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Resumo
INTRODUÇÃO
SEGREGAÇÃO URBANA
1
A mercadoria tem dois valores, que são produzidos em todas as etapas até ser consumida. Valor de uso é um
bem material essencial para todas as realizações do consumo, como o alimento, o vestuário, a habitação, os
meios de transporte e, nos dias de hoje, os meios de comunicação do mundo virtual. O valor de troca é a
transformação do valor de uso em necessidades do mercado e do consumo, por exemplo, a força de trabalho, o
mercado imobiliário da terra e da habitação, os serviços privados de consumo coletivo, etc.
(1980) o ambiente construído se divide em elementos de capital fixo a serem
utilizados na produção (fábricas, rodovias, ferrovias, etc.) e em elementos de
fundo de consumo a serem utilizados no consumo (ruas, casas, parques, passeios,
etc).
Na sociedade capitalista e contemporânea, o ambiente construído é
produzido pelo Estado, capital imobiliário, pela iniciat iva privada e outros atores
que atuam no espaço urbano. Geralmente, os atores que ditam a segregação urbana
interferem nos espaços da cidade que irão receber os principais instrumentos do
ambiente construído, como hospitais, escolas, setor de negócios fin anceiros,
mercado de trabalho, rede de transportes (metro, trens e ônibus), centros de
ciência e tecnologia, dentre outros.
A literatura sociológica sobre segregação não é absoluta, em diferentes
sociedades e contextos espaciais as diferenças estão prese ntes. Do século XX aos
dias de hoje, as lutas do e pelo espaço não se resume à segregação sócio-espacial.
Existem outros mecanismos que movem e dão forma à segregação urbana,
com ou sem a vontade explícita dos atores sociais envolvidos. A segregação
voluntária entra em cena quando determinado grupo social decidi ocupar ou deixar
determinada área. Um exemplo típico é a segregação da riqueza em São Paulo, que
no decorrer do século XX foi se deslocando para o quadrante sudoeste 2. A outra
face, a segregação involuntária, como a segregação da pobreza que muda de lugar
conforme o seu poder de compra, geralmente, nos últimos lugares da cidade onde o
mercado imobiliário da terra e da habitação não tem interesse ; em loteamentos
irregulares, morros, cortiços e favelas (Villaça, 2001).
A elaboração de políticas públicas para combater a segregação deve ter como
orientação a cidadania e a igualdade para todos. Nós só podemos pensar em uma
sociedade democrática e cidadã, onde todos possam ter os mesmos direitos de
igualdade, mobilidade, comunicação, moradia digna e usufruto de tudo o que a
cidade produz, a partir de políticas de combate e eliminação da segregação e das
desigualdades.
A literatura da academia brasileira pouco observou a segregação da
população negra (Villaça, et al. 2001). A raça não é uma categoria analítica central
nos estudos sobre segregação no Brasil, quando aparece ocupa um lugar de pouco
2 São Paulo do ponto de vista político administrativo tem 96 distritos, a região sudoeste reúne os distritos mais
ricos e de melhor infra-estrutura urbana, dentre eles: Perdizes, Vila Mariana, Itaim Bibi, Moema, Morumbi, etc.
destaque. Vargas (2005) contextualiza que a literatura nacional aborda raça nas
entrelinhas, ou seja, está no universo da segregação da pobreza.
3 A Pesquisa Unesco nos idos de 1940, tinha como objetivo, comprovar que em solo brasileiro a idéia de
democracia racial era fértil, um verdadeiro paraíso racial. Os resultados dos primeiros estudos, como os de
Florestan Fernandes e Roger Bastide, comprovaram que o mito da democracia racial não é real no cotidiano
brasileiro.
desenvolvimento ficaram nas mãos dos brancos; 3. a crítica em relação ao mito da
democracia racial (Fernandes, 1965).
Com a sociedade urbana industrial em desenvolvimento, a inserção do negro
na sociedade de classes foi necessária. A inserção aconteceu em razão do fim da
imigração, a necessidade de mão-de-obra barata para compor o operariado e o
dinamismo das transformações do mundo urbano industrial. As desigualdades entre
brancos e negros, tão abruptas nas três primeiras décadas do século XX sofreria
impactos diretos com a constituição da sociedade industrial, que tenderia a
proporcionar mudanças e oportunidades no mercado de trabalho para a população
negra, no entanto, em postos de baixa remuneração.
Na cidade maravilhosa – Rio de Janeiro – a transição de escravo à cidadão
também não se concretizou. A capital carioca proporcionou proletarização em
massa dos homens e mulheres negras. A participação da população negra no
desenvolvimento urbano industrial do Rio de Janeiro foi mais elevada do que São
Paulo, em razão da imigração, que foi espontânea, a de São Paulo foi subsidiada
pelo Estado (Hasenbalg, 1999). Nas três primeiras décadas do século XX a
geografia física e social do Rio de Janeiro já delimitava os lugares entre brancos e
negros. A construção da cidade, ou seja, a produção e reprodução d o espaço social
já estava em plena contextualização: de um lado, quanto maior a urbanização,
maior a participação de brancos; de outro lado, quanto menor a urbanização, maior
a participação de negros. Nos idos de 1940 no Rio de Janeiro, 70,95% da
população favelada era negra, sob um total de 138.837 favelados (Pinto, 1998).
Quanto mais proletária a área, maior a participação negra.
Em outro contexto, Donald Pierson (1945) e Thales de Azevedo (1955)
estudaram as relações raciais na cidade de Salvador, co nsiderada a principal
concentração negra dentre as cidades brasileiras. Segundo os autores, encontramos
em Salvador uma sociedade multirracial de classes. Mas os negros estão sobre-
representados nas ocupações mais degradantes e de baixa remuneração e, no que
tange à ocupação residencial, também são maioria nos bairros mais pobres da
capital soteropolitana. Thales de Azevedo (1955) descreve a distribuição da
população negra conforme a condição social e racial, isto é, a maioria da população
negra vivia como toda a classe baixa, em bairros pobres e nos contornos da cidade
ou em pequenos aglomerados de casas modestas intercaladas nas áreas residenciais
das classes mais altas. A estrutura de classes e a ocupação da cidade de Salvador é,
de um lado, sobre-representada por brancos nas principais posições sociais e os
melhores lugares na cidade, e, de outro lado, a sobre-representação da população
negra nas desigualdades sócio-territoriais.
A segregação da população negra nas primeiras décadas do século XX,
conforme as leituras de Fernandes (1971), Pinto (1998) e Azevedo (1955) é o
cenário da segregação invisível e mascarada. Os negros estão sobre -representados
nas favelas, nos cortiços, porões, nas periferias, em determinadas regiões próximo
dos melhores lugares, mas em geral, estão na base da hierarquia socioeconomica.
Após os trabalhos da Pesquisa Unesco, nas décadas de 1970 e 1980 temos a
combinação de estudos sobre a questão urbana e as relações raciais. As primeiras
análises interpretativas, elas não só reiteram as anteriores, (Fernandes; Pinto,
1998), mas avançam ao compor o quadro das desigualdades entre brancos e negros
na sociedade brasileira.
Dentre os trabalhos críticos, Nascimento (1977) colabora para a composição
da análise do urbano combinado às relações raciais. O autor faz interessante
abordagem (intelectual e política) ao denunciar o genocídio material e simbólico da
população negra. O genocídio é resultado do racismo institucional, tendo à frente
a estrutura do Estado (escola, mercado de t rabalho, saúde, cultura, equipamentos de
consumo coletivo, etc). A estrutura legal garante vantagens e benefícios para a
população branca de todas as classes sociais, que estão presentes no cotidiano
brasileiro mesmo sem o exercício da lei.
As desigualdades sociais e raciais no plano urbano e da cidade, demarca
lugares e hierarquias socioeconômicas entre brancos e negros. Gonzáles (1982)
descreve que, da cidade escravista à cidade contemporânea, os lugares ocupados
por negros e brancos não sofreram mudança s estruturais.
4 A cidade ilegal é a forma de construção em loteamentos irregulares, cortiços, favelas, ocupações em áreas de
proteção ambiental que não estão nos trâmites da legislação urbanística.
No censo de 2000 5, a população negra alcançou as franjas da capital
paulistana, ou seja, ela está nos limites da cidade (ver mapas 1 e 2). A
representação negra alcançou a média de 30% na urbe paulistana, conforme as
informações do Censo do IBGE. Na Figura 1, estão distribuídos os distritos com
população negra acima de 30% e na Figura 2, os distritos com população negra
abaixo de 15%. A primeira cartografia é resultado da segregação, promovida desde
as primeiras décadas do século XX, como a separação da população negra do seu
lugar de origem e o ininterrupto deslocamento para as regiões mais pobres. A
segunda cartografia, de um lado, são os negros que conseguiram algum sucesso na
vida, que se encontram na condição de classe média; profissionais liberais, micro -
empresários e àqueles que atingiram mobilidade sócio -econômica por meio da
escolaridade (Silva, 2006; Oliveira, 2008). De outro lado, são os prestadores de
serviços que moram no local de trabalho ou nos arredores.
5 Infelizmente, para este trabalho, não temos os dados do Censo Demográfico do IBGE de 2010, referente a
combinação de espaço urbano, classe social e raça. Estamos, no momento, em fase de observação das
informações que serão analisadas em trabalhos posteriores.
Classificamos abaixo, para melhor compreensão da segregação, a
distribuição negra 6 nos 10 primeiros distritos com maior participação e nos 10
primeiros distritos com menor part icipação.
6 As informações do IBGE, no que diz respeito à cor/raça, trabalha as seguintes categorias: branco, preto, pardo,
amarelo e ignorados. Neste trabalho, estou considerando negro as pessoas que se declaram pretos e pardos.
Portanto, estou utilizando a categoria negro enquanto um conceito social e político.
(comunicação e tecnologias), o capitalismo nacional e internacional. No quadrante
sudoeste estão distribuídos os mais altos salários dos chefes de família brancos.
Em terceiro, quanto às diferenças espaciais e raciais, de um lado, o
trabalhador negro é sobre-representado nos estratos de renda de zero até três
salários mínimos, de outro lado, a su brepresentação nos estratos de renda acima de
dez salários mínimos. Nas periferias, homens e mulheres negras recebem salários
menores que seus vizinhos brancos, mesmo estando em ligeira vantagem no quadro
educacional (Oliveira, 2008).
O embranquecimento no mercado de trabalho na sociedade paulistana,
geralmente, proporciona poucas oportunidades para o trabalhador negro nas
posições de status, prestígio e poder econômico. Na capital paulistana, a renda
média dos trabalhadores é de R$ 1.031,85 (Fundação SEA DE, 2000) no contexto
geral da força de trabalho. O rendimento diferencia -se, primeiro, os homens
brancos recebem em média R$ 1.919,20 e os negros R$ 690,54. As mulheres, R$
1.092,23, para as brancas e R$ 425,47, para as negras. Calculando a média entre
homens e mulheres, brancos e negros, os trabalhadores brancos recebem em média
R$ 1.505,50 e os trabalhadores negros R$ 557,50. O trabalhador negro recebe
apenas 37% do rendimento, comparado ao ganho médio do trabalhador branco.
Nos espaços reservados à riqueza e à pobreza, brancos e negros definem seus
lugares na sociedade paulistana, através das posições socioeconômicas, os lugares
de moradia, trabalho e escolaridade.
Tabela 2 - Renda do Chefe de Família nos dez distritos com maior população negra
na cidade de São Paulo
Homem Mulher
Sub-Prefeitura Branco Negro Branca Negra
Freguesia/Brasilândia 1.036,00 647,00 562,06 384,83
C.Ademar 1.068,00 590,00 557,00 322,99
Campo Limpo 1.620,00 667,88 901,96 361,18
M’Boi 821,00 585,00 448,00 337,00
Socorro 1.008,00 528,00 544,00 345,00
São Miguel 782,00 581,00 448,00 320,00
Itaim Paulista 698,00 515,00 364,00 285,12
Itaquera 949,00 699,51 499,00 397,00
Guaianases 665,07 533,48 377,85 296,81
Cidade Tiradentes 622,09 522,81 405,55 380,65
Fonte: IBGE, 2000.
Nos 96 distritos da capital paulistana, a diferença de rendimento entre
brancos e negros é significativa, conforme o recorte de classe social, espaço,
gênero e raça.
Conforme informações da tabela 2, nas subprefeituras/distritos a renda do
chefe de família negra é inferior ao chefe de família branc a. A diferença tem grade
relevância no processo acumulativo das desigualdades entre brancos e negros
(Hasenbalg e Silva, 1999). Segundo Porcaro (1981), o lugar do negro no mercado
de trabalho diz respeito ao seguinte quadro: é o primeiro a adentrar e o último a
sair, tem rendimento inferior aos brancos, forte tendência ao proletariado e sobre -
representação nos espaços da pobreza.
A segregação da população negra acontece em virtude da sua condição soc ial
ou em razão da cor/raça? São os dois fenômenos, a condição social e a cor/raça em
combinação, são determinantes para a sobre-representação negra nas cidades
brasileiras, em geral, inscrita no quadro das desigualdades em todas as frentes da
sociedade brasileira (Fernandes, 1940).
Os distritos pesquisados para este trabalho, Brasilândia, Cidade Tiradentes
e Jardim Ângela, foram selecionados em razão da distribuição negra em seus
territórios e, particularmente, os trabalhos de Oliveira (2002, 2008), q ue
contribuem para a observação da segregação da população negra.
Brancos Negro
Casa Apto. Cômodo Casa Apto. Cômodo
Município 5.152.619 1.710.498 63.731 2.635.235 395.364 68.781
De SP 64,5% 77,8 47,5% 32,9% 18% 51,3%
Brasilândia 124.979 15.038 2.577 85.301 8.868 3.518
58,5% 61,7% 41,9% 39,6% 36,4% 37.2%
Cidade 42.918 50.460 765 49.929 43.184 1.458
Tiradentes 45,9% 53,5% 34,1% 553,4% 45,8% 65%
Jardim 109.558 1.146 4.992 118.633 352 6.791
Ângela 47,3% 75% 41,8% 51,5% 23% 56,8%
Fonte dos dados: IBGE, 2000.
7 Padrão periférico de crescimento urbano, trata-se da expansão horizontal das periferias na capital paulistana e
na região metropolitana, por intermédio da autoconstrução em loteamentos irregulares, ocupações, em áreas de
risco e de proteção ambiental, nos finais de semana.
têm mais vantagens nos mercados de trabalho e habitacional. Outra face das
desigualdades urbanas entre brancos e negros, diz respeito ao quadro da habitação
subnormal (favelas, loteamentos irregulares e cortiços) 8.
8 A classificação do censo do IBGE, 2000, consideração como subnormal apenas os aglomerados acima de 50
unidades. Portanto, a contagem não reconheceu o universo fora da lei abaixo de 50 unidades.
a ocupação, portanto, a habitação é um bem material e simbólico em interface ao
bairro, à estrutura urbana e social da cidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
BIBLIOGRAFIA
CASTELLS, Manuel. A Questão Urbana. São Paulo: Editora Paz e T erra, 1983.
CORREA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. São Paulo: Editora Ática, 2000.
IBGE, Censo Demográfico da Cidade de São Paulo - 1980, São Paulo: IBGE, 2000.
_______. Censo Demográfico da Cidade de São Paulo - 1980, São Paulo: IBGE,
1991.
_______. Censo Demográfico da Cidade de São Paulo- 1980, São Paulo: IBGE,
1980.
KOWARICK, Lúcio. Espoliação Urbana. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.
SILVA, Maria Nilza da. Nem para todos é a cidade: segregação urbana e rac ial
em São Paulo. Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006.