes áreas, tais como barragens (Ward et mo salino e estruturas compressionais nas porções
al., 1981; 1982; Okimura e Kawatani, 1987; Brass et mais distais (Dias et al., 1990).
al., 1989; Benda e Zhang, 1990; Van Asch et al., 1992; A fisiografia da bacia foi descrita por Viana et
1993; Van Westen et al., 1994; Terlien et al., 1995; al. (1998) e pode ser subdividida em plataforma
Terlien, 1996) e rodovias (Hammond et al., 1992). continental, talude e Platô de São Paulo, esta úl-
A vantagem da aplicação dos modelos deter- tima uma província modificada pela tectônica salí-
minísticos em estudos de estabilidade de taludes fera. Recentemente, uma imagem detalhada da fi-
se deve a seu embasamento em leis da Física. Aná- siografia da bacia foi apresentada por Schreiner et
lises de estabilidade de taludes, como aquelas que al. (2007/2008), com base em dados de sísmica 3D.
Geolog ia e G eomorfolog i a 109
A plataforma continental possui relevo suave e lamosos, sob forma de depósitos de escorrega-
monótono, sem desníveis de grande expressão, e mento (slumps) dobrados e deformados (Caddah
declividade média em torno de 0,5 grau. Seu limi- et al., 1998) e depósitos de fluxo de detritos con-
te externo é definido pela quebra da plataforma, glomeráticos (Machado, 2001). Areias siliciclásticas
que se encontra a aproximadamente 180 metros ocorrem de forma limitada e são oriundas da pla-
de profundidade. taforma continental. Apresentam a forma de franja
Já o talude continental apresenta variações em no talude superior (Viana e Faugères, 1998) e tam-
sua morfologia e uma declividade média de cerca bém estão associadas aos cânions submarinos ma-
de 4 graus. As variações morfológicas decorrem da duros (Machado et al., 2004).
presença de cânions, ravinas e sulcos, cujas escar-
pas podem atingir declividades acima de 30 graus.
O limite externo do talude pode chegar a 2.300 m 5. Modelagem matemática e
de lâmina d’água. cálculo do fator de segurança
O Platô de São Paulo é caracterizado por rele- Devido à natureza complexa dos movimentos
vo irregular ocasionado pela movimentação de ca- de massa, é difícil prever a configuração exata do
madas de sal em subsuperfície (halocinese). Nele, mecanismo de ruptura e do volume de solo a ser
ocorrem grandes desníveis, que podem variar de deslocado. Entretanto, dependendo das condições
0,5 grau a valores acima de 20 graus, com média do terreno e de algumas suposições analíticas, mo-
de 1 grau. Seu limite externo coincide com uma delos matemáticos teóricos adequados podem ser
grande escarpa que ocorre em uma profundidade produzidos para esse tipo de análise (Bhattarai et
aproximada de 3.000 m. al., 2004).
A Figura 5 apresenta o mapa de batimetria pa- Modelos matemáticos têm origem nas formu-
ra a região do talude continental e Platô de São lações relacionadas à análise de estabilidade de ta-
Paulo da Bacia de Campos, extraído de Almeida e ludes. As análises baseadas no equilíbrio limite, tais
Kowsmann (Capítulo 3 deste volume). Nela, é pos- como: talude infinito, Bishop, Fellenius, Spencer, en-
sível ver que o talude apresenta um perfil côncavo tre outros, são as mais utilizadas atualmente para a
ao Sul e ao Norte da bacia, e é fortemente esculpi- análise individualizada de um talude. Essas análises
do por cânions e ravinas. Já o talude central, onde consideram que as forças que tendem a induzir à
se situam os principais campos de águas profun- ruptura são balanceadas pelos esforços resistentes.
das, é bem mais suave, embora marcado por inú- A fim de se comparar a estabilidade de taludes em
meras cicatrizes (Caddah et al., 1998, Kowsmann et condições diferentes de equilíbrio limite, define-se o
al., 2002). Sua forma convexa é herdada da cunha fator de segurança (FS) como a resultante das forças
progradante do Mioceno subjacente (Kowsmann e solicitantes e resistentes ao escorregamento (Guidi-
Viana, 1992). cine e Nieble, 1976; Laird, 2001).
Segundo Guidicine e Nieble (1976), a estabi-
4.2. Composição do solo lidade de taludes se baseia na relação entre dois
No talude continental e no Platô de São Paulo, tipos de forças: as estabilizantes (resistentes) e as
o fundo do mar é composto dominantemente por desestabilizantes. A razão entre essas duas forças é
lama hemipelágica de espessura variável, cerca de denominada fator de segurança. O fator de segu-
alguns metros (Caddah et al., 1998). A lama hemi- rança pode ser calculado aplicando-se a equação
pelágica, depositada por suspensão, é composta 1 para avaliar áreas suscetíveis a movimentos de
por silte e argila siliciclásticos, com teores variáveis massa:
de carbonato de cálcio oriundo de carapaças de
seres planctônicos mortos. Essa lama geralmen- Esforçosestabilizantes
FS = (1)
te recobre depósitos de movimento de massa Esforçosdesestabilizantes
110 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental
ES
0
20
–1
00
21° S
–1
–50
–220
–100
0
–2300
–2100
–2200
0
70
–2
00
–2600
-1
–26
00
–40
0m
0 –3
–6
00
00
–21 –25
00 00
–25
–2600
00
RJ –2200
22° S
–3000
–2600
–2
0
00
60 0
–5 –2000
–2
00
–2900–25
0
–1500
70
–23
–100
–29
0
00 –2
00
90
40
–1
00 0
–1
–9
0
00
–1
00
–2
00
0
90
–8 10
0
–2
00
–1
–5
–2700
20 0
–28
–2 160
00
0
0
50m
0
0–0
00
0
00
10 –2600
-5
–1
–3
0 –2
90
–100
0
–2
00m
0
80
–200
–2
23° S
-2
0
80
–1
0
0m
40
–2 0
00
0
-2
5
–2
0
80
–2
0
70
00 0
0
–300
–2
90
–2
–2
0
30
–1
00
CONTORNO BATIMÉTRICO
–2300
N
–25
0
–1800 00
–1700 –2
0
24° S
50
–2
0 12,5 25 50
km
DATUM: SIRGAS 2000
Figura 5. Batimetria detalhada da Bacia de Campos apresentada em Almeida e Kowsmann (Capítulo 3, neste
volume).
Geolog ia e G eomorfolog i a 111
Um fator de segurança menor ou igual a 1 in- extensão ilimitada que possui condições e pro-
dica a ruptura dos maciços, sendo considerado se- priedades do solo constantes em qualquer dada
guro o talude quando apresenta um fator de segu- distância abaixo da superfície do talude. Por sim-
rança maior do que 1,50 (ABNT NBR 11682:2009). plificação, o solo pode ser considerado homogê-
Para taludes subaéreos, a maioria dos modelos neo, mas um talude infinito consiste em várias ca-
matemáticos inclui fatores como ângulo de decli- madas de diferentes tipos de solo dispostas umas
vidade, distribuição espacial das camadas com os sobre as outras, desde que paralelas à superfície
parâmetros do solo (peso específico, coesão e ân- do terreno. Dessa forma, qualquer coluna vertical
gulo de atrito) e a posição do nível de água no so- de solo dentro de um talude infinito é, por defi-
lo. A influência de um possível acréscimo de resis- nição, igual a qualquer outra dentro do mesmo
tência pela presença de raízes de plantas pode ser talude. Segundo Massad (2010), taludes infinitos
acrescida de forma independente em alguns mo- consistem em taludes de encostas naturais que se
delos, ou por um simples ajuste no valor da coesão caracterizam por sua grande extensão, centenas
do solo (Laird, 2001). de metros, e pela reduzida espessura do manto de
Em muitas verificações de estabilidade de talu- solo, de alguns metros. A ruptura, quando ocor-
des, o desenvolvimento das equações estruturadas re, é do tipo planar, com linha crítica situada na
no conceito de talude infinito é bastante frequen- interface entre duas camadas com características
te, e isso se deve à sua relativa simplicidade e por físicas distintas.
permitir o cálculo automático de índices de esta-
bilidade em áreas extensas (Bhattarai et al., 2004). Formulação de talude infinito submerso
Modelos desse tipo se baseiam em leis físicas que No equilíbrio do paralelepípedo oblíquo de
refletem o fenômeno estudado e possibilitam que seção ABCD da Figura 6, serão consideradas as
hipóteses específicas sejam testadas, diminuindo, forças de pressão hidrostática P1 e P2, atuando,
assim, sua subjetividade (Gomes et al., 2005). respectivamente, nas faces verticais AD e BC, e Q1
Uma formulação matemática para o cálculo de e Q2, atuando, respectivamente, nas faces inferior e
FS, baseada em talude infinito na situação submer- superior do paralelepípedo prismático, cuja seção
sa para material de Mohr-Coulomb e solo coesivo, transversal é o paralelogramo ABCD. As compo-
foi apresentada por Paganelli e Borges (2005), a nentes horizontal E e vertical X, da força interlame-
qual é descrita a seguir. lar, são iguais em magnitude e de sentido contrário
nas faces verticais AD e BC. Entretanto, as resul-
5.1. Conceito de talude infinito tantes das forças de pressão hidrostática P1 e P2,
Apesar de os escorregamentos submarinos atuando, respectivamente, nas faces verticais AD e
acontecerem normalmente em larga escala, mobi- BC, são diferentes.
lizando volumes de massa significativos, a análise Seja p a pressão d’água atuante ao longo da
de estabilidade do fundo do mar foi realizada em horizontal pelo centro da face superior, em perfil
pequena escala, considerando apenas a camada representada pelo segmento CD. As resultantes da
superficial do perfil de solo na área analisada. pressão hidrostática nas faces inferior, AB, e supe-
A análise de estabilidade foi feita a partir da rior, CD, do paralelepípedo são perpendiculares ao
teoria do talude infinito, em metodologia simpli- plano potencial de escorregamento AB e, portanto,
ficada em relação à descrita por Mackenzie et al. não contribuem para a resultante na direção pa-
(2010), para projetos de desenvolvimento da pro- ralela ao plano de cisalhamento. Resta considerar
dução de óleo e gás de águas profundas com mais as resultantes das pressões hidrostáticas nas faces
de 1.000 km² de área. verticais AD e BC.
Segundo Taylor (1948), o termo talude infinito O empuxo horizontal da pressão hidrostática,
é usado para designar um talude constante com P1, sobre a face AD é dado pela equação 2, onde gw
112 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental
é o peso específico da água e ue é o eventual ex- paralelepípedo de seção vertical ABCD é o produto
cesso de poropressão atuando na face vertical AD, do empuxo horizontal P pelo cosseno de a, expres-
devido à vibração sísmica ou à consolidação parcial so pela equação 5:
do sedimento, quando for o caso de material não
consolidado: Tw = P cos α = γw b H sen α (5)
1 1 W = γt b H (6)
P2 = p + γw H − γ w b tg α + u e H (3)
2 2
A soma TG das componentes na direção tan-
Consequentemente, a resultante das forças de gencial ao plano do escorregamento do peso pró-
pressão hidrostática nas faces verticais AD e BC do prio saturado e da força de inércia, WG = k.W, é
paralelepípedo ABCD é a força horizontal P, dada dada pela equação 7:
pela equação 4:
TG = γt (sen α + k cos α) b H (7)
P = P1 – P2 = γw b H tg α (4)
Considere-se também a contribuição das for-
Portanto, a projeção Tw, na direção tangencial, ças de pressão hidrostática para a força tangencial
da resultante das forças de pressão hidrostática no mobilizada. As forças de pressão atuando nas faces
Q2
C
H
P2
E’
WG
G
X
D
B
X
P1
T
E’ A α
W
Q 1 N’
inferior e superior, sendo perpendiculares ao pla- segmento CD no leito marinho, a força Q2, decorren-
no potencial de escorregamento, não têm compo- te da pressão hidrostática, resulta na equação 11:
nente na direção tangencial. Consequentemente, a
componente tangencial da resultante T das forças Q2 = p b / cos α (11)
atuantes no bloco de seção ABCD, que inclui o pe-
so próprio saturado, forças de pressão hidrostática A força de pressão Q1 atuante na face inferior
atuantes nas faces do paralelepípedo e eventuais AB, na superfície potencial de escorregamento, é
forças de inércia na direção horizontal, é expressa dada pela equação 12:
pela equação 8:
Q1 = (p + γw H) b / cos α (12)
T = TG – Tw = γt b H (sen α + k cos α) – γw b H
Considerando o equilíbrio de forças na direção
sen α = (γt – γw) b H sen α + k γt b H cos α (8) normal, levando em conta o excesso de poropres-
são (ue) produzido no caso de excitação dinâmi-
Portanto, podemos escrever que a força tan- ca, obtém-se a força normal efetiva N’ através da
gencial mobilizada T é dada pela equação 9: equação 13:
No caso estático, onde k = 0 e ru = 0, as equa- Na Figura 7, estão contidos os nomes das princi-
ções 22 e 26, respectivamente para material de pais feições geomorfológicas (Schreiner et al., 2008),
Mohr-Coulomb e material coesivo, ficam reduzidas tanto as mais consagradas, como o Sistema Turbidí-
às equações 27 e 28, respectivamente: tico Almirante Câmara e os cânions do Grupo Sudes-
c' te (Hercos et al., 2008; Machado et al., 2004; Viana
+ tg ϕ' et al., 1999), quanto aquelas estudadas mais recen-
γ' H cos2 α
FS = (27)
tg α temente, como o Sistema Turbidítico Itabapoana, o
Sistema Turbidítico Marataízes (Hercos et al., 2005) e
( S u0 / H ) + ζ as paleolinhas da costa (Della Giustina, 2006).
FS = (28)
γ ' ⋅ sen α ⋅ cos α
Mapa de declividade
5.2. Análise de estabilidade A batimetria utilizada para se criar o mapa de
A modelagem matemática (análise de estabili- geomorfologia da Figura 7 foi a base para que pu-
dade de taludes submarinos) realizada teve como desse ser gerada a declividade do piso marinho, já
base a formulação de talude infinito submerso. O que a declividade é obtida aplicando-se a primeira
cálculo do fator de segurança estático contra desli- derivada à batimetria. Para cada cela do mapa de
zamentos foi executado mediante a ferramenta de declividade, o valor do ângulo de inclinação a do
álgebra matricial da aplicação do sistema de infor- piso marinho está armazenado.
mação geográfica, apresentando como resultado a O mapa de declividade da Figura 8 mostra que
variação espacial do fator de segurança para toda grande parte da bacia apresenta uma declividade
a área, e não somente para um talude específico. muito baixa (0 a 2 graus). Destacam-se, pelas ele-
vadas inclinações relativas, as regiões de cânions e
Modelo digital da geomorfologia ravinas no talude ao norte e ao sul da bacia (10 a
Para elaborar a imagem de edge detection da Ba- 25 graus) e, na parte central da bacia, as paredes
cia de Campos (Figura 7), Schreiner et al. (2007/2008) dos cânions (15 a 30 graus) e a inclinação do talude
elaboraram um mosaico batimétrico do fundo do inferior (8 a 15 graus) com suas inúmeras cicatrizes;
mar. Para isso, foi reunido o fundo do mar de 37 di- no platô adjacente, ressaltam-se as escarpas cria-
ferentes projetos sísmicos, além de 12 levantamentos das pelas cadeias de sal (10 a 20 graus) e as mar-
de multibeam com o complemento da batimetria de gens dos canais turbidíticos.
varredura por interferometria de sonar.
Segundo Schreiner et al. (2007/2008), esses Cálculo do fator de segurança
projetos sísmicos perfizeram 54.010 km². Nas áreas No mapa de declividade da Figura 8, que é a
sem cobertura de sísmica 3D ou onde havia dis- base para a geração do mapa de fatores de segu-
ponibilidade de dados de melhor resolução, foi rança, os valores de declividade maiores ou iguais
usada batimetria multibeam. Esses levantamentos a 45 graus foram classificados como 45 graus, en-
multibeam totalizaram 2.300 km² de 12 campanhas quanto os valores iguais a 0 grau foram transforma-
distintas. No extremo leste da área, onde havia au- dos para 0,1 grau. A utilização de valores maiores
sência de 3D ou multibeam, somaram-se 6.000 km² que 45 graus e iguais a 0 grau invalidaria a fórmula
de batimetria de varredura por interferometria de utilizada para o cálculo do fator de segurança. Nes-
sonar. se mapa, apresenta-se declividade máxima em cada
Edge detection é um algoritmo que detecta a cela, expressa em graus, constituindo-se no pior ca-
coerência entre valores de uma matriz. No caso da so para a estabilidade de taludes.
batimetria, essa coerência é medida entre os valo- Foram utilizados os programas de geoproces-
res de profundidade de lâmina d’água da região samento da Intergraph denominados GeoMedia®
em estudo. Professional e GeoMedia® Grid, versões 6.01.
116 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental
7700
0
Rio
–20
Ita
em
p
irim
ES Sistema Turbidítico
Marataízes
00
Debritos
–20
Rio Itab
a poana Leque Arenoso
Sistema Turbidítico Turbidítico
Itabapoana
Barreira de Sal
RJ
S
7600
7600
do Contorníticos
íba Almirante Câmara
Rio Para
Quissamã
Salio da
na
osta
de C
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n has tica São Tomé Debritos
o li á
Pro ite Ex
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Plataforma Pa
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Ca
rb Halocinese
a
Lim
m
Continental or Cicatrizes de
af
Deslizamento
at
Pl
Calha Distal do
7500
7500
Almirante Câmara
Talude
Mound Contornítico
Depósitos Lençol Arenoso
Contorníticos Contornítico Cadeias de Diapirismo
Salino
Goitacá
Tupinambá
Temiminó
Tamoio Grupo de Cânions SE
Cânions do Grupo Tupiniquim Imaturos
Sul-Sudeste
os
rit
eb
D
de
al
nt
e
Bacia de Campos
00
Av
–2
7400
7400
Ondas de Sedimento
00
de o
es nt
–20
t riz me N
ca iza
Ci esl
D
0 10 20 30 40 50
km
Figura 7. Modelo digital da geomorfologia indicando as principais feições geomorfológicas do fundo do mar da
Bacia de Campos (Schreiner et al., 2007/2008).
Geolog ia e Geomorfolog i a 117
ES
21° S
21° S
RJ
22° S
22° S
23° S
23° S
DECLIVIDADE (°)
0–2
2–4
4–6
6–8
8 – 10
10 – 12
12 – 14
14 – 16
16 – 18
N 18 – 20
20 – 22
0 12,5 25 50 22 – 24
24° S
24° S
km
DATUM: SIRGAS 2000 24 – 60
Figura 8. Declividade do fundo do mar da Bacia de Campos; baseado no Modelo Digital do Terreno de Schreiner
et al. (2007/2008).
118 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental
Para avaliar a suscetibilidade a deslizamentos angular da equação Su = Su0 + z.H, um amplo con-
submarinos, após a modelagem numérica do ter- junto de perfis de resistência ao cisalhamento não
reno e a determinação do valor de declividade a drenada em função da profundidade foi interpre-
ser utilizado em cada cela, aplicou-se a formulação tado, de modo a encontrar, num primeiro momen-
matemática de talude infinito para a condição sub- to, aquele que representaria a pior situação para
mersa, considerando o talude como constituído um estudo de estabilidade de taludes submarinos,
por solo coesivo normalmente adensado. qual seja, quando o parâmetro z da razão incre-
Assim, a equação 28 apresentada anteriormen- mental de variação da resistência com a profundi-
te, descrita em Paganelli e Borges (2005), foi apli- dade é mínimo. Posteriormente, um valor médio
cada por meio de uma ferramenta de álgebra ma- para o parâmetro z foi pesquisado para represen-
tricial do programa GeoMedia®. Essa ferramenta tar um solo coesivo de resistência intermediária
possibilitou que fossem realizadas operações ma- para o talude da bacia.
temáticas para toda a área de estudo. A Figura 9 ilustra as locações dos furos geotéc-
nicos constantes no banco de dados geotécnicos
( S u0 / H ) + ζ
FS = (28) do Cenpes/Petrobras.
γ ' ⋅ sen α ⋅ cos α
Por se tratar de uma área com um número es-
Onde: tatisticamente significativo de ensaios de resistên-
FS = fator de segurança estático contra desliza- cia in situ calibrados por ensaios de laboratório, foi
mentos, para material coesivo; possível estimar os valores de resistência mínima e
Su0 = resistência ao cisalhamento não drenada na média para a área de estudo. Dessa pesquisa, re-
superfície do terreno, kPa; sultou que o furo geotécnico com o perfil de Su
H = espessura da camada de solo analisada, m; correspondendo a um limite inferior de resistência
z = taxa de crescimento da resistência Su com a é o do GT-212, e o referente a uma resistência mé-
profundidade vertical H abaixo do piso marinho, dia, o perfil do furo GT-500.
kPa/m; As Figuras 10 e 11 apresentam os perfis de Su
g’ = peso específico submerso do solo, kN/m³; obtidos para os furos GT-212 e GT-500, respecti-
a = declividade do fundo do mar, em graus. vamente:
O furo GT-212 foi executado pela embarcação
Informações geotécnicas Peregrine II em 1998, no Campo de Espadarte, nas
Para a confecção dos mapas de fatores de se- coordenadas UTM E 354.370 m e N 7.483.541 m
gurança estáticos contra deslizamentos transla- (Datum Aratu-BC, MC 39°O), em uma lâmina
cionais rasos no talude continental e Platô de São d’água de 963,39 m. A profundidade final do fu-
Paulo da Bacia de Campos, foram selecionados ro foi de 20,67 m. O furo GT-500 foi executado na
dois perfis geotécnicos de resistência ao cisalha- campanha de investigação geológica e geotécni-
mento não drenada dos sedimentos superficiais do ca de 2003, realizada pelo navio MV Bucentaur, no
talude da bacia, quais sejam: um correspondendo a Campo de Marlim Sul. Suas coordenadas UTM são
um limite inferior de resistência e outro referente a as seguintes: E 376.414 m e N 7.473.150 m (Datum
um perfil de resistência média para o solo. Aratu-BC, MC 39°O). A profundidade de água nes-
As propriedades do solo necessárias à aplica- sa locação é de 1.624,50 m. A profundidade final
ção da equação 28 são a resistência ao cisalhamen- do ensaio foi de 40,41 m.
to não drenada Su e o peso específico submerso do No caso do furo geotécnico GT-212 (Figura 10),
solo g’, os quais foram pesquisados através de con- na camada superficial a equação de resistência obti-
sulta ao banco de dados geotécnicos do Cenpes/ da a partir de tensões totais é dada pela equação 29:
Petrobras (BDG). Para se obterem os valores míni-
mo e médio do parâmetro z, que é o coeficiente Su = 1,424 H + 3,000 (29)
Geolog ia e Geomorfolog i a 119
ES
21° S
21° S
22° S
22° S
RJ
23° S
23° S
RING-FENCE
24° S
0 12,5 25 50
km
DATUM: SIRGAS 2000
Figura 9. Locações dos ensaios de cravação de piezocone plotados sobre a imagem da morfologia do fundo do
mar da Bacia de Campos (Figura 7), de Schreiner et al. (2007/2008). Em verde, contorno de ring-fence dos campos
da Petrobras na Bacia de Campos.
120 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental
10
Profundidade, H (m)
15
20
25
10
15
Profundidade, H (m)
20
25
30
35
40
45
0 2 4 6 8
0
8
Profundidade, H (m)
10
12
14
16
18
20
Na análise de estabilidade de taludes, o fator condição crítica, onde as forças resistentes e atuan-
de segurança com relação à resistência ao cisalha- tes no talude estão equilibradas.
mento do material tem, tradicionalmente, as se- Tendo em vista os riscos envolvidos em proje-
guintes funções: tos de desenvolvimento da produção de óleo e/ou
gás offshore, é necessário levar em consideração
yy Levar em consideração as incertezas nos parâ- um nível de segurança alto para o talude da Bacia
metros de resistência ao cisalhamento devido à de Campos, tanto contra a perda de vidas humanas
variabilidade do solo e a relação entre a resis- quanto contra danos materiais e ambientais. Dessa
tência medida no laboratório e aquela obtida forma, o fator de segurança considerado mínimo,
nos ensaios de campo. requerido para garantir a segurança do piso mari-
yy Contabilizar as incertezas quanto aos carrega- nho da área, é de 1,50, de acordo com padrões re-
mentos atuantes no talude, tais como: cargas comendáveis de Engenharia, encontrando suporte
superficiais, peso específico, poropressões etc. nas diretrizes da ABNT NBR 11682:2009.
yy Considerar as incertezas na forma como o mo- O fator mínimo aceitável de 1,50, de acordo
delo representa as condições reais no talude, com a norma citada, tem a finalidade de cobrir as
incluindo: a possibilidade de que o mecanismo incertezas referidas anteriormente. Entretanto, es-
de ruptura crítico seja um pouco diferente da- sa norma se refere ao estudo e ao controle da es-
quele que foi identificado, e que o modelo não tabilidade de encostas e de taludes resultantes de
seja conservativo. cortes e aterros realizados em encostas, diferindo
yy Assegurar que as deformações no corpo do ta- do caso aqui analisado, qual seja, a estabilidade de
lude sejam aceitáveis. taludes naturais submarinos. Tal referência foi usa-
da em razão da ausência de normas quanto à se-
O fator de segurança igual a 1 não indica que gurança de taludes contra deslizamentos na con-
a ruptura de um talude seja necessariamente imi- dição offshore.
nente. O fator de segurança real é fortemente in- O resultado do cálculo do fator de seguran-
fluenciado por detalhes geológicos, como proprie- ça estimado para cada cela foi um mapa temático
dades tensão-deformação do solo, distribuição apresentando a distribuição espacial dos valores
real de poropressões, estado de tensões inicial, dos fatores de segurança. Esses resultados passa-
ruptura progressiva e inúmeros outros fatores. En- ram por uma etapa de agrupamento automático
tretanto, na prática, é conveniente assumir que um em intervalos previamente definidos, em que o fa-
fator de segurança de nível 1 seja definido como a tor de segurança foi classificado em quatro classes
Tabela 2. Definição das classes de estabilidade do piso marinho com base nos valores de fatores de segurança.
diferentes, como mostra a Tabela 2. Essa classifi- mais resistentes do que os perfis geotécnicos de
cação define as áreas potenciais a deslizamentos. resistência das camadas superficiais de solo ado-
Outras classificações poderiam ser adotadas a tados. Esse fato evidencia que a declividade a é
partir da matriz de variação de fator de segurança o parâmetro de maior peso na relação dada pela
obtida como resultado da modelagem matemáti- equação 28.
ca. Como a matriz armazena os valores brutos dos As áreas coloridas em azul nos mapas de fa-
fatores de segurança, qualquer nova classificação tores de segurança estáticos contra deslizamentos
(condição) pode ser adotada. apresentados nas Figuras 13 e 14, por serem de
Considera-se que o valor do fator de seguran- baixas declividades, resultaram em valores de fato-
ça tem relação direta com a resistência ao cisalha- res de segurança acima do mínimo de 1,50. Essas
mento do material do fundo do mar. Admite-se, áreas são consideradas pouco suscetíveis à ocor-
portanto, que um maior valor do fator de segurança rência de escorregamentos translacionais rasos, na
corresponda a uma segurança maior contra ruptura. ausência de mecanismos de disparo identificados e
Os cálculos de fatores de segurança estáticos de anormalidades localizadas.
contra deslizamentos foram feitos utilizando-se o Embora o talude da Bacia de Campos apresen-
sistema de informação geográfica, aplicando-se o te intenso histórico de instabilidade no passado
método do equilíbrio limite – formulação de talu- geológico recente, exemplificado por cânions, ra-
de infinito submerso unidimensional, obtendo-se vinas e cicatrizes, depósitos de escorregamento e
o fator de segurança para cada cela individual e de fluxo de detritos, discordâncias e afloramentos,
ignorando-se a influência das celas vizinhas. Atra- cerca de 300 testemunhos a pistão que amostra-
vés desse modelo, foi possível incorporar o dado ram as feições de instabilidade do talude confirma-
relativo à geometria do fundo do mar (declivida- ram que os eventos causadores ocorreram maciça-
de) e às propriedades mecânicas do solo. O pro- mente em períodos de rebaixamento do nível do
duto deste trabalho são os mapas das Figuras 13 mar e cessaram há pelo menos 11.000 anos, quan-
e 14, que, por meio das diferentes condições de do o nível do mar reocupou a plataforma conti-
fatores de segurança, definem áreas potenciais a nental (Kowsmann et al., neste volume). Na parte
movimentos de massa submarinos translacionais central da bacia, onde se localizam os principais
rasos no talude continental e no Platô de São Pau- ativos da Petrobras, os eventos cessaram há pelo
lo da Bacia de Campos, considerando-se perfis de menos 42.000 anos. Exceção são as escarpas das
resistência ao cisalhamento não drenada mínimo cadeias de sal, localizadas na porção distal da ba-
e médio, respectivamente. O solo do talude foi ti- cia, em lâminas d’água superiores a 2.500 m, onde
do como constituído inteiramente por lama nor- afloram sedimentos antigos sem cobertura hemi-
malmente adensada. Para a geração desses mapas, pelágica, devido à tectônica salífera ativa até hoje
aplicou-se apenas a carga estática gravitacional. (Kowsmann et al., 2002).
Forças adicionais ou cargas sísmicas não foram Aparece também, embora com maior fator de
consideradas. segurança, a área de declividade mais acentuada
Os mapas de fatores de segurança apresenta- do talude inferior na parte central da bacia. Essa
dos nas Figuras 13 e 14 mostram, em tese, as áreas faixa situada entre as isóbatas de 1.200 e 1.800 m
mais suscetíveis à instabilidade no talude continen- é conhecida como Tobogã (Kowsmann e Viana,
tal e no Platô de São Paulo da Bacia de Campos. 1992), por apresentar uma forma sigmoide e pro-
Destacaram-se as paredes de cânions e ravinas e pensão a deslizamentos, que deixaram cicatrizes e
os flancos das cadeias de sal e, em menor grau, o expuseram sedimentos mais antigos junto ao fun-
Tobogã na parte central da bacia, que são áreas do do mar (Figura 15).
com declividades elevadas, mas que, na realidade, A partir dos dados obtidos pela campanha
são constituídas de afloramentos consolidados, de investigação geológica e geotécnica, realizada
126 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental
ES
21° S
RJ
22° S
23° S
FS < OU = 1,00
FS > 1,50
Parâmetros – GT212:
N
Su0 = 3 kPa
24° S
ES
21° S
RJ
22° S
23° S
FS < OU = 1,00
FS > 1,50
Parâmetros – GT/JPC-500:
N
Su0 = 0,157 kPa
24° S
Figura 14. Cenário de suscetibilidade a deslizamentos obtido da modelagem matemática, considerando uma
resistência média (dados dos furos GT/JPC-500).
128 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental
NO
MTD
00
1.500
–2
Pleis
tocen
o
MTD
0
00
N
–2
2.000
Miocen
o
2.500
SE
MTD
2 km
3.000
Figura 15. Seção sísmica através do talude inferior propenso a deslizamentos e conhecido como Tobogã.
pelo navio MV Bucentaur em 2003, Borges (2009) de cada camada fornecidas pelos furos geotécni-
analisou a estabilidade geotécnica de quatro se- cos, levando em consideração suas discordâncias
ções geológicas provenientes da área do Tobogã e os saltos em resistência. O método de avalia-
no talude inferior da Bacia de Campos. O software ção escolhido para a estabilidade do talude foi o
utilizado foi o Slope/W 2007 (Geo-Slope, 2008), de Morgenstern e Price, (1965). O perfil através
versão 7.15, produzido pela empresa canadense do Tobogã com o fator de segurança calculado
Geo-Slope/W International Ltd. (Calgary, Canadá). considerando uma superfície potencial de ruptura
Na modelagem dessas quatro seções, foi utili- do tipo rotacional profunda apresentou um valor
zada a metodologia de análise de estabilidade de de fator de segurança mais realista, superior ao
taludes proposta no Relatório Técnico do Projeto das Figuras 13 e 14, mostrando que, ao honrar a
de P&D 600.234 da Petrobras: Modelagem Compu- geometria das camadas e suas propriedades geo
tacional de Taludes Submarinos pela Aplicação do técnicas medidas, o fator de segurança aumenta
Programa SLOPE/W (Paganelli e Costa, 2003). consideravelmente.
Uma das seções geológicas modeladas através Na Figura 17 é apresentado o resultado da
do Tobogã é apresentada na Figura 16. análise de estabilidade por equilíbrio limite do
Para a análise de estabilidade do talude da talude da seção da Figura 16. O mapeamento da
seção da Figura 16, foram atribuídas, a essa se- superfície de ruptura crítica foi feito utilizando-se
ção estratigráfica, as propriedades geotécnicas a técnica Entry and Exit disponível no Slope/W,
Geolog ia e G eomorfolog i a 129
–1,0
GT-300 DEPÓSITO DE FLUXO DE DETRITOS
GT-382
GT-383
GT-384
–2,0
–2,5
–3,0
–1 4 9 14 19 24 29
Distância (m) (x 1000)
Figura 16. Seção geológica através do Tobogã utilizada para a modelagem através do programa Slope/W (adap-
tada de Borges, 2009). Furos com testes de PCPT e amostragem dos sedimentos forneceram os parâmetros
geotécnicos necessários.
Geolog ia e G eomorfolog i a 131
pois sismos naturais são considerados, em geral, a geográficas 22,67°S e 40,52°O; em 24 de outubro
causa provável de deslizamentos de taludes sub- de 1972, um sismo de magnitude mb = 4,8 e coor-
marinos, que, de outro modo, seriam estáveis na denadas epicentrais 21,72°S e 40,53°O; e, em 5 de
condição estática. maio de 1917, outro sismo, de magnitude mb = 4,5,
Em 1o de julho de 2010, foi registrado um sismo com coordenadas epicentrais 21,60°S e 41,50°O
de magnitude aproximada de 4,1 mb, cujos dados (Berrocal et al., 1984).
foram coletados através das estações sismográficas Deve-se considerar que grande quantidade
ESAR (Angra dos Reis/RJ), Valinhos (USP/SP), RCLB dos sismos de magnitude acima do mínimo detec-
(UNESP/SP) e SFA1 (UnB/DF). As coordenadas epi- tável ocorrem com frequência nas Bacias de Cam-
centrais aproximadas desse sismo foram 22,30°S e pos e de Santos, sendo a sismicidade da Bacia da
40,37°O. Não foi possível determinar a profundi- Santos maior do que a de Campos. Para caracte-
dade focal. A localização do epicentro tem uma in- rizar quantitativamente a sismicidade de uma re-
certeza muito grande (± 100 km), pois as estações gião, é necessário obter a relação frequência ver-
estão distantes, e os registros, muito fracos (ESAR, sus magnitude dessa região, onde os sismos são
a mais próxima, está a 430 km), e todas estão de observados e contabilizados. Essa é a chamada
um mesmo lado do epicentro. Esse sismo provocou curva frequência versus magnitude excedida em
ruídos na área epicentral onde estão localizados gráfico monolog, onde a escala de frequência é
os campos de Enchova e Pampo, com duração de logarítmica e a escala de magnitudes excedidas é
aproximadamente 2 minutos. linear. De acordo com a lei de Gutenberg-Richter,
Anteriormente já foram registrados sismos a função resultante registrada nesse tipo de escala
nessa região: em 26 de outubro de 1996, um sismo deve ser uma linha reta. Quanto menor a magnitu-
de magnitude mb = 4,0 ocorreu nas coordenadas de excedida, maior será a frequência dos eventos
3.909
SUPERFÍCIE DE RUPTURA
–1,0
GT-300 DEPÓSITO DE FLUXO DE DETRITOS
GT-383
GT-384
–2,0
–2,5
–3,0
–1 4 9 14 19 24 29
Distância (m) (x 1000)
Figura 17. Resultado da análise de estabilidade através do programa Slope/W para o talude da seção da Figura
16. O fator de segurança estático associado à superfície de ruptura crítica em amarelo foi de 3,909.
132 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental
de magnitude excedida, e os eventos sísmicos de submetido a uma solicitação dinâmica de certa du-
magnitude superior a valores mais altos, como os ração e intensidade, pode escoar pelo vale do câ-
anteriormente exemplificados, serão mais raros. nion, representando um perigo real para os dutos
É importante instalar estações sismográficas que ligam os poços à unidade de produção. Esse
próximas à costa e mais próximas umas das outras, risco deve ser avaliado através de análises compu-
sendo que a rede atual é rarefeita e com poucas tacionais específicas, utilizando ensaios cíclicos pa-
estações costeiras. Além disso, para planejamento, ra a obtenção do comportamento do solo e usan-
projeto, gestão e mitigação de risco sísmico, faz- do como carregamento sísmico um acelerograma
-se necessária a instalação de estações submarinas de projeto criteriosamente definido. Entretanto,
acelerográficas ou sismográficas com capacidade tais análises ainda não podem ser feitas também
de alta taxa de amostragem (número de valores em função da ausência de dados.
medidos amostrados por segundo).
A realização de análises de estabilidade pseu-
doestáticas ou dinâmicas, levando em conside- 7. Conclusões
ração a ação de sismos, forneceria períodos de Foi avaliada a suscetibilidade regional a movi-
retorno e probabilidades de ocorrência de desli- mentos de massa submarinos rasos no talude con-
zamentos na Bacia de Campos, embasando melhor tinental e no Platô de São Paulo da Bacia de Cam-
o processo de decisão. Entretanto, isso ainda não pos, considerando-se, para a verificação, apenas a
é possível, em função da carência desse tipo de condição de aplicação da carga estática gravitacio-
dado. Para contornar esse problema, uma rede nal. Forças adicionais ou cargas sísmicas não foram
de monitoração de sismos offshore para a região consideradas. Utilizando um sistema de informa-
das Bacias de Campos, Santos e Espírito Santo es- ção geográfica (SIG), técnicas de análise espacial
tá em fase de planejamento e compra de equipa- foram adotadas para aplicar um método determi-
mentos, sendo definidos os locais para as estações nístico de estabilidade de taludes para mapear
sismográficas. áreas suscetíveis a movimentos de massa submari-
Em 2008, a Petrobras e o Observatório Nacio- nos rasos no talude da bacia.
nal firmaram um convênio para implantar a Rede A análise de estabilidade de taludes foi feita
de Monitoração Sismográfica. Após iniciar as duas sob condições não drenadas em termos de tensões
primeiras etapas do projeto, que preveem a insta- totais considerando um solo argiloso normalmente
lação de 11 estações nas Regiões Sul e Sudeste pa- adensado e se baseou no cálculo do fator de segu-
ra monitorar, principalmente, as Bacias de Campos, rança do piso marinho pelo método do equilíbrio
de Santos e do Espírito Santo, e a instalação de 30 limite – formulação de talude infinito submerso
estações para o monitoramento no Nordeste, a unidimensional. Dessa forma, foi possível levar em
Petrobras firmou convênio com a Universidade de conta no cálculo dos fatores de segurança o dado
São Paulo para a instalação de outras 30 estações relativo à geometria do fundo do mar (declivida-
sismológicas na Região Centro-Oeste. Essa rede de de) e as propriedades mecânicas do solo marinho
monitoração será importante para determinar com (resistência ao cisalhamento não drenada e peso
maior precisão os epicentros de abalos sísmicos. específico submerso).
Além da avaliação da estabilidade de taludes, A adoção de um modelo matemático funda-
seria aconselhável verificar a possibilidade de li- mentado em fenômenos físicos possibilitou que se
quefação dos sedimentos da base dos cânions e calculasse a variabilidade espacial dos valores de
vizinhanças de suas desembocaduras, onde a de- fatores de segurança estáticos contra deslizamen-
clividade do piso marinho é baixa. Dependendo tos submarinos para toda a área do talude conti-
do comportamento reológico do solo não aden- nental e do Platô de São Paulo da Bacia de Cam-
sado na base dos cânions, quando esse solo for pos, através do uso de um sistema de informação
Geolog ia e G eomorfolog i a 133
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