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OobjetiVO deste livro é introduzir o
le1tor ao conhecimento do Brasil - sua
formação histórica, seu povo, sua socie-
dade, sua cultura, sua economia. suas
instituições. O caminho escolhido para
Introdução ao BraJi!
isso foi apresentar. na forma de exten·
sas resenhas, feitas por renomados es· UM B.\ 'QUE.TJ~ o TRÓPICO
n I 111
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OobjetiVO deste livro é introduzir o
le1tor ao conhecimento do Brasil - sua
formação histórica, seu povo, sua socie-
dade, sua cultura, sua economia. suas
instituições. O caminho escolhido para
Introdução ao BraJi!
isso foi apresentar. na forma de exten·
sas resenhas, feitas por renomados es· UM B.\ 'QUE.TJ~ o TRÓPICO
n I 111
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2 15 315
(,JL l'J I I IRE
r.a " J:rande & Jtllwla
Cf·l.'i<J fURTAIXJ
Frmna(ãr; e{f)1rfmtica do Brasil
Nota do Editor
LlldeRu .Jl Ba t•J hanci~co de Oliveira
335
235 RAYMUNOO fAORO
Os d()llOS de poder
Laura de Mello c Souza
357
A TO 10 CA :DIDO
257
Formação da llltratura brasileira O Brasil- instituições, economia, cultura, história -é o tema que reúne
(. I' A(J(J) (JP.
F01711ajáo dr; Bra ;/ (rm!m.J,r;rtÍT/tfJ BenjaJnJn Abdala Junior dezenove estudiosos para apresentar o trabalho de meaba que, ao pen r a
nacionalidade, foram decisivos para compreen~-la. de seus primórd alé
381 hoje.
jost HoN6~ RODRIGUES Com rimas, coincidências e discordâncias, as obras h'atadaJ que dos
273 C()nállafáD e ref()l'7fl(J no Brasil Sennões aos Sertõe1, de ClUa-gronde & seltZJlÚl a Formaçílo econômi
do Bra.sí/, aqui se visitam, referem-se uma à outra, nsalimenram-se criand
Alberto da ÜKta e Sdva
elos que iluminam DOIIOS SOO Ala. U-las é um modo de partJc.ípar da
c discus ão .oote esse país meatiço localizado no trópioo
393
Sem colocar ponto final no aMUDID, pois se trata de uma ·mrod
Fwn.HA fL a A oes
este livro pretende estimular o contato direto com texU»
A rewluçiio burgutJa no Brasrl
2~3 cançado e se objetivo, a Editora Seoac Sio Paulo já eed euniiJI'Íiio
GabneiCohn papel, dilatando os horizontes de conhecimenco da DOMa real
413
Sobre os autores
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2 15 315
(,JL l'J I I IRE
r.a " J:rande & Jtllwla
Cf·l.'i<J fURTAIXJ
Frmna(ãr; e{f)1rfmtica do Brasil
Nota do Editor
LlldeRu .Jl Ba t•J hanci~co de Oliveira
335
235 RAYMUNOO fAORO
Os d()llOS de poder
Laura de Mello c Souza
357
A TO 10 CA :DIDO
257
Formação da llltratura brasileira O Brasil- instituições, economia, cultura, história -é o tema que reúne
(. I' A(J(J) (JP.
F01711ajáo dr; Bra ;/ (rm!m.J,r;rtÍT/tfJ BenjaJnJn Abdala Junior dezenove estudiosos para apresentar o trabalho de meaba que, ao pen r a
nacionalidade, foram decisivos para compreen~-la. de seus primórd alé
381 hoje.
jost HoN6~ RODRIGUES Com rimas, coincidências e discordâncias, as obras h'atadaJ que dos
273 C()nállafáD e ref()l'7fl(J no Brasil Sennões aos Sertõe1, de ClUa-gronde & seltZJlÚl a Formaçílo econômi
do Bra.sí/, aqui se visitam, referem-se uma à outra, nsalimenram-se criand
Alberto da ÜKta e Sdva
elos que iluminam DOIIOS SOO Ala. U-las é um modo de partJc.ípar da
c discus ão .oote esse país meatiço localizado no trópioo
393
Sem colocar ponto final no aMUDID, pois se trata de uma ·mrod
Fwn.HA fL a A oes
este livro pretende estimular o contato direto com texU»
A rewluçiio burgutJa no Brasrl
2~3 cançado e se objetivo, a Editora Seoac Sio Paulo já eed euniiJI'Íiio
GabneiCohn papel, dilatando os horizontes de conhecimenco da DOMa real
413
Sobre os autores
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e E e os que teram
ua formação da laera·
I!
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e E e os que teram
ua formação da laera·
I!
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l"'liWIJlt,', ll 1-(liJRENÇO OI\ TI\S MOTA
l~r 11 1 llt"r.tlur .t, ,utt:s, polttic,t. estudos sobre nossa lormaçao - tudo pa sa bcrto Freire supera as contorções e vacilações de Euclides da Cunha e po -
sibilita ao bra~1h!1ro d i. ar de se lamentar por ser como é e reconcth r-se
p•u 111 ntnt n •ttr.tlulho Jc rdlcxiio, contestaçao c revisão. Retrato do /Jra-
il d1 l';mlo Pr.tdtl, que partictpar.t ativamente da Semana, é parte desse consigo mesmo. Com seu livro, o Brasil se liberta da pesada herança a que
lotoyíl M.1 o pc sinusmn desse livro, ressaltado desde o início pelos críti- se refere Walnice Nogueira Galvão, a do "racismo aceito e aprovado pr ci-
co., prim:lp.ilrucnll: por ~uJ insist~ncia na tese da tristeza brasileira c na samcnte por aqueles que ele discrimina".
lllt cn~ttl.ldc c n.r fm ma com que a luxúria c a cobiça teriam marcado nossa Brasílio Sal! um Jr., logo no início de sua resenha de Raizes do Brasrl, d
1 nnaç.1o no pcrítJdo coloni.d. faz com que ele ainda permaneça em boa Sérgio Buarque de Holanda- o segundo livro da trilogia lembrada por Francts-
111 dida t11bnt.u1o do pas~aJo. Mesmo que Paulo Prado não tenha atribuído
co de Oliveira-, adverte que esse não é um livro de história, mas que "u a a
\JIIll ncg.1t1\0 .r mi cigcnação, como era comum nos estudiosos que o ante- matéria legada pela história para identificar as amarras que bloqueiam no pre-
~:cdcra!ll. I· mt· mo que stw dura crítica às nossas elites, no "Post scriptum",
sente o nascimento de um futuro melhor". E tratando de um dos capítulos mais
,timl.t m mt nhot w1 várias passagens perturbadora atualidade. Marco Auré- famosos e discutidos de Rafzes, o do "homem cordial", mostra que para Sérgio
Buarque o indivíduo formado em um ambiente dominado pelo patriarcali mo,
lto Nogucii.J com.h11 em sua resenha:
como é o caso do brasileiro, "dificilmente conseguirá distinguir entre o domínio
MJt~ qu~ um tlt.tgnó\ttCn, tr~t~va- ~de um veredito pesado, amargo, categórico, que privado e o domínio público". Para ele, diz Sal! um,
tolhtJ ao c~mlnr qualquer chance de c r llcxf\CI, de. c perguntar. por exemplo, se essa
" trnn r rJ e pcctal" nao: n.t c alr tJÚo mJt~ i arde, adqumdooutros traços. atenua- aqui quase sempre predominou, tanto na admimstraçlo pdbhca como em outras
do ua' uulêncl.t
áreas, o modelo de relações gerado na vida domésuca- a esfera dos laço a~ uvos e de
parentesco. Vale sublinhar que essa concepção de patrimonialismo dtz respctto a uma
forma de domlnio polftico em que agrupamentos enra1zado em grupos panrculan~tas
publ!caçao dl! (aw-grmule & ~cn::ala, em 1933, põe abaixo dois da sociedade- a famnia e seus desdobramentos- produzem um viés na esfera púhlt
mtto teimosos - o., ddcrminisrnos geográfico e racial, segundo os quais, ca. submelem o Estado. e o interesse geral, ao seu parllculansmo.
unphflcat.lann:ntc. a maim ia dl: nossos males tinha suas raízes no fato de
s •nno um p.tís tropical c rm:~ttço. No caso da geografia, uma condenação Esse é apenas um exemplo de amarra que dificulta a transformação da
in.lp~la~cl. Da nu tura de raças, isto é, da innuência "negativa" principal- sociedade. Quanto à cordialidade do brasileiro, que ainda se presta a muitas
mente d,t população Jtcgra, ó o ''branqueamento" poderia, quem sabe, a interpretações apressadas, ela é, lembra Sallum,
longuís~imo pnuo, quando se completasse, redimir o Brasil. Gilberto Freire
m~1stra cntao "~·r .wtktcntífica "afirmação da superioridade ou da inferiori- tentattva de recon truçlo fora do ambiente famrliar, no plano societário, do mesmo
dade de uma raça ob1c a outra. construindo sua reflexão sobre a anteriori- Upo de sociabtlidadc da famflta patrian:al, de um Upo de soctabllidldc dependente de
laços comumtários. Seriam exemplos disso algumas formas de IIDJuaacm. de xpre -
daJe c plicati\'a d.t cu ltura. Afirma que a formação social brasileira se deve
slo religiosa, c: até o horror às hierarquias e a busca de inumldldc no tratamento
,10 africano c que tndo brasileiro é racial ou culturalmente negro", diz Elide
di pcn ado à autoridade.
Ru •,u B.tstos E m.11,. Freire "atribui uma função social diferente da conven-
wnalm~nll' .rtrihuída ao negro na formação brasileira, a partir da qualifica-
Ç.tt t.lck conw coluni;:ador. isto é, dando ênfase ao papel civilizador por ele
' l' ·nta il1". Ou seja, não apenas somos racial ou culturalmente negros
t:omo es ·,1 lont.liçüo nada tem de inferior. Casa-grande representa "uma
\' rdadcii .1 revolução nos estudos sociais no país" não só por isso como pelo
' lutk> que faz da influência da família patriarcal na formação brasileira e
pür .\;i rio nutro aspectos apontados por Elide Rugai Bastos. Nem os que
lç.J ltam I ,HJtrov rtiJa tese da democracia racial, deduzida dessa e de ou-
tr" obra 'l .tutor, negam o caráter revolucionário de Casa-grQI'Ide. Gil·
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l"'liWIJlt,', ll 1-(liJRENÇO OI\ TI\S MOTA
l~r 11 1 llt"r.tlur .t, ,utt:s, polttic,t. estudos sobre nossa lormaçao - tudo pa sa bcrto Freire supera as contorções e vacilações de Euclides da Cunha e po -
sibilita ao bra~1h!1ro d i. ar de se lamentar por ser como é e reconcth r-se
p•u 111 ntnt n •ttr.tlulho Jc rdlcxiio, contestaçao c revisão. Retrato do /Jra-
il d1 l';mlo Pr.tdtl, que partictpar.t ativamente da Semana, é parte desse consigo mesmo. Com seu livro, o Brasil se liberta da pesada herança a que
lotoyíl M.1 o pc sinusmn desse livro, ressaltado desde o início pelos críti- se refere Walnice Nogueira Galvão, a do "racismo aceito e aprovado pr ci-
co., prim:lp.ilrucnll: por ~uJ insist~ncia na tese da tristeza brasileira c na samcnte por aqueles que ele discrimina".
lllt cn~ttl.ldc c n.r fm ma com que a luxúria c a cobiça teriam marcado nossa Brasílio Sal! um Jr., logo no início de sua resenha de Raizes do Brasrl, d
1 nnaç.1o no pcrítJdo coloni.d. faz com que ele ainda permaneça em boa Sérgio Buarque de Holanda- o segundo livro da trilogia lembrada por Francts-
111 dida t11bnt.u1o do pas~aJo. Mesmo que Paulo Prado não tenha atribuído
co de Oliveira-, adverte que esse não é um livro de história, mas que "u a a
\JIIll ncg.1t1\0 .r mi cigcnação, como era comum nos estudiosos que o ante- matéria legada pela história para identificar as amarras que bloqueiam no pre-
~:cdcra!ll. I· mt· mo que stw dura crítica às nossas elites, no "Post scriptum",
sente o nascimento de um futuro melhor". E tratando de um dos capítulos mais
,timl.t m mt nhot w1 várias passagens perturbadora atualidade. Marco Auré- famosos e discutidos de Rafzes, o do "homem cordial", mostra que para Sérgio
Buarque o indivíduo formado em um ambiente dominado pelo patriarcali mo,
lto Nogucii.J com.h11 em sua resenha:
como é o caso do brasileiro, "dificilmente conseguirá distinguir entre o domínio
MJt~ qu~ um tlt.tgnó\ttCn, tr~t~va- ~de um veredito pesado, amargo, categórico, que privado e o domínio público". Para ele, diz Sal! um,
tolhtJ ao c~mlnr qualquer chance de c r llcxf\CI, de. c perguntar. por exemplo, se essa
" trnn r rJ e pcctal" nao: n.t c alr tJÚo mJt~ i arde, adqumdooutros traços. atenua- aqui quase sempre predominou, tanto na admimstraçlo pdbhca como em outras
do ua' uulêncl.t
áreas, o modelo de relações gerado na vida domésuca- a esfera dos laço a~ uvos e de
parentesco. Vale sublinhar que essa concepção de patrimonialismo dtz respctto a uma
forma de domlnio polftico em que agrupamentos enra1zado em grupos panrculan~tas
publ!caçao dl! (aw-grmule & ~cn::ala, em 1933, põe abaixo dois da sociedade- a famnia e seus desdobramentos- produzem um viés na esfera púhlt
mtto teimosos - o., ddcrminisrnos geográfico e racial, segundo os quais, ca. submelem o Estado. e o interesse geral, ao seu parllculansmo.
unphflcat.lann:ntc. a maim ia dl: nossos males tinha suas raízes no fato de
s •nno um p.tís tropical c rm:~ttço. No caso da geografia, uma condenação Esse é apenas um exemplo de amarra que dificulta a transformação da
in.lp~la~cl. Da nu tura de raças, isto é, da innuência "negativa" principal- sociedade. Quanto à cordialidade do brasileiro, que ainda se presta a muitas
mente d,t população Jtcgra, ó o ''branqueamento" poderia, quem sabe, a interpretações apressadas, ela é, lembra Sallum,
longuís~imo pnuo, quando se completasse, redimir o Brasil. Gilberto Freire
m~1stra cntao "~·r .wtktcntífica "afirmação da superioridade ou da inferiori- tentattva de recon truçlo fora do ambiente famrliar, no plano societário, do mesmo
dade de uma raça ob1c a outra. construindo sua reflexão sobre a anteriori- Upo de sociabtlidadc da famflta patrian:al, de um Upo de soctabllidldc dependente de
laços comumtários. Seriam exemplos disso algumas formas de IIDJuaacm. de xpre -
daJe c plicati\'a d.t cu ltura. Afirma que a formação social brasileira se deve
slo religiosa, c: até o horror às hierarquias e a busca de inumldldc no tratamento
,10 africano c que tndo brasileiro é racial ou culturalmente negro", diz Elide
di pcn ado à autoridade.
Ru •,u B.tstos E m.11,. Freire "atribui uma função social diferente da conven-
wnalm~nll' .rtrihuída ao negro na formação brasileira, a partir da qualifica-
Ç.tt t.lck conw coluni;:ador. isto é, dando ênfase ao papel civilizador por ele
' l' ·nta il1". Ou seja, não apenas somos racial ou culturalmente negros
t:omo es ·,1 lont.liçüo nada tem de inferior. Casa-grande representa "uma
\' rdadcii .1 revolução nos estudos sociais no país" não só por isso como pelo
' lutk> que faz da influência da família patriarcal na formação brasileira e
pür .\;i rio nutro aspectos apontados por Elide Rugai Bastos. Nem os que
lç.J ltam I ,HJtrov rtiJa tese da democracia racial, deduzida dessa e de ou-
tr" obra 'l .tutor, negam o caráter revolucionário de Casa-grQI'Ide. Gil·
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L TRODl (AO I OURF. ÇO DANTAS MOT
r , 01101 wnam 1110 4u,·, nmfcrc wltHliJ, de cumpm o papel de ~1mples forne-
' dor.l de rnodulll' 1 ro p 11 ~ 1' para o mcrc.ulos europeus, va1 a seu \er tran~cender a
In t~nlla pohuc.l do 1 ~!ad• • , h'nlullsla português para idenllflcar-sc com a própna
0 drsafw ~ ntral c forma políll'a no Brasil é de enhar tn•lltu
capal c d n ulralttar, ou pelo mcno~ rcduztr por meto de um 1 l ma d
t·ontrape m. a mOuêncta adversa do e pínto de clã Cnar um amh te h. t1
11
J, da ,1 •nl.ldc wlom.d c l'lllulnlinUidaJc da soucdade nac•onal, o que exphcana a poltuca pm all\ta. pcrsonall\la c patnmomallsta do clã é ondtç 1 pr
'"' ,1d 110 11 , 1 m nw d poiS de promu' 1Ja a independência em 1822, permane- llbcrd Je, democracia c progresso Para ter ê:(I!O, a reforma polfuc • m
c 11011 1 \llllll IJillhl tO!nmal, que nm lllil'fl!lllla c nos Wll\lrange nas lentaliVas de enfraquecer u complexo de clã. não pode '1olentar a cultura e num nto
rompm1 nlu 11 ua ·<tU f.ll.llm lll' lblinada~ ao fra.:asso pela própna Óliea que o mas a, raJão pela qual de\ c ser gradativa c moderada Não hâ de ~on 1 r
hhcral: preu~a recorrer a uma certa coação
)u.mto 1 oc1 d.tdc org.mizad.t, diz Amaral Lapa, "o autor privilegia o Em 1958 c 1959 são publicados outros três livros que trazem no o
r.llld.: Jnnmuo, on !c'.: c ·ntr.to ela d.t família patriarcal. Esse tipo de família. importantes elementos para a compreensão do Brasil. O primeiro, de 1958. é
, 0111 o · 1ah1 111 ntc pt,dcr,..: m.tis a Igreja em patamar menos proeminente, Os donos do poder, no qual Raymundo Faoro aprofunda a análi e do
pot · t.1 puJc . UJe ttJr·\e .tqu~ l.t, constituem as duas vigas em que se funda- patrimoniahsmo português e brasileiro c inova com a aplicação a no a r 11-
m nt.t ,, 1 1 d.tth.:. dade htstôrica.: política do conceito de cstamento de Max Wcber. dtferente do
I m C< lllll< liww, , n\1/c/a ,. l'oto, ao estudar um dos fenômenos mais de class.: - "os estamentos governam, as classes negociam". E plica Laura
1111pnrt.1nt d.t pt,lill .llt .t iletr.t,Vítor Nunes Leal contraria a idéia então do- de Mello c Souza. expondo o pensamento do autor, que "o e lamento é uptco
flllll.IIH • (ltm d 1 d..:~. tLI.1 de -tO) d.: qu.: o coroneli mo decorreria da pujança
das sociedades em que a economia não é totalmente dominada pelo merc do,
' , 1.tl d l.ttt fu mho, que e sohn:pona ao próprio poder político. como a feudal e, no caso português, a patrimonial. Contudo. encontra- e t m-
T!Pii\.u I .1mount.:r em ua resenha-.
bém, de forma residual, nas sociedades capitalistas. Representa um freio n-
servador, voltado para si mesmo e preocupado em assegurar a ba e do pod r"
Daí a conclusão:
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L TRODl (AO I OURF. ÇO DANTAS MOT
r , 01101 wnam 1110 4u,·, nmfcrc wltHliJ, de cumpm o papel de ~1mples forne-
' dor.l de rnodulll' 1 ro p 11 ~ 1' para o mcrc.ulos europeus, va1 a seu \er tran~cender a
In t~nlla pohuc.l do 1 ~!ad• • , h'nlullsla português para idenllflcar-sc com a própna
0 drsafw ~ ntral c forma políll'a no Brasil é de enhar tn•lltu
capal c d n ulralttar, ou pelo mcno~ rcduztr por meto de um 1 l ma d
t·ontrape m. a mOuêncta adversa do e pínto de clã Cnar um amh te h. t1
11
J, da ,1 •nl.ldc wlom.d c l'lllulnlinUidaJc da soucdade nac•onal, o que exphcana a poltuca pm all\ta. pcrsonall\la c patnmomallsta do clã é ondtç 1 pr
'"' ,1d 110 11 , 1 m nw d poiS de promu' 1Ja a independência em 1822, permane- llbcrd Je, democracia c progresso Para ter ê:(I!O, a reforma polfuc • m
c 11011 1 \llllll IJillhl tO!nmal, que nm lllil'fl!lllla c nos Wll\lrange nas lentaliVas de enfraquecer u complexo de clã. não pode '1olentar a cultura e num nto
rompm1 nlu 11 ua ·<tU f.ll.llm lll' lblinada~ ao fra.:asso pela própna Óliea que o mas a, raJão pela qual de\ c ser gradativa c moderada Não hâ de ~on 1 r
hhcral: preu~a recorrer a uma certa coação
)u.mto 1 oc1 d.tdc org.mizad.t, diz Amaral Lapa, "o autor privilegia o Em 1958 c 1959 são publicados outros três livros que trazem no o
r.llld.: Jnnmuo, on !c'.: c ·ntr.to ela d.t família patriarcal. Esse tipo de família. importantes elementos para a compreensão do Brasil. O primeiro, de 1958. é
, 0111 o · 1ah1 111 ntc pt,dcr,..: m.tis a Igreja em patamar menos proeminente, Os donos do poder, no qual Raymundo Faoro aprofunda a análi e do
pot · t.1 puJc . UJe ttJr·\e .tqu~ l.t, constituem as duas vigas em que se funda- patrimoniahsmo português e brasileiro c inova com a aplicação a no a r 11-
m nt.t ,, 1 1 d.tth.:. dade htstôrica.: política do conceito de cstamento de Max Wcber. dtferente do
I m C< lllll< liww, , n\1/c/a ,. l'oto, ao estudar um dos fenômenos mais de class.: - "os estamentos governam, as classes negociam". E plica Laura
1111pnrt.1nt d.t pt,lill .llt .t iletr.t,Vítor Nunes Leal contraria a idéia então do- de Mello c Souza. expondo o pensamento do autor, que "o e lamento é uptco
flllll.IIH • (ltm d 1 d..:~. tLI.1 de -tO) d.: qu.: o coroneli mo decorreria da pujança
das sociedades em que a economia não é totalmente dominada pelo merc do,
' , 1.tl d l.ttt fu mho, que e sohn:pona ao próprio poder político. como a feudal e, no caso português, a patrimonial. Contudo. encontra- e t m-
T!Pii\.u I .1mount.:r em ua resenha-.
bém, de forma residual, nas sociedades capitalistas. Representa um freio n-
servador, voltado para si mesmo e preocupado em assegurar a ba e do pod r"
Daí a conclusão:
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I OI RE ÇO D NTA S MOTA
20
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I OI RE ÇO D NTA S MOTA
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l~TRODU ~· \0
('onjunt(· que não se pretende completo. que tem, como foi dito acima, os pADRE ANTóNIO VIEIRA
ddeitos inevitáveis de qualquer seleção. Insistir em evi tá-los só redundaria em
dcbatcs infind{ivl.!is 1.! tornaria inviável o projeto. A solução encontrada foi dei-
xar para um segundo volume o preenchimento das lacunas do primeiro. Nunca
é dt:rnai5 in ·istir que este livro é apenas aquilo que diz seu título- uma introdu- Sermões
ção. para ~rvir de estímulo ao contato com os textos originais. Ele não pode
t.:r c não tem nenhuma outra ambição além dessa. Leitores que porventura
p ·nsarcrn o contrário cometerão um grave erro. Nada pode substituir, para a
plena compr..:cnsão desses livros. o contato íntimo com o desenvolvimento e a
trama da Jrgumentação de seus autores, sua complexidade e riqueza de su-
gestão, que ~ão insuscetíveis de resumo. Isso é ainda mais verdadeiro no caso
de li\ 10~ como Serm6es, Casa-grande & senzala c Os sertões - para citar João Adolfo Hansen
apenas três e)(emplos -,que são obras-primas literárias. Atente-se para o que
dzl Amaral Lapa a certa altura de seu trabalho sobre Fomzação do Brasil
('(J/1/cmporfmt'o .. Sente-se aí o caráter seminal deste livro, cujas colocações
muitas vezes breves. ponteadas como resultado conclusivo, só possível depois
de longa pcsqui a e reflexão e de extraordinária capacidade de leitura, provo-
caram te es comprobatórias , extensas e intensas, de repercussão, cuja nas-
culle ját 11111/lll.\ re:::e1 um ou dois parágrafos redigidos por Caio Prado
22
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l~TRODU ~· \0
('onjunt(· que não se pretende completo. que tem, como foi dito acima, os pADRE ANTóNIO VIEIRA
ddeitos inevitáveis de qualquer seleção. Insistir em evi tá-los só redundaria em
dcbatcs infind{ivl.!is 1.! tornaria inviável o projeto. A solução encontrada foi dei-
xar para um segundo volume o preenchimento das lacunas do primeiro. Nunca
é dt:rnai5 in ·istir que este livro é apenas aquilo que diz seu título- uma introdu- Sermões
ção. para ~rvir de estímulo ao contato com os textos originais. Ele não pode
t.:r c não tem nenhuma outra ambição além dessa. Leitores que porventura
p ·nsarcrn o contrário cometerão um grave erro. Nada pode substituir, para a
plena compr..:cnsão desses livros. o contato íntimo com o desenvolvimento e a
trama da Jrgumentação de seus autores, sua complexidade e riqueza de su-
gestão, que ~ão insuscetíveis de resumo. Isso é ainda mais verdadeiro no caso
de li\ 10~ como Serm6es, Casa-grande & senzala c Os sertões - para citar João Adolfo Hansen
apenas três e)(emplos -,que são obras-primas literárias. Atente-se para o que
dzl Amaral Lapa a certa altura de seu trabalho sobre Fomzação do Brasil
('(J/1/cmporfmt'o .. Sente-se aí o caráter seminal deste livro, cujas colocações
muitas vezes breves. ponteadas como resultado conclusivo, só possível depois
de longa pcsqui a e reflexão e de extraordinária capacidade de leitura, provo-
caram te es comprobatórias , extensas e intensas, de repercussão, cuja nas-
culle ját 11111/lll.\ re:::e1 um ou dois parágrafos redigidos por Caio Prado
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Entre 1624, quando escreveu a Carta !mUil em que relata a im.aÇo
holandesa da Bahia. e 1697, quando morreu em Salvador. deixando ina h do
o manuscrito de um texto profético. Clavis prophetarum. o jesuíta Antômo
Vieira produziu a obra espantosa que faz dele um dos autores maiores do
século XVII. A finalidade de toda ela é promover a integração harmoniosa do
indivíduos. estamentos e ordens do império português, desde os prfncipe da
casa real e cortesãos aristocratas até os mais humildes escra\OS e índios bra-
vos do mato, visando a sua redenção coletiva como um "corpo místíco" unifi-
cado. Ao sacramentar Portugal como nação eleita para estabelecer o Império
de Deus na Terra, o retorno do Messias, Vieira sacraliza a dinastia dos
Bragança, estabelecendo ponderações agudas e misteriosas entre o ritual ca-
tólico e a monarquia absoluta definida como instrumento da divindade. Em seu
projeto salvífico, o papel do Novo Mundo é essencial.
Para tratar de representações dele em sua obra, primeiramente é preciso
lembrar que, em seu tempo, "Brasil" nomeava o Estado do Brasil, um terrítóno
correspondente à Bahia e às capitanias sob a jurisdição do governador-geral
sediado em Salvador. O Estado do Brasil formava então o domínio colonial
português na América, juntamente com o Estado do Maranhão e Grão-Pará.
Este último, criado por um decreto real em 13 de junho de 1621, correspondia
aproximadamente ao território dos atuais estados do Ceará, Piauí. Maranhão.
Pará e partes de Tocantins e Amazonas. Ambos os estados. Brasil e Maranhão
e Grão-Pará. transcendem os limites político-administrativos regionais e me-
tropolitanos, pois são regiões por assim dizer "espirituais", concebidas por Victra
como o espaço-tempo de uma práxis sociaP fundamentada na metafísica cris·
Em segundo Iugar, como é necessário falar da sua biografia, pois a concep-
%iO jesuítica de ação não dissocia "vida" e "obra", é preciso dizer que, no
caso, o "eu" de Vieira não é uma categoria psk:ológica, ma uma posição
l:bit~rárqui,ca ("jesuíta", "chefe de missão", "réu da Inquisição", "diplomata",
~)llSielhc:iro do rei", "orador da Capela Real", etc.) preenchida por repre en-
que são partes do todo social objetivo. Por isso. em &ercciro lugar, é
especificar a natureza e J t\u1çio da a obra ap seu tempo. Ele
seus sermões do "cho~" wmparava aos "palácios"
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Entre 1624, quando escreveu a Carta !mUil em que relata a im.aÇo
holandesa da Bahia. e 1697, quando morreu em Salvador. deixando ina h do
o manuscrito de um texto profético. Clavis prophetarum. o jesuíta Antômo
Vieira produziu a obra espantosa que faz dele um dos autores maiores do
século XVII. A finalidade de toda ela é promover a integração harmoniosa do
indivíduos. estamentos e ordens do império português, desde os prfncipe da
casa real e cortesãos aristocratas até os mais humildes escra\OS e índios bra-
vos do mato, visando a sua redenção coletiva como um "corpo místíco" unifi-
cado. Ao sacramentar Portugal como nação eleita para estabelecer o Império
de Deus na Terra, o retorno do Messias, Vieira sacraliza a dinastia dos
Bragança, estabelecendo ponderações agudas e misteriosas entre o ritual ca-
tólico e a monarquia absoluta definida como instrumento da divindade. Em seu
projeto salvífico, o papel do Novo Mundo é essencial.
Para tratar de representações dele em sua obra, primeiramente é preciso
lembrar que, em seu tempo, "Brasil" nomeava o Estado do Brasil, um terrítóno
correspondente à Bahia e às capitanias sob a jurisdição do governador-geral
sediado em Salvador. O Estado do Brasil formava então o domínio colonial
português na América, juntamente com o Estado do Maranhão e Grão-Pará.
Este último, criado por um decreto real em 13 de junho de 1621, correspondia
aproximadamente ao território dos atuais estados do Ceará, Piauí. Maranhão.
Pará e partes de Tocantins e Amazonas. Ambos os estados. Brasil e Maranhão
e Grão-Pará. transcendem os limites político-administrativos regionais e me-
tropolitanos, pois são regiões por assim dizer "espirituais", concebidas por Victra
como o espaço-tempo de uma práxis sociaP fundamentada na metafísica cris·
Em segundo Iugar, como é necessário falar da sua biografia, pois a concep-
%iO jesuítica de ação não dissocia "vida" e "obra", é preciso dizer que, no
caso, o "eu" de Vieira não é uma categoria psk:ológica, ma uma posição
l:bit~rárqui,ca ("jesuíta", "chefe de missão", "réu da Inquisição", "diplomata",
~)llSielhc:iro do rei", "orador da Capela Real", etc.) preenchida por repre en-
que são partes do todo social objetivo. Por isso. em &ercciro lugar, é
especificar a natureza e J t\u1çio da a obra ap seu tempo. Ele
seus sermões do "cho~" wmparava aos "palácios"
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J0..\0 ADOLFO HANSE."i
de suas obras proféticas. I Ioje. estas são praticamente ilegíveis e valorizamos
o~ sermões, ainda que por rnões quase sempre apenas estéticas, de modo ção, divisiio. confinnaçüo, peroração c epflogo - cuja teoria não é po. sí-
ba~tantc diverso do seu, po1s os entendia C>lmo instrumentos salvíficos imedia- vel fazer aqui. Os de Vieira repartem-se pelos três grandes gêneros omtórios
tamente praticos. No prólogo da edição dos Sermões. de 1677, escreveu que, da retórica aristotélica: deliberativos, propõem a decisão sobre algo futuro;
~em a voz que os tinha animado no púlpito, ainda ressuscitados eram cadáve- judiciais, julgam personagens ou eventos passados; epidítiws. celebram (ou
res. IJoje, só os conhecemos "ressuscitados" como textos escritos. Na leitura, atacam) personagens e ações no presente. Em todos os gêneros. Vil:ira sem-
não mais ex1stc a acuo ou a dramatização deles pela voz e pelo corpo do pre transmite um conteúdo doutrinário dogmático, letrado, culto c erudito, para
padrc. Mas é essa primitiva natureza oral que especifica historicamente a prá- ouvintes muitas vezes iletrados e incultos, como colonos, índios, negros.
mamelucos e mulatos do Brasil e do Maranhão c Grão-Pará. Ele torna o con-
tica de Vieira como "solução" católica para a questão do contato do fiel com
Deus teúdo dogmático não só compreensível, adaptando-o ao auditório, mas princi-
palmente eficaz, traduzindo os dogmas em uma argumentação capaz de ensinar.
I m 1517. em uma das teses de Wittenbcrg, Martinho Lutero afirmou que
agradar e comover os ouvintes. Seu sermão é simultaneamente didático. teoló-
ba.~la ao fiel ter uma Bíblia c lê-la individualmente, em silêncio, para pôr-se em
gico c político. Segue a lição de Marciano Capela, estabelecendo relações
contato com Deus. A tese lutcrana da sola scriprura, "apenas a Escritura", entre o tema, o assunto dogmático ou canônico interno ao discurso. e o consilium.
pressupoc <l possl: da Ríhlirt e a alfabetização dos fiéis. Ela toma evidentemente a intenção exterior dele. Como lembrou Margarida Vieira Mendes, na oratória
desm·cess.iria a mediação do clero c dos ritos visíveis da Igreja. Na sessão de 8 sagrada do século X VIl o tema era totalmente imposto pelo calendário litúrgico
dt ahnf de I 5 J(, do ( "onc ílio de Trcnto. n:unido para combater a Reforma protes- e pela obrigação de tratar textos bíblicos prévios, com conteúdos religiosos
tante, teólogos Jesuítas c dominicanos declararam a tese da sola scriptura heré- específicos. 2 Quase invariavelmente, Vieira conduz os temas para as questões
tica, ddin1ndo c delimitando a traditio, a ''tradição" (ritos, cerimônias, magistério, políticas e econômicas que mais lhe interessam, conforme o ccmsiliwn. Evi-
nini\t(llo t' poverno) c o~ textos canúnicos da Igreja. Logo depois, em 17 de dentemente, tem de tratar dos assuntos circunstanciais subordinando-o~ aos
r• nho, determinaram il ohri~ra t oricdadc de pregar a verdade revelada a toda cria- discursos dogmáticos impostos como tema. O que faz por meio de conceitos
turt~, 'vi .mdo "tudo que é necessário para a salvação". Nos países católicos, a predicáveis e concordâncias.
p<K c pa1 tit•llar da !Jíhltr1 c a sua leitura individual foram proibidas. A Igreja O conceito predicável é um texto- palavra ou sentença -extraído do
rcconfmnou a nt:cessidadc do~ ritos vbívcis c da cspctacularização dos sacra- Velho ou do Novo testamemo comentado pelo orador. No século XVH, era
l!ltlllo . unpondo" audlç<m coletiva d:t pregação. Contra Lutero, o interior dos costume usar caderninhos para colecionar conceitos predicáveis específicos
tciiiJllm tornou •,c tllil c\pa~o tiL' luxo c pompa, envolvendo os sentidos dos fiéis das várias datas litúrgicas e adaptá-los com sentido profético às circuu tância~
~.:om ,1 p10fus.m d~: 1111 ~t·ns, mthicas, perfumes, pregações. O púlpito passou da pregação. A adaptação, chamada de concordância, consistia em dcmons
a ocupar urna po~içao elevada, significando a autoridade do pregador sobre a trar semelhanças proféticas entre o sentido da vida de homens c acontccnneu-
tos da Bfblia c o sentido da vida de homens e eventos do presente. A semelhança
audiéntla Rl.'novou ~c o calendário Jittí1 gico c novas festa5 e novos santos pus-
era interpretada como presença providencial de Deu orientando uns e outros
aram a· er u~khradlls. J·m Portuga l c no Brasil, a Companhia de Jesus, recém-
no passado e no presente. Por exemplo, no "Sermão pelo hc m . uc~ ~o da
lundíllfa cn1 J'i 10, le\IXlllsahi li;ou··Sc pelo l'nsino da cloqtlência sacra em seus
armas de Portugal contra as de Holanda", pregado em maio ou junho d l 640,
rolé)'ill~ adotando to mo d11utrina c exemplo as ohras retóricas de Aristóteles.
~ f)tlacrva-:se a semelhança entre Moiaés. guiando os hebreus em fuga do Egrto.
1
)ulnttli.lflo, < 'ícL 1o, Sên<'La e mais autmes latinos c medievais. Na dcwJtio mo- próprio Vieira, pregando aos católicos da Bahia. Ou entr Vieira pedmdo a
d, 111o c,u • dt·\oç.to n1~)duna" da Companhia, a pregação foi definida como que auxilie os portugu~ oo Jti O.v.i. nnplorando a Jeová que •enha
llll r\ 11~.1<, t fct1va na vida pdtica dos ti~is. $OCorro dos hebreus. A 6 .saH!ocida por uma proporção
Como o termo latino \t'llllfl indica, o sem1ãoé uma fala; noca o jesuítico,
um.~ t.d.t lh.tm.lll;ad.t pdo p1"l'gador para a audição e a visão de um público
qu do v~ ~l·r per .uadido da v ·rdadc c v;~Jidadc universal da doutrina
I> modo .ti, o ~~.:1m~o . acro jc!>uítico tem &eis part s -exórdio,
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J0..\0 ADOLFO HANSE."i
de suas obras proféticas. I Ioje. estas são praticamente ilegíveis e valorizamos
o~ sermões, ainda que por rnões quase sempre apenas estéticas, de modo ção, divisiio. confinnaçüo, peroração c epflogo - cuja teoria não é po. sí-
ba~tantc diverso do seu, po1s os entendia C>lmo instrumentos salvíficos imedia- vel fazer aqui. Os de Vieira repartem-se pelos três grandes gêneros omtórios
tamente praticos. No prólogo da edição dos Sermões. de 1677, escreveu que, da retórica aristotélica: deliberativos, propõem a decisão sobre algo futuro;
~em a voz que os tinha animado no púlpito, ainda ressuscitados eram cadáve- judiciais, julgam personagens ou eventos passados; epidítiws. celebram (ou
res. IJoje, só os conhecemos "ressuscitados" como textos escritos. Na leitura, atacam) personagens e ações no presente. Em todos os gêneros. Vil:ira sem-
não mais ex1stc a acuo ou a dramatização deles pela voz e pelo corpo do pre transmite um conteúdo doutrinário dogmático, letrado, culto c erudito, para
padrc. Mas é essa primitiva natureza oral que especifica historicamente a prá- ouvintes muitas vezes iletrados e incultos, como colonos, índios, negros.
mamelucos e mulatos do Brasil e do Maranhão c Grão-Pará. Ele torna o con-
tica de Vieira como "solução" católica para a questão do contato do fiel com
Deus teúdo dogmático não só compreensível, adaptando-o ao auditório, mas princi-
palmente eficaz, traduzindo os dogmas em uma argumentação capaz de ensinar.
I m 1517. em uma das teses de Wittenbcrg, Martinho Lutero afirmou que
agradar e comover os ouvintes. Seu sermão é simultaneamente didático. teoló-
ba.~la ao fiel ter uma Bíblia c lê-la individualmente, em silêncio, para pôr-se em
gico c político. Segue a lição de Marciano Capela, estabelecendo relações
contato com Deus. A tese lutcrana da sola scriprura, "apenas a Escritura", entre o tema, o assunto dogmático ou canônico interno ao discurso. e o consilium.
pressupoc <l possl: da Ríhlirt e a alfabetização dos fiéis. Ela toma evidentemente a intenção exterior dele. Como lembrou Margarida Vieira Mendes, na oratória
desm·cess.iria a mediação do clero c dos ritos visíveis da Igreja. Na sessão de 8 sagrada do século X VIl o tema era totalmente imposto pelo calendário litúrgico
dt ahnf de I 5 J(, do ( "onc ílio de Trcnto. n:unido para combater a Reforma protes- e pela obrigação de tratar textos bíblicos prévios, com conteúdos religiosos
tante, teólogos Jesuítas c dominicanos declararam a tese da sola scriptura heré- específicos. 2 Quase invariavelmente, Vieira conduz os temas para as questões
tica, ddin1ndo c delimitando a traditio, a ''tradição" (ritos, cerimônias, magistério, políticas e econômicas que mais lhe interessam, conforme o ccmsiliwn. Evi-
nini\t(llo t' poverno) c o~ textos canúnicos da Igreja. Logo depois, em 17 de dentemente, tem de tratar dos assuntos circunstanciais subordinando-o~ aos
r• nho, determinaram il ohri~ra t oricdadc de pregar a verdade revelada a toda cria- discursos dogmáticos impostos como tema. O que faz por meio de conceitos
turt~, 'vi .mdo "tudo que é necessário para a salvação". Nos países católicos, a predicáveis e concordâncias.
p<K c pa1 tit•llar da !Jíhltr1 c a sua leitura individual foram proibidas. A Igreja O conceito predicável é um texto- palavra ou sentença -extraído do
rcconfmnou a nt:cessidadc do~ ritos vbívcis c da cspctacularização dos sacra- Velho ou do Novo testamemo comentado pelo orador. No século XVH, era
l!ltlllo . unpondo" audlç<m coletiva d:t pregação. Contra Lutero, o interior dos costume usar caderninhos para colecionar conceitos predicáveis específicos
tciiiJllm tornou •,c tllil c\pa~o tiL' luxo c pompa, envolvendo os sentidos dos fiéis das várias datas litúrgicas e adaptá-los com sentido profético às circuu tância~
~.:om ,1 p10fus.m d~: 1111 ~t·ns, mthicas, perfumes, pregações. O púlpito passou da pregação. A adaptação, chamada de concordância, consistia em dcmons
a ocupar urna po~içao elevada, significando a autoridade do pregador sobre a trar semelhanças proféticas entre o sentido da vida de homens c acontccnneu-
tos da Bfblia c o sentido da vida de homens e eventos do presente. A semelhança
audiéntla Rl.'novou ~c o calendário Jittí1 gico c novas festa5 e novos santos pus-
era interpretada como presença providencial de Deu orientando uns e outros
aram a· er u~khradlls. J·m Portuga l c no Brasil, a Companhia de Jesus, recém-
no passado e no presente. Por exemplo, no "Sermão pelo hc m . uc~ ~o da
lundíllfa cn1 J'i 10, le\IXlllsahi li;ou··Sc pelo l'nsino da cloqtlência sacra em seus
armas de Portugal contra as de Holanda", pregado em maio ou junho d l 640,
rolé)'ill~ adotando to mo d11utrina c exemplo as ohras retóricas de Aristóteles.
~ f)tlacrva-:se a semelhança entre Moiaés. guiando os hebreus em fuga do Egrto.
1
)ulnttli.lflo, < 'ícL 1o, Sên<'La e mais autmes latinos c medievais. Na dcwJtio mo- próprio Vieira, pregando aos católicos da Bahia. Ou entr Vieira pedmdo a
d, 111o c,u • dt·\oç.to n1~)duna" da Companhia, a pregação foi definida como que auxilie os portugu~ oo Jti O.v.i. nnplorando a Jeová que •enha
llll r\ 11~.1<, t fct1va na vida pdtica dos ti~is. $OCorro dos hebreus. A 6 .saH!ocida por uma proporção
Como o termo latino \t'llllfl indica, o sem1ãoé uma fala; noca o jesuítico,
um.~ t.d.t lh.tm.lll;ad.t pdo p1"l'gador para a audição e a visão de um público
qu do v~ ~l·r per .uadido da v ·rdadc c v;~Jidadc universal da doutrina
I> modo .ti, o ~~.:1m~o . acro jc!>uítico tem &eis part s -exórdio,
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po 111 \ a lo1s \ CD.tviJ. Vieira:· hcbreus: portugueses. Ou negativa-Fa6
((inlia ). ;-.J.t ,au :egípciOs (ti listcus): holandeses. No "Senn!o pelo bomsu-
cc u. ", ú•ngindo c a lku~ com muita veemência, ooradorexigequeaiJXille.
0 t.H<'•Iico contra os calvinistas. Com palavras de Davi, interpela Deus
" !·1utt•c <JIIIIIt' ubdormi.\, Domine?"l ("Acorda, por qu donncs, Senhor?''),
dnmando que, se não awrdar a tempo de int rvir em favor dos católicos,
11 •ara ,, prcípt ia Pro\ idência, que rege a história, e o mundo dirá "Deus está
hollllult;\·• ou \eja. "Deus está calvini ta". A interpelação~ certam nte &U•
d ll iO'J , ma\ també m ortodoxa. O próprio Vieira adverte que seu modelo é o
• Salmo ~r. úc Davi.
O tc rn.t d,, pregação sacra empre "Pele a Palavra de Deus
no h:xto L.UIÚnJco~; por isso, o sermão aparece para o pregador
puhl11.:o W lllll Ulll ÚÍ\Uif O csscncJaJ. 0 jeSUÍtaS dO século XVH de:finlhUill
~~ ~m.t o cmnn tlll'alnm• 1acrum, ''teatro sacro", concebendoaparen6tióa.
ri pr • •Jr, como úr.un.ltitaçuo das verdade sagradas. Aqui, o eadlode
cnconlt .t ~ ua ra7ao d~.: c r: hnjc ele é conhectdo como ..conceptlsta..
c " mas, em ~cu tempo, quando ainda não havia sido inventad&O COlllCedfO:I
' h.mow", era um c til o a •udo, engenhoso, florido. esqui ito, CCJIIlC~It'ti~'O~
.1 ,,111 o A pro xun.t wrll:t:Ho~ distantes e os funde em image011 lplll'êilfem&!IUI
1.mt.1 tic.1 e inrongtuenh.: • mas sempre fundamentadasnamaisod04i;Jlt~IIJ
lo •t.t 11.1 rn.t is strll.t ltígll.t. O poder espiritual e o poder temporal
flat,1dr n~k <.:orno um<tllllldade de teologia e de polftica tecn'bcada}IICW"iilidl
bn Ul111 c,lft.Jde 1(, 1J para n re i D. Afonso VI, afirma que: "[,-J·.Qilpr!~DI
c m,uoiL'S in \lrumcnto\ da con~crv ação e aumento desta IDilmt~-rttlié'~
1111111\fl()•, d.i PIL'gaçao c rrnpagação da Fé, para que Deu a tn
tnu no mundo",
f 11.1 'D ·lesa do li\ro int itulado 'Quinto Impéno"',de l8D~UifCID,tJDI!
que n JM pa t' os pregadores evangé licm, "varões llpoltdtic••.alo-'lf~IJJUIISI
tn> tml'Jtato\" d.1 co111 crs.to do mundo, JUntamente COI!n1lltn'11•11111•t4JJBJ
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po 111 \ a lo1s \ CD.tviJ. Vieira:· hcbreus: portugueses. Ou negativa-Fa6
((inlia ). ;-.J.t ,au :egípciOs (ti listcus): holandeses. No "Senn!o pelo bomsu-
cc u. ", ú•ngindo c a lku~ com muita veemência, ooradorexigequeaiJXille.
0 t.H<'•Iico contra os calvinistas. Com palavras de Davi, interpela Deus
" !·1utt•c <JIIIIIt' ubdormi.\, Domine?"l ("Acorda, por qu donncs, Senhor?''),
dnmando que, se não awrdar a tempo de int rvir em favor dos católicos,
11 •ara ,, prcípt ia Pro\ idência, que rege a história, e o mundo dirá "Deus está
hollllult;\·• ou \eja. "Deus está calvini ta". A interpelação~ certam nte &U•
d ll iO'J , ma\ també m ortodoxa. O próprio Vieira adverte que seu modelo é o
• Salmo ~r. úc Davi.
O tc rn.t d,, pregação sacra empre "Pele a Palavra de Deus
no h:xto L.UIÚnJco~; por isso, o sermão aparece para o pregador
puhl11.:o W lllll Ulll ÚÍ\Uif O csscncJaJ. 0 jeSUÍtaS dO século XVH de:finlhUill
~~ ~m.t o cmnn tlll'alnm• 1acrum, ''teatro sacro", concebendoaparen6tióa.
ri pr • •Jr, como úr.un.ltitaçuo das verdade sagradas. Aqui, o eadlode
cnconlt .t ~ ua ra7ao d~.: c r: hnjc ele é conhectdo como ..conceptlsta..
c " mas, em ~cu tempo, quando ainda não havia sido inventad&O COlllCedfO:I
' h.mow", era um c til o a •udo, engenhoso, florido. esqui ito, CCJIIlC~It'ti~'O~
.1 ,,111 o A pro xun.t wrll:t:Ho~ distantes e os funde em image011 lplll'êilfem&!IUI
1.mt.1 tic.1 e inrongtuenh.: • mas sempre fundamentadasnamaisod04i;Jlt~IIJ
lo •t.t 11.1 rn.t is strll.t ltígll.t. O poder espiritual e o poder temporal
flat,1dr n~k <.:orno um<tllllldade de teologia e de polftica tecn'bcada}IICW"iilidl
bn Ul111 c,lft.Jde 1(, 1J para n re i D. Afonso VI, afirma que: "[,-J·.Qilpr!~DI
c m,uoiL'S in \lrumcnto\ da con~crv ação e aumento desta IDilmt~-rttlié'~
1111111\fl()•, d.i PIL'gaçao c rrnpagação da Fé, para que Deu a tn
tnu no mundo",
f 11.1 'D ·lesa do li\ro int itulado 'Quinto Impéno"',de l8D~UifCID,tJDI!
que n JM pa t' os pregadores evangé licm, "varões llpoltdtic••.alo-'lf~IJJUIISI
tn> tml'Jtato\" d.1 co111 crs.to do mundo, JUntamente COI!n1lltn'11•11111•t4JJBJ
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O Lf'O H E
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O Lf'O H E
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fN\f<) J I'
, 11 ,1 .llth~~111, 1 t ~~,. qu.mdl' .1tinna o dl·ver de obédiência dos escravos ao famosíssimo e poderosíssimo. como pregador da Capela Real. conselheiro e
,.,111 , •11 , til' UlX' • mtl-rnt' it'S t'n~enhos de · ·úcar. Vieira pressupõe que a confessor do rei D. João IV e da rainha D. Luísa de Gusmão. fazendo jus ao
. ,·r.1, td.1, · u p1 ., t~t.l r-:t.1 l r wid2nda para ua rátria. Dizia, por exemplo, anexim inventado por D. Francisco Manuel de Melo, "mandar lançar tapete de
qu. ,, lkt~iltmh.l'' .:.'rP'' 11.1 Anwrka 'a alma na Africa. Ou que sem Angola madrugada em São Roque para ouvir o padre Vieira".
ll.ll h,l\ IJ l't.l~tl A função do pregador da Capela Real era interpretar religiosamente even-
p '. :.1 pim·ir f.l~ • qu • c''inddc com as guerras holandesas. também tos, como vitórias em guerras, pestes, fomes, aparições de cometa, e ocasiões
,· J,·, · 1•mht .1r l' t •nu da mis <il hL tórica do portugueses no mundo, que festivas e fúnebres da família real e da nobreza. Provavelmente, seu primeiro
\ 1 ·ira 1 • .,,. ·m :ua )l:>ra prof'tica, e o da rc ponsabilidade divina na guerra sermão dessa fase foi o "Sermão dos bons anos", pregado em 1° de janeiro de
• •1t .•1 Ht l.wd.l. comi.'' se I\ no" cnnão de Santo Antônio", de 13 de junho 1642. Como em sermões e cartas anteriores, aqui o Novo Mundo é referido
como parte essencial do projeto divino para Portugal. Na peroração, quando
comenta o versículo do Pai Nosso, adveniat Regnum Tuum, "venha o Teu
Reino", profetiza que o rei vivo e presente, D. João IV. dá continuidade ao rei
e ausente, D. Sebastião, cumprindo a promessa feita por Deus a D.
Henriques na batalha de Ourique. No momento em que prega. diz. já
o Reino que Portugal já foi, mas ainda está para chegar o Reino que
há de ser, o Quinto Império. 14 (Os impérios anteriores foram o assírio,
o grego e o romano.) Para o advento do Quinto Império. o Brasil e o
1!118Jranlllão são essenciais, pois a catequese dos povos selvagens realizada pela
J.r~u ·<:o l n:. e nu~ ·r:h L que e tácadadia mendigandocomosuorde
IJWiiSãC> Je:sun:tca está prevista por Deus como aumento e redenção universal da
F.·, r. uc ~ · :><·rd ·u ,, B1':1 tl. c1 porque se perde o mundo. e os castigos
ll'l"illtarldaele. Logo, era necessário começar por libertar o Bra il dos hereges
=
rx1r dt.ml • ' ] Jbets ror que nos dá Deus as vitórias de mãos lavadas?
toJ ~ que ne·tes dtas ttvemo ; porque matando sempre tantos calvinistas. Como a Companhia Ocidental holandesa pedisse três milhões de
h •l.mJ, •.. Ja no ~a pm' entn: todos. apenas. se contam quatro ou cinco cruzados pela restituição de Pernambuco aos portugueses. Vieira pretendia
• :. 1 rqu e 1o'[ .]porqucsclavaramasmãos;porquehálimpezade levantar o dinheiro junto aos comerciantes judeus de Flandres e França. Viajou
uc ~ n1."1 tm!!em a,. mjos no angue do povo, por isso as vemos ensan- em 1646 a Paris; nada conseguindo, foi para a Holanda, em abri I de 1646. onde
~ 'orw,amcnt~ no ~angue dos inrm1gos: por isso tudo luz; por isso tudo visitou Haia, em traje civil de escarlata e espadim. Em março de 1647. de volta
r 1 ,,, tudo' por diant . c como por falta di to se perdeu o Brasil. assim
h d • rc:uperar [... ]
em Lisboa, redigiu um documento pelo qual D. João IV se comprometia a
os três milhões, em prestações anuais de seiscentos mil. recebendo em
Pernambuco e outros territórios ocupados pelos holandeses no Nordeste
Brasil, e na África, em Angola e São Tomé. Data desse tempo sua
~flelisiSinl8 e perigosíssima proposta de abrandamento dos "estilos" usado
RESTALRAÇÀO, 1641-1651 Inquisição contra os cristãos-no os e judeus em troca dos emprésllmos de
capitais. Em agosto de 1647, foi de novo à França, avi tando-se com o
,;unJa "fa e" da obras de Vieira pode ser datada de 1641 a 1651 Mazarino. Seu plano era contratar .Q casamento de D. Tecxiósio. filho
t:p Hc fundamentalmente do temas da Restauração. No que se de D. Joio Iv, com ~k de Montpensier, filha d duque de
BrJ ti, .cu mamr objeti\ o é a restauração de Pernambuco, Clo,minat;u: Se desse certo D. Joio- lV a~ 'tinha para o Brasti, enquanto
· holande~es do Sradtlrolder Maurício de Nassau. Nesse tempo, da noiva seria .regane de P~ menoridade do Príncipe. O
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fN\f<) J I'
, 11 ,1 .llth~~111, 1 t ~~,. qu.mdl' .1tinna o dl·ver de obédiência dos escravos ao famosíssimo e poderosíssimo. como pregador da Capela Real. conselheiro e
,.,111 , •11 , til' UlX' • mtl-rnt' it'S t'n~enhos de · ·úcar. Vieira pressupõe que a confessor do rei D. João IV e da rainha D. Luísa de Gusmão. fazendo jus ao
. ,·r.1, td.1, · u p1 ., t~t.l r-:t.1 l r wid2nda para ua rátria. Dizia, por exemplo, anexim inventado por D. Francisco Manuel de Melo, "mandar lançar tapete de
qu. ,, lkt~iltmh.l'' .:.'rP'' 11.1 Anwrka 'a alma na Africa. Ou que sem Angola madrugada em São Roque para ouvir o padre Vieira".
ll.ll h,l\ IJ l't.l~tl A função do pregador da Capela Real era interpretar religiosamente even-
p '. :.1 pim·ir f.l~ • qu • c''inddc com as guerras holandesas. também tos, como vitórias em guerras, pestes, fomes, aparições de cometa, e ocasiões
,· J,·, · 1•mht .1r l' t •nu da mis <il hL tórica do portugueses no mundo, que festivas e fúnebres da família real e da nobreza. Provavelmente, seu primeiro
\ 1 ·ira 1 • .,,. ·m :ua )l:>ra prof'tica, e o da rc ponsabilidade divina na guerra sermão dessa fase foi o "Sermão dos bons anos", pregado em 1° de janeiro de
• •1t .•1 Ht l.wd.l. comi.'' se I\ no" cnnão de Santo Antônio", de 13 de junho 1642. Como em sermões e cartas anteriores, aqui o Novo Mundo é referido
como parte essencial do projeto divino para Portugal. Na peroração, quando
comenta o versículo do Pai Nosso, adveniat Regnum Tuum, "venha o Teu
Reino", profetiza que o rei vivo e presente, D. João IV. dá continuidade ao rei
e ausente, D. Sebastião, cumprindo a promessa feita por Deus a D.
Henriques na batalha de Ourique. No momento em que prega. diz. já
o Reino que Portugal já foi, mas ainda está para chegar o Reino que
há de ser, o Quinto Império. 14 (Os impérios anteriores foram o assírio,
o grego e o romano.) Para o advento do Quinto Império. o Brasil e o
1!118Jranlllão são essenciais, pois a catequese dos povos selvagens realizada pela
J.r~u ·<:o l n:. e nu~ ·r:h L que e tácadadia mendigandocomosuorde
IJWiiSãC> Je:sun:tca está prevista por Deus como aumento e redenção universal da
F.·, r. uc ~ · :><·rd ·u ,, B1':1 tl. c1 porque se perde o mundo. e os castigos
ll'l"illtarldaele. Logo, era necessário começar por libertar o Bra il dos hereges
=
rx1r dt.ml • ' ] Jbets ror que nos dá Deus as vitórias de mãos lavadas?
toJ ~ que ne·tes dtas ttvemo ; porque matando sempre tantos calvinistas. Como a Companhia Ocidental holandesa pedisse três milhões de
h •l.mJ, •.. Ja no ~a pm' entn: todos. apenas. se contam quatro ou cinco cruzados pela restituição de Pernambuco aos portugueses. Vieira pretendia
• :. 1 rqu e 1o'[ .]porqucsclavaramasmãos;porquehálimpezade levantar o dinheiro junto aos comerciantes judeus de Flandres e França. Viajou
uc ~ n1."1 tm!!em a,. mjos no angue do povo, por isso as vemos ensan- em 1646 a Paris; nada conseguindo, foi para a Holanda, em abri I de 1646. onde
~ 'orw,amcnt~ no ~angue dos inrm1gos: por isso tudo luz; por isso tudo visitou Haia, em traje civil de escarlata e espadim. Em março de 1647. de volta
r 1 ,,, tudo' por diant . c como por falta di to se perdeu o Brasil. assim
h d • rc:uperar [... ]
em Lisboa, redigiu um documento pelo qual D. João IV se comprometia a
os três milhões, em prestações anuais de seiscentos mil. recebendo em
Pernambuco e outros territórios ocupados pelos holandeses no Nordeste
Brasil, e na África, em Angola e São Tomé. Data desse tempo sua
~flelisiSinl8 e perigosíssima proposta de abrandamento dos "estilos" usado
RESTALRAÇÀO, 1641-1651 Inquisição contra os cristãos-no os e judeus em troca dos emprésllmos de
capitais. Em agosto de 1647, foi de novo à França, avi tando-se com o
,;unJa "fa e" da obras de Vieira pode ser datada de 1641 a 1651 Mazarino. Seu plano era contratar .Q casamento de D. Tecxiósio. filho
t:p Hc fundamentalmente do temas da Restauração. No que se de D. Joio Iv, com ~k de Montpensier, filha d duque de
BrJ ti, .cu mamr objeti\ o é a restauração de Pernambuco, Clo,minat;u: Se desse certo D. Joio- lV a~ 'tinha para o Brasti, enquanto
· holande~es do Sradtlrolder Maurício de Nassau. Nesse tempo, da noiva seria .regane de P~ menoridade do Príncipe. O
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EN\IOES
plano gorou e Vieira nO\ a mente foi à Holanda. com papéis que agora o autori-
ZJ\am a fazer o embaixador ponuguê em Haia. Francisco de Sousa Coutinho, simultaneamente con pi r contra a Espanha. tentando uble r o Remo e
trocar Pernambuco pela paz no Brasil e na Africa. Nesse tempo, mante e ápoles então domin do por Madri. O plano foi descobeno c emba.i~•ldor
·ontato com o judeu da inagoga de Amsterdam. como Manassés-ben-Is- espanhol. duque do lnfantado. ameaçou Vieir-.t de mort • intimando o geral da
rael. que em 1640 e creY ra um texto profético. Esperança de Israel. que em Companhia de Jesus a fazer com que abandonas e Roma às pressas, p ra
1659 Vieira imitou em eu Esperanças de Portugal. escrito quando estava na salvar a pele. Em junho de 1650. voltou para Ponugal. • meado hefe da
AmJ.Z0nia. ~ C m o ami.,o jud u, discute o destino das tribos perdidas de Is- missão do Maranhão e Grão-Pará, dei ou a barra de Li boa m :!5 de n em-
t!l. ~restituição de Judá e o advento de Cristo. temas que aparecem em suas bro de 1651. Em 16 de janeiro de 1652, depoi de parar em C bo \erde. he-
gou a São Luís do iaranhão. 1
can e obra proféticas posteriores em que trata do papel providencial a ser
de empenhado pelo.·oYo ~tundo e pelos índios brasileiros antes do retomo do
).1essia_. . - H !anda. porém. as negociações da compra de Pernambuco fa-
MISSÀO ,'OMARA. HÀOEGRÃo-P RA.l65--1662
lh ram no' am nte. Em outubro de 164 . \ inte propostas de Vieira referentes
ao ne.,. .. ios com a Holanda foram apreciadas e rejeitadas em várias instân-
cia· da C rte. o Tribunal do Desembargo do Paço. a Mesa de Consciência e
Ord ns. Crmra de Li boa. o Conselho da Guerra. o Conselho da Fazenda,
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EN\IOES
plano gorou e Vieira nO\ a mente foi à Holanda. com papéis que agora o autori-
ZJ\am a fazer o embaixador ponuguê em Haia. Francisco de Sousa Coutinho, simultaneamente con pi r contra a Espanha. tentando uble r o Remo e
trocar Pernambuco pela paz no Brasil e na Africa. Nesse tempo, mante e ápoles então domin do por Madri. O plano foi descobeno c emba.i~•ldor
·ontato com o judeu da inagoga de Amsterdam. como Manassés-ben-Is- espanhol. duque do lnfantado. ameaçou Vieir-.t de mort • intimando o geral da
rael. que em 1640 e creY ra um texto profético. Esperança de Israel. que em Companhia de Jesus a fazer com que abandonas e Roma às pressas, p ra
1659 Vieira imitou em eu Esperanças de Portugal. escrito quando estava na salvar a pele. Em junho de 1650. voltou para Ponugal. • meado hefe da
AmJ.Z0nia. ~ C m o ami.,o jud u, discute o destino das tribos perdidas de Is- missão do Maranhão e Grão-Pará, dei ou a barra de Li boa m :!5 de n em-
t!l. ~restituição de Judá e o advento de Cristo. temas que aparecem em suas bro de 1651. Em 16 de janeiro de 1652, depoi de parar em C bo \erde. he-
gou a São Luís do iaranhão. 1
can e obra proféticas posteriores em que trata do papel providencial a ser
de empenhado pelo.·oYo ~tundo e pelos índios brasileiros antes do retomo do
).1essia_. . - H !anda. porém. as negociações da compra de Pernambuco fa-
MISSÀO ,'OMARA. HÀOEGRÃo-P RA.l65--1662
lh ram no' am nte. Em outubro de 164 . \ inte propostas de Vieira referentes
ao ne.,. .. ios com a Holanda foram apreciadas e rejeitadas em várias instân-
cia· da C rte. o Tribunal do Desembargo do Paço. a Mesa de Consciência e
Ord ns. Crmra de Li boa. o Conselho da Guerra. o Conselho da Fazenda,
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, 1 HI!ÔI ~
1111 IV tt. p I 6
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1111 IV tt. p I 6
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f ,
JO O OOLPO HA
u. " f J lmto u f u n que cri i e ta missão por ordern
qu · . l1brc la d1 pô : cu só tenho as notfcias Ambrósio. O polvo com aquele eu capelo, parece um monge, com aquele us ra os
1 1> infomtar e alegar da razões por que estendidos, p8l'tCC uma la, com aquele nlo ter osso nem espmha. parece a mesma
Jda , c o •raví imos danos que do contrário se brandura. a me ma mans1dl . E debai o dest2 aparfnc tio modesta, ou desta h•po-
crisia tão santa. te temunham conte tamente os dous grande Doutores da IgreJa
latina, e grega, que o dito polvo ~ o mmor traidor do mar Constst esta trai llo do
polvo primeiramente em se vestir. ou pmtar das mesmu ores de todas aquelas con: ,
a que está pegado. As con:s, que no camalelo slo gala no polvo são malfCla, as
tndl figuras, que em Proteu ão fãbula, no polvo são verdade. e anJflcto •
m 19 .. r m io .. r~ uiando a questã 1 do trabalho indígena c do poder tem-
poral · pi rilual ohr· o~ índio aldeados. Entre as várias medidas, propõe, Data da Quaresma de 1655 o "Sermão da se agésima", pregado na Ca-
pore cmpl< . que o go emador· nãodc,eriamterjurisdiçãosobreosíndios· pela Real. Nele, Vieira critica os "estilos cultos", a agudezas gongóricas que
lJUC t ·~ tcnam um pr \Curador-geral em cada capitania; que seriam total- então eram usadíssimas pelos seus rivais dominicanos da lnquisiçao, como o
m nt~ ujei o aos r IJgio;.os; que no início de cada ano se faria urna lista de famoso pregador frei Domingos de Santo Tomás. Vieira fundamenta a argu
tod o índ1m de se1viço c de todos os moradores da capitania, para repartir mentação no conceito predicável extraído de Mateus, xm. 3, "Ec e eX!ÍI qUI
I m<11adorc ; que o número de aldeamentos seria reduzidQ. seminat, seminare" (Eis saiu o que semeia a semear}, desenvolvendo-o pala-
para facilitar· m lhc.rar o controle; que índio só poderiam trabalharquatl$ por palavra e acrescentando-lhe semen suum, "a sua semente". O leitor
IIH: • Jor.t de ua • ldcias; que nl!nhum deles deveria trabalhar sem que an1llll
pensar que fala abstratamente do pregador evangélico e da II:Oria da
f•1 c pago; que toda as emana ou a cada quinze dias haveria uma ti mas fala efetivamente de si mesmo e dos mi sionários Jesuftas do
e do Maranhão e Grão-Pará, tamb6n atacando destemidamente o San-
ndc vendcnam se u p1od uto . Além d1 o, somente os eclesiásticos pod •
da Inquisição, quando ataca o estilo do seu maior pregador e di tio-
f tZCI l!ntro~d ''" ~.: ri:Jo; um.t única ordem religiosa, a ser nomeada pelo
duas es~ies de pregadores, "os que ficam" e "os que saem" É nesse
·nc.m • n.t do índios; nenhum deles poderia ser trazido do sertão
que faz o trocadilho "paçofpassos", condensando o programa mi io
Ih preptu,trc m rO<;a c aldl!ia ; o índios de corda seriam resgatad
da Companhia de Jesus. Perguntando ironicamente o que acontecerá
pregadores no Dia do Juízo, afmna que então "Os de cá achar-vos-eis
A ituaç.tn se ag1.tvava. porém, e Vieira decidiu ir a Lisboa para tentar mais paço; os de lá, com mais passos". 25 Ou seja, "o que ficam ·
1111lucm:iar dnctamt.:n tc a r ortt.: em favor da causa jesuítica. Antes, por611, em na Corte, como os dominicanos da Inquisição, com mai apego às
lJ de junh< de Iü5·1. pr egou o f.unosís~imo "Sermão de Santo Antônio", em do mundo, e "os que saem" a pregar nas missões, como os Jesuíta do
que a\ va1 i,ts o.:~p~cics de p1·ixc\ do mar são metáforas das várias esp6cics de ~ll'atthã<o, com mais ações virtuosas e mais sofrimentos. No dommgo seguin
con upçõ • c cnnuptos do Maranhão, do Brasil c de Portugal. Uma PC411Willll~: a quinquagésima, fn:i Domingos de Santo Tomás deu o troco, mas Vieira
Jmo<;U .1 d.1 tll1t.: supcnor dt.: Vicir3 é a alegoria dn polvo. Significando retomou a diatribe. O "Scrmlo da sexagésima" foi escolhido por ele para
ta em gcr.ll. ela 1.1mbém parece aludir a carmcliti.l~. inimigos de Vieira os volumes de suas obras oratórias, ficando conhectdo como o principal
Luís. c .1 dominkanns, seus \'clhos inimi gos do Santo Ofício, no R ino: doutrinário do "m6todo porcupas de pregar'' A1nda na Quaresma de
em Portugal, pregou pa o .-e~ do remo o bdfasimo "Sermio
\I Ja que c\t,unn~ n;l\ cova~ do mar, ante~ qui! s:namos delas, temos IA o trmle
t~m ~uas qur1 a . c gt ande, , n:io menos que Slo Basrllo e Saoro
poli n,' ont1.1 < qual ~ C)WJilUltl~ da alma-...
ladtld',emquelQc&,a &1Mü em JUÍ7ae
l&!taa Vt ira
a~~~----l;.~~
' \o lei P \h•n u \' 1, 161 1 (\I r ), maio 21", em Cartas, l I, Cll., p 589
''r 1 I J o 1\ , l6~J. 11 nl (•". em Cartal t. I, 11, pp 431-441.
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SERMàES
42
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SERMàES
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SE. 'ÓES
Eml~.v~r•·~~~-.-.all
é indicativo de que IÍBdlea•ilo·---~-.11
porém. e. quandodeeidiu irpla:aPIItit.flflllldM
pelos colonos de Bel6m.
C'lul•·
11
l'hom.,, Co ht:n, " I h~· t t'~
Mn\lnnmv c ltmt 11 ltl u,,,
llll'inl l•tuphan) , \ll1 Ih,. ,.,,... o/ lu11111'
1l u11,J l'.ut•"i ••l (\1 nlunJ, Cahfórnta tanford UDi.WI'Iify
•*
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..__,,_ "''m ""'·''o do> nm·a~nte convem dos, e à vísla dos ~~iosii6Dilrllse.J!IIII•~
o dos autores. e e~ecutores destes ~ tmlaS vaes,.
46
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SERM6F.S
rqo tradal ~ causa~ do cauve1ro licito Mas porque nós queremos s6 os lfcifot,
deléndetnos (pr01b1mo ) os Jlfc•tos, por 1sso nos nAo querem naquela terra, e
la amd la
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SERM6F.S
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JC una M nuel
a ( ta apre entaram a D. Ped um proJ t d perd ra n -
-n v . Como condi ã para o me mo. C d 1 rmm u qu o ri
tão -novo de riam financiar Companhi P nugu d Índi On ntats.
Companhia ra um elh projeto de 1 ira49 e Antônio Corret Bra • Pedro
Álvare Caldas e Manuel da Gama de Pádua, riquí imos merciant s cri
tãos-novo • dispuseram-se a financtá-1 Em Li boa, ontudo, aumenta a
murmuração popular contra os jud us. Uma c n piração am a ou Pedro,
em 1673, com o retomo de D. Afonso I, enta ilado na ad 1ra. Correram
boatos de que era apoiada por cristãos-novos Em 1674. as Corte de Li boa
opuseram-se ao perdão geral e fizeram a Coroa d istir do projeto da Comp -
nhia das Índias. Os comerciantes cristãos-novos ainda tentaram bt r o fa'<or
do papa, oferecendo 500.000 cruzados à Cúria romana para a guerra da Polôma
contra os turcos otomanos. Nesse ano, o papa determinou a suspen o dos
autos-da-fé, exigindo que a Inquisição mandasse para Roma uma compilação
Ro 1 • 1669-1675
dos processos para exame de suas atividades. Apesar da ordem papal, o prín-
cipe D. Pedro proibiu o inquisidor-geral de remeter os papéis A murmura ã
P.tra fins de te texto. bata dizer qu'. em Roma, Vieira freqUentou o
da plebe aumentou e pasquins infamantes circularam: "Quem deseJar ser JU-
P la 10 RrJri >. d.~rainha Cri tina da Suécia, pas ando a pregarem italiano a partir deu, herege, sodomita, e casar três vezes, vá falar com o padre Manuel
d I T!. Em I67·t, na Acad mia Real de Roma c no Palácio de Cristina da Suécia, Fernandes, confessor de Sua Majestade, e com Manuel da Gama de Pádua e
pr po e um problema· se o mundo em mais digno de ri o ou de lágrimas; e qual Pedro Álvares Caldas, que tem bulas do padre Quental para tud As Con
do dor and.tíJ ma1~ pmden te, · Demócrito. que ria sempre, se Heráclito, que de 1679-1680 infonnaram a D. Pedro seu desejo de que o Santo Ofk1o reto-
cmpr c h or~na . Vierra cnt.to pregou o sc nnão "As lágrimas de Heráclito", masse as práticas suspensas. Em 1680, morreu Manuel da Gama de Pádua, o
cncendn o prcgad(lr itali,lf1o (ii rolamo Cattaneo, autor do sennão "O riso de comerciante que havia conseguido interessar a C6ria romana pela c usa c
D m ' nto" Era lamo'Í'\ irno, ma' se u principal ohjctívo na cidade era livrar-se ti-nova. Manuel Fernandes demitiu-se da fUnçlo de CODfeuor real. obede
daj uri,drç<~o da lnqu r"ilrao portuguc a. Em 17 de ahril de 1675, o papa Clemente cendoaoOeralda ompanhiadeJesva. Eina&Oifocfe le&l,opapa restabeleceu
I ·concedeu Ih•' um hrc\'t.: que o lr Ha\a do tribunal c o absolvia de todas aa a Inquiaiçlo em Portugal. Nesse ano e no soptnte.. muit.oa c:omercíante& cri
r·stnçix:s c penas. ·,10 quis ficar em Roma c, em agosto de 1675, chegava tios-novos foram presos. Bm 1682, D. P~emf.Jsboa um pode
nov.tm ·r11e .1 Li hoa Ainda acred itava ser capaz de influenciar a Corte em favor
dos cristãos· no~ os contr.t .t lnqUI. ição, quarta entidade que, sem ser fome, peste
nc.m gucna. L,tu. a\ a calarmdadcs rgualmcntc lastimosas no comum e particular do
rcrno, comocscrc\cu em 1690 .to conde de Ca tela Melhor." Mais uma vez, sem
succs~o. I>. Pedro o ignorou, mantendo-o a distância. Quando voltou para o
em 1681. em a sétima c últtma vct quL' atravessava o Atlântico.
nla an ( "ndc rl ( 'a ,tclu Mdhor [600, JU[ho 15", em Cartas, I [JI, c:il, p. 593.
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Companhia ra um elh projeto de 1 ira49 e Antônio Corret Bra • Pedro
Álvare Caldas e Manuel da Gama de Pádua, riquí imos merciant s cri
tãos-novo • dispuseram-se a financtá-1 Em Li boa, ontudo, aumenta a
murmuração popular contra os jud us. Uma c n piração am a ou Pedro,
em 1673, com o retomo de D. Afonso I, enta ilado na ad 1ra. Correram
boatos de que era apoiada por cristãos-novos Em 1674. as Corte de Li boa
opuseram-se ao perdão geral e fizeram a Coroa d istir do projeto da Comp -
nhia das Índias. Os comerciantes cristãos-novos ainda tentaram bt r o fa'<or
do papa, oferecendo 500.000 cruzados à Cúria romana para a guerra da Polôma
contra os turcos otomanos. Nesse ano, o papa determinou a suspen o dos
autos-da-fé, exigindo que a Inquisição mandasse para Roma uma compilação
Ro 1 • 1669-1675
dos processos para exame de suas atividades. Apesar da ordem papal, o prín-
cipe D. Pedro proibiu o inquisidor-geral de remeter os papéis A murmura ã
P.tra fins de te texto. bata dizer qu'. em Roma, Vieira freqUentou o
da plebe aumentou e pasquins infamantes circularam: "Quem deseJar ser JU-
P la 10 RrJri >. d.~rainha Cri tina da Suécia, pas ando a pregarem italiano a partir deu, herege, sodomita, e casar três vezes, vá falar com o padre Manuel
d I T!. Em I67·t, na Acad mia Real de Roma c no Palácio de Cristina da Suécia, Fernandes, confessor de Sua Majestade, e com Manuel da Gama de Pádua e
pr po e um problema· se o mundo em mais digno de ri o ou de lágrimas; e qual Pedro Álvares Caldas, que tem bulas do padre Quental para tud As Con
do dor and.tíJ ma1~ pmden te, · Demócrito. que ria sempre, se Heráclito, que de 1679-1680 infonnaram a D. Pedro seu desejo de que o Santo Ofk1o reto-
cmpr c h or~na . Vierra cnt.to pregou o sc nnão "As lágrimas de Heráclito", masse as práticas suspensas. Em 1680, morreu Manuel da Gama de Pádua, o
cncendn o prcgad(lr itali,lf1o (ii rolamo Cattaneo, autor do sennão "O riso de comerciante que havia conseguido interessar a C6ria romana pela c usa c
D m ' nto" Era lamo'Í'\ irno, ma' se u principal ohjctívo na cidade era livrar-se ti-nova. Manuel Fernandes demitiu-se da fUnçlo de CODfeuor real. obede
daj uri,drç<~o da lnqu r"ilrao portuguc a. Em 17 de ahril de 1675, o papa Clemente cendoaoOeralda ompanhiadeJesva. Eina&Oifocfe le&l,opapa restabeleceu
I ·concedeu Ih•' um hrc\'t.: que o lr Ha\a do tribunal c o absolvia de todas aa a Inquiaiçlo em Portugal. Nesse ano e no soptnte.. muit.oa c:omercíante& cri
r·stnçix:s c penas. ·,10 quis ficar em Roma c, em agosto de 1675, chegava tios-novos foram presos. Bm 1682, D. P~emf.Jsboa um pode
nov.tm ·r11e .1 Li hoa Ainda acred itava ser capaz de influenciar a Corte em favor
dos cristãos· no~ os contr.t .t lnqUI. ição, quarta entidade que, sem ser fome, peste
nc.m gucna. L,tu. a\ a calarmdadcs rgualmcntc lastimosas no comum e particular do
rcrno, comocscrc\cu em 1690 .to conde de Ca tela Melhor." Mais uma vez, sem
succs~o. I>. Pedro o ignorou, mantendo-o a distância. Quando voltou para o
em 1681. em a sétima c últtma vct quL' atravessava o Atlântico.
nla an ( "ndc rl ( 'a ,tclu Mdhor [600, JU[ho 15", em Cartas, I [JI, c:il, p. 593.
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SERMÕES
52
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SERMÕES
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CIIL71JRA E ()p(l/.tNCIA DO BRASIL
JANICE THEODORO DA SILVA
partes em que se subdivide antes de iniciarmos uma viagem mais detalhada etn CulDAJX>S NA LBmJRA
meio à forma c ao conteúdo deste livro
A primeira parte, "Cultura e opulência do Brasil na lavra do açúcar_ Ao se produzir um texto para informar o leitor sobre uma obra como
engenho real moente e con-ente", é dedicada ao açúcar. Subdivide-se em tJts Cultura e opul2ncia do Brasü, escrita por um estilista do porte do padre
grandes núcleos de análise: a plantação e o fabrico do açúcar, os modos brasi.. André João Antonil, o maior perigo é supor ser possível resumir os temas
!eiras de se vender c comprar. Em seguida Antonil analisa o modo de preparar tratados no livro. Pode parecer simples relatar o que contém cada uma das
a cana e todas a engrenagens de funcionamento e fabrico do engenho. E para quatro partes em que se divide a obra e falar do açúcar, do tabaco, do ouro, do
terminar esta unidade o autor detalha o modo de purgar o açúcar, os preços gado e do couro. Milhares de escritores fizeram esse percurso-com maior ou
amigos e moderno , retomando a história da produção do açúcar desde o plan-- menor habilidade. Mas, apesar de uma produção intensa de estudos sobre a
tio da cana até as formas pelas quais o açúcar vai deixar o Brasil. O autor, na economia colonial brasileira, sentimos necessidade de voltar a Antonil e ao
part1: dedicada à produção do açúcar, analisa os problemas do engenho cotn século XVII. Por quê?
uma profundidade que não se repete nas outras partes do livro. Ter a capacidade de transpOrtar o leitor no tempo e recuperar a sensibi-
A ·egunda parte recebe o título de "Cultura e opulência do Brasil lidade dos séculos XVII e XVIII é tarefa que poucos couseguem realizar.
para penetrar no universo mental de Antonil é necessário lançar mio
la\ra do tabaco". A folha do tabaco é analisada levando em cottsi(iet'lllQi~
mesmas ferramentas que ele utiliza: a língua e o estilo. Bssas são as cha-
que abrem as portas do dlfiago trazendo à tona a visão de tempo, a per-
do território e o conhecimento dos homens.
O mistério e a beleza dc;sse-toxto nio estão contidos apenas no conteúdo
livro. mas na tPnna come ti uamda a cultura e a opulência no Brasil
reproduziroteltO ~a sua e a sua aura &iste uma iBfi.Di..
4e escritos q ~ 1'e$lUIIÍdos porqae a mt:esar" aio
~·~
um~~
~ ~~·o
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CIIL71JRA E ()p(l/.tNCIA DO BRASIL
JANICE THEODORO DA SILVA
partes em que se subdivide antes de iniciarmos uma viagem mais detalhada etn CulDAJX>S NA LBmJRA
meio à forma c ao conteúdo deste livro
A primeira parte, "Cultura e opulência do Brasil na lavra do açúcar_ Ao se produzir um texto para informar o leitor sobre uma obra como
engenho real moente e con-ente", é dedicada ao açúcar. Subdivide-se em tJts Cultura e opul2ncia do Brasü, escrita por um estilista do porte do padre
grandes núcleos de análise: a plantação e o fabrico do açúcar, os modos brasi.. André João Antonil, o maior perigo é supor ser possível resumir os temas
!eiras de se vender c comprar. Em seguida Antonil analisa o modo de preparar tratados no livro. Pode parecer simples relatar o que contém cada uma das
a cana e todas a engrenagens de funcionamento e fabrico do engenho. E para quatro partes em que se divide a obra e falar do açúcar, do tabaco, do ouro, do
terminar esta unidade o autor detalha o modo de purgar o açúcar, os preços gado e do couro. Milhares de escritores fizeram esse percurso-com maior ou
amigos e moderno , retomando a história da produção do açúcar desde o plan-- menor habilidade. Mas, apesar de uma produção intensa de estudos sobre a
tio da cana até as formas pelas quais o açúcar vai deixar o Brasil. O autor, na economia colonial brasileira, sentimos necessidade de voltar a Antonil e ao
part1: dedicada à produção do açúcar, analisa os problemas do engenho cotn século XVII. Por quê?
uma profundidade que não se repete nas outras partes do livro. Ter a capacidade de transpOrtar o leitor no tempo e recuperar a sensibi-
A ·egunda parte recebe o título de "Cultura e opulência do Brasil lidade dos séculos XVII e XVIII é tarefa que poucos couseguem realizar.
para penetrar no universo mental de Antonil é necessário lançar mio
la\ra do tabaco". A folha do tabaco é analisada levando em cottsi(iet'lllQi~
mesmas ferramentas que ele utiliza: a língua e o estilo. Bssas são as cha-
que abrem as portas do dlfiago trazendo à tona a visão de tempo, a per-
do território e o conhecimento dos homens.
O mistério e a beleza dc;sse-toxto nio estão contidos apenas no conteúdo
livro. mas na tPnna come ti uamda a cultura e a opulência no Brasil
reproduziroteltO ~a sua e a sua aura &iste uma iBfi.Di..
4e escritos q ~ 1'e$lUIIÍdos porqae a mt:esar" aio
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CULTURA E OPULlNCIA DO BRASIL JANICB TIIBOOORO DA SILVA
Observem. aci ma de tudo. o estilo capaz de despertar no leitor vúi mente o empreendimento e. ao mesntotempo perceber a&~ dos
. ·t- d nem stlmpre po~síveis de ser descritos. Ao falar das ativi homens. E, em meio a asa pereepçio, ainda conj1rJa ama aguçada &elllibüi·
q_;m rca o. · .
- , de.en\ oh·em no engenho o mestre do !lçúcar, o banquerro
que . , • ,•
e o ajuda- dade para os pequenot problemas~
u~ir . :\n toni 1conjuga a ati vidade desempenhada com pnnc1p1os etiCos e
quai. d~vem nortear a conduta de cada personagem citado na obra. Nem detxe os papas c as CICI'Ü1J1'U ctae tem na ema da 1lldlber 011 SCible a...,..
0 exposta ao pó, ao vento, à traÇa c ao<et~pDD, para que depois nlo -.fa ~
conjugação é fctta com muito engenho, de tal forma que o relato de An mandar dizer muitas IDJSSIS a Santo Ati(Opio paraacbar algum papel ~que
obre processo da produção de açúcar não apaga a presença de homens q desapareceu. quando houvcrmisterde-..Jo. .Ponptc lbe~'Piaaidou
0
atuam de forrna equilibrada ou cruel, justa ou injusta, verdadeira ou hi~ serva ure duas ou tres folhas da caixacfascnbora pn embrulhar com aocpe 1llli
lhe agradar; e o filho mais pequeoo dmt tamNm aJpmu da .-.. ,... piollt'
A JU'>IlÇ c v rd Je os obngam a não misturar o açúcar de um lavrador com o do caretas. ou para fazer banjuinhos de prapcJ. em que aavepem IIICISCII ~ ou
outro; e por1 ;o. nas formas que manda pôr no tenda!. façaquehajasinalcomquese finalmente, o vento fart com que V0$!1ibra ela cata se111 pena.
possam d1<:mgUJr das outras que pertencem a outras donos para que o meu c o teu.
JOJmJgos da paz. não ;ejam causa de bulhas. E. para que sua obra seja perfctta. tenha
~:><>a corre- pondência com o feitor da moenda, que lhe envia o caldo. com o banqucU'O
c ;otobanque1ro. que lhe sucede de noite no oficio, e com o purgadordo açúcar, para
que \ cJ:unJuntamente donde nasce o purgar bem ou mal em as fonnas, c sejam entre
,I como os olho. que igualmente vigiam e como as mãos que unidamente trabalham.~
PRIMEIRA PARTE
CULTI:RA E OPULÊNCIA DO BRASIL NA LAVRA
00 AÇl'CAR -ENGENHO REAL MOENTE E CORRENTB
11.1111, I' X6
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CULTURA E OPULlNCIA DO BRASIL JANICB TIIBOOORO DA SILVA
Observem. aci ma de tudo. o estilo capaz de despertar no leitor vúi mente o empreendimento e. ao mesntotempo perceber a&~ dos
. ·t- d nem stlmpre po~síveis de ser descritos. Ao falar das ativi homens. E, em meio a asa pereepçio, ainda conj1rJa ama aguçada &elllibüi·
q_;m rca o. · .
- , de.en\ oh·em no engenho o mestre do !lçúcar, o banquerro
que . , • ,•
e o ajuda- dade para os pequenot problemas~
u~ir . :\n toni 1conjuga a ati vidade desempenhada com pnnc1p1os etiCos e
quai. d~vem nortear a conduta de cada personagem citado na obra. Nem detxe os papas c as CICI'Ü1J1'U ctae tem na ema da 1lldlber 011 SCible a...,..
0 exposta ao pó, ao vento, à traÇa c ao<et~pDD, para que depois nlo -.fa ~
conjugação é fctta com muito engenho, de tal forma que o relato de An mandar dizer muitas IDJSSIS a Santo Ati(Opio paraacbar algum papel ~que
obre processo da produção de açúcar não apaga a presença de homens q desapareceu. quando houvcrmisterde-..Jo. .Ponptc lbe~'Piaaidou
0
atuam de forrna equilibrada ou cruel, justa ou injusta, verdadeira ou hi~ serva ure duas ou tres folhas da caixacfascnbora pn embrulhar com aocpe 1llli
lhe agradar; e o filho mais pequeoo dmt tamNm aJpmu da .-.. ,... piollt'
A JU'>IlÇ c v rd Je os obngam a não misturar o açúcar de um lavrador com o do caretas. ou para fazer banjuinhos de prapcJ. em que aavepem IIICISCII ~ ou
outro; e por1 ;o. nas formas que manda pôr no tenda!. façaquehajasinalcomquese finalmente, o vento fart com que V0$!1ibra ela cata se111 pena.
possam d1<:mgUJr das outras que pertencem a outras donos para que o meu c o teu.
JOJmJgos da paz. não ;ejam causa de bulhas. E. para que sua obra seja perfctta. tenha
~:><>a corre- pondência com o feitor da moenda, que lhe envia o caldo. com o banqucU'O
c ;otobanque1ro. que lhe sucede de noite no oficio, e com o purgadordo açúcar, para
que \ cJ:unJuntamente donde nasce o purgar bem ou mal em as fonnas, c sejam entre
,I como os olho. que igualmente vigiam e como as mãos que unidamente trabalham.~
PRIMEIRA PARTE
CULTI:RA E OPULÊNCIA DO BRASIL NA LAVRA
00 AÇl'CAR -ENGENHO REAL MOENTE E CORRENTB
11.1111, I' X6
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n I /1 H.\ 1 OI' I Lf"'c ftl /10 BRA SI/. JA ICB 1'ti8000RO DAS
llllll 0 que é de outro o purgador deve saber quando o a?úcar está ~nxu
001 O castigos devem ocorrer, mas de forma moderada, sem fmper.o vinga
c qtw~ .~o 0 " 11 ,11 , de purgat hem. De\ e saber também evttar que suJem u 0 , abrindo a possibilidade do pen!lo, perdlo que possa impedir a fuga ancon-
t.lll<Jlft· dl· md c aluw·ntar o tl)orccgos que s~o a pra~a consta~te de todas veniente para o senhor. É necessário, diz Antonil, que dê a elos espaço para
l.t . 1 ~ t.k pur~a 1 () l·a• \<:Íro é aquele que encatxa o açucar dcpots de purgado folguedos, porque assim sentirio alfvlo do cativeiro, evitando- o d o
1 .ua f un\<to mandar 1ir.JT da fôrmas, assistir quando se ma cava e guardá-lo e a melancolia que, muitas vezes os levam à morte.
c111 lur.; 11 t•ro. Cabe .1 c1 • também pesar c repartir entre o senhor de engenho o que se deve evitar nos engenhos é a bebida feita com garapa azeda ou
1 0 · J. 1vtiHlom·s h cahc .unda ao purgador tirar o dízimo c a vintena ou quinto água ardente, substituindo-as por garapa doce que nio causa dano.
qu 1 p.1g.un m qul' I.Jvr.tm em terras do engenho c que entregam a caixas para
I) l'lllh.ll<jllt'. Governo da famflia e hospitalidade
M.t·. o IIIJJPJ dc\alio para quem comanda tão grande empresa é pôr em
Se é difícil controlar os escravos, nlo mais fácil o go o da famllia.
p 11 ,, todo . unpcduulo ,, discórdia. Trahalho árduo em terra onde os homens
Diz Antonil: "Mau é ter nome de avarento, mas nlo 6 glória dtgna de louvor o
.111 m.u~ dtc •.1do ao sangue do que a caridade
ser pródigo".9 Ter os filhos no engenho é criá-los incapazes d con ar
bre outra coisa que cão, cavalo ou boi. Deixá-los na cidade 6 faoilitar o contat
O nhor do engenho e os escravos
com doenças vergonhosas e com os víctos. Tamb6m nlo dev onsentir
/\ H'l.t~·.to do~ ~enhores de engenho com seus escravo que a mãe lhes mande dinheiro, ainda que secretamen porqu o dinheiro
c1 n d,t n:ononu.1 colonial no Brasil. Antonil refere-se a essa relação poderá os conduzir ao jogo e à vida Mcil. O melhor ensino 6 o bom e mpfo
nHHIJ propncduc.k ''Os c'cravos são as mão~ e os pés do senhor de engenho, dos pais.
pnrqut• sem ck·' JJnllrasil não é po sívcl fazer, con enar e aumentar fazenda,
n •rn lt'J l'll!'Cnho corren te" .'• A hospitalidade tanto ele b6tpodea 001110 de- 01 d uma açlo rt6l e uma
\ntond uuci.1 o seu rcl.rto camcterizando a diferença dos escravo VIrtude crlatl, ono Btllll.mallO•••~tQI-r-petque faltudo fora da. lido
p.utJr d.ts na~ck' de que sao 011 •inano: Sao Tomé. Angola, Cabo Verde as estalaaone. vlo nte dllrCOIIJI&o nos enaeuhol todos
ordlnariamODIO acham de clltllletro
\h><;.nnhtqul' P.n.t ele o. que nJ,~:cmm no Bra ai sao os mai industrio os
kndn pcll qu,tllo h!x.m". Os mul.uo , egundo o autor, ao os que têm
' "'"' Drtum p1merhac' d.1 éJJIK.t catado na ohra qu "o Brasil é o inferno
lll' •r os, pun•.JtnrJc> dm bran~·o c p.u-aí o do mulaws c da mulatas".
lt~Jtoll mulut,Js o.tutnr wnsidL·r.t petdi~.to mantk\t,t porque. em geral, diz
rnmt• 'llt'lll .tlrbcJdo~dc ;, i: lista do l·urpn. de r ·retido~ peGtdos, c me mo
Jl'lllt<'' ,,, lll' •rJs lllx·tt,ts n>llllllll.tlll .1 ~cr .1tum.1 J ·muito .1
\ l'Slt.t\ id.tlllt.lo L' roloç,tda em 411C,t.to l'lll momento algum do tcx~
cnnlr,IJtP \ntuml ~ • Jt•fcrl.' .trmp•lll:incJa do tt.th.tlho · cr.tvo para
•lÇllt.llt:it .l ,S,•gtlllld\l l'SSC JlCIClll SO. an.tli~a ,1 import:incia do U t nto
'·stllllcnta • da nuxkr.tç.rn do tr.tl'.tlho, de tal fonna que o scravos
·•t.llr.u. \l\ cr c pl.mt.ll su.Js t\ ç.t~ que llws d,1ràc1 sustento." oBra il,
dtl~r quL' 1;11,1 o ··~cr,l\ n <In llt'C<'ssarios lr~s PPP. a aber, pau, p1o c pano.
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n I /1 H.\ 1 OI' I Lf"'c ftl /10 BRA SI/. JA ICB 1'ti8000RO DAS
llllll 0 que é de outro o purgador deve saber quando o a?úcar está ~nxu
001 O castigos devem ocorrer, mas de forma moderada, sem fmper.o vinga
c qtw~ .~o 0 " 11 ,11 , de purgat hem. De\ e saber também evttar que suJem u 0 , abrindo a possibilidade do pen!lo, perdlo que possa impedir a fuga ancon-
t.lll<Jlft· dl· md c aluw·ntar o tl)orccgos que s~o a pra~a consta~te de todas veniente para o senhor. É necessário, diz Antonil, que dê a elos espaço para
l.t . 1 ~ t.k pur~a 1 () l·a• \<:Íro é aquele que encatxa o açucar dcpots de purgado folguedos, porque assim sentirio alfvlo do cativeiro, evitando- o d o
1 .ua f un\<to mandar 1ir.JT da fôrmas, assistir quando se ma cava e guardá-lo e a melancolia que, muitas vezes os levam à morte.
c111 lur.; 11 t•ro. Cabe .1 c1 • também pesar c repartir entre o senhor de engenho o que se deve evitar nos engenhos é a bebida feita com garapa azeda ou
1 0 · J. 1vtiHlom·s h cahc .unda ao purgador tirar o dízimo c a vintena ou quinto água ardente, substituindo-as por garapa doce que nio causa dano.
qu 1 p.1g.un m qul' I.Jvr.tm em terras do engenho c que entregam a caixas para
I) l'lllh.ll<jllt'. Governo da famflia e hospitalidade
M.t·. o IIIJJPJ dc\alio para quem comanda tão grande empresa é pôr em
Se é difícil controlar os escravos, nlo mais fácil o go o da famllia.
p 11 ,, todo . unpcduulo ,, discórdia. Trahalho árduo em terra onde os homens
Diz Antonil: "Mau é ter nome de avarento, mas nlo 6 glória dtgna de louvor o
.111 m.u~ dtc •.1do ao sangue do que a caridade
ser pródigo".9 Ter os filhos no engenho é criá-los incapazes d con ar
bre outra coisa que cão, cavalo ou boi. Deixá-los na cidade 6 faoilitar o contat
O nhor do engenho e os escravos
com doenças vergonhosas e com os víctos. Tamb6m nlo dev onsentir
/\ H'l.t~·.to do~ ~enhores de engenho com seus escravo que a mãe lhes mande dinheiro, ainda que secretamen porqu o dinheiro
c1 n d,t n:ononu.1 colonial no Brasil. Antonil refere-se a essa relação poderá os conduzir ao jogo e à vida Mcil. O melhor ensino 6 o bom e mpfo
nHHIJ propncduc.k ''Os c'cravos são as mão~ e os pés do senhor de engenho, dos pais.
pnrqut• sem ck·' JJnllrasil não é po sívcl fazer, con enar e aumentar fazenda,
n •rn lt'J l'll!'Cnho corren te" .'• A hospitalidade tanto ele b6tpodea 001110 de- 01 d uma açlo rt6l e uma
\ntond uuci.1 o seu rcl.rto camcterizando a diferença dos escravo VIrtude crlatl, ono Btllll.mallO•••~tQI-r-petque faltudo fora da. lido
p.utJr d.ts na~ck' de que sao 011 •inano: Sao Tomé. Angola, Cabo Verde as estalaaone. vlo nte dllrCOIIJI&o nos enaeuhol todos
ordlnariamODIO acham de clltllletro
\h><;.nnhtqul' P.n.t ele o. que nJ,~:cmm no Bra ai sao os mai industrio os
kndn pcll qu,tllo h!x.m". Os mul.uo , egundo o autor, ao os que têm
' "'"' Drtum p1merhac' d.1 éJJIK.t catado na ohra qu "o Brasil é o inferno
lll' •r os, pun•.JtnrJc> dm bran~·o c p.u-aí o do mulaws c da mulatas".
lt~Jtoll mulut,Js o.tutnr wnsidL·r.t petdi~.to mantk\t,t porque. em geral, diz
rnmt• 'llt'lll .tlrbcJdo~dc ;, i: lista do l·urpn. de r ·retido~ peGtdos, c me mo
Jl'lllt<'' ,,, lll' •rJs lllx·tt,ts n>llllllll.tlll .1 ~cr .1tum.1 J ·muito .1
\ l'Slt.t\ id.tlllt.lo L' roloç,tda em 411C,t.to l'lll momento algum do tcx~
cnnlr,IJtP \ntuml ~ • Jt•fcrl.' .trmp•lll:incJa do tt.th.tlho · cr.tvo para
•lÇllt.llt:it .l ,S,•gtlllld\l l'SSC JlCIClll SO. an.tli~a ,1 import:incia do U t nto
'·stllllcnta • da nuxkr.tç.rn do tr.tl'.tlho, de tal fonna que o scravos
·•t.llr.u. \l\ cr c pl.mt.ll su.Js t\ ç.t~ que llws d,1ràc1 sustento." oBra il,
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I I ((N\ r1 l'l \!/I /111 H/11\1/
JANI B THl!OOORO DA IL A
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l'l ll'
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I I ((N\ r1 l'l \!/I /111 H/11\1/
JANI B THl!OOORO DA IL A
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Cl"LTl'RA E tll'C.Ltl\D:\ DO BR,\ '/L
JA I I! THEODORO DA
Com is 0 se ntcndcr:í donde nasce o ter esta doce droga tantos nomes diversos. antes
d ft'l!raro maJ not>re e o ma1s perfeito de açúl'ar; porque. confom1c o eu princípio, pedras o adas, ou nas peças de fino linho, no meio, se acha pano de estopa.
rndh~na e pcrfe1ção. e conft'rmc o· e~tados di ver os pelos quais passa. vai também a s1m t mbém se poderia mandar açúcar com meno~ arrobas, ou açucar
mudando d· nomes. E a. tm, na moenda. chama- c ~umo de cana; nos paróis do ma cavado. por branco.
encenho. ate entrar na catd tra do me1o. caldo; nc~ta. caldo fcrvtdo; na caldetra de As im, o açúcar sai do canavial onde nasce, vai até os portos do BrasJI.
n ;lar. clar1ticado; na bacta, co do; nas tachas, melado; utumamcntc. têmpera: e, na navega para Portugal e é repartido entre muitas cidades da Europa.
f'rmas. açú ·ar. de cujas d11 e as qualidade falaremo . quando chegarmos a vê-lo
Quanto aos preços, muitas vezes a necessidade obriga a vender barato
po ·to nas ca~xas.''
que tanto custou a servos e senhores. A falta de na ios e a Jta dos p~os do
cobre. ferro e pano e. particulannente, do valor dos escravos são os pn11Cipal
motivos de o açúcar ter subido tanto de p~o Se redumem o p~ das coi a
Uvrolll que 'êm do reino e dos escra os que v~m de Angola e C ta da Guiné, os
~'a terceira parte do livro, Antonil continua descrevendo as formas do- preços poderiam se tomar mais moderados.
produção do açúcar. procurando avaliar o processo em seu conjunto tanto no A Bahia po sui cento e quarenta e sei engenhos. Pernambuco. duzent
que diz re peito ao valor do produto como em relação ao custo humano. T~ e quarenta e sei e Rio de Jane1ro, cento e trinta e seiS. os engenhos da
os artifícios de linguagem utilizados, desde a escolha das metáforas até a sola-- Bahia se produzem quatorze mil e quinhentas caixas de açúcar; em Pernambuco,
ção e tilística.. representam uma vontade clara de despertar no leitor a consci doze mil e trezentas caixas; e no Rio de Janeiro, dez mil, duzentas e inte, ou
cia plena de que "para regalar com doçura os paladares os homens mui"P'""'•._.t.. seja, num ano o Brasil produz trinta e seis mil oitocentas e
os tormentos e a penas". precioso produto.
Para se ter uma idéia do volume da produção. um engenho real faz
der de 120 a 300 pães de açúcar. O açúcar produzido pode ser repartido é reparo singular dos que COIIfeJIIphun as c:caas lllblrals ver que as que
proveito ao g!ncro humano Dlo se mcluzeaa • perfeiçJo sem pwarem pn
cai ·a. fecho. pão. cara, lasca. torrão e migalhas.
por not4veis apertos, e 1110 ae Ya bem DI Eurapa110 piiiiO de I
Se as terras forem do engenho, o lavrador paga o quinto (além da e no VInho, rrutoa da terra llo aex:essáiol entmados.
de cada cinco pães. paga um) e também o dízimo que se deve a Deus. dos e moídos anta do cbcglllem a ser perfeitamellle o que E
O açúcar é colocado em caixas que são fechadas com oitenta e vemosnaf~deaçdcar,oqoal.desckoprimolro....._de pl-~r:H!~ct..""ar
pregos e marcadas conforme o tipo do açúcar. Existem várias castas de às mesas e passar entte os den a tepOIIIr--se 110 que
ar ''porque também nesta droga há sua nobreza, há casta vil, há uma vida cheia de llis e tantos IDIIl1tftof fl'llt ii.'NII&IAID li.l'llll;,s ua 1nao
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66
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Cl"LTl'RA E tll'C.Ltl\D:\ DO BR,\ '/L
JA I I! THEODORO DA
Com is 0 se ntcndcr:í donde nasce o ter esta doce droga tantos nomes diversos. antes
d ft'l!raro maJ not>re e o ma1s perfeito de açúl'ar; porque. confom1c o eu princípio, pedras o adas, ou nas peças de fino linho, no meio, se acha pano de estopa.
rndh~na e pcrfe1ção. e conft'rmc o· e~tados di ver os pelos quais passa. vai também a s1m t mbém se poderia mandar açúcar com meno~ arrobas, ou açucar
mudando d· nomes. E a. tm, na moenda. chama- c ~umo de cana; nos paróis do ma cavado. por branco.
encenho. ate entrar na catd tra do me1o. caldo; nc~ta. caldo fcrvtdo; na caldetra de As im, o açúcar sai do canavial onde nasce, vai até os portos do BrasJI.
n ;lar. clar1ticado; na bacta, co do; nas tachas, melado; utumamcntc. têmpera: e, na navega para Portugal e é repartido entre muitas cidades da Europa.
f'rmas. açú ·ar. de cujas d11 e as qualidade falaremo . quando chegarmos a vê-lo
Quanto aos preços, muitas vezes a necessidade obriga a vender barato
po ·to nas ca~xas.''
que tanto custou a servos e senhores. A falta de na ios e a Jta dos p~os do
cobre. ferro e pano e. particulannente, do valor dos escravos são os pn11Cipal
motivos de o açúcar ter subido tanto de p~o Se redumem o p~ das coi a
Uvrolll que 'êm do reino e dos escra os que v~m de Angola e C ta da Guiné, os
~'a terceira parte do livro, Antonil continua descrevendo as formas do- preços poderiam se tomar mais moderados.
produção do açúcar. procurando avaliar o processo em seu conjunto tanto no A Bahia po sui cento e quarenta e sei engenhos. Pernambuco. duzent
que diz re peito ao valor do produto como em relação ao custo humano. T~ e quarenta e sei e Rio de Jane1ro, cento e trinta e seiS. os engenhos da
os artifícios de linguagem utilizados, desde a escolha das metáforas até a sola-- Bahia se produzem quatorze mil e quinhentas caixas de açúcar; em Pernambuco,
ção e tilística.. representam uma vontade clara de despertar no leitor a consci doze mil e trezentas caixas; e no Rio de Janeiro, dez mil, duzentas e inte, ou
cia plena de que "para regalar com doçura os paladares os homens mui"P'""'•._.t.. seja, num ano o Brasil produz trinta e seis mil oitocentas e
os tormentos e a penas". precioso produto.
Para se ter uma idéia do volume da produção. um engenho real faz
der de 120 a 300 pães de açúcar. O açúcar produzido pode ser repartido é reparo singular dos que COIIfeJIIphun as c:caas lllblrals ver que as que
proveito ao g!ncro humano Dlo se mcluzeaa • perfeiçJo sem pwarem pn
cai ·a. fecho. pão. cara, lasca. torrão e migalhas.
por not4veis apertos, e 1110 ae Ya bem DI Eurapa110 piiiiO de I
Se as terras forem do engenho, o lavrador paga o quinto (além da e no VInho, rrutoa da terra llo aex:essáiol entmados.
de cada cinco pães. paga um) e também o dízimo que se deve a Deus. dos e moídos anta do cbcglllem a ser perfeitamellle o que E
O açúcar é colocado em caixas que são fechadas com oitenta e vemosnaf~deaçdcar,oqoal.desckoprimolro....._de pl-~r:H!~ct..""ar
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ar ''porque também nesta droga há sua nobreza, há casta vil, há uma vida cheia de llis e tantos IDIIl1tftof fl'llt ii.'NII&IAID li.l'llll;,s ua 1nao
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c 111/IIH.~ I 111'11/ fNc'J~ /!0 IlHA\//
1 Jt-~ 1 1 , w 1 wrtw \t' plant.t. limp.t. colhe. hcncficiu, uru, enrola, como .s fumo do chimbo bebido
p;tdt o~ na ,dl .111 dl'ga t, luwlmcntc. como se dá o rendimento a rcpurt1ç
v cuaç , hvia a ma e dtmiaul
l. tb.t, lll'lll tli vu ,,, p;utrs do lllttlldo. Urbano VIII, b rv ndooabuaodo
o t.lb.tL'o tll'w ~L' t st'lllL',ulo nos 111 ses de maio, junho e julho em t nu Igreja de S o Pedro em Roma, no adt~ e alpendre do templot, e JAOCet1cilO X
1( 11 1 <''>lt'Jcatl.l 1kpt~is dt' st•nt·ado de v -se cuidar ·mtirar o capim s m proibiu nas igrejas de todo o arcebifpado
dtur. 1r •1 planla. 1\ l.tg.ut.t. a formiga. o pulgão c o grilo podem causar mui o tabaco ben ficiado e enrolado pap o NU dízimo a • Hi
r t 1,1.. n .. n.t pl.lllt.t , dl'\'l'lldn o l.tvrador ser sempre vigilante.
mai de cem ano , diz Antonil o tabaco começou a plantado benetic:iad
<)uando .1 pl.tnt.t wnta com oito ou dez folhas, tira-se: o olho de cima p
no Brasil. orno uma sementeira de delej01 difundiu- nlo só peta Europa
l(lll' n.... , 1111 tHllllls s ·m qttL' ~c tire a substância da. folhas.
ma também em outras partes do mundo N idade de Lo Qeda por
\ s folhas ~.il cortadas junto ao talo e dependuradas longe do sol mas mais de oitocentas mil almaa, vendas de tabaco ultrap o número de
lu~· ,u km \ enttl.tdtl, p.ua que equem em perder a ub tância. urad sete mil. Se considerarmos o que N vende a cada ano em toda Bretanh
lolh.1.. tira . c o t.tlo c se faz urna corda da grossura de três d do . Jundres, França, Espanha. Itália e. o quo va1 para as Índia Octdentaia e Orien
ctllll.t. L' tlflll.t·st: num pau c a sim toda a noite sedes nrola e enrola, tais, teremos a dimenslo desse cO!Mrcio.
.tpc tt.llldo ma1 s p.u.t que fique mais dura. O último beneficio é te11noe~w·~ Qualquer descaminho do tabaco no Brasil é purudo com pena& de de~
,,,Jd.t du mcs mn t.tbaco com erva-doce, alfavaca e manteiga de porco.
da..,
do para Angola e, em Portugal. a pena ainda é mais rigorosa O rigor das penas
ca-'> l' .tlrntsc,tr c amb.tr, mistura-se a calda com mel de açúcar bem gro só prova o grande lucro desse comérçio. O tabaoo já foi encontrado em peças
p.t s..t se na ntda e. em seguida. fazem-se os rolos. 18 de artilharia, dentto de caixas e f&cJ1a doDtro de barris de farinha
Os rolos s:io cobertos com folhas de caruvatá amarrados com da terra, de breu, de melado. ~ t11àle frascos de vinho
Det ois · 1.11 uma ~.:apa de couro da medida do rolo e marca- e com o mesmo dentro d estátaas oca&. d 1 Tanta nções sugerem a t1
lh' dono. \ ~s im s.1o desp.tchado por mar. ma, o apetite e a esporança. do htcto que aoomp tabaco.
t.tl>act' da pnmeir.t folha é o melhor. serve para cachimbo, para
c.tr t' ptsar. () fr.tco só crv • para beber no cachimbo. Os melhores
·m po s.tll de Al.tgu.L. Pernambuco. Campos da Cachoeira e das
ParJ pisar o t.l!>.u.:o s:io ne~.:cssárias bacia de cobre e mexer com
que ~eJ.Il 1 Úl' peJr.t-mármnrc. ~.:om a mão de pisar de pau. Pisado,
' o que fic.tr de m.ti gwsso pi.;,t-. c novamente até se reduzir a pó. E
fL'I'Ill.l ·m que mai etlmunlL'ntc se procura o tabaco.
O tab,t '<'no B1.tsil é expt111ado sem mistura e por is o tanto se
. I.!. n.1 !ta lia. por e cmplo. mi. tura- c com mel, um pouco de vinho,
bc t 1 • d 'Pt' iç com a: mã . se fazem bolinho . depois se passa por uma
lim p·tra qu · · ~ tran fl,nne em um pó bem fino e solto. Pode-se
tjllt. ·rem da r algum ~.heim. b n·ifar água cheiro a ou colocar num vaso
11' n:c Ih •u uma bauru lha inteir,L
hnto · cham.tm o tabaC\l de cr\a-·anta. Há os que não podem vi v r
l 1 c l'hnnband a qualqu ·r hora. Tant o marítimos como os tralballilad~
. forr ~ pcs. as Illlbre , olJado e eclesiá ticos fumam.
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l. tb.t, lll'lll tli vu ,,, p;utrs do lllttlldo. Urbano VIII, b rv ndooabuaodo
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mai de cem ano , diz Antonil o tabaco começou a plantado benetic:iad
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ma também em outras partes do mundo N idade de Lo Qeda por
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Os rolos s:io cobertos com folhas de caruvatá amarrados com da terra, de breu, de melado. ~ t11àle frascos de vinho
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O tab,t '<'no B1.tsil é expt111ado sem mistura e por is o tanto se
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d I.1L 'I 1 F OI' I fl VCI \ DO BR.\. 11. JAt Ili'. THEODORO IH Sll \
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CC l I R I OPVC l I IJV ftRA 11
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/'/'OI' ttl 1'~ /'/t 11 11/IA '11 CAR r, IUfi!Ofe MOt
I J /,JIU I·I I I
,..... 11 nc'1 10 J.,, ,du:,f ""
I IJl , l / 1I
aavo• A 12 de novembro, """
YVI
de deM:ol nir.ação. a revoluçõe de índependbu:'1a dai ex~coJ~001ll5
,,reLu c) , 111 ,, lo ri• f 'Jfl lillll ~ ·l''· IJ l'cdw I I ch<~ a Conf>IIIUÍnte. ,t>éríc<~ rão decr JVa . o entant • o nucíment d Br
1
H,,11 tf,Íllo pr• ,, , ;~ v rhad " r: xJiad() para a !·rança, com &eu irmloa prccmméncia íngle a, com a pel1l'UUlblc1a da dínut1a dos Bra que.
M 111 m 11 11 u n r<~ f 11 Jo- rt.unbém d ptJiadc, cxil<~diJ~). pa1> ando por Viao gindo da tropas d~ Napoleão, atravessaram o Atlântico oltad pela arma
11 P nli<ll 1 f1• •.wdo 1 H11rd au K rn 5 de juf/Jo de lll24. Aí, vigiado pela da hritanic:a.
P''"' 1., Jr.HH , Hnp dHl o de voh<~r ao Bra il por han~oi~ Chateaubríand. nu Se a maior parte das principal lideranças portuguesas emigram para a ex-
111
lrt cfq /,xt lforv,ll lur~dr,(omornarqu~ de Palrnela, vivecomdificuldadc colônia, armstando consigo boa parte de~ e quadros adm~ntstrab os lá
p 11 hh~<wd'' .w1 !'111'\l fl\ mulw c Odr• no.\ f{rt'X"'· Durante a viagem de ficaram personagens importantes do mundo luso-brastlesro. Dentre eles o pauhsta
r '''rn" m JlQ'J,, .111.1 a falece uo navio. !·orçado a abdicar em 1831, Pedro José Bonifácio de Andrada e Silva. intelectual e cienusta dos ma1 destacados da
1, md1ç' lllt<Jr d,. Pedro li. com S anos. Nesse ano, sob o pseudônimo arcádico Europa. Personagem proeminente na vida póblíca européia. professor em Coimbra
r1 • A 111 ' nc<' Uí w. publica O poeta dellerrado. Ode e5crita em Bordtus em amadurecido na cultura da Ilustração, eta um cosmopolita e viajado pesqutsador
Jll2'i No ~11 0 ~q wnte 6 de~tituído da tutoria de Pedro IJ. por força do ministro tradutor, crítico, homem de ação. "BruUeiro", foi afastado no processo de im-
cb lu tiç;,, o pJdn !Jtc,go Antonio rcijcí, que o acusa de tentativa de levante plantação da corte e na reorganização do governo bragantino nos trópicos
Jrmado nt>/' i'' d<' Janeiro em lil11 I~m IWB, é definitivamente afastado da Bonifácio somente regressaria em 1819.já com 56 anos. após 36 anos longe do
tut ,,,,t, r IJrandr, c par.t Niterói "na condição de preso por conspira~ e Brasil. Participou do processo de tentativa de consolidação do império luso-bra~
f'C II !lrh IÇ t'HI I (lfdcm pública". Em uns. julgado a revelia, é absolvido, vínde sileiro, ultrapassado pela revolução liberal de 1820em Portugal, recolonizadora.
fal c ·r em f'a4u cuí .1 ()de ahril de Jil3S. e pela revolução da independência no Brasil.
O 1114u ieto Jo é BonifáCio, leitor de clássicos, cientista e tradutor • Nos embates entre a revolução descolonizadora. a contra-revolução e a
Ilu nhCJidt, ck:lt-ndcu .1 introduçao da vacina, do sistema métrico, da meteorologit, conciliação, teve papel decisivo, na liderança da construção do moderno Esta-
pr K.upou ~c com os problemas da população brasileira, da língua, da cul do brasileiro. Em 1833, defmitivamente alijado do jogo do poder, o Brasil de
uo '' , dos a n<~lfHbclo (.t~scgurado na Instrução de 19 de junho de 1822)~ pendente e escravocrata, já ocupava lugar es~vel no concerto das naçoes
' I rm.t agr.ína, da 1ndú Iria, da agricultura, da universidade. Como afirmoao embora diversamente do que ele preconizara.
h1 tori.tdOJ J o~é I Ioncíno Rodrigues, o projeto de José Bonifácio sobre a ab01i Conhecedor do mundo político, Bonifácio tinha clara noção das dificulda-
çao do trafico c da c~cravtdão constitui a mais importante obra brasileiraCOJI-' des de construção no Atlântico sul de um novo pafs. Para se fonnar uma
t~a o rráfko, " ·"clando sua grandeza de estadista". Talvez mais se~ "nação", sabia ele. requer-. um ••povo • uma "Identidade nacional". com cer-
d11cJ, cr.:10 cu. do projeto sobre os índios, de sua compacta correspond&tlll ta homogeneidade 6D:doa ~ GUit:Qral. :Miucado por seu tempo, como Pichle
~ubJl' tema~ \ános e de sua ação diplomática, que o qualificam como o ftu1c1ap Goethe, ou pelOJ ~canos. Bonifác1o bga--se, des-
do1 da política exterior brasileira. Homem da Ilustração, avançado para de o início do ' D01111a identidade cultural". E ma1s.
trrnpo. Jo é B ~nifácio foi posto fora da história, tendo sua imagem prC(:oni·~~,ai·fli!~~~.i!laae e compooente mdissociável da
!O'lii~Uasvezesmvisitado em conjuntu
gada co~ 0 rcv1gorarncnto da mentalidade atrasada do Segundo Reinado.
n:cstuda-lo. ~ionalidallle" por historiadorel
a.aBulilde&~Omha Gilber-
,. .:- - - Paoro Joaé
Ü CONTEXTO
·~-
~-~ lll8ftlndamen-
Scanned by CamScanner
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M 111 m 11 11 u n r<~ f 11 Jo- rt.unbém d ptJiadc, cxil<~diJ~). pa1> ando por Viao gindo da tropas d~ Napoleão, atravessaram o Atlântico oltad pela arma
11 P nli<ll 1 f1• •.wdo 1 H11rd au K rn 5 de juf/Jo de lll24. Aí, vigiado pela da hritanic:a.
P''"' 1., Jr.HH , Hnp dHl o de voh<~r ao Bra il por han~oi~ Chateaubríand. nu Se a maior parte das principal lideranças portuguesas emigram para a ex-
111
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r '''rn" m JlQ'J,, .111.1 a falece uo navio. !·orçado a abdicar em 1831, Pedro José Bonifácio de Andrada e Silva. intelectual e cienusta dos ma1 destacados da
1, md1ç' lllt<Jr d,. Pedro li. com S anos. Nesse ano, sob o pseudônimo arcádico Europa. Personagem proeminente na vida póblíca européia. professor em Coimbra
r1 • A 111 ' nc<' Uí w. publica O poeta dellerrado. Ode e5crita em Bordtus em amadurecido na cultura da Ilustração, eta um cosmopolita e viajado pesqutsador
Jll2'i No ~11 0 ~q wnte 6 de~tituído da tutoria de Pedro IJ. por força do ministro tradutor, crítico, homem de ação. "BruUeiro", foi afastado no processo de im-
cb lu tiç;,, o pJdn !Jtc,go Antonio rcijcí, que o acusa de tentativa de levante plantação da corte e na reorganização do governo bragantino nos trópicos
Jrmado nt>/' i'' d<' Janeiro em lil11 I~m IWB, é definitivamente afastado da Bonifácio somente regressaria em 1819.já com 56 anos. após 36 anos longe do
tut ,,,,t, r IJrandr, c par.t Niterói "na condição de preso por conspira~ e Brasil. Participou do processo de tentativa de consolidação do império luso-bra~
f'C II !lrh IÇ t'HI I (lfdcm pública". Em uns. julgado a revelia, é absolvido, vínde sileiro, ultrapassado pela revolução liberal de 1820em Portugal, recolonizadora.
fal c ·r em f'a4u cuí .1 ()de ahril de Jil3S. e pela revolução da independência no Brasil.
O 1114u ieto Jo é BonifáCio, leitor de clássicos, cientista e tradutor • Nos embates entre a revolução descolonizadora. a contra-revolução e a
Ilu nhCJidt, ck:lt-ndcu .1 introduçao da vacina, do sistema métrico, da meteorologit, conciliação, teve papel decisivo, na liderança da construção do moderno Esta-
pr K.upou ~c com os problemas da população brasileira, da língua, da cul do brasileiro. Em 1833, defmitivamente alijado do jogo do poder, o Brasil de
uo '' , dos a n<~lfHbclo (.t~scgurado na Instrução de 19 de junho de 1822)~ pendente e escravocrata, já ocupava lugar es~vel no concerto das naçoes
' I rm.t agr.ína, da 1ndú Iria, da agricultura, da universidade. Como afirmoao embora diversamente do que ele preconizara.
h1 tori.tdOJ J o~é I Ioncíno Rodrigues, o projeto de José Bonifácio sobre a ab01i Conhecedor do mundo político, Bonifácio tinha clara noção das dificulda-
çao do trafico c da c~cravtdão constitui a mais importante obra brasileiraCOJI-' des de construção no Atlântico sul de um novo pafs. Para se fonnar uma
t~a o rráfko, " ·"clando sua grandeza de estadista". Talvez mais se~ "nação", sabia ele. requer-. um ••povo • uma "Identidade nacional". com cer-
d11cJ, cr.:10 cu. do projeto sobre os índios, de sua compacta correspond&tlll ta homogeneidade 6D:doa ~ GUit:Qral. :Miucado por seu tempo, como Pichle
~ubJl' tema~ \ános e de sua ação diplomática, que o qualificam como o ftu1c1ap Goethe, ou pelOJ ~canos. Bonifác1o bga--se, des-
do1 da política exterior brasileira. Homem da Ilustração, avançado para de o início do ' D01111a identidade cultural". E ma1s.
trrnpo. Jo é B ~nifácio foi posto fora da história, tendo sua imagem prC(:oni·~~,ai·fli!~~~.i!laae e compooente mdissociável da
!O'lii~Uasvezesmvisitado em conjuntu
gada co~ 0 rcv1gorarncnto da mentalidade atrasada do Segundo Reinado.
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Ü CONTEXTO
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PHUJI 10.~ I'ARA O BRA IL
,, 111 ~..1.1o •h cr a r~a rnat auva e empreendedora. pot reúne a VIVICidade iiJipe..
tu o C' .11 bu t t do n gro uJm a mobtlidadc e sens1b1hdade do europeu; pois o íudio
n t ~~lmcm m l;~ncohro e apáuco, estado de que nlo ai senlo por gl"'llde
e( c neta d p ni'le , ou pela embnaguez, a sua música~ 16gubre, e a ua c1uça
r · tr e tm(),el que a do negro. 1
1>.11 '111 nd.:r- e. hoje. por que seus principai textos- os mais c~
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PHUJI 10.~ I'ARA O BRA IL
,, 111 ~..1.1o •h cr a r~a rnat auva e empreendedora. pot reúne a VIVICidade iiJipe..
tu o C' .11 bu t t do n gro uJm a mobtlidadc e sens1b1hdade do europeu; pois o íudio
n t ~~lmcm m l;~ncohro e apáuco, estado de que nlo ai senlo por gl"'llde
e( c neta d p ni'le , ou pela embnaguez, a sua música~ 16gubre, e a ua c1uça
r · tr e tm(),el que a do negro. 1
1>.11 '111 nd.:r- e. hoje. por que seus principai textos- os mais c~
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/'/WJ/.1(1.\ /'ARA O IlRAS/I,
CAMI Os OIJIIIIERM~ MCYT
1 rn que \l' 1:ncon1ram; segundo, o modo errado como os portugueses têm tra.
tado m índios. "ainda quando de~ejamos dome~ticá-los e fazê-los felizes". gregos c os romanos, "nações" muito instruídas e civthzadas, que 1 aram
()uanto <I ~Jiuuçào em <.Ule se acham, faz uma série de observações que, culos até adotar o cristianismo. E que os negros da Áfnca apesar de 1 rem
embora marcada\ pelo refom1ismo do despotismo esclarecido, revelam os juízos contato há séculos com os europeus, ainda estão "qua e no me mo •estado
de barbaridade" que o "nossos índios do Brasil".
de uma sociedade ainda presa aos valores estabelecidos, europeizada, branca,
pré-capitali\ta. Daf se dizer serem os índios "povos vagabundos", envolvidos Sua lógica é notável, nesse hábil e dialético movimento de rotaç 0 de
posições. Algo de Rousseau ronda sua teoria das civilizações e da cultura
em guerras contínuas c roubos, não terem freios religiosos ou civis, sendo-lhes
Segundo pensa, "o homem em estado selvático, e mormente o índio bra 0 do
"insuportável ~ujcitarem-se a kis, c costumes regulares". Entregues natural-
Brasil, deve ser preguiçoso". Tese radical. E aqui nasce uma prefiguração d
mente a preguiça, diz ele, fogem dos trabalhos regulares e aturados; temem
sua curiosa antropologia, que faria escola no Brasil no século gumtc, ao
sofrer lorne~. se abandonarem sua vida de caçadores. As "nações" inimigas
constatar que esse indígena pode arranchar-se em terrenos bundantes de
dos hrancos temem ser aldeadas, com medo de vingança depois, ou, presumi-
caça e pesca, de frutos silvestres, vivendo cômodo todo os dias e posto ao
damente valentes, desprezam os brancos por não terem sido castigados, prefe-
tempo, "sem os melindres de nosso luxo". O índio "não tem idéia de pro pen
nndo continuar a "roubar-nos a servir-nos''. Além disso, os valentes e poderosos dade, nem desejo de distinções e vaidades sociais, que são as molas podero a
entre eles temem perder esse respeito e os privilégios de guerreiros; e se en- que põem em atividade o homem civilizado". Tem, sim, uma "razão sem exer-
trarem "no seio da Igreja" deverão abandonar suas "contínuas bebedices", a cício", pouco treinada, é "falto de uma razão apurada, falto de precaução" por
polil.!amia e os divórcios voluntários. O que explica, segundo Bonifácio, que as não se preocupar mais senão com sua conservação física. Do que não v ,
r.lp.trigas casadas ,!dotassem mais facilmente a religião cristã, "porque assim nada lhe importa, nota o Patriarca. reduzindo-o assim brutalment ao estado
sc!'uram os maridos c se livram de rivais". natural: "É como o animal silvestre seu companheiro".
Ma~ o deputado das Luzes mostra o outro lado da mesma questão vista a O índio é diferente do homem civilizado, pois "para ser feliz o homem
p<~rtir do mau componamento dos brancos. O medo dos indígenas derivaria civilizado precisa calcular, e uma aritmética, por mais grosseira e manca que
dos cat1veirm antigos, do desprezo com o qual foram tratados, "o roubo contí- seja lhe é indispensável". Já o índio bravo, "sem bens e sem dinheiro, nada t m
nu o de ~ uas mclho1es terras", os serviços a que os sujeitamos, pagando pouco que calcular, e todas as idéias abstratas de quantidade e numero, sem ru qua1
ou nenhum salário ("jornais"), alimentando-os mal, "enganando-os nos contra a razão do homem pouco difere do instinto dos brutos, lhe são desconhecidas"
tos de w mpra, e venda, que com eles fazemos". E completa seu arrazoado Aqui está a diferença entre as duas civilizações, ou ntre a c1 ihzação e
dcn uncimtdo que os índios são tirados por anos c anos de suas famílias e roçaa a barbárie. Numa formulação cortante e inovadora. diz que o "índio da Amert
para o ~c rv iços do Est<tdo c de particulares. Em suma, damos-lhes todos OS ca parece um homem novo" por ter que repelir a força pela força, ndo a
no• o >ICJo c doenças, sem lhe~ comunicar nossas virtudes e talentos. Em guerra uma necessidade. "Bntlo a fraqueza e covmfia que alguns escritore5
contta te com a v1 ào que o E tado lu o-brasileiro tinha do assunto, isso 6 europeus fazem ingênitas aos fndios desaparecem. e uma oragem e valentw
re\olucmnano. Et'i ua u ·c~tão: que há poucos exemplos na Europa tomam o teu lugar". &oando Montaigne
do século XVI, lembra ele a descri9IO"' uma beralhl contada por Jean de
Léry, noinfciodacolonizaçlo,depoiJ~~contrao e
tu ror heccndo pnmcrro o que ~lo e devem er naturalmente 01 finalmente, do ÚldlO Camaslo CODb'a OI ueáellJo XVD
n a depor Jch m o o mero de os converter no que nos cumpre que Com rnenta1tc1aae ~ íiQ. eDOI'JI
••HM•
ele interpreta que taf,dtflilfiiiWufíW.Â'l•tuil~~
magistrados o
obrigaçio ..., fDalltl!tllll
diapersoa aa uwro~•
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1 rn que \l' 1:ncon1ram; segundo, o modo errado como os portugueses têm tra.
tado m índios. "ainda quando de~ejamos dome~ticá-los e fazê-los felizes". gregos c os romanos, "nações" muito instruídas e civthzadas, que 1 aram
()uanto <I ~Jiuuçào em <.Ule se acham, faz uma série de observações que, culos até adotar o cristianismo. E que os negros da Áfnca apesar de 1 rem
embora marcada\ pelo refom1ismo do despotismo esclarecido, revelam os juízos contato há séculos com os europeus, ainda estão "qua e no me mo •estado
de barbaridade" que o "nossos índios do Brasil".
de uma sociedade ainda presa aos valores estabelecidos, europeizada, branca,
pré-capitali\ta. Daf se dizer serem os índios "povos vagabundos", envolvidos Sua lógica é notável, nesse hábil e dialético movimento de rotaç 0 de
posições. Algo de Rousseau ronda sua teoria das civilizações e da cultura
em guerras contínuas c roubos, não terem freios religiosos ou civis, sendo-lhes
Segundo pensa, "o homem em estado selvático, e mormente o índio bra 0 do
"insuportável ~ujcitarem-se a kis, c costumes regulares". Entregues natural-
Brasil, deve ser preguiçoso". Tese radical. E aqui nasce uma prefiguração d
mente a preguiça, diz ele, fogem dos trabalhos regulares e aturados; temem
sua curiosa antropologia, que faria escola no Brasil no século gumtc, ao
sofrer lorne~. se abandonarem sua vida de caçadores. As "nações" inimigas
constatar que esse indígena pode arranchar-se em terrenos bundantes de
dos hrancos temem ser aldeadas, com medo de vingança depois, ou, presumi-
caça e pesca, de frutos silvestres, vivendo cômodo todo os dias e posto ao
damente valentes, desprezam os brancos por não terem sido castigados, prefe-
tempo, "sem os melindres de nosso luxo". O índio "não tem idéia de pro pen
nndo continuar a "roubar-nos a servir-nos''. Além disso, os valentes e poderosos dade, nem desejo de distinções e vaidades sociais, que são as molas podero a
entre eles temem perder esse respeito e os privilégios de guerreiros; e se en- que põem em atividade o homem civilizado". Tem, sim, uma "razão sem exer-
trarem "no seio da Igreja" deverão abandonar suas "contínuas bebedices", a cício", pouco treinada, é "falto de uma razão apurada, falto de precaução" por
polil.!amia e os divórcios voluntários. O que explica, segundo Bonifácio, que as não se preocupar mais senão com sua conservação física. Do que não v ,
r.lp.trigas casadas ,!dotassem mais facilmente a religião cristã, "porque assim nada lhe importa, nota o Patriarca. reduzindo-o assim brutalment ao estado
sc!'uram os maridos c se livram de rivais". natural: "É como o animal silvestre seu companheiro".
Ma~ o deputado das Luzes mostra o outro lado da mesma questão vista a O índio é diferente do homem civilizado, pois "para ser feliz o homem
p<~rtir do mau componamento dos brancos. O medo dos indígenas derivaria civilizado precisa calcular, e uma aritmética, por mais grosseira e manca que
dos cat1veirm antigos, do desprezo com o qual foram tratados, "o roubo contí- seja lhe é indispensável". Já o índio bravo, "sem bens e sem dinheiro, nada t m
nu o de ~ uas mclho1es terras", os serviços a que os sujeitamos, pagando pouco que calcular, e todas as idéias abstratas de quantidade e numero, sem ru qua1
ou nenhum salário ("jornais"), alimentando-os mal, "enganando-os nos contra a razão do homem pouco difere do instinto dos brutos, lhe são desconhecidas"
tos de w mpra, e venda, que com eles fazemos". E completa seu arrazoado Aqui está a diferença entre as duas civilizações, ou ntre a c1 ihzação e
dcn uncimtdo que os índios são tirados por anos c anos de suas famílias e roçaa a barbárie. Numa formulação cortante e inovadora. diz que o "índio da Amert
para o ~c rv iços do Est<tdo c de particulares. Em suma, damos-lhes todos OS ca parece um homem novo" por ter que repelir a força pela força, ndo a
no• o >ICJo c doenças, sem lhe~ comunicar nossas virtudes e talentos. Em guerra uma necessidade. "Bntlo a fraqueza e covmfia que alguns escritore5
contta te com a v1 ào que o E tado lu o-brasileiro tinha do assunto, isso 6 europeus fazem ingênitas aos fndios desaparecem. e uma oragem e valentw
re\olucmnano. Et'i ua u ·c~tão: que há poucos exemplos na Europa tomam o teu lugar". &oando Montaigne
do século XVI, lembra ele a descri9IO"' uma beralhl contada por Jean de
Léry, noinfciodacolonizaçlo,depoiJ~~contrao e
tu ror heccndo pnmcrro o que ~lo e devem er naturalmente 01 finalmente, do ÚldlO Camaslo CODb'a OI ueáellJo XVD
n a depor Jch m o o mero de os converter no que nos cumpre que Com rnenta1tc1aae ~ íiQ. eDOI'JI
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ele interpreta que taf,dtflilfiiiWufíW.Â'l•tuil~~
magistrados o
obrigaçio ..., fDalltl!tllll
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CARLOS G ILHERME MQ'r
ó podem reprimir
devoram. E ha emo de
ri tio , Ih 1 mo feito
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CARLOS G ILHERME MQ'r
ó podem reprimir
devoram. E ha emo de
ri tio , Ih 1 mo feito
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R J 1 I\ I' I I BR \/L ( ARLO GUILHHRM MOT
I'ROPOST\.
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R J 1 I\ I' I I BR \/L ( ARLO GUILHHRM MOT
I'ROPOST\.
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F' ROl/- TOS ~\RA O BRASIL CARLOS GUILHERMe MOl'A
colônias. E qui.!. nada ohstante, não se arruinaram as colônias, nem o império É tempo, e ma•s que tempo, que acabemos com om trti'k:o tio b~aroecanuceuo, ~
ingl~ . . _ .. . . , tempo rambém que vamos acabando gradualmente a~ os úlbJIIOI veslfgJOS da escra-
Cone iamando de modo explícito seus conc1dadaos brastle1ros a adota. vtdão entre nós, para que venhamos a formar em poucas genaç6es umauaç1o homoge-
n.!m a causa da abolição, propõe os argumentos da "mzão, e da religião cristã, nea, sem o que nunca seremos verdadeiramente bv~Q, l'elpons4vetJ c felizes É da
maior necessidade ir acabando tanta heterogeneidade ffstca e CIVIl.
da hon 1a c do brio nacional''. E aqui se localizam os valores que embasam e
JUStificam sua tese indcpendentista c abolicionista, bastante avançada para o
Aqui reside a tese principal de Bonifácio, enunctada no mesmo tom da
·Bra~il ~cr11aleiro, numa conjunção de linhas ideológicas que desenham- pela
Convenção Nacional durante o período jacobino da Revolução Prancesa . A
w 1 prrmcrra num ambiente institucionalizado- o espaço nacional com homens
nação requer um povo, e que seja, dizia ele, o resultado de am4lgama (tenno
1r r~;\ Nesse sentido, está à frente até das lideranças independentistas da
que retira da química, que estuda inclusive o amálgama, ou nlo, de metai
América do Norte, inclusive de Thomas Jefferson. Pode-se entender, também,
diversos) de elementos que componham "um todo homogêneo e compacto,
a partir dessas po~içõcs radicais, por que seria, poucos meses depois, exilado,
com perseguição e risco de morte em alto-mar. que não se esfarele ao pequeno toque de qualquer nova convulsão política"
Incita os deputados, comparando seu papel de químico que serlo agente
Autodcfine-sc ele como "cristão c filantropo", e pede o auxílio de Deus,
dessa "tão grande e difícil manipulação", e faz o julgamento dW'o da naç
que o "anime para ousar levantar minha fraca voz no meio desta augusta As-
portuguesa, "de que fazíamos outrora parte". Segundo pensa, "nenhuma talvez
Sl!mbleia". Lembra que seus ouvintes e pares são legisladores - ou seja,
pecou mais contra a humanidade".
agenll:~ da história - e têm por essa razão responsabilidade tremenda. Não
bla de revolução, mas prega a "regeneração política" do país, e justiça, pro- Aí está sua ruptura. Esse "outrora" joga para o passado um cont.encroao
pondo uma série de medidas concretas para a formação de um outro tipo de de erros, uma política desumana, a barbárie. Bonifácio faz história, ma tam
bémjulga a história com impiedade:
~~· ictl<itll' c. a longo prazo. de mentalidade. Para a independência nacional nl0
h<~stava a reforma política; necessário era constituir uma nova sociedade, vistó
Foram os portugueses os primeiros que, desde o tempo do infante D HoJirlque
que o despoti mo anterior queria que "fôssemos um povo mesclado e hetero-
fizeram um ramo do comúçio legal deprear homens livres. e veudl-los ClOIIe
geueo, sem nacional idade. e sem irmandade, para melhor nos escravizar". PaJ.II nos mercados europeus e americanos. Ainda hoje perto de 40 000 c:ríJCU~VhumaAu
.1 n:gencração, a Constituição liberal c duradoura deveria abrigar os pressU são arrancadas da África, privadas de 101.18laqa. de ICUI pm. filhoa I
postos da nova sociedade. portados às nossas regiGcs, ac:m aiiiCDOl'~ rapuwemouua p6t
Para tanto, Bonrfácio 1\!COITc a uma série de hábeis argumentos, c ares, e destinadas a trabalhar toda vic!J ®bailodo.IÇDJte eruel de aenham, el
çando por assustar as elites: deve-se acabar com o "país continuamente seus filhos, e os filhos de seus ftlhol ,PUt rolO o Rmpl'el •
do por uma multidão imensa de escr.rvos bmtais c inimigos", chegando a
num dos arttgos a revolução de escravos de São Domingos (hoje Haiti), A frase é sofisticada. ao fa1l~d~bí-1Joit - -
1791 As eli tes não devem ser apenas justas, como também penitentes.
o grande tema da época, o
mostras de arrependimento, pois "fomos contra a religião que diz 'não família, liberdade, futuro.
aos out1os o que queremos que na o nos façam a nós"' (em sua fOimtllatçãct~Q
.me\esada). lláhil, desfia uma série de mazelas que acompanham o
inc~ndios. rouhos, guerras, "que fomentamos entre os selvagens da
Qt~ · · ac.t~"ll!~~ com essas mortes e martírios sem conta, flagelos em
nropno tc 1ntnno" I~ . c pode imaginar o quanto suas palavras
tnltcnt . pohtico social. turbulento desde a insurreição de 1817
) tl,mdo \tlhr..:tudo os meios da empresa negreira, tão fort na
90
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F' ROl/- TOS ~\RA O BRASIL CARLOS GUILHERMe MOl'A
colônias. E qui.!. nada ohstante, não se arruinaram as colônias, nem o império É tempo, e ma•s que tempo, que acabemos com om trti'k:o tio b~aroecanuceuo, ~
ingl~ . . _ .. . . , tempo rambém que vamos acabando gradualmente a~ os úlbJIIOI veslfgJOS da escra-
Cone iamando de modo explícito seus conc1dadaos brastle1ros a adota. vtdão entre nós, para que venhamos a formar em poucas genaç6es umauaç1o homoge-
n.!m a causa da abolição, propõe os argumentos da "mzão, e da religião cristã, nea, sem o que nunca seremos verdadeiramente bv~Q, l'elpons4vetJ c felizes É da
maior necessidade ir acabando tanta heterogeneidade ffstca e CIVIl.
da hon 1a c do brio nacional''. E aqui se localizam os valores que embasam e
JUStificam sua tese indcpendentista c abolicionista, bastante avançada para o
Aqui reside a tese principal de Bonifácio, enunctada no mesmo tom da
·Bra~il ~cr11aleiro, numa conjunção de linhas ideológicas que desenham- pela
Convenção Nacional durante o período jacobino da Revolução Prancesa . A
w 1 prrmcrra num ambiente institucionalizado- o espaço nacional com homens
nação requer um povo, e que seja, dizia ele, o resultado de am4lgama (tenno
1r r~;\ Nesse sentido, está à frente até das lideranças independentistas da
que retira da química, que estuda inclusive o amálgama, ou nlo, de metai
América do Norte, inclusive de Thomas Jefferson. Pode-se entender, também,
diversos) de elementos que componham "um todo homogêneo e compacto,
a partir dessas po~içõcs radicais, por que seria, poucos meses depois, exilado,
com perseguição e risco de morte em alto-mar. que não se esfarele ao pequeno toque de qualquer nova convulsão política"
Incita os deputados, comparando seu papel de químico que serlo agente
Autodcfine-sc ele como "cristão c filantropo", e pede o auxílio de Deus,
dessa "tão grande e difícil manipulação", e faz o julgamento dW'o da naç
que o "anime para ousar levantar minha fraca voz no meio desta augusta As-
portuguesa, "de que fazíamos outrora parte". Segundo pensa, "nenhuma talvez
Sl!mbleia". Lembra que seus ouvintes e pares são legisladores - ou seja,
pecou mais contra a humanidade".
agenll:~ da história - e têm por essa razão responsabilidade tremenda. Não
bla de revolução, mas prega a "regeneração política" do país, e justiça, pro- Aí está sua ruptura. Esse "outrora" joga para o passado um cont.encroao
pondo uma série de medidas concretas para a formação de um outro tipo de de erros, uma política desumana, a barbárie. Bonifácio faz história, ma tam
bémjulga a história com impiedade:
~~· ictl<itll' c. a longo prazo. de mentalidade. Para a independência nacional nl0
h<~stava a reforma política; necessário era constituir uma nova sociedade, vistó
Foram os portugueses os primeiros que, desde o tempo do infante D HoJirlque
que o despoti mo anterior queria que "fôssemos um povo mesclado e hetero-
fizeram um ramo do comúçio legal deprear homens livres. e veudl-los ClOIIe
geueo, sem nacional idade. e sem irmandade, para melhor nos escravizar". PaJ.II nos mercados europeus e americanos. Ainda hoje perto de 40 000 c:ríJCU~VhumaAu
.1 n:gencração, a Constituição liberal c duradoura deveria abrigar os pressU são arrancadas da África, privadas de 101.18laqa. de ICUI pm. filhoa I
postos da nova sociedade. portados às nossas regiGcs, ac:m aiiiCDOl'~ rapuwemouua p6t
Para tanto, Bonrfácio 1\!COITc a uma série de hábeis argumentos, c ares, e destinadas a trabalhar toda vic!J ®bailodo.IÇDJte eruel de aenham, el
çando por assustar as elites: deve-se acabar com o "país continuamente seus filhos, e os filhos de seus ftlhol ,PUt rolO o Rmpl'el •
do por uma multidão imensa de escr.rvos bmtais c inimigos", chegando a
num dos arttgos a revolução de escravos de São Domingos (hoje Haiti), A frase é sofisticada. ao fa1l~d~bí-1Joit - -
1791 As eli tes não devem ser apenas justas, como também penitentes.
o grande tema da época, o
mostras de arrependimento, pois "fomos contra a religião que diz 'não família, liberdade, futuro.
aos out1os o que queremos que na o nos façam a nós"' (em sua fOimtllatçãct~Q
.me\esada). lláhil, desfia uma série de mazelas que acompanham o
inc~ndios. rouhos, guerras, "que fomentamos entre os selvagens da
Qt~ · · ac.t~"ll!~~ com essas mortes e martírios sem conta, flagelos em
nropno tc 1ntnno" I~ . c pode imaginar o quanto suas palavras
tnltcnt . pohtico social. turbulento desde a insurreição de 1817
) tl,mdo \tlhr..:tudo os meios da empresa negreira, tão fort na
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1'/<0JI.TOS /11/1,\ O BRA:./1.
CARLOS GlJ!LHERME I A
1ul .mdo. er um fa,or comprá lo para lhes conservar a vida, ainda que em te um sistema de superstições e abusos anti- octai ... E. leitor de \ ltaire.
catiH:tro. Rl.!futa, a~.-..im, com vigor. os argumentos consolidados ao longo de ataca ··nosso clero, em muita parte ignorante e corrompido rpois] é o pnme'r
c ulo de exploração. incrustados na mentalidade dessa rude sociedade que se erve de escravos", para acumular. enriquecer, omeret r. p an r
c era\ tsta. formar muitas vezes com as "desgraçadas escra as um harém turc · Den n-
\ J longo da introdução aos pontos que irá propor para a feitura da lei,
cia os pseudo-estadistas, os "nos o comprad re e \endedores de c me hu-
rc' Ja-sc a ompo ição de sua ideologia monarquista liberal-con titucional, mana". venais "que só empunham a vara dajusti a para oprimir de gra d ·
undad.t em uma tmpr sionantemente sólida visão do direito público. do direito ficando a ordem de\ alores "de todo im enida no Brastl ',dominando no á-
r\ ti d.l ht tmia em geral Afinal. era leitor de Aristóteles, Sêneca. Cícero, rio 0 lu o e a corrupção. que nasceu entre nós nte da CJ 'hzação e da nd' •
l'lut : . Tá !lo, trgtlJO. Tu o LÍ\ io, Bacon. Leibniz. Bayle, Montesquieu, tria E qual a cau a dos males? A escra\ idão... E rebate o anugo argument
·en I n. Humc. Gtbbon, Herde r. Buffon ( obretudo). Meister e Voltaire, den- que ela é nece sária porque a gente do Brastl ''é froux preguiÇosa .
IR utr dás ·._ lem de Cam3e e \'ieira ~osso deputado. utilizando-se tem. diz. e para demonstrá-lo. recorre ao exemplo de ~o Paulo antes da
pJ idade d • rgumema ão. de observação do acontecimentos ão do engenhos de a úcar, que tinha poucos escra~os. e c 1a em po
âneo . do uso da dialética (que retira do clá sico ), alcança uma e agricultura. na base do milho. feijão, farinha, arroz toucinhos. carnes de
d• ied de bast:mte avançada para sua época: pois ele domina, co. etc. E calcula matematicamente que aqui produzia c nco
milho que em Ponugal. "estando as horas d trabal necessanoda la
razão inversa do produto da mesma".
Tal como Jefferson o fazia. baseia-se em ál u
ra ão l com a Índia, por exemplo, onde e iste ··unpoh · a
em castas", ou com a Cochinchina). Preocupad
te. ad' ene que naqueles países o ulti ocorria "sem nec:essi~:lc
matas e esterilizar terrenos. como desgraçadamen
do··. l'm precursor da ecologia. como se rê
Para re\ ner esse quadro. propugna a in1tmduciode tOO\'·as
ropéias. d eno c m poucos fa d insllrUI:netHOS
rústi o " e. com e práticas. o terre110. Mm,.,.nrtn nrt..'U< tralo.ll!\ldo,
fi ará''. Em sínt 3
:
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1'/<0JI.TOS /11/1,\ O BRA:./1.
CARLOS GlJ!LHERME I A
1ul .mdo. er um fa,or comprá lo para lhes conservar a vida, ainda que em te um sistema de superstições e abusos anti- octai ... E. leitor de \ ltaire.
catiH:tro. Rl.!futa, a~.-..im, com vigor. os argumentos consolidados ao longo de ataca ··nosso clero, em muita parte ignorante e corrompido rpois] é o pnme'r
c ulo de exploração. incrustados na mentalidade dessa rude sociedade que se erve de escravos", para acumular. enriquecer, omeret r. p an r
c era\ tsta. formar muitas vezes com as "desgraçadas escra as um harém turc · Den n-
\ J longo da introdução aos pontos que irá propor para a feitura da lei,
cia os pseudo-estadistas, os "nos o comprad re e \endedores de c me hu-
rc' Ja-sc a ompo ição de sua ideologia monarquista liberal-con titucional, mana". venais "que só empunham a vara dajusti a para oprimir de gra d ·
undad.t em uma tmpr sionantemente sólida visão do direito público. do direito ficando a ordem de\ alores "de todo im enida no Brastl ',dominando no á-
r\ ti d.l ht tmia em geral Afinal. era leitor de Aristóteles, Sêneca. Cícero, rio 0 lu o e a corrupção. que nasceu entre nós nte da CJ 'hzação e da nd' •
l'lut : . Tá !lo, trgtlJO. Tu o LÍ\ io, Bacon. Leibniz. Bayle, Montesquieu, tria E qual a cau a dos males? A escra\ idão... E rebate o anugo argument
·en I n. Humc. Gtbbon, Herde r. Buffon ( obretudo). Meister e Voltaire, den- que ela é nece sária porque a gente do Brastl ''é froux preguiÇosa .
IR utr dás ·._ lem de Cam3e e \'ieira ~osso deputado. utilizando-se tem. diz. e para demonstrá-lo. recorre ao exemplo de ~o Paulo antes da
pJ idade d • rgumema ão. de observação do acontecimentos ão do engenhos de a úcar, que tinha poucos escra~os. e c 1a em po
âneo . do uso da dialética (que retira do clá sico ), alcança uma e agricultura. na base do milho. feijão, farinha, arroz toucinhos. carnes de
d• ied de bast:mte avançada para sua época: pois ele domina, co. etc. E calcula matematicamente que aqui produzia c nco
milho que em Ponugal. "estando as horas d trabal necessanoda la
razão inversa do produto da mesma".
Tal como Jefferson o fazia. baseia-se em ál u
ra ão l com a Índia, por exemplo, onde e iste ··unpoh · a
em castas", ou com a Cochinchina). Preocupad
te. ad' ene que naqueles países o ulti ocorria "sem nec:essi~:lc
matas e esterilizar terrenos. como desgraçadamen
do··. l'm precursor da ecologia. como se rê
Para re\ ner esse quadro. propugna a in1tmduciode tOO\'·as
ropéias. d eno c m poucos fa d insllrUI:netHOS
rústi o " e. com e práticas. o terre110. Mm,.,.nrtn nrt..'U< tralo.ll!\ldo,
fi ará''. Em sínt 3
:
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PROJETOS PAR,\ O BRASIL CARLOS GUILHERME MOTA
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PROJETOS PAR,\ O BRASIL CARLOS GUILHERME MOTA
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Autobio ifi.
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Autobio ifi.
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Autor: um senhor de 64 anos de idade, que vive em desespero. Local:
fazenda Atalaia, no estado do Rio de Janeiro. Tempo de execução da obra:
quinze dias, na maior parte dos quais o autor tinha de interromper 0 trabalho,
atacado por crises violentas de enxaqueca. Momento: julho de 1878, imediata-
mente após a decretação da falência da empresa Mauá & Cia. Intenção origi-
na 1do trabalho: provar a credores prejudicados com a falência que o empresário
mereceu a confiança nele depositada. Resultado posterior: na avaliação do
economista Celso Furtado, um dos quinze livros básicos para se entender o
Brasil.
As condições precárias em que foi escrita Exposição aos credores. sua
finalidade episódica, conjuntural, jamais indicariam o destino posterior da obra
de Irineu Evangelista de Sousa, visconde de Mauá. Se ao improvisado escritor
faltavam tempo e vontade de fazer literatura ou análise, as próprias condições
do momento ajudavam a dar intensidade a suas palavras. Da fazenda onde
acompanhava o marido desesperado, Maria Joaquina de Sousa, também sobri-
nha do autor, escrevia a uma filha: "Teu pai envelheceu dez anos nestas quatro
semanas. Tenho me esforçado para consolá-lo, mas é difícil quando se tem
razão e se reconhece que [a falência) foi uma grande injustiça".
Injustiça: esse o sentimento envolvido intensamente na obra. Daí que ela
implique, acima de tudo, um julgamento moral: onde estaria a razão. que deve-
ria presidir a justiça- no homem que escrevia ou nas circunst&ncias que o
arrastaram a escrever como falido?
A falência dava nova forma à questão. O hvro era uma novidade para
aquele senhor. Ele escrevia muito, todos os dias. Mas sua especialidade eram
canas comerciais. De vez em quando. por exigência das situações, escre ia
um ou outro artigo de jornal, quase sempre para se defender ele a&aques O
debate de idéias desempenhava um papel muito seci1Dd4rio em s priorida-
des de empresário. Para Mauá, ~fora.amito mais importante ~ a
construção de obras visíveis, s6U4a, ~.-,~ E uma respo8Ca.a llJU
mentos, para ele, exigia aç a vkla ilttDiRir8·1111JIGD-
der críticas com inaupll'JÇ~---·
mais consistentes QCUIWi iDJIIIIII~
Vitória
&ideraçsõesrnc.;n'l'allmQ,dejkuati-·
deixava no WIDBQilD·~MIIII
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Autor: um senhor de 64 anos de idade, que vive em desespero. Local:
fazenda Atalaia, no estado do Rio de Janeiro. Tempo de execução da obra:
quinze dias, na maior parte dos quais o autor tinha de interromper 0 trabalho,
atacado por crises violentas de enxaqueca. Momento: julho de 1878, imediata-
mente após a decretação da falência da empresa Mauá & Cia. Intenção origi-
na 1do trabalho: provar a credores prejudicados com a falência que o empresário
mereceu a confiança nele depositada. Resultado posterior: na avaliação do
economista Celso Furtado, um dos quinze livros básicos para se entender o
Brasil.
As condições precárias em que foi escrita Exposição aos credores. sua
finalidade episódica, conjuntural, jamais indicariam o destino posterior da obra
de Irineu Evangelista de Sousa, visconde de Mauá. Se ao improvisado escritor
faltavam tempo e vontade de fazer literatura ou análise, as próprias condições
do momento ajudavam a dar intensidade a suas palavras. Da fazenda onde
acompanhava o marido desesperado, Maria Joaquina de Sousa, também sobri-
nha do autor, escrevia a uma filha: "Teu pai envelheceu dez anos nestas quatro
semanas. Tenho me esforçado para consolá-lo, mas é difícil quando se tem
razão e se reconhece que [a falência) foi uma grande injustiça".
Injustiça: esse o sentimento envolvido intensamente na obra. Daí que ela
implique, acima de tudo, um julgamento moral: onde estaria a razão. que deve-
ria presidir a justiça- no homem que escrevia ou nas circunst&ncias que o
arrastaram a escrever como falido?
A falência dava nova forma à questão. O hvro era uma novidade para
aquele senhor. Ele escrevia muito, todos os dias. Mas sua especialidade eram
canas comerciais. De vez em quando. por exigência das situações, escre ia
um ou outro artigo de jornal, quase sempre para se defender ele a&aques O
debate de idéias desempenhava um papel muito seci1Dd4rio em s priorida-
des de empresário. Para Mauá, ~fora.amito mais importante ~ a
construção de obras visíveis, s6U4a, ~.-,~ E uma respo8Ca.a llJU
mentos, para ele, exigia aç a vkla ilttDiRir8·1111JIGD-
der críticas com inaupll'JÇ~---·
mais consistentes QCUIWi iDJIIIIII~
Vitória
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11 1111 ''""' u.1111, "'fi!' '·'l'"''iu'· l''' tllt,Jv.runtltpotpw lhea p recio poucoq
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J!ll " u.o dtil '·'"do 1 .qut.rh 1110 qw lodo\ ele deleatavam; injusta porque
1an10 DOI q dw
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Hlltido de ua vida unha
u• 1u""'', ,, !f, '"tw·~o~ p.ua qul'm .tpo lo~ he m empreendimenlOI
btulllpt.,.& JIICIIW~:tr IIDl caraiaho pail,
,, "'' · d.t , "itullw.t tllfl l'>l.t, t•rlfuu . porque nmdenova quem vivia do tta
. . . . . . . .IJK:ia. paa leuJ
aJh, 11.1\J doJH6pt i o >li'''
10 •
dH._,_....,.fl~um desvio pocte.
A, x"·~·~~' d" lo11u11.t dl' lrim·u ajudou a aumentar a inveja contra
,, 11 I• 11111 a 1''" ,, na ''ulfU'>I t~r·•" de ~u:• riqueza. Enquanto foi multo
1111p1t olllll lt'Vr IJ;j :umas Jltllll harrar esse sentimentos. Poi
•"l'<lll.nua tnlcr · <'trt>, inirmgo da pálria, destruidor da solidez
\• 'd· dt uu m rta ~u.trt •ra, devolvia as críticas na forma de novol
cutltul nh ··;.com uma C.:lliiÇa inabalável na capacidade de creac:imento
tHIIllhtlll, t~tkir.t. hu cantlnwnstantemente novos melhorameDtol
l111t • 1.1• I.UIIhém Cl)ffi o manejo de símbolos carol aot
a< 11ou .ti a menti! o rflulo d barão- numa opcraçlo que delmclnsl*
100
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tHIIllhtlll, t~tkir.t. hu cantlnwnstantemente novos melhorameDtol
l111t • 1.1• I.UIIhém Cl)ffi o manejo de símbolos carol aot
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4U / 011/0GRMIA JORGE CALDEIRA
Jill'rJllllJUL'st,1o d ·adotar uma política t:conômica rt:stritiva, que favorecia a pals e não via diferença entre os dois resultados. Tudo o que considerava
, iJ,1 h11,1 Jc rt•n tistas t.!m dt:tnmc nto do crc cimento econômico. A sim, a em. importante, tudo o que esperava de bom, perdia sentido prático. Naquele 010 •
prt's,t dL' 1au.t em como um.l hakia pre a numa pequena enseada : sempre menta não havia mais as armas de semprc, somente a pena. Com ela lutaria
,uriscada ;) falta de t.! spuço para se 1110\ Ímentar. Várias vezes ele e caparu Para a maioria dos brasileiros, a falência parecia uma boa obra moral: 0 país s~.:
J ,ts tL·nwti' .t~ dt.! seus ,1dvcrsario. de fechar o cerco. De sa vez, não c capou. li vrava de um mal, afastava um perigo. Perigo traduzido na imagem demoníaca
F.tlttlll·lht• dinheiro em cai \a para manobrar. Um ocorro de liquidcz do Banco do emprc ário, que a falência parecia exorcizar. A faiCncia era derrota nao
Jo Hr.tsil s ·ria ·ufic:it•nte pa r.t •vitar o encalhc, ma. lhe foi negado. apenas pessoal: parecia uma prova evidente de que o caminho trilhado por
Pda~ lé1: da t'pt a, .t f.tlta de caixa tornava obrigatória a liquidação do Muuá não deveria ser seguido por outros.
lll' , l'itl l'nl II~S .lllos .. a liquid.tçfio roi decretada. Não import lVa que a ern- Pcça de defesa, a Exposiçcío aos credores tem urna estrutura narrati v.t
1' ·s.t I K • olid.t. n ·m quc tive .. 'ótima pt:rspcctivas econômicas. Mauá foi muito simples. Começa com um breve resumo dos anos iniciai de vida do
,,hrig.td 1 .t , t·m trt~s .mo .liquitl.tr um patrimônio monumental num país t:m que cmpre ário, até o momento em que ele lança seu primeiro empreendimento
.Lpropria crise tl·~l' LKadt•ada pela moratôria tornava mais pre árias as condi- industrial , a fundição e estaleiro da Ponta de Areia. A partir daí, numa série de
~' tl's ti· liquid ''· Fk quase on. eguiu o que parecia impos íwL entrc outras 25 capítulos curtos, descreve o desenvolvimento de um número idcntico d~
Clli'J por Jllt' ~u ,1s ·mprt:sa · n;i,) tinham problema, econômico.: o ativo era cmpre as que criou, que dirigiu ou de que participou. O estilo é seco, dirt•to,
. up ·nm ,to p.t . iH1 o. Ires anlls de prazo. fez uma redução de 80% do ma i parecido com o dos jornais do século XX que com o dos livros de sua
p.ts~i' ''· cpoca . Em poucas palavras o autor narra as circunstância , os cálculo~ de
Collll'\ ·t· otimo enc.uninhamcnto dos negocio. c o total apoio dos credo- rentabilidade ou as razões que o levaram ao negócio, e seus resultados. Qua ~c
r'.. tiniu de cnntom.tr apenil. um ob t:iettlo hurocnítico: obter prorrogação da nada de discussões laterais, raros elogios ou lamentações. Apenas o último
111• ra tl na .. tas .1 grande .trma que empregava para c defender perdera . ua capítulo, referente a seu banco, destoa disso. Ali há uma discussiio mais alen-
m 1gra \ moratt ria foi um sinal· estavam rompidas a barreiras para os ata· tada. Todo o argumento sobre a falência se concentra nesse final - c o ar~u
qu •s d · ·eu.•ld\ crsan< s unca. como ncs c período, Mauá foi tão atacado. mcnto será detalhado adiante.
Aind.t a· im. llltiOuou como :empre. fc mo urvado sob o pe o da morató- Antes dele, é preciso considerar a estrutura geral. O pequeno livro che-
ria. m.mt ' c. ua p siç;io tle jamai rt:. pondcr a ataques pe soai . No máximo. gou a ser depois publicado com o tftulo de Autobiografia. Título curio o. que
em momen to' !ltim,,s, faz1a ob ervaçõcs de tudo que c passava em cartas confunde uma lista de obras com a narração da intimidade. Mas também título
pata amigo.. uma dt!las. conclui u: "Em leão deitado, até burro dá coice". O compreensível. Para Mauá, de fato, as obras, a empresa c confundiam com
i~·~: qu • l ' J rrubou \ ·ío de uma manohra de ba tidores. com a qual os adver- 0
sentido de sua vida. As poucas páginas dedicadas a cada empresa re um1am
ano '.JUntaram para impedir a boa liquidação do negócios- uma pos ibili· an?s de trabalhos, glórias e frustrações- o plano das obras e resultados finan -
dad' ma1' que razoa\cl em face do hrilhante de empenho da liquidação. Emm ce~ros identificado diretamente com o dos de ejos e onho pessoais. Nada
ente pod •ro a. o que significava •mpregar cada interpretação de cada vírgula alem di ·
sso tmportava ao narrador, o que levou à troca pó tuma do título, s ·m
d..t l•t co.ntra n .11h ~r. áno . • 10 fim. venceram graças a um parágrafo do Código que nada parecesse estranho. Mas a mudança só foi pos ív I porque s a
rt lal qu . ~nga\ a a presença física dos credores para aprovar a prorro- associação se tomou algo imputável legitimamente a um empre ária. a épo·
-e \b~a !lnha credores não apenas em todo o Brasil. mas espalhados ~·era uma confusão imposswel. Melhor dizendo. ra algo quas inadmissível.
~ \.'m .P~Ise · \ s procuraçõc desses credores não foram reconhecidas e auá não pensava a obra como lista de realizações pessoai • a não ser por um
• f lenc1a ro1 d.::cretada.
1
subterfúgio··os argumentos de ordem pes oal eramJUStl
d
. 'fiJcatJvas
. para os cre-
E 0
qu_adro do drama vivido nos quinze dias como escritor num retiro t ores. Ele escreveu o livro para pedir desculpas públicas aos homens de quem
IÇao n~s-crednre~ é a exposição do sentido de uma vida, mas é, Ornou di h ·
d
-
n e1ro e não pagou. Apenas indiretamente. outros tão presentes.
. po I ao de uma frust . - . d h
nh raçao. a o ornem que construía, do ho-- a versários com força suficiente para impedir a liquidação das dívidas - e a
.l c m um grande futuro econômico para seu bolso e
manutenção da honra comercial do autor.
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A UTOB/OGRAFJA JORGE CALDEIRA
Como projeto literário, Exposição aos credores era obra de circunstân- ara isso durante a vida. Mas que, naquele momento, não poderia deixar de
cia. Pouco mais que uma lista, de leitura fácil, sem pretensão maior. Mandada p
a ontar aquela que const"derava a causa u'1"ttma de todo 0 desastre: 0 modo
imprimir numa pequena tipografia, apenas para distribuição a homens que ti- p . . h .
como 0 governo mtervm a na econonna.
nham dinheiro a receber, e receberiam em vez disso as desculpas escritas do Essa é a discussão de fundo em toda a obra. O argumento de Mauá é
empresário. Mas tomou-se um clássico, um tipo especialíssimo de clássico. relativamente simples: fez tudo o que um empresário individual poderia fazer. e
Não pode ser explicado somente por seu conteúdo, como os demais. A secura arou porque o Estado não queria empresas crescendo.
da linguagem, a falta aparente de idéias interligadas impedem o caminho tradi- p . . d
Sustenta a pnmerra parte o argumento no cerne da obra, a descrição de
cional de análise, centrada no conteúdo. Para entender a importância da obra, seus empreendimentos. O estaleiro da Ponta de Areia, primeira indústria do
é preciso acompanhar suas metamorfoses entre os leitores, que foram muitas, Brasil, que chegou a empregar mil e duzentos funcionários na década de 1850
elc.:vando passo a passo seu conceito. O tempo se encarregou de reverter o e no qual foram produzidos 72 navios- mais guindastes, engenhos de açúcar,
contexto da leitura e da avaliação crítica. canos de ferro, motores, peças de bronze, pontes metálicas e uma infinidade
Na época da publicação, Exposição aos credores foi recebida como de objetos. A primeira estrada de ferro do país. Uma companhia de iluminação
peça comercial. Razoável para os credores que acreditavam no empresário, a gás no Rio de Janeiro. Uma empresa de navegação na Amazônia. A Estrada
mas em geral apenas a queixa de um indivíduo ganancioso e em boa hora de Ferro Santos a Jundiaí. Dezenas de outros empreendimentos menores no
afastado do domínio de grandes massas de dinheiro. No entanto, a voz queixo- país. Mas não era só: Mauá tinha bancos e empresas no Uruguai, Argentina.
sa do narrador aos poucos foi se associando a um sentimento nacional: o de Inglaterra e França. No auge de seus negócios, chegou a controlar um conjun-
que o Brasil é um país que desperdiça oportunidades, que não consegue cres- to de dezessete empresas espalhadas por seis países.
cer, que vai ficando para trás enquanto o mundo avança. Na via inversa, o No mundo pós-Mauá, em que estruturas multinacionais são comuns, en-
mundo ao qual se opunha o indivíduo que remava contra a maré deixou de ter tende-se com mais facilidade esse tipo de descrição. Mas, na época dos em-
a importância que parecia ter em 1878. Nenhum brasileiro hoje levaria a sério preendimentos de Mauá, tal estrutura era uma raridade. Eram os tempos do
um projeto cuja proposta fosse conter o desenvolvimento econômico para evi- capitalismo concorrencial, quando o âmbito das empresas era muito limitado.
tar prejuízos para nobres proprietários de terras e seus sócios comerciantes. Mais ainda, era quase inexistente a estrutura de fundar negócios a partir de um
Nenhum brasi leiro levaria a sério tentativas deliberadas de se evitar que o país banco, empregado como instrumento de financiamento para grandes projetos
tivesse indústrias, consideradas "artificiais", para não ameaçar sua natural empresariais do grupo. O negócio de Mauá, em essência, era controlar um
vocação para a agricultura e a natural destinação de todos os trabalhadores banco de investimentos e, ao mesmo tempo, as empresas financiadas por ele.
para um poço onde nenhum de seus direitos fosse reconhecido. Negócio com estrutura avançada mesmo para a Inglaterra, então a maior po-
ssim. o que na época era drama pessoal, pode muito bem ser visto atual· tência capitalista do planeta.
mente como drama nacionaL A sensação de frustração do empresário é a sen- Por causa dessa estrutura, os empreendimentos de Mauá sempre foram
sa ão de todos os brasileiros com a situação do país. A descrição das barreiraS melhor entendidos na Inglaterra que no Brasil. Enquanto os grandes ricos do
que encontrou é a de impedimentos que irritam os leitores posteriores. país o odiavam, os maiores milionários ingleses faziam questão de imestir seu
• 'a última frase da obra há uma pista para o valor que permitiu a dinheiro nos projetos desenhados por aquele estranho tipo tropical. No sécul~
tr:m c ndência .. [auá termina sua Exposição aos credores com as seguinteS passado, Mauá sensibiliza.va gente que pensava no futuro. Gente como 0 escn-
pai 'ra : •·p la pane que me toca. fui vencido, mas não convencido". A fraSe tor francês Júlio Veme, que o tomou personagem de um de seus livro • ~agem
é u~;a citação: o utor original foi o imperador D. Pedro li, obrigado a reco- à Lua. Conta a história de um capitão que, tendo desenvolvido um projetO de
- r unu deci ão do Vaticano com a qual não concordava. Remete o leitor foguete lunar e estando às voltas com dificuldades para que as pessoas ao
qu onte' e o ímpeto empresarial: a própria monarquia. Re· redor o entendam, imagina uma saída. Faz um apelo aos homens de ~
de pa agem. feita por um monarquista, incapaz de proferir visão no mundo, que possam investir em algo como um foguete. Entre w
iP ta ao governo de seu país, mesmo tendo todos os motiVOS homens, inclui o barão de Mauá, do Brasil.
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A UTOB/OGRAFJA JORGE CALDEIRA
Como projeto literário, Exposição aos credores era obra de circunstân- ara isso durante a vida. Mas que, naquele momento, não poderia deixar de
cia. Pouco mais que uma lista, de leitura fácil, sem pretensão maior. Mandada p
a ontar aquela que const"derava a causa u'1"ttma de todo 0 desastre: 0 modo
imprimir numa pequena tipografia, apenas para distribuição a homens que ti- p . . h .
como 0 governo mtervm a na econonna.
nham dinheiro a receber, e receberiam em vez disso as desculpas escritas do Essa é a discussão de fundo em toda a obra. O argumento de Mauá é
empresário. Mas tomou-se um clássico, um tipo especialíssimo de clássico. relativamente simples: fez tudo o que um empresário individual poderia fazer. e
Não pode ser explicado somente por seu conteúdo, como os demais. A secura arou porque o Estado não queria empresas crescendo.
da linguagem, a falta aparente de idéias interligadas impedem o caminho tradi- p . . d
Sustenta a pnmerra parte o argumento no cerne da obra, a descrição de
cional de análise, centrada no conteúdo. Para entender a importância da obra, seus empreendimentos. O estaleiro da Ponta de Areia, primeira indústria do
é preciso acompanhar suas metamorfoses entre os leitores, que foram muitas, Brasil, que chegou a empregar mil e duzentos funcionários na década de 1850
elc.:vando passo a passo seu conceito. O tempo se encarregou de reverter o e no qual foram produzidos 72 navios- mais guindastes, engenhos de açúcar,
contexto da leitura e da avaliação crítica. canos de ferro, motores, peças de bronze, pontes metálicas e uma infinidade
Na época da publicação, Exposição aos credores foi recebida como de objetos. A primeira estrada de ferro do país. Uma companhia de iluminação
peça comercial. Razoável para os credores que acreditavam no empresário, a gás no Rio de Janeiro. Uma empresa de navegação na Amazônia. A Estrada
mas em geral apenas a queixa de um indivíduo ganancioso e em boa hora de Ferro Santos a Jundiaí. Dezenas de outros empreendimentos menores no
afastado do domínio de grandes massas de dinheiro. No entanto, a voz queixo- país. Mas não era só: Mauá tinha bancos e empresas no Uruguai, Argentina.
sa do narrador aos poucos foi se associando a um sentimento nacional: o de Inglaterra e França. No auge de seus negócios, chegou a controlar um conjun-
que o Brasil é um país que desperdiça oportunidades, que não consegue cres- to de dezessete empresas espalhadas por seis países.
cer, que vai ficando para trás enquanto o mundo avança. Na via inversa, o No mundo pós-Mauá, em que estruturas multinacionais são comuns, en-
mundo ao qual se opunha o indivíduo que remava contra a maré deixou de ter tende-se com mais facilidade esse tipo de descrição. Mas, na época dos em-
a importância que parecia ter em 1878. Nenhum brasileiro hoje levaria a sério preendimentos de Mauá, tal estrutura era uma raridade. Eram os tempos do
um projeto cuja proposta fosse conter o desenvolvimento econômico para evi- capitalismo concorrencial, quando o âmbito das empresas era muito limitado.
tar prejuízos para nobres proprietários de terras e seus sócios comerciantes. Mais ainda, era quase inexistente a estrutura de fundar negócios a partir de um
Nenhum brasi leiro levaria a sério tentativas deliberadas de se evitar que o país banco, empregado como instrumento de financiamento para grandes projetos
tivesse indústrias, consideradas "artificiais", para não ameaçar sua natural empresariais do grupo. O negócio de Mauá, em essência, era controlar um
vocação para a agricultura e a natural destinação de todos os trabalhadores banco de investimentos e, ao mesmo tempo, as empresas financiadas por ele.
para um poço onde nenhum de seus direitos fosse reconhecido. Negócio com estrutura avançada mesmo para a Inglaterra, então a maior po-
ssim. o que na época era drama pessoal, pode muito bem ser visto atual· tência capitalista do planeta.
mente como drama nacionaL A sensação de frustração do empresário é a sen- Por causa dessa estrutura, os empreendimentos de Mauá sempre foram
sa ão de todos os brasileiros com a situação do país. A descrição das barreiraS melhor entendidos na Inglaterra que no Brasil. Enquanto os grandes ricos do
que encontrou é a de impedimentos que irritam os leitores posteriores. país o odiavam, os maiores milionários ingleses faziam questão de imestir seu
• 'a última frase da obra há uma pista para o valor que permitiu a dinheiro nos projetos desenhados por aquele estranho tipo tropical. No sécul~
tr:m c ndência .. [auá termina sua Exposição aos credores com as seguinteS passado, Mauá sensibiliza.va gente que pensava no futuro. Gente como 0 escn-
pai 'ra : •·p la pane que me toca. fui vencido, mas não convencido". A fraSe tor francês Júlio Veme, que o tomou personagem de um de seus livro • ~agem
é u~;a citação: o utor original foi o imperador D. Pedro li, obrigado a reco- à Lua. Conta a história de um capitão que, tendo desenvolvido um projetO de
- r unu deci ão do Vaticano com a qual não concordava. Remete o leitor foguete lunar e estando às voltas com dificuldades para que as pessoas ao
qu onte' e o ímpeto empresarial: a própria monarquia. Re· redor o entendam, imagina uma saída. Faz um apelo aos homens de ~
de pa agem. feita por um monarquista, incapaz de proferir visão no mundo, que possam investir em algo como um foguete. Entre w
iP ta ao governo de seu país, mesmo tendo todos os motiVOS homens, inclui o barão de Mauá, do Brasil.
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JORGE C LDE RA
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JORGE C LDE RA
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AUTOB/OGRAF/tl JORGE CALDEIRA
compcn e olhar para o argumento de Mauá no que vale para além do peso ponsável pela ~statização, dirigido pelo próprio imperador, era que havia risco
trazido pelas interpretações opostas que vigoraram no século XX. demais em detxar o controle do mercado de capitais nas mãos de agentes
:Vtau:í não de creve a intervenção estatal como uma questão de princí- privados - apresentados_ como aventure~ros. irresponsáveis. Mauá perdeu a
pio. Pelo contrário, o Ih ro traz muitos trechos em que ele clama por ela, ern batalha e o banco, mas nao se deu por satisfeito. No ano seguinte, linha reuni-
que afirma que é uma obrigação do Estado apoiar os empresários nacionais. 0 do capitais para montar um banco maior ainda- e nesse momento foi impedido
que discute, isto sim, é a maneira como tal intervenção acontece. Trata-se de estruturar a empresa como uma sociedade anônima, e limitado na capitali-
portanto, de uma discussão no campo das oportunidades e meios. ' zação do negócio.
Apreciado com essa necessária limitação, o argumento central ganha A forma quase obrigatória das grandes empresas, sejam de qne ramo ou
outro significado Não é discussão sobre ideologia, mas sobre atos práticos. país forem, é a das sociedades anônimas. É, enfim, de empresas que são gran-
Clama, digamos assim, por uma intervenção "correta" do governo, aquela que des porque recorrem ao mercado de capitais para ganhar estrutura financeira
permita desenvolvimento de empresas, não uma que as limite- como julga ter à altura dos desafios que pretendem enfrentar. As empresas brasileiras de to-
acontecido em seu caso. am bastante dessa tendência geral, mesmo quando as comparaçõe · são feitas
Assim se chega ao fundo do argumento. Mauá atribuiu seus problemas em números relativos. Quando necessitam do mercado de capitais, não encon-
de I878 a um ato governamental de 1854: a proibição de que organizasse sua tram um mercado privado de acionistas ou tomadores de bônus. Só lhes resta
empresa-mãe, o banco de investimentos, como uma empresa de capital aberto 0 Estado, seja por meio de suas instituições financeiras, seja por favores fis-
e na qual os acionistas correriam riscos de capital. Por causa disso, tudo o que cais ou fundos de pensão.
É certo que hoje isso é uma via obrigatória -como foi obrigatória para
fe.t: sempre correu um risco evitável. Sem poder recorrer a capital de tercei-
Mauá desde 1854. O que diferencia seu argumento da situação presente c!
ros ficava permanentemente descapitalizado, correndo riscos muito maiores.
uma hipótese: e se fosse diferente? Uma hipótese que ele, ao contrário dos que
Parece pouco, mas é um argumento forte. Mauá toca no grande proble-
vieram depois, pôde apresentarno livro como possibilidade real. Afinal, tinha o
ma estrutural de todas as empresas brasileiras até hoje: a ausência de um
dinheiro, tinha capital - o que não teve, diz, foi a permissão do governo para
mercado de capitais desenvolvido que as suporte. Diz que esse mercado não
se desenvolveu porque o governo atuou o tempo todo para impedir que fosse seguir seu caminho.
Este o nervo exposto: uma possibilidade, uma responsabilidade. Uma
privado- e não porque o Brasil era um país pobre em capitais ou em instru-
possibilidade que ganha ênfase dramática com o caso pessoal. Mais que a
mentos huma ~ para geri-los.
discussão finalista e escolástica sobre o papel do Estado na economia, está a
'm simples golpe de vista sobre a estrutura das grandes empresas brasi-
grande questão, posta em forma pessoal: quem faz o progresso, o empresário
leJraç. na época ou depois dela, permite ver que essa distorção importa. Em-
ou seus inimigos? Quem cuida do interesse público melhor: empresários uu
pre a grande, no Brasil, quase só estatal ou familiar. Para além dessas, domina
governantes?
o capital estrangeiro. porque possui por trás das empresas um acesso privilegi-
O brilho empresarial de Mauá dá brilho a suas crenças e hipóteses - u
ado a mercado de crédito internacionais. A única maneira "nacional" de com- resultado final do negócio fala contra elas. O deslocamento entre o sentimento
pen ar essa desvantagem é o apelo a uma sólida fortuna particular, em geral de grandeza e frustração dá mais qualidade literária, drama c fluidez para a
composta de atil:os de elevado valor patrimonial e baixa liquidez. Saída cuja
leitura.
face isí\e) é'a presença de empresários brasileiros nas listas de homens mais Este final de século ~crescenta um elemento extra: a possibilidade de
ncos do mundo. em visÍ\·eJ contraste com a ausência de empresas brasileiras entregar o controle do desenvolvimento a agentes privados, que parecia enter-
nas mesmas listas. rada desde a década de 30 ressurgiu com seus esplendores e misérias. Mas
o centro dessa diferença está o mercado de capitais. Financiamento de out . . ' . ' . (' t é orno uma discussão de
ra vez, aqut, uma leitura finahsta do 1Jvro JS o • c
..,o prazo. no Brasil, só o feito por empresas financeiras estatais. Essa situa· · , . · ) pod ocultar problemas rele-
Pnnciplo sobre o papel do Estado na economia e
ç xi te desde 1853, quando o governo imperial estatizou o Banco do Brasil. vantes.
fundado dois anos antes por Mauá. O argumento central do movimento res·
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AUTOB/OGRAF/tl JORGE CALDEIRA
compcn e olhar para o argumento de Mauá no que vale para além do peso ponsável pela ~statização, dirigido pelo próprio imperador, era que havia risco
trazido pelas interpretações opostas que vigoraram no século XX. demais em detxar o controle do mercado de capitais nas mãos de agentes
:Vtau:í não de creve a intervenção estatal como uma questão de princí- privados - apresentados_ como aventure~ros. irresponsáveis. Mauá perdeu a
pio. Pelo contrário, o Ih ro traz muitos trechos em que ele clama por ela, ern batalha e o banco, mas nao se deu por satisfeito. No ano seguinte, linha reuni-
que afirma que é uma obrigação do Estado apoiar os empresários nacionais. 0 do capitais para montar um banco maior ainda- e nesse momento foi impedido
que discute, isto sim, é a maneira como tal intervenção acontece. Trata-se de estruturar a empresa como uma sociedade anônima, e limitado na capitali-
portanto, de uma discussão no campo das oportunidades e meios. ' zação do negócio.
Apreciado com essa necessária limitação, o argumento central ganha A forma quase obrigatória das grandes empresas, sejam de qne ramo ou
outro significado Não é discussão sobre ideologia, mas sobre atos práticos. país forem, é a das sociedades anônimas. É, enfim, de empresas que são gran-
Clama, digamos assim, por uma intervenção "correta" do governo, aquela que des porque recorrem ao mercado de capitais para ganhar estrutura financeira
permita desenvolvimento de empresas, não uma que as limite- como julga ter à altura dos desafios que pretendem enfrentar. As empresas brasileiras de to-
acontecido em seu caso. am bastante dessa tendência geral, mesmo quando as comparaçõe · são feitas
Assim se chega ao fundo do argumento. Mauá atribuiu seus problemas em números relativos. Quando necessitam do mercado de capitais, não encon-
de I878 a um ato governamental de 1854: a proibição de que organizasse sua tram um mercado privado de acionistas ou tomadores de bônus. Só lhes resta
empresa-mãe, o banco de investimentos, como uma empresa de capital aberto 0 Estado, seja por meio de suas instituições financeiras, seja por favores fis-
e na qual os acionistas correriam riscos de capital. Por causa disso, tudo o que cais ou fundos de pensão.
É certo que hoje isso é uma via obrigatória -como foi obrigatória para
fe.t: sempre correu um risco evitável. Sem poder recorrer a capital de tercei-
Mauá desde 1854. O que diferencia seu argumento da situação presente c!
ros ficava permanentemente descapitalizado, correndo riscos muito maiores.
uma hipótese: e se fosse diferente? Uma hipótese que ele, ao contrário dos que
Parece pouco, mas é um argumento forte. Mauá toca no grande proble-
vieram depois, pôde apresentarno livro como possibilidade real. Afinal, tinha o
ma estrutural de todas as empresas brasileiras até hoje: a ausência de um
dinheiro, tinha capital - o que não teve, diz, foi a permissão do governo para
mercado de capitais desenvolvido que as suporte. Diz que esse mercado não
se desenvolveu porque o governo atuou o tempo todo para impedir que fosse seguir seu caminho.
Este o nervo exposto: uma possibilidade, uma responsabilidade. Uma
privado- e não porque o Brasil era um país pobre em capitais ou em instru-
possibilidade que ganha ênfase dramática com o caso pessoal. Mais que a
mentos huma ~ para geri-los.
discussão finalista e escolástica sobre o papel do Estado na economia, está a
'm simples golpe de vista sobre a estrutura das grandes empresas brasi-
grande questão, posta em forma pessoal: quem faz o progresso, o empresário
leJraç. na época ou depois dela, permite ver que essa distorção importa. Em-
ou seus inimigos? Quem cuida do interesse público melhor: empresários uu
pre a grande, no Brasil, quase só estatal ou familiar. Para além dessas, domina
governantes?
o capital estrangeiro. porque possui por trás das empresas um acesso privilegi-
O brilho empresarial de Mauá dá brilho a suas crenças e hipóteses - u
ado a mercado de crédito internacionais. A única maneira "nacional" de com- resultado final do negócio fala contra elas. O deslocamento entre o sentimento
pen ar essa desvantagem é o apelo a uma sólida fortuna particular, em geral de grandeza e frustração dá mais qualidade literária, drama c fluidez para a
composta de atil:os de elevado valor patrimonial e baixa liquidez. Saída cuja
leitura.
face isí\e) é'a presença de empresários brasileiros nas listas de homens mais Este final de século ~crescenta um elemento extra: a possibilidade de
ncos do mundo. em visÍ\·eJ contraste com a ausência de empresas brasileiras entregar o controle do desenvolvimento a agentes privados, que parecia enter-
nas mesmas listas. rada desde a década de 30 ressurgiu com seus esplendores e misérias. Mas
o centro dessa diferença está o mercado de capitais. Financiamento de out . . ' . ' . (' t é orno uma discussão de
ra vez, aqut, uma leitura finahsta do 1Jvro JS o • c
..,o prazo. no Brasil, só o feito por empresas financeiras estatais. Essa situa· · , . · ) pod ocultar problemas rele-
Pnnciplo sobre o papel do Estado na economia e
ç xi te desde 1853, quando o governo imperial estatizou o Banco do Brasil. vantes.
fundado dois anos antes por Mauá. O argumento central do movimento res·
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AUTOBIOGRAf"IA JORGE C.ALDEII!A
O atraso da economia brasileira, a péssima distribuição da riqueza, 0 É apenas nesse sentido que se podem entender a
afastamento de grande parte da população dos benefícios do progresso são sobre o papel do Estado apresentadas em Expo.tiçiío ao aedore fa '(
elementos relevantes na discussão atual. Relevantes não apenas pelas maze. nos leva a uma nova inversão: agora o empresário parece um Jdeali ta, não 0
las evidentes, mas também porque feitos numa realidade em que a estatização homem prático que sempre foi. Daí a suspeição: apresenta ua hlpóte e em
do mercado de crédito foi um fato pennanente. causa própria, não em busca do interesse geral.
Esse fato permite colocar o problema em outro patamar. A Exposição Entra-se assim de volta no terreno da ética, no julgamento dos atos em
aos credore~ lida com outra questão que sobreviveu ao livro de maneira função do bem que podem trazer. Nesse campo, e não no das finalidade
aguda· a forma peculiar de separar "público" e "privado" existente no Brasil. últimas, é que Exposição aos credores é efetivamente um J .m exemplélr
.Mauá segue estritamente as definições liberais para separar tais espaços. sobre o Brasil: toca, como nenhum oulro texto que trctta da economia bra~iJc 1 -
Pública é a esfera da lei, e privada a esfera de liberdade, que está para além ra, numa questão ética: qual o correto caminho para colocar em ação empre-
dela. Mais ainda, delimita idealmente o papel do Estado como guardião dessa sáliOS privados e governo para o desenvolvimento nacional? Mais que 1 o.
separação, tendo como função primordial garantir a esfera da liberdade_ apresenta, numa leitura agradável, a maior parte dos dados necessário para
em termos econômicos, sancionar legalmente os interesses dos proprietários uma resposta -e esse "agradável" é um desvio que ajuda a tomar convíncent·
privados. O livro é uma afirmação desses ideais contra o comportamento o argumento. A simpatia com o drama pessoal se confunde com adesão ao
concreto das autoridades. É. em outras palavras, um protesto contra a não- argumento liberal. Isso, no entanto, está longe de invalidar o restante ape ar
adoção de tal doutrina. da questão pessoal, os temas fundamentais do país estão presentes. Tocad ~
A revolta contra o governo que domina os leitores liberais -e, na via de maneira profunda, desenvolvendo pontos essenciais. Tanto quanto o autor.
in"ersa, a revolta contra as atitudes de Mauá que domina os leitores defenso- o leitor é levado a um dilema: vencer-se pela leitura, ou convencer o ndrrador
rc da intervenção- deriva de um deslocamento, que o livro aponta. De fato, de seu erro. Uma questão que as mudanças econômicas ao longo de mais de
a separação entre as esferas do público e do privado no Brasil não segue as um século deixaram como alternativa intocada, drama vivo da interpretação
doutrmas liberais. Antes. deriva da distinção entre público e privado vinda do econômica do país, ponto de separação de visões de mundo. 'os qumze diJ
Antigo Regime, e baseada sobretudo em Aristóteles. A linha de corte, em mais duros de sua vida, Irineu Evangelista de Sousa foi capaz de expnm~r o
lugar de passar pela esfera da lei, deriva do acesso a uma condição estamental. dilema de um século.
Público. ness 1isão, é o espaço do comércio e da riqueza monetária- um
espaço qui.! deve ser controlado por outro tipo de pessoas que não comercian-
tes, donas de títulos estamentais. Para o filósofo grego, caso o espaço público
fosse dominado pelos homens do dinheiro, desmoronaria uma ordem social que
era garantida, sobretudo, pelos proprietários de terra. Assim, o trabalho ma-
nual do comércio. o contato com o dinheiro, embora fosse a marca distintiva da
esfera pública, era também uma marca de desqualificação: quem lida com
dinheiro devi.! ser excluído das decisões do Estado - uma esfera reservada
com exclusividade para nobres proprietários de terra.
, Enquanto Mauá trabalha como apóstolo das definições liberais, seus ad-
versanos s~ pautam pelo esquema aristotélico. Lutam para impedir que um
poder que. Imagina m reserva do apenas a eles caia em mãos erradas. Agem
11
' para Impedir o progresso, mas para não perder um comando que lhes
pa c essencial para que ha·a J ordem na soc1"ed ade, mesmo que Isso
. custe o
pngrcsso.
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AUTOBIOGRAf"IA JORGE C.ALDEII!A
O atraso da economia brasileira, a péssima distribuição da riqueza, 0 É apenas nesse sentido que se podem entender a
afastamento de grande parte da população dos benefícios do progresso são sobre o papel do Estado apresentadas em Expo.tiçiío ao aedore fa '(
elementos relevantes na discussão atual. Relevantes não apenas pelas maze. nos leva a uma nova inversão: agora o empresário parece um Jdeali ta, não 0
las evidentes, mas também porque feitos numa realidade em que a estatização homem prático que sempre foi. Daí a suspeição: apresenta ua hlpóte e em
do mercado de crédito foi um fato pennanente. causa própria, não em busca do interesse geral.
Esse fato permite colocar o problema em outro patamar. A Exposição Entra-se assim de volta no terreno da ética, no julgamento dos atos em
aos credore~ lida com outra questão que sobreviveu ao livro de maneira função do bem que podem trazer. Nesse campo, e não no das finalidade
aguda· a forma peculiar de separar "público" e "privado" existente no Brasil. últimas, é que Exposição aos credores é efetivamente um J .m exemplélr
.Mauá segue estritamente as definições liberais para separar tais espaços. sobre o Brasil: toca, como nenhum oulro texto que trctta da economia bra~iJc 1 -
Pública é a esfera da lei, e privada a esfera de liberdade, que está para além ra, numa questão ética: qual o correto caminho para colocar em ação empre-
dela. Mais ainda, delimita idealmente o papel do Estado como guardião dessa sáliOS privados e governo para o desenvolvimento nacional? Mais que 1 o.
separação, tendo como função primordial garantir a esfera da liberdade_ apresenta, numa leitura agradável, a maior parte dos dados necessário para
em termos econômicos, sancionar legalmente os interesses dos proprietários uma resposta -e esse "agradável" é um desvio que ajuda a tomar convíncent·
privados. O livro é uma afirmação desses ideais contra o comportamento o argumento. A simpatia com o drama pessoal se confunde com adesão ao
concreto das autoridades. É. em outras palavras, um protesto contra a não- argumento liberal. Isso, no entanto, está longe de invalidar o restante ape ar
adoção de tal doutrina. da questão pessoal, os temas fundamentais do país estão presentes. Tocad ~
A revolta contra o governo que domina os leitores liberais -e, na via de maneira profunda, desenvolvendo pontos essenciais. Tanto quanto o autor.
in"ersa, a revolta contra as atitudes de Mauá que domina os leitores defenso- o leitor é levado a um dilema: vencer-se pela leitura, ou convencer o ndrrador
rc da intervenção- deriva de um deslocamento, que o livro aponta. De fato, de seu erro. Uma questão que as mudanças econômicas ao longo de mais de
a separação entre as esferas do público e do privado no Brasil não segue as um século deixaram como alternativa intocada, drama vivo da interpretação
doutrmas liberais. Antes. deriva da distinção entre público e privado vinda do econômica do país, ponto de separação de visões de mundo. 'os qumze diJ
Antigo Regime, e baseada sobretudo em Aristóteles. A linha de corte, em mais duros de sua vida, Irineu Evangelista de Sousa foi capaz de expnm~r o
lugar de passar pela esfera da lei, deriva do acesso a uma condição estamental. dilema de um século.
Público. ness 1isão, é o espaço do comércio e da riqueza monetária- um
espaço qui.! deve ser controlado por outro tipo de pessoas que não comercian-
tes, donas de títulos estamentais. Para o filósofo grego, caso o espaço público
fosse dominado pelos homens do dinheiro, desmoronaria uma ordem social que
era garantida, sobretudo, pelos proprietários de terra. Assim, o trabalho ma-
nual do comércio. o contato com o dinheiro, embora fosse a marca distintiva da
esfera pública, era também uma marca de desqualificação: quem lida com
dinheiro devi.! ser excluído das decisões do Estado - uma esfera reservada
com exclusividade para nobres proprietários de terra.
, Enquanto Mauá trabalha como apóstolo das definições liberais, seus ad-
versanos s~ pautam pelo esquema aristotélico. Lutam para impedir que um
poder que. Imagina m reserva do apenas a eles caia em mãos erradas. Agem
11
' para Impedir o progresso, mas para não perder um comando que lhes
pa c essencial para que ha·a J ordem na soc1"ed ade, mesmo que Isso
. custe o
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jOAQl L f NABT (o
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jOAQl L f NABT (o
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A GÍ!NR~fl DA OBRA
1
Alguns autores, e até o grande historiador Capistraoo de Abreu, referem-se ao pcrfc.>do do rciJladn
de D. Pedro 11 ( 1840-1889) como "Segundo Império", ao mvés de "Segundo Remado" Ao
emprega r essa denominação, tais autores estabelecem, cvJdentemeote. urm analogia cnt r~ 0
2
reinado de D. Pedro 11 e o "Second empire" que transcorria na França na me ma época (!85
1870). Trata-se, no entanto, de um equívoco. o reino de o Pedro 11 configura um verdadeiro
segu ndo reinado no quadro de um mesmo iiiiJII!rio, sucedendo no mesmo sistema constituciOnal
posto em vigor em 1824, no contexto de um mesmo temtóno imperial c na seqüénc•a de uma
regência na qual a continuidade din,stica dos Bragança nfto sofreu interrupçio. Circunst!nc•as
I ~ue não estavam presentes DO Second empire de Napolei~ Ill. " 'm Nabu o
Carta de Joaquim Nabuco a Hiürio de Gouveia. Petrópolis, IO.JII·I894 ·em Joaqw . ·
Um eMadista do implrio, 2 volumes; prcf,cio e cronologra Raymundo Faoro. po~fKJO Evald
11 1317 8
Cabral de Mello (S• edlçlo. Rio de Janeiro· Topbooks, 1997), v • PP • ·
llS
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A GÍ!NR~fl DA OBRA
1
Alguns autores, e até o grande historiador Capistraoo de Abreu, referem-se ao pcrfc.>do do rciJladn
de D. Pedro 11 ( 1840-1889) como "Segundo Império", ao mvés de "Segundo Remado" Ao
emprega r essa denominação, tais autores estabelecem, cvJdentemeote. urm analogia cnt r~ 0
2
reinado de D. Pedro 11 e o "Second empire" que transcorria na França na me ma época (!85
1870). Trata-se, no entanto, de um equívoco. o reino de o Pedro 11 configura um verdadeiro
segu ndo reinado no quadro de um mesmo iiiiJII!rio, sucedendo no mesmo sistema constituciOnal
posto em vigor em 1824, no contexto de um mesmo temtóno imperial c na seqüénc•a de uma
regência na qual a continuidade din,stica dos Bragança nfto sofreu interrupçio. Circunst!nc•as
I ~ue não estavam presentes DO Second empire de Napolei~ Ill. " 'm Nabu o
Carta de Joaquim Nabuco a Hiürio de Gouveia. Petrópolis, IO.JII·I894 ·em Joaqw . ·
Um eMadista do implrio, 2 volumes; prcf,cio e cronologra Raymundo Faoro. po~fKJO Evald
11 1317 8
Cabral de Mello (S• edlçlo. Rio de Janeiro· Topbooks, 1997), v • PP • ·
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UM HS7i\DIS1'A DO /MPÉ/1/0
LUIZ FELJI>B DE ALP.NC'ASTk J
<.fo:. quais referentes ao Segundo Reinado. 3 Depois de sua morte, sua filha, formados pelo en~ino acadêmi~o c a frcqüentaçã~ de biblioteras púbhcas. os
Carolina Nabuco, tirou proveito <.lesse acervo para redigir a sua biografia, A
vida de Joaquim Nabuco ( 1928). pcn'ódicos aparec1am
. . como vc1culos quase . exclusivos da difusão · dt.: idéia~
Como a mawna dos personagens mfluentes da época, Nabuco expnmia
Na elaboração de Um estadista, Nabuco pesquisou outras fontes, obten- seus pontos de vista na imprensa diária. Entre outras colaborações, atuou como
do de alguns contemporâneos de seu pai, ainda vivos no início da década de articulista no jornal A Reforma (em I 87 I ,1872 e 1873), que defendia o 1dcáno
I 890, informações sobre os primeiros anos da vida de Nabuco de Araújo como liberal, travou uma viva polêmica literária com José de Alencar no antigo )ornai
e~tudante de Direito, magistrado c homem político. Assim, a narrativa de Um
0 Globo ( 1875), teve uma coluna diária em O Pafs ( 1886). No recém-funda
e.1tarlista ~e articula em tomo de documentos de natureza bem distinta. do Jornal do Brasil (1891), de inclinação monarquista, Nabuco lançou·sc em
Em primeiro lugar vêm os textos oficiais, que constituem a parte mais discussões sobre D. Pedro li e os homens políticos do Segundo Reinado. Jdé~as.
suh~tantiva da obra. Discursos de Nabuco de Araújo em diversas ocasiões; fragmentos e capítulos de suas obras foram publicados em jorna1s c revista~ do
quando era ministro da Justiça (como a longa intervenção de 23 de março de Rio de Janeiro e de São Paulo antes de tomar a forma de livros completos.
I 866 na Câmara, em resposta aos ataques dos deputados do Partido Liberal, A predominância desse gênero de mídia incidia na maneira de escrever.
texto que Nabuco considera o ''tipo perfeitamente acabado e colorido da arte Na medida em que se dirigiam ao público de leitore. de jornais, os intelectuais
parlamentar'' de seu pai); no posto de senador pela Bahia (tal o discurso "de do Segundo Reinado procuravam fazer uso de um estilo mais direto, evitando o
jurisconsulto e de político de vastas previsões", de 26 de setembro de 1871, a jargão acadêmico europeu e a linguagem especializada das diversas disciplinas
favor da Lei do Ventre Livre que seria aprovada dois dias depois); na exposi- universitárias. Essa circunstância responde pela narrativa segura e clara de
ção de estudos ministeriais de sua responsabilidade (relatórios diversos e em alguns livros importantes da época, como, por exemplo, a llist6ria gctal do
particular a análise sobre a organização do Poder Judiciário apresentada ao Brasil (1854), de Vamhagen, cuja leitura é ainda apreciada pelos estudantes
governo em 1856); no exame de tratados diplomáticos no Conselho de Estado, dos dias de hoje. Já não será mais o caso no final do século, quando o cientificbmo
onde ocupava o posto de relator da seção dos Negócios Estrangeiros (memorial empola a narrativa de muitos autores, e mesmo de jornalistas escritores, como
sobre o tratado das novas fronteiras da Tríplice Aliança com o Paraguai em sucede com Euclides da Cunha em Os sertões. 4
1872J; na introdução de projetos de lei e decretos imperiais recolhidos no apên- O Correio Mercantil (no qual Tavares Bastos publicou seus escritos,
dice documental do livro. Do apêndice também constam textos até então iné- depois reunidos em livros) e o Jornal do Comércio, largamente utilizados na
ditos (cartas • unes Machado, líder da Praieira, à sua mulher; as cartas de feitura de Um estadista, eram os jornais cariocas que serviam de rcfer\:nc1a
Cotegipe ao visconde do Rio Branco) c panfletos sobre a Guerra do Paraguai. nacional no Segundo B,einado. Aliás, o Jornal do Comércio, do qual Nabuco
Em segundo lugar aparecem os artigos e comentários extraídos da im- foi correspondente em Londres, ocupa nessa época um destaque inédito na
prensa do Segundo Reinado c estrangei ra (como a inevitável Revue des Deux- Imprensa brasileira de ontem e de hoje. Constituindo um excelente órgão de
foruies, r i a parisiense de ensaios sociológicos, políticos e literários muito informação e de debate, o jornal se apresentava também como um verdadeiro
l1 a pela eiJtc in clcctual do império; a imprensa argentina, citada na análise "Diário Oficial", publicando decretos, leis e, quase sempre. os debate parla-
dJ cn õe diplomática~ urgidas em 1871 e I872 entre o império e as repúblí- mentares transcritos integralmente por seus taquígrafos na Cámara e no Scna-
c do Prata, na seq t!ncia da Guerra do Paraguai). t um contexto em que a
I' 'ca pari mentar e os d.:bates importantes só tomavam corpo e expressão
e ade1ram n nacional nas estreitas camadas da população escolarizada,
J panflc o e re i tas desempenhavam um papel decisivo. Na ausên· ' Para avahar o contraste entre os dois estilos, compareiii-Je, por exemplo. /J nr~r e a [IJl)D{ li
de Gonçalves de Magalhks, Memória hiJtóríca t docWMnuula da r< olll{du do pro In ra dt
rd e'ro mercado editorial de livros e de uma massa de leitores Maranhão desde 1839 até 1840 {1848}, em Novos Estudo -Ctbrap. a• 23 19 9, PP 14 (,6
Como E~hdes da Cunha em Canudos, Gonçalves de Magalbics regJSUou 110 M.araohSo c• •
ta ao~ antes de Os urliJts, o olhar do i11telec1ualllfballo sobre a~ re10IU s.erWitJI
:"nta de Gonçalves de Magalhães, escorretta e dltcu. lliO faz alarde de btT 11 tco
(>peça em ~lise geológícas
l/li
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UM HS7i\DIS1'A DO /MPÉ/1/0
LUIZ FELJI>B DE ALP.NC'ASTk J
<.fo:. quais referentes ao Segundo Reinado. 3 Depois de sua morte, sua filha, formados pelo en~ino acadêmi~o c a frcqüentaçã~ de biblioteras púbhcas. os
Carolina Nabuco, tirou proveito <.lesse acervo para redigir a sua biografia, A
vida de Joaquim Nabuco ( 1928). pcn'ódicos aparec1am
. . como vc1culos quase . exclusivos da difusão · dt.: idéia~
Como a mawna dos personagens mfluentes da época, Nabuco expnmia
Na elaboração de Um estadista, Nabuco pesquisou outras fontes, obten- seus pontos de vista na imprensa diária. Entre outras colaborações, atuou como
do de alguns contemporâneos de seu pai, ainda vivos no início da década de articulista no jornal A Reforma (em I 87 I ,1872 e 1873), que defendia o 1dcáno
I 890, informações sobre os primeiros anos da vida de Nabuco de Araújo como liberal, travou uma viva polêmica literária com José de Alencar no antigo )ornai
e~tudante de Direito, magistrado c homem político. Assim, a narrativa de Um
0 Globo ( 1875), teve uma coluna diária em O Pafs ( 1886). No recém-funda
e.1tarlista ~e articula em tomo de documentos de natureza bem distinta. do Jornal do Brasil (1891), de inclinação monarquista, Nabuco lançou·sc em
Em primeiro lugar vêm os textos oficiais, que constituem a parte mais discussões sobre D. Pedro li e os homens políticos do Segundo Reinado. Jdé~as.
suh~tantiva da obra. Discursos de Nabuco de Araújo em diversas ocasiões; fragmentos e capítulos de suas obras foram publicados em jorna1s c revista~ do
quando era ministro da Justiça (como a longa intervenção de 23 de março de Rio de Janeiro e de São Paulo antes de tomar a forma de livros completos.
I 866 na Câmara, em resposta aos ataques dos deputados do Partido Liberal, A predominância desse gênero de mídia incidia na maneira de escrever.
texto que Nabuco considera o ''tipo perfeitamente acabado e colorido da arte Na medida em que se dirigiam ao público de leitore. de jornais, os intelectuais
parlamentar'' de seu pai); no posto de senador pela Bahia (tal o discurso "de do Segundo Reinado procuravam fazer uso de um estilo mais direto, evitando o
jurisconsulto e de político de vastas previsões", de 26 de setembro de 1871, a jargão acadêmico europeu e a linguagem especializada das diversas disciplinas
favor da Lei do Ventre Livre que seria aprovada dois dias depois); na exposi- universitárias. Essa circunstância responde pela narrativa segura e clara de
ção de estudos ministeriais de sua responsabilidade (relatórios diversos e em alguns livros importantes da época, como, por exemplo, a llist6ria gctal do
particular a análise sobre a organização do Poder Judiciário apresentada ao Brasil (1854), de Vamhagen, cuja leitura é ainda apreciada pelos estudantes
governo em 1856); no exame de tratados diplomáticos no Conselho de Estado, dos dias de hoje. Já não será mais o caso no final do século, quando o cientificbmo
onde ocupava o posto de relator da seção dos Negócios Estrangeiros (memorial empola a narrativa de muitos autores, e mesmo de jornalistas escritores, como
sobre o tratado das novas fronteiras da Tríplice Aliança com o Paraguai em sucede com Euclides da Cunha em Os sertões. 4
1872J; na introdução de projetos de lei e decretos imperiais recolhidos no apên- O Correio Mercantil (no qual Tavares Bastos publicou seus escritos,
dice documental do livro. Do apêndice também constam textos até então iné- depois reunidos em livros) e o Jornal do Comércio, largamente utilizados na
ditos (cartas • unes Machado, líder da Praieira, à sua mulher; as cartas de feitura de Um estadista, eram os jornais cariocas que serviam de rcfer\:nc1a
Cotegipe ao visconde do Rio Branco) c panfletos sobre a Guerra do Paraguai. nacional no Segundo B,einado. Aliás, o Jornal do Comércio, do qual Nabuco
Em segundo lugar aparecem os artigos e comentários extraídos da im- foi correspondente em Londres, ocupa nessa época um destaque inédito na
prensa do Segundo Reinado c estrangei ra (como a inevitável Revue des Deux- Imprensa brasileira de ontem e de hoje. Constituindo um excelente órgão de
foruies, r i a parisiense de ensaios sociológicos, políticos e literários muito informação e de debate, o jornal se apresentava também como um verdadeiro
l1 a pela eiJtc in clcctual do império; a imprensa argentina, citada na análise "Diário Oficial", publicando decretos, leis e, quase sempre. os debate parla-
dJ cn õe diplomática~ urgidas em 1871 e I872 entre o império e as repúblí- mentares transcritos integralmente por seus taquígrafos na Cámara e no Scna-
c do Prata, na seq t!ncia da Guerra do Paraguai). t um contexto em que a
I' 'ca pari mentar e os d.:bates importantes só tomavam corpo e expressão
e ade1ram n nacional nas estreitas camadas da população escolarizada,
J panflc o e re i tas desempenhavam um papel decisivo. Na ausên· ' Para avahar o contraste entre os dois estilos, compareiii-Je, por exemplo. /J nr~r e a [IJl)D{ li
de Gonçalves de Magalhks, Memória hiJtóríca t docWMnuula da r< olll{du do pro In ra dt
rd e'ro mercado editorial de livros e de uma massa de leitores Maranhão desde 1839 até 1840 {1848}, em Novos Estudo -Ctbrap. a• 23 19 9, PP 14 (,6
Como E~hdes da Cunha em Canudos, Gonçalves de Magalbics regJSUou 110 M.araohSo c• •
ta ao~ antes de Os urliJts, o olhar do i11telec1ualllfballo sobre a~ re10IU s.erWitJI
:"nta de Gonçalves de Magalhães, escorretta e dltcu. lliO faz alarde de btT 11 tco
(>peça em ~lise geológícas
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UM I \1,1/l/\1,\ /itl /M/'1 H/li I.lllZ i'l~l.ll'l'. IJI AI hN< AS .tO
1 ltl Nahuco jll'MJllisuu as etlk\ocs do Jmnal do Comércio p·trn s · inteirar do Um t•s/ltdista comporta uma terceira série de documento,, formutla pot
.wthil'nk poltttw tlll~ prilllL'itos anos da cat rdra de seu pai, ~ohretudo durante os . ·scências, correspondência privada c descriçücs de cidadL•. L' ambtcnt ·
rernutt. ,. . . .
atlll~ em que ck proprio se encontrava ausente do país, na Europa ( 1873 1874 c onde viveu Nabuco de ArauJO. Dessa formn .. o ltvro Incorpora as inter ·s~anlt'~
J, 77) l' t'lll Washingtnn ( 187(!). Em todo caso, llm t•statlisfa está semeado de obsl:rvações do barão de Penedo, sobre a v1da dos estudantes de Direito em
1 ·ktL'Ilcia~ cxpltcit,ts ou impltcitas às matcrias editoriais do Jomal do Comér- Olinda na década de 1830, quando Nabuco Ara(tjo completava cu curso.
r w. cujo L'Stilt tl.msparccc em algumas da pas agens do livro. ·1 Boa parte da bibliografia oitocentista relativa ao império tamhl!m consta d.ts
llavi.t outro g~ncro de imprensa, reprc. cntado pelas folha de província rdcrências da obra. Algumas vezes (como na abordagem da Lei do Yt:ntrc
c o. JOt nais partidarios. Praticando uma linguagem mais livre c aberta ao bra- Livre ou da Questão Religiosa), Nabuco indica em nota de rodape o livros
silcmsmo d,t smtaxe c do ocabulário -como o demonstra o periódi o recifcnsc mais importantes publicados sobre o tema focalizado em seu capítulo.
O ('araprtn•im tI R32-18·l2). do padre Lopes Gama-, muitos des,cs pcriódi- Na parte dos depoimentos que ajudaram a constituir a obra, é intercs~an
~.:o , que haviam conhecido seu momento de glória na descentralização política tc Jar relevo às pessoas que Nabuco freqüentava quando redigia Um estadiç
operada durante a rcgcncia, ainda continuavam ativos.h Nabuco de Araújo, ta. Nessa época, informa Evaldo Cabral de Mello, junto com outros dois
julgando os cYento da Revolução Praieira, considerava tais jornai "foco de pernambucanos que haviam ocupado postos eminentes no Segundo Reinado
anarquia imoralidade". cu filho e pressa no livro uma opinião mais tolerante (João Alfredo, conselheiro de Estado, senador, ministro do império no mini t<!-
obre c , as "folha volantes. segundo o sistema de pasquim, que é o que tem- rio da Lei do Ventre Livre e presidente do Conselho de Ministro que promul-
peru\a anllgamentc a prepotência da autoridade". Entretanto, Nabuco reserva gou a Abel ição, e Soares Brandão, senador e ministro dos Negócios Estrangeiros
sua preferência à grande imprensa compassada e séria da corte, uma das no gabinete de 24 de maio de 1883), seus vizinhos de ma no bairro de Botafogo.
base da documentação de Um estadista. no Rio de Janeiro, Nabuco entretinha discussões sobre o passado recente do
Acresce ainda a enorme influência- difícil de avaliar no Brasil descen- império. Cabral de Mello registra alguns ecos dessas conversas nas páginas de
tralizado e televisual da atualidade- da corte e de sua imprensa. Capital do Um estadista do império. 8 Logo de saída, no prefácio do livro, Nabuco marca
império, sede do governo e das representações diplomáticas, maior centro ur- o contraste entre o período histórico que se propunha a descrever e os transes
bano, econômico e cultural da nação, dispondo de um porto que canalizava dois políticos do momento. A disparidade entre as "lutas pacíficas" do império e o
terços do comércio externo do país e constituía escala obrigatória das grandes estrondo dos canhões da marinha na Baía de Guanabara, que tumultuavam os
carreiras marítimas (o Canal do Panamá só será inaugurado em 1914), o Rio primeiros anos da república, durante a Revolta da Annada (1893-1894), quan-
de Janeiro detmha uma hegemonia jamais igualada por nenhuma outra cidade do começou a redigir a biografia de seu pai.
bra ileira do passado ou presente. Na realidade, a hegemonia política e cultu- De posse desse variado e copioso acervo documental, Nabuco deu a Um
ral do Rio de Janeiro tem seu peso na maneira pela qual Nabuco concebe o estadista uma forma específica que merece ser examinada.
Segundo Reinado e a história do Brasil oitocentista.
A ESTRUTURA DO UVRO
Como foi assinalado por vários comentadores, a obra va1· a1'em da biogra-
' Quando o acesso e a leitura do Jornal da Comércio se tornarem facilitados pela cópia doS
mtcrofilmes dos exemplares oilocentistas em CDs. ficará clara a enorme influência desse peri6·
fia para abranger análises sóbre os temas da época. a sociedade e os modos de
dtco sobre: a forma, o conteúdo e o csttlo dos livros poHticos da época.
' P.tdrc Lopes Gama. O Carapuceiro 1832·1842, prefácio de Leonardo Dantas Silva, 3 volumes 7 p . . . d longOS anos embatxador do
(Rectfe Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1983). Para uma coletânea e um comeotiriO ranc•sco Carvalho Moreira, o bario de Penedo, bam Slllo uran&e de 1877)
tntrodutóno das crõmcas publicadas nesses três volumes, cf. Evaldo Cabral de Mello (org.), O B ·1 . . denS como adido 1ega~ 1
rast em Londres, e Joaquim Nabuco ah semra sob suas or N Luiz Felipe d
''' pu<.~tro (São Pauto: Companhia das Letras, 1996). Para um apanhado geral sobre o telllli Evaldo Cabral de Mello, "O fim das casas-grandes". em Fcmando ov::; a mudtrnuúule
I 1 l tann•. Conrribuiçdo à história da imprensa braúleira 1812-1869 (Rio de Jaudr Alcncastro (orgs.), Hlst4rla da vida prlvoda no BTtJSU - Jmpino. ~
1117, en .a NaciOnal, 1945) l14cio~~al, volume 11 (Sio Paulo: Compubia dls Letra. l991). pp.
118
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1 ltl Nahuco jll'MJllisuu as etlk\ocs do Jmnal do Comércio p·trn s · inteirar do Um t•s/ltdista comporta uma terceira série de documento,, formutla pot
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atlll~ em que ck proprio se encontrava ausente do país, na Europa ( 1873 1874 c onde viveu Nabuco de ArauJO. Dessa formn .. o ltvro Incorpora as inter ·s~anlt'~
J, 77) l' t'lll Washingtnn ( 187(!). Em todo caso, llm t•statlisfa está semeado de obsl:rvações do barão de Penedo, sobre a v1da dos estudantes de Direito em
1 ·ktL'Ilcia~ cxpltcit,ts ou impltcitas às matcrias editoriais do Jomal do Comér- Olinda na década de 1830, quando Nabuco Ara(tjo completava cu curso.
r w. cujo L'Stilt tl.msparccc em algumas da pas agens do livro. ·1 Boa parte da bibliografia oitocentista relativa ao império tamhl!m consta d.ts
llavi.t outro g~ncro de imprensa, reprc. cntado pelas folha de província rdcrências da obra. Algumas vezes (como na abordagem da Lei do Yt:ntrc
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O ('araprtn•im tI R32-18·l2). do padre Lopes Gama-, muitos des,cs pcriódi- Na parte dos depoimentos que ajudaram a constituir a obra, é intercs~an
~.:o , que haviam conhecido seu momento de glória na descentralização política tc Jar relevo às pessoas que Nabuco freqüentava quando redigia Um estadiç
operada durante a rcgcncia, ainda continuavam ativos.h Nabuco de Araújo, ta. Nessa época, informa Evaldo Cabral de Mello, junto com outros dois
julgando os cYento da Revolução Praieira, considerava tais jornai "foco de pernambucanos que haviam ocupado postos eminentes no Segundo Reinado
anarquia imoralidade". cu filho e pressa no livro uma opinião mais tolerante (João Alfredo, conselheiro de Estado, senador, ministro do império no mini t<!-
obre c , as "folha volantes. segundo o sistema de pasquim, que é o que tem- rio da Lei do Ventre Livre e presidente do Conselho de Ministro que promul-
peru\a anllgamentc a prepotência da autoridade". Entretanto, Nabuco reserva gou a Abel ição, e Soares Brandão, senador e ministro dos Negócios Estrangeiros
sua preferência à grande imprensa compassada e séria da corte, uma das no gabinete de 24 de maio de 1883), seus vizinhos de ma no bairro de Botafogo.
base da documentação de Um estadista. no Rio de Janeiro, Nabuco entretinha discussões sobre o passado recente do
Acresce ainda a enorme influência- difícil de avaliar no Brasil descen- império. Cabral de Mello registra alguns ecos dessas conversas nas páginas de
tralizado e televisual da atualidade- da corte e de sua imprensa. Capital do Um estadista do império. 8 Logo de saída, no prefácio do livro, Nabuco marca
império, sede do governo e das representações diplomáticas, maior centro ur- o contraste entre o período histórico que se propunha a descrever e os transes
bano, econômico e cultural da nação, dispondo de um porto que canalizava dois políticos do momento. A disparidade entre as "lutas pacíficas" do império e o
terços do comércio externo do país e constituía escala obrigatória das grandes estrondo dos canhões da marinha na Baía de Guanabara, que tumultuavam os
carreiras marítimas (o Canal do Panamá só será inaugurado em 1914), o Rio primeiros anos da república, durante a Revolta da Annada (1893-1894), quan-
de Janeiro detmha uma hegemonia jamais igualada por nenhuma outra cidade do começou a redigir a biografia de seu pai.
bra ileira do passado ou presente. Na realidade, a hegemonia política e cultu- De posse desse variado e copioso acervo documental, Nabuco deu a Um
ral do Rio de Janeiro tem seu peso na maneira pela qual Nabuco concebe o estadista uma forma específica que merece ser examinada.
Segundo Reinado e a história do Brasil oitocentista.
A ESTRUTURA DO UVRO
Como foi assinalado por vários comentadores, a obra va1· a1'em da biogra-
' Quando o acesso e a leitura do Jornal da Comércio se tornarem facilitados pela cópia doS
mtcrofilmes dos exemplares oilocentistas em CDs. ficará clara a enorme influência desse peri6·
fia para abranger análises sóbre os temas da época. a sociedade e os modos de
dtco sobre: a forma, o conteúdo e o csttlo dos livros poHticos da época.
' P.tdrc Lopes Gama. O Carapuceiro 1832·1842, prefácio de Leonardo Dantas Silva, 3 volumes 7 p . . . d longOS anos embatxador do
(Rectfe Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1983). Para uma coletânea e um comeotiriO ranc•sco Carvalho Moreira, o bario de Penedo, bam Slllo uran&e de 1877)
tntrodutóno das crõmcas publicadas nesses três volumes, cf. Evaldo Cabral de Mello (org.), O B ·1 . . denS como adido 1ega~ 1
rast em Londres, e Joaquim Nabuco ah semra sob suas or N Luiz Felipe d
''' pu<.~tro (São Pauto: Companhia das Letras, 1996). Para um apanhado geral sobre o telllli Evaldo Cabral de Mello, "O fim das casas-grandes". em Fcmando ov::; a mudtrnuúule
I 1 l tann•. Conrribuiçdo à história da imprensa braúleira 1812-1869 (Rio de Jaudr Alcncastro (orgs.), Hlst4rla da vida prlvoda no BTtJSU - Jmpino. ~
1117, en .a NaciOnal, 1945) l14cio~~al, volume 11 (Sio Paulo: Compubia dls Letra. l991). pp.
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e os au•ores suscetí eis de ter influenciado a feitura de
nho ara mim que os críticos ensaístas contemporâneos (como
portugue~a .
H . de, ;I, hiteJ. os sociólogos, e mesmos os sociólogos-historiadores, como
, 'uma longa digressão sobre a excelência da at 'na plartar!lc;.t;u
R do Faoro, sube ~imam o impacto das fontes no trabalho do historia-
pai. J ·abuco pretende que ele nunca "escre·.eu m d u IJlJ
d 'a \ erdade, todo historiador, ao lidar com as fontes primárias (manus-
discurso··. Machado de Assis, relembrando a época em que co Ja c mo
cnto . documentos impresso e. eventualmente. testemunhos orais) -
lista as sessões do Senado para o Diário do Rto de Janeim. dÍ.l o c ár
in strumento e sencial de seu ofício -. é levado a selecionar. organizar e
minha impressão é que preparava os seus d1scu os··. 4 Frase pouco i ci 1 a q
hierarquiar o material disponível obre o tema que se propõe estudar. Nesse
se deve, talvez, a divergência pontual com, 'abuco. seu am:go fraterno na época
proc so elas 1ficatóno, o histon<.~dor privilegia determinadas fontes, usa de
da redação de Um estadista. Mas é Machado quem tem razão. Como a m.l na
outra de maneira secundária e negligencia as séries documentais que, na sua
dos parlamentares que se preocupavam em deixar suas f <tias registrada p<tra
a·.aJiação, contêm dados insuficientes ou inapropriados ao enfoque de seu es-
posteridade, Nabuco de Araújo preparava seus di:.curws e em seguida o ree -
tudo. A partir d:.tí, >CU trabalho passa a ser moldado, condicionado e até res-
crevia, a partir da taquigrafia registrada no Senado ou na Cámara O recurso .l
tringido pela natureza das fontes. o limite, os capítulos de um livro podem se
citações latinas, que aparece com alguma freqtiéncia nos d1scursos parlamcnta
reve ir de formatos diferenciados. Um historiador que esteja escrevendo um
res e na narrativa do livro, também deve sercontextualizado. Com efe:to o latin 'no
h vro obre o tráfico negreiro, por exemplo, será levado a redigir as partes
básico, herdado do ensino jesuítico e religioso da época colonial. d hulhado na
relativas a análi t:: quantitativa de seu tema de maneira bastante diversa do
aulas de catecismo, do ensino secundário e, com mais dcnsJdade. nas faculdade
capítulo em que aborda, baseado em fontes de outra natureza, o debate teoló-
de Direito, fazia parte da cultura da população escolarizada do impéno e da
gico c mí~~ionário sobre a legitimidade da escravidão no século XVII.
primei ras décadas da república.
Ob-. ia mente, o gênero biográfico, e muito mai s ainda, a redação da bio-
Quando apareceu o primeiro tomo de Um e.\tadista. José \'erí s1mo afir-
grafia paterna. não se presta a essa prolixidade de estilos. Ainda assim, Nabuco
mou que a intercalação dos discursos e textos oficiais con tituía um "dcfe1t
d1 punha, como se pôde entrever nas páginas acima, de fontes bastante varia-
[... J na estrutura do livro". 1 ~ Veríssimo escrevia numa conjuntura em que ta1
da • que poderiam ter imprimido um feitio diferente a Um estadista. O fato de
0 discursos ainda não tinham adquirido a estampa de documentos histórico · 't•
livro Ler tomado o tom compassado e institucional que o caracteriza não
entanto, quer tenha sido um defeito ou, ao contrário, um efc.:ito narrdli\O
?ecorre simplesmente do amor filial que movia seu autor. Decorre, isso sim, da
m crprctação política que Joaquim Nabuco enuncia sobre o império a partir deliberadamente elaborado, o procedimento contribuiu, com o passar do anos.
d<Js fontes -discursos parlamentares, documentos do Conselho de Estado. P~ra dar o tom edificante que caracteriza a obra. Retratando questõe di tan-
~Iadas da atualidade republicana e incorporadas ao passado- um pa. ado q_uc
"ruptura histórica provocada pcla Abolição fazia ficar cada vez mais longtn
~~1<!6 Yltlril
I
lla
r m co ,.
Fazenda. "Antiqualhas e memórias do R1o de Janeiro" em Revi.1ta do lmtituto
r;,,~rájlro BrtHiielfo, tomo 95, vol 149, 1927, PP 24G-50
n Whlle Metnh 11 rory TI /li . . . . · •
::------
m 0\'c 10 h H te storu·at lmagm a11on 111 Nwetet!nlh-Century Europt .. Machado de Assis, "O velho Senado", em Joaqu1m Nabuco, Um estaduta dt 111 ' >ll ·
a 11 d 10 ,r /~ opk~ns Un~ve" Y 11 Press, l975 , The Contento[ the Form. Narrative Díscount u Ane~o. v 11, p. 1280.
a epre~rnrnrton (Ilalttmore Johns Hopkins Unlversity Press, 1990). Jos~ Verlssimo. "Um historiador poHtico, o sr Joaqu1m abuco • em Joaq •m ah c L'
~ltadura do imphw, cit., Anexo. v 11, p 1300.
12J
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e os au•ores suscetí eis de ter influenciado a feitura de
nho ara mim que os críticos ensaístas contemporâneos (como
portugue~a .
H . de, ;I, hiteJ. os sociólogos, e mesmos os sociólogos-historiadores, como
, 'uma longa digressão sobre a excelência da at 'na plartar!lc;.t;u
R do Faoro, sube ~imam o impacto das fontes no trabalho do historia-
pai. J ·abuco pretende que ele nunca "escre·.eu m d u IJlJ
d 'a \ erdade, todo historiador, ao lidar com as fontes primárias (manus-
discurso··. Machado de Assis, relembrando a época em que co Ja c mo
cnto . documentos impresso e. eventualmente. testemunhos orais) -
lista as sessões do Senado para o Diário do Rto de Janeim. dÍ.l o c ár
in strumento e sencial de seu ofício -. é levado a selecionar. organizar e
minha impressão é que preparava os seus d1scu os··. 4 Frase pouco i ci 1 a q
hierarquiar o material disponível obre o tema que se propõe estudar. Nesse
se deve, talvez, a divergência pontual com, 'abuco. seu am:go fraterno na época
proc so elas 1ficatóno, o histon<.~dor privilegia determinadas fontes, usa de
da redação de Um estadista. Mas é Machado quem tem razão. Como a m.l na
outra de maneira secundária e negligencia as séries documentais que, na sua
dos parlamentares que se preocupavam em deixar suas f <tias registrada p<tra
a·.aJiação, contêm dados insuficientes ou inapropriados ao enfoque de seu es-
posteridade, Nabuco de Araújo preparava seus di:.curws e em seguida o ree -
tudo. A partir d:.tí, >CU trabalho passa a ser moldado, condicionado e até res-
crevia, a partir da taquigrafia registrada no Senado ou na Cámara O recurso .l
tringido pela natureza das fontes. o limite, os capítulos de um livro podem se
citações latinas, que aparece com alguma freqtiéncia nos d1scursos parlamcnta
reve ir de formatos diferenciados. Um historiador que esteja escrevendo um
res e na narrativa do livro, também deve sercontextualizado. Com efe:to o latin 'no
h vro obre o tráfico negreiro, por exemplo, será levado a redigir as partes
básico, herdado do ensino jesuítico e religioso da época colonial. d hulhado na
relativas a análi t:: quantitativa de seu tema de maneira bastante diversa do
aulas de catecismo, do ensino secundário e, com mais dcnsJdade. nas faculdade
capítulo em que aborda, baseado em fontes de outra natureza, o debate teoló-
de Direito, fazia parte da cultura da população escolarizada do impéno e da
gico c mí~~ionário sobre a legitimidade da escravidão no século XVII.
primei ras décadas da república.
Ob-. ia mente, o gênero biográfico, e muito mai s ainda, a redação da bio-
Quando apareceu o primeiro tomo de Um e.\tadista. José \'erí s1mo afir-
grafia paterna. não se presta a essa prolixidade de estilos. Ainda assim, Nabuco
mou que a intercalação dos discursos e textos oficiais con tituía um "dcfe1t
d1 punha, como se pôde entrever nas páginas acima, de fontes bastante varia-
[... J na estrutura do livro". 1 ~ Veríssimo escrevia numa conjuntura em que ta1
da • que poderiam ter imprimido um feitio diferente a Um estadista. O fato de
0 discursos ainda não tinham adquirido a estampa de documentos histórico · 't•
livro Ler tomado o tom compassado e institucional que o caracteriza não
entanto, quer tenha sido um defeito ou, ao contrário, um efc.:ito narrdli\O
?ecorre simplesmente do amor filial que movia seu autor. Decorre, isso sim, da
m crprctação política que Joaquim Nabuco enuncia sobre o império a partir deliberadamente elaborado, o procedimento contribuiu, com o passar do anos.
d<Js fontes -discursos parlamentares, documentos do Conselho de Estado. P~ra dar o tom edificante que caracteriza a obra. Retratando questõe di tan-
~Iadas da atualidade republicana e incorporadas ao passado- um pa. ado q_uc
"ruptura histórica provocada pcla Abolição fazia ficar cada vez mais longtn
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Fazenda. "Antiqualhas e memórias do R1o de Janeiro" em Revi.1ta do lmtituto
r;,,~rájlro BrtHiielfo, tomo 95, vol 149, 1927, PP 24G-50
n Whlle Metnh 11 rory TI /li . . . . · •
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m 0\'c 10 h H te storu·at lmagm a11on 111 Nwetet!nlh-Century Europt .. Machado de Assis, "O velho Senado", em Joaqu1m Nabuco, Um estaduta dt 111 ' >ll ·
a 11 d 10 ,r /~ opk~ns Un~ve" Y 11 Press, l975 , The Contento[ the Form. Narrative Díscount u Ane~o. v 11, p. 1280.
a epre~rnrnrton (Ilalttmore Johns Hopkins Unlversity Press, 1990). Jos~ Verlssimo. "Um historiador poHtico, o sr Joaqu1m abuco • em Joaq •m ah c L'
~ltadura do imphw, cit., Anexo. v 11, p 1300.
12J
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,ulle s "'' ~ 11 a apwva(:tll nu l'arl:une•nto. ri
No~ ~~tiS 'li os <' nos sc:us ac'l't tos. N;~htlco, ('01110 todo ht\toll;rdm l <'~ta
tributa I io tlncllnjunllltll historica q111' divi~avu Nos ano de ll'<Lrç. 1n do flVI o,
unn peldiu pt•r·cehc:l' os desdoh1 amcntos ullt·r lcm·~ de algn11s dos h'nl.ls pollltn>~
,. sociais qut' su1·gi11111 110 finnl do impcSrin. Fator que tL'r.! l<llttli'm JWs.ldo na
~ suheslinlU(!IO do pu~wl da política i1nigranli~1a .
1111
Mnis complicado c o salto sobre algutna~ q1H'S1tks do pass.tdo, ,. , 1 rl'I.J
v:1brevidade com que o livro uborda as laboriosas ncgodaçc •s dtplmnatic.ls,
11
'IH< 11·, 11 .!1111.l< ltn.l. p.lr.l .lhll<'< . '' l'.u'lam 'llln ·ongrcgav.1os ugt·n- econômicas, políticas t: policiais prcct:dcndo a suprcs~ao do tdfico nq!tciro
lh .1 .1<' d.1 m~11t11 'll'll.ll l/ ,1 ' ,1\1 d.1 pllllllca ht.1~i1L•i1.1. Desde l~1go, clandcstino em I 850. Nus suas estadas em Londn·s, Juaquim Nahuco le·u. Jo
c1 ·ntl' • da .Hn td.H.k . q11c St' dt·~cnrol.un à margem da t 'âmum m~:nos em parte, os autos das comissões parlamt:ntarcs de inquérito do Paria
· ],, • t n.lth' 11.1<' ·LI nr • · m u llltl ~tup.1s es~enci.li. d.1 histotia nnpetial c. por mcnto britânico obre o tdfico de africanos. Há nl'ssa documentação d.H.lm
'"'' m ·-.n,. n"'' !!·lnh.un l •st.1quc em Um , •.~fadista Pc f.lto. o livm passa ao d~:vastndorcs sohre o comprometimento brasileiro na pirataria ncgrcir.t. rK De
l.lr•'t' J.t pt ltti 'o i rcgtonalt• munil..tpal. J · mo1 tmcntos rq;ionaliMa c. de uma putado, seu pai acompanhou, a partir de 1848. as tratativa~ oficiais c oficiosas
nwt •i r.t !! •t.JI da. l}Ul' ~ t&: debatida 11.1s câmar.1s e nas asscmblciu provin- que 0 gabinete saquarcma c, sobretudo, o ministro da Justiça. Eusébio Qlll•ir(s
c·i.ti~ . cl'lu.mdo. oh\ tJillt'llh:, J Revolução Praieira. CliJ.l devassa judicial foi e 0 ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulino Soares de Sousa (viscondc de
lt·' .td.t .1 c'.1hn pt'r N.thucn de .\r.IUJO. ,\Jguns comcntadorcs da obra obscrva- Uruguai), desenvolviam com os fazendeiro e negreiros brasileiros, de um lado.
r.mt. '<'11\ pc n i n(lnci;.~. que o objetivo de JoJquim ahuco consi tia em seguir o e com o governo britânico, de outro, sobre a que tão mais perigosa enfrentada
iunct u i11 poltl i '' de seu pai . t' n:io em redtgtr a hi tôria do império. Ainda pelo império. Considerado pelo direito internacional um ato de pirataria. o trá -
,1 un. h. 1~m.1' com o~ quat, 1 ahuco de Araújo lidou bastante que não rcce- fico negreiro brasileiro estava à beira de provocar um conflito armado com a
~ m no h' 10 um L•• IJmcnto à .11t11ra
Inglaterra. Apesar da cessação do tráfico clandestino em 1850. as tensões
f ai te mJ d.1 imigr.tção c do tr.1halho rural. mal resolvido nas discussões persistiram em torno do estatuto dos africanos introduzidos após a lei de 7 dc
no PJl'lantcnlo, ma 'i\ Jmcntc dc b:rtido 0:1 província , obretudo em São Paulo. novembro de 183 J. Tensões que desembocaram no "affaire Christie". levan-
Efcti\ .nncntc. L m c.ltaclisra não trJtJ da Lei de Locação de Serviços na Agri· do à ruptura de relações diplomáticas entre a Inglaterra e o Brasil (1863-1865).
cullur.1 11,'791. à qual Nabuco de Araújo dedicou boa parte de sua atenção no Como se sabe, a lei de 1831 proibia o tráfico atlântico de escravos c determ!·
pcn do qu' prcc ·dc u . u.t morte. Concebida para fazer a junção entre a políti· nava a imediata soltura dos africanos introduzidos após essa data, os quats
c.1 nnigrant1sta que s • in iciava e a legislação emancipacionista que fechava eram considerados homens livres. Conseqüentemente, todos os proprietários
tr~s < iculo d l' . cravismo. de pcnneio aos interesses divergentes dos fazen·
de africanos desembarcados após 1831 estavam praticando o crime de man~~r
pessoas livres em cárcere privado. Ministro da Justiça, Nabuco de ArauJO
dwos do 'ordestc e do Centro-Sul quanto à imigração estrangeira c à migra·
arbitrou questões delicadas sobre a matéria. Em 1854, no desdobramento de
<~ inLerprO\ incial dos trah.1lhadores livres e ex-escravos, a lei de 1879 constiLUía
uma decisão do Senado, ele redigiu uma recomendação aos delegados de po·
'qua t' um Código Rural", segundo os comentadores da época. Para redigi-la.
o então ~on elheiro de Estado e tudou os relatórios das comissões sobre a
imt_;r.tção que e tiveram em São Paulo, como também a legislação européia
.ttm·nt ao trabalho compulsório nas colônia oitocentistas. A despeito de ter " V. . unier Da tscra••idiio '"' Trabu -
• . La
CJa-se a esse respeito o livro esclarecedor de Mana Luc•o · mo
fL ... c,•nhec ldJ como Lei Sinimbu (presidente do Conselho de Ministros e • lho livre (Campinas: Papiros. 1988). . em O> rdatonos dJ>
mi Tl' da .,;cultura do gabinete que apre entou o projeto referente a essa No livro, Nabuco se refere aos Britüll Parliamtnrary Paptrs que reun
COmissões da Câmara dos Comuns e da Câmara dos Lordes rclabvos li queseãu
127
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DO IVI'lRIO
LUIZ FELIPE DI! AL CASTRO
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LUIZ FELIPE DI! AL CASTRO
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I 11\ li I u.lll' ( l '1111.11 .lpt>hlll.l bt.l'>ikiloll' ·' pt>lllit.l dllS diSl'UI'SOS oh ial I n•l" ussim criudu nos eleitos preteridos nu nomeaç o.
'I'''"'' d ,, 1·h11'' ""''''!"''•" IIIIIUII'.ul.am•·llh• Fmll!>l.lollnd.a tcnhu influ ru:ia Contudo, cl n o e permite n nhuma ob •rvnç o irrev r ntc. Não hn
"'''' b 11 p.uh·d.1hi''"'"''l.th.t "'"''I>IIIIJ ''"·''"•I iutl'f111 tm; oc·td ndo t'lll (lm t•stadista nudn qu se comp rc i\s sutil za. d M chudo d Assi
jll \(1\IIIJII.l I •J,I 1'<'\')llhol\ 111,11\ I ' t'lllt'S t(Uandom ncionu, por e mplo, a urdez do murqu s de OI inda, ohrigundo ou
1 11111.1 l·lllt' ,1,1 ol•11. Nabu,·,, d · \J.1111n \olra u ol·upur u frente da dt'Sl'l'r c.lu tribuna pnru ntar-s ao ludo do pariam •ntur qu o apurt•uvu; a
1 ·11.1 '"'·' ~ •'-' '"·' ,,tu.t,.h, l'llh1JIIII't·'· ,.,,n,,·Jht•im de I· tudo, pen dor do mania úo scnudor gnú ho Jos d rnújo Ribeiro, viscond do Rio Orand ,
t \ b ., ·,, 11 \ ,,,,, "''·•n•· ' '1111,1\1.1 lllllliJ intt'rpl ·t.u;ao g ral . obre reaime st•mpre com o di iondrio M rni ao u lado paru verificar " tais ou tai
"ou p.11.1vras de um orad r rnm u n o I gftimus". 'em aparnt v macular, a
tl'rtt·ira ironiumuchndiann dem I a imag m d um enador mo o mnrqu
de: llanhac m, "s m d nte nem vai r político", para fonnular uma fina an li
Pt1htka: "a figuru d lt nha mera uma raz!o vi {vel contra vitah iedade do
St:11.1do, ma. t mbém no qu a italiciedade dava qu la ca a uma
l'il'ncia de durnç o perpétua, que parecia ler- e no ro to e n trat d
m mbro.".'
~~~nru wna om:•• anllp, lupr de rewailo doi prfcanea. ODdc 101111 111 rd Cll$la do
• tao.lo, além dclc:s, Jflllldc námaro de ~ pdbllool e car101 c:idldiGI a QI&CIIIIC conmfia
1
~ 1 Jlfl\il gto em f«''IIIJICIISI de erviÇOI preslldoll ~ (Dkioúrlo ri~
1
• qu•m abuco, o tlbolit-UJIIUMO 41 ec1ç1o (Pdnlpolla: lm), pp 1 0.171
lach.tdo de Assl "() velllo SCIIIdD • • ICIIIpdll U. ,.,.,.,. dD AIINO.
11. p 12 7.
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1 11111.1 l·lllt' ,1,1 ol•11. Nabu,·,, d · \J.1111n \olra u ol·upur u frente da dt'Sl'l'r c.lu tribuna pnru ntar-s ao ludo do pariam •ntur qu o apurt•uvu; a
1 ·11.1 '"'·' ~ •'-' '"·' ,,tu.t,.h, l'llh1JIIII't·'· ,.,,n,,·Jht•im de I· tudo, pen dor do mania úo scnudor gnú ho Jos d rnújo Ribeiro, viscond do Rio Orand ,
t \ b ., ·,, 11 \ ,,,,, "''·•n•· ' '1111,1\1.1 lllllliJ intt'rpl ·t.u;ao g ral . obre reaime st•mpre com o di iondrio M rni ao u lado paru verificar " tais ou tai
"ou p.11.1vras de um orad r rnm u n o I gftimus". 'em aparnt v macular, a
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de: llanhac m, "s m d nte nem vai r político", para fonnular uma fina an li
Pt1htka: "a figuru d lt nha mera uma raz!o vi {vel contra vitah iedade do
St:11.1do, ma. t mbém no qu a italiciedade dava qu la ca a uma
l'il'ncia de durnç o perpétua, que parecia ler- e no ro to e n trat d
m mbro.".'
~~~nru wna om:•• anllp, lupr de rewailo doi prfcanea. ODdc 101111 111 rd Cll$la do
• tao.lo, além dclc:s, Jflllldc námaro de ~ pdbllool e car101 c:idldiGI a QI&CIIIIC conmfia
1
~ 1 Jlfl\il gto em f«''IIIJICIISI de erviÇOI preslldoll ~ (Dkioúrlo ri~
1
• qu•m abuco, o tlbolit-UJIIUMO 41 ec1ç1o (Pdnlpolla: lm), pp 1 0.171
lach.tdo de Assl "() velllo SCIIIdD • • ICIIIpdll U. ,.,.,.,. dD AIINO.
11. p 12 7.
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EDUARDO PRADO
A ilusão americana
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EDUARDO PRADO
A ilusão americana
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'.,do ·•utordc A i/u.lao nmaicnna'.quc apresenta remo~. pmk
do ! 1' 1 '...
rdu'll
: ' ado na linha de frt.!nte do momuquista. qut.! cnmh:-~tcram a r:r.u'h!"1-
cfl:ncontr ·I· r ·ça das armas em 1889. Na cido em I8(10. de urn ela t.tvo-
ca ms. wlada pt.: '1 101:- da lavoura de café paulista. no fmal
· •
do secu 1o Xl
' • ~: I·l
'd da cxpans.IO .
recr o p . mtiiJdo de riqueza clcgftm;ia c cultura. Ja nos hnnc(ls
, c vt\'Cll em um ' . .
cn:sct.:U I· t , a na imprensa acadêmica e publicava crônJcas no JOrnal
. . lares. co a Jorav . . ., ' .
csco ,. Como boa parte dos filhos da elite hrastlcrra da cpoc.:a.
reio Pnu rstnno. , . ,
Cor . Faculdade de Direito de São p,IUio. llnde teve como colegas dt:
ingressou na . B .I J .,. J u ' ui
. ,,. de Castilhos, Joaquim Francisco de Ass1s ras1 c u 10 c ;VJcsq
turm•l 1u ro . .d.
· . n a se tomar políticos ilustres. Após o bacharelado, drv1 J:J o tem-
ta que vrcra 1 · d·
· raze 11da no interior de São Paulo c os centros co mopolrtas ,1
po entre a I· '
Europa.
Radicado em Paris, a partir de 1886, transformou a casa onde morava
em um verdadeiro centro de estudos brasileiros e portugueses. Desse círculo
privilegiado fizeram parte intelectuais da estatura de Eça de Qu ·irós. Ramalho
Ortigão, Joaquim Nabuco, Afonso Arinos e Rio Branco, ntre outros. t o cl!n-
tenário da Revolução Francesa, em 14 de julho de !889, Eduardo Prado inte-
grou a representação oficial brasileira à exposição de Paris. que festejou a
queda da Bastilha.
Quatro meses depois, com a proclamação da república no Brasil, deu
início ã carreira de polemista, usando como veículo a ReviMa de Portugal.
Nela escreveu, sob o pseudônimo de Frederico de S., artigos mais tarde reu-
nidos no livro Fastos da ditadura militar no Brasil. Mas foi em 1893, çom A
ilusão americana- primeiro livro apreendido pela polícia republicana em São
Paulo-, que passou a enfrentar problemas mais sérios. Sentindo-se persegui-
do. "fugiu" para a Europa.
Isso não o impediu, porém, de continuar fazendo propaganda anti-repu-
blicana na terra natal. Em 1897 foi sócio fundador da Academia Brasileira de
Letras, onde assumiu a cadeira ng 40, escolhendo como patrono o visconde do
Rio Branco. Voltou definitivamente ao país em 1900, a fim de retomar os ata-
Leres d.c pol't' · dor, htstorrador
I rco, pesqutsa . . . Por pouco tempD. Na \'I a-
e escntor.
gem
I . que fez R' d J ·
· ao lO e anetro, em 9 de agosto de 190 l. para tomar po se no
~stltuto Histórico e Geográfico Brasileiro, foi contagiado pela febre amar la
orrcu no dia 30, em São Paulo, aos 41 anos de idade. 2
135
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cfl:ncontr ·I· r ·ça das armas em 1889. Na cido em I8(10. de urn ela t.tvo-
ca ms. wlada pt.: '1 101:- da lavoura de café paulista. no fmal
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recr o p . mtiiJdo de riqueza clcgftm;ia c cultura. Ja nos hnnc(ls
, c vt\'Cll em um ' . .
cn:sct.:U I· t , a na imprensa acadêmica e publicava crônJcas no JOrnal
. . lares. co a Jorav . . ., ' .
csco ,. Como boa parte dos filhos da elite hrastlcrra da cpoc.:a.
reio Pnu rstnno. , . ,
Cor . Faculdade de Direito de São p,IUio. llnde teve como colegas dt:
ingressou na . B .I J .,. J u ' ui
. ,,. de Castilhos, Joaquim Francisco de Ass1s ras1 c u 10 c ;VJcsq
turm•l 1u ro . .d.
· . n a se tomar políticos ilustres. Após o bacharelado, drv1 J:J o tem-
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po entre a I· '
Europa.
Radicado em Paris, a partir de 1886, transformou a casa onde morava
em um verdadeiro centro de estudos brasileiros e portugueses. Desse círculo
privilegiado fizeram parte intelectuais da estatura de Eça de Qu ·irós. Ramalho
Ortigão, Joaquim Nabuco, Afonso Arinos e Rio Branco, ntre outros. t o cl!n-
tenário da Revolução Francesa, em 14 de julho de !889, Eduardo Prado inte-
grou a representação oficial brasileira à exposição de Paris. que festejou a
queda da Bastilha.
Quatro meses depois, com a proclamação da república no Brasil, deu
início ã carreira de polemista, usando como veículo a ReviMa de Portugal.
Nela escreveu, sob o pseudônimo de Frederico de S., artigos mais tarde reu-
nidos no livro Fastos da ditadura militar no Brasil. Mas foi em 1893, çom A
ilusão americana- primeiro livro apreendido pela polícia republicana em São
Paulo-, que passou a enfrentar problemas mais sérios. Sentindo-se persegui-
do. "fugiu" para a Europa.
Isso não o impediu, porém, de continuar fazendo propaganda anti-repu-
blicana na terra natal. Em 1897 foi sócio fundador da Academia Brasileira de
Letras, onde assumiu a cadeira ng 40, escolhendo como patrono o visconde do
Rio Branco. Voltou definitivamente ao país em 1900, a fim de retomar os ata-
Leres d.c pol't' · dor, htstorrador
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iWSÃO AMERJC.\, 'A LÚCIA LIPJ>I OLI, EJf'.A
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iWSÃO AMERJC.\, 'A LÚCIA LIPJ>I OLI, EJf'.A
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A ILUSÃO AMERJCANA LÚCIA Lli'Pl OLIVEIRA
Eduardo Prado transmite seus argumentos centrais ao leitor com nqueza vamos acompanhá-lo na demonstração de sua tese. Eduardo Prad(J apre-
de mterpretação. A Ilusão america11a levanta a tese de que entre o Brasil e 05 t' sua visão sobre a sociedade norte-americana através da política. privJle-
Estados Unidos. e seus respectivos povos. existe um verdadeiro abismo cultu. sen a- a condução de sua d'1p1omac1a.
iando · Esta beIece a d'f 1 erença entre d o1s
·
ral. com separação de raça. de religião, de índole, de língua, de história e de g omentos- o da instauração da república, em 1776, e o da virada do éculo
tradiçõc . Portanto. nada deveria levá-los a possuir as mesmas instituições e a ;IX. No final do século XVIII, "homens extraordinários, da velha c~tirpe
mesma fo1ma de governo. Até o fato de ambos estarem situados no mesmo saxônica. revigorada pelo puritanismo e alguns deles bafejados pelo lilosofismo,
contmente não passaria de mero acidente geográfico, verdadeiro equívoco surgiram nas treze colônias inglesas da América do Norte. Resolveram cons-
causado por mutações geológicas. tituir em nação independente a sua pátria".6
OBra il encontrt-se voltado para o Leste, onde nasce o sol. ou seja, para Prossegue dizendo que, ao se emanciparem politicamente. os norte-ame-
a Europa. onde estão os centros mais populosos e importantes, e não para os ncanos tiveram como aliados os reis da França e da Espanha . Não pretendi-
outros paí es americanos. A geografia também nos separa dos países andinos; am, então, fazer proselitismo, divulgar a idéia de que as demais colônias na
ilha imensa. por si só um continente. O autor retoma a idéia de que o no da Aménca deveriam ser independentes ou republicanas, como eles. 'o caso da
Prata e o no Amazonas foram mares que se comunicavam no passado, confir- Aménca Latina, nos diz Eduardo Prado, foi a Inglaterra que a aJudou a conse-
mando um.t 1déia antiga e famosa- a existência da ilha Brasil. A junção com guir a independência no século XIX, ao defender esses novos países contra as
o terntório do Andes, superficial. não gerou muitos laços físicos e culturais. monarquias européias que pretendiam intervir na América a favor da Espanha.
Eduardo Prado não só demarca as diferenças entre o Brasil e os Estados A política externa norte-americana viveu, no final do século XIX. sob a
Umdos. mas também as do Brasil com as demais nações do hemisfério. Ao ég1dc do pan-americanismo. A Doutrina Monroe. que se origina na mensagem
longo do texto aparecem inúmeras referências negativas aos países hispano- encami nhada pelo presidente James Monroe ao Congresso dos Estado Uni-
americanos. "Estudem um a um", diz o autor, "c o traço característico de todos dos, em 1823, tinha como objetivo afirmar a soberania nacional dos paí ·e- do
eles, alé!Tl da contínua tragicomédia das ditaduras, das constituintes e das sedi- continente contra as pretensões das monarquias européias que forma•am a
'rões. que é .t vida desses países, é a ruína das finanças. "4 Santa Aliança. A doutrina se opunha às pretensões francesas de intervir na
A América espanhola, ao adotar o modelo norte-americano por ocasião América espanhola e às pretensões russas de estabelecer novas feitorias na
do movimentos de independência durante o século XIX, teria renegado suas costa do Pacífico.
trad1 õe . "O Br·•,il, mais feliz, instintivamente obedeceu à grande lei de que Para Eduardo Prado, a Doutrina Monroe ficou restrita ao declaratóno.
as nações devem se reformar dentro de si mesmas, como todos os organismos não tendo o significado de compromisso nem de aliança. como imaginavam os
\ 1vos. com a própria substância."5 Em 1889, no entanto, cometia o mesmo erro republicanos jacobinos. Os Estados Unidos não estavam. de forma alguma.
dos VIZinhos. dispostos a comprar as brigas da América Latina com as potências além-mar
A fraternidade americana seria outra menti~a divulgada pelos republica- Daí não ter nenhuma base, segundo o autor, "a crendice que c qu r espalhar
nos. O autor defende seu ponto de vista apresentando exemplos de ódios nacio- no Brasil de que os Estados Unidos não consentem na América outro gover-
nats, a altos. ataques, lutas entre os países do continente que desmentem OS no senão o republicano''. 7
id'!ai fraternos. Denuncia a "ilusão americana" mostrando as diferenças do Ao relatar os eventos mais significativos das relações entre os Estados
Bra il com o outros países da América do Sul e, no mesmo tom, aponta e Unidos e o Brasil durante o sécllio XIX, ele mostra que a nossa independên ia
d nuncia a ba1xa qualidade da política norte-americana dirigida aos "irmãos do só foi reconhecida pelos norte-americanos depois que Portugal o f; z. e ainda
• ui"
assim graças à intervenção inglesa. Menciona conflitos no rio da Prata que
envolveram apreensão de navios e e igências desmedidas e e orbitantes que
: lbid. p. 22
lbid. p. 30.
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A ILUSÃO AMERJCANA LÚCIA Lli'Pl OLIVEIRA
Eduardo Prado transmite seus argumentos centrais ao leitor com nqueza vamos acompanhá-lo na demonstração de sua tese. Eduardo Prad(J apre-
de mterpretação. A Ilusão america11a levanta a tese de que entre o Brasil e 05 t' sua visão sobre a sociedade norte-americana através da política. privJle-
Estados Unidos. e seus respectivos povos. existe um verdadeiro abismo cultu. sen a- a condução de sua d'1p1omac1a.
iando · Esta beIece a d'f 1 erença entre d o1s
·
ral. com separação de raça. de religião, de índole, de língua, de história e de g omentos- o da instauração da república, em 1776, e o da virada do éculo
tradiçõc . Portanto. nada deveria levá-los a possuir as mesmas instituições e a ;IX. No final do século XVIII, "homens extraordinários, da velha c~tirpe
mesma fo1ma de governo. Até o fato de ambos estarem situados no mesmo saxônica. revigorada pelo puritanismo e alguns deles bafejados pelo lilosofismo,
contmente não passaria de mero acidente geográfico, verdadeiro equívoco surgiram nas treze colônias inglesas da América do Norte. Resolveram cons-
causado por mutações geológicas. tituir em nação independente a sua pátria".6
OBra il encontrt-se voltado para o Leste, onde nasce o sol. ou seja, para Prossegue dizendo que, ao se emanciparem politicamente. os norte-ame-
a Europa. onde estão os centros mais populosos e importantes, e não para os ncanos tiveram como aliados os reis da França e da Espanha . Não pretendi-
outros paí es americanos. A geografia também nos separa dos países andinos; am, então, fazer proselitismo, divulgar a idéia de que as demais colônias na
ilha imensa. por si só um continente. O autor retoma a idéia de que o no da Aménca deveriam ser independentes ou republicanas, como eles. 'o caso da
Prata e o no Amazonas foram mares que se comunicavam no passado, confir- Aménca Latina, nos diz Eduardo Prado, foi a Inglaterra que a aJudou a conse-
mando um.t 1déia antiga e famosa- a existência da ilha Brasil. A junção com guir a independência no século XIX, ao defender esses novos países contra as
o terntório do Andes, superficial. não gerou muitos laços físicos e culturais. monarquias européias que pretendiam intervir na América a favor da Espanha.
Eduardo Prado não só demarca as diferenças entre o Brasil e os Estados A política externa norte-americana viveu, no final do século XIX. sob a
Umdos. mas também as do Brasil com as demais nações do hemisfério. Ao ég1dc do pan-americanismo. A Doutrina Monroe. que se origina na mensagem
longo do texto aparecem inúmeras referências negativas aos países hispano- encami nhada pelo presidente James Monroe ao Congresso dos Estado Uni-
americanos. "Estudem um a um", diz o autor, "c o traço característico de todos dos, em 1823, tinha como objetivo afirmar a soberania nacional dos paí ·e- do
eles, alé!Tl da contínua tragicomédia das ditaduras, das constituintes e das sedi- continente contra as pretensões das monarquias européias que forma•am a
'rões. que é .t vida desses países, é a ruína das finanças. "4 Santa Aliança. A doutrina se opunha às pretensões francesas de intervir na
A América espanhola, ao adotar o modelo norte-americano por ocasião América espanhola e às pretensões russas de estabelecer novas feitorias na
do movimentos de independência durante o século XIX, teria renegado suas costa do Pacífico.
trad1 õe . "O Br·•,il, mais feliz, instintivamente obedeceu à grande lei de que Para Eduardo Prado, a Doutrina Monroe ficou restrita ao declaratóno.
as nações devem se reformar dentro de si mesmas, como todos os organismos não tendo o significado de compromisso nem de aliança. como imaginavam os
\ 1vos. com a própria substância."5 Em 1889, no entanto, cometia o mesmo erro republicanos jacobinos. Os Estados Unidos não estavam. de forma alguma.
dos VIZinhos. dispostos a comprar as brigas da América Latina com as potências além-mar
A fraternidade americana seria outra menti~a divulgada pelos republica- Daí não ter nenhuma base, segundo o autor, "a crendice que c qu r espalhar
nos. O autor defende seu ponto de vista apresentando exemplos de ódios nacio- no Brasil de que os Estados Unidos não consentem na América outro gover-
nats, a altos. ataques, lutas entre os países do continente que desmentem OS no senão o republicano''. 7
id'!ai fraternos. Denuncia a "ilusão americana" mostrando as diferenças do Ao relatar os eventos mais significativos das relações entre os Estados
Bra il com o outros países da América do Sul e, no mesmo tom, aponta e Unidos e o Brasil durante o sécllio XIX, ele mostra que a nossa independên ia
d nuncia a ba1xa qualidade da política norte-americana dirigida aos "irmãos do só foi reconhecida pelos norte-americanos depois que Portugal o f; z. e ainda
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assim graças à intervenção inglesa. Menciona conflitos no rio da Prata que
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i1 11 f/ ÃO AMf R/CANil LÚC' lA Ll i'Pl OI !VE! R
11 ovcrno nnrt .tmct tcano passou .1 fazer ao govemo brasileiro. Também no tiam a orgia financeira, as falsas melhorias c a presença dos avent ureiros ame-
c 1 Hl.t •u ·n .tJU\Ia que B t J\Í I. Argentina c Uruguai fizeram contra o Paraguai,
ricanos.
.1 po içao do I >lado Unidos não fo i reco mendável. A diplomacia americana Eduardo Prado cita, também, o caso das ilhas Ma h inas que, em 1R31.
que .1~ 1 t1.1 •lindo muda ·Impassível, se toma cúmplice do caudilho paraguaio: arrebatadas da Argentina por na vios norte-americanos. foram ent regues à Jn-
nu ilertc.;it · uo louvor cri ando me~mo dificuldade c se comportando como latcrra. E segue mencionando numerosos incidente durante todo o éculo
c~ p1.1 ele Lupt•t, "tra u1do" o e. ército aliado. ~rX. nos quais a diplomacia, a marinha, os corsários c a tropas amcncana
P.u.1 • tmplil tear a relações com o resto do continente, Eduardo Prado fizeram estragos no território, no comércio e na produção dos países da Amé-
,thottl.t .1 pulítka do~ f\tado Unidos em relação ao México. Em primeiro rica Latina. Os norte-americanos, critica o autor. sempre se rcfcn,un .10~ ou
lu • 1r, lllt'llLHllla a má fé do gO\erno de Washington no caso do Texas. tros países da América do Sul c ao Brasil de forn1a grosseira c arrogante.
considerando seus governos instáveis e incapazes.
I nmr< u o quanto Jll de a rc\O)ta daquele tcrntório, annnou-o a sc parar-~c do Mé- A América Central também merece atenção do autor. "A mfehz kara-
llll , JW ,, m.u dcp r cs~d ah,onc ·lo, e dcpor s declarou guerra ao México, vcrdadCJra
gua", o processo do Panamá, o caso de Cuba são mencionado~ no hvro. (h
u rr,, dt• um<\111\ la que humilhou aquela rcpubhca ao extre mo e arrcbmou-lhe metade
dn ~~~ lc lfJI(>no '
patriotas cubanos sonhavam com a independência da ilha c pensavam que, sob
a Doutrina Monroe, podiam contar com o apoio norte-americano em sua luta.
Fizeram de Nova York seu quartel-general e, com a aquiescência nnrt.:-amc
nos mats tat dc, admite o autor de A ilusüo americana, os Estados
lfrudos e 1 t.tm que" França tcttras c suas tropas do território mexicano, mas ricana, organizaram a conspiração c compraram armas. Até que, na ultun;•
hora, a polícia americana atendeu aos reclamos da Espanh,t, acabando com
o preço w hrado fm murto alto. O governo de Maximiliano, príncipe liberal
suas esperanças. "Os patriotas cubanos, talvez injustamente, acusam scmpt<'
• liilll!'t'li O, foi o mar& honc~ t o de• de a independência do México. Combateu
seus auxiliares, americanos mercenários. de traição."9 Os Estados Umdm tt'-
n ahu ,,, do clero, <tboli u leis de scn tdão no campo que ainda existiam e, com
riam vendido Cuba à Espanha, em troca de favores comerciais, de iscnçoes de
~ .1 .tt ll udcs. <tlranr o !idio das c la ~~c~ conservadoras. Os Estados Unidos
direitos sobre seus produtos.
pr t.tram o scn i o de .tt:Jhar com c se governo para entregar o poder a seus
p wpno~ 1 •prc l.! nta ntcs.
"Para o México, ela [a política americana Item sido um algo1., e JMra a
América Central, um inimigo", 10 prossegue Eduardo Prado. citando, tamhrm ,
( >tidro .to cstr angc rro fm mccntrYado c o militarismo republicano, o cau-
a malograda companhia, com sede na França, que pretendia construrr urn ca-
dilhi~mo, fi~: nu n:inando. como nm dcmat s paí~cs da América Latina. Generais
nal transoceânico ligando o Atlântico ao Pacífico. Os Estados Unidos empre-
~ 1.:1 ctamm no poder, J" que a constituição copiada da norte-americana im-
garam toda a sua influência para atrasar c embargar a obra, a ftm de atender
l't'(ha que t pre rdc ntc ft ca ~c por mai s de um período presidencial consecuti·
aos in<ercsscs das ·ompanhias de ferro transcontincntais. r~ pr~ t:iso notar que
vo. O Mt· tco sob os r.c ncrai s Díaz c Gonzálc7:, que dominaram o país durante
m.us de vmtc an0<:,. c tornou território livre puro~ "um bando de aventureiros"
° Canal do Panamá ~ó foi aberto anos mais tarde, quando o\ Fstados I Jnidm
obtiveram a anulação de tratado anterior com a fnglatcrra c promov ·ram a
patwcinados pela representa ão diplomátiCa norte americana C'onccssõc ·
s~cessão do Panamá, território colombiano. Só entao é que realizaram a obra.
pm ilt:gtos c outJ as formas de fraude financeira proliferavam a custa do tesou
Os conflitos decorrentes da atuação de aventureiros americano~ intcr~s
tn nu: rc.mo. Graça& a isso, grandes fortuna s no Méxrco c nos Estados Unido
sados nas riquezas do Peru c oo Chile são igualmente abordados A República
1nt,mt am ·alhadas. muitas delas com falsas obras que só existiam no papel
do Pt'ru também sofreu nas suas relações com os Estados Unido~ Durante
A~stm. dcpoi de haver retalhado o território mexicano em 1848, c da vitória
urna das muitas revoluções no pais, navios americanos se envolveram no wn
nuh tar drfi nrtiva. o~ E tad0s Unidos constitufram um 1erdadeiro protetorado
nr · P~ll~. o ~ "enerais de plantão, "eleitos" ob o regime republicano, garan·
' lb rd , p 7 4 .
• lé!l r 17 ~ li>rd , p
72
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i1 11 f/ ÃO AMf R/CANil LÚC' lA Ll i'Pl OI !VE! R
11 ovcrno nnrt .tmct tcano passou .1 fazer ao govemo brasileiro. Também no tiam a orgia financeira, as falsas melhorias c a presença dos avent ureiros ame-
c 1 Hl.t •u ·n .tJU\Ia que B t J\Í I. Argentina c Uruguai fizeram contra o Paraguai,
ricanos.
.1 po içao do I >lado Unidos não fo i reco mendável. A diplomacia americana Eduardo Prado cita, também, o caso das ilhas Ma h inas que, em 1R31.
que .1~ 1 t1.1 •lindo muda ·Impassível, se toma cúmplice do caudilho paraguaio: arrebatadas da Argentina por na vios norte-americanos. foram ent regues à Jn-
nu ilertc.;it · uo louvor cri ando me~mo dificuldade c se comportando como latcrra. E segue mencionando numerosos incidente durante todo o éculo
c~ p1.1 ele Lupt•t, "tra u1do" o e. ército aliado. ~rX. nos quais a diplomacia, a marinha, os corsários c a tropas amcncana
P.u.1 • tmplil tear a relações com o resto do continente, Eduardo Prado fizeram estragos no território, no comércio e na produção dos países da Amé-
,thottl.t .1 pulítka do~ f\tado Unidos em relação ao México. Em primeiro rica Latina. Os norte-americanos, critica o autor. sempre se rcfcn,un .10~ ou
lu • 1r, lllt'llLHllla a má fé do gO\erno de Washington no caso do Texas. tros países da América do Sul c ao Brasil de forn1a grosseira c arrogante.
considerando seus governos instáveis e incapazes.
I nmr< u o quanto Jll de a rc\O)ta daquele tcrntório, annnou-o a sc parar-~c do Mé- A América Central também merece atenção do autor. "A mfehz kara-
llll , JW ,, m.u dcp r cs~d ah,onc ·lo, e dcpor s declarou guerra ao México, vcrdadCJra
gua", o processo do Panamá, o caso de Cuba são mencionado~ no hvro. (h
u rr,, dt• um<\111\ la que humilhou aquela rcpubhca ao extre mo e arrcbmou-lhe metade
dn ~~~ lc lfJI(>no '
patriotas cubanos sonhavam com a independência da ilha c pensavam que, sob
a Doutrina Monroe, podiam contar com o apoio norte-americano em sua luta.
Fizeram de Nova York seu quartel-general e, com a aquiescência nnrt.:-amc
nos mats tat dc, admite o autor de A ilusüo americana, os Estados
lfrudos e 1 t.tm que" França tcttras c suas tropas do território mexicano, mas ricana, organizaram a conspiração c compraram armas. Até que, na ultun;•
hora, a polícia americana atendeu aos reclamos da Espanh,t, acabando com
o preço w hrado fm murto alto. O governo de Maximiliano, príncipe liberal
suas esperanças. "Os patriotas cubanos, talvez injustamente, acusam scmpt<'
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seus auxiliares, americanos mercenários. de traição."9 Os Estados Umdm tt'-
n ahu ,,, do clero, <tboli u leis de scn tdão no campo que ainda existiam e, com
riam vendido Cuba à Espanha, em troca de favores comerciais, de iscnçoes de
~ .1 .tt ll udcs. <tlranr o !idio das c la ~~c~ conservadoras. Os Estados Unidos
direitos sobre seus produtos.
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p wpno~ 1 •prc l.! nta ntcs.
"Para o México, ela [a política americana Item sido um algo1., e JMra a
América Central, um inimigo", 10 prossegue Eduardo Prado. citando, tamhrm ,
( >tidro .to cstr angc rro fm mccntrYado c o militarismo republicano, o cau-
a malograda companhia, com sede na França, que pretendia construrr urn ca-
dilhi~mo, fi~: nu n:inando. como nm dcmat s paí~cs da América Latina. Generais
nal transoceânico ligando o Atlântico ao Pacífico. Os Estados Unidos empre-
~ 1.:1 ctamm no poder, J" que a constituição copiada da norte-americana im-
garam toda a sua influência para atrasar c embargar a obra, a ftm de atender
l't'(ha que t pre rdc ntc ft ca ~c por mai s de um período presidencial consecuti·
aos in<ercsscs das ·ompanhias de ferro transcontincntais. r~ pr~ t:iso notar que
vo. O Mt· tco sob os r.c ncrai s Díaz c Gonzálc7:, que dominaram o país durante
m.us de vmtc an0<:,. c tornou território livre puro~ "um bando de aventureiros"
° Canal do Panamá ~ó foi aberto anos mais tarde, quando o\ Fstados I Jnidm
obtiveram a anulação de tratado anterior com a fnglatcrra c promov ·ram a
patwcinados pela representa ão diplomátiCa norte americana C'onccssõc ·
s~cessão do Panamá, território colombiano. Só entao é que realizaram a obra.
pm ilt:gtos c outJ as formas de fraude financeira proliferavam a custa do tesou
Os conflitos decorrentes da atuação de aventureiros americano~ intcr~s
tn nu: rc.mo. Graça& a isso, grandes fortuna s no Méxrco c nos Estados Unido
sados nas riquezas do Peru c oo Chile são igualmente abordados A República
1nt,mt am ·alhadas. muitas delas com falsas obras que só existiam no papel
do Pt'ru também sofreu nas suas relações com os Estados Unido~ Durante
A~stm. dcpoi de haver retalhado o território mexicano em 1848, c da vitória
urna das muitas revoluções no pais, navios americanos se envolveram no wn
nuh tar drfi nrtiva. o~ E tad0s Unidos constitufram um 1erdadeiro protetorado
nr · P~ll~. o ~ "enerais de plantão, "eleitos" ob o regime republicano, garan·
' lb rd , p 7 4 .
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t1 IWSÀO AMERICANA
LÚCIA LIPPJ OLIVEIRA
trabundo do guano- proibido pelas leis peruanas. Ao serem aprisionados viveram num período histórico de pureza moral. em tempo de patriotismo e de
donos dos nav10s . consegUiam. que o governo de was h'mgton rompesse reJa.
'os
abnegação". 12 Isso era muito diferente do que se via no final do século XIX.
ções diplomáticas c exigisse indenizações que acabaram sendo pagas pelo em que a vida americana estava sob o império do industrialismo e das finanças,
P..:ru . e quando se sentia a expansão do despotismo dos monopólios, que faziam
A história desse país é apresentada por Eduardo Prado como exemplo a crescer todas as formas de corrupção.
ser observado. Depois do período trágico e heróico da conquista, e de termina.
do o domínio colonial, o Peru vivia, segundo o autor, setenta anos de desgraça A repúbhca norte-americana não teve sua mfãncia corroída pela corrupção. nem a sua
republicana que transformaram a mais rica possessão espanhola em um dos puerícia se passou nos jogos sangrentos das guerras crvis. Era ela Já quase ecutar
países mais pobres c infelizes do mundo. O guano, adubo natural , que deveria quando o seu solo foi fratricidamente regado pelo sangue de seus filhos; e os vrcHJS
constituir uma riqueza nacional, se tornou sua desgraça. Foi declarado proprie- contra os quais lutam hoje os patriotas[ ... ] São vícios de hoje. faltas atuais, que não
podem se jus ti ficar no exemplo dos antepassados."
dade nacional e sua extração passou a ser objeto de concessões feitas a pani-
cularcs Mesmo com favorecimentos pessoais, sua exportação produzia enonnes
Eduardo Prado reconhecia, portanto, que a república de Washington fora
excedentes ao t..:souro peruano, mas isso não durou.
criada em um período histórico no qual predominaram o patriotismo e a abne-
D01s .nencrars de boa vontade [. ) secundados por outros colegas, por muitos coro·
gação. Baseia sua afirmação em Montesquieu, na proposição de que as repú-
nérs c por um cxértrto rodo metido a político, acabaram com os saldos, e o Peru deixou blicas precisam ter como fundamento a virtude, e considera que esta foi a base
de scrcx cc~· ão na América espanhola, ficou tão fahdo como qualquer outra repúbli· da república norte-americana no tempo dos fundadores, dos pais da pátria. O
ca ,11 vícios e as faltas, que ele menciona existirem no final do século XIX. não
estavam presentes desde o início, e foram se constituindo a medida que os
O <tutor quis mostrar que aventureiros americanos faziam alianças com Estados Unidos se transformaram em sociedade industrial burguesa Os que
políticos con-uptos sul-americanos e, diante dos problemas que enfrentaram, justificam a corrupção e o crime dizendo que são próprios das instituições
pass;tram a exigir e nbter indenizações milionárias, já que suas demandas eram novas estão falseando a verdade histórica, nos diz Eduardo Prado, condenando
colocadJs sob a proteção da diplomacia e da marinha norte-americanas. Os os que pretendem defender os problemas e as falhas dos primeiros anos repu-
Estados Unidos são acusados por Prado de prepotência, vulgaridade, cinismo, blicanos no Brasil.
rupmagem c espe\.:utação, c sua política externa é qualificada como invasora, A república, forma moderna de governo, estimula os abusos do capitalis-
tirânica, arrogante e oportunista. As repúblicas da América espanhola são, por mo. O capital cresce por si só, os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres
outro lado, rdentilicadas com o militarismo e o caudilhismo. cada vez mais pobres. O materialismo sem medidas, o interesse pri\'ado sem
Os argumentos de Eduardo Prado seguem um mesmo raciocínio. O au· limites conduzem os Estados Unidos ao utilitarismo e a formularem uma politi·
tor descreve a atuação dos Estados Unidos em suas incursões na América ca nacional em que os interesses econômicos predominam sobre os vaiare
Latina, fazendo comparações com a política da Inglaterra, mostrando como éticos. A pureza moral, o patriotismo, a solidariedade dos tempos originais ão
csl.t sempre foi melhor do que aquela. Compara a vida política das repúblicas valores já abandonados pela república dos Estados Unidos.
d.r América espanhola com a monarquia brasileira e o saldo é sempre favorá· Os novos tempos de corrupção e de monopólio são representados pelo
---
vcl à realeza. famoso secretário de estado, Janj.es Blaine. "Foi e tinha que ser o estadista de
Importa destacar que a realidade da pol ítica, da vida norte-americana sua época!", nos diz Eduardo Prado em tom irônico. Blaine, à frente do De par-
contemporânea difere para o autor da do tempo dos fundadores da pátria. Daí lamento de Estado, tentou promover a I Conferência Pan-Americana, interes-
\Ua observação: "Os pais da pátria americana, os fundadores da Constituição,
:: lbid. p. 87.
" lbíd .• p kl lb,d., p. 89.
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t1 IWSÀO AMERICANA
LÚCIA LIPPJ OLIVEIRA
trabundo do guano- proibido pelas leis peruanas. Ao serem aprisionados viveram num período histórico de pureza moral. em tempo de patriotismo e de
donos dos nav10s . consegUiam. que o governo de was h'mgton rompesse reJa.
'os
abnegação". 12 Isso era muito diferente do que se via no final do século XIX.
ções diplomáticas c exigisse indenizações que acabaram sendo pagas pelo em que a vida americana estava sob o império do industrialismo e das finanças,
P..:ru . e quando se sentia a expansão do despotismo dos monopólios, que faziam
A história desse país é apresentada por Eduardo Prado como exemplo a crescer todas as formas de corrupção.
ser observado. Depois do período trágico e heróico da conquista, e de termina.
do o domínio colonial, o Peru vivia, segundo o autor, setenta anos de desgraça A repúbhca norte-americana não teve sua mfãncia corroída pela corrupção. nem a sua
republicana que transformaram a mais rica possessão espanhola em um dos puerícia se passou nos jogos sangrentos das guerras crvis. Era ela Já quase ecutar
países mais pobres c infelizes do mundo. O guano, adubo natural , que deveria quando o seu solo foi fratricidamente regado pelo sangue de seus filhos; e os vrcHJS
constituir uma riqueza nacional, se tornou sua desgraça. Foi declarado proprie- contra os quais lutam hoje os patriotas[ ... ] São vícios de hoje. faltas atuais, que não
podem se jus ti ficar no exemplo dos antepassados."
dade nacional e sua extração passou a ser objeto de concessões feitas a pani-
cularcs Mesmo com favorecimentos pessoais, sua exportação produzia enonnes
Eduardo Prado reconhecia, portanto, que a república de Washington fora
excedentes ao t..:souro peruano, mas isso não durou.
criada em um período histórico no qual predominaram o patriotismo e a abne-
D01s .nencrars de boa vontade [. ) secundados por outros colegas, por muitos coro·
gação. Baseia sua afirmação em Montesquieu, na proposição de que as repú-
nérs c por um cxértrto rodo metido a político, acabaram com os saldos, e o Peru deixou blicas precisam ter como fundamento a virtude, e considera que esta foi a base
de scrcx cc~· ão na América espanhola, ficou tão fahdo como qualquer outra repúbli· da república norte-americana no tempo dos fundadores, dos pais da pátria. O
ca ,11 vícios e as faltas, que ele menciona existirem no final do século XIX. não
estavam presentes desde o início, e foram se constituindo a medida que os
O <tutor quis mostrar que aventureiros americanos faziam alianças com Estados Unidos se transformaram em sociedade industrial burguesa Os que
políticos con-uptos sul-americanos e, diante dos problemas que enfrentaram, justificam a corrupção e o crime dizendo que são próprios das instituições
pass;tram a exigir e nbter indenizações milionárias, já que suas demandas eram novas estão falseando a verdade histórica, nos diz Eduardo Prado, condenando
colocadJs sob a proteção da diplomacia e da marinha norte-americanas. Os os que pretendem defender os problemas e as falhas dos primeiros anos repu-
Estados Unidos são acusados por Prado de prepotência, vulgaridade, cinismo, blicanos no Brasil.
rupmagem c espe\.:utação, c sua política externa é qualificada como invasora, A república, forma moderna de governo, estimula os abusos do capitalis-
tirânica, arrogante e oportunista. As repúblicas da América espanhola são, por mo. O capital cresce por si só, os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres
outro lado, rdentilicadas com o militarismo e o caudilhismo. cada vez mais pobres. O materialismo sem medidas, o interesse pri\'ado sem
Os argumentos de Eduardo Prado seguem um mesmo raciocínio. O au· limites conduzem os Estados Unidos ao utilitarismo e a formularem uma politi·
tor descreve a atuação dos Estados Unidos em suas incursões na América ca nacional em que os interesses econômicos predominam sobre os vaiare
Latina, fazendo comparações com a política da Inglaterra, mostrando como éticos. A pureza moral, o patriotismo, a solidariedade dos tempos originais ão
csl.t sempre foi melhor do que aquela. Compara a vida política das repúblicas valores já abandonados pela república dos Estados Unidos.
d.r América espanhola com a monarquia brasileira e o saldo é sempre favorá· Os novos tempos de corrupção e de monopólio são representados pelo
---
vcl à realeza. famoso secretário de estado, Janj.es Blaine. "Foi e tinha que ser o estadista de
Importa destacar que a realidade da pol ítica, da vida norte-americana sua época!", nos diz Eduardo Prado em tom irônico. Blaine, à frente do De par-
contemporânea difere para o autor da do tempo dos fundadores da pátria. Daí lamento de Estado, tentou promover a I Conferência Pan-Americana, interes-
\Ua observação: "Os pais da pátria americana, os fundadores da Constituição,
:: lbid. p. 87.
" lbíd .• p kl lb,d., p. 89.
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A IWSÃO AMERICANA
LÚCIA LIPPI OLIVEIRA
sada em criar uma união alfandegária de todos os países da América. Isso A república brasileira, sob a ditadura republicana, cedeu aos desejos dos
mostra como a Doutrina Monroe queria assumir um caráter predominante. Estados Unidos, assinando o tratado de reciprocidade comercial _ 0 tratado
mente econômico, e não mais militar ou de defesa da soberania. A doutrina Blaine-Salvador (Salvador de Mendonça, o então embaixador brasileiro em
passa a se relacionar com tarifas e impostos nas relações comerciais entre Washington), que em nada beneficiava os interesses brasileiros. O presidente
08
E tados Unidos e a América Latina. E, continua Eduardo Prado, "ele [Blaine] Cleveland dizia que "os bons negócios é que fazem bons amigos", daí as rela-
imaginava a águia americana pairando, de pólo a pólo, com as asas poderosas ões entre Brasil e Estados Unidos envolverem basicamente relações econô-
expandidas".
~cas, ou seja, a tentativa de criar uma área livre de comércio, de estabelecer
A águia simbólica, ele não a via protegendo os fracos com a sua sombra cláusulas de reciprocidade em seus negócios. Foi Blaine quem levou o
como acreditavam sul-americanos ingênuos. Ao contrário, com Blaine no p~ panamericanismo a assumir caráter econômico e apresentar uma face mais
der, a ave passa a significar a política imperial dos Estados Unidos, que repre- agressiva da Doutrina Monroe. A questão passa a ser não só conservar a
senta. de fato, uma ameaça para toda a América, já que os países latinos têm Europa fora da América Latina, mas impor a esta as mercadorias e as idéias
sofrido a arrogância e, às vezes, a rapinagem dos norte-americanos. norte-americanas.
No conflito entre o Brasil e os Estados Unidos, o amor-próprio brasileiro "Nos Estados Unidos, a palavra América significa a parte do novo conti-
sempre saiu vencedor, já que de um lado estava a integridade dos nossos ho- nente que obedece ao governo de Washington." 14 Os norte-americanos têm
mens de Estado durante o império e, do outro, a diplomacia trapaceira e ganan- um sentimento de acentuada superioridade, que é feito de amor-próprio e de
ctosa dos Estados Unidos. A classe plutocrática suga a seiva americana em desprezo pelos sul-americanos. No caso particular do Brasil, o governo ameri-
busca do ouro. Dominando as estradas de ferro, as docas, as fábricas, essa cano foi o último, de todos os governos do novo continente, que reconheceu a
classe de milionários convertia os políticos em súditos. E é daí que a designa- república, inspirado na frieza, quase hostilidade, com que a imprensa recebeu a
ção de político se toma, nos Estados Unidos, uma verdadeira injúria. revolução.
A classe dos donos de estradas de ferro, dos industriais monopolistas que o Eduardo Prado lembra que o imperador desfrutava de grande prestígio
protecionismo enriqueceu, promove a subordinação dos políticos e do governo nos Estados Unidos, principalmente após a visita que fez à exposição de Fila-
dos Estados Unidos. Eduardo Prado cita Andrew Carnegie, escocês prodigiosa- délfia, em 1876, no centenário da independência. Seu amor à liberdade, seu
mente enriquecido, dono de fundições gigantescas e autor de livros em que exal- espírito aberto impressionaram os norte-americanos. "Os discursos pronuncia-
ta o capitalismo. a felicidade da riqueza e a superioridade dos Estados Unidos. dos no Senado americano, quando se discutiu o reconhecimento da república
Monopol.ista, Camegie liderou manifestações contra a Europa, mas, di- brasileira, consistiram, quase que exclusivamente, não no elogio dos vencedo-
ante de greves em suas próprias fábricas, fazia uso de milícias privadas, com a res, mas na exaltação das virtudes do grande vencido.'' 1s
aprovação governamental. Eduardo Prado aponta como um dos principais pro- Por outro lado, os jornais americanos publicavam informes do Brasil que
blemas a promiscuidade entre o público e o privado, resultado dos interesses recebiam via Buenos Aires e Montevidéu, "onde as notícias são todas exage-
sem limite da classe rica. Essa seria prova inequívoca da corrupção que se radas e apimentadas com a má vontade dos nossos irmãos argentinos e uru-
instaura na política burguesa norte-americana.
guaios, que são nossos inimigos[ ... ]. Os Estados Unidos são, para o resto do
"O poder dos milionários não encontra nos Estados Unidos nenhum cor- mundo, o veículo transmissor da bflis argentina contra o Brasil", 16 nos diz Eduardo
reli\ o eficaz nas leis ou na ação da autoridade pública. Tudo lhe é lícito, tudo Prado.
lhe .é possível." E prossegue dizendo que os homens de bem, os mais cultos e
Na diplomacia e na ord~m econômica, os Estados Unidos têm apresen-
sábtos, os poetas, os filantropos, evitam todo contato com a política, já que esta tado fartura de maus exemplos ao Brasil. Os males da república norte-ameri-
serve como campo de atuação dos homens subservientes. Em outros países do
<-on nente os homens de valor não querem ser títeres nas mãos do militaris·
ntl 'los Estados U ·d ~ lbid., p. 154.
DI os, temem estar a serviço dos financistas ou seja, elll
am w o~ casos o home 'bl. , . lbid., p. 155
· ' m pu tco perde a sua dignidade, a sua independêncra. K fbid., p. 161:
144
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A IWSÃO AMERICANA
LÚCIA LIPPI OLIVEIRA
sada em criar uma união alfandegária de todos os países da América. Isso A república brasileira, sob a ditadura republicana, cedeu aos desejos dos
mostra como a Doutrina Monroe queria assumir um caráter predominante. Estados Unidos, assinando o tratado de reciprocidade comercial _ 0 tratado
mente econômico, e não mais militar ou de defesa da soberania. A doutrina Blaine-Salvador (Salvador de Mendonça, o então embaixador brasileiro em
passa a se relacionar com tarifas e impostos nas relações comerciais entre Washington), que em nada beneficiava os interesses brasileiros. O presidente
08
E tados Unidos e a América Latina. E, continua Eduardo Prado, "ele [Blaine] Cleveland dizia que "os bons negócios é que fazem bons amigos", daí as rela-
imaginava a águia americana pairando, de pólo a pólo, com as asas poderosas ões entre Brasil e Estados Unidos envolverem basicamente relações econô-
expandidas".
~cas, ou seja, a tentativa de criar uma área livre de comércio, de estabelecer
A águia simbólica, ele não a via protegendo os fracos com a sua sombra cláusulas de reciprocidade em seus negócios. Foi Blaine quem levou o
como acreditavam sul-americanos ingênuos. Ao contrário, com Blaine no p~ panamericanismo a assumir caráter econômico e apresentar uma face mais
der, a ave passa a significar a política imperial dos Estados Unidos, que repre- agressiva da Doutrina Monroe. A questão passa a ser não só conservar a
senta. de fato, uma ameaça para toda a América, já que os países latinos têm Europa fora da América Latina, mas impor a esta as mercadorias e as idéias
sofrido a arrogância e, às vezes, a rapinagem dos norte-americanos. norte-americanas.
No conflito entre o Brasil e os Estados Unidos, o amor-próprio brasileiro "Nos Estados Unidos, a palavra América significa a parte do novo conti-
sempre saiu vencedor, já que de um lado estava a integridade dos nossos ho- nente que obedece ao governo de Washington." 14 Os norte-americanos têm
mens de Estado durante o império e, do outro, a diplomacia trapaceira e ganan- um sentimento de acentuada superioridade, que é feito de amor-próprio e de
ctosa dos Estados Unidos. A classe plutocrática suga a seiva americana em desprezo pelos sul-americanos. No caso particular do Brasil, o governo ameri-
busca do ouro. Dominando as estradas de ferro, as docas, as fábricas, essa cano foi o último, de todos os governos do novo continente, que reconheceu a
classe de milionários convertia os políticos em súditos. E é daí que a designa- república, inspirado na frieza, quase hostilidade, com que a imprensa recebeu a
ção de político se toma, nos Estados Unidos, uma verdadeira injúria. revolução.
A classe dos donos de estradas de ferro, dos industriais monopolistas que o Eduardo Prado lembra que o imperador desfrutava de grande prestígio
protecionismo enriqueceu, promove a subordinação dos políticos e do governo nos Estados Unidos, principalmente após a visita que fez à exposição de Fila-
dos Estados Unidos. Eduardo Prado cita Andrew Carnegie, escocês prodigiosa- délfia, em 1876, no centenário da independência. Seu amor à liberdade, seu
mente enriquecido, dono de fundições gigantescas e autor de livros em que exal- espírito aberto impressionaram os norte-americanos. "Os discursos pronuncia-
ta o capitalismo. a felicidade da riqueza e a superioridade dos Estados Unidos. dos no Senado americano, quando se discutiu o reconhecimento da república
Monopol.ista, Camegie liderou manifestações contra a Europa, mas, di- brasileira, consistiram, quase que exclusivamente, não no elogio dos vencedo-
ante de greves em suas próprias fábricas, fazia uso de milícias privadas, com a res, mas na exaltação das virtudes do grande vencido.'' 1s
aprovação governamental. Eduardo Prado aponta como um dos principais pro- Por outro lado, os jornais americanos publicavam informes do Brasil que
blemas a promiscuidade entre o público e o privado, resultado dos interesses recebiam via Buenos Aires e Montevidéu, "onde as notícias são todas exage-
sem limite da classe rica. Essa seria prova inequívoca da corrupção que se radas e apimentadas com a má vontade dos nossos irmãos argentinos e uru-
instaura na política burguesa norte-americana.
guaios, que são nossos inimigos[ ... ]. Os Estados Unidos são, para o resto do
"O poder dos milionários não encontra nos Estados Unidos nenhum cor- mundo, o veículo transmissor da bflis argentina contra o Brasil", 16 nos diz Eduardo
reli\ o eficaz nas leis ou na ação da autoridade pública. Tudo lhe é lícito, tudo Prado.
lhe .é possível." E prossegue dizendo que os homens de bem, os mais cultos e
Na diplomacia e na ord~m econômica, os Estados Unidos têm apresen-
sábtos, os poetas, os filantropos, evitam todo contato com a política, já que esta tado fartura de maus exemplos ao Brasil. Os males da república norte-ameri-
serve como campo de atuação dos homens subservientes. Em outros países do
<-on nente os homens de valor não querem ser títeres nas mãos do militaris·
ntl 'los Estados U ·d ~ lbid., p. 154.
DI os, temem estar a serviço dos financistas ou seja, elll
am w o~ casos o home 'bl. , . lbid., p. 155
· ' m pu tco perde a sua dignidade, a sua independêncra. K fbid., p. 161:
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u:n ' PPl Oll\EIR-\
da ~ci humana.
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da ~ci humana.
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No lu •<H d;1 a111<::aça c do pcri •o tanque, Sílvio Rom~.:ro, por exemplo, falava do EucLIDES DA Cu HA
pcngo ale mito ..
Ao longo do século XX, o livro foi dest<lcado menos como defesa da
monarquia, que j;í havia pouca chances de o império ser restaurado. Sua
r ·rupcra<; to deveu ~c muito mais a ser considerado a primeira obra que aprc.
Os sertões
sen tava uma vis;~o antiamericana, muito antes de serem desfraldadas as ban-
dciru\ wnu.t o unpo..:rí,illsmu ianque. O livro também demarca a diferenças c
.1 d1 tfincia~ t:ntrc o Br,1sil c os dcmais países da América Latina, versão que
pt:ntMill ccu na cultura política brasileira durante quase todo o século c que só
conwçou a ~c alterar reccntcmentc.
Logo após a publicação de A i/meio americana a presença norte-ame-
Walnice Nogueira Galvão
ric,ma avançou muito mms não só na América do ui c Central, mas em dire-
ç;IO à Á~1a, com a anexação do I Ia •a í c das Filipinas (1898). Com a ascensão
c o governo de 1 hcodorc Roosevelt na pre idência dos Estado Unidos (1901 -
1909), o país passou a as um ir papel ainda maior c mais agrcssi vo na América
Latina Por outro lado, Theodorc Roosevelt, com sua forte personalidade, de-
senvolveu uma grande campanha contra a corrupção e contra os trustes, mos-
trando que, pelo menos em parte, as denúncias de Eduardo Prado sobre a vida
de negocíos nos Est,tdos Unidos tinham fundamento.
É nc~sa époc"I que os Estados Unidos estavam começa ndo a se afirmar
como verdadeira potência mundial. o que vai se consolidar após as duas guer-
ras mundiais.
As Dhserva~ocs c os exemplos citados por Ed uardo Prado em sua análi-
s · sohre o. Fstados Unidos expõem com clareza as bases do seu pensamento-
a defesa dos valores do mundo ibérico ou europeu, do catolicismo, da honra
c do re~peito à hierarquia. Esse. são valorcs que reaparecem toda vez que se
condena o mundo capitalista c se denunciam os ma les da civilização burguesa.
A .málisc das diferenças e distâncias entre o Brasi l e os Est.ados Unidos
<Oll\titui um,! trilha que teve continuadores ao longo do século XX, valendo
cit.Ir o h\·to de Viana Moog ~6
' t P10nt m>1. puhhcJdo m 1954. Sobre o lema. \er Lúcta Ltppt Olivetra
r' d1l lltl( w,za/ rw Bra.ul ~ no\ E.\tndcJ:J Umdo'i (Belo Horizonte
1,lr ltlc!adc.
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No lu •<H d;1 a111<::aça c do pcri •o tanque, Sílvio Rom~.:ro, por exemplo, falava do EucLIDES DA Cu HA
pcngo ale mito ..
Ao longo do século XX, o livro foi dest<lcado menos como defesa da
monarquia, que j;í havia pouca chances de o império ser restaurado. Sua
r ·rupcra<; to deveu ~c muito mais a ser considerado a primeira obra que aprc.
Os sertões
sen tava uma vis;~o antiamericana, muito antes de serem desfraldadas as ban-
dciru\ wnu.t o unpo..:rí,illsmu ianque. O livro também demarca a diferenças c
.1 d1 tfincia~ t:ntrc o Br,1sil c os dcmais países da América Latina, versão que
pt:ntMill ccu na cultura política brasileira durante quase todo o século c que só
conwçou a ~c alterar reccntcmentc.
Logo após a publicação de A i/meio americana a presença norte-ame-
Walnice Nogueira Galvão
ric,ma avançou muito mms não só na América do ui c Central, mas em dire-
ç;IO à Á~1a, com a anexação do I Ia •a í c das Filipinas (1898). Com a ascensão
c o governo de 1 hcodorc Roosevelt na pre idência dos Estado Unidos (1901 -
1909), o país passou a as um ir papel ainda maior c mais agrcssi vo na América
Latina Por outro lado, Theodorc Roosevelt, com sua forte personalidade, de-
senvolveu uma grande campanha contra a corrupção e contra os trustes, mos-
trando que, pelo menos em parte, as denúncias de Eduardo Prado sobre a vida
de negocíos nos Est,tdos Unidos tinham fundamento.
É nc~sa époc"I que os Estados Unidos estavam começa ndo a se afirmar
como verdadeira potência mundial. o que vai se consolidar após as duas guer-
ras mundiais.
As Dhserva~ocs c os exemplos citados por Ed uardo Prado em sua análi-
s · sohre o. Fstados Unidos expõem com clareza as bases do seu pensamento-
a defesa dos valores do mundo ibérico ou europeu, do catolicismo, da honra
c do re~peito à hierarquia. Esse. são valorcs que reaparecem toda vez que se
condena o mundo capitalista c se denunciam os ma les da civilização burguesa.
A .málisc das diferenças e distâncias entre o Brasi l e os Est.ados Unidos
<Oll\titui um,! trilha que teve continuadores ao longo do século XX, valendo
cit.Ir o h\·to de Viana Moog ~6
' t P10nt m>1. puhhcJdo m 1954. Sobre o lema. \er Lúcta Ltppt Olivetra
r' d1l lltl( w,za/ rw Bra.ul ~ no\ E.\tndcJ:J Umdo'i (Belo Horizonte
1,lr ltlc!adc.
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0& tempos que se ucedem à proclama ã da rep. r . e
d'd;~ um ano antes pela libertação dos escra\os, a 1 ma e -
1
to'n' 0 nac1onal de insurreições rnaí ou menos profundas e
teffl ·
~ezes limitadas a pequenos Je, antes loca1 . Até que o no o cg1me con-
5
a lide e passe a funcio nar, vános anos decorrerão A Guerra de Canudo
:sencadeada no sertão da Bahia em 1896-1897. não é mats do que um e -
sas revoltas que compõem o cortejo de uma mudança de regune. Dedtcado
crônica de um evento histórico, que seu autor testemunhou de corpo pre nt ,
Os sertões tem por objeto essa guerra.
Os elementos de diversa natureza que estiveram na origem d ua com-
posição, entre eles a formação do autor, a conjuntura histónca. o momcnt<
cultural e literário, bem como as práticas discursivas da época, dc\em cr
tomados em consideração, para que esse livro possa ser apreciado no JU~to
contexto.
JH
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0& tempos que se ucedem à proclama ã da rep. r . e
d'd;~ um ano antes pela libertação dos escra\os, a 1 ma e -
1
to'n' 0 nac1onal de insurreições rnaí ou menos profundas e
teffl ·
~ezes limitadas a pequenos Je, antes loca1 . Até que o no o cg1me con-
5
a lide e passe a funcio nar, vános anos decorrerão A Guerra de Canudo
:sencadeada no sertão da Bahia em 1896-1897. não é mats do que um e -
sas revoltas que compõem o cortejo de uma mudança de regune. Dedtcado
crônica de um evento histórico, que seu autor testemunhou de corpo pre nt ,
Os sertões tem por objeto essa guerra.
Os elementos de diversa natureza que estiveram na origem d ua com-
posição, entre eles a formação do autor, a conjuntura histónca. o momcnt<
cultural e literário, bem como as práticas discursivas da época, dc\em cr
tomados em consideração, para que esse livro possa ser apreciado no JU~to
contexto.
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OS SERTÕES
WAL:>;ICE. 'OGCEIRA GAL\ÃO
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OS SERTÕES
WAL:>;ICE. 'OGCEIRA GAL\ÃO
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OS \IH!()f'i
WALNIC I. NOCoi'I.JKA Co!\IV r)
fr t'~ ll'' ll.tltlari.rm na mcsnurcgiào. A ~nlw.-.io u)n. i tiu 'llll'rf:!U r uma St• nao ~l' pode propriament ''~ulnr mm lt,J quc'nohlrrrnllln.mln•
t' l ·I' qu,·n.t · h.tnag •n. qut• dt•svi.lss •m as ton·,•nh.'S sat.OllolÍS do n ,,_ f I qu
Pnlti •ic o hr.t~rl iro", ·ntr tanto 1'\ll til no uma ul ' \ I n11
/<,\ I o
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OS \IH!()f'i
WALNIC I. NOCoi'I.JKA Co!\IV r)
fr t'~ ll'' ll.tltlari.rm na mcsnurcgiào. A ~nlw.-.io u)n. i tiu 'llll'rf:!U r uma St• nao ~l' pode propriament ''~ulnr mm lt,J quc'nohlrrrnllln.mln•
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WALNJCE NOGUEIRA GALVAO
. urgido de tanto. l'aldcamentos c dc tanlo ondicionamentos mesológicos d'. 0 diagnóstico de Antônio Conselheiro é contraditório, o lellor perceben-
1
vcrgc ntc . Dclincaram-st' dcs c modo duas categorias de mestiçagem
do 11 hesit:Jção do autor entre decretá-lo não desequilibrado c constdetá-lo
ord '. te, confonm: se tratas~c do litoral ou do sertão. No litoral, onde 0 af~~~ "doente grave", afetado de paranóia. Determinado pelas variáveis raclil!S que
l\lllt> foi .1hundantc como mão-de obra para os canaviais e engenhos,
. d . 0 po.. entramm em sua constituição, sob o influxo da condições do meio foi rcgrcdindo
vo.lllll' ll!O t ' ndcu a a~ . entnr- c c o 11po prc ommuntc a cr o mulato. No sertã até tornar-se um heresiarca, a exemplo daqueles do cristinnilimo primtti\'o.
,,k ritmo dt• \ td.l durís~inll). a\ csso à scdcntarização, os bandeirnntcs paulist<~~
Envolvido por tabela nas lutas de família entre Maciéis c Arau1os . •ilém das
·o~ mdios acab.1r.1m por pr,'lduzir c 1mo tipo predominant • o curiboca. atrocidades de que seu clã foi vítima viveu infelicidades pe soais que 0 lev:t -
\ popul.t ' Jl) do sert:il. após Ir~ · cculo, de i ·olamcnto. c mostra rc. ram à loucum. Quando ressurge, é já como o Peregrino. que as ·im c intitul,tv:t,
cr· Í\',t et'm rclaç:io .to prt"Cnte por niio t •r rcc •bido influência posteriores. partindo para trinta anos de peregrinação pelos sertões, em penitência sab ·-se
J),·dk.mdo-. ' colctivam ·ntc .to trabalho nômade do rcgime pastoril, manift• ta ltl por que pecados. "Condensando o ob curantismo de três ruças", a pessoa
t' t1.1 ·o, p. ict,logtcos d.1mdolc .tv ·nturcira dos bandeirantes c da impulsividud~ do líder "rres eu tanto que se projetou na Hi tótia''.
indtgcn.t. t •nto .10 tipo fí ico, ou fL·nótipo. o autor encontra ncle uma grande Líder místico, Antônio Conselheiro, acompanhado de scu SCljltazcs. \a
Ulll h rmid.td '. d ·onde conclui que ertancjo ~"o tipo de uma sub alegoria gut:a a pclo sertão. Quando cntrava nas vilas e aldeias, fazia seu st:rmão d•:m-
ctni ·.1 J·' Ctln titutd.t". Fort 'corajn o. sem dúvida ele é: ma,. por ter parado te da igrt:ja e depois ia comandar a construção ou reconstrução dt: igrcj:ts.
no tl'mpo. i"'u.tlml'nte H rasado e ·upcr tkio. o. cemih::rios c açudes. Assim se passaram trinta anos. com o s~quito scmprc ,,
pl · atinnar .1 supcnoridud' do •rtanejo. procede o autor então a um aumentar. Até que a Igreja, já de há muito não \·endo com bon ·olho · aquck
diagm,sttl'l' contra. tin1 entre dots tipo, dt.' \ aquciro•. o ·rtanejo e o gaúcho. competidor avulso, mandou uma missão investigar o que se pns uva no arr,Hal
Dt ~ti ngu· m·: ·por tudl)..lt ' pd,t roupa ·.jaque meioc pinho odoprimciro de Canudos, onde os conselhciristas se tinham finalmente refugiado.
m 'lJ u. 11 ·ar.tt ·r tanto quanto o meio genero o do segundo. o primeiro se A narrativa dessa missão, que se conhece pela pala\ ras de um do.
th'lll .1 .li' ui a qut.' s • tran~mud.t num Jtimo em ativid,td • violen! 1, enquanto no enviado , frei João Evangeli ta do Monte Marciano. é seguida d • perto ~lo
. ~undl . • notam .1jO\ ialid.tde c o •n. o dc fe. ta. autor. De acordo com ela, o dois capuchinhos dt ·garam a C.mudo:. p.u:1
LLngl • ..:ur. o ' \.!mina a. \e. tes do ertan ·jo. sua momdia, seu co tu· executar es õe de reavivamento, como cru comum em todo o sertão. P1c a-
m' .. u IJ: 'r. s ·u foklor '. o· Mdi · que dt.'sen\'Oive para enfrentar a eca ram no recinto sagrado, pura uma multidão ho til c ostensivamente arm,ld.t.
•t ·rn:~m nt p.lir.tr l l em .tmea ·a llbrc sua cabe 'a c. finalmente, sua rdigio- Denunciaram os perigos a que estavam expo tos os pec.tdores ali ~umdo . al'
~id.td Lt.l, 'l'lliO •le. rne. u.;a. porque ab on·e elementos da crença dos obedecerem ma i a Antônio Conselheiro do que ~ Santa Madre lgrqa. Onl ·-
ind1 ''· J p0rtugtl' -e, • d,), africano . entre elas as superstiçõe de toda naram que o presentes se desarmassem e abandonas em o arrai<~l eu hd 'r.
md ·m l t t ianismo. Compro\·am-n o fato de j.i terem havido na região. e voltando aos lares di tantes. E finalmente interpelaram o n elhctro quanto a
hJ t.:mpos. \,trw. outr · :urto · de in urrciçõe marcadas pela religião. poi · eu dissídio com a república, e orlando-o a aceitar a nova fL rma de g~.wemo.
<'m la mi:tu • Jl. i(!UJ irn nte o b.lnditi mo e tomou endêmico. ~01110 re ultado, tiveram que sair dali meio fugiJo . amedrontado pela re.u;a
Ytolenta que os ameaçou .
. De volta. fizeram seu relatório, em vit1udc dP qual a Igreja retir u s.:u
010
"-· :rõ:-.·1o Co~sELHEJRo ap a Antônio Conselheiro e pa ou a engro ar as fileira' de to.k - quanD
auguravam o desmantelamento de 'Canudo-.
UM PARJ1-..'TESE IRRIT.-\:-;TE
mem··
es a ordem de nívei di cursi\os. \atn enc ntrar n:~ parte ··o ho-
uma argumentação bem urpre •ndcnte. ~ gund da.
161
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WALNJCE NOGUEIRA GALVAO
. urgido de tanto. l'aldcamentos c dc tanlo ondicionamentos mesológicos d'. 0 diagnóstico de Antônio Conselheiro é contraditório, o lellor perceben-
1
vcrgc ntc . Dclincaram-st' dcs c modo duas categorias de mestiçagem
do 11 hesit:Jção do autor entre decretá-lo não desequilibrado c constdetá-lo
ord '. te, confonm: se tratas~c do litoral ou do sertão. No litoral, onde 0 af~~~ "doente grave", afetado de paranóia. Determinado pelas variáveis raclil!S que
l\lllt> foi .1hundantc como mão-de obra para os canaviais e engenhos,
. d . 0 po.. entramm em sua constituição, sob o influxo da condições do meio foi rcgrcdindo
vo.lllll' ll!O t ' ndcu a a~ . entnr- c c o 11po prc ommuntc a cr o mulato. No sertã até tornar-se um heresiarca, a exemplo daqueles do cristinnilimo primtti\'o.
,,k ritmo dt• \ td.l durís~inll). a\ csso à scdcntarização, os bandeirnntcs paulist<~~
Envolvido por tabela nas lutas de família entre Maciéis c Arau1os . •ilém das
·o~ mdios acab.1r.1m por pr,'lduzir c 1mo tipo predominant • o curiboca. atrocidades de que seu clã foi vítima viveu infelicidades pe soais que 0 lev:t -
\ popul.t ' Jl) do sert:il. após Ir~ · cculo, de i ·olamcnto. c mostra rc. ram à loucum. Quando ressurge, é já como o Peregrino. que as ·im c intitul,tv:t,
cr· Í\',t et'm rclaç:io .to prt"Cnte por niio t •r rcc •bido influência posteriores. partindo para trinta anos de peregrinação pelos sertões, em penitência sab ·-se
J),·dk.mdo-. ' colctivam ·ntc .to trabalho nômade do rcgime pastoril, manift• ta ltl por que pecados. "Condensando o ob curantismo de três ruças", a pessoa
t' t1.1 ·o, p. ict,logtcos d.1mdolc .tv ·nturcira dos bandeirantes c da impulsividud~ do líder "rres eu tanto que se projetou na Hi tótia''.
indtgcn.t. t •nto .10 tipo fí ico, ou fL·nótipo. o autor encontra ncle uma grande Líder místico, Antônio Conselheiro, acompanhado de scu SCljltazcs. \a
Ulll h rmid.td '. d ·onde conclui que ertancjo ~"o tipo de uma sub alegoria gut:a a pclo sertão. Quando cntrava nas vilas e aldeias, fazia seu st:rmão d•:m-
ctni ·.1 J·' Ctln titutd.t". Fort 'corajn o. sem dúvida ele é: ma,. por ter parado te da igrt:ja e depois ia comandar a construção ou reconstrução dt: igrcj:ts.
no tl'mpo. i"'u.tlml'nte H rasado e ·upcr tkio. o. cemih::rios c açudes. Assim se passaram trinta anos. com o s~quito scmprc ,,
pl · atinnar .1 supcnoridud' do •rtanejo. procede o autor então a um aumentar. Até que a Igreja, já de há muito não \·endo com bon ·olho · aquck
diagm,sttl'l' contra. tin1 entre dots tipo, dt.' \ aquciro•. o ·rtanejo e o gaúcho. competidor avulso, mandou uma missão investigar o que se pns uva no arr,Hal
Dt ~ti ngu· m·: ·por tudl)..lt ' pd,t roupa ·.jaque meioc pinho odoprimciro de Canudos, onde os conselhciristas se tinham finalmente refugiado.
m 'lJ u. 11 ·ar.tt ·r tanto quanto o meio genero o do segundo. o primeiro se A narrativa dessa missão, que se conhece pela pala\ ras de um do.
th'lll .1 .li' ui a qut.' s • tran~mud.t num Jtimo em ativid,td • violen! 1, enquanto no enviado , frei João Evangeli ta do Monte Marciano. é seguida d • perto ~lo
. ~undl . • notam .1jO\ ialid.tde c o •n. o dc fe. ta. autor. De acordo com ela, o dois capuchinhos dt ·garam a C.mudo:. p.u:1
LLngl • ..:ur. o ' \.!mina a. \e. tes do ertan ·jo. sua momdia, seu co tu· executar es õe de reavivamento, como cru comum em todo o sertão. P1c a-
m' .. u IJ: 'r. s ·u foklor '. o· Mdi · que dt.'sen\'Oive para enfrentar a eca ram no recinto sagrado, pura uma multidão ho til c ostensivamente arm,ld.t.
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~id.td Lt.l, 'l'lliO •le. rne. u.;a. porque ab on·e elementos da crença dos obedecerem ma i a Antônio Conselheiro do que ~ Santa Madre lgrqa. Onl ·-
ind1 ''· J p0rtugtl' -e, • d,), africano . entre elas as superstiçõe de toda naram que o presentes se desarmassem e abandonas em o arrai<~l eu hd 'r.
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hJ t.:mpos. \,trw. outr · :urto · de in urrciçõe marcadas pela religião. poi · eu dissídio com a república, e orlando-o a aceitar a nova fL rma de g~.wemo.
<'m la mi:tu • Jl. i(!UJ irn nte o b.lnditi mo e tomou endêmico. ~01110 re ultado, tiveram que sair dali meio fugiJo . amedrontado pela re.u;a
Ytolenta que os ameaçou .
. De volta. fizeram seu relatório, em vit1udc dP qual a Igreja retir u s.:u
010
"-· :rõ:-.·1o Co~sELHEJRo ap a Antônio Conselheiro e pa ou a engro ar as fileira' de to.k - quanD
auguravam o desmantelamento de 'Canudo-.
UM PARJ1-..'TESE IRRIT.-\:-;TE
mem··
es a ordem de nívei di cursi\os. \atn enc ntrar n:~ parte ··o ho-
uma argumentação bem urpre •ndcnte. ~ gund da.
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\\\(.f( f r>;(l(illiR\(,\1\ \11
1\ • ,dt.l ao dtl bran o como 1.1ça ~upctiM eta con ·nte n.1 lt'llii,J do
"' •undt' unp 'I r;di~mo t•uropt.:u, n.1s ultunas tléc.tda.~ tio seculo 1X ,,. 011 ,1s
pltldllZid•l' • l'\ idcntcmcntc, pelo~ ·uropeus
.• . . () <]llt' l' lll:ll' UI rll'lllk l'lllllJllt'lll
Jt•r. p.u.1 11 castl 1k' pcns.mwnto brasiiL'If(' Jn me~nl.lt'poc,J. t' q1u 0 r.u 1 ~mo
st'J·• a ·r1to t' :.~provado preCisamente por ,tquelcs qut•l'lc t.li~r 11 mmJ
1\ prl'lt:rêu ·w pelo mtlio não~ no\ idaJ ·nem t•strt•J,It'lll (h- ,,.,to
1
.1. 1 1.1
. histom:am ·ntc dat.tda c a~sume, no imagm.il io das l'lilt's ·olnni,Ji~. uma l1nt
~';10 ueflagrat.la pdl s lliOI'illlClllOS d. indt•pcndt~nda IIJ Allll'l it'.l l.dlllt.l RI' I
1 in.Jit:,Jr ancestrais indíg ·nas s1gnillcava opor-se .111 rolmuz;1dor unlpt·u
162
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\\\(.f( f r>;(l(illiR\(,\1\ \11
1\ • ,dt.l ao dtl bran o como 1.1ça ~upctiM eta con ·nte n.1 lt'llii,J do
"' •undt' unp 'I r;di~mo t•uropt.:u, n.1s ultunas tléc.tda.~ tio seculo 1X ,,. 011 ,1s
pltldllZid•l' • l'\ idcntcmcntc, pelo~ ·uropeus
.• . . () <]llt' l' lll:ll' UI rll'lllk l'lllllJllt'lll
Jt•r. p.u.1 11 castl 1k' pcns.mwnto brasiiL'If(' Jn me~nl.lt'poc,J. t' q1u 0 r.u 1 ~mo
st'J·• a ·r1to t' :.~provado preCisamente por ,tquelcs qut•l'lc t.li~r 11 mmJ
1\ prl'lt:rêu ·w pelo mtlio não~ no\ idaJ ·nem t•strt•J,It'lll (h- ,,.,to
1
.1. 1 1.1
. histom:am ·ntc dat.tda c a~sume, no imagm.il io das l'lilt's ·olnni,Ji~. uma l1nt
~';10 ueflagrat.la pdl s lliOI'illlClllOS d. indt•pcndt~nda IIJ Allll'l it'.l l.dlllt.l RI' I
1 in.Jit:,Jr ancestrais indíg ·nas s1gnillcava opor-se .111 rolmuz;1dor unlpt·u
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OS ,\UUtltS
WALNICE NOGUEIRA GALVÃO
c'nns1·llwuo,qut· c1a católico c beato mas não tinha sido ordenado sacerd
• . lOS
uhtinl1.1 ou lidO a tolcJ,JilCJa I v1g ános Ioca1s,
. con f orme oca o. Sabe-se taOte ' te Pires Ferreira. Emboscadas estas em Uauá, seguiu-se um combak "an-
tx: qul'. Jll'tamcntc por nao ser pa re, c c pregava somente no adro d·rn.
111 · ~ d 1 grento. em que os canu,denses foram dizimados. Ainda assim, sem sab~r ava-
ig1t·ju• c nao no altur, c queM! abstinha de administrar os sacramentos co a. liar a quantidade em numeros e os recursos de que o adversário dispunha, a
• rno
~ ·• .um:ntc , o bat•~mo, etc. Pc1cgrinava acompanhado por um séquito q 0 tropas bateram em retirada. Esse episódio passou à história como a primeira
, ue 0 expedição contra Canudos, ou Expedição Pires Ferreira ( 1896).
at:oltL!V.t na. nhr.ts c nas orações. rezando junto com ele.
01a, o .tdvcnto da república acarreta alterações que perturbam 0 ânirn Enceta-se então a preparação de uma nova ofensiva, sempre com tropas
estaduais baianas, agora mais numerosas e mais bem armadas. hem como ~ob
do~ pc1egrinos De um lado, ~ão decretados novos impostos, que gravam~
0 comando de uma patente mais alta, o major Febrônio de Brito. Em janeiro de
popul<u,;io poiJJe do sertão. De outro, certas medidas laicas, mas afetando
1897 deslanchao ataque, que resulta igualmente em derrota, nos arredores de
prJncJpio, rehgiosos vincadamcnte tradicionai • ão postas em ação. É caso
0 Canudos. Essa foi a segunda expedição contra Canudos, ou Expedição Febrônio
da t'Jl.lraç~o entre Igreja c Estado, a liberdade de culto e a instituição do
de Brito.
l':t .uncnto CJvil pela Assembléia Constituinte de 1890. Especialmente esta,
qut• rontr.Jdllla frontalmente um sacramento católico.
Apcís algum,,., csraramuça com as autoridades das vilas e arraiais do
0 DESASTRE
imcnnr. os peregrinos passaram a evitar as aglomerações urbanas e a afundar-
( cada Vl'l. mais no deserto, para votar-se à vida contemplativa. Acabam por
A terceira expedição ganha uma patente superior, tendo por comandante
,Jrrandt.tr, por volta do ano de I893. na tapera de uma fazenda abandonada no
um coronel, e que coronel: Moreira César tivera sua reputação firmada duran-
lundo do ;crtJo d.t Balua, longe de tudo. As ruínas eram de uma antiga proprie-
te a campanha contra a Revolução Federalista no sul do país, quando se desta-
tl.•<lt· fun ltaria ora ab<tndonada c que pertencera à Casa da Torre, um vasto
cara pelo rigor da repressão que exercia, ganhando então o cognome de
dom mio ú criação de gado estabelecido pelo bandeirante Garcia d' Ávila nos
"Corta-cabeças", ou "Corta-pescoço". O perigo que Canudos veio a repre-
p11mtí1Jio da rolúma. Sohre as ruínas os peregrinos instalam seu acampamen-
sentar, após essas duas derrotas, já é agora considerado de alçada nacional c
to. edilic.un pouco a pouco seu~ barracos de pau-a-pique - futura Tróia de
grave demais para ficar sob a responsabilidade de tropas estaduais. Monta-se
'"'flll, no o nnor euclidiano-. reconstroem a pulso, e pedra por pedra, um uma grande ofensiva, com forças federais vindas de todo o país, armamento
nt1go templo loc,JI l.Omcçam a erguer um outro muito maior, defronte àque- moderno incluindo canhões, e uma ampla campanha no sentido de alertar a
le A111hos no largo central do povoado, serão batizados como Igreja Velha e opinião pública. Os ânimos estão exaltados, a demagogia patriótica cspicaçada,
lgn:j.1 'ov,t F<.ta ·a imtalado o arraial de Canudos, nome pelo qual já era c começa-se a insinuar que os incidentes do sertão apontam para uma tentati-
onhccida ·• untiga fatt•nda . va de restauração monárquica.
Ü da ct'n~tnJçao dJ Igreja Nova que decorre um primeiro incidente, a Acompanhada pela atenção de todo o país, a terceira expedição se reúne
nHrltlplic.t\ão ddc . e .. , olumando até Jdlagrar uma verdadeira guerra. em Salvador c marcha para Canudos. Chega a atacar o arraial, ma após
to h.1 lllJ.deira nu sertão. cuja cobertura vegetal típica é a caatinga. a algumas horas, sofrendo pesadas perdas, inclusive a de seu comandante, hate
qual. como\ m10s. nJo p.tssa de um mato ralo. de garranchos, gravetos e cac· em retirada, dehandando, enquanto para facilitar a fuga joga fora armas c
11 1
I' r o o pô' o de Canudos tinha comprado c pago antecipadamente na munições - que serão coletadas e ;ntesouradas pelos canudense - e até
:d.tdc d Juazeiro um lote de peças necessárias para as obras da Igreja Nova. i>Cças de farda, como dólmans ou botas.
Jo tcnJn 1do ntreguc a encomenda. apesar de paga, ameaçaram ir buscá·
A celeuma provocada por mais eua derrota é incalculável. Manifestaçõc
la pc ' llm nt •.
0 de rua nas duas principais cidades do país, Rio de Janeiro e São Paulo, acabaram
' .filctarn, organizados num.t proci são precedida pela bandeira~O se transformando em motins em que o furor da multidão se desencadeou obre
05
•nt Santo, cantando hinos religiosos. Mas as autoridades IocaJS alvos mais óbvios, ou seja, os poucos jornais monarquistas sobrevivente ·
11\ ocarlt '· parJ recebê-lo . tropas estaduais, comandadas pelo renen- quatro foram empastelados e o dono de um deles foi linchado. Todos clamavam
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OS ,\UUtltS
WALNICE NOGUEIRA GALVÃO
c'nns1·llwuo,qut· c1a católico c beato mas não tinha sido ordenado sacerd
• . lOS
uhtinl1.1 ou lidO a tolcJ,JilCJa I v1g ános Ioca1s,
. con f orme oca o. Sabe-se taOte ' te Pires Ferreira. Emboscadas estas em Uauá, seguiu-se um combak "an-
tx: qul'. Jll'tamcntc por nao ser pa re, c c pregava somente no adro d·rn.
111 · ~ d 1 grento. em que os canu,denses foram dizimados. Ainda assim, sem sab~r ava-
ig1t·ju• c nao no altur, c queM! abstinha de administrar os sacramentos co a. liar a quantidade em numeros e os recursos de que o adversário dispunha, a
• rno
~ ·• .um:ntc , o bat•~mo, etc. Pc1cgrinava acompanhado por um séquito q 0 tropas bateram em retirada. Esse episódio passou à história como a primeira
, ue 0 expedição contra Canudos, ou Expedição Pires Ferreira ( 1896).
at:oltL!V.t na. nhr.ts c nas orações. rezando junto com ele.
01a, o .tdvcnto da república acarreta alterações que perturbam 0 ânirn Enceta-se então a preparação de uma nova ofensiva, sempre com tropas
estaduais baianas, agora mais numerosas e mais bem armadas. hem como ~ob
do~ pc1egrinos De um lado, ~ão decretados novos impostos, que gravam~
0 comando de uma patente mais alta, o major Febrônio de Brito. Em janeiro de
popul<u,;io poiJJe do sertão. De outro, certas medidas laicas, mas afetando
1897 deslanchao ataque, que resulta igualmente em derrota, nos arredores de
prJncJpio, rehgiosos vincadamcnte tradicionai • ão postas em ação. É caso
0 Canudos. Essa foi a segunda expedição contra Canudos, ou Expedição Febrônio
da t'Jl.lraç~o entre Igreja c Estado, a liberdade de culto e a instituição do
de Brito.
l':t .uncnto CJvil pela Assembléia Constituinte de 1890. Especialmente esta,
qut• rontr.Jdllla frontalmente um sacramento católico.
Apcís algum,,., csraramuça com as autoridades das vilas e arraiais do
0 DESASTRE
imcnnr. os peregrinos passaram a evitar as aglomerações urbanas e a afundar-
( cada Vl'l. mais no deserto, para votar-se à vida contemplativa. Acabam por
A terceira expedição ganha uma patente superior, tendo por comandante
,Jrrandt.tr, por volta do ano de I893. na tapera de uma fazenda abandonada no
um coronel, e que coronel: Moreira César tivera sua reputação firmada duran-
lundo do ;crtJo d.t Balua, longe de tudo. As ruínas eram de uma antiga proprie-
te a campanha contra a Revolução Federalista no sul do país, quando se desta-
tl.•<lt· fun ltaria ora ab<tndonada c que pertencera à Casa da Torre, um vasto
cara pelo rigor da repressão que exercia, ganhando então o cognome de
dom mio ú criação de gado estabelecido pelo bandeirante Garcia d' Ávila nos
"Corta-cabeças", ou "Corta-pescoço". O perigo que Canudos veio a repre-
p11mtí1Jio da rolúma. Sohre as ruínas os peregrinos instalam seu acampamen-
sentar, após essas duas derrotas, já é agora considerado de alçada nacional c
to. edilic.un pouco a pouco seu~ barracos de pau-a-pique - futura Tróia de
grave demais para ficar sob a responsabilidade de tropas estaduais. Monta-se
'"'flll, no o nnor euclidiano-. reconstroem a pulso, e pedra por pedra, um uma grande ofensiva, com forças federais vindas de todo o país, armamento
nt1go templo loc,JI l.Omcçam a erguer um outro muito maior, defronte àque- moderno incluindo canhões, e uma ampla campanha no sentido de alertar a
le A111hos no largo central do povoado, serão batizados como Igreja Velha e opinião pública. Os ânimos estão exaltados, a demagogia patriótica cspicaçada,
lgn:j.1 'ov,t F<.ta ·a imtalado o arraial de Canudos, nome pelo qual já era c começa-se a insinuar que os incidentes do sertão apontam para uma tentati-
onhccida ·• untiga fatt•nda . va de restauração monárquica.
Ü da ct'n~tnJçao dJ Igreja Nova que decorre um primeiro incidente, a Acompanhada pela atenção de todo o país, a terceira expedição se reúne
nHrltlplic.t\ão ddc . e .. , olumando até Jdlagrar uma verdadeira guerra. em Salvador c marcha para Canudos. Chega a atacar o arraial, ma após
to h.1 lllJ.deira nu sertão. cuja cobertura vegetal típica é a caatinga. a algumas horas, sofrendo pesadas perdas, inclusive a de seu comandante, hate
qual. como\ m10s. nJo p.tssa de um mato ralo. de garranchos, gravetos e cac· em retirada, dehandando, enquanto para facilitar a fuga joga fora armas c
11 1
I' r o o pô' o de Canudos tinha comprado c pago antecipadamente na munições - que serão coletadas e ;ntesouradas pelos canudense - e até
:d.tdc d Juazeiro um lote de peças necessárias para as obras da Igreja Nova. i>Cças de farda, como dólmans ou botas.
Jo tcnJn 1do ntreguc a encomenda. apesar de paga, ameaçaram ir buscá·
A celeuma provocada por mais eua derrota é incalculável. Manifestaçõc
la pc ' llm nt •.
0 de rua nas duas principais cidades do país, Rio de Janeiro e São Paulo, acabaram
' .filctarn, organizados num.t proci são precedida pela bandeira~O se transformando em motins em que o furor da multidão se desencadeou obre
05
•nt Santo, cantando hinos religiosos. Mas as autoridades IocaJS alvos mais óbvios, ou seja, os poucos jornais monarquistas sobrevivente ·
11\ ocarlt '· parJ recebê-lo . tropas estaduais, comandadas pelo renen- quatro foram empastelados e o dono de um deles foi linchado. Todos clamavam
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(),\ '>lllfllf \
pt lo HIIIIJilÍI<JITll'IIIIJ ut~~a amca~·;~ nacional coJIII'a a n.:p(JhiJca ( J~o. t'>tud~hlr· , crn m:..nulít.c (ru m:mulkha, r; r,., (r rnhlau1
wn1·Ja
a ~imJJ;Hn UJn,t pclíçuo cxí~índo a l1qti•uaçao do!-. ~cqua.r.c~ do "dcJ~Cnt:r;,rJ,, formada ~;rn c;ornhlé<. <: vrmblé:t•., I..(Jm r .gt tro na<; 1,
lkpul.tdo~ L' •,cnadorcs n.:ío dl\cutíarn outra coisa 110 Parlamento. () <:élchrt r·ttnhém tfl<ll'. t<~rdc crn (Juirnariíe•,J<o ~
com (1 ' • • •
JIHI~I" J<ui Barbm.t,camJwaouo libcrall'>mocdodtrcilO, futurod<.:lcgadoh 1a•.if Á medida qut.; r1 a~.sédt'' con\lrtngc 11 arrawl, d•• q <~1 • J.. m.
fO a ('onfcrém;ia da Pat em Haia lx:tn comr> candidato a pm~idénda, prcJfcnu ~c;ndo oc;upacJ~,~. a rc•.i<.téncia inquebrantável d<r. <:a11uden. '• '1 JfMI a ·1 d a
p;tle\lr:t p1íbhca na qual chamou os canudcn&c~ de "horda de mcntccap 111~ c fiar a comprccn~ao c a crmf.lituír-sc em emgma. Algun d1a ar tr_ d , fin. I,
!!'"é'"· durndo qut· uào pa~savam de um caso de po lícia, a qual deveria ha\taJ par I,a menta-~c uma mndiçlí(), n~;gociada prrr Antônto B 'dtmhc,, rncrnbfll da
p;11 a l·lirniná-los. o~ jornats trataram a derrota como uma calamidade nacional, guarda pt.;~~o<d de Anlímio Ccm~clheiro. Para comtcrnaçao der·. alllcan , , en
dis'>cminando a insegurança c n alannc em toda parte, multiplicando nolícia\ !regam-se cerca de trczcnta~ mulheres, reduzida'> pela fr}me <J c md•'fa d
fahas, cJrlas forjada~ c focos conspiralórios até internacionais. c;squcletos, acompanhadas pelas crianças c por algun~ velhw; c a re i téncta
f· nc ,c clima que Euclides da Cunha pela primeira vez ~c pronuncia recrudesce, mais forte agora porque desvencilhada de um pel-e, mr>rto. Final-
sobre a guerra dc Canudos, publicando no jornal A Provfncía (hoje O r~·sttulo) mente, após um bombardeio intenso de vário~ dia~ c da utílizaçao pioncJr<~ d.;
de S. f'mrln dois artigos intitulados "A nossa Vcndéia", onde expressa opinião uma espécie de napa lm primitivo- a gasolina espalhada sobre as ca•,a "'inda
cm nada diferente das demais. habitadas é incendiada por bastões de dinamite sobre ela lançado<; -o arraral
Prepara-se entiio uma quarta expedição, na qual novamente sobe a pa- &e calou, sem se render, a 5 de outubro de 1897. Os últimos re~btente~.
tcnle em comando, agora o general Artur Oscar de Andrade Guimarães, as- calcinados numa cova no largo das igrejas, não eram mais que quatr(), dos
Sl~lido por quatro outros generais - seu irmão Carlos Eugênio de Andrade quais dois homens, um velho e um menino.
(ruimar5es, Cláudio do Amaral Savagct, Silva Barbosa e Miguel Maria Girard. O recenseamento oficial do exército computou 5.200 ca5a~. o que, a
Até um marechal a expedição chegou a ter, pois o ministro da Guerra, mare- base da estimativa conservadora de uma média de cinco pessoas por cac;<~.
dMI Machado Biltcncourt, deslocou-se para o teatro das operações, lá perma- estimativa baixa para o sertão, dá uma população de 26 mil pessoas. Ou seJa,
necendo cpm seu gahinetc adrede montado, e despachando ao lado de Canudos, a contagem elevou Canudos à posição de segunda cidade do Estado da Bahia
em Monte Santo. As tropas são mobilizadas em todo o país, desde o Amazo- na época, coeva de uma São Paulo que mal atingia 200 mil habitantes. O
nas até o Rio Grandc Jo Sul. cadáver de Antônio Conselheiro, que morrera dias antes do final. foi exumado.
Sua cabeça foi cortada e levada para a Faculdade de Medicina da Bahia para
ser autopsiada, com a intenção de descobrir-se a origem de seus descaminho .
A EXPEDIÇÃO FINAL o que, segundo rezavam as teorias lombrosianas, podia ser inferido a partir das
dimensões do crânio e da dissecação do cérebro. Mas, infelizmente, os resul-
A quarta expedição põe-se em marcha em junho de 1897 (com Euclides, lados não foram conclusivos.
nomeado adido do ministro da Guerra, seguindo depois com uma das colunas
em agosto) c vai assediar o arraial, o qual é cercado para impedir socorro ou
reforços. Mas sobretudo para tolher o abastecimento de água, tão preciosa na REPERCUSSÕES
ea.Jtinga seca e penosamente obtida em cacimbas no Jeito seco do rio vaza·
Barns.
Após uma guerra que se revefou ingloriamente como uma chacina de
Entrementes, os canudenses, que antes só dispunham de poucas e arcai·e pobres-diabos, ficou evidente que não houvera conspiração alguma e qu e~te
cas peças de fogo, daquelas de carregar pela boca - arcabuzes, bacamartes bando de sertanejos miseráveis não tinha qualquer ligação.com os ~anarqUis
coluhrinas - agora dispõem do mais moderno armamento da época, abandona· tas instituídos - gente branca, urbana e de outra classe social, que t~nha ~o~or
do pela t<'rceira expedição em debandada. E especialmente os cobiçados rifleS a '1agunços" e ''fanáticos" pobres como aqueles-, nem qualquer apoio logisuco,
<k repeti'< to Mannlicher austríacos, marca logo metamorfoseada na fala set· seja no país, seja no exterior.
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lkpul.tdo~ L' •,cnadorcs n.:ío dl\cutíarn outra coisa 110 Parlamento. () <:élchrt r·ttnhém tfl<ll'. t<~rdc crn (Juirnariíe•,J<o ~
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fahas, cJrlas forjada~ c focos conspiralórios até internacionais. c;squcletos, acompanhadas pelas crianças c por algun~ velhw; c a re i téncta
f· nc ,c clima que Euclides da Cunha pela primeira vez ~c pronuncia recrudesce, mais forte agora porque desvencilhada de um pel-e, mr>rto. Final-
sobre a guerra dc Canudos, publicando no jornal A Provfncía (hoje O r~·sttulo) mente, após um bombardeio intenso de vário~ dia~ c da utílizaçao pioncJr<~ d.;
de S. f'mrln dois artigos intitulados "A nossa Vcndéia", onde expressa opinião uma espécie de napa lm primitivo- a gasolina espalhada sobre as ca•,a "'inda
cm nada diferente das demais. habitadas é incendiada por bastões de dinamite sobre ela lançado<; -o arraral
Prepara-se entiio uma quarta expedição, na qual novamente sobe a pa- &e calou, sem se render, a 5 de outubro de 1897. Os últimos re~btente~.
tcnle em comando, agora o general Artur Oscar de Andrade Guimarães, as- calcinados numa cova no largo das igrejas, não eram mais que quatr(), dos
Sl~lido por quatro outros generais - seu irmão Carlos Eugênio de Andrade quais dois homens, um velho e um menino.
(ruimar5es, Cláudio do Amaral Savagct, Silva Barbosa e Miguel Maria Girard. O recenseamento oficial do exército computou 5.200 ca5a~. o que, a
Até um marechal a expedição chegou a ter, pois o ministro da Guerra, mare- base da estimativa conservadora de uma média de cinco pessoas por cac;<~.
dMI Machado Biltcncourt, deslocou-se para o teatro das operações, lá perma- estimativa baixa para o sertão, dá uma população de 26 mil pessoas. Ou seJa,
necendo cpm seu gahinetc adrede montado, e despachando ao lado de Canudos, a contagem elevou Canudos à posição de segunda cidade do Estado da Bahia
em Monte Santo. As tropas são mobilizadas em todo o país, desde o Amazo- na época, coeva de uma São Paulo que mal atingia 200 mil habitantes. O
nas até o Rio Grandc Jo Sul. cadáver de Antônio Conselheiro, que morrera dias antes do final. foi exumado.
Sua cabeça foi cortada e levada para a Faculdade de Medicina da Bahia para
ser autopsiada, com a intenção de descobrir-se a origem de seus descaminho .
A EXPEDIÇÃO FINAL o que, segundo rezavam as teorias lombrosianas, podia ser inferido a partir das
dimensões do crânio e da dissecação do cérebro. Mas, infelizmente, os resul-
A quarta expedição põe-se em marcha em junho de 1897 (com Euclides, lados não foram conclusivos.
nomeado adido do ministro da Guerra, seguindo depois com uma das colunas
em agosto) c vai assediar o arraial, o qual é cercado para impedir socorro ou
reforços. Mas sobretudo para tolher o abastecimento de água, tão preciosa na REPERCUSSÕES
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Barns.
Após uma guerra que se revefou ingloriamente como uma chacina de
Entrementes, os canudenses, que antes só dispunham de poucas e arcai·e pobres-diabos, ficou evidente que não houvera conspiração alguma e qu e~te
cas peças de fogo, daquelas de carregar pela boca - arcabuzes, bacamartes bando de sertanejos miseráveis não tinha qualquer ligação.com os ~anarqUis
coluhrinas - agora dispõem do mais moderno armamento da época, abandona· tas instituídos - gente branca, urbana e de outra classe social, que t~nha ~o~or
do pela t<'rceira expedição em debandada. E especialmente os cobiçados rifleS a '1agunços" e ''fanáticos" pobres como aqueles-, nem qualquer apoio logisuco,
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OS ,/.RliJI.
/69
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f:.RTíJí
Ronaldo Vainfas
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f:.RTíJí
Ronaldo Vainfas
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TRAços BIOGRAr1cos
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TRAços BIOGRAr1cos
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~p T 'W DF. !IISTÓRIA COL.OVIAL RONALDO VAI ..... FAS
nd _ e pelo darv. in i mo social em voga no final do século ue incomodava tanto a Capistrano na portentosa llistr5ria geral do Brasil,
lnt r ·-se tam ;m pela filosofia positivista de Augusto Comte e ad. oq do ensino da "h.1stona
• · pa.r.tna
· "?.
0 • r 111 téri ·a do ;ran t! Taine ( 1828-1862) e do inglês Henry Buck!
base Incomodava-o antes de tu do o estr., o, a escnta
. f na
. . , I
e rnsensrve .
do vrscon-
-I 62 . :-.ta o que mais o encantava era a escola histórica alemã, a de porto Seguro, título que o imperador concederia a nosso primeiro grande
m t i-.a de cntica documental celebrizada por Leopold von Ranke, as d~
hrsto
n'ador premiando-o por sua contribuição à memória da nação. Capistrano
' .
lenü d • hr tóna natural, economia e sociedade. A geografia era drnirava a erudição de Varnhagen, mas detestava seu texto. de que vánas
e e t dos r11cularrnente cara a Capistrano, que, entre outros feitos a zes se queixou em sua vasta correspondência, e almejava escrever uma
nn tr duziri:l do alemão o li\ ro de J. E. Wappoeus, Handbuch de; ~~stória viva e vivaz. Incomodava-o também a cronologia rígida de Varnhagcn.
•rap/1 .: zmd Starisri · des Kaserreiches Brasilien (Leipzig, 1871), publi- a história do Brasil começando em 1500 e acompanhando, pari passu, os latos
om o título de A geografia física do Brasil, em 1884. oficiais até a chegada da "corte joanina" ao Brasil. E nisso chegamos ao ponto
a ·rdade. o intere se de Capistrano pelas relações entre história e central. Capistrano rejeitava o caráter "oficial" da história feita por Varnhagen,
::r ii e ua convicção de que as sociedades eram profundamente marcadas história empenhada em sustentar a coerência do império desde as origens co-
;,e,-cu tura c pelo meio geográfico estariam presentes no futuro Capítulos de loniais, sua unidade territorial, a excelência da dinastia de Bragança.
!ustórw colonial obra clássica de nossa historiografia que nos cabe aqui E temos aqui que fazer um breve parêntesis, comentar um pouco a obra
apn: cn ar a leitor. de Varnhagen, para que possamos compreender o ânimo de C'apistrano ~m
Cont -nos José Honório Rodrigues que o sonho de escrever uma "nova seu Capítulos de história colonial. Escrevendo no meado do século XIX.
história" do Brasil era multo antigo em Capistrano. Pelo menos foi o que disse Vamhagen, paulista de Sorocaba e filho de alemães, se empenharia em cons-
p u!o Prado. em carta de 1924. quase no fim da vida, revelando que tivera tal truir uma história do Brasil à feição dos interesses imperiais da elite dominan-
1déra h:n ia cinquenta anos.· Uma "nova história" do Brasil, portanto, eis o que te. Elite centralizadora e escravocrata, vale dizer, que lograra t1 -tito 11.1
G:tp ano pretendia escrever, e, se não foi aos 21 anos, sê-lo-ia mais tarde, conservação do império, superando a abdicaÇão de D. Pedro 1, a crise rcgcnl'Íal.
m mero a seus estudos e quando preparou a reedição crítica da grande obra as rebeliões espoucadas de norte a sul do país nos anos 1830. A mesma clitt'
de hr tóna bras i lei até então escrita, a História geral do Brasil, de Francis- que arquitetara o "Golpe da Maioridade", entronizando D. Pedro 11 pdo hem
co Adolpho de Varnhagen. publicada originalmente em cinco volumes, de 1854 da unidade impcrial. 4
a 1857. Na llist6ria de Varnhagen, louva-se a colonização portuguesa. sua ,lbt.t
O onho amadureceu ali pelos anos 1890, pelo que se vê na carta que cxpansionista, seu ímpeto civilizatório; c louva-se mais a dinastia dl' Bra •.mça
e creveu ao barão do Rio Branco, contando que desejava escrever uma histó- - a que pertencia D. Pedro JI - que a de Avis. É uma história clitista, lauJ.ttú-
na dtferente. "dizer algumas cotsas novas", quebrar os "quadros de ferro de ria dos "vencedores", que despreza o índio, mal fala do negro, t' dcsumh.r
Varnhagcn", introduzir assun tos até então pouco estudados, por vezes desco- sempre das rebeliões, dcsqualificando-as.
nh • ido as bandeiras. as minas, as estradas, a criação do gado. 3 Não pode passar s m registro o fato d Varnh 1 n 1 r cs ·1ito un1.1 /li
Capi~tranu já ensaiara os pnmciros passos em 1889, quando publicou tôria gt•ral do /Jrasil muito distinta da proposta de Kurl von Murtius, o 11a1u
Canunh01 alllif{M e povoamento do Brasil. Mas o projeto era mais ambi· ralista alemão que, em 1844, ganhara o oncurso promovido lu n. · m ~·n.td
cr fat.er uma gnmdc lu~tória do Brasil diferente da de Varnhagen. Porquê? lr~stituto Histórico c Geográfico Bra il iro obre "Como
hrstória do Brnsil". Von Martius unhara p mio pn pond
uma história do Brasil deveria r "fu d t r · "
' a I' '''I' <I· t m 211 dt ma1o de I'J24 Aput/ lt»~ Honório Rodrigues, "P.~pllcaçlo", teJIO
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OfJI/ulu tl~ llt ltirta ro/rmta/ ((>' t<h~ao R10 de Janeiro· CIVIIizaç O OriJilOIIt
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~p T 'W DF. !IISTÓRIA COL.OVIAL RONALDO VAI ..... FAS
nd _ e pelo darv. in i mo social em voga no final do século ue incomodava tanto a Capistrano na portentosa llistr5ria geral do Brasil,
lnt r ·-se tam ;m pela filosofia positivista de Augusto Comte e ad. oq do ensino da "h.1stona
• · pa.r.tna
· "?.
0 • r 111 téri ·a do ;ran t! Taine ( 1828-1862) e do inglês Henry Buck!
base Incomodava-o antes de tu do o estr., o, a escnta
. f na
. . , I
e rnsensrve .
do vrscon-
-I 62 . :-.ta o que mais o encantava era a escola histórica alemã, a de porto Seguro, título que o imperador concederia a nosso primeiro grande
m t i-.a de cntica documental celebrizada por Leopold von Ranke, as d~
hrsto
n'ador premiando-o por sua contribuição à memória da nação. Capistrano
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lenü d • hr tóna natural, economia e sociedade. A geografia era drnirava a erudição de Varnhagen, mas detestava seu texto. de que vánas
e e t dos r11cularrnente cara a Capistrano, que, entre outros feitos a zes se queixou em sua vasta correspondência, e almejava escrever uma
nn tr duziri:l do alemão o li\ ro de J. E. Wappoeus, Handbuch de; ~~stória viva e vivaz. Incomodava-o também a cronologia rígida de Varnhagcn.
•rap/1 .: zmd Starisri · des Kaserreiches Brasilien (Leipzig, 1871), publi- a história do Brasil começando em 1500 e acompanhando, pari passu, os latos
om o título de A geografia física do Brasil, em 1884. oficiais até a chegada da "corte joanina" ao Brasil. E nisso chegamos ao ponto
a ·rdade. o intere se de Capistrano pelas relações entre história e central. Capistrano rejeitava o caráter "oficial" da história feita por Varnhagen,
::r ii e ua convicção de que as sociedades eram profundamente marcadas história empenhada em sustentar a coerência do império desde as origens co-
;,e,-cu tura c pelo meio geográfico estariam presentes no futuro Capítulos de loniais, sua unidade territorial, a excelência da dinastia de Bragança.
!ustórw colonial obra clássica de nossa historiografia que nos cabe aqui E temos aqui que fazer um breve parêntesis, comentar um pouco a obra
apn: cn ar a leitor. de Varnhagen, para que possamos compreender o ânimo de C'apistrano ~m
Cont -nos José Honório Rodrigues que o sonho de escrever uma "nova seu Capítulos de história colonial. Escrevendo no meado do século XIX.
história" do Brasil era multo antigo em Capistrano. Pelo menos foi o que disse Vamhagen, paulista de Sorocaba e filho de alemães, se empenharia em cons-
p u!o Prado. em carta de 1924. quase no fim da vida, revelando que tivera tal truir uma história do Brasil à feição dos interesses imperiais da elite dominan-
1déra h:n ia cinquenta anos.· Uma "nova história" do Brasil, portanto, eis o que te. Elite centralizadora e escravocrata, vale dizer, que lograra t1 -tito 11.1
G:tp ano pretendia escrever, e, se não foi aos 21 anos, sê-lo-ia mais tarde, conservação do império, superando a abdicaÇão de D. Pedro 1, a crise rcgcnl'Íal.
m mero a seus estudos e quando preparou a reedição crítica da grande obra as rebeliões espoucadas de norte a sul do país nos anos 1830. A mesma clitt'
de hr tóna bras i lei até então escrita, a História geral do Brasil, de Francis- que arquitetara o "Golpe da Maioridade", entronizando D. Pedro 11 pdo hem
co Adolpho de Varnhagen. publicada originalmente em cinco volumes, de 1854 da unidade impcrial. 4
a 1857. Na llist6ria de Varnhagen, louva-se a colonização portuguesa. sua ,lbt.t
O onho amadureceu ali pelos anos 1890, pelo que se vê na carta que cxpansionista, seu ímpeto civilizatório; c louva-se mais a dinastia dl' Bra •.mça
e creveu ao barão do Rio Branco, contando que desejava escrever uma histó- - a que pertencia D. Pedro JI - que a de Avis. É uma história clitista, lauJ.ttú-
na dtferente. "dizer algumas cotsas novas", quebrar os "quadros de ferro de ria dos "vencedores", que despreza o índio, mal fala do negro, t' dcsumh.r
Varnhagcn", introduzir assun tos até então pouco estudados, por vezes desco- sempre das rebeliões, dcsqualificando-as.
nh • ido as bandeiras. as minas, as estradas, a criação do gado. 3 Não pode passar s m registro o fato d Varnh 1 n 1 r cs ·1ito un1.1 /li
Capi~tranu já ensaiara os pnmciros passos em 1889, quando publicou tôria gt•ral do /Jrasil muito distinta da proposta de Kurl von Murtius, o 11a1u
Canunh01 alllif{M e povoamento do Brasil. Mas o projeto era mais ambi· ralista alemão que, em 1844, ganhara o oncurso promovido lu n. · m ~·n.td
cr fat.er uma gnmdc lu~tória do Brasil diferente da de Varnhagen. Porquê? lr~stituto Histórico c Geográfico Bra il iro obre "Como
hrstória do Brnsil". Von Martius unhara p mio pn pond
uma história do Brasil deveria r "fu d t r · "
' a I' '''I' <I· t m 211 dt ma1o de I'J24 Aput/ lt»~ Honório Rodrigues, "P.~pllcaçlo", teJIO
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OfJI/ulu tl~ llt ltirta ro/rmta/ ((>' t<h~ao R10 de Janeiro· CIVIIizaç O OriJilOIIt
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( 11/ //1,/0\ !JL 11/ITr'JIIIA (OI ONIM. RONAt 1>0 VA I~FAS
1
·u~·s, u 111 dio, 0 nt'gto alricano -. proposta multo inovadora para uma épOca ('entro Industrial do Brasil, que, em 1905, foi incumbido pelo mini~tro da
m qu 0 tr.ífico ncgr 'Íro c~t.tva no auge c o índto estava quase exterminado. dodústria. Viação c Obras Públicas. Lauro Muller. de t•laborar uma obra com
.tom•nn no lítor.tl. ~nformações sobre todas as indústrias exploradas no país. fazendo-a preceder
'.to 1• o c.t o aq ui de examinar o texto de Von Martius, sua motivações, :. um estudo histórico. no qual participaria Capistrano de Abreu. Daí surgiu o
a 1111 t rro .t mmc~ que lht: valeram o laurel. O fato é que Varnhagen não c 10 "Noções de história do Brasil até 1800'', publicado em O Brasil. Sua~
~ •utu • ~c· pl.lllo n.t c :lcbn: c clássica 1/istória geral do Brasil, apesar de tcX
riquezas · --1 ' • F01. a base dos Caprtu
naturais. Suas uwustnas. ' l os que, dt p01s
. de
1 ohr.t de rnáxun.1 crudição. rica na reconstituição de fatos então pouco co.
mil atropelos, seria publicado à parte, em separata, em 1907
nh '(,ulo , c .1té nH.: mo cui dado a nos tnforrnaçocs etnográficas sobre 05 ín. Capistrano sofreu para concluir os Capítulo.\. Fora-lhe cnconwnd.tdo
dtil\
ampliar o texto até o período republicano. Mas Capistrano nao passou de IROO.
( Jflt tr.ano r ·conhecia, como já di~se, os méntos de Varnhagt:n, mas de. levando meses para concluir o livro. sempre insatisfeito com os Jesultadm,
plot v.I w.1 fa lt.t dc \ ·n ~ihi lidadc em relação à vida social, às diversidades queixando-se de tudo e de todos. "Sou verdadeiramente um galé", est n Vt'll a
r •ttJn,ti , .1o povo Capi~trano se preocupava com o povo, ausente em Studart. "Sinto necessidade de passar uma semana fora do Rio, na ( rüvca , em
V.mth.•r 11 I >til <I "o povo durante três ~éculos capado e rccapado, sangrado c Petrópolis [... 1 Por maior esforço acho que esta semana ainda nao tcrmin:uei
r•• ~a rwr,Hlo"' ()m·txou ~~de Varnhagcn até no seu "necrológio", que fez em [... ]Ficarei doente se não me livrar de semelhante amofinaçao ."~ Publicou o
lll7H, c nttt,lfldo o, quando rm:no~. por ua "falta de espírito plástico c simpáti· livro em 1907, mas logo pensou em reescrevê-lo para uma ~cgunda t.di~,to,
tarefa que jamais conseguiu fazer. As demais edições da obra foram tlld:t
póstumas.
Atrasos e improvisos à parte, Capftu/o.1 de Jmtârw mlonial : ltvro
A ( (J\11'fi'iiÇM> DOS Cl!f'flll/.0!) chave de nossa historiogmfla. considerado por alguns. wrno Jo~é llonortc)
Rodrigues, "obra-prima da historiografia brasileira". É opiniao justa'/
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·u~·s, u 111 dio, 0 nt'gto alricano -. proposta multo inovadora para uma épOca ('entro Industrial do Brasil, que, em 1905, foi incumbido pelo mini~tro da
m qu 0 tr.ífico ncgr 'Íro c~t.tva no auge c o índto estava quase exterminado. dodústria. Viação c Obras Públicas. Lauro Muller. de t•laborar uma obra com
.tom•nn no lítor.tl. ~nformações sobre todas as indústrias exploradas no país. fazendo-a preceder
'.to 1• o c.t o aq ui de examinar o texto de Von Martius, sua motivações, :. um estudo histórico. no qual participaria Capistrano de Abreu. Daí surgiu o
a 1111 t rro .t mmc~ que lht: valeram o laurel. O fato é que Varnhagen não c 10 "Noções de história do Brasil até 1800'', publicado em O Brasil. Sua~
~ •utu • ~c· pl.lllo n.t c :lcbn: c clássica 1/istória geral do Brasil, apesar de tcX
riquezas · --1 ' • F01. a base dos Caprtu
naturais. Suas uwustnas. ' l os que, dt p01s
. de
1 ohr.t de rnáxun.1 crudição. rica na reconstituição de fatos então pouco co.
mil atropelos, seria publicado à parte, em separata, em 1907
nh '(,ulo , c .1té nH.: mo cui dado a nos tnforrnaçocs etnográficas sobre 05 ín. Capistrano sofreu para concluir os Capítulo.\. Fora-lhe cnconwnd.tdo
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ampliar o texto até o período republicano. Mas Capistrano nao passou de IROO.
( Jflt tr.ano r ·conhecia, como já di~se, os méntos de Varnhagt:n, mas de. levando meses para concluir o livro. sempre insatisfeito com os Jesultadm,
plot v.I w.1 fa lt.t dc \ ·n ~ihi lidadc em relação à vida social, às diversidades queixando-se de tudo e de todos. "Sou verdadeiramente um galé", est n Vt'll a
r •ttJn,ti , .1o povo Capi~trano se preocupava com o povo, ausente em Studart. "Sinto necessidade de passar uma semana fora do Rio, na ( rüvca , em
V.mth.•r 11 I >til <I "o povo durante três ~éculos capado e rccapado, sangrado c Petrópolis [... 1 Por maior esforço acho que esta semana ainda nao tcrmin:uei
r•• ~a rwr,Hlo"' ()m·txou ~~de Varnhagcn até no seu "necrológio", que fez em [... ]Ficarei doente se não me livrar de semelhante amofinaçao ."~ Publicou o
lll7H, c nttt,lfldo o, quando rm:no~. por ua "falta de espírito plástico c simpáti· livro em 1907, mas logo pensou em reescrevê-lo para uma ~cgunda t.di~,to,
tarefa que jamais conseguiu fazer. As demais edições da obra foram tlld:t
póstumas.
Atrasos e improvisos à parte, Capftu/o.1 de Jmtârw mlonial : ltvro
A ( (J\11'fi'iiÇM> DOS Cl!f'flll/.0!) chave de nossa historiogmfla. considerado por alguns. wrno Jo~é llonortc)
Rodrigues, "obra-prima da historiografia brasileira". É opiniao justa'/
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RQ, ALDO \ It-;FAS
\P{T I ,J DE IIISTÓRH COWIIIAL
• lbid., p. 18
11
CaplsJrano ~ Abreu, O ducobriiM111D do Bmsü (Rio de JIIJIIIiJO: Allolllrio do BIUII. !919). P 69·
178
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RQ, ALDO \ It-;FAS
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• lbid., p. 18
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CaplsJrano ~ Abreu, O ducobriiM111D do Bmsü (Rio de JIIJIIIiJO: Allolllrio do BIUII. !919). P 69·
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guerras de pacificação, os conflitos com os francese
Bah1a 1lu a bem ~ de acertos que marcaram essa prime111 'es e último ponto, destaca-se a narr.uiva da presença francesa o R10
da ocup ;iiO mtcmal e dele Cap1strano se ocupa com mestria nesse de hne1ro, a expedição comandada por icolau Durand de 111 gaignon, de-
u ai que a Hahia tinha tudo para dar certo- como aliás ocorre~ P<>I pelo sobrinho Bois Le Co!Jlle, a fundação da cidade do R10 de Jane1ro por
· 1549 r donatário Francisco Pere1ra Coutinho recebeu capitanll
---
E Iácio de Sá, sua mone, a Confederação dos Talll()io Esses e outro c m
r ur s natur.u : "haía vasta como um mediterráneo", rios nume· bates, dos quais saiu vitorioso, celebrizariam o govemu de Mem de Sá, ''ho·
n.:m engenhos. matas ~irgens, terrenos bons para o pastoreio, rnern de toga, desembargador da Casa da Suplicação", sem falar no apo•o
lbtd p 43
o
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/81
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guerras de pacificação, os conflitos com os francese
Bah1a 1lu a bem ~ de acertos que marcaram essa prime111 'es e último ponto, destaca-se a narr.uiva da presença francesa o R10
da ocup ;iiO mtcmal e dele Cap1strano se ocupa com mestria nesse de hne1ro, a expedição comandada por icolau Durand de 111 gaignon, de-
u ai que a Hahia tinha tudo para dar certo- como aliás ocorre~ P<>I pelo sobrinho Bois Le Co!Jlle, a fundação da cidade do R10 de Jane1ro por
· 1549 r donatário Francisco Pere1ra Coutinho recebeu capitanll
---
E Iácio de Sá, sua mone, a Confederação dos Talll()io Esses e outro c m
r ur s natur.u : "haía vasta como um mediterráneo", rios nume· bates, dos quais saiu vitorioso, celebrizariam o govemu de Mem de Sá, ''ho·
n.:m engenhos. matas ~irgens, terrenos bons para o pastoreio, rnern de toga, desembargador da Casa da Suplicação", sem falar no apo•o
lbtd p 43
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c ,\PITULOS DE H!STÓRIJI COWNIJIL
RONALDO VAINFAS
u lbid., p, 70 .
.. lbid., p. 72.
182
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c ,\PITULOS DE H!STÓRIJI COWNIJIL
RONALDO VAINFAS
u lbid., p, 70 .
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CAi'/ /1/ o~ /1/ 11/ IÓR/r\ r OUIN/tl/, RONALDO At~FA
1.1 , • no c.;.1pítulo Vil ( .tpr trano vé vantagens na dominação espaniJo_ 'ará Maranhão. Pará, Amazonas. É ~.:apítulo insprrador de muitos li \los
seu C~; •
I.J obre l'ortu •.tl, no VIII dedrca·!.c a c aminar "o rcvcr~o da medalha". 1 rtantcs de nossa historiografia, como o Vida e mortl' do hwulcmmtr, de
10 10
, , 1 0, v 111 r,1,, n (~r, c.tpítulo obre as "G uerras flamenga~". no qual trata ;~;ntara Machado (1929), ou mesmo da face digamos "pauli ta" da obra de
J,1 1nv ,. oc ho!.1n<le a , da dominação dl! Pt!rnambuco c adjacências Jlela ~ér io Buarque. o Sérgio Buarque de Mnnçries ou de Caminho.\ ··fmnt ira.\
f't•lllJWlhlil d.ss lndra ( Jcident.tis, d.ts guerras de rcsisténcia c das guerras de Tra~a-se de capítulo tão importante que. como lembra Stuart Schwartz. houv!
,\ pu! .111, ohrctudo a lnsurrciç:io Pernambucana de 1645 a 1654. E se já no uem visse no livro de Capistrano uma versão brasileira do que forJ o Thc
, .1p1oslo VIl C'.•p1 lr.mo de certo modo celebrava a eliminação dos franceses jrontier in American History. livro clássico de Frederick Jackson Tumer.
<k olh~> no futuro Bra~il- c no Brasil colonizado por Portugal-, no capítul~ ublicado em 1893. que elege a expansão da fronteira como tema-chave da
,olll · J\ "( sut.:rras Jl;~mengas" assumi! de vez o esboço de "brasilidade" pre. p
história dos Esta dos um"d os. 19
nl ·nu~ 111' wrcln\. como que a repetir Varnhagen. O Varnhagen da Hist6ria Trata-se, de todo modo, de capítulo central para se compreender a <)ri •i
do~ /ri/fi\ r n111 '~~' lwlwul<'.ll'S 110 Brasil c o Vamhagen da História geral, na Iidade da visão de Capistrano de Abreu sobre a história do Brasil no tempo
qta v~<• 11.1 colnni7.JÇao portuguesa o cimento da futura unidade imperial: "Ven- colonial. Nele se encontra a expansão territorial para todos os quadrante ,
·t·don·'do., flamengos. que haviam vencido os e panhóis, algum tempo senho- expansão que, no centro, levaria à descoberta do ouro e à con trução de uma
n·\ de Portll!'iil, o\ comhatcntes de Pernambuco sentiam-se um povo, e um sociedade colonial muito diferente da litorânea, a sociedade das gaai.l: Minas
povo de henírs. Nl!ssa convicção os confirmaram os testemunhos do reconhe- Gerais. Expansão que. noutras partes, por influência do meio c do pmos,
t lllll'JIIn oftriall ]".
11 resultaria em sociedades também específicas: vários Brasis, ao invés de um
Nfw lenho d1ivrda em ditcr que. por vezes, Capistrano se aproximava Brasil só.
ttlJt~ de Varnh.•gcn, no\ seu~ Capítulo.\, do que desejaria ou supunha fazer. Prudente, fiel à cronologia e, malgré fui même, fiel ao fatos institucionais,
M.1s nem por isw os Capítulo.\ mudam de tom, nem Capistrano desiste Capistrano retoma, no capítulo X. à história oficial. É o capítulo "Formação de
u l.vn 11111.1 "outra h1st<Íria do Brasil", menos oficial, crítica e jamais laudató- limites", no qual examina as revisões do Tratado de Tordesilhas provocadas
n,, da 'nhra t olon11adora" dos portuguc~es. Pelo contrário, a originalidade do pela expansão bandeirante para o sul, oeste, norte, das quais resultariam v.ínos
livro alíngc seu auge no capírulo IX. "O ~ertão", c isso logo na primeira frase: tratados luso-espanhóis, sobretudo no século XVIII. O mais importante dcb,
" '\ mv.l\an flarn~nga nm~titui mero episódio da ocupação da costa. Deixa-a o Tratado de Madri, de 1750, que alinhavou os contornos da territorialidade da
na somhr.1 a todos os respeito~ o povoamento do sertão, iniciado em épocas América portuguesa, futuro Brasil. Assunto de história diplomática tradicional
til ver ~a . <k ponto~ ar u1ados, até formar-'c uma corrente interior, mais volu· - poder-se-ia dizer, com razão -. mas assunto verdadeiramente capital em
mosa e mai~ fertilizante qui! o tênue fio litorâneo"." nossa historiografia do século XIX, de que Capistrano era herdeiro. embora
rr.1~e bl'líssirna, que poc o litoral na "sombra" e lança o foco nas entra· crítico. O IHGB e mpenhara muit(ssimo nas investigações sobre o tema,
nhu~ da Amélle<l Portuguesa. no "Sertão". Sertão que Capistrano utiliza nlo gcn~rálica c historicamente, desde a sua criação em 1838, no mínimo porque
wmo ~1nôn•mo da caatinga árida. como se pensa hoje, ma conforme se usava ncrn sequer as fronteiras territoriais do Brasil eram precisamente conhecidas
n.1 l'fllK"a. nu seJ•'· pala\ ra alusiva ao interior, às terras indomáveis, às partel na época da independ!ncia (os mapas haviam retomado a Portugal com o
.ainda não conqui tadas ou. quando menos. não densamente ocupadas. regresso de D. João VI a Lisboa). Capistrano resume o assunto. expõe os
I Jllll' st• o autor a esmiuçar as jornadas de expansão bandeirante a partir fatos e prepara o terreno para o derradeiro capftulo, o melhor de todos.
d~ • ,10 \'11.:cnte. run;o ao sul ou a oeste, alargando as fronteiras do antis0 .. Capítulo XI: '1'rês séculos defois", balanço de rw sa história entre o
'I ralado dt• l'ordesilhas, c novamente a expansão para o norte, a ocupaçlo do antecedentes indígenas" e 1800. AJU.es de tudo, a popuiiÇiO, a estimativa de
ft É0
que d1z Stuan Scbwuu na cxulen&c lalloduçla da tnduçlu dos CapffiÚDI pari 0 loaJ
Chapt~rJ of Brazll's Coloalol HJ.rtory (/500 JIOOJ (Nova York I Oxford Oxford Ua1ver lly
l're,s. t997), P XXVI.
I 4 IIS
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I.J obre l'ortu •.tl, no VIII dedrca·!.c a c aminar "o rcvcr~o da medalha". 1 rtantcs de nossa historiografia, como o Vida e mortl' do hwulcmmtr, de
10 10
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J,1 1nv ,. oc ho!.1n<le a , da dominação dl! Pt!rnambuco c adjacências Jlela ~ér io Buarque. o Sérgio Buarque de Mnnçries ou de Caminho.\ ··fmnt ira.\
f't•lllJWlhlil d.ss lndra ( Jcident.tis, d.ts guerras de rcsisténcia c das guerras de Tra~a-se de capítulo tão importante que. como lembra Stuart Schwartz. houv!
,\ pu! .111, ohrctudo a lnsurrciç:io Pernambucana de 1645 a 1654. E se já no uem visse no livro de Capistrano uma versão brasileira do que forJ o Thc
, .1p1oslo VIl C'.•p1 lr.mo de certo modo celebrava a eliminação dos franceses jrontier in American History. livro clássico de Frederick Jackson Tumer.
<k olh~> no futuro Bra~il- c no Brasil colonizado por Portugal-, no capítul~ ublicado em 1893. que elege a expansão da fronteira como tema-chave da
,olll · J\ "( sut.:rras Jl;~mengas" assumi! de vez o esboço de "brasilidade" pre. p
história dos Esta dos um"d os. 19
nl ·nu~ 111' wrcln\. como que a repetir Varnhagen. O Varnhagen da Hist6ria Trata-se, de todo modo, de capítulo central para se compreender a <)ri •i
do~ /ri/fi\ r n111 '~~' lwlwul<'.ll'S 110 Brasil c o Vamhagen da História geral, na Iidade da visão de Capistrano de Abreu sobre a história do Brasil no tempo
qta v~<• 11.1 colnni7.JÇao portuguesa o cimento da futura unidade imperial: "Ven- colonial. Nele se encontra a expansão territorial para todos os quadrante ,
·t·don·'do., flamengos. que haviam vencido os e panhóis, algum tempo senho- expansão que, no centro, levaria à descoberta do ouro e à con trução de uma
n·\ de Portll!'iil, o\ comhatcntes de Pernambuco sentiam-se um povo, e um sociedade colonial muito diferente da litorânea, a sociedade das gaai.l: Minas
povo de henírs. Nl!ssa convicção os confirmaram os testemunhos do reconhe- Gerais. Expansão que. noutras partes, por influência do meio c do pmos,
t lllll'JIIn oftriall ]".
11 resultaria em sociedades também específicas: vários Brasis, ao invés de um
Nfw lenho d1ivrda em ditcr que. por vezes, Capistrano se aproximava Brasil só.
ttlJt~ de Varnh.•gcn, no\ seu~ Capítulo.\, do que desejaria ou supunha fazer. Prudente, fiel à cronologia e, malgré fui même, fiel ao fatos institucionais,
M.1s nem por isw os Capítulo.\ mudam de tom, nem Capistrano desiste Capistrano retoma, no capítulo X. à história oficial. É o capítulo "Formação de
u l.vn 11111.1 "outra h1st<Íria do Brasil", menos oficial, crítica e jamais laudató- limites", no qual examina as revisões do Tratado de Tordesilhas provocadas
n,, da 'nhra t olon11adora" dos portuguc~es. Pelo contrário, a originalidade do pela expansão bandeirante para o sul, oeste, norte, das quais resultariam v.ínos
livro alíngc seu auge no capírulo IX. "O ~ertão", c isso logo na primeira frase: tratados luso-espanhóis, sobretudo no século XVIII. O mais importante dcb,
" '\ mv.l\an flarn~nga nm~titui mero episódio da ocupação da costa. Deixa-a o Tratado de Madri, de 1750, que alinhavou os contornos da territorialidade da
na somhr.1 a todos os respeito~ o povoamento do sertão, iniciado em épocas América portuguesa, futuro Brasil. Assunto de história diplomática tradicional
til ver ~a . <k ponto~ ar u1ados, até formar-'c uma corrente interior, mais volu· - poder-se-ia dizer, com razão -. mas assunto verdadeiramente capital em
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rr.1~e bl'líssirna, que poc o litoral na "sombra" e lança o foco nas entra· crítico. O IHGB e mpenhara muit(ssimo nas investigações sobre o tema,
nhu~ da Amélle<l Portuguesa. no "Sertão". Sertão que Capistrano utiliza nlo gcn~rálica c historicamente, desde a sua criação em 1838, no mínimo porque
wmo ~1nôn•mo da caatinga árida. como se pensa hoje, ma conforme se usava ncrn sequer as fronteiras territoriais do Brasil eram precisamente conhecidas
n.1 l'fllK"a. nu seJ•'· pala\ ra alusiva ao interior, às terras indomáveis, às partel na época da independ!ncia (os mapas haviam retomado a Portugal com o
.ainda não conqui tadas ou. quando menos. não densamente ocupadas. regresso de D. João VI a Lisboa). Capistrano resume o assunto. expõe os
I Jllll' st• o autor a esmiuçar as jornadas de expansão bandeirante a partir fatos e prepara o terreno para o derradeiro capftulo, o melhor de todos.
d~ • ,10 \'11.:cnte. run;o ao sul ou a oeste, alargando as fronteiras do antis0 .. Capítulo XI: '1'rês séculos defois", balanço de rw sa história entre o
'I ralado dt• l'ordesilhas, c novamente a expansão para o norte, a ocupaçlo do antecedentes indígenas" e 1800. AJU.es de tudo, a popuiiÇiO, a estimativa de
ft É0
que d1z Stuan Scbwuu na cxulen&c lalloduçla da tnduçlu dos CapffiÚDI pari 0 loaJ
Chapt~rJ of Brazll's Coloalol HJ.rtory (/500 JIOOJ (Nova York I Oxford Oxford Ua1ver lly
l're,s. t997), P XXVI.
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Cll'fl'lll.OS DF IJ/Sf"ÓR/tl COLON!ttL
RONALDO VAJNFAS
sua dist1 ibuição geog ráfica. D~!poi . as caracterí ticas de cada região, a b· .
·
,1111 ;íwn1ca. - dc 1·ora e os de dentro" Tac1a
o.Su1, o 1·1tora I, o ccn t ro, os •·sertoes Nas páginas finais, Capistrano retoma sua tese central, pois, apesar da
. - d . 'd d • .
1 s~o acompan had( da descnçao as ali VI a es econom1cas predominant
. Udo relativa dispersão dos Capítulos, vale insistir em que o livro é livro de tese. A
. _ . ese111 mesma tese esboçada (e escondida) no capítulo ''Franceses e espanhóis". no
cada espaço, a zona de cnaçao de gado, com suas diferenças· as ár
, . . • cas de qual Capistrano analisa a so_ci.edade coloni~l alinhavada no início do século
coleta de drogas ; as arcas de lavoura trop1cal; as mmas decadentes. As dife.
renças entre os habitantes de cada parte; os contrastes entre mine·
XVII. acentuando o predomtmo de forças d1ssolventes. Segundo Capistrano,
1ros e três séculos depois o quadro não muda, quando não se agrava pelo alargamen-
paulistas; as d1fcrcnça entre o mundo da casa-grande e do engenho_
to das fronteiras territoriais. Nenhuma força de coesão, "manifestações cole-
litoral do açúcar- e a "civilização do couro"- no mundo da pecuária. Capistra~o
. IH!. se cap1lu
' Io, uma anaT1se verdad. 0 tivas sempre passageiras". "Vida social não existia. porque nãc havia
en ata, e1ramente etna-histórica: quem co.
sociedade", nem vestígio de consciência sequer "capitania!", quanto mais "cons-
mia o quê e onde, se peixe fresco ou farinha de mandioca, carne ou rapadura,
ciência nacional".
ou como dormiam, se em redes ou catres, tudo a serviço de sua tese central de
Nada, portanto, que pudesse rascunhar a independência, apesar de uns
que, us vésperas da independência, havia muitos Brasis nos modos de vivere poucos que liam autores estrangeiros, sabiam da recém-fundada república norte-
sohrcvivcr, no caráter, nas incomunicabilidades. Há múltiplos Brasis neste americana e conheciam a "fraqueza lastimável de Portugal". Muitos Brasis.
capítulo e há também uma história da cultura material e uma história social. portanto, predomínio de forças centrífugas e dissolventes, eis o resultado de
'Três séculos depois" é capítulo que assume o que até então o livro so- três séculos de colonização. Não fosse a "comunidade ativa da língua"- o
mente esboçava, quando não escondia: uma análise da sociedade. Análise da p01tuguês- e a comunidade "passiva da religião"- católica- e mal se poderia
estratificação social, indicando que entre senhores e escravos havia padres e divisar o que era afinal a América portuguesa.
rades, artesãos e mascates, homens livres pobres e mestiços tocados pela Exageros à parte, a obra traz tese nova. É pena que dê pouca atenção ao
fortuna. Brancos oprimidos pelo convencionalismo, negros oprimidos pela es- que chama de "comunidade passiva da religião", um dos poucos elos de liga-
cravidão. "Mulatos, gente indócil e rixenta, podiam ser contidos a intervalos ção que Capistrano vê na Colônia- assunto praticamente ignorado pelo autor.
por atos de prepotência, mas reassumiam logo a rebeldia originária" - 20 e nisso como se a espada e a cruz não andassem juntas na colonização ibérica,2 ~ daí o
vemos uma concessão ao menoscabo da intelectualidade brasileira em face da elo que podia fornecer o catolicismo em terras tão dispersas.
misc1genação, que Capistrano endossa, como se os mulatos fossem originaria- É pena, também, que tenha excluído dos Capítulos as conjurações do
mente rebeldes por nascerem mestiços. século XVIII - excelente campo de observação para estudar os graus de
Apesar do menoscabo - mais que isso, da concessão ao estereótipo ra· consciência gerados na colônia e as perspectivas de futuro que alguns seg-
ci ta -, Capistrano vai além e adentra o cotidiano, os valores coletivos dos mentos de elite chegaram a cultivar. Esta- mais do que a da religião- é uma
Brasis, sempre diferenciados. Rascunha as mentalidades. E, se vê na casa- lacuna eloqüente dos Capítulos, porque toca de perto a tese central de
grande o modelo do "pai taciturno, mulher submissa, filhos apavorados", não Capistrano.
di!ixa de ver a ansiedade das mulheres casadoiras que, se casassem, manda- A inquietação vale sobretudo para a Conjuração ou Inconfidência Minei-
. ai "li ra, especialmente depois que se publicou, em 1902, certa carta de Joaquim
nam nos homens: "Casa de Gonçalo, em que a galinha canta mais que o g 0 •
Ra tr~.:ia. pois. o "matriarcado" que prosperou (e prospera) em muitas regiõeS Silvério dos Reis- o famigerado "traidor"- na Revista do Instituto Histórico
u ClrLunstâncias do Brasil antigo (ou moderno), apesar do patriarcalismoas· e Geográfico Brasileiro. Assunto complexo na época, vale dizer, porque, na
cnt carta, Silvério dos Reis se jactava dos serviços prestado à coroa e se queixa-
va de perseguições que sofrera. E 1902 no Brasil era tempo de república havia
c
-----------------
" C!. Charlcs Boxer A igreja e a expansão iblnC'a (/140 17701 (J.ilboll; l!dlçlies 70, I 1l
1&6 167
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Cll'fl'lll.OS DF IJ/Sf"ÓR/tl COLON!ttL
RONALDO VAJNFAS
sua dist1 ibuição geog ráfica. D~!poi . as caracterí ticas de cada região, a b· .
·
,1111 ;íwn1ca. - dc 1·ora e os de dentro" Tac1a
o.Su1, o 1·1tora I, o ccn t ro, os •·sertoes Nas páginas finais, Capistrano retoma sua tese central, pois, apesar da
. - d . 'd d • .
1 s~o acompan had( da descnçao as ali VI a es econom1cas predominant
. Udo relativa dispersão dos Capítulos, vale insistir em que o livro é livro de tese. A
. _ . ese111 mesma tese esboçada (e escondida) no capítulo ''Franceses e espanhóis". no
cada espaço, a zona de cnaçao de gado, com suas diferenças· as ár
, . . • cas de qual Capistrano analisa a so_ci.edade coloni~l alinhavada no início do século
coleta de drogas ; as arcas de lavoura trop1cal; as mmas decadentes. As dife.
renças entre os habitantes de cada parte; os contrastes entre mine·
XVII. acentuando o predomtmo de forças d1ssolventes. Segundo Capistrano,
1ros e três séculos depois o quadro não muda, quando não se agrava pelo alargamen-
paulistas; as d1fcrcnça entre o mundo da casa-grande e do engenho_
to das fronteiras territoriais. Nenhuma força de coesão, "manifestações cole-
litoral do açúcar- e a "civilização do couro"- no mundo da pecuária. Capistra~o
. IH!. se cap1lu
' Io, uma anaT1se verdad. 0 tivas sempre passageiras". "Vida social não existia. porque nãc havia
en ata, e1ramente etna-histórica: quem co.
sociedade", nem vestígio de consciência sequer "capitania!", quanto mais "cons-
mia o quê e onde, se peixe fresco ou farinha de mandioca, carne ou rapadura,
ciência nacional".
ou como dormiam, se em redes ou catres, tudo a serviço de sua tese central de
Nada, portanto, que pudesse rascunhar a independência, apesar de uns
que, us vésperas da independência, havia muitos Brasis nos modos de vivere poucos que liam autores estrangeiros, sabiam da recém-fundada república norte-
sohrcvivcr, no caráter, nas incomunicabilidades. Há múltiplos Brasis neste americana e conheciam a "fraqueza lastimável de Portugal". Muitos Brasis.
capítulo e há também uma história da cultura material e uma história social. portanto, predomínio de forças centrífugas e dissolventes, eis o resultado de
'Três séculos depois" é capítulo que assume o que até então o livro so- três séculos de colonização. Não fosse a "comunidade ativa da língua"- o
mente esboçava, quando não escondia: uma análise da sociedade. Análise da p01tuguês- e a comunidade "passiva da religião"- católica- e mal se poderia
estratificação social, indicando que entre senhores e escravos havia padres e divisar o que era afinal a América portuguesa.
rades, artesãos e mascates, homens livres pobres e mestiços tocados pela Exageros à parte, a obra traz tese nova. É pena que dê pouca atenção ao
fortuna. Brancos oprimidos pelo convencionalismo, negros oprimidos pela es- que chama de "comunidade passiva da religião", um dos poucos elos de liga-
cravidão. "Mulatos, gente indócil e rixenta, podiam ser contidos a intervalos ção que Capistrano vê na Colônia- assunto praticamente ignorado pelo autor.
por atos de prepotência, mas reassumiam logo a rebeldia originária" - 20 e nisso como se a espada e a cruz não andassem juntas na colonização ibérica,2 ~ daí o
vemos uma concessão ao menoscabo da intelectualidade brasileira em face da elo que podia fornecer o catolicismo em terras tão dispersas.
misc1genação, que Capistrano endossa, como se os mulatos fossem originaria- É pena, também, que tenha excluído dos Capítulos as conjurações do
mente rebeldes por nascerem mestiços. século XVIII - excelente campo de observação para estudar os graus de
Apesar do menoscabo - mais que isso, da concessão ao estereótipo ra· consciência gerados na colônia e as perspectivas de futuro que alguns seg-
ci ta -, Capistrano vai além e adentra o cotidiano, os valores coletivos dos mentos de elite chegaram a cultivar. Esta- mais do que a da religião- é uma
Brasis, sempre diferenciados. Rascunha as mentalidades. E, se vê na casa- lacuna eloqüente dos Capítulos, porque toca de perto a tese central de
grande o modelo do "pai taciturno, mulher submissa, filhos apavorados", não Capistrano.
di!ixa de ver a ansiedade das mulheres casadoiras que, se casassem, manda- A inquietação vale sobretudo para a Conjuração ou Inconfidência Minei-
. ai "li ra, especialmente depois que se publicou, em 1902, certa carta de Joaquim
nam nos homens: "Casa de Gonçalo, em que a galinha canta mais que o g 0 •
Ra tr~.:ia. pois. o "matriarcado" que prosperou (e prospera) em muitas regiõeS Silvério dos Reis- o famigerado "traidor"- na Revista do Instituto Histórico
u ClrLunstâncias do Brasil antigo (ou moderno), apesar do patriarcalismoas· e Geográfico Brasileiro. Assunto complexo na época, vale dizer, porque, na
cnt carta, Silvério dos Reis se jactava dos serviços prestado à coroa e se queixa-
va de perseguições que sofrera. E 1902 no Brasil era tempo de república havia
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" C!. Charlcs Boxer A igreja e a expansão iblnC'a (/140 17701 (J.ilboll; l!dlçlies 70, I 1l
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CAI'I{Ul.OS DE HISTÓRIA COLONIAL
RONALDO VAINFAS
Embora justificasse e defendesse, aqui e ali. certas opções ou omissões Quanto mais monumento, menos documento, isto é: menos lidos passa-
da obra. Capistrano não gostava do próprio livro, tanto é que sempre pensou ram a ser os Capítulos pelos estudantes e estudiosos de nossa história. Que
em corrigi-lo, revisá-lo c aumentá-lo- o que nunca fez. Numa carta lapidar ao Capistrano permaneça monumento. Mas que fique o convite à relcitura ou
bJrão de Studa rt , na qual comparava os Capítulos com seu antigo sonho de leitura, nesta virada de milênio, desse autor rebelde. Desconfiado de estereóti-
escrever uma grande história do Brasil, confessou: "Quando ainda no Ceará pos, embora caia nalguns, e argutamente sensível a muitos mistérios de nosso
passado.
concebi-a, a obra tinha outras dimensões. Cada ano levou consigo um lance ou
um andar A continuar mais tempo, ficaria reduzida a uma cabana de pesca-
dor. Mesmo agora, acho-lhe uns ares de tapera". 26
Exagero de Capistrano. Capítulos de história colonial é obra de máxi-
ma importância na hi toriografia brasileira, por mais que, à luz de critérios
atuais, nela encontremos muitas imperfeições, seja de concepção, seja de in-
terpretação. Se fosse o caso de eleger um grande mérito dos Capftulos, ape-
nas um, diria que simplesmente deslocou o foco da história do Brasil e repensou
o próprio objeto. Pois se a história do Brasil colonial era até então, desde
Va1 nhagen, a história da colonização portuguesa, os Capítulos fizeram da co-
" cr Lu<~n 1
1 PP1 de Ohvrl!,l, "O~ ~1mbolo\ que a república mandou guardar", em Estudos Hi tdrl·
"" "'
1
2 ' 2 R1n <ic J.111mo. pp 172-189, José Murilo de Carvalho, A fonnaçllo das a/IIIQS 0 XI~
: "Preface", em Stuan Schwartz, Cllapttrs of Bradl's Co/omal Hutory (/500 1800), cu., P·
1 '"'" ' ""' d,z "I"ÍI>lzm "" Rra111 (S~o Paulo: Companhia da Letras, 1990). Sobre essa noção de "monumento" bueio-me em Jaçqucs Lo Ooff. "0oçumco101mooumcoto •
em Ellciclopidia Einaudi (Lisboa: Imprensa Nacloaal-casa da Moeda, v I (Memória-H! t6ria),
" 1984>. pp. 95-107.
\ ,\' • fó 17 de nov<mbro de 1903 Apud J. H. Rodrigues . op.rlt, p. XXXVII.
I no d \ku,., em 9 de ~clcmbro de 191S, ibid~m.
• StuclJilt·m 7 de J•nciro de 1907, lbul., p. XX. Cr. Ângela de Cutro Oomes, Hlst6rla e hhtoriadom a pol(lltiJ cultiU'Cil do Eltado Novo (Rio
de Janeiro: Pundaçlo Get41io Varau, 1996).
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CAI'I{Ul.OS DE HISTÓRIA COLONIAL
RONALDO VAINFAS
Embora justificasse e defendesse, aqui e ali. certas opções ou omissões Quanto mais monumento, menos documento, isto é: menos lidos passa-
da obra. Capistrano não gostava do próprio livro, tanto é que sempre pensou ram a ser os Capítulos pelos estudantes e estudiosos de nossa história. Que
em corrigi-lo, revisá-lo c aumentá-lo- o que nunca fez. Numa carta lapidar ao Capistrano permaneça monumento. Mas que fique o convite à relcitura ou
bJrão de Studa rt , na qual comparava os Capítulos com seu antigo sonho de leitura, nesta virada de milênio, desse autor rebelde. Desconfiado de estereóti-
escrever uma grande história do Brasil, confessou: "Quando ainda no Ceará pos, embora caia nalguns, e argutamente sensível a muitos mistérios de nosso
passado.
concebi-a, a obra tinha outras dimensões. Cada ano levou consigo um lance ou
um andar A continuar mais tempo, ficaria reduzida a uma cabana de pesca-
dor. Mesmo agora, acho-lhe uns ares de tapera". 26
Exagero de Capistrano. Capítulos de história colonial é obra de máxi-
ma importância na hi toriografia brasileira, por mais que, à luz de critérios
atuais, nela encontremos muitas imperfeições, seja de concepção, seja de in-
terpretação. Se fosse o caso de eleger um grande mérito dos Capftulos, ape-
nas um, diria que simplesmente deslocou o foco da história do Brasil e repensou
o próprio objeto. Pois se a história do Brasil colonial era até então, desde
Va1 nhagen, a história da colonização portuguesa, os Capítulos fizeram da co-
" cr Lu<~n 1
1 PP1 de Ohvrl!,l, "O~ ~1mbolo\ que a república mandou guardar", em Estudos Hi tdrl·
"" "'
1
2 ' 2 R1n <ic J.111mo. pp 172-189, José Murilo de Carvalho, A fonnaçllo das a/IIIQS 0 XI~
: "Preface", em Stuan Schwartz, Cllapttrs of Bradl's Co/omal Hutory (/500 1800), cu., P·
1 '"'" ' ""' d,z "I"ÍI>lzm "" Rra111 (S~o Paulo: Companhia da Letras, 1990). Sobre essa noção de "monumento" bueio-me em Jaçqucs Lo Ooff. "0oçumco101mooumcoto •
em Ellciclopidia Einaudi (Lisboa: Imprensa Nacloaal-casa da Moeda, v I (Memória-H! t6ria),
" 1984>. pp. 95-107.
\ ,\' • fó 17 de nov<mbro de 1903 Apud J. H. Rodrigues . op.rlt, p. XXXVII.
I no d \ku,., em 9 de ~clcmbro de 191S, ibid~m.
• StuclJilt·m 7 de J•nciro de 1907, lbul., p. XX. Cr. Ângela de Cutro Oomes, Hlst6rla e hhtoriadom a pol(lltiJ cultiU'Cil do Eltado Novo (Rio
de Janeiro: Pundaçlo Get41io Varau, 1996).
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PAULO PRADO
Retrato do Brasil
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PAULO PRADO
Retrato do Brasil
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Quando Retrato do ~rasil foi publicado, em novembro de 1928, Paulo
da Silva Prado - um pa.uhstan? ~c corte a~istocrático, nascido em 1!!óCJ. pri
mciro li lho do conselheiro Antomo Prado, mtegrante de tradicional famdia de
cafeicultores- podia antever que iria comprar briga e polêmica. Nos Circulo~
intelectuais da época, na imprensa sobretudo, a reação foi imediata. E n.to ~c
caracterizaria propriamente pela moderação ou pela objetividade. <'hO\ eram
crflicas ácidas, protestos, comentários c debates ardentes, 0 que 110 mínimo
serviu para impulsionar as vendas do livro, que logo esgotou sua primeira edi-
ção. Teria mais três tiragens até 1931.
Todos se surpreenderam com a veemência de Paulo Prado, um hem-
nascido que possuía muito mais alinidades com os amigos artistas da Semana
de Arte Moderna de 1922 (evento no qual ele próprio havia desempenhado
importante papel, tanto na concepção quanto na organização) do que com o>
velhos aristocratas do meio social a que o escritor pertencia por origem c
educação, ou do que com os ambientes propriamente burgueses que então se
formavam.
Estava ali um intelectual sui gene ris, diplomado em 1889 pela Faculdade
de Direito de São Paulo, que já havia deixado a juventude para trás (estava
para completar 60 anos) e que enveredara tardiamente, em 1925 (com
Paulística), pela carreira literária. Com o Retrato, insurgia-se contra a visao
que apresentava o Brasil como um paraíso de riquezas e bondades inesgotá-
veis, quase sem "vícios", um rincão de belezas naturais incomparáveis. rios
caudalosos, matas exuberantes e aves com plumagens as mais formosas. ocu·
pado por um povo pacato e trabalhador, totalmente dedicado a construir uma
pátria predestinada a ser perfeita - uma figuração quase épica, à moda de
Olavo Bilac ou do conhecido Por que me ufano do mer1 país (1900), de
Afonso Celso, que trazia como subtítulo nada mais nada menos que a máxima
right or wrong, my cormtry e dispunha-se a alinhavar argumentos para que
se entendesse que "ser brasileiro significa distinção e vantagem", dado não
haver outro país "mais digno, mais rico de fundadas promessas, mais invejá-
vel".
Paulo Prado desejava entender e sobretudo expor para o grande público
os entraves e dilemas que prati~te condenava.Jtt o país a uma .situaç~o
q~e parecia não se distanciar muito 6\a que havia predominado na ant.rga ~olo
nra portuguesa. Incomodava-o que oi brasileiros não tiv,.em consctên~ra do
país em que viviam, que não percebessem o lado sombrio e proble~co da
sua formação histórica _ associado ao pusatio colonial e à
esct'avidio _c .. ~~lhe ttava·
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Quando Retrato do ~rasil foi publicado, em novembro de 1928, Paulo
da Silva Prado - um pa.uhstan? ~c corte a~istocrático, nascido em 1!!óCJ. pri
mciro li lho do conselheiro Antomo Prado, mtegrante de tradicional famdia de
cafeicultores- podia antever que iria comprar briga e polêmica. Nos Circulo~
intelectuais da época, na imprensa sobretudo, a reação foi imediata. E n.to ~c
caracterizaria propriamente pela moderação ou pela objetividade. <'hO\ eram
crflicas ácidas, protestos, comentários c debates ardentes, 0 que 110 mínimo
serviu para impulsionar as vendas do livro, que logo esgotou sua primeira edi-
ção. Teria mais três tiragens até 1931.
Todos se surpreenderam com a veemência de Paulo Prado, um hem-
nascido que possuía muito mais alinidades com os amigos artistas da Semana
de Arte Moderna de 1922 (evento no qual ele próprio havia desempenhado
importante papel, tanto na concepção quanto na organização) do que com o>
velhos aristocratas do meio social a que o escritor pertencia por origem c
educação, ou do que com os ambientes propriamente burgueses que então se
formavam.
Estava ali um intelectual sui gene ris, diplomado em 1889 pela Faculdade
de Direito de São Paulo, que já havia deixado a juventude para trás (estava
para completar 60 anos) e que enveredara tardiamente, em 1925 (com
Paulística), pela carreira literária. Com o Retrato, insurgia-se contra a visao
que apresentava o Brasil como um paraíso de riquezas e bondades inesgotá-
veis, quase sem "vícios", um rincão de belezas naturais incomparáveis. rios
caudalosos, matas exuberantes e aves com plumagens as mais formosas. ocu·
pado por um povo pacato e trabalhador, totalmente dedicado a construir uma
pátria predestinada a ser perfeita - uma figuração quase épica, à moda de
Olavo Bilac ou do conhecido Por que me ufano do mer1 país (1900), de
Afonso Celso, que trazia como subtítulo nada mais nada menos que a máxima
right or wrong, my cormtry e dispunha-se a alinhavar argumentos para que
se entendesse que "ser brasileiro significa distinção e vantagem", dado não
haver outro país "mais digno, mais rico de fundadas promessas, mais invejá-
vel".
Paulo Prado desejava entender e sobretudo expor para o grande público
os entraves e dilemas que prati~te condenava.Jtt o país a uma .situaç~o
q~e parecia não se distanciar muito 6\a que havia predominado na ant.rga ~olo
nra portuguesa. Incomodava-o que oi brasileiros não tiv,.em consctên~ra do
país em que viviam, que não percebessem o lado sombrio e proble~co da
sua formação histórica _ associado ao pusatio colonial e à
esct'avidio _c .. ~~lhe ttava·
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Rf1RA70 IJO HRAS/1. MARCO AURÉLIO NOGUEIRA
v.un 0 pl ogJt:sw. ()ucl ia ser uma voz di ~sOJ~antc: inserir-se n~ correntes que odernista tinha um claro componente "aristocrático": nas palavras de Má ri ,
111
biil.tlhavam pda gestação de um novo pa1s, smton1zado com o ntmo c o sentido va marcado pelo "espírito aventureiro'', por um "nacionalismo cmbrabecido"
cl.t rnndcmidadc. ha o seu modo de ser nacionalista, isto é, de integrar-se aos esta
• or uma "gratu1'd ade ant1popu
· Iar" que 1az1am
r • com que a aIta c a pequena
. lor o> pa1.s farcr com que se ganhasse consciência dos limites c das possi- ePur uesia o temessem. Um "anstocrata
. do espmto
.. " como Pau Io Pra do, que
hiluJadl'' im:n:nte n sociedade, para, com isso, "romper os laços que nos amar. ~rn~ém era "uma das figuras principais da nossa aristocracia tradicional"'.
1am de dL· u nascimento a velha Europa, decadente e esgotada", como escrevera tinha tudo para se destacar.
ano iJntrs (I CJ24) no p11.:fácio ao livro de poesias Pau-Brasil, de Oswald de E Paulo Prado se engajará de corpo e alma no movimento. Não só ani-
Andr.tdc Nau lcnua, por isso, a polêmica, nem a pecha de "pessimista". Achava. mará c organizará a Semana de 22 como também procurará dar a sua contri-
, 1 lllt'<rno <.:onde nado a ela c a aceitava com facilidade, quase de modo blasé. bu1ção literária. Paulfstica, o primeiro livro, foi um esforço nessa direção.
l·.lt· er.t, .tf!n.tl, um modcmista. devidamente estimulado pelos modernistas. Mas o intelectual aristocrata. mis-
N<~quclc f1m de década, o Brasil era um país em busca de si mesmo. Aco- to de empresário bem-sucedido e agitador cultural, irá mais longe. Em 1921,
modava s~ entre deus mundos, deixando-se alcançar por duas ondas igualmente assumirá o controle da famosa Revista do Brasil, idealizada em 1916 por Jülio
ptKicrosas, uma proveniente do passado remoto mas sempre redivivo e outra que de Mesquita e que desde 1918 era controlada por Monteiro Lohato. Dirigindo
aponl;tV<I firmemente para a frente, rumo ao futuro. O cenário estava basica- efetivamente a revista até 1925, Paulo Prado fará com que ela se abra para os
meutc wmposto pda decadéncia irreversível do velho sistema político e cultural modernistas mais combativos ou mais interessados em discutir que~tõcs dou-
qm v1e ra da republica de 18H9, mas que, na verdade, carregava todas as marcas trinárias. Em 1928, Retrato do Brasil coroaria toda a trajetória.
d.t mloni;açao No entanto, o mesmo país que repisava o chão colonial exibia, de
1111~Jo cx uherantc, os ~inais da contestação, do desconforto, da movimentação
fl,rwtrra ck um outro t ·mpo. Já no emblemático ano de 1922 ficariam evidentes Ü PAfS INACEITÁVEL
" ro1ç.t r a lorm;t da energia questionadora: a Semana de Arte Moderna. a
fund.u,-ao do Par11do C'omuniMa Bmsileiro (PCI3) e a irrupção do movimento O Brasil retratado pelo livro de Paulo Prado era essencialmente o país
ll'nentl~ta a11unC'Jar 1am que nada ma i~ seria como antes naquele mundo que pa· que não se devia mais aceitar: atrasado até a medula, carregado de vícios e
'1'c1.r ll't lijWn.J~ lutum c que Paulo Prado via, seguindo as palavras de um ami· deformações, com um povo largado e elites mesquinhas, despreparadas. que
go, n escri tor fram:ês Blursc ( 'cndrars, como "um Hoje que surge, se transfonna caminhavam com os olhos fechados c não se dedicavam a construir a naçao
c dl'sapal ·cc num ld<u~te".' Um sentimento de urgência dominava os ambien· ~odema que se delineava no horizonte. Naquela terra infelicitada pela histó-
I c~ ma i~ csclan:crdn>, mais impetuosos ou mais inconformados. na, nada parecia funcionar a contento e tudo devia ser questionado. Será na
O clim,r mostrava se particularmente agudo em São Paulo, cidade que s~g~nda metade do "Post scriptum" de Retrato do Brasil, quase ponanto nas
p.uecra vocactOnada para abrigar toda aquela onda de entusiasmo reformador, pagma~ finais, que Paulo Prado confessará sua verdadeira intenção e erguerá
fltl\lo ser, como diria Mário de Andrade alguns anos depois, espiritualmente a voz contra o atraso que se figurava excessivo: "O Brasil, de fato, não progri
"nnuto mais moderna" do que o Rio de Janciro. 2 Além do mais, o questionamell10 d~: vive e cresce, como cresce e vive uma criança doente, no lento desenvol
Vlmento de um corpo mal organizado". Pelo amplo temtório, " spalham se
1
grupos humanos incertos, humildes, abafados e paralisados pQr uma natureza
11
'
111110
'" lllnlll 1111•11<1 •obr~ a tri.<ttõJJ braliltira, ediçlo organizada por Carlos Aupto ()lil
l.X'
1
~~~·10 ~•o l'aulu Companhia das Letras, 1997), p. 199. estonteadora de pujança, ou terriv implacável". O clima favorec1a a
1
1
·IIIIIT.l :'' "' a,·rma. conservando um csplrito provinciano servil, bem denunciado pela,.,
1 1
'· ~~oli~eração populacional, e já se podia anta;ver que em breve ating1ríamo "os
polnr,.t, S.lu l'.mln r~t.wa ao mesmo tempo, pela sua atualidade oomcrcial c sua md~
111 ~garismos astronômicos das imensas aglomerações asiáfi.eu". Mas a popula-
' «'nl.lr. '" ' <'pimual c mais ltcmco com a atualidade do mundo" M'no de
ntol\IJJlrn ll •d lnl,la" f çdao em crescimento permanecia concentrada no UtoraL O ICI'tlo prosseguia
1~4 • urp"'' ~hh ada con er~~c•a 00 ~1m t~rio das Relações &tenores C8l esconl.--!d.... .
l ~ m sprt lo d4 ilttratura brruilttrtJ (Sfto Paulo: ...IÇÇ{....,. VllZlo, entregue ls JDelm8S taras de sempre.
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Rf1RA70 IJO HRAS/1. MARCO AURÉLIO NOGUEIRA
v.un 0 pl ogJt:sw. ()ucl ia ser uma voz di ~sOJ~antc: inserir-se n~ correntes que odernista tinha um claro componente "aristocrático": nas palavras de Má ri ,
111
biil.tlhavam pda gestação de um novo pa1s, smton1zado com o ntmo c o sentido va marcado pelo "espírito aventureiro'', por um "nacionalismo cmbrabecido"
cl.t rnndcmidadc. ha o seu modo de ser nacionalista, isto é, de integrar-se aos esta
• or uma "gratu1'd ade ant1popu
· Iar" que 1az1am
r • com que a aIta c a pequena
. lor o> pa1.s farcr com que se ganhasse consciência dos limites c das possi- ePur uesia o temessem. Um "anstocrata
. do espmto
.. " como Pau Io Pra do, que
hiluJadl'' im:n:nte n sociedade, para, com isso, "romper os laços que nos amar. ~rn~ém era "uma das figuras principais da nossa aristocracia tradicional"'.
1am de dL· u nascimento a velha Europa, decadente e esgotada", como escrevera tinha tudo para se destacar.
ano iJntrs (I CJ24) no p11.:fácio ao livro de poesias Pau-Brasil, de Oswald de E Paulo Prado se engajará de corpo e alma no movimento. Não só ani-
Andr.tdc Nau lcnua, por isso, a polêmica, nem a pecha de "pessimista". Achava. mará c organizará a Semana de 22 como também procurará dar a sua contri-
, 1 lllt'<rno <.:onde nado a ela c a aceitava com facilidade, quase de modo blasé. bu1ção literária. Paulfstica, o primeiro livro, foi um esforço nessa direção.
l·.lt· er.t, .tf!n.tl, um modcmista. devidamente estimulado pelos modernistas. Mas o intelectual aristocrata. mis-
N<~quclc f1m de década, o Brasil era um país em busca de si mesmo. Aco- to de empresário bem-sucedido e agitador cultural, irá mais longe. Em 1921,
modava s~ entre deus mundos, deixando-se alcançar por duas ondas igualmente assumirá o controle da famosa Revista do Brasil, idealizada em 1916 por Jülio
ptKicrosas, uma proveniente do passado remoto mas sempre redivivo e outra que de Mesquita e que desde 1918 era controlada por Monteiro Lohato. Dirigindo
aponl;tV<I firmemente para a frente, rumo ao futuro. O cenário estava basica- efetivamente a revista até 1925, Paulo Prado fará com que ela se abra para os
meutc wmposto pda decadéncia irreversível do velho sistema político e cultural modernistas mais combativos ou mais interessados em discutir que~tõcs dou-
qm v1e ra da republica de 18H9, mas que, na verdade, carregava todas as marcas trinárias. Em 1928, Retrato do Brasil coroaria toda a trajetória.
d.t mloni;açao No entanto, o mesmo país que repisava o chão colonial exibia, de
1111~Jo cx uherantc, os ~inais da contestação, do desconforto, da movimentação
fl,rwtrra ck um outro t ·mpo. Já no emblemático ano de 1922 ficariam evidentes Ü PAfS INACEITÁVEL
" ro1ç.t r a lorm;t da energia questionadora: a Semana de Arte Moderna. a
fund.u,-ao do Par11do C'omuniMa Bmsileiro (PCI3) e a irrupção do movimento O Brasil retratado pelo livro de Paulo Prado era essencialmente o país
ll'nentl~ta a11unC'Jar 1am que nada ma i~ seria como antes naquele mundo que pa· que não se devia mais aceitar: atrasado até a medula, carregado de vícios e
'1'c1.r ll't lijWn.J~ lutum c que Paulo Prado via, seguindo as palavras de um ami· deformações, com um povo largado e elites mesquinhas, despreparadas. que
go, n escri tor fram:ês Blursc ( 'cndrars, como "um Hoje que surge, se transfonna caminhavam com os olhos fechados c não se dedicavam a construir a naçao
c dl'sapal ·cc num ld<u~te".' Um sentimento de urgência dominava os ambien· ~odema que se delineava no horizonte. Naquela terra infelicitada pela histó-
I c~ ma i~ csclan:crdn>, mais impetuosos ou mais inconformados. na, nada parecia funcionar a contento e tudo devia ser questionado. Será na
O clim,r mostrava se particularmente agudo em São Paulo, cidade que s~g~nda metade do "Post scriptum" de Retrato do Brasil, quase ponanto nas
p.uecra vocactOnada para abrigar toda aquela onda de entusiasmo reformador, pagma~ finais, que Paulo Prado confessará sua verdadeira intenção e erguerá
fltl\lo ser, como diria Mário de Andrade alguns anos depois, espiritualmente a voz contra o atraso que se figurava excessivo: "O Brasil, de fato, não progri
"nnuto mais moderna" do que o Rio de Janciro. 2 Além do mais, o questionamell10 d~: vive e cresce, como cresce e vive uma criança doente, no lento desenvol
Vlmento de um corpo mal organizado". Pelo amplo temtório, " spalham se
1
grupos humanos incertos, humildes, abafados e paralisados pQr uma natureza
11
'
111110
'" lllnlll 1111•11<1 •obr~ a tri.<ttõJJ braliltira, ediçlo organizada por Carlos Aupto ()lil
l.X'
1
~~~·10 ~•o l'aulu Companhia das Letras, 1997), p. 199. estonteadora de pujança, ou terriv implacável". O clima favorec1a a
1
1
·IIIIIT.l :'' "' a,·rma. conservando um csplrito provinciano servil, bem denunciado pela,.,
1 1
'· ~~oli~eração populacional, e já se podia anta;ver que em breve ating1ríamo "os
polnr,.t, S.lu l'.mln r~t.wa ao mesmo tempo, pela sua atualidade oomcrcial c sua md~
111 ~garismos astronômicos das imensas aglomerações asiáfi.eu". Mas a popula-
' «'nl.lr. '" ' <'pimual c mais ltcmco com a atualidade do mundo" M'no de
ntol\IJJlrn ll •d lnl,la" f çdao em crescimento permanecia concentrada no UtoraL O ICI'tlo prosseguia
1~4 • urp"'' ~hh ada con er~~c•a 00 ~1m t~rio das Relações &tenores C8l esconl.--!d.... .
l ~ m sprt lo d4 ilttratura brruilttrtJ (Sfto Paulo: ...IÇÇ{....,. VllZlo, entregue ls JDelm8S taras de sempre.
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RITRATf> DO BRASil. MARCO L ÉLIO 'OGLEIR.
esta terra. em que quase tudo dá, Importamos tudo ~ modas de Pari ao c bo d
vassoura e ao palito. Transplantados, são quase nulos os foco de reação mtele tual
e artística. Passa pelas nossas alfândegas tudo o que con utui bênçãos da CIV!llt -
ção: saúde. bem-estar material. conhecimentos, prazeres. a<.lmJraçõe . sen.\O e t~ll·
co.•
1?9 :------
lbid • pP 203 204
lllí.tP20S
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RITRATf> DO BRASil. MARCO L ÉLIO 'OGLEIR.
esta terra. em que quase tudo dá, Importamos tudo ~ modas de Pari ao c bo d
vassoura e ao palito. Transplantados, são quase nulos os foco de reação mtele tual
e artística. Passa pelas nossas alfândegas tudo o que con utui bênçãos da CIV!llt -
ção: saúde. bem-estar material. conhecimentos, prazeres. a<.lmJraçõe . sen.\O e t~ll·
co.•
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lbid • pP 203 204
lllí.tP20S
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RETRATO DO BRASIL MARCO AURÉLIO NOGUE!!RA
0 mal vinha de longe, deitava raízes na colônia e havia sido fortemente co de brio dos dirigentes" e onde proliferariam uma ''senilidade de vício "e
impulswnndo pela institucional idade doBra il independente, com seus dois rei. pou · aviltante "degradaçao - dos costumes poI,ttJcos
. " .9
amat 5 . .
nados dedicados a "representar, com seriedade e numa terra que era urn de. Seja como for, o fato é que, para Paulo Prado. nada de grandtoso tcna
serto com povoados esparso de populações mestiças, a comédia do corrido da implantação da república. A partir dos estados, agora efetiva e
p<lrlamentari mo à inglesa". Ao governo de Pedro 11 são reservadas as críti- de
formalmente autonom1za . dos, mgressaremos
. na " po I'.
1t1ca dos governa dores" ,
r.:.ts mais duras, pois dele- que foi uma "época falsa e estéril"- só nos ficou a reinado das oligarquias, que Paulo Prado caracterizará valendo-se de uma
0
consolidação da unidade nacional e a abolição, além de uma inesgotável faci(i. ~onhecida passagem do historiador e viajante francês Auguste de Saint-Hilaire:
dade para produzir leis. Foram tantas e tão inócuas as leis, que era mesmo 0
ca~o de perguntar. como fizera Ferreira Viana ainda no período imperial, quan- Sôfregos de autoridade, vários dos chefes desses patriarcados aristocráticos de que o
tia ena Jprov,lda a lei que mandaria pôr em execução todas as outras. 0 Brasil está coberto querem sem dúvida o federalismo; mas que se acautelem os brasi-
império teria sido, "por excelência, a época dos jurisconsultos". Acabaria por leiros contra uma decepção que os levará à anarquia e aos vexames de uma multidão de
ca\'ar a própria cova: "a questão militar, mal de nascença de que nunca se pequenos tiranos, mil vezes mais insuportáveis que um déspota úmco.10
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RETRATO DO BRASIL MARCO AURÉLIO NOGUE!!RA
0 mal vinha de longe, deitava raízes na colônia e havia sido fortemente co de brio dos dirigentes" e onde proliferariam uma ''senilidade de vício "e
impulswnndo pela institucional idade doBra il independente, com seus dois rei. pou · aviltante "degradaçao - dos costumes poI,ttJcos
. " .9
amat 5 . .
nados dedicados a "representar, com seriedade e numa terra que era urn de. Seja como for, o fato é que, para Paulo Prado. nada de grandtoso tcna
serto com povoados esparso de populações mestiças, a comédia do corrido da implantação da república. A partir dos estados, agora efetiva e
p<lrlamentari mo à inglesa". Ao governo de Pedro 11 são reservadas as críti- de
formalmente autonom1za . dos, mgressaremos
. na " po I'.
1t1ca dos governa dores" ,
r.:.ts mais duras, pois dele- que foi uma "época falsa e estéril"- só nos ficou a reinado das oligarquias, que Paulo Prado caracterizará valendo-se de uma
0
consolidação da unidade nacional e a abolição, além de uma inesgotável faci(i. ~onhecida passagem do historiador e viajante francês Auguste de Saint-Hilaire:
dade para produzir leis. Foram tantas e tão inócuas as leis, que era mesmo 0
ca~o de perguntar. como fizera Ferreira Viana ainda no período imperial, quan- Sôfregos de autoridade, vários dos chefes desses patriarcados aristocráticos de que o
tia ena Jprov,lda a lei que mandaria pôr em execução todas as outras. 0 Brasil está coberto querem sem dúvida o federalismo; mas que se acautelem os brasi-
império teria sido, "por excelência, a época dos jurisconsultos". Acabaria por leiros contra uma decepção que os levará à anarquia e aos vexames de uma multidão de
ca\'ar a própria cova: "a questão militar, mal de nascença de que nunca se pequenos tiranos, mil vezes mais insuportáveis que um déspota úmco.10
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co
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RI.7RMO DO BRASil
RCO RÉLtO OGl E R
200
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RI.7RMO DO BRASil
RCO RÉLtO OGl E R
200
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~1.\RC't ·\L RELIO '\OG 'riR\
,
111
qu • , ''til ·onquUador ' pO\ )ndor", vincando fund.1m •nt, 0 _ •u ·.n,11 1
I' 1 qtü~.·u.'s .
t:~s ~' ·ulontz.ld
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\I Rl O ~~REI lO NOl,l TIRA
/i/ (NA/li IJU BIM 11
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/i/ (NA/li IJU BIM 11
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I \RI 1l \l RI I 10 'tll•l'f IR\
.I~ mulht'l''' 1 ·~.·tus.l~ C\\111 1 llltlUf,l tllllllr ·.ts". Di. Sl'lllirl.ldas !ll'l~·s '''lhl<. s. 1k
11 ,, 11 ~· ,1 wl. ''.t~ 1 utuJ~·s anc 'Mr.ti~ ; simplkidad ·lenta 11.1 cnr.1g m. rt•st•n,1 ~.i 1,
lhllnumld.tdt•. lllllll ·ns sóllritlS t' d ·~intert•ss.ldns. doçur.t da. mulher., .., [k
•.:nws ,lllll~ dcp<lis da tkscoht•rta. a cnll\nia dtq;a ,, às Pt'rt.ls d.1 mdt•pt•nd,•n
.:ta c1n110 um Ct)'llO amorft. d • "mt•ra \ iJa vegt'tativa". manll·ndn ,,•. tpt•n,l\
pt•ltlS "l.t 'l. trnut's d..t língua l' do culto". 1'
E !oi nc. s • "organi, mo precocemente Jepaupcradt'. t' posto as ma i.·
1 ,1ri.tda · influencia mcsológica c étnicas". que se m.mitestou, ..,. mn uma
doença. o m..tl romântico". Paulo Pmdo t.tmhém terá uma posi ·ao dura t infle
\Íid comrn o "romanti mo". termo com que c referia não tanto :w gr.mde
movum:nto artí tico do é ulo XIX, ma .obrctudo a um cstilt) intd tual ~o
nh.tdor c egocêntrico. voltado para a grandiloqücncia e a r·tórica gratuit.lt'
pomposa. o seu entender, o romantismo d ., ias r respon ahili1ado por urn.1
do e adicional de deformação na 'ida nacional. O principai c mais nefa w~
d nossos maus hábitos intelectuais- a retórica política, a du ·ão da pala\ ra.
o me iani mo renovador, o entusiasmo incon eqüente, o hri mo pcs im1sta
riam filhote da doença romântica, embalados pelas frases 111 piradora d
Rou seau. Gravemente marcado de romanti mo seria o no so pacto nstitu-
IOnal, a e. prcs ar o fato de que na damos como nação independente "s 1h .1
tmocação dos di curso e das belas palavras". Na política, nada mai dt qu
"endeusamento do liberalismo verboso e onoro" dos franc ses revolu l<'ná-
nos. "Era o vocabulário de Jean-Jacques aplicado ao pafs semi\ rrg m. apcna
egresso de um longo colonato."
O mal invadiria o país de uma maneira intensa e estranha, apro Citando-
• das circunstâncias do meio. É que pagaríamos um preço pela tran pl nta
ão da ortc - "um rgani mo vetusto e anacrônico" - para a "mgenuidadc
Prtmária das populações". A mescla dai resultante recheou de artifict h mo a
Ida da no\ a nação, de que ótimo exemplo seria a "c ~a parlamentar" que
se implantou com 0 império. uma"espécie de hiato separaria a v1da mater ai
quase rústica da vida intelectual e institucional pretensiosa, repleta de
: fbod • PP 160.162
lb d • PP 164·170
()7
::?06
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I \RI 1l \l RI I 10 'tll•l'f IR\
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11 ,, 11 ~· ,1 wl. ''.t~ 1 utuJ~·s anc 'Mr.ti~ ; simplkidad ·lenta 11.1 cnr.1g m. rt•st•n,1 ~.i 1,
lhllnumld.tdt•. lllllll ·ns sóllritlS t' d ·~intert•ss.ldns. doçur.t da. mulher., .., [k
•.:nws ,lllll~ dcp<lis da tkscoht•rta. a cnll\nia dtq;a ,, às Pt'rt.ls d.1 mdt•pt•nd,•n
.:ta c1n110 um Ct)'llO amorft. d • "mt•ra \ iJa vegt'tativa". manll·ndn ,,•. tpt•n,l\
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E !oi nc. s • "organi, mo precocemente Jepaupcradt'. t' posto as ma i.·
1 ,1ri.tda · influencia mcsológica c étnicas". que se m.mitestou, ..,. mn uma
doença. o m..tl romântico". Paulo Pmdo t.tmhém terá uma posi ·ao dura t infle
\Íid comrn o "romanti mo". termo com que c referia não tanto :w gr.mde
movum:nto artí tico do é ulo XIX, ma .obrctudo a um cstilt) intd tual ~o
nh.tdor c egocêntrico. voltado para a grandiloqücncia e a r·tórica gratuit.lt'
pomposa. o seu entender, o romantismo d ., ias r respon ahili1ado por urn.1
do e adicional de deformação na 'ida nacional. O principai c mais nefa w~
d nossos maus hábitos intelectuais- a retórica política, a du ·ão da pala\ ra.
o me iani mo renovador, o entusiasmo incon eqüente, o hri mo pcs im1sta
riam filhote da doença romântica, embalados pelas frases 111 piradora d
Rou seau. Gravemente marcado de romanti mo seria o no so pacto nstitu-
IOnal, a e. prcs ar o fato de que na damos como nação independente "s 1h .1
tmocação dos di curso e das belas palavras". Na política, nada mai dt qu
"endeusamento do liberalismo verboso e onoro" dos franc ses revolu l<'ná-
nos. "Era o vocabulário de Jean-Jacques aplicado ao pafs semi\ rrg m. apcna
egresso de um longo colonato."
O mal invadiria o país de uma maneira intensa e estranha, apro Citando-
• das circunstâncias do meio. É que pagaríamos um preço pela tran pl nta
ão da ortc - "um rgani mo vetusto e anacrônico" - para a "mgenuidadc
Prtmária das populações". A mescla dai resultante recheou de artifict h mo a
Ida da no\ a nação, de que ótimo exemplo seria a "c ~a parlamentar" que
se implantou com 0 império. uma"espécie de hiato separaria a v1da mater ai
quase rústica da vida intelectual e institucional pretensiosa, repleta de
: fbod • PP 160.162
lb d • PP 164·170
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\t tH O. liRIItll 'tHolii·IR
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RI· IRATO DO IJRAS/1.
MARCO AURÉLIO NOGUEIRA
fll'l o mundo ,1fora", dormindo o seu "sono colonial". Para ele, o Brasil •
. _ nao
pu~l' hl<~ 0 (k~ a ~ trc qth.: s~ apro~u~ava , :~ao enxergava que a terra se tornara São Paulo, fixa residência na praia do Botafogo. Passará 0 resto dos anos
• p<'!.jUL'na dcm:u s para os 1mpenahsmos e que, n~ fund o, "é um paradoxo a
queixando-se de inati vidade aos amigos.
J.u ,1nJcira a be1ra da estrada, carregada de laranJ as doces". Encontrava-se
unda sedu11do pelo "emba lo dos di scursadores", pelas "teorias dos doutrinári-
os" c pela "enganadora segurança dos que monopolizavam as posições de UM LIBELO APAIXONADO
210 211
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RI· IRATO DO IJRAS/1.
MARCO AURÉLIO NOGUEIRA
fll'l o mundo ,1fora", dormindo o seu "sono colonial". Para ele, o Brasil •
. _ nao
pu~l' hl<~ 0 (k~ a ~ trc qth.: s~ apro~u~ava , :~ao enxergava que a terra se tornara São Paulo, fixa residência na praia do Botafogo. Passará 0 resto dos anos
• p<'!.jUL'na dcm:u s para os 1mpenahsmos e que, n~ fund o, "é um paradoxo a
queixando-se de inati vidade aos amigos.
J.u ,1nJcira a be1ra da estrada, carregada de laranJ as doces". Encontrava-se
unda sedu11do pelo "emba lo dos di scursadores", pelas "teorias dos doutrinári-
os" c pela "enganadora segurança dos que monopolizavam as posições de UM LIBELO APAIXONADO
210 211
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RI:.TR·ITO DO BRASIL
MARCO AURÉLIO NOGUEIRA
riam'ntc gmve" na partes. dedicada~ à luxúria e à cobiça, que são "a repeti. povoamento e ~vo!uç~o da terra b~a~ileira", mas, não tendo podido controlar 0
·ãv de todas as monstruostdades de Julgamento do mundo ocidental sobre processo de cnaçao, algumas pagmas. como que alheias ao assunto, deram
\mcnca' d e ~obc"E ... ao
rta . arrernatana: ~ po so compreender que um h a.
vida e agitação a um ensaio puramente filosófico". Seu Retrato teria sido leva-
mcm1l la page [isto é, na última moda] escreva sobre o Brasil um livro ~ do a seguir o modelo impressionista, dissolvendo as linhas nítidas do de enho
ln:udiano" e não perceba que "a luxúria bra ileira não pode ser julgada p:~ "nas cores e no impreciso das tonalidades". Com isso, desapareceram quase
moral do convento inaciano ". 3 ~ p a por completo a cronologia e os fatos. 34
Alguns anos depoi , em uma resenha elogiosa, elegante e muito hábil nas Impressionista, o Retrato? Nem tanto. A referência. na verdade, era um
ponderaçõ• . . e cnta por ocasião do lançamento da quinta edição do livro. 0 recurso a mais de legitimação e defesa. Um recurso aliás engenhoso. que
t.tmbém modernista Sérgio Milliet insistiria no lado mais problemático da aná- funcionava e se harmonizava com o nebuloso projeto político do autor. mas que
lise de Paulo Prado: não beneficiaria a análise, não daria outra envergadura ao livro nem ampliaria
as chances de intervenção de Paulo Prado no novo quadro da \ida nacional
c~;sa tmtela doentia que brota da conjugação da vontade de poder somada à luxúna e
que se abriria em 1930. O programa político implícito no livro era incompleto,
à cob1p se ha de afigurar aos estudiosos da psicologia social extremamente imagmosa
posto que construído muito mais a partir da intuição do que da compreensão
c bem pouco objetiva. No diagnóstico apressado e bnlhante de Paulo Prado não
entram nem os fatores econômicos nem as condtçôes biológicas. Romãnuco e fácil é profunda das tendências e das possibilidades do presente. Desse ponto de
o pensamento que veste uma fonna cláSSica c trabalhada. vista. o livro acabava por frustrar o leitor e neutralizar a intenção crítica do
escritor, ao deixar de lado, quase ocultos, os temas e problemas que domina-
E concluiria propondo a desativação do pessimismo contido no livro: "po- riam os anos 20 e 30: a questão das massas populares, que nele mal se vislum-
demos hoje mostrar-nos mais otimistas, não apenas como diz o autor, porque o bra; a questão do Estado, que nem sequer é considerada; a quesrão da
futuro não pode s r pior que o passado, mas porque o presente já permite democracia, que não aparece de modo claro; a questão mesma da passagem
alguma confiança"Y do Brasil rural para o Brasil urbano-industrial, que é sentida mas não investigada.
A verdade é que Retrato do Brasil ignorou toda a mudança efetiva que Quando Paulo Prado morreu, em 1943, de um ataque cardíaco, havia já
. acudta o pats- ora lentamente. ora de modo mais acelerado- desde o final do se apagado nele a chama da inquietação dos anos 20. A rigor, seu desencanto
~culo passado. Concentrou-se em apresentar o Brasil como uma extensão com os rumos do país saído da revolução liderada por Vargas se manifestaria
pa siva da colônia. um país que ainda dormia o "sono colonial". Paulo Prado, em 1934, quando decide se recolher e se dedicar mais aos negócios. Já não o
no entanto, parecia querer carregar nas cores da sua figuração colonial tanto apaixona como antes a vida cultural. Perde o interesse em reeditar Rt1Irt1to do
por respetto a Capi trano de Abreu e à historiografia tradicional, quanto por Brasil. Recusa-se a ver publicada na Argentina uma tradução do texto .• ada
"cálculo", ou seja, para denunciar o absurdo que consistia num pafs rico, em mais lhe parecia fazer muito sentido. Em 1937, a ditadura do E tado O\O
pkno século XX, viver amarrado à sua infância, sem conseguir deslanchar. radicalizaria o quadro, tomando ainda mais difícil a vida dos intelectuais. Em
Para o êxito dessa estratégia, muitos artifícios retóricos e muitos expedi· boa medida, o escritor capitularia diante das armadilhas daquela realidade que
ent' ~criam mobilizados, até mesmo uma certa desconsideração da realidade ~scapava- com seus protagonistas inusitados e seus sacolejos sonolentos mas
das cotsas Como esclarecerá em uma nota de apresentação da quarta edição rmplacáveis, com sua perturbadora mescla de autoritari mo estatal e mobilização
(191 I) do livro, seu objetivo havia sido "esboçar uma vista panorâmica do Popular, regime "forte" e progresso material - de todo e qualquer esquema
mental desprovido de recursos ef;tivos de intervenção. As belas idéias teriam
de sujar as mãos no chão duro da política se quisessem prevalecer e jogar um
papel.
O" I lc \ndr~dc, "R~toques ao Rnraw do Bra.!ll", O Jornal, Rio de Janeiro, 6-1-1929. elll
:--
Rttrn • llra>~l, e~t, "Ap!ndice". pp. 228-232. ·~
•lho!, "Rrtrato <lo Brasil", em O Estada dt S. Paulo, 20-1-1945, em Rttralll do Bral'
'" • "A pênd1cr'. pp 231-239. Retrato do BrOJU, cit., p. 185.
212 2/J
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RI:.TR·ITO DO BRASIL
MARCO AURÉLIO NOGUEIRA
riam'ntc gmve" na partes. dedicada~ à luxúria e à cobiça, que são "a repeti. povoamento e ~vo!uç~o da terra b~a~ileira", mas, não tendo podido controlar 0
·ãv de todas as monstruostdades de Julgamento do mundo ocidental sobre processo de cnaçao, algumas pagmas. como que alheias ao assunto, deram
\mcnca' d e ~obc"E ... ao
rta . arrernatana: ~ po so compreender que um h a.
vida e agitação a um ensaio puramente filosófico". Seu Retrato teria sido leva-
mcm1l la page [isto é, na última moda] escreva sobre o Brasil um livro ~ do a seguir o modelo impressionista, dissolvendo as linhas nítidas do de enho
ln:udiano" e não perceba que "a luxúria bra ileira não pode ser julgada p:~ "nas cores e no impreciso das tonalidades". Com isso, desapareceram quase
moral do convento inaciano ". 3 ~ p a por completo a cronologia e os fatos. 34
Alguns anos depoi , em uma resenha elogiosa, elegante e muito hábil nas Impressionista, o Retrato? Nem tanto. A referência. na verdade, era um
ponderaçõ• . . e cnta por ocasião do lançamento da quinta edição do livro. 0 recurso a mais de legitimação e defesa. Um recurso aliás engenhoso. que
t.tmbém modernista Sérgio Milliet insistiria no lado mais problemático da aná- funcionava e se harmonizava com o nebuloso projeto político do autor. mas que
lise de Paulo Prado: não beneficiaria a análise, não daria outra envergadura ao livro nem ampliaria
as chances de intervenção de Paulo Prado no novo quadro da \ida nacional
c~;sa tmtela doentia que brota da conjugação da vontade de poder somada à luxúna e
que se abriria em 1930. O programa político implícito no livro era incompleto,
à cob1p se ha de afigurar aos estudiosos da psicologia social extremamente imagmosa
posto que construído muito mais a partir da intuição do que da compreensão
c bem pouco objetiva. No diagnóstico apressado e bnlhante de Paulo Prado não
entram nem os fatores econômicos nem as condtçôes biológicas. Romãnuco e fácil é profunda das tendências e das possibilidades do presente. Desse ponto de
o pensamento que veste uma fonna cláSSica c trabalhada. vista. o livro acabava por frustrar o leitor e neutralizar a intenção crítica do
escritor, ao deixar de lado, quase ocultos, os temas e problemas que domina-
E concluiria propondo a desativação do pessimismo contido no livro: "po- riam os anos 20 e 30: a questão das massas populares, que nele mal se vislum-
demos hoje mostrar-nos mais otimistas, não apenas como diz o autor, porque o bra; a questão do Estado, que nem sequer é considerada; a quesrão da
futuro não pode s r pior que o passado, mas porque o presente já permite democracia, que não aparece de modo claro; a questão mesma da passagem
alguma confiança"Y do Brasil rural para o Brasil urbano-industrial, que é sentida mas não investigada.
A verdade é que Retrato do Brasil ignorou toda a mudança efetiva que Quando Paulo Prado morreu, em 1943, de um ataque cardíaco, havia já
. acudta o pats- ora lentamente. ora de modo mais acelerado- desde o final do se apagado nele a chama da inquietação dos anos 20. A rigor, seu desencanto
~culo passado. Concentrou-se em apresentar o Brasil como uma extensão com os rumos do país saído da revolução liderada por Vargas se manifestaria
pa siva da colônia. um país que ainda dormia o "sono colonial". Paulo Prado, em 1934, quando decide se recolher e se dedicar mais aos negócios. Já não o
no entanto, parecia querer carregar nas cores da sua figuração colonial tanto apaixona como antes a vida cultural. Perde o interesse em reeditar Rt1Irt1to do
por respetto a Capi trano de Abreu e à historiografia tradicional, quanto por Brasil. Recusa-se a ver publicada na Argentina uma tradução do texto .• ada
"cálculo", ou seja, para denunciar o absurdo que consistia num pafs rico, em mais lhe parecia fazer muito sentido. Em 1937, a ditadura do E tado O\O
pkno século XX, viver amarrado à sua infância, sem conseguir deslanchar. radicalizaria o quadro, tomando ainda mais difícil a vida dos intelectuais. Em
Para o êxito dessa estratégia, muitos artifícios retóricos e muitos expedi· boa medida, o escritor capitularia diante das armadilhas daquela realidade que
ent' ~criam mobilizados, até mesmo uma certa desconsideração da realidade ~scapava- com seus protagonistas inusitados e seus sacolejos sonolentos mas
das cotsas Como esclarecerá em uma nota de apresentação da quarta edição rmplacáveis, com sua perturbadora mescla de autoritari mo estatal e mobilização
(191 I) do livro, seu objetivo havia sido "esboçar uma vista panorâmica do Popular, regime "forte" e progresso material - de todo e qualquer esquema
mental desprovido de recursos ef;tivos de intervenção. As belas idéias teriam
de sujar as mãos no chão duro da política se quisessem prevalecer e jogar um
papel.
O" I lc \ndr~dc, "R~toques ao Rnraw do Bra.!ll", O Jornal, Rio de Janeiro, 6-1-1929. elll
:--
Rttrn • llra>~l, e~t, "Ap!ndice". pp. 228-232. ·~
•lho!, "Rrtrato <lo Brasil", em O Estada dt S. Paulo, 20-1-1945, em Rttralll do Bral'
'" • "A pênd1cr'. pp 231-239. Retrato do BrOJU, cit., p. 185.
212 2/J
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GILBERTO FHEJRF
•
Casa-grande & senzala
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GILBERTO FHEJRF
•
Casa-grande & senzala
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Publicado em 1933, Casa-grande & temaln' compõe, com Sobrar/os
emucambos e Ordem & Progresso, o conjunto denominado por Gilberto Freire
"Introdução à hi stória da sociedade patriarcal no Brasil". Os subtítulos dos
Jjvros já definem os lemas desenvolvidos: o primeiro volume dedica-se ao estu-
do da formação da família brasileira no regime de economia patriarcal; 0 se-
gundo, à decadência do patriarcado rural e ao desenvolvimento das cidades; o
terceiro, à desintegração da sociedade patriarcal no quadro da transição do
trabalho escravo para o trabalho livre. Os textos enfocam períodos diferentes
da história brasileira- Colônia, Império e República, respectivamente.
Escrito três anos depois das alterações políticas de 1930, Casa-grarule
& senzala se insere num quadro em que o debate sobre a formação nacional
2
1
(,,lhcno Preire, ('aJa grandt & u nulla forlllllf/lo da fa'fflla brUJIIrlra wb " " m d' • "'"'
1 mia Plllrillrl'a/ (Rio de Janeiro: Maia .t Schmidt, 1933).
~uhrc ti e tuto, vale consultat: Ricardo Benzaqucn df Ar•4jo, (Jutna t I'Dl. ( tt a rdnJr &
lfnmta r a obra tk GllbtrttJ Prtlr~ no anos JO (Rio de Jantlro lldatora 'W, IW4), M' IN Srl1111
IJ'Andrea, A tradlç/Jo rt(dtl)robtrta; Gilberto Prrlrr 1 a lllmJtura rtt'una/a la CC'11111pln Ed dl
llnacamp, 1992); lldJon Nery da Ponleca. "Croaolosla da vida c da obra" m (),Jlxnu l't r , Obrrr
''""lhultr (Rao da Janeiro: NOYI Aaullat. 1977), Um llv111 rompi#IIJ 1111/o /ruJo !R ar Mu rui
Pu,doJ 1913), D rcy Rlbclro, "OIIbii'ID Pmw. Cua.araodt j; llllla em lin'"w rn tl/ur"
!l'urto Alcarc LAPM, 1979)
11
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Publicado em 1933, Casa-grande & temaln' compõe, com Sobrar/os
emucambos e Ordem & Progresso, o conjunto denominado por Gilberto Freire
"Introdução à hi stória da sociedade patriarcal no Brasil". Os subtítulos dos
Jjvros já definem os lemas desenvolvidos: o primeiro volume dedica-se ao estu-
do da formação da família brasileira no regime de economia patriarcal; 0 se-
gundo, à decadência do patriarcado rural e ao desenvolvimento das cidades; o
terceiro, à desintegração da sociedade patriarcal no quadro da transição do
trabalho escravo para o trabalho livre. Os textos enfocam períodos diferentes
da história brasileira- Colônia, Império e República, respectivamente.
Escrito três anos depois das alterações políticas de 1930, Casa-grarule
& senzala se insere num quadro em que o debate sobre a formação nacional
2
1
(,,lhcno Preire, ('aJa grandt & u nulla forlllllf/lo da fa'fflla brUJIIrlra wb " " m d' • "'"'
1 mia Plllrillrl'a/ (Rio de Janeiro: Maia .t Schmidt, 1933).
~uhrc ti e tuto, vale consultat: Ricardo Benzaqucn df Ar•4jo, (Jutna t I'Dl. ( tt a rdnJr &
lfnmta r a obra tk GllbtrttJ Prtlr~ no anos JO (Rio de Jantlro lldatora 'W, IW4), M' IN Srl1111
IJ'Andrea, A tradlç/Jo rt(dtl)robtrta; Gilberto Prrlrr 1 a lllmJtura rtt'una/a la CC'11111pln Ed dl
llnacamp, 1992); lldJon Nery da Ponleca. "Croaolosla da vida c da obra" m (),Jlxnu l't r , Obrrr
''""lhultr (Rao da Janeiro: NOYI Aaullat. 1977), Um llv111 rompi#IIJ 1111/o /ruJo !R ar Mu rui
Pu,doJ 1913), D rcy Rlbclro, "OIIbii'ID Pmw. Cua.araodt j; llllla em lin'"w rn tl/ur"
!l'urto Alcarc LAPM, 1979)
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H .llll' IHIC1AI III\S10S
Nasrido 1111 Pl·mamhuco em I ')00, tendo estudado nos E~ lados Unidos e gr(!llf/(
' & sen<ala. Ao contar como se gt•stou a L'scritum do livro, ref(•rc-~c :r
po t1•1101111('rllc na Europa, onde \C n.JUiliU de u:na_im~ecávcl formação em Sociolo. . ortância simultflnca das experiências acadêmica~ c das dl· lazer : em Portui!al,
, 1,1, rcalrt.u la uns curst>s dülJruwrsrdade de ( olumbra c cnm complementação em ~;~rabulhos na Bibli~tcca Nacional c no Museu Etnológico ac~nnpanhados da
<l\forJ <lilht'l1n ht'llt~ se hcnl·rtna de novos instrumentos analíticos fomccidos fal11'.1·,r.11·'rd·'1dc com o vmho do Porto, o bacalhau. c os doces
. de lrcrra~;
. na Bah1a, o
(llÍill lll.llnwnt 1 pm Slllllll'IL· Boas, além de uma rica temática desenvolvida P<>r hccimcnto das coleções do Museu Afro-bmano Ntna Rodngucs c da arte do
.tulort·s espanhóis ( ianiwt, Unumuno, Pio Baroja e 0Jtcga y Classe!. Com esse con· das negras quitutciras, da decoração dos bolos, da cozmha · c doçana
· bawna:
·
pt:dil, 11 autor pndt•, em Com Mlrmt!e ~~ II'Wala, inovar metodologicamente, bus. traJO . lJ . 'd d d S r d .
nos Estados Unidos, os cursos na ntvcrsr a c c. tan.or c as vtagcns pc o f Il'l'P I
t.tndn um ponto de partrda divct so se comparado com os autores anteriores. Assim, S!mllr. Essa combinação demonstra-se rica no decorrer dos capítulos do livro, poi~
utilinr;i b.N' dtxum•·ntal diferente das convencionais utilizadas por historiadores. um dos elementos que estruturam a pesquisa empreendida é a tccuperação dos
.urnl.mdo d.l<ln~ rolludos em diJrios íntimo~. cartas, livro · de viagens, folhetins, usos c costumes do povo, para encontrar neles as rafzes culturais c sua relação
,111 tohtngr,11 1.1s. conlissnes, dcpoim:ntos pessoa r~; escritos c orais, livros de modinhas com os grupos formadores da sociedade brasileira. Do mesmo modo, ao H'fcrir-sc
c Vt'l\os. c.ttk·rnos de tt•ceitas. romances, notícias c at1igos de jamais. Por meio à innuência de Franz Boas, mestre em Colúmbia, assinala não apenas o quanto
1kb tt'COllstituir .í a vid.t íntima dos componentes da sociedade patriarcal, via estu- suas formulações a respeito da diferença entre raça c cultura orientaram seus
dodowtrdiann vivido no complexo agrário-industrial do açúcar. estudos c sua interpretação- levando-o a refletir sobre a questão da miscige-
I >e leitura aparentemente fácil, Casa·grande & senzala não é texto que nação-, mas, também, como o clima criado no curso o levou a preocupar-se
L'llltcj.!a inu:dt<ttamcnte a compreensão sua temática nuclear. Trata-se de um livro intensamente com os destinos do Brasil. E como desse ambiente emerge urn
vc•luntnso tlil pnrneira l'dição, 44 páginas de prefácio mai 520 de exposição, compromisso de busca de soluções para "questões seculare[>".
l!ILLJtlltlo que t: umplrado nas ediçflcs posteriores -, com inúmeras notas sustentan· Ainda no prefácio, dois eixos explicativos se definem: de um lado, a discri-
dn a olrj!llll1l'llta~·tn por meio de documentos c indicação bibliográfica, além de minação entre os efeitos da herança racial c os de influência social, cultural c de
ilu~tr.l~·fx'' ignrltcativas. O e~tilo ao mesmo tempo vivo, espontâneo, vigoroso e
meio; de outro, o peso do sistema de produção econômica sobre a estrutura da
lKt1', o c:uidadoso emprego das palavras, a utilit.ação de expressões populares, a
sociedade. A partir deles, ao examinar a sociedade brasileira, aponta para o fato
rrnma, a rncverl' ncia conqui~t.rm o leitor, que se prende irremediavelmente aos
de serem a monocultura latifundiária do açúcar e a escassez de mulheres bran-
v:mLlns d.t JWUnll'ntação do autur. Em nan·ativa construída em fonna de espiral, o
cas condicionantes fundamentais das relações existentes entre brancos c não·
autor cxpne suas teses de~ ·nhando círculos que não se completam, abrindo passo
brancos. Duas forças operam: do modelo econômico resulta uma dominação
p..tra uma nov,t argumentação, que novamente coloca outro aspecto do argumen·
patriarcal não apenas sobre a família e os escravos, mas também sobre os agre-
tu ... ad i11jinitum De rcrto modo, a fonna muitas vezes encobre a tese, quase que
gados c os homens livres; da escassez das mulheres brancas resulta a possibili-
impondo a concordància com ela, exatamente porque nem sempre explícita
dade de "confraternização entre vencedores c vencidos", gerando-se filhos do
Sua concepção sohre a sociedade brasileira funda-se na articulação de tres
senhor com a escrava, operando a miscigenação como corretor da distância
elementos: o J!atriarmdo, a illlerpenetração de etnias e culturas e o trópico.
social "entre a casa-grande e a mata tropical; entre a casa-grande c a senzala".'
E' es marcos definidores da fon11ação nacional correlacionam-se, de modo que
Em outros termos, as possibilidades de a sociedade brasileira, em sua estrutura,
cada um d ·les enc:ontw sua explicação no cruzamento com os dois outros.l)esSa
extremar-se entre senhores e escravos foi contrariada pelos efeitos soc1ais da
wmhmaçao resultam .1s diferentes teses que fundamentam a explicação da socie-
dade brJsilerra. miscigenação, agindo esta no sentido de "democratização social" no Brasil.
A casa-grande figura o sistema pattiwcal de colonização portuguesa do
Brasil, sistema de contemporização entre tendências aparentemente conflitantes
0
- colonizador tentando impor as fonnas européias l vida nacional, o coloni-
CASAS-GRANDES E CONTINUIDADE SOCIAL
\.Iuita ' t.es apontado como um escritor de tradição ibérica, que niosepell
a arte da \'ida Gilberto F . ti , . . u...:... .la
:Gilberto
---- Freire, Casa·frfllllk cl &tn:ala , op p. 15.
• ren-e a mna essa caractenstJca Já no pre1awv - t'll.
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H .llll' IHIC1AI III\S10S
Nasrido 1111 Pl·mamhuco em I ')00, tendo estudado nos E~ lados Unidos e gr(!llf/(
' & sen<ala. Ao contar como se gt•stou a L'scritum do livro, ref(•rc-~c :r
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, 1,1, rcalrt.u la uns curst>s dülJruwrsrdade de ( olumbra c cnm complementação em ~;~rabulhos na Bibli~tcca Nacional c no Museu Etnológico ac~nnpanhados da
<l\forJ <lilht'l1n ht'llt~ se hcnl·rtna de novos instrumentos analíticos fomccidos fal11'.1·,r.11·'rd·'1dc com o vmho do Porto, o bacalhau. c os doces
. de lrcrra~;
. na Bah1a, o
(llÍill lll.llnwnt 1 pm Slllllll'IL· Boas, além de uma rica temática desenvolvida P<>r hccimcnto das coleções do Museu Afro-bmano Ntna Rodngucs c da arte do
.tulort·s espanhóis ( ianiwt, Unumuno, Pio Baroja e 0Jtcga y Classe!. Com esse con· das negras quitutciras, da decoração dos bolos, da cozmha · c doçana
· bawna:
·
pt:dil, 11 autor pndt•, em Com Mlrmt!e ~~ II'Wala, inovar metodologicamente, bus. traJO . lJ . 'd d d S r d .
nos Estados Unidos, os cursos na ntvcrsr a c c. tan.or c as vtagcns pc o f Il'l'P I
t.tndn um ponto de partrda divct so se comparado com os autores anteriores. Assim, S!mllr. Essa combinação demonstra-se rica no decorrer dos capítulos do livro, poi~
utilinr;i b.N' dtxum•·ntal diferente das convencionais utilizadas por historiadores. um dos elementos que estruturam a pesquisa empreendida é a tccuperação dos
.urnl.mdo d.l<ln~ rolludos em diJrios íntimo~. cartas, livro · de viagens, folhetins, usos c costumes do povo, para encontrar neles as rafzes culturais c sua relação
,111 tohtngr,11 1.1s. conlissnes, dcpoim:ntos pessoa r~; escritos c orais, livros de modinhas com os grupos formadores da sociedade brasileira. Do mesmo modo, ao H'fcrir-sc
c Vt'l\os. c.ttk·rnos de tt•ceitas. romances, notícias c at1igos de jamais. Por meio à innuência de Franz Boas, mestre em Colúmbia, assinala não apenas o quanto
1kb tt'COllstituir .í a vid.t íntima dos componentes da sociedade patriarcal, via estu- suas formulações a respeito da diferença entre raça c cultura orientaram seus
dodowtrdiann vivido no complexo agrário-industrial do açúcar. estudos c sua interpretação- levando-o a refletir sobre a questão da miscige-
I >e leitura aparentemente fácil, Casa·grande & senzala não é texto que nação-, mas, também, como o clima criado no curso o levou a preocupar-se
L'llltcj.!a inu:dt<ttamcnte a compreensão sua temática nuclear. Trata-se de um livro intensamente com os destinos do Brasil. E como desse ambiente emerge urn
vc•luntnso tlil pnrneira l'dição, 44 páginas de prefácio mai 520 de exposição, compromisso de busca de soluções para "questões seculare[>".
l!ILLJtlltlo que t: umplrado nas ediçflcs posteriores -, com inúmeras notas sustentan· Ainda no prefácio, dois eixos explicativos se definem: de um lado, a discri-
dn a olrj!llll1l'llta~·tn por meio de documentos c indicação bibliográfica, além de minação entre os efeitos da herança racial c os de influência social, cultural c de
ilu~tr.l~·fx'' ignrltcativas. O e~tilo ao mesmo tempo vivo, espontâneo, vigoroso e
meio; de outro, o peso do sistema de produção econômica sobre a estrutura da
lKt1', o c:uidadoso emprego das palavras, a utilit.ação de expressões populares, a
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v:mLlns d.t JWUnll'ntação do autur. Em nan·ativa construída em fonna de espiral, o
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patriarcal não apenas sobre a família e os escravos, mas também sobre os agre-
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dade de "confraternização entre vencedores c vencidos", gerando-se filhos do
Sua concepção sohre a sociedade brasileira funda-se na articulação de tres
senhor com a escrava, operando a miscigenação como corretor da distância
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E' es marcos definidores da fon11ação nacional correlacionam-se, de modo que
Em outros termos, as possibilidades de a sociedade brasileira, em sua estrutura,
cada um d ·les enc:ontw sua explicação no cruzamento com os dois outros.l)esSa
extremar-se entre senhores e escravos foi contrariada pelos efeitos soc1ais da
wmhmaçao resultam .1s diferentes teses que fundamentam a explicação da socie-
dade brJsilerra. miscigenação, agindo esta no sentido de "democratização social" no Brasil.
A casa-grande figura o sistema pattiwcal de colonização portuguesa do
Brasil, sistema de contemporização entre tendências aparentemente conflitantes
0
- colonizador tentando impor as fonnas européias l vida nacional, o coloni-
CASAS-GRANDES E CONTINUIDADE SOCIAL
\.Iuita ' t.es apontado como um escritor de tradição ibérica, que niosepell
a arte da \'ida Gilberto F . ti , . . u...:... .la
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---- Freire, Casa·frfllllk cl &tn:ala , op p. 15.
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t.ado f ·nc~nnandl) como adaptador de< as forma ao nv~io e~'>C ,cnridr; .
-grande opera como centro de coe ã0 social, representa todrJ um ~i ite;:
ia! e p< lítico e age como p<Jntc> de ap(JÍ() para a organi;r.;s~ ..
que i 0, é (, modo pelo qual e realiZá o caráter c lá 1 ;l ti~
1 nu.aç<~< portug JC de marca agrária, r,edentána, plástica c harm<'"'' ~
J' r, o na formaçi.io naciOnal, rcpre~cntou papel marcantc vencendo;: fgreJ
e em certos momento ali m~.: mo o E~tado.
()e ud da ca a-grande acaba por ser ·'a história íntima de qua~ tr.od
ra 1 1r ' J·oi aí ·q e .:e exprimiu o caráter brasileiro a nos>a contmu1délrlt
social 'I aí títui1J Casa-grarule é o símbolo de um Jlalu1- o de dr1rrnna.
ção, CIIZ/llfl- o de sutx>rdinação ou submissão. O & entre as duas palaw· é
ímbolo de interpenetração, mostra a "dinámka democratizante como crmetJ.
o e t befec1da hierarquia". Em outras pala .ras, no Bras1l não se reali7ÃJJi
a r rmas trad1cíona1s de dominação, havendo uma imersão do proce~so,
dand se o~ inais qu alocariam ocialmcnte os indivíduos.
lht.k
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t.ado f ·nc~nnandl) como adaptador de< as forma ao nv~io e~'>C ,cnridr; .
-grande opera como centro de coe ã0 social, representa todrJ um ~i ite;:
ia! e p< lítico e age como p<Jntc> de ap(JÍ() para a organi;r.;s~ ..
que i 0, é (, modo pelo qual e realiZá o caráter c lá 1 ;l ti~
1 nu.aç<~< portug JC de marca agrária, r,edentána, plástica c harm<'"'' ~
J' r, o na formaçi.io naciOnal, rcpre~cntou papel marcantc vencendo;: fgreJ
e em certos momento ali m~.: mo o E~tado.
()e ud da ca a-grande acaba por ser ·'a história íntima de qua~ tr.od
ra 1 1r ' J·oi aí ·q e .:e exprimiu o caráter brasileiro a nos>a contmu1délrlt
social 'I aí títui1J Casa-grarule é o símbolo de um Jlalu1- o de dr1rrnna.
ção, CIIZ/llfl- o de sutx>rdinação ou submissão. O & entre as duas palaw· é
ímbolo de interpenetração, mostra a "dinámka democratizante como crmetJ.
o e t befec1da hierarquia". Em outras pala .ras, no Bras1l não se reali7ÃJJi
a r rmas trad1cíona1s de dominação, havendo uma imersão do proce~so,
dand se o~ inais qu alocariam ocialmcnte os indivíduos.
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O\S,1 GRJIN{)f. ,( 5/:"NIAI.A ELIDE RUGAI llASTOS
A rs'c modo de c:struturação social corr sponde a monocultura canavicira. • , m 3 própria configuração do Estado, que os velhos setores da sociedade
Para (iilht: 1to Frcin:. a monocultura, embora atuando positivamente no processo '.,ft;ta
~ numa sabedoria que lhes pcnmt1u· · orgamzar
· a socw · d ade dc fl1( xl o a evnar
·
d~ constituição da sociedade. acaba por agir m:gativamente no desenvolvimento det~,;luras que afetassem o cqm'l'b . socw
1 no . I. portanto, naquc Ia ocaswo·- - d,ccada
11 , 1co dos hat11 tantc~ da região, provocando a subnutrição. Escapam dela os brancos nJpt - , os grupos tradtciona1s,
de · · momentanea~cnte aI"I_Ja do~ da d'1rcçao - po 1'1t1ca,
30
da ca'a gr.mde c o escravo negro. A subnutrição, ao lado da sífilis, opera c01110 deveriam estar presentes na nova conliguraçao do poder.
depaupcradora dJ t'ncrgia econômica da população. Novamente a argumenta-
ção descnvol v~.:-- sc em confronto com a interpretação corrente sobre o car:ítcr
do povo brasileiro. Para a maioria dos autores, c te, resultante da mestiçagem, Q INDfOENA fl A PAMfLIA
ddinc-sc p~l.ltristaa, preguiça. luxúria, herança das "raças inferiores". A tese
frciriana tlrscnha-sc com precisão. os traços de fraqueza física, a debilidade, a Refletindo sobre o papel desempenhado pelo indígena na formaç; o nacio-
aparente preguiça têm origem social c cultural e não racial; explicam-se pela nal, Gilberto Freire encaminha a análise no sentido de demonstrar que :1s rela-
suhnutnçãn e pcl:~ doença. Enfrt:nta, as im, diretamente as posições do racis111o ções sociais no Drasil, desde os primeiros momentos da colonizaçao,
científico, explicação que fundamenta muitas daquelas reflexões. constituíram-se harmonicamente, sem conflitos de caráter violento. Híbrida c
(Jilbcrto rreirc amplia esse debate aplicando-o à organização política. As harmoniosa quanto às relações de raça, a sociedade brasileira teria se formado
bases culturali~tasjustilicam que construa sua exp licação sobre o autoritarismo em um ambiente "de quase reciprocidade cultural", aproveitando ao máximo
~S. L' lllado em rnzõcs de caráter cultural c não político. Reconstruindo as rela-
os valores c experiências dos povos nativos, contemporizando com ~ua cultu-
~oes entre scnhm branco/negra escrava, sinhozinho/molcquc, sinhá!mucama,
ra. A mulher indígena foi incorporada à sociedade cristã, tornando-se espoo,a c
nHhtta que <io marcadas pelo . adismo dos primeiros c o masoquismo dos mãe de família, transmitindo suas tradições à família do colonizador. As ten-
segundos O sadi. mo desenvolver-se-ia para "o simples c puro gosto de man-
sões resultantes dos choques entre as duas culturas - européia c indígena ,
dn. ca rac terí ~tico de todo brasileiro nascido ou criado em casa-grande de en-
ao se explicitarem em conflitos, encontram o caminho da integração, do cqui-
genho", lese que acaba por ganhar um patamar político. O masoquismo tende
lfbrio dos elementos antagônicos. Aponta dois caminhos, aparentemente anta-
ao gosto pd;1 dominação, pois, "no íntimo, o que o grosso do que se pode
gônicos, pelos quais o processo se desenvolveu: de um lado, a degradação da
ch;mlar 'povo hra sileiro' ainda goza é a pressão sobre ele de um governo
"raça atrasada"; de outro, a assimilação pela "raça adiantada'' da cultura do-
m:isculn c coraJosamente autocnítico". 7
minada.9 Da combinação das duas vias resulta uma expressiva harmonia social.
Aqui se explícita outro dos pontos principais do texto: a vida política brasi·
O português, ao chegar ao Brasil, não encontrou um sistema vigoroso
lcna se equilibra entre duas místicas; de um lado, a ordem e a autoridade decor-
de cultura moral e material, mas uma população culturalmente inferior à
n.'ntcs da tradição patriarcal; de outro, a liberdade e a democracia, desafios da
lllaior parte das áreas africanas. Os homens dedicavam-se à caça, pesca e
soci~dade moderna. Tratu-sc de uma "dualidade não de todo prejudicial à nossa
guerra; o trabalho agrícola era tarefa das mulheres. Ambos os papéis não se
cultura em formação. enriquecida de um lado pela espontaneidade, pelo frescor
adequariam às exigências de mão-de-obra necessárias ao colonizador. Po-
de in1.1gm,1 ·ão e emoção do grande número e, de outro lado, pelo contato, atra·
rém, alguns pontos levam à aproximação dos dois segmentos raciais no início
d.1s elitL'S, com a ciência, com a técnica e com o pensamento adiantado da
1
\
l:umpa" ~ bsa dualidade, segundo o autor, não deveria criar oposições, pois a da colonização brasileira: a escassez de mulheres branca e a necessidade
fonnaç:lo h1asilcira tem sido "um processo de equilíbrio de antagonismos". Creio ~c ocupação do território. Isso explica a tran igência mi cigenação c a
1
St'l lk ssí\el ahnnar que Gilberto Freire quer demonstmr, em um momento de ~~corporação do homem indígena no proce so de definição de e paço. As-
Sim, "a luxúria dos indivíduos, soltos sem família, no meio da indiada nua,
-------
tr.msfnrnu ·ao da sociedade brasileira, quando se promovem mudanças que
I
fbJ I rp 8ll·81
1/t,t. p ' RI
:---
Note-se qu ·t· ~
A.. e a uu tzaçlo d01 lermos wraça adlanlada", e 'raça lllrallda" rc.ete-se complc 1dade
""'CUlturas.
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O\S,1 GRJIN{)f. ,( 5/:"NIAI.A ELIDE RUGAI llASTOS
A rs'c modo de c:struturação social corr sponde a monocultura canavicira. • , m 3 própria configuração do Estado, que os velhos setores da sociedade
Para (iilht: 1to Frcin:. a monocultura, embora atuando positivamente no processo '.,ft;ta
~ numa sabedoria que lhes pcnmt1u· · orgamzar
· a socw · d ade dc fl1( xl o a evnar
·
d~ constituição da sociedade. acaba por agir m:gativamente no desenvolvimento det~,;luras que afetassem o cqm'l'b . socw
1 no . I. portanto, naquc Ia ocaswo·- - d,ccada
11 , 1co dos hat11 tantc~ da região, provocando a subnutrição. Escapam dela os brancos nJpt - , os grupos tradtciona1s,
de · · momentanea~cnte aI"I_Ja do~ da d'1rcçao - po 1'1t1ca,
30
da ca'a gr.mde c o escravo negro. A subnutrição, ao lado da sífilis, opera c01110 deveriam estar presentes na nova conliguraçao do poder.
depaupcradora dJ t'ncrgia econômica da população. Novamente a argumenta-
ção descnvol v~.:-- sc em confronto com a interpretação corrente sobre o car:ítcr
do povo brasileiro. Para a maioria dos autores, c te, resultante da mestiçagem, Q INDfOENA fl A PAMfLIA
ddinc-sc p~l.ltristaa, preguiça. luxúria, herança das "raças inferiores". A tese
frciriana tlrscnha-sc com precisão. os traços de fraqueza física, a debilidade, a Refletindo sobre o papel desempenhado pelo indígena na formaç; o nacio-
aparente preguiça têm origem social c cultural e não racial; explicam-se pela nal, Gilberto Freire encaminha a análise no sentido de demonstrar que :1s rela-
suhnutnçãn e pcl:~ doença. Enfrt:nta, as im, diretamente as posições do racis111o ções sociais no Drasil, desde os primeiros momentos da colonizaçao,
científico, explicação que fundamenta muitas daquelas reflexões. constituíram-se harmonicamente, sem conflitos de caráter violento. Híbrida c
(Jilbcrto rreirc amplia esse debate aplicando-o à organização política. As harmoniosa quanto às relações de raça, a sociedade brasileira teria se formado
bases culturali~tasjustilicam que construa sua exp licação sobre o autoritarismo em um ambiente "de quase reciprocidade cultural", aproveitando ao máximo
~S. L' lllado em rnzõcs de caráter cultural c não político. Reconstruindo as rela-
os valores c experiências dos povos nativos, contemporizando com ~ua cultu-
~oes entre scnhm branco/negra escrava, sinhozinho/molcquc, sinhá!mucama,
ra. A mulher indígena foi incorporada à sociedade cristã, tornando-se espoo,a c
nHhtta que <io marcadas pelo . adismo dos primeiros c o masoquismo dos mãe de família, transmitindo suas tradições à família do colonizador. As ten-
segundos O sadi. mo desenvolver-se-ia para "o simples c puro gosto de man-
sões resultantes dos choques entre as duas culturas - européia c indígena ,
dn. ca rac terí ~tico de todo brasileiro nascido ou criado em casa-grande de en-
ao se explicitarem em conflitos, encontram o caminho da integração, do cqui-
genho", lese que acaba por ganhar um patamar político. O masoquismo tende
lfbrio dos elementos antagônicos. Aponta dois caminhos, aparentemente anta-
ao gosto pd;1 dominação, pois, "no íntimo, o que o grosso do que se pode
gônicos, pelos quais o processo se desenvolveu: de um lado, a degradação da
ch;mlar 'povo hra sileiro' ainda goza é a pressão sobre ele de um governo
"raça atrasada"; de outro, a assimilação pela "raça adiantada'' da cultura do-
m:isculn c coraJosamente autocnítico". 7
minada.9 Da combinação das duas vias resulta uma expressiva harmonia social.
Aqui se explícita outro dos pontos principais do texto: a vida política brasi·
O português, ao chegar ao Brasil, não encontrou um sistema vigoroso
lcna se equilibra entre duas místicas; de um lado, a ordem e a autoridade decor-
de cultura moral e material, mas uma população culturalmente inferior à
n.'ntcs da tradição patriarcal; de outro, a liberdade e a democracia, desafios da
lllaior parte das áreas africanas. Os homens dedicavam-se à caça, pesca e
soci~dade moderna. Tratu-sc de uma "dualidade não de todo prejudicial à nossa
guerra; o trabalho agrícola era tarefa das mulheres. Ambos os papéis não se
cultura em formação. enriquecida de um lado pela espontaneidade, pelo frescor
adequariam às exigências de mão-de-obra necessárias ao colonizador. Po-
de in1.1gm,1 ·ão e emoção do grande número e, de outro lado, pelo contato, atra·
rém, alguns pontos levam à aproximação dos dois segmentos raciais no início
d.1s elitL'S, com a ciência, com a técnica e com o pensamento adiantado da
1
\
l:umpa" ~ bsa dualidade, segundo o autor, não deveria criar oposições, pois a da colonização brasileira: a escassez de mulheres branca e a necessidade
fonnaç:lo h1asilcira tem sido "um processo de equilíbrio de antagonismos". Creio ~c ocupação do território. Isso explica a tran igência mi cigenação c a
1
St'l lk ssí\el ahnnar que Gilberto Freire quer demonstmr, em um momento de ~~corporação do homem indígena no proce so de definição de e paço. As-
Sim, "a luxúria dos indivíduos, soltos sem família, no meio da indiada nua,
-------
tr.msfnrnu ·ao da sociedade brasileira, quando se promovem mudanças que
I
fbJ I rp 8ll·81
1/t,t. p ' RI
:---
Note-se qu ·t· ~
A.. e a uu tzaçlo d01 lermos wraça adlanlada", e 'raça lllrallda" rc.ete-se complc 1dade
""'CUlturas.
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CASA-GRANDE & SENZALA
ELIDE RUGAI llASTOS
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CASA-GRANDE & SENZALA
ELIDE RUGAI llASTOS
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SCZAL\ ELIDE RLG I B
~ ·a~. nh.1m.:nt de~ rdeiros". mo\in mo ~ue nada mais são do qu ··pre.
1'\t de re=-r·s :i o à cultura primiti,·a. recalcada porém não destruída". !I Gil.
rt Fre 1re ·inala er rara a emereência des s traços de truidores. poi ~
, n . ~a cultura é a acomodação de antagonismo . ~ la i uma vez., 0,
e!, ·nt ulturai ·e. plicam o políti ·o. Em re urna. a cultura indígena as i nu:
bda em \arios de seu a pectos pela .. ultura brasileira" é presença viva. útil.
ti\ a e cn dor a no de ·em·oh imento nacional. Além disso, •·o óleo lúbri 0 da
profunda miscigenação" marcou a relações sociai . que se desenvol\em
h.1rmonicam me atingindo não apenas o nível individual corno o institucional.
,, lbui. r 1~6
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SCZAL\ ELIDE RLG I B
~ ·a~. nh.1m.:nt de~ rdeiros". mo\in mo ~ue nada mais são do qu ··pre.
1'\t de re=-r·s :i o à cultura primiti,·a. recalcada porém não destruída". !I Gil.
rt Fre 1re ·inala er rara a emereência des s traços de truidores. poi ~
, n . ~a cultura é a acomodação de antagonismo . ~ la i uma vez., 0,
e!, ·nt ulturai ·e. plicam o políti ·o. Em re urna. a cultura indígena as i nu:
bda em \arios de seu a pectos pela .. ultura brasileira" é presença viva. útil.
ti\ a e cn dor a no de ·em·oh imento nacional. Além disso, •·o óleo lúbri 0 da
profunda miscigenação" marcou a relações sociai . que se desenvol\em
h.1rmonicam me atingindo não apenas o nível individual corno o institucional.
,, lbui. r 1~6
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EU ER
IED DE
--- :---
SIIIalc- c que e man~m. na arp~ clc:menlol ela tese Cl ta
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IED DE
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SIIIalc- c que e man~m. na arp~ clc:menlol ela tese Cl ta
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1 11\,\ li/1,\Nil/ .~ 1/ N/AIA 1:11111 I•L,I,~ I BA ,JII',
., 1 ,.~ d•· int 1·hrcncHI, m quai\ IIHiiuu ia111 p~ua os ra i~ta\ a Hidad~.; do africano '>ito em grand1: parte lt: pr,u :SvcJ pda d'~!r •ra qu •
1('\fll'IIO IIll~ tl 1111 t
. . .
c li I' (
mu ídalk d•l 111 -vrn. apont.un lhes as has1•s ndtu1 <IIS l' o lato d~.: accntu;111•111 a
tnllrc.. a~. rdaçoeft Sf!nlu,r/c ~cravo no Brar,il.
.,
dlf•'lllll,il~ ~ncmi\ cntll' ''' canwlas ela populaçao. Es~us característica~ definem o Iuvar '.tJCi<JI dr, n · 'I'J na rx..i~'dad n.t 1
Numa dm·çao mab positiva de seu di~ílogo, lllostra a plasticid~ch: do~~~ . I•lc
Jc1ra. ' ·~c tOJ ua parte da família, :.endo •,cu lugar "não CJ de · craVfJ ma o d ·
''"· su.tgrande adaptdhilid.tdt•. Ek é o vcrdudciro li lho do Ir rípiw, con~crvan ·ssoas de casa. h~pécic d..: parentes pobre~ na•, famílias européia ".Tal .rtua-
do. m:s~c .unbicntc, suas características cugénicas enquanto as outra•. raça~ ~0 se refere aos escravos domé1.ticos, os cri~tianizados c já abrar.tlclnrdr, , q•1e
st· deterioram. Por css1; mot1vo torna se mais adequado as formas que"'"" :i vem nas casas-grandes, que têm possibilidade de con•,tituír famílias, o que').
111111 a exploração croni>1nka no Brasil. Essa adaptação, que tem rafzcs fisioló. retira do clima de luxúria c primitivismo que marca os que vivem na ~cnzai.J.
pica~ 1• p•íqurcas, resulta em traços psicológicos. Assim, ao contnirio do índio. dedicados a lavoura, pagãos c comunicando-se por seus dialetos.
0 negro é um l.lpo ext rovertido. alegre. Esse conjunto de traços psicológicos, sociais c culturais permite que o
bm contraponto ditcto com Nina Rodrigues, discute a afirmação do· negro exerça um papel colonizador, não apenas como colaborador do branco.
ramtas que vêem a amoral idade como uma característica psíquica do negro, mas exercendo também entre os índios uma missão civilizadora no sentido
con,idcrando ahsurdo não se ter "reconhecido no negro a condição absor- curopeizante, atuando na mesma direção que o lusitano. Ao entrar como es-
vente de escravo". A escravidão retirou o africano de seu meio social e de cravo na casa-grande, o negro, principalmente a mulher, impõe wa cultura
família, colocando-o em um ambiente em que imperavam forças dissolvente> como dominante. É verdade que já cristianizado, mas, se o catolicismo foi a
de sua organi.lação social c sua cultura. Não há escravidão sem depravação forma de aproximar-se do senhor e de seus padrões de moralidade, o catolicis-
scxu·rl; portanto. a corrupção sexual de que é acusada não se realizou pela mo místico aqui praticado foi a política de assimilação e ao mesmo tempo de
n gra mas pt·la escrava O que Gilberto Freire quer demonstrar é a superio- contemporização seguida pelos senhores de escravos. Tal política consistiu em
rrdadc da inOuência da estrutura social sobre a racial c do meio físico. Nova- permitir aos negros a conservação, à sombra da doutrina católica. das fonnas
mente, a tese de Boas. e acessórios da cultura e da mítica africanas. Isso "dá bem a idéia do processo
1odavia, mesmo partindo desse ponto inovador, o autor não se atém ape· de aproximação das duas culturas". A religião foi o primeiro caldo em que se
nas aos elementos culturai:-. que, segundo ele, relativizariam a interpretação. confraternizaram os valores e sentimentos negros e brancos.
Buscando uma vtsão mais ampla, encontra na interação raça-meio físico as O escravo negro fonnou o caráter brasileiro legando-nos sentimentos c
caractcrí tica p ico16giC' ~ que definem o povo. Inter-relacionam-se emiasl valores. A ele devemos nossa sensibilidade, imaginação e uma doce e domés-
culturas c trâptco como elementos explicativos: é fundamental à análise apre· tica religiosidade. São africanos vários dos hábitos considerados brasileiros-
cndcr não apcna o grau como o momento de cultura que os diferentes povos de higiene, de vestimenta, de alimentação -, bem como o são as crenças em
nos comunicaram, além de sua adaptação ao trópico. Assim, a identificação de um mundo mágico, os sortilégios de amor, as tradições musicais. a linguagem.
rande número de negros maometanos, de "cultura superior", sabendo ler e A mucama exerceu uma forte ação na educação das crianças, incutindo-lhe
c cr ver, ajuda a compreender algumas das revoltas de escravos no Brasil hábitos de vida, crendices, alterando a língua tradicional portuguesa, tomando-
com 1 llllla erupção da cultura adiantada, oprimida por outra, menos no~: a uma "fala sem ossos" que opera "um amolecimento de resultado às wzes
la . ao lado do pcw cultural, há um traço psicológico que se torna freto 3 deliciosos para o ouvido".
r v Ita. a hondadc- a bondade do negro que o impede de rebelar-se e o leva . A partir da língua, Gilberto Freire tenta captar ao mesmo tempo a
a ·rceaar triJtamentos rudes. . Interpenetração das culturas e a trama das relações sociais no Bra i!. No processo
() ncgrrJ é, também, responsável pelo traço tlionisfaco do caráter brast· de assimilação dos negros à sociedade de ratz portuguesa, as diferente línguas
,• I uo é eh: qu~:m ameniza o apofí111:o presente no ameríndio, marca tão paten· africanas não persistiram; mas a língua portuguesa perdeu sua pureza. não se
' m 'u •llrais. A dança, por exemplo. nos primeiros tem caráter sensual. corrompendo totalmente e, também, não mantendo a rigidez das salas de aula.
nc1uauto no gundc,s é puramente dramática. A alegria do africano con~· A língua brasileira resulta da interpenetração de duas tendências: a estru-
h;daiiÇIJU ~l c:ar.íter m Ianc61ko do português c a tri~tcza do indígena. A alegl'la tura olicial e a fala popular. Todavia, mais do que uma forma cultural. expres a
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1 11\,\ li/1,\Nil/ .~ 1/ N/AIA 1:11111 I•L,I,~ I BA ,JII',
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. . .
c li I' (
mu ídalk d•l 111 -vrn. apont.un lhes as has1•s ndtu1 <IIS l' o lato d~.: accntu;111•111 a
tnllrc.. a~. rdaçoeft Sf!nlu,r/c ~cravo no Brar,il.
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Numa dm·çao mab positiva de seu di~ílogo, lllostra a plasticid~ch: do~~~ . I•lc
Jc1ra. ' ·~c tOJ ua parte da família, :.endo •,cu lugar "não CJ de · craVfJ ma o d ·
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st· deterioram. Por css1; mot1vo torna se mais adequado as formas que"'"" :i vem nas casas-grandes, que têm possibilidade de con•,tituír famílias, o que').
111111 a exploração croni>1nka no Brasil. Essa adaptação, que tem rafzcs fisioló. retira do clima de luxúria c primitivismo que marca os que vivem na ~cnzai.J.
pica~ 1• p•íqurcas, resulta em traços psicológicos. Assim, ao contnirio do índio. dedicados a lavoura, pagãos c comunicando-se por seus dialetos.
0 negro é um l.lpo ext rovertido. alegre. Esse conjunto de traços psicológicos, sociais c culturais permite que o
bm contraponto ditcto com Nina Rodrigues, discute a afirmação do· negro exerça um papel colonizador, não apenas como colaborador do branco.
ramtas que vêem a amoral idade como uma característica psíquica do negro, mas exercendo também entre os índios uma missão civilizadora no sentido
con,idcrando ahsurdo não se ter "reconhecido no negro a condição absor- curopeizante, atuando na mesma direção que o lusitano. Ao entrar como es-
vente de escravo". A escravidão retirou o africano de seu meio social e de cravo na casa-grande, o negro, principalmente a mulher, impõe wa cultura
família, colocando-o em um ambiente em que imperavam forças dissolvente> como dominante. É verdade que já cristianizado, mas, se o catolicismo foi a
de sua organi.lação social c sua cultura. Não há escravidão sem depravação forma de aproximar-se do senhor e de seus padrões de moralidade, o catolicis-
scxu·rl; portanto. a corrupção sexual de que é acusada não se realizou pela mo místico aqui praticado foi a política de assimilação e ao mesmo tempo de
n gra mas pt·la escrava O que Gilberto Freire quer demonstrar é a superio- contemporização seguida pelos senhores de escravos. Tal política consistiu em
rrdadc da inOuência da estrutura social sobre a racial c do meio físico. Nova- permitir aos negros a conservação, à sombra da doutrina católica. das fonnas
mente, a tese de Boas. e acessórios da cultura e da mítica africanas. Isso "dá bem a idéia do processo
1odavia, mesmo partindo desse ponto inovador, o autor não se atém ape· de aproximação das duas culturas". A religião foi o primeiro caldo em que se
nas aos elementos culturai:-. que, segundo ele, relativizariam a interpretação. confraternizaram os valores e sentimentos negros e brancos.
Buscando uma vtsão mais ampla, encontra na interação raça-meio físico as O escravo negro fonnou o caráter brasileiro legando-nos sentimentos c
caractcrí tica p ico16giC' ~ que definem o povo. Inter-relacionam-se emiasl valores. A ele devemos nossa sensibilidade, imaginação e uma doce e domés-
culturas c trâptco como elementos explicativos: é fundamental à análise apre· tica religiosidade. São africanos vários dos hábitos considerados brasileiros-
cndcr não apcna o grau como o momento de cultura que os diferentes povos de higiene, de vestimenta, de alimentação -, bem como o são as crenças em
nos comunicaram, além de sua adaptação ao trópico. Assim, a identificação de um mundo mágico, os sortilégios de amor, as tradições musicais. a linguagem.
rande número de negros maometanos, de "cultura superior", sabendo ler e A mucama exerceu uma forte ação na educação das crianças, incutindo-lhe
c cr ver, ajuda a compreender algumas das revoltas de escravos no Brasil hábitos de vida, crendices, alterando a língua tradicional portuguesa, tomando-
com 1 llllla erupção da cultura adiantada, oprimida por outra, menos no~: a uma "fala sem ossos" que opera "um amolecimento de resultado às wzes
la . ao lado do pcw cultural, há um traço psicológico que se torna freto 3 deliciosos para o ouvido".
r v Ita. a hondadc- a bondade do negro que o impede de rebelar-se e o leva . A partir da língua, Gilberto Freire tenta captar ao mesmo tempo a
a ·rceaar triJtamentos rudes. . Interpenetração das culturas e a trama das relações sociais no Bra i!. No processo
() ncgrrJ é, também, responsável pelo traço tlionisfaco do caráter brast· de assimilação dos negros à sociedade de ratz portuguesa, as diferente línguas
,• I uo é eh: qu~:m ameniza o apofí111:o presente no ameríndio, marca tão paten· africanas não persistiram; mas a língua portuguesa perdeu sua pureza. não se
' m 'u •llrais. A dança, por exemplo. nos primeiros tem caráter sensual. corrompendo totalmente e, também, não mantendo a rigidez das salas de aula.
nc1uauto no gundc,s é puramente dramática. A alegria do africano con~· A língua brasileira resulta da interpenetração de duas tendências: a estru-
h;daiiÇIJU ~l c:ar.íter m Ianc61ko do português c a tri~tcza do indígena. A alegl'la tura olicial e a fala popular. Todavia, mais do que uma forma cultural. expres a
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ELIDE RUGAI BASTOS
conciliação na esfera social; é uma das maneiras pelas quais se ameniza
conflitos. Ilustra a ten denc1a
, · d"tscutm · do os mo dos de construção do imperatilllvos
• d" fi
Um duro. portugues- 1ga-me, aça-me, espere-me-, outro ameno, brasilei. o Sobre essa afirmação se assenta a principal crítica feita não apenas a
ro _ me d1ga, me faça, me espere. São dois modos antagônicos e servimo-n Casa-grande & senzala, mas a vários textos posteriores escritos por Gilbeno
~
de ambos. "l·aça-mc, e' o sen hor fi
a an do, o pa1,. o patnarca;
. me dê, é escravos Freire- O mundo que o português criou (1940), Interpretação do Brasil
(1947), Novo mundo nos trópicos (1971), para citar alguns. Vários movimen-
a mulher, o mentno, a mucama." A simples colocação dos pronomes POdo~
0
tos sociais e estudiosos da questão racial no Brasil têm denunciado a tese da
mostrar que, como brasileiros, temos duas faces: a dura e antipática, do domi-
democracia racial como mito que funda uma consciência falsa da realidade.
nante, que se expressa no "faça-me"; a suave, simpática, pronta a obedecer,
Ou seja, a partir dela acredita-se que o negro não tem problemas de integração,
do dominado que pede "me faça". Segundo Gilberto Freire, as duas formas
já que não existem di stinções raciais entre nós, e as oportunidades são iguais
devem coexistir, porque a força da cultura brasileira reside "na riqueza dos
para brancos e negros. Aponta-se para o caráter hipócrita da formulação. uma
antagonismos equilibrados". Se seguíssemos só um modo em detrimento do
vez que o mi to se baseia na afirmação de que a ordem social é aberta a todos
outro, abafaríamos metade de nossa vida emotiva e nossas necessidades sen-
igualmente, forjando-se a crença de que existe um paralelismo entre a estrutu-
timentais, pois ''somos duas metades confratemizantes que se vêm mutuamen- ra social e a estrutura racial na sociedade brasileira.
te enriquecendo de valores e experiências diversas". Essas duas faces do
Outro aspecto da crítica diz respeito ao equívoco de se estabelecer uma
indivíduo estendem-se à sociedade. É isso que caracteriza nossa forma de nos ponte entre miscigenação e democratização- o primeiro um fato biológico e o
relacionarmos socialmente. Somos uma democracia social porque somos uma outro um fato sociopolítico - , identificando-se como semelhantes dois proces-
democracia racial. 14
sos independentes entre si. Esse continuum falso permite que se deixe de lado
a análise do modo como se ordenou a população descendente dos escravos e
os mecanismos que impediram a mobilidade social vertical dela, criando-se
CONSIDERAÇÕES FiNAIS uma estrutura social que discrimina grandes contingentes populacionais. Ore-
sultado desse descuido analítico é elidir a escala de valores sobre a qual se
A família é a catego1ia nuclear da explicação freiriana. É na família que se assenta a discriminação e, portanto, a dominação. Em outras palavras, a panir
toma possível perceber os elementos que caracterizam as relações e os processos da constatação da existência de um gradiente de aceitação social- o indivíduo
que envolvem os homens. É aí que encontramos as formas fundamentai~ q~ a é mais aceito socialmente na medida em que se aproxima dos padrões bran-
vida assume. Essa definição desenha o caminho da análise freiriana. PnmeJra- cos, e menos, se próximo dos padrões negros -, denuncia-se a falsidade do
mente, a escolha das instituições e dos personagens a serem estudados. O comple· mito da democracia racial. E, a partir disso, estudam-se as conseqüências do
xo agrário-industrial do açúcar visto como um microcosmo que se alarga e figura a mito na consciência dos indivíduos.
sociedade. Os personagens - o patnarca,. central na defiImçao
. - desse universo. Decorreria desse processo uma tendência, por parte da população não-
S
ocial· o escravo a mulher o menino, secundários, gravitando em tomodopn· branca, de fuga à realidade e à consciência étnica, por meio da aceitação dos
mciro.• Mas os sinais
' •
se invertem. · · ganhamo
Os atores aparentemente nnargmms ta· mitos que recobrem a discriminação. Ou seja, a identidade e a consciência
centro do palco, mudam o rumo da história. São eles que recriam em ou~o !d étnica são escamoteadas e busca-se, por parte da população negra, uma iden-
mar as relações sociais. Terminam por .Impor seu modo de VI"da, sua VJSaO 'aiO tificação com os grupos brancos. Essa seria a única forma pela qual se alcan-
Çaria a integração social e poder-se-ia aspirar à mobilização vertical. Assim, a
mundo seus costumes sua estética sua fala. Ass1m, • a1tera-se a ordem SOCIpor'
, • ' . ado lese da democracia racial, tendo sido incorporada pelo conjunto da população
mudam-se os papéis. O dominante acaba por ser dominado. E o domm ' ·a.
domtnar, impondo &ua cultura. Trata-se, para o autor, da fi1guração da democract brasileira, funciona como cultura política que se configura em obstáculo ao
Verdadeiro enfrentamento da questão racial no Brasil.
Outra crítica importante é a fonnulada por Sérgio Buarque de .Hola~da a
respeito da impropriedade da extensão da interpretação sobre o P.atriarcahs~o
G1lbeno Fr~ne ap rir . pp 376-377
a outras regiões do Bt·asil que não à nordestina. Afirma ter Gtlberto Freire
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ELIDE RUGAI BASTOS
conciliação na esfera social; é uma das maneiras pelas quais se ameniza
conflitos. Ilustra a ten denc1a
, · d"tscutm · do os mo dos de construção do imperatilllvos
• d" fi
Um duro. portugues- 1ga-me, aça-me, espere-me-, outro ameno, brasilei. o Sobre essa afirmação se assenta a principal crítica feita não apenas a
ro _ me d1ga, me faça, me espere. São dois modos antagônicos e servimo-n Casa-grande & senzala, mas a vários textos posteriores escritos por Gilbeno
~
de ambos. "l·aça-mc, e' o sen hor fi
a an do, o pa1,. o patnarca;
. me dê, é escravos Freire- O mundo que o português criou (1940), Interpretação do Brasil
(1947), Novo mundo nos trópicos (1971), para citar alguns. Vários movimen-
a mulher, o mentno, a mucama." A simples colocação dos pronomes POdo~
0
tos sociais e estudiosos da questão racial no Brasil têm denunciado a tese da
mostrar que, como brasileiros, temos duas faces: a dura e antipática, do domi-
democracia racial como mito que funda uma consciência falsa da realidade.
nante, que se expressa no "faça-me"; a suave, simpática, pronta a obedecer,
Ou seja, a partir dela acredita-se que o negro não tem problemas de integração,
do dominado que pede "me faça". Segundo Gilberto Freire, as duas formas
já que não existem di stinções raciais entre nós, e as oportunidades são iguais
devem coexistir, porque a força da cultura brasileira reside "na riqueza dos
para brancos e negros. Aponta-se para o caráter hipócrita da formulação. uma
antagonismos equilibrados". Se seguíssemos só um modo em detrimento do
vez que o mi to se baseia na afirmação de que a ordem social é aberta a todos
outro, abafaríamos metade de nossa vida emotiva e nossas necessidades sen-
igualmente, forjando-se a crença de que existe um paralelismo entre a estrutu-
timentais, pois ''somos duas metades confratemizantes que se vêm mutuamen- ra social e a estrutura racial na sociedade brasileira.
te enriquecendo de valores e experiências diversas". Essas duas faces do
Outro aspecto da crítica diz respeito ao equívoco de se estabelecer uma
indivíduo estendem-se à sociedade. É isso que caracteriza nossa forma de nos ponte entre miscigenação e democratização- o primeiro um fato biológico e o
relacionarmos socialmente. Somos uma democracia social porque somos uma outro um fato sociopolítico - , identificando-se como semelhantes dois proces-
democracia racial. 14
sos independentes entre si. Esse continuum falso permite que se deixe de lado
a análise do modo como se ordenou a população descendente dos escravos e
os mecanismos que impediram a mobilidade social vertical dela, criando-se
CONSIDERAÇÕES FiNAIS uma estrutura social que discrimina grandes contingentes populacionais. Ore-
sultado desse descuido analítico é elidir a escala de valores sobre a qual se
A família é a catego1ia nuclear da explicação freiriana. É na família que se assenta a discriminação e, portanto, a dominação. Em outras palavras, a panir
toma possível perceber os elementos que caracterizam as relações e os processos da constatação da existência de um gradiente de aceitação social- o indivíduo
que envolvem os homens. É aí que encontramos as formas fundamentai~ q~ a é mais aceito socialmente na medida em que se aproxima dos padrões bran-
vida assume. Essa definição desenha o caminho da análise freiriana. PnmeJra- cos, e menos, se próximo dos padrões negros -, denuncia-se a falsidade do
mente, a escolha das instituições e dos personagens a serem estudados. O comple· mito da democracia racial. E, a partir disso, estudam-se as conseqüências do
xo agrário-industrial do açúcar visto como um microcosmo que se alarga e figura a mito na consciência dos indivíduos.
sociedade. Os personagens - o patnarca,. central na defiImçao
. - desse universo. Decorreria desse processo uma tendência, por parte da população não-
S
ocial· o escravo a mulher o menino, secundários, gravitando em tomodopn· branca, de fuga à realidade e à consciência étnica, por meio da aceitação dos
mciro.• Mas os sinais
' •
se invertem. · · ganhamo
Os atores aparentemente nnargmms ta· mitos que recobrem a discriminação. Ou seja, a identidade e a consciência
centro do palco, mudam o rumo da história. São eles que recriam em ou~o !d étnica são escamoteadas e busca-se, por parte da população negra, uma iden-
mar as relações sociais. Terminam por .Impor seu modo de VI"da, sua VJSaO 'aiO tificação com os grupos brancos. Essa seria a única forma pela qual se alcan-
Çaria a integração social e poder-se-ia aspirar à mobilização vertical. Assim, a
mundo seus costumes sua estética sua fala. Ass1m, • a1tera-se a ordem SOCIpor'
, • ' . ado lese da democracia racial, tendo sido incorporada pelo conjunto da população
mudam-se os papéis. O dominante acaba por ser dominado. E o domm ' ·a.
domtnar, impondo &ua cultura. Trata-se, para o autor, da fi1guração da democract brasileira, funciona como cultura política que se configura em obstáculo ao
Verdadeiro enfrentamento da questão racial no Brasil.
Outra crítica importante é a fonnulada por Sérgio Buarque de .Hola~da a
respeito da impropriedade da extensão da interpretação sobre o P.atriarcahs~o
G1lbeno Fr~ne ap rir . pp 376-377
a outras regiões do Bt·asil que não à nordestina. Afirma ter Gtlberto Freire
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CASA-GRANDE & SENZALA
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CASA-GRANDE & SENZALA
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D.\DOS BIOGR\T
RAIZES DO BRAS/I,
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D.\DOS BIOGR\T
RAIZES DO BRAS/I,
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/1 fll {){}IlHA 11 IIRASILIO ' I.I.LJ 1 JR
) I'ROIIU·MA na'< ong 11 da ~octedadc hra'llc~ra, o fato dommanl ~ m:m rtcot mtnn,cqurnn.l
Tr.llc!flU\1 d~: paf\C~ dtstanlc~ nu~~a' forma de <•HIVIVto. no ,,L\ m ti!UI~l . nn "'
1déia,, c tunhrando em manter tudo 1~so em arnhtenll' mutl. s \C:IC dc~laHif.hrl
l)utl ,1 <JII!' t,H, ~..~:nlral a que o te lo pretende n:~pondcr? Trata-~e n~J )l0\111 . \Omos aind.t hoje un~ de tcrrado em no,~alcna'
d .111 nrl r n pr )Ç CJ de Ir an t~r:io ~ociopolítrc1 vivido pela sociedaú. bra j.
1.11 , nn 1110 1IJ Vl • dcpot~. na década de 40, quando o livro foi bastante Em suma. para o nosso autor, a identidade brasileira ..:ra prohlcmatira
111 ,)(Jtflt ,uJo. Nt I · llllcr identificar qual pas~ado c~tava então para ser ~upc. fraturada c ainda em devir. Em cada um dos capítulos de Rab·s. ele identifica
rarl , qualluluru ctnhnonát io aquele presente ht~tórico continha.
05 pilares desta construção. Tento reconstituí-los em seguid.t.
I• no u!lnw Lapílttlo, como atcstJ o seu título-" 'ossa revolução"-. que
1 qn • 1.1o l ntr.tl elo hvro ~crn a lona plcnament~:. Mas ela percorre toda a
, lu.t, llt<' '"" ptando o texto parece scí ter ~:m vista o passado. Sim, pois Sérgio fRONTEIRAS DA EUROPA
lln.trqu' .1! L'X;tm tn.n a\ com:epçõcs, in\tituiçõcs e formas de vida gestadas
IH" no o, .tlllt'IM~\.tdo~. o faz tendo em ~ ista que elas ainda oprimem- como É na Europa c, particularmente, na Península Ihérica que Sér 'Ío Buarque
di rr:t M,u \ o c< rehto doe; vtvo~. encontra o pilar central desta identidade em construção. Trata-se da particular
< ,,,nele: no, em Nal;e1 do !Jrmil nao se reconstrói a história da socieda- concepção da natureza humana que portugue es e espanhóis compartilhavam
dt· lll,t~tlt-tr.t Ch capitu lo\ do livro nao narram a seqllência de eventos e pro- antes e ao longo do processo de colonização da América. Com eleito. prl'do
tl' \11' qul' ti< ahMam 101 mando ,, sociedade brasileira desde as suas origens minava na Península Ibérica- por oposição às concepçoes reinantes na r~uro
( 11 'Jl'''"' Nau ( ·ad.tum Jdc' l.!.l(,llllina formas de ~ociabilidade que, decerto, pa de além Pireneus - a cultura da personalidade, a valorização cxtremad.t da
1 l·rn ~~·1 'itu.td.l\ no tempo, mas cu to ohjcto é reconstruir fragmentos de pessoa, de sua autonomia em relação ao seus semelhantes. Para os ihéncos,
IPtllt.l\ dt· 'td.t ·.m:tal. de 111\ttluiçiics ~.:de mentalidades. nascidas no passado, sublinha Sérgio, o índice do valor de um homem pode ser inferido da cxtcns:io
111.1 tfll<' 11nd.t l.l/1.1111 partt• d.l identidade nacional que Sérgio Buarque acredi· em que não dependa dos demais ...
1.11 lt' t.u l'lll \Í,t de st·t ~upetad.t Rai <'I cio Brasil não é, assim, um livro de E sas concepções e forma de vida, comuns às sociedades ihéricas, u1
hi !I !lia . l·lt' 11~.1 ollllolleJJ.tle •ad.t pl'la hi~tória para identificar as amarras que giram ligadas a condições particulares de vida ocial. O sentim •nto da dignida
hl11tlll 'J.IIll llllflrt'WIIIL' n na.~ imento Jc um futuro melhor. dt: própria a cada indivíduo, mesmo tendo s universalizado, inclusiv entre o
li.lll'lol p111' Cjlll' llllllal L'ollJl •la Wm a interpretação que entende ser 0 plebeus. nasceu da nobreza, como ética de fidalgos . A burgue ia ascendcnt .
ohJL'tn dt•flm·<'.l dollrt1.1tl rtLOn tttuir a rdcntidadc nacional bra il ira, aquilo em lugar de contrapor-s a la, as imiJou-a. De fato, a frouxidão da e.trutum
que lll 1S ~lll)'Uiatll.lll,l mmn <X icdade. Cautela. porque em Raíus trata•SC social, a permeabilidade da hi rarquia -em contra te com a barreim t• 1
111 .11 t dt• I 'Wil llllllf oiHkntid,tdc hr,l~ileira "tradicional" enquanto ntendida lentes onde o feudali mo imperava - permitira qu artesão· e mercadore
1 nmnum Olls p11h1s tk tt·n ·.1o stx:i.tle política do presente, como o arcaico que Cllad inosascend emsoci lmenteemPortugalsemgrand sob táculo ,já na
h'tHk ·' cr su1 'IJ In p ·l.t 1 ·it•dadc hrasíl ira em "revolução". A im. a tden cpoca da Re\oluç o d Avis, no 6culo Xlll. Es as fac1lidad pltcam -
I tl.td bt.t~ikit .tc~t;Í t'lll de' ir. em proccs. o de onstru o. ~!!undo Ser io - por qu a burguesia mercantil não precisou m Portugal
lt til' ,, Jdt·nttd td não é apcna algo amda m aberto. Para rgio oldotar um modo d vi er e pensar absolutamente novo, que marcas e pertlld-
lu.thJU ·.em L\td.l tMmt•nto da construção a soct•dadc bra ileira n o de' de n 'ntcmcnte o u predomínio. Ao contrário, procurou 1ar se anil a
' l'•'t'l.lth1ra dt• .unhigUidade. d .er l'ICicdad nova, fruto da olonizaÇIO '~"~· dirigente a imil r muitos dos us princfptos," u1ar- pela tmd•-
qu • nào • amolda bem à • ua heran a Este é já tema diS çao. mais do qu pela razio fria e calculi.ata". 1
~ dt hHL.
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/1 fll {){}IlHA 11 IIRASILIO ' I.I.LJ 1 JR
) I'ROIIU·MA na'< ong 11 da ~octedadc hra'llc~ra, o fato dommanl ~ m:m rtcot mtnn,cqurnn.l
Tr.llc!flU\1 d~: paf\C~ dtstanlc~ nu~~a' forma de <•HIVIVto. no ,,L\ m ti!UI~l . nn "'
1déia,, c tunhrando em manter tudo 1~so em arnhtenll' mutl. s \C:IC dc~laHif.hrl
l)utl ,1 <JII!' t,H, ~..~:nlral a que o te lo pretende n:~pondcr? Trata-~e n~J )l0\111 . \Omos aind.t hoje un~ de tcrrado em no,~alcna'
d .111 nrl r n pr )Ç CJ de Ir an t~r:io ~ociopolítrc1 vivido pela sociedaú. bra j.
1.11 , nn 1110 1IJ Vl • dcpot~. na década de 40, quando o livro foi bastante Em suma. para o nosso autor, a identidade brasileira ..:ra prohlcmatira
111 ,)(Jtflt ,uJo. Nt I · llllcr identificar qual pas~ado c~tava então para ser ~upc. fraturada c ainda em devir. Em cada um dos capítulos de Rab·s. ele identifica
rarl , qualluluru ctnhnonát io aquele presente ht~tórico continha.
05 pilares desta construção. Tento reconstituí-los em seguid.t.
I• no u!lnw Lapílttlo, como atcstJ o seu título-" 'ossa revolução"-. que
1 qn • 1.1o l ntr.tl elo hvro ~crn a lona plcnament~:. Mas ela percorre toda a
, lu.t, llt<' '"" ptando o texto parece scí ter ~:m vista o passado. Sim, pois Sérgio fRONTEIRAS DA EUROPA
lln.trqu' .1! L'X;tm tn.n a\ com:epçõcs, in\tituiçõcs e formas de vida gestadas
IH" no o, .tlllt'IM~\.tdo~. o faz tendo em ~ ista que elas ainda oprimem- como É na Europa c, particularmente, na Península Ihérica que Sér 'Ío Buarque
di rr:t M,u \ o c< rehto doe; vtvo~. encontra o pilar central desta identidade em construção. Trata-se da particular
< ,,,nele: no, em Nal;e1 do !Jrmil nao se reconstrói a história da socieda- concepção da natureza humana que portugue es e espanhóis compartilhavam
dt· lll,t~tlt-tr.t Ch capitu lo\ do livro nao narram a seqllência de eventos e pro- antes e ao longo do processo de colonização da América. Com eleito. prl'do
tl' \11' qul' ti< ahMam 101 mando ,, sociedade brasileira desde as suas origens minava na Península Ibérica- por oposição às concepçoes reinantes na r~uro
( 11 'Jl'''"' Nau ( ·ad.tum Jdc' l.!.l(,llllina formas de ~ociabilidade que, decerto, pa de além Pireneus - a cultura da personalidade, a valorização cxtremad.t da
1 l·rn ~~·1 'itu.td.l\ no tempo, mas cu to ohjcto é reconstruir fragmentos de pessoa, de sua autonomia em relação ao seus semelhantes. Para os ihéncos,
IPtllt.l\ dt· 'td.t ·.m:tal. de 111\ttluiçiics ~.:de mentalidades. nascidas no passado, sublinha Sérgio, o índice do valor de um homem pode ser inferido da cxtcns:io
111.1 tfll<' 11nd.t l.l/1.1111 partt• d.l identidade nacional que Sérgio Buarque acredi· em que não dependa dos demais ...
1.11 lt' t.u l'lll \Í,t de st·t ~upetad.t Rai <'I cio Brasil não é, assim, um livro de E sas concepções e forma de vida, comuns às sociedades ihéricas, u1
hi !I !lia . l·lt' 11~.1 ollllolleJJ.tle •ad.t pl'la hi~tória para identificar as amarras que giram ligadas a condições particulares de vida ocial. O sentim •nto da dignida
hl11tlll 'J.IIll llllflrt'WIIIL' n na.~ imento Jc um futuro melhor. dt: própria a cada indivíduo, mesmo tendo s universalizado, inclusiv entre o
li.lll'lol p111' Cjlll' llllllal L'ollJl •la Wm a interpretação que entende ser 0 plebeus. nasceu da nobreza, como ética de fidalgos . A burgue ia ascendcnt .
ohJL'tn dt•flm·<'.l dollrt1.1tl rtLOn tttuir a rdcntidadc nacional bra il ira, aquilo em lugar de contrapor-s a la, as imiJou-a. De fato, a frouxidão da e.trutum
que lll 1S ~lll)'Uiatll.lll,l mmn <X icdade. Cautela. porque em Raíus trata•SC social, a permeabilidade da hi rarquia -em contra te com a barreim t• 1
111 .11 t dt• I 'Wil llllllf oiHkntid,tdc hr,l~ileira "tradicional" enquanto ntendida lentes onde o feudali mo imperava - permitira qu artesão· e mercadore
1 nmnum Olls p11h1s tk tt·n ·.1o stx:i.tle política do presente, como o arcaico que Cllad inosascend emsoci lmenteemPortugalsemgrand sob táculo ,já na
h'tHk ·' cr su1 'IJ In p ·l.t 1 ·it•dadc hrasíl ira em "revolução". A im. a tden cpoca da Re\oluç o d Avis, no 6culo Xlll. Es as fac1lidad pltcam -
I tl.td bt.t~ikit .tc~t;Í t'lll de' ir. em proccs. o de onstru o. ~!!undo Ser io - por qu a burguesia mercantil não precisou m Portugal
lt til' ,, Jdt·nttd td não é apcna algo amda m aberto. Para rgio oldotar um modo d vi er e pensar absolutamente novo, que marcas e pertlld-
lu.thJU ·.em L\td.l tMmt•nto da construção a soct•dadc bra ileira n o de' de n 'ntcmcnte o u predomínio. Ao contrário, procurou 1ar se anil a
' l'•'t'l.lth1ra dt• .unhigUidade. d .er l'ICicdad nova, fruto da olonizaÇIO '~"~· dirigente a imil r muitos dos us princfptos," u1ar- pela tmd•-
qu • nào • amolda bem à • ua heran a Este é já tema diS çao. mais do qu pela razio fria e calculi.ata". 1
~ dt hHL.
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RAIZES DO BRASIL BRASÍLJO SALLUM JR
Em suma, no mundo ibérico a cultura chl personalidade associava-se Segundo aspecto. Ao exaltar o mérito pessoal- riqueza. feitos ou \ irtu-
·tta froux1dao da estrutura social, a uma falta de hierarquia organizada, e a des _ frente aos privilégios herdados, o personalismo distingue- e obviamente
que os privilégios hereditários jamais tiveram influência muito decisiva, impo~ do universo de pensamento inerente ao feudalismo de além Pireneus. Ma
tando menos o nome herdado que o prestígio pessoal, relacionado com "a abun. afasta-se também do individualismo moderno. Este pressupõe uma igualdade
dânt:t a dos bens de fortuna, os altos feitos e as altas virtudes". 3 essencial entre os homens; para o personalismo, ao contrário, a desigualdade é
No entanto. a ausência de rigor hierárquico na estrutura social _ em
0 resultado inevitável da competição entre eles; alguns homens seriam mais,
Portugal podia haver fidalgos em todas as profissões- não impedia que lhes outros menos talentosos; uns menos, outros mais dependente dos demais. Pode-
fo . em recusadas as honras "enquanto viverem de trabalhos mecânicos". 0 se dizer, quando muito, que o personalismo é um individualismo aristocrático
petsonalismo ibérico, fazt:ndo a apologia da autonomia da pessoa, concebia a de uma aristocracia aberta ao talento.
ação sobre a~ coisas, sobre objetos exteriores, como aceitação de uma lei Terceiro aspecto. As tendências anárquicas inerentes a exaltação da
c tranha ao indt víduo, que aviltaria e prejudicaria a própria dignidade. É por personalidade e às dificuldades de gestação de formas livremente pactuada
is o, c cn: vc o nosso autor. que de organização social convertem os governos no único princípio organuador
das sociedades ibéricas. Diz-se em Raízes: "em terra onde todos são barões
é comprccn fv d que J mms ~c tenha naturahzado entre gente htspãmca a moderna não é possível acordo coletivo durável, a não ser por uma força extenor re -
rchgtão do tr:.h~ lho c o apreço à au vtdade ut1lnária. Uma digna ociosidade sempre
peitável e temida". 5 A estabilidade política aqui só poderá surgir de urna alter-
p rcçeu m ~~ c11:cclcntc, e até mais nobtlnantc, a um bom ponugués, ou a um espa-
1 d<l que a luta m ~an a pelo pão de cada dta. [.. J E a~stm , enquanto os povos
nativa, a renúncia à personalidade, à autonomia da pessoa, em • ista de um bem
te tantc r reconttam c exaltam o esforço manual, as nações tbéncas colocam-se maior. Renúncia conducente à obediência cega. disciplinada, a uma potência
ntc no JX•nto de Vt\ta da anu gUtdade clá\ Sica I ..) de que o ócio importa llllllS externa. Entre os povos ibéricos, "a vontade de mandar e de cumprir ordens
4 e o ,.. 'c óe que a atJvtdade produtora é, e m~~ . menos valiosa que a contempla- são-lhes igualmente peculiares. As ditaduras e o Santo Ofício parecem con ti-
tuir formas tão típicas de seu caráter como a inclinação à anarquia e a desor-
dem".6
Este tema se retomará mais adiante quando da discussão do conjunto de E quando, como na época em que se escrevia Raízer. desaparece a
di po içõe d onduta que moveram a colonização da América ibérica. disciplina como fórmula viável de relação entre governantes ego ·emados? A
Tr" aspecto ccnt.llis dlls relações entre os homens resultam da con- instabilidade toma-se inevitável, uma constante da vida social, a menos que
cepção per unali!>ta de autonomia da pessoa. dilema entre anarquia e ditadura seja superado. Esta questão central será reto-
Dda re ulta. segundo Sérgio, boa parte da fragilidade das formas de mada no último capítulo do livro.
OCiação basei.ida em solidariedades livremente pactuadas. A própria ca- Tão importante foi essa incursão no universo dos valere ibérico , tà
rência de: uma morul do trabalho no mundo ibérico reforça a pouca capacidade relevante é o personalismo para a construção de Raizes e de nossa idenudade,
de r:!anização social. De fato, onde impera uma moral do trabalho, o esforço que o capítulo se encerra enfatizando, contra a crença na singulandade bras1
humilde ,tnóm mo e de interessado tende a produzir a solidariedade de intereS- leira radical. que compartilhamos uma "alma comum", e pecialmeme com
organização racional e a coesão entre os homens. Entre os hispâniCOS· Portugal. "Podemos dizer [lê-se ao final} que de lá nos veio a fonna atual de
1 a ol!dancdade não emerge da compatibilização de interesses; surge J1]8ÍS nossa cultura; o resto foi matéria que ~ sujeitou mal ou bem a esta forma.'
frequenteme nte de vínculos sentimentais - solidariedade entre parenteS 00
migo . círculos necessariamente limitados e particularistas.
240 UI
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RAIZES DO BRASIL BRASÍLJO SALLUM JR
Em suma, no mundo ibérico a cultura chl personalidade associava-se Segundo aspecto. Ao exaltar o mérito pessoal- riqueza. feitos ou \ irtu-
·tta froux1dao da estrutura social, a uma falta de hierarquia organizada, e a des _ frente aos privilégios herdados, o personalismo distingue- e obviamente
que os privilégios hereditários jamais tiveram influência muito decisiva, impo~ do universo de pensamento inerente ao feudalismo de além Pireneus. Ma
tando menos o nome herdado que o prestígio pessoal, relacionado com "a abun. afasta-se também do individualismo moderno. Este pressupõe uma igualdade
dânt:t a dos bens de fortuna, os altos feitos e as altas virtudes". 3 essencial entre os homens; para o personalismo, ao contrário, a desigualdade é
No entanto. a ausência de rigor hierárquico na estrutura social _ em
0 resultado inevitável da competição entre eles; alguns homens seriam mais,
Portugal podia haver fidalgos em todas as profissões- não impedia que lhes outros menos talentosos; uns menos, outros mais dependente dos demais. Pode-
fo . em recusadas as honras "enquanto viverem de trabalhos mecânicos". 0 se dizer, quando muito, que o personalismo é um individualismo aristocrático
petsonalismo ibérico, fazt:ndo a apologia da autonomia da pessoa, concebia a de uma aristocracia aberta ao talento.
ação sobre a~ coisas, sobre objetos exteriores, como aceitação de uma lei Terceiro aspecto. As tendências anárquicas inerentes a exaltação da
c tranha ao indt víduo, que aviltaria e prejudicaria a própria dignidade. É por personalidade e às dificuldades de gestação de formas livremente pactuada
is o, c cn: vc o nosso autor. que de organização social convertem os governos no único princípio organuador
das sociedades ibéricas. Diz-se em Raízes: "em terra onde todos são barões
é comprccn fv d que J mms ~c tenha naturahzado entre gente htspãmca a moderna não é possível acordo coletivo durável, a não ser por uma força extenor re -
rchgtão do tr:.h~ lho c o apreço à au vtdade ut1lnária. Uma digna ociosidade sempre
peitável e temida". 5 A estabilidade política aqui só poderá surgir de urna alter-
p rcçeu m ~~ c11:cclcntc, e até mais nobtlnantc, a um bom ponugués, ou a um espa-
1 d<l que a luta m ~an a pelo pão de cada dta. [.. J E a~stm , enquanto os povos
nativa, a renúncia à personalidade, à autonomia da pessoa, em • ista de um bem
te tantc r reconttam c exaltam o esforço manual, as nações tbéncas colocam-se maior. Renúncia conducente à obediência cega. disciplinada, a uma potência
ntc no JX•nto de Vt\ta da anu gUtdade clá\ Sica I ..) de que o ócio importa llllllS externa. Entre os povos ibéricos, "a vontade de mandar e de cumprir ordens
4 e o ,.. 'c óe que a atJvtdade produtora é, e m~~ . menos valiosa que a contempla- são-lhes igualmente peculiares. As ditaduras e o Santo Ofício parecem con ti-
tuir formas tão típicas de seu caráter como a inclinação à anarquia e a desor-
dem".6
Este tema se retomará mais adiante quando da discussão do conjunto de E quando, como na época em que se escrevia Raízer. desaparece a
di po içõe d onduta que moveram a colonização da América ibérica. disciplina como fórmula viável de relação entre governantes ego ·emados? A
Tr" aspecto ccnt.llis dlls relações entre os homens resultam da con- instabilidade toma-se inevitável, uma constante da vida social, a menos que
cepção per unali!>ta de autonomia da pessoa. dilema entre anarquia e ditadura seja superado. Esta questão central será reto-
Dda re ulta. segundo Sérgio, boa parte da fragilidade das formas de mada no último capítulo do livro.
OCiação basei.ida em solidariedades livremente pactuadas. A própria ca- Tão importante foi essa incursão no universo dos valere ibérico , tà
rência de: uma morul do trabalho no mundo ibérico reforça a pouca capacidade relevante é o personalismo para a construção de Raizes e de nossa idenudade,
de r:!anização social. De fato, onde impera uma moral do trabalho, o esforço que o capítulo se encerra enfatizando, contra a crença na singulandade bras1
humilde ,tnóm mo e de interessado tende a produzir a solidariedade de intereS- leira radical. que compartilhamos uma "alma comum", e pecialmeme com
organização racional e a coesão entre os homens. Entre os hispâniCOS· Portugal. "Podemos dizer [lê-se ao final} que de lá nos veio a fonna atual de
1 a ol!dancdade não emerge da compatibilização de interesses; surge J1]8ÍS nossa cultura; o resto foi matéria que ~ sujeitou mal ou bem a esta forma.'
frequenteme nte de vínculos sentimentais - solidariedade entre parenteS 00
migo . círculos necessariamente limitados e particularistas.
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R 1fZE DO BRA 'fL
BRASÍLIO SALLC\1 JR
inclinações" Compara nd o. complexo de valores e normas que orientavam a terra. de mandioca; habituarum~se também a dom1ir em redes. como o índio .
açiit colomzadora dos ponugue es com a inclinações diversas de outros po- e a usar eus in trumentos de caça e pesca, como as embarcaçõe de ca ca
ro •.' Adntando. poi , o me.m procedimento utilizado na caracterização do de arvore ou tronco escavado; adotaram métodos indígena de limpar a terra c
pl'rsorMl i mo iberico? ão; a e trntégia escolhida foi outra. Tenta- e atingir a d~ cultiv:í-lu; importaram da Ásia oriental o estilo das ca as com varundas
~ingu luridade hi. torica utraYé da con trução de tipo ociais contrapostos -o voltada para fora, que substituíram as tradicionais da península tberica, com
do aventureiro c do trabalhador. expressões de forma divergenh: de orienta- seus pátios internos, de origem moura; mesmo as plantações de cana e .1 utili~
~·flo das ati\'idades humanas. e pccialmente aquelas que se relacionam à tran. zação de escravos negros foram apenas ampliação da escala do que Já fazi.tm
fc rma ·Jo do mundo material. na ilha da Madeira e outras do Atlântico.
~h tipos di\'ergem seja no modo como hierarquizam meio e fins, seja o No entanto, mais do que copiar. a colonização tendeu a ser perduhíria em
t ·rnpo e o espaço. ou a parte e o todo. O aventureiro valoriza tanto o objetivo relação aos meio de que di punha. A ninguém OCOITia recuperar olos ga~tos;
fin.11 qu~ 11s Pleios par~cem-lht! ecundários, quase supérnuos; o trabalhador, a regra era os lavradores buscarem novas terras, mato adentro. E iss11 a ponto
pelo con tr.írio. conccntra-·St! mai, no meio, na dificuldade a vencer, do que de poder dizer-se da colonização: " em braço c. cravo c terra farta, terr,t para
no objctrvo <1 ak.tnçar; n .tventureiro ignora as fronteiras. vive dos espaço gastar e arruinar, não pura proteger ciosamente. ela seria irrealizável".9
ilimitadt ~. m.r . qul!r . uprimir o tempo, . ua paixão é o resultado imcdiuto; o E Lso não ocorria apenas no meio rural. A me ma transitoricdaJ ·c o
tr<~balh,tdor ,10 111\'l'S, pcrsis!L' em seu esforço mesmo quando o resultado custa m·smo amor ao ganho fácil dominavam também o ofícios urlxuws. Pouco~
J. er atinrido, sua percepção de espaço é restrita, concentra-. e na parte, vi·
indivíduos dedicavam-se a vida inteira a uma só atividade sem St' dd\,\r atr.ur
tanJo tkspcrd rçar o.\ metos. Estas disposições de conduta c encarnam em por outro neg6cio aparentemente mais lucmtivo. Mais raro ainda. sublinha \•r 'lt'
13uarque. ·ra um offcio perdumr em uma mesma família por mais de Ulll.l
l-tiLas di\tullas. Do ponto de vista do aventureiro, são desprezíveis os esforços gt:ração.
lJlll' não visJill urn pnl\ l'ito material irm•diato mas a paz, a estabilidade e a
Além da acentuada dispo ição para a awntura. outra cnndi~·ôc~ cultu
.,t•euranç,t rrnl·di.ttil Para a dica da aventura não há nada mais estúpido e
rais c materiais contribuíram, segundo o nos o autor, para o c!xito da l.'oloni;a-
mesqumho do que o ideal do trabalhador. Já para este, ao contrário, é imoral
ção portuguesa. A ausência de orgulho de mça entre os púrtugu scs- fl' ultam,•
---
tudt> o que se rc!Jciona wm a concepção espaçosa. aventureira, de mundo -a
crn grande parte da mestiçagem ocorrida no próprio reino -teria facilitado, ptlt
. ud.i ia. a imprevidl3tll:ia, a instabilidade. o imediatismo. .
exemplo, a assimilação dos dominado , "agindo como di solvente dç qualqu ·r
rvk ll10 não C.'tistindo fora do mundo da idéias, OS tipOS permitem jdenll·
idéia de separação de castas ou raças; de qualquer di ciplina fundada em t:tl
frc,tr <1 Ji~pt>. içiks de conduta predominantes nas sociedades. Na época d~ Separação" .r o
l1>n4ui. ta 1' wloniL.l Jo dos novos mundos, o trabalhador teria tido um pape
muito JX'q ·no, JO contrário do aventureiro. De fato, para Sérgio Buarqu~.
t.:ri~ pn.:J ninado o tipo do aventureiro não só entre portugueses e espanhótS : lbid., p. 18
lbtd,•m .
ma t.unhém entre os ingleses. ao menos até o século passado. • lbtd., p 2~.
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R 1fZE DO BRA 'fL
BRASÍLIO SALLC\1 JR
inclinações" Compara nd o. complexo de valores e normas que orientavam a terra. de mandioca; habituarum~se também a dom1ir em redes. como o índio .
açiit colomzadora dos ponugue es com a inclinações diversas de outros po- e a usar eus in trumentos de caça e pesca, como as embarcaçõe de ca ca
ro •.' Adntando. poi , o me.m procedimento utilizado na caracterização do de arvore ou tronco escavado; adotaram métodos indígena de limpar a terra c
pl'rsorMl i mo iberico? ão; a e trntégia escolhida foi outra. Tenta- e atingir a d~ cultiv:í-lu; importaram da Ásia oriental o estilo das ca as com varundas
~ingu luridade hi. torica utraYé da con trução de tipo ociais contrapostos -o voltada para fora, que substituíram as tradicionais da península tberica, com
do aventureiro c do trabalhador. expressões de forma divergenh: de orienta- seus pátios internos, de origem moura; mesmo as plantações de cana e .1 utili~
~·flo das ati\'idades humanas. e pccialmente aquelas que se relacionam à tran. zação de escravos negros foram apenas ampliação da escala do que Já fazi.tm
fc rma ·Jo do mundo material. na ilha da Madeira e outras do Atlântico.
~h tipos di\'ergem seja no modo como hierarquizam meio e fins, seja o No entanto, mais do que copiar. a colonização tendeu a ser perduhíria em
t ·rnpo e o espaço. ou a parte e o todo. O aventureiro valoriza tanto o objetivo relação aos meio de que di punha. A ninguém OCOITia recuperar olos ga~tos;
fin.11 qu~ 11s Pleios par~cem-lht! ecundários, quase supérnuos; o trabalhador, a regra era os lavradores buscarem novas terras, mato adentro. E iss11 a ponto
pelo con tr.írio. conccntra-·St! mai, no meio, na dificuldade a vencer, do que de poder dizer-se da colonização: " em braço c. cravo c terra farta, terr,t para
no objctrvo <1 ak.tnçar; n .tventureiro ignora as fronteiras. vive dos espaço gastar e arruinar, não pura proteger ciosamente. ela seria irrealizável".9
ilimitadt ~. m.r . qul!r . uprimir o tempo, . ua paixão é o resultado imcdiuto; o E Lso não ocorria apenas no meio rural. A me ma transitoricdaJ ·c o
tr<~balh,tdor ,10 111\'l'S, pcrsis!L' em seu esforço mesmo quando o resultado custa m·smo amor ao ganho fácil dominavam também o ofícios urlxuws. Pouco~
J. er atinrido, sua percepção de espaço é restrita, concentra-. e na parte, vi·
indivíduos dedicavam-se a vida inteira a uma só atividade sem St' dd\,\r atr.ur
tanJo tkspcrd rçar o.\ metos. Estas disposições de conduta c encarnam em por outro neg6cio aparentemente mais lucmtivo. Mais raro ainda. sublinha \•r 'lt'
13uarque. ·ra um offcio perdumr em uma mesma família por mais de Ulll.l
l-tiLas di\tullas. Do ponto de vista do aventureiro, são desprezíveis os esforços gt:ração.
lJlll' não visJill urn pnl\ l'ito material irm•diato mas a paz, a estabilidade e a
Além da acentuada dispo ição para a awntura. outra cnndi~·ôc~ cultu
.,t•euranç,t rrnl·di.ttil Para a dica da aventura não há nada mais estúpido e
rais c materiais contribuíram, segundo o nos o autor, para o c!xito da l.'oloni;a-
mesqumho do que o ideal do trabalhador. Já para este, ao contrário, é imoral
ção portuguesa. A ausência de orgulho de mça entre os púrtugu scs- fl' ultam,•
---
tudt> o que se rc!Jciona wm a concepção espaçosa. aventureira, de mundo -a
crn grande parte da mestiçagem ocorrida no próprio reino -teria facilitado, ptlt
. ud.i ia. a imprevidl3tll:ia, a instabilidade. o imediatismo. .
exemplo, a assimilação dos dominado , "agindo como di solvente dç qualqu ·r
rvk ll10 não C.'tistindo fora do mundo da idéias, OS tipOS permitem jdenll·
idéia de separação de castas ou raças; de qualquer di ciplina fundada em t:tl
frc,tr <1 Ji~pt>. içiks de conduta predominantes nas sociedades. Na época d~ Separação" .r o
l1>n4ui. ta 1' wloniL.l Jo dos novos mundos, o trabalhador teria tido um pape
muito JX'q ·no, JO contrário do aventureiro. De fato, para Sérgio Buarqu~.
t.:ri~ pn.:J ninado o tipo do aventureiro não só entre portugueses e espanhótS : lbid., p. 18
lbtd,•m .
ma t.unhém entre os ingleses. ao menos até o século passado. • lbtd., p 2~.
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In lf DO liRA /L ORASJLJO S.\LLU, 1 JR
Oumt ,1r.ldcn 11 .1s culturais, d rivad~ d~ personalismo, singulariza. ão real com a grande exploração agrária, em que se funda\ a a nque/U da
rJm n1.1s n.to 1 trl.!ú!m to.: r b.:n ·fict.td .1 colomzaçao pottuguc a. Por ex em . ~otônia. Adernai , tanto a língua quanto a religião prote tantc teriam tornado
1
. dtli uld.ld' de g ·r.1r c manter r.orma dc a . octaçao , -
entrem tVIduos autônp o.
, d' '
ai difícil para os holandeses a comunicação c a atração de indígenas c n ·
111
m n nt.1J.h para objcli\ l' S comun 1.! a cstigmatização do trabalhos mec~: o catolicismo e a fonética teriam tomado mai f:iccis estas tJrefa. par,l
grOs .
m 1:~I p.1Jr[ · de c 'nduta f.l\ ore eram o prcdomíni na ociedade colonial portugueses.
05
da< rd ·[ IX'~ oai.. m:~r aJa pelo J~·ti\o e o irra ional, e dificultaram
0
~ur 11111.:tltl d ll ma~ de {lrgani z.t~·:io ·ia! mai .unplas que as baseada em
10 , ulo fanuli.ti .. c, mo as orporaçõe urbanas de ofício. HERANÇA RURAL
Su hnh -<:e ue o paJrõe. de orientação de conduta já referido só con-
tnblmam par.tm ld:tr .1 ' idJ coloni:tl porque houve condiçõe ma teria i que 0 Analisadas as concepções, va lores c normas orientadora.s da~ rel.lÇÚC
p.:m1ttt um. \~. irn. por exemplo. o impulso aventureiro só pôde materializar-se dos homens entre si c com o mundo material , seja no mundo il érico seja na
em i. tcmJ pn:Jat rio de c ploração agrária porque houve a po ibilidadc de ação colonizadora, o foc o de Raízes do Brasil desloca-se para a ordem social
1mp 1rtJr n ·gr ~como . cravos em grnnde quantidade e havia na colônia abun- na qual ela se encarnaram na América portuguesa.
d.inctJ d · terra f~ rtet s c Jinda não desbravada . O próprio fa to de a Europa Examina-se então, pela primeira vez em conjunto, o legado tio nos ·o pas-
·r um mercado para o gcnero tropicai inclui- e entre os pre supostos mate- sado colonial c seus desdobramentos até a abolição. Sim, porque para Sérgio
ri i do tipo de coloni z,1ção aqui desenvolvido. E foi o conjunto desses fatores Buarque a abolição foi o marco divisório entre duas épocas. a primeira, a
qu rm tiu qúc a grande exploração rural escravista e toma se a verdadeira sociedade teria sido dominada por uma civilização enraizada no meio rural
untuJJc u · produção da colônia. Como conseqüência, as cidade e as tradi- para a qual, especialmente durante a colônia, as cidades eram virtuai depen-
tonai rganizaçõcs dt: artesão livres encontraram aqui na colônia poucas dências. A preeminência rural , sublinha-se em Raízes, singularizou a colonita -
p 1 ~ibi l idad~s estruturais de desenvolver-se. As dificuldades de associação ção portuguesa, seja em relação à tentativa de implantação dos holandese em
r~'' na I ~o J As.1prcço pelo trabalho mecânico só vieram reforçar a dificulda- Pernambuco, seja comparada à colonização espanhola da América. Sú dêpoi~
de estrutural da abolição o mundo urbano teria ganho preeminência sobre o agrário.
O suce so da colonização dos portugueses deveu-se, então, à sua ética O centro de toda organização dos domínios rurais foi, dêsde a colônia, a
v nwreira. a alg umas de ua características culturais (falta de orgulho de família patriarcal, organizada segundo as normas do antigo direito romano-
r.tça. catolrcismo, etc l c à facilidade com que se adaptaram aos meios mate· canônico que se mantiveram na península Ibérica. Incluem-se no seu cín.: ulo
nais e hu manos que as condições naturais c históricas lhes ofereciam. Sua não só os parentes de sangue mas também os agregados. escravos doméstico~
fraqueza. escn: \·e Sérgio Buarque. foi sua força . e das plantações. Como a família antiga da qual deriva, ela mêsma acha-M~
E o qu~ explicaria o malogro da colonização holandesa? Essencialmente, vincu lada à idéia de escravidão- a própria palavra família deriva dcfmmdu.\·
:1 dificuldade de adaptação às condições da colônia. Não se trata, porém, de - sendo os filhos apenas membros livres do seu vasto corpo. Nela, o pátrio
di ti 'tlldade irnpks de identificar. Desde logo, o problema não residiu noespf· poder é quase ilimitado, mantendo-se quase imune às pressões ou rcstriçoc~
rito de empreendimento mt;tódico e coordenado, em capacidade de trabalho e de fora. A propriedade rural como um todo estava sujeita a sua vontade. E ela
·m coes;io social - qualidades sobrantes entre os holandeses e praticamente própria era um organismo que, em princíP,.io, bastava-se a f> I mesmo, tc11dia a
imersas daquelas inerentes ao uni verso do personalismo ibérico. Residiu mais autarquia. Tinha escola, capela, produzia sua alimentação cotidiana, os moveis
no tipo d~.· colonos que os "flamengos" conseguiram atrair para o nordeste c apetrechos do engenho saíam de suas serrarias.
II.t Jlc1ro e na urbanização extemporânea da sua empresa colonial. Colon~s No mundo colonial e mesmo depois,
rc rutados em '' 'Ja a Europa entre aventureiros de toda espécie- cosmopoh·
t· 5 mst.i\ ..:is. I ·dominantemente urbanos - concentraram-se na cidade do o quadro familiar torna-se tilo poderoso e exigente que sua sombra pc:l'5egue us 10
Recife. E. ta,passou a "viver por si'', quer dizer, artificialmente, sem articula· div!duos mesmo fora do recinto domésuco. A entidade privada precede !>Cmpre.
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In lf DO liRA /L ORASJLJO S.\LLU, 1 JR
Oumt ,1r.ldcn 11 .1s culturais, d rivad~ d~ personalismo, singulariza. ão real com a grande exploração agrária, em que se funda\ a a nque/U da
rJm n1.1s n.to 1 trl.!ú!m to.: r b.:n ·fict.td .1 colomzaçao pottuguc a. Por ex em . ~otônia. Adernai , tanto a língua quanto a religião prote tantc teriam tornado
1
. dtli uld.ld' de g ·r.1r c manter r.orma dc a . octaçao , -
entrem tVIduos autônp o.
, d' '
ai difícil para os holandeses a comunicação c a atração de indígenas c n ·
111
m n nt.1J.h para objcli\ l' S comun 1.! a cstigmatização do trabalhos mec~: o catolicismo e a fonética teriam tomado mai f:iccis estas tJrefa. par,l
grOs .
m 1:~I p.1Jr[ · de c 'nduta f.l\ ore eram o prcdomíni na ociedade colonial portugueses.
05
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0
~ur 11111.:tltl d ll ma~ de {lrgani z.t~·:io ·ia! mai .unplas que as baseada em
10 , ulo fanuli.ti .. c, mo as orporaçõe urbanas de ofício. HERANÇA RURAL
Su hnh -<:e ue o paJrõe. de orientação de conduta já referido só con-
tnblmam par.tm ld:tr .1 ' idJ coloni:tl porque houve condiçõe ma teria i que 0 Analisadas as concepções, va lores c normas orientadora.s da~ rel.lÇÚC
p.:m1ttt um. \~. irn. por exemplo. o impulso aventureiro só pôde materializar-se dos homens entre si c com o mundo material , seja no mundo il érico seja na
em i. tcmJ pn:Jat rio de c ploração agrária porque houve a po ibilidadc de ação colonizadora, o foc o de Raízes do Brasil desloca-se para a ordem social
1mp 1rtJr n ·gr ~como . cravos em grnnde quantidade e havia na colônia abun- na qual ela se encarnaram na América portuguesa.
d.inctJ d · terra f~ rtet s c Jinda não desbravada . O próprio fa to de a Europa Examina-se então, pela primeira vez em conjunto, o legado tio nos ·o pas-
·r um mercado para o gcnero tropicai inclui- e entre os pre supostos mate- sado colonial c seus desdobramentos até a abolição. Sim, porque para Sérgio
ri i do tipo de coloni z,1ção aqui desenvolvido. E foi o conjunto desses fatores Buarque a abolição foi o marco divisório entre duas épocas. a primeira, a
qu rm tiu qúc a grande exploração rural escravista e toma se a verdadeira sociedade teria sido dominada por uma civilização enraizada no meio rural
untuJJc u · produção da colônia. Como conseqüência, as cidade e as tradi- para a qual, especialmente durante a colônia, as cidades eram virtuai depen-
tonai rganizaçõcs dt: artesão livres encontraram aqui na colônia poucas dências. A preeminência rural , sublinha-se em Raízes, singularizou a colonita -
p 1 ~ibi l idad~s estruturais de desenvolver-se. As dificuldades de associação ção portuguesa, seja em relação à tentativa de implantação dos holandese em
r~'' na I ~o J As.1prcço pelo trabalho mecânico só vieram reforçar a dificulda- Pernambuco, seja comparada à colonização espanhola da América. Sú dêpoi~
de estrutural da abolição o mundo urbano teria ganho preeminência sobre o agrário.
O suce so da colonização dos portugueses deveu-se, então, à sua ética O centro de toda organização dos domínios rurais foi, dêsde a colônia, a
v nwreira. a alg umas de ua características culturais (falta de orgulho de família patriarcal, organizada segundo as normas do antigo direito romano-
r.tça. catolrcismo, etc l c à facilidade com que se adaptaram aos meios mate· canônico que se mantiveram na península Ibérica. Incluem-se no seu cín.: ulo
nais e hu manos que as condições naturais c históricas lhes ofereciam. Sua não só os parentes de sangue mas também os agregados. escravos doméstico~
fraqueza. escn: \·e Sérgio Buarque. foi sua força . e das plantações. Como a família antiga da qual deriva, ela mêsma acha-M~
E o qu~ explicaria o malogro da colonização holandesa? Essencialmente, vincu lada à idéia de escravidão- a própria palavra família deriva dcfmmdu.\·
:1 dificuldade de adaptação às condições da colônia. Não se trata, porém, de - sendo os filhos apenas membros livres do seu vasto corpo. Nela, o pátrio
di ti 'tlldade irnpks de identificar. Desde logo, o problema não residiu noespf· poder é quase ilimitado, mantendo-se quase imune às pressões ou rcstriçoc~
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·m coes;io social - qualidades sobrantes entre os holandeses e praticamente própria era um organismo que, em princíP,.io, bastava-se a f> I mesmo, tc11dia a
imersas daquelas inerentes ao uni verso do personalismo ibérico. Residiu mais autarquia. Tinha escola, capela, produzia sua alimentação cotidiana, os moveis
no tipo d~.· colonos que os "flamengos" conseguiram atrair para o nordeste c apetrechos do engenho saíam de suas serrarias.
II.t Jlc1ro e na urbanização extemporânea da sua empresa colonial. Colon~s No mundo colonial e mesmo depois,
rc rutados em '' 'Ja a Europa entre aventureiros de toda espécie- cosmopoh·
t· 5 mst.i\ ..:is. I ·dominantemente urbanos - concentraram-se na cidade do o quadro familiar torna-se tilo poderoso e exigente que sua sombra pc:l'5egue us 10
Recife. E. ta,passou a "viver por si'', quer dizer, artificialmente, sem articula· div!duos mesmo fora do recinto domésuco. A entidade privada precede !>Cmpre.
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RAiZES DO BRASIL BRASÍLIO SALLUM JR .
neles. a entidade pública. A nostalgia desta org:ni~ação compacta, úmca e intransferível, Outro exemplo da difusão da mentalidade de casa-grande é o caso. to-
onde preval ecem ncccssanamentc as preferenctas fundadas em laços afetivo~. não mado de um livro de um viajante estrangeiro, John Luccock, que presenciou,
podt a detxar de marcar nossa soctedadc, nossa vida púbhca, todas as nossas alivtda- Rio de Janeiro, um "simples oficial de carpintaria que se vestia à manetra de
00
dcs 11 urn fidalgo, com tricómio e sapatos de fivela, e se recusava a usar das próprias
rnãos para carregar as ferramentas de seu ofício, preferindo entregá-las a um
Esta é uma das . teses centrais
. _ de Rar~es do Brasil ' retomada munas
· 13
reto"-
vezes ao longo do hvro. Por ISSO, nao parece exagero dizer que, para Sér . p Este universo mental personalista, incompatível com as exigências da
Buarque. a f am1'I'ta patnarca
- . através do qual a tradi gto
I f 01. o eIo social - economia moderna, domina até- como demonstra Sérgio Buarque- o intelec-
persona I.tsta e aventureira
· herdada dos colomzadores
· portugueses se aclimatÇao to de reformadores, como José da Silva Lisboa, futuro visconde de Cairu, grande
entre nós e acabou por imprimir sua marca na sociedade como um todo. ou agitador das idéias do novo liberalismo econômico no início do século XIX
O declínio da velha lavoura e a ascensão, quase concomitante, dos cen-
tros urbanos, precipitada pela vinda da corte portuguesa em 1808 e pela inde-
pendência, reduziu parte da preeminência dos senhores rurais. No entanto, 0 SEMEADOR E O LADRILHADOR
lb,d . p. 56
lb,d., p 62
Scanned by CamScanner
RAiZES DO BRASIL BRASÍLIO SALLUM JR .
neles. a entidade pública. A nostalgia desta org:ni~ação compacta, úmca e intransferível, Outro exemplo da difusão da mentalidade de casa-grande é o caso. to-
onde preval ecem ncccssanamentc as preferenctas fundadas em laços afetivo~. não mado de um livro de um viajante estrangeiro, John Luccock, que presenciou,
podt a detxar de marcar nossa soctedadc, nossa vida púbhca, todas as nossas alivtda- Rio de Janeiro, um "simples oficial de carpintaria que se vestia à manetra de
00
dcs 11 urn fidalgo, com tricómio e sapatos de fivela, e se recusava a usar das próprias
rnãos para carregar as ferramentas de seu ofício, preferindo entregá-las a um
Esta é uma das . teses centrais
. _ de Rar~es do Brasil ' retomada munas
· 13
reto"-
vezes ao longo do hvro. Por ISSO, nao parece exagero dizer que, para Sér . p Este universo mental personalista, incompatível com as exigências da
Buarque. a f am1'I'ta patnarca
- . através do qual a tradi gto
I f 01. o eIo social - economia moderna, domina até- como demonstra Sérgio Buarque- o intelec-
persona I.tsta e aventureira
· herdada dos colomzadores
· portugueses se aclimatÇao to de reformadores, como José da Silva Lisboa, futuro visconde de Cairu, grande
entre nós e acabou por imprimir sua marca na sociedade como um todo. ou agitador das idéias do novo liberalismo econômico no início do século XIX
O declínio da velha lavoura e a ascensão, quase concomitante, dos cen-
tros urbanos, precipitada pela vinda da corte portuguesa em 1808 e pela inde-
pendência, reduziu parte da preeminência dos senhores rurais. No entanto, 0 SEMEADOR E O LADRILHADOR
lb,d . p. 56
lb,d., p 62
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RAIZES DO BRAS!t
BRAS[UrJ SALLUM JR
Cldai!e que os portugueses construíram na América não é produto mental, não chega ca, onde construiria uma Nova Espanha, mas também em direção ao resto da
a <:ontradizer o quadro da. natureza, e sua stlhueta se enlaça na lmha da paisagem. Europa. Portugal, pelo contrário, não teria tais problemas porque, de um lado,
enht:m ~gor. ncn~um met~o [ .. ].sempre este stgmficativo abandono que exprime realizara sua unidaàe política no século XIII- antes de qualquer Estado euro-
p 3HJ desleiXO f .] que lmphca menos falta de energJa de que uma íntima convlc-
Ç:O de que 'não vale a pena'"."
peu- e, de outro, porque alcançara notável unidade étnica mediante a coloni-
zação das suas terras meridionais conquistadas aos sarracenos. Exatamente
Já na América espanhola, esta ausência de problemas teria tirado de Portugal o impulso de congregar
todas as suas forças em tomo de um objetivo que transcendesse a realidade
presente através de leis rígidas e o teria conduzido ao conservantismo expres-
o pr prio traç do dos centros urbanos[ ... ] denuncia o esforço determinado de vencer
" rellf car a fantasia capncho a da paisagem agreste [... ] As ruas não se deixam
so no deixar estar, no "desleixo". Ao invés de construir um "novo Portugal""-
modelar pela smuosidade e pelas asperezas do solo; impõem-lhes antes o acento contraponto da Nova Espanha dos castelhanos -predominou entre os portu-
volunt:í.no da linha reta. O plano regular[ ... ] foi simplesmente o triunfo da asp1ração gueses o esforço de exploração comercial, de "feitorizar uma riqueza fácil e
de ordenar c dominar o mundo conquistado[ ... ] Uma legislação abundante prevme de quase ao alcance da mão".
antemão. entre os descendentes dos conquistadores castelhanos. qualquer fantas1a e
capricho na ed1ficação dos núcleos urbanos.'•
0 HOMEM CORDIAL
Tais divergências entre as colonizações se expressam nas metáforas
contrapostas do semeador português e do ladrilhador espanhol, entre uma co- Retoma-se nesse passo uma questão já explorada em "A herança rural",
lonizaçJo que se ajusta às circunstâncias e a que se impõe a elas. a das conseqüências do ruralismo e do patriarcalismo para a sociedade. Ago-
Como explicar contrastes tão acentuados entre formas de colonização ra, porém, põe-se o foco nas tensões entre as formas tradicionais de sociabili-
da América, se Portugal e Espanha compartilhavam suas concepções e valo- dade, centradas na família patriarcal, e os padrões de sociabilidade inerentes
res bástcos- ou seja, se tinham em comum personalismo e espírito de aventu- ao mundo moderno.
ra? Para Sérgío Buarque, a chave explicativa estaria nas diferenças políticas A questão não é óbvia, porém, pois há muitos que concebem a sociedade
entre dois países colonizadores. como um todo sem fraturas- em que, por exemplo, o Estado não seria mais do
Com efeito. para ele, a que uma ampliação do círculo familiar. Isso, para Sérgio, não passaria de pre-
conceito romântico. Para ele não existe uma gradação mas, pelo contrário.
funa centrali7adora, codificaúora, uniformizadora de Castela [... ]vem de um povo uma descontinuidade e até uma oposição entre as duas ordens. "Só pela trans-
mtcrnarnentc dc~uniúo c sob ameaça permanente de desagregação. Povo que precisou gressão", escreve ele, "da ordem doméstica e familiar é que nasce o Estado e
lutar. dentro de sua~ prôpnas fronteiras peninsulares, com o problema dos aragoneses, 0
simples indivíduo se faz cidadão, contribuinte, elegível. recrutávcl e respon
o do~ catalães. o dos cu~caros c, não só até 1492 [quando os mouros são vencidos],
m~s at~ I 61 I. o dos mouriscos.' 1
sável, ante as leis da Cidade." 18 Mais ainda, o processo através do qual .1 lc1
geral suplanta a lei particular tem sido acompanhado de crises mais ou me no~
prolongadas. •
A situação seria tanto mais problemática no ca o brasileiro porque a
família de tipo patriarcal, aí predominante, tende a absorver intensamente os
ltJtd I p I
/lnd p ,
/lu r/
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RAIZES DO BRAS!t
BRAS[UrJ SALLUM JR
Cldai!e que os portugueses construíram na América não é produto mental, não chega ca, onde construiria uma Nova Espanha, mas também em direção ao resto da
a <:ontradizer o quadro da. natureza, e sua stlhueta se enlaça na lmha da paisagem. Europa. Portugal, pelo contrário, não teria tais problemas porque, de um lado,
enht:m ~gor. ncn~um met~o [ .. ].sempre este stgmficativo abandono que exprime realizara sua unidaàe política no século XIII- antes de qualquer Estado euro-
p 3HJ desleiXO f .] que lmphca menos falta de energJa de que uma íntima convlc-
Ç:O de que 'não vale a pena'"."
peu- e, de outro, porque alcançara notável unidade étnica mediante a coloni-
zação das suas terras meridionais conquistadas aos sarracenos. Exatamente
Já na América espanhola, esta ausência de problemas teria tirado de Portugal o impulso de congregar
todas as suas forças em tomo de um objetivo que transcendesse a realidade
presente através de leis rígidas e o teria conduzido ao conservantismo expres-
o pr prio traç do dos centros urbanos[ ... ] denuncia o esforço determinado de vencer
" rellf car a fantasia capncho a da paisagem agreste [... ] As ruas não se deixam
so no deixar estar, no "desleixo". Ao invés de construir um "novo Portugal""-
modelar pela smuosidade e pelas asperezas do solo; impõem-lhes antes o acento contraponto da Nova Espanha dos castelhanos -predominou entre os portu-
volunt:í.no da linha reta. O plano regular[ ... ] foi simplesmente o triunfo da asp1ração gueses o esforço de exploração comercial, de "feitorizar uma riqueza fácil e
de ordenar c dominar o mundo conquistado[ ... ] Uma legislação abundante prevme de quase ao alcance da mão".
antemão. entre os descendentes dos conquistadores castelhanos. qualquer fantas1a e
capricho na ed1ficação dos núcleos urbanos.'•
0 HOMEM CORDIAL
Tais divergências entre as colonizações se expressam nas metáforas
contrapostas do semeador português e do ladrilhador espanhol, entre uma co- Retoma-se nesse passo uma questão já explorada em "A herança rural",
lonizaçJo que se ajusta às circunstâncias e a que se impõe a elas. a das conseqüências do ruralismo e do patriarcalismo para a sociedade. Ago-
Como explicar contrastes tão acentuados entre formas de colonização ra, porém, põe-se o foco nas tensões entre as formas tradicionais de sociabili-
da América, se Portugal e Espanha compartilhavam suas concepções e valo- dade, centradas na família patriarcal, e os padrões de sociabilidade inerentes
res bástcos- ou seja, se tinham em comum personalismo e espírito de aventu- ao mundo moderno.
ra? Para Sérgío Buarque, a chave explicativa estaria nas diferenças políticas A questão não é óbvia, porém, pois há muitos que concebem a sociedade
entre dois países colonizadores. como um todo sem fraturas- em que, por exemplo, o Estado não seria mais do
Com efeito. para ele, a que uma ampliação do círculo familiar. Isso, para Sérgio, não passaria de pre-
conceito romântico. Para ele não existe uma gradação mas, pelo contrário.
funa centrali7adora, codificaúora, uniformizadora de Castela [... ]vem de um povo uma descontinuidade e até uma oposição entre as duas ordens. "Só pela trans-
mtcrnarnentc dc~uniúo c sob ameaça permanente de desagregação. Povo que precisou gressão", escreve ele, "da ordem doméstica e familiar é que nasce o Estado e
lutar. dentro de sua~ prôpnas fronteiras peninsulares, com o problema dos aragoneses, 0
simples indivíduo se faz cidadão, contribuinte, elegível. recrutávcl e respon
o do~ catalães. o dos cu~caros c, não só até 1492 [quando os mouros são vencidos],
m~s at~ I 61 I. o dos mouriscos.' 1
sável, ante as leis da Cidade." 18 Mais ainda, o processo através do qual .1 lc1
geral suplanta a lei particular tem sido acompanhado de crises mais ou me no~
prolongadas. •
A situação seria tanto mais problemática no ca o brasileiro porque a
família de tipo patriarcal, aí predominante, tende a absorver intensamente os
ltJtd I p I
/lnd p ,
/lu r/
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R l/LfS JJO /IR l '1/
BRASfLJO SALLUM JR.
: lbid., p. 121.
"Ibidem.
lbid., p. 119.
252
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R l/LfS JJO /IR l '1/
BRASfLJO SALLUM JR.
: lbid., p. 121.
"Ibidem.
lbid., p. 119.
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RAIZES DO BRASIL BRASfLIO SALLUM JR
Em suma, os movimentos intelectuais do Brasil independente não repre. saída superficial, quando não precedida por reformas estruturais da vida so-
sentaram formas de transformação mas de conservação social. O mesmo dirá
cial.
0 nos 0 autor da monarquia brasileira: ela expressava no plano político 0 Pre. Outra saída "superficial e enganadora" seria tentar reformar a vida polí-
domínio da grande lavoura exportadora tradicional e da família patriarcal numa tica impondo-lhe "sistemas, leis ou regulamentos de virtude provada" em ou-
época em que elas já perdiam o predomínio que tinham na economia e na tras sociedades. A crença, aliás, de que os bons governos c a boa sociedade
sociedade. dependem da sabedoria e da coerência das leis teria presidido, segundo o nos-
so autor, toda a história dos países ibero-americanos, desde a independência.
Adotamos as fórmulas da Revolução Francesa ou da república norte-america-
OSSA REVOLUÇÃO na ajustando-as aos nossos velhos padrões patriarcais e coloniais. As mudan-
ças, assim, teriam sido mais de "aparato" que de "substância".
O foco do último capítulo de Raízes do Brasil incide sobre as tensões É justamente o exame da "substância" das fórmulas institucionais que se
entre a~ formas e movimentos políticos legados pelo passado e as transforma- apresentam como "saídas" para o descompasso entre sociedade e política que
ções em cu rso na estrutura da sociedade, a chamada "grande revolução brasi- permite a Sérgio Buarque criticá-las agudamente.
h:iri.l··. Assim, o "caudilhismo"- figura do governo forte nas sociedades ibero·
A que revolução se refere o livro? Trata-se do deslocamento do centro americanas - "muitas vezes se encontra no mesmo círculo de idéias a que
d• •cavidade da vida social brasileira dos domínios rurais para os centros urba- pertencem os princípios do liberalismo". Ele
J.! ~c mencionou que a abolição da escravatura foi, para Sérgio Buarque,
o man;o d1 'I >r entre duas épocas. aquela em que o rural dominava e a em que pode ser a fonna negativa, da tese liberal. e seu surto é compreensível ~e nos lembra-
a cidade pa aram a predominar. O que se sublinha agora é que a abolição mos de que a história jamais nos deu o exemplo de um moVImento social que não
aperta demarca o derradeiro momento de existência das bases materiais da t1vcsse os gennes de sua negação- negação que se faz, necessariamente, dentro de um
mesmo âmbito. Assim, Rousseau, o pai do contrato soc1al, pertence à famíha de
vdh.~ CI' ilização agrária ·patriarcal. Haveria, com efeito, que fixar bem antes
Hobbes, o pioneiro do Estado Leviatã; um e outro vêm da mesma mnhada
o início d '>lapamento progressivo daquela civilização tradicional. O que mais
import . p<J ém. é que o fim das bases materiais do patriarcalismo não eliminou
Que "mesmo âmbito" seria este, em que cada um dos opostos, "caudi-
u expre õe políticas c intelectuais.
lhismo" e "liberalismo", remeteriam um ao outro? Se não me engano, trata-se
I~ ex~tam ·ntc a tcn5ão entre as expressões políticas legadas pelo passado
do mundo do personalismo e da oligarquia- sua encarnação sociopolítica- em
e a· n<JVa cc ndiçocs urbanas c industriais que constitui o tema central deste que facções das elites sucedem-se no poder, em "revoluções" meramente ho-
firtl de Rt1í•p Como whlinha Sérgio Buarquc, invocando Alberto Torres: rizontais, instaurando governos fortes para "salvar" a sociedade de suas
tendências anárquicas ou, reversamente, derrubando governos fortes para res-
pilr ao da pc; lt c<~ e da v1da ocJal atingiU, em nossa pátria, omáximodad1sdn·
taurar a liberdade dos particularismos antes excluídos do centro do poder.
A >rça de ~Ih ·aç;;c, da realidade a fXJiítJca chegou ao cúmulo do absurdo, COIIIU·
1''1~ 11<, a naciOnalidade nova. onde tod~ os elementos se propunham Colocado o texto no seu contexto histórico imediato, se perceberá aí uma
u '' ntar um urto !>ocial robu~to e progressivo, uma classe artifiCial. crítica aguda às "soluções" que se apresentavam, então, para os dilemas polí
upc etar;ao, I J e tranha a todos os mteresses. 77 ti cos dos anos 30- período político conosrbado iniciado pola deiTubada de uma
república "liberal" por um caudilho, Geltiio Vargas. Salvo engano. o que Sér-
uperaria o descompasso apontado? Seguramente, não a substitlll" gioBuarquedesejasublinharéqueafonna.autoritá.riaderesolverodescompasso
1, d1ngcntcs políticos. Isto seria um "remédio aleatórioH, UJII entre sociedade e política, instaurando um governo forte, não superaria o cará-
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RAIZES DO BRASIL BRASfLIO SALLUM JR
Em suma, os movimentos intelectuais do Brasil independente não repre. saída superficial, quando não precedida por reformas estruturais da vida so-
sentaram formas de transformação mas de conservação social. O mesmo dirá
cial.
0 nos 0 autor da monarquia brasileira: ela expressava no plano político 0 Pre. Outra saída "superficial e enganadora" seria tentar reformar a vida polí-
domínio da grande lavoura exportadora tradicional e da família patriarcal numa tica impondo-lhe "sistemas, leis ou regulamentos de virtude provada" em ou-
época em que elas já perdiam o predomínio que tinham na economia e na tras sociedades. A crença, aliás, de que os bons governos c a boa sociedade
sociedade. dependem da sabedoria e da coerência das leis teria presidido, segundo o nos-
so autor, toda a história dos países ibero-americanos, desde a independência.
Adotamos as fórmulas da Revolução Francesa ou da república norte-america-
OSSA REVOLUÇÃO na ajustando-as aos nossos velhos padrões patriarcais e coloniais. As mudan-
ças, assim, teriam sido mais de "aparato" que de "substância".
O foco do último capítulo de Raízes do Brasil incide sobre as tensões É justamente o exame da "substância" das fórmulas institucionais que se
entre a~ formas e movimentos políticos legados pelo passado e as transforma- apresentam como "saídas" para o descompasso entre sociedade e política que
ções em cu rso na estrutura da sociedade, a chamada "grande revolução brasi- permite a Sérgio Buarque criticá-las agudamente.
h:iri.l··. Assim, o "caudilhismo"- figura do governo forte nas sociedades ibero·
A que revolução se refere o livro? Trata-se do deslocamento do centro americanas - "muitas vezes se encontra no mesmo círculo de idéias a que
d• •cavidade da vida social brasileira dos domínios rurais para os centros urba- pertencem os princípios do liberalismo". Ele
J.! ~c mencionou que a abolição da escravatura foi, para Sérgio Buarque,
o man;o d1 'I >r entre duas épocas. aquela em que o rural dominava e a em que pode ser a fonna negativa, da tese liberal. e seu surto é compreensível ~e nos lembra-
a cidade pa aram a predominar. O que se sublinha agora é que a abolição mos de que a história jamais nos deu o exemplo de um moVImento social que não
aperta demarca o derradeiro momento de existência das bases materiais da t1vcsse os gennes de sua negação- negação que se faz, necessariamente, dentro de um
mesmo âmbito. Assim, Rousseau, o pai do contrato soc1al, pertence à famíha de
vdh.~ CI' ilização agrária ·patriarcal. Haveria, com efeito, que fixar bem antes
Hobbes, o pioneiro do Estado Leviatã; um e outro vêm da mesma mnhada
o início d '>lapamento progressivo daquela civilização tradicional. O que mais
import . p<J ém. é que o fim das bases materiais do patriarcalismo não eliminou
Que "mesmo âmbito" seria este, em que cada um dos opostos, "caudi-
u expre õe políticas c intelectuais.
lhismo" e "liberalismo", remeteriam um ao outro? Se não me engano, trata-se
I~ ex~tam ·ntc a tcn5ão entre as expressões políticas legadas pelo passado
do mundo do personalismo e da oligarquia- sua encarnação sociopolítica- em
e a· n<JVa cc ndiçocs urbanas c industriais que constitui o tema central deste que facções das elites sucedem-se no poder, em "revoluções" meramente ho-
firtl de Rt1í•p Como whlinha Sérgio Buarquc, invocando Alberto Torres: rizontais, instaurando governos fortes para "salvar" a sociedade de suas
tendências anárquicas ou, reversamente, derrubando governos fortes para res-
pilr ao da pc; lt c<~ e da v1da ocJal atingiU, em nossa pátria, omáximodad1sdn·
taurar a liberdade dos particularismos antes excluídos do centro do poder.
A >rça de ~Ih ·aç;;c, da realidade a fXJiítJca chegou ao cúmulo do absurdo, COIIIU·
1''1~ 11<, a naciOnalidade nova. onde tod~ os elementos se propunham Colocado o texto no seu contexto histórico imediato, se perceberá aí uma
u '' ntar um urto !>ocial robu~to e progressivo, uma classe artifiCial. crítica aguda às "soluções" que se apresentavam, então, para os dilemas polí
upc etar;ao, I J e tranha a todos os mteresses. 77 ti cos dos anos 30- período político conosrbado iniciado pola deiTubada de uma
república "liberal" por um caudilho, Geltiio Vargas. Salvo engano. o que Sér-
uperaria o descompasso apontado? Seguramente, não a substitlll" gioBuarquedesejasublinharéqueafonna.autoritá.riaderesolverodescompasso
1, d1ngcntcs políticos. Isto seria um "remédio aleatórioH, UJII entre sociedade e política, instaurando um governo forte, não superaria o cará-
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1/i\111 .~ /JO 111/AS/1,
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1/i\111 .~ /JO 111/AS/1,
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contror com a CtYililaçãtJ /Jralileíra.
Em todas essas frentes onde militou, 5ão por túdc
independência e coeréncía , bem como a coragem, mu1ta
adver\as.
Se essas qualidades contribuem para explicar a obr-.1 de
Florc~tan Fernandes considerou num depoimento emocJOnlUÜ ' er rr
bém. de certa maneira, a compreensão do porqu~ de ieU 11 ro m r ~ r C.l
r <:(Jnsiderado clássico.
Sem a costumeira rigidez da ortodoxia que marca munas de
livro que consideramos ~ concebido e rem suas inrerpretaçõe wndu c.~e
p~utadas pelo pensamento dial~íco marxista Neue sentido, corno expre J
maior de ua obra, case livro parece superar as obras doa demai autor; que
~<~rnbém se utílizaram do marxismo para tentar decifrar a reahdade br 11 1r
I>Crnpre com o objetivo de mudá-la, como também ombreia se c mu1ta vere
upcra outros autorea que produziram propostas de inrerprctação d Ura 11,
não vinculadas necessariamente ao pell18Jl101110 marxi ta.
' Plorcal.lo PorDIDdcs, "A vldo do IIIIIJO", am Maria AIIJIII D'llclo (DrJ.J, Hludrla, Ukol
Et~~a~tM lobre CtútJ PrtJIÚJ Jllnlor (SIO Jaok1: UJfiSP I ~ 1919). J1P 21 9
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contror com a CtYililaçãtJ /Jralileíra.
Em todas essas frentes onde militou, 5ão por túdc
independência e coeréncía , bem como a coragem, mu1ta
adver\as.
Se essas qualidades contribuem para explicar a obr-.1 de
Florc~tan Fernandes considerou num depoimento emocJOnlUÜ ' er rr
bém. de certa maneira, a compreensão do porqu~ de ieU 11 ro m r ~ r C.l
r <:(Jnsiderado clássico.
Sem a costumeira rigidez da ortodoxia que marca munas de
livro que consideramos ~ concebido e rem suas inrerpretaçõe wndu c.~e
p~utadas pelo pensamento dial~íco marxista Neue sentido, corno expre J
maior de ua obra, case livro parece superar as obras doa demai autor; que
~<~rnbém se utílizaram do marxismo para tentar decifrar a reahdade br 11 1r
I>Crnpre com o objetivo de mudá-la, como também ombreia se c mu1ta vere
upcra outros autorea que produziram propostas de inrerprctação d Ura 11,
não vinculadas necessariamente ao pell18Jl101110 marxi ta.
' Plorcal.lo PorDIDdcs, "A vldo do IIIIIJO", am Maria AIIJIII D'llclo (DrJ.J, Hludrla, Ukol
Et~~a~tM lobre CtútJ PrtJIÚJ Jllnlor (SIO Jaok1: UJfiSP I ~ 1919). J1P 21 9
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rORMt\(,10 DO BRt\Sil CONTEMPORÂNEO
JOSÉ ROBERTO DO AMARAL LAPA
o livro é estruturado em três grandes partes, tituladas respectivamente Nessa linha, pelo que tivemos oportunidade de verificar numa exposição
de. Povoamento", "Vida material" e "Vida social", antecedidas por uma "In. na Unicamp, seria interessante recuperar em estudo essa produção imagética
lrouução" e um texto recorrente de quatorze páginas- "Sentido da coloniza. expressiva, para se poder compreender melhor o autor enquanto geógrafo,
ção" _ 110 qual expõe a sede do seu pensamento em relação à história do historiador e fotógrafo. Comparar o seu olhar de fotógrafo com o de cientista
Brasil. social diante da realidade histórica brasileira é uma tarefa que se reclama em
As partes são, por sua vez, subdivididas em tópicos que verticalizam te. favor da avaliação de sua obra.
mas mais específicos, enfatizando o autor nesse sentido a "Vida material" que A sua curiosidade intelectual o levava assim à observação direta da rea-
tem nove tópicos, enquanto o "Povoamento" e a "Vida social", ficaram res. lidade concreta, logrando uma interação entre a geografia e a história, que se
pcclivamente com quatro e três tópicos. faz presente em suas pesquisas e estudos e em conseqtiência no conhecimen-
Fecham o livro a "Bibliografia e referências", nas quais estão as chama. to científico que produziu, enriquecendo suas interpretações e conclusões, apre-
das fontes primárias misturadas com a bibliografia propriamente, sobre cujo sentando muitas teses que se transformariam em matrizes do pensamento
uso e qualificação gostaríamos de dizer algo ao leitor, ao iniciarmos a leitura brasileiro que o sucedeu. 4
que dele fizemos.
Quanto à produção acadêmica que lhe foi contemporânea, antes e depois
Valendo-se largamente de fontes primárias, bem como da literatura de do lançamento desse seu livro em 1942, de que em alguns ca.~os diverge quan-
cronistas. tratadistas e viajantes que escreveram sobre a colônia, faz uma lei- do não altera algumas de suas teses, ignorou-a solenemente. Ao longo das
tura atenta e inteligente, com critério e segurança capazes de superar leituras reedições que o livro teve, quando foi sendo produzida farta literatura científi-
outras, que percorreram canúnhos semelhantes, feitas por diferentes autores ca sobre os temas de que trata, revelou auto-suficiência, não concedendo se·
com resultados menos expressivos.
quer uma citação dessa produção, ignorando-a simplesmente. A exceção é
No que diz respeito ao uso das fontes primárias, uma observação menor feita para Gilberto Freire com seu livro Casa-grande & senzala.
que se pode fazer, e não somos os primeiros a assim proceder, 2 é a de que o Mas, prossigamos com a nossa leitura, referindo-nos a seguir ao título e
autor era mais um freqüentador de bibliotecas do que de arquivos, pois se vale subtítulo do livro. Ao privilegiar no título o conceito marxista defomwção
de fontes impressas, correspondendo aliás a urna convicção que tem, que é a econômico-social, pode dar idéia ao leitor de que vai mergulhar no conheci-
de que ''Para observá-la [a nossa história], é muitas vezes preferível uma via· mento do momento histórico em que o livro foi escrito, i. e., na sua contem-
gem pelas nossa~ diferentes regiões, à compulsa de documentos e textos".3 poraneidade, entretanto o subtítulo adverte - "Colônia" - que o que vai ser
De certa maneira, ligada a esse desejo de conhecer sempre de visu a conhecido são os três primeiros séculos de nossa história. Entende-se esta
nossa realidade, está com certeza a vivência que a sua formação ficou deven· estrutura do livro, se se pensar que o projeto original do autor era o de elaborar
do ao curso de Geografia e História que freqüentou na Faculdade de Filosofia uma interpretação do Brasil que não ficaria nesse primeiro livro introdutório,
d.t USP. mas não chegou a concluir, usufruindo entretanto de um diálogo e prosseguindo em três outros, que entretanto acabaram por não se efetivar,
aprendizado proveitosos com os professores estrangeiros que ali estiveram no com os quais chegaria ao Brasil do momento em que vivia. Portanto. uma
início, bem como com os colegas brasileiros. história geral do Brasil, cujo título seria História do Brasil contemporâneo.'
As suas viagens pelo Brasil, feitas antes, durante e depois de escrever Embora trate da colônia e portanto dos três primeiros séculos da nossa
livros como esse, nas quais não contente com as anotações que fazia, fotogra· história, o autor com alguma preQÍfião procede a um corte cronológico já na
fava ele próprio o que via, solidificaram a sua consciência e idéias sobre 0
Brasil.
• Sobre a presença da geografia na obnt do auror: Am Nlcib Ab'Sk, "'JbJtpaa a eiJIIÇOS na msra
de um historiador~, em Hlstdrla t úlftl. mt., pp 407-4li. e MIIIGD Sulot, wReDovllldo o
' ~;a: 0
l'glé~ias. "Um historiador revolucionúio", em Caio Prado Júnior (Sio Paulm .($1;
1 • p. • 5. 1 lleGsamento geogrüico", em Histmla' iJü4l. oit...tlf> ~33
c. tiJJo por Franmco lgh!stas, op. cit., P 3S. Carlos Nelsou Coulillho, "Uma m 'alo a!Mslca' Pl!iÍ o~ llllllilfltSriiJ ' 'bttl.
p. IIS,
260
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rORMt\(,10 DO BRt\Sil CONTEMPORÂNEO
JOSÉ ROBERTO DO AMARAL LAPA
o livro é estruturado em três grandes partes, tituladas respectivamente Nessa linha, pelo que tivemos oportunidade de verificar numa exposição
de. Povoamento", "Vida material" e "Vida social", antecedidas por uma "In. na Unicamp, seria interessante recuperar em estudo essa produção imagética
lrouução" e um texto recorrente de quatorze páginas- "Sentido da coloniza. expressiva, para se poder compreender melhor o autor enquanto geógrafo,
ção" _ 110 qual expõe a sede do seu pensamento em relação à história do historiador e fotógrafo. Comparar o seu olhar de fotógrafo com o de cientista
Brasil. social diante da realidade histórica brasileira é uma tarefa que se reclama em
As partes são, por sua vez, subdivididas em tópicos que verticalizam te. favor da avaliação de sua obra.
mas mais específicos, enfatizando o autor nesse sentido a "Vida material" que A sua curiosidade intelectual o levava assim à observação direta da rea-
tem nove tópicos, enquanto o "Povoamento" e a "Vida social", ficaram res. lidade concreta, logrando uma interação entre a geografia e a história, que se
pcclivamente com quatro e três tópicos. faz presente em suas pesquisas e estudos e em conseqtiência no conhecimen-
Fecham o livro a "Bibliografia e referências", nas quais estão as chama. to científico que produziu, enriquecendo suas interpretações e conclusões, apre-
das fontes primárias misturadas com a bibliografia propriamente, sobre cujo sentando muitas teses que se transformariam em matrizes do pensamento
uso e qualificação gostaríamos de dizer algo ao leitor, ao iniciarmos a leitura brasileiro que o sucedeu. 4
que dele fizemos.
Quanto à produção acadêmica que lhe foi contemporânea, antes e depois
Valendo-se largamente de fontes primárias, bem como da literatura de do lançamento desse seu livro em 1942, de que em alguns ca.~os diverge quan-
cronistas. tratadistas e viajantes que escreveram sobre a colônia, faz uma lei- do não altera algumas de suas teses, ignorou-a solenemente. Ao longo das
tura atenta e inteligente, com critério e segurança capazes de superar leituras reedições que o livro teve, quando foi sendo produzida farta literatura científi-
outras, que percorreram canúnhos semelhantes, feitas por diferentes autores ca sobre os temas de que trata, revelou auto-suficiência, não concedendo se·
com resultados menos expressivos.
quer uma citação dessa produção, ignorando-a simplesmente. A exceção é
No que diz respeito ao uso das fontes primárias, uma observação menor feita para Gilberto Freire com seu livro Casa-grande & senzala.
que se pode fazer, e não somos os primeiros a assim proceder, 2 é a de que o Mas, prossigamos com a nossa leitura, referindo-nos a seguir ao título e
autor era mais um freqüentador de bibliotecas do que de arquivos, pois se vale subtítulo do livro. Ao privilegiar no título o conceito marxista defomwção
de fontes impressas, correspondendo aliás a urna convicção que tem, que é a econômico-social, pode dar idéia ao leitor de que vai mergulhar no conheci-
de que ''Para observá-la [a nossa história], é muitas vezes preferível uma via· mento do momento histórico em que o livro foi escrito, i. e., na sua contem-
gem pelas nossa~ diferentes regiões, à compulsa de documentos e textos".3 poraneidade, entretanto o subtítulo adverte - "Colônia" - que o que vai ser
De certa maneira, ligada a esse desejo de conhecer sempre de visu a conhecido são os três primeiros séculos de nossa história. Entende-se esta
nossa realidade, está com certeza a vivência que a sua formação ficou deven· estrutura do livro, se se pensar que o projeto original do autor era o de elaborar
do ao curso de Geografia e História que freqüentou na Faculdade de Filosofia uma interpretação do Brasil que não ficaria nesse primeiro livro introdutório,
d.t USP. mas não chegou a concluir, usufruindo entretanto de um diálogo e prosseguindo em três outros, que entretanto acabaram por não se efetivar,
aprendizado proveitosos com os professores estrangeiros que ali estiveram no com os quais chegaria ao Brasil do momento em que vivia. Portanto. uma
início, bem como com os colegas brasileiros. história geral do Brasil, cujo título seria História do Brasil contemporâneo.'
As suas viagens pelo Brasil, feitas antes, durante e depois de escrever Embora trate da colônia e portanto dos três primeiros séculos da nossa
livros como esse, nas quais não contente com as anotações que fazia, fotogra· história, o autor com alguma preQÍfião procede a um corte cronológico já na
fava ele próprio o que via, solidificaram a sua consciência e idéias sobre 0
Brasil.
• Sobre a presença da geografia na obnt do auror: Am Nlcib Ab'Sk, "'JbJtpaa a eiJIIÇOS na msra
de um historiador~, em Hlstdrla t úlftl. mt., pp 407-4li. e MIIIGD Sulot, wReDovllldo o
' ~;a: 0
l'glé~ias. "Um historiador revolucionúio", em Caio Prado Júnior (Sio Paulm .($1;
1 • p. • 5. 1 lleGsamento geogrüico", em Histmla' iJü4l. oit...tlf> ~33
c. tiJJo por Franmco lgh!stas, op. cit., P 3S. Carlos Nelsou Coulillho, "Uma m 'alo a!Mslca' Pl!iÍ o~ llllllilfltSriiJ ' 'bttl.
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fiJ I r AO 1>0 11 \ 11 r r !f: /'fJR 1</UJ
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FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÃNEO
Obsen a que a mestiçagem é mais do branco com o negro, não se fazen· Em contrapartida e justamente, enfatiza a agricultura de exportação, não
do sentir na mesma intensidade entre o branco e o índio e o índio e o negro. deixando de condenar contudo, e com veemência, a destruição florestal e a
muito embora registre, não sabemos baseado em quê, a preferência das índias lavoura predatória por ela praticadas. Esse descompasso sinali~a as m~Ifi
mais pelos negros do que (>elos brancos. 8 • cações ocorridas no final do século xvm e início do XIX. Asstm, as págma
Essas páginas que escreve sobre a formação do quadro étnico da ~e que escreve sobre ambas as agriculturas - de exportação e .te ubsistência -
dade brasileira são de uma clareza e pertinência admiráveis e enriquec:tdaS revelam a extensão de sua pesquisa, a pr<iundidade de uas reflexões. nada
pelo e<tabelecimento das diferenças regionais, que aliás estão em todo o ]IVfO.
.·
: lbid. , p. 113. .Á 1991)
d., p lOS 11 Jos~ Roberto do Amaral Lapa, o risttllltl c.olataial (2" ediçlo Slo Paulo: lica,
Caio Prado JÚIIior, op. cit•• pp. 154-ISS.
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FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÃNEO
Obsen a que a mestiçagem é mais do branco com o negro, não se fazen· Em contrapartida e justamente, enfatiza a agricultura de exportação, não
do sentir na mesma intensidade entre o branco e o índio e o índio e o negro. deixando de condenar contudo, e com veemência, a destruição florestal e a
muito embora registre, não sabemos baseado em quê, a preferência das índias lavoura predatória por ela praticadas. Esse descompasso sinali~a as m~Ifi
mais pelos negros do que (>elos brancos. 8 • cações ocorridas no final do século xvm e início do XIX. Asstm, as págma
Essas páginas que escreve sobre a formação do quadro étnico da ~e que escreve sobre ambas as agriculturas - de exportação e .te ubsistência -
dade brasileira são de uma clareza e pertinência admiráveis e enriquec:tdaS revelam a extensão de sua pesquisa, a pr<iundidade de uas reflexões. nada
pelo e<tabelecimento das diferenças regionais, que aliás estão em todo o ]IVfO.
.·
: lbid. , p. 113. .Á 1991)
d., p lOS 11 Jos~ Roberto do Amaral Lapa, o risttllltl c.olataial (2" ediçlo Slo Paulo: lica,
Caio Prado JÚIIior, op. cit•• pp. 154-ISS.
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de c municaç-o e transpone. sem
ura em fontes primárias e bi liog:ráficas.
. ·a úlúma parte do livro - .. ída saciar-
:.ação social, administração e \ida socia e po ética. env1'""''r"''"in
enamento a estrutura da sociedade e sua estratifi
Estado e a vida social propriamente. com destaque para s
a e portanto do poder.
ezes c egando a usar expressões não habituais em sua Como dissemos. das três partes do livro, essa é a que ocupa me >r e
o o referir-se a administração da mineração, quando afuma o. o que mostra um desequilíbrio no tratamento que dispensa. ~ros o mod
ro e os diamantes então fJ.zeram perder o resto da cabeça e bom ao que poderíamos identificar como história econômica e história tal, m
s o q e .o ra.am a metrópole''. 1 ~ que na primeira parte, a que trata do "Povoamento", não fique tão s mis.
E Iur ··-"uma palavra. e para sintetizar o panorama da sociedade economia, valendo-se bastante da geografia e da demografia. mas com uma
coloni I· in oerência e instabilidade no povoamento, pobreza e miséria na eco- fundamentação que reside no econômico, correspondendo alias. de certa ma-
omia: dis olução nos costumes; inépcia e corrupção nos dirigentes leigos e neira, ao esquema marxista que preside seu estudo.
e~ln-iást icos".ll
Como aconteceu nas demais partes do livro, também aí pautará o Brasil
_ O sbtema que produziu essa sociedade carregava em seu ventre contra· do momento histórico que privilegiou como algo que ainda permanecia marca-
dtçoes que um dia implodirão essa estrutura, para ir substituindo-a por outra· do pela escravidão, quer se cODiliderasse sob o ponto de vista matenal ou
. Dentre essas contradições. aponta, estariam as existentes entre proprie- social, quer moral ou estético. Aparentemente. portanto, nada fora capaz de
t~nos e comerciames, que tem
• mteresses
· -~-
antagônicos, as que se estabeJ........... escapar a essa instituição, o que significa dizer à sua influência deletéria.
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I '" P J35 10S6 Roberto do Amaral Lapa, A Balda t a rarrtim da llltli4 (Sio Paulo: N.doaal. 1968)
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de c municaç-o e transpone. sem
ura em fontes primárias e bi liog:ráficas.
. ·a úlúma parte do livro - .. ída saciar-
:.ação social, administração e \ida socia e po ética. env1'""''r"''"in
enamento a estrutura da sociedade e sua estratifi
Estado e a vida social propriamente. com destaque para s
a e portanto do poder.
ezes c egando a usar expressões não habituais em sua Como dissemos. das três partes do livro, essa é a que ocupa me >r e
o o referir-se a administração da mineração, quando afuma o. o que mostra um desequilíbrio no tratamento que dispensa. ~ros o mod
ro e os diamantes então fJ.zeram perder o resto da cabeça e bom ao que poderíamos identificar como história econômica e história tal, m
s o q e .o ra.am a metrópole''. 1 ~ que na primeira parte, a que trata do "Povoamento", não fique tão s mis.
E Iur ··-"uma palavra. e para sintetizar o panorama da sociedade economia, valendo-se bastante da geografia e da demografia. mas com uma
coloni I· in oerência e instabilidade no povoamento, pobreza e miséria na eco- fundamentação que reside no econômico, correspondendo alias. de certa ma-
omia: dis olução nos costumes; inépcia e corrupção nos dirigentes leigos e neira, ao esquema marxista que preside seu estudo.
e~ln-iást icos".ll
Como aconteceu nas demais partes do livro, também aí pautará o Brasil
_ O sbtema que produziu essa sociedade carregava em seu ventre contra· do momento histórico que privilegiou como algo que ainda permanecia marca-
dtçoes que um dia implodirão essa estrutura, para ir substituindo-a por outra· do pela escravidão, quer se cODiliderasse sob o ponto de vista matenal ou
. Dentre essas contradições. aponta, estariam as existentes entre proprie- social, quer moral ou estético. Aparentemente. portanto, nada fora capaz de
t~nos e comerciames, que tem
• mteresses
· -~-
antagônicos, as que se estabeJ........... escapar a essa instituição, o que significa dizer à sua influência deletéria.
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I '" P J35 10S6 Roberto do Amaral Lapa, A Balda t a rarrtim da llltli4 (Sio Paulo: N.doaal. 1968)
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1 ONM \1, O /lO /1/1,\ 1/l ( IJN /I .MI'OIItiNU> JOSÉ ROBERTO DO A\IARAI. LAPA
1. lltllnmctttl1 em que faz umn accrha condcnaçüo dessa capacidade (jUc ·õcS que ocorreram na colônia, que entretanto não lograram :.cu intento, fosse
1 '\l'" ruropa dl' 1cssusc itar uma instit lllção. sem hesitar para tanto em despo. ~stc revolucionário, fosse mais imcdiatista e acomodatício.
j,tr , Ol' wdm os v.tillll's mor.tis. que representavam os pilares sobre os quais Essas suas conclusões, sistematizadas numa visão clara do sistema c do
cnnsu ui1,1 a civili 1 açfio ocídcn t;ll moderna. sentido com que radiografa a colonização, exerceriam forte influência em
Sao al ~ uma' páginas candentes que escreve nessa crítica rigorosa ao muitos autores que vieram depois dele, o que demonstra mais uma vez a se-
in\tituto csnavtsta, capuz de corromper c degradar, sem oferecer sequer urn meadura que fez.
nnnimo para,, fo1 nw ão m01al c intelectual de suas vítimas. Essa crítica de Quanto à sociedade organizada, que naturalmente se contrapõe ao mun-
lWt.l rn.tm·ira redime os escorregões semânticos preconceituosos, detectados do envoltório que a subverte, o autor privilegia o grande domínio, onde se centra
l'lll alrun' momentos do livro, pois procura demonstrar que a potencialidade
0 clã da família patriarcal. Esse tipo de família, com o seu abrangente poder, t:
~con(uHic.t. soc ial e cultural , sob o ponto de vista da dignificação, que os índios mais a igreja em patamar menos proeminente, pois esta pode sujeitar-se àque-
c os negros ofcredam aos colonos portugueses, foi desprezada em favor de la, constituem as duas vigas em que se fundamenta aquela sociedade.
um.t in titutção à qual só interessavam o esforço e o exercício físico dos ho- A família, aquela família, é o "pequeno mundo fechado em função do
mens c rnulht::rcs escravos, tanto no trabalho quanto na cama. qual se sofre e se goza", 16 querendo dizer com isso que é à sombra do patriar-
lnsi tindo na condição semibárbara com que essas populações africanas cado e seu modelo que todos se abrigam e se curvam, se não na totalidade da
aqui foram despejadas, sem estágio, sem preparações outras, conclui com a colônia, pelo menos nas regiões onde se produz em cumprimento ao sentido da
sua tcst.: que teriam mesmo de comprometer irremediavelmente toda a obra de colonização. Enfim, é a "célula orgânica da sociedade colonial", como a defi-
colonização, bem como ele próprio colonizador. ne. Essa definição tem um alcance excepcional, se se tiver em conta que
Nesse sentido, apon ta que a própria religião católica, no amálgama com justamente a condição inorgânica que a seu ver perpassa a sociedade brasilei-
a~ religiões africanas, também se abastardara, eivada pelas "crenças e supers- ra, herdada da colonização, é o que mais a compromete e trava seus anseios c
tiçõe nJtivas".ll tentativas de rompimento.
E~sa conclusão, se de um lado, dependendo do que se conheça a respeito As demais instituições estarão supostamente, de alguma maneira, sujei-
da religião em Caio Prado, pode susc itar um estudo interessante, por outro tas a gravitar em tennos de poder, riqueza e autonomia à volta do domínio
lado permite admitir que não reconhecia estatuto religioso nas manifestações patriarcal, proposição que já foi revista por mais de um autor.
que os negros escravos trouxeram consigo, que como se sabe continham e Na linha de sua tese central, como não poderia deixar de acontecer e em
contêm moral. va10res e crenças hoje reconhecidos como portadores daquele decorrência da colocação anterior, a cidade não é senão "um apêndice rural,
estatuto.
um puro reflexo do campo" 17 , o que como se sabe tem também nutrido um
Em decorrência, prossegue na conclusão, pretos boçais e fndios apáti- saudável debate ao longo das reedições que o livro mereceu, sem que o autor
cos só poderiam mesmo comprometer a economia e a sociedade aqui produzi- concedesse espaço pelo menos para o seu registro. Nessa linha, considera
das. o_ r~sultado de sua contribuição estaria na massa de população livre, ~ue, nos povoados, quem na verdade mora são só comerciantes, vadios e pro -
compnmtda entre senhores e escravos, composta pelos desclassificados de tttutas! Concede aos comerciantes um tratamento não muito comum na obra
toda ordem, na verdade e no seu entender o grande ônus da sociedade colonial. dos historiadores da economia e sociedade coloniais.
. . Procura mo&trar que levam uma vida puramente vegetativa, sem idéias e
tdcars~ robotizada en firm, exrgrn
· · do das ehtes · e fonnas de contenção,
· estratégras A administração portuguesa na colônia, bem como a administração me-
tropolitana responsável também ptlos negócios da colônia, são aqui, mais uma
que_ vao d~ repressão ao favor, evitando com isso as tensões sociais e a revo- vez, objetos de uma análise, que nlo lhes é em nada favorável.
luçao, muno embora ele , au tor, abra um espaço pnvdegrado
- - - para as xnsurrer·
· ·
.. lbid,. p. 286
lo Júmor, op fll., p.
274 _ " lbid., p. 290:
26P
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j,tr , Ol' wdm os v.tillll's mor.tis. que representavam os pilares sobre os quais Essas suas conclusões, sistematizadas numa visão clara do sistema c do
cnnsu ui1,1 a civili 1 açfio ocídcn t;ll moderna. sentido com que radiografa a colonização, exerceriam forte influência em
Sao al ~ uma' páginas candentes que escreve nessa crítica rigorosa ao muitos autores que vieram depois dele, o que demonstra mais uma vez a se-
in\tituto csnavtsta, capuz de corromper c degradar, sem oferecer sequer urn meadura que fez.
nnnimo para,, fo1 nw ão m01al c intelectual de suas vítimas. Essa crítica de Quanto à sociedade organizada, que naturalmente se contrapõe ao mun-
lWt.l rn.tm·ira redime os escorregões semânticos preconceituosos, detectados do envoltório que a subverte, o autor privilegia o grande domínio, onde se centra
l'lll alrun' momentos do livro, pois procura demonstrar que a potencialidade
0 clã da família patriarcal. Esse tipo de família, com o seu abrangente poder, t:
~con(uHic.t. soc ial e cultural , sob o ponto de vista da dignificação, que os índios mais a igreja em patamar menos proeminente, pois esta pode sujeitar-se àque-
c os negros ofcredam aos colonos portugueses, foi desprezada em favor de la, constituem as duas vigas em que se fundamenta aquela sociedade.
um.t in titutção à qual só interessavam o esforço e o exercício físico dos ho- A família, aquela família, é o "pequeno mundo fechado em função do
mens c rnulht::rcs escravos, tanto no trabalho quanto na cama. qual se sofre e se goza", 16 querendo dizer com isso que é à sombra do patriar-
lnsi tindo na condição semibárbara com que essas populações africanas cado e seu modelo que todos se abrigam e se curvam, se não na totalidade da
aqui foram despejadas, sem estágio, sem preparações outras, conclui com a colônia, pelo menos nas regiões onde se produz em cumprimento ao sentido da
sua tcst.: que teriam mesmo de comprometer irremediavelmente toda a obra de colonização. Enfim, é a "célula orgânica da sociedade colonial", como a defi-
colonização, bem como ele próprio colonizador. ne. Essa definição tem um alcance excepcional, se se tiver em conta que
Nesse sentido, apon ta que a própria religião católica, no amálgama com justamente a condição inorgânica que a seu ver perpassa a sociedade brasilei-
a~ religiões africanas, também se abastardara, eivada pelas "crenças e supers- ra, herdada da colonização, é o que mais a compromete e trava seus anseios c
tiçõe nJtivas".ll tentativas de rompimento.
E~sa conclusão, se de um lado, dependendo do que se conheça a respeito As demais instituições estarão supostamente, de alguma maneira, sujei-
da religião em Caio Prado, pode susc itar um estudo interessante, por outro tas a gravitar em tennos de poder, riqueza e autonomia à volta do domínio
lado permite admitir que não reconhecia estatuto religioso nas manifestações patriarcal, proposição que já foi revista por mais de um autor.
que os negros escravos trouxeram consigo, que como se sabe continham e Na linha de sua tese central, como não poderia deixar de acontecer e em
contêm moral. va10res e crenças hoje reconhecidos como portadores daquele decorrência da colocação anterior, a cidade não é senão "um apêndice rural,
estatuto.
um puro reflexo do campo" 17 , o que como se sabe tem também nutrido um
Em decorrência, prossegue na conclusão, pretos boçais e fndios apáti- saudável debate ao longo das reedições que o livro mereceu, sem que o autor
cos só poderiam mesmo comprometer a economia e a sociedade aqui produzi- concedesse espaço pelo menos para o seu registro. Nessa linha, considera
das. o_ r~sultado de sua contribuição estaria na massa de população livre, ~ue, nos povoados, quem na verdade mora são só comerciantes, vadios e pro -
compnmtda entre senhores e escravos, composta pelos desclassificados de tttutas! Concede aos comerciantes um tratamento não muito comum na obra
toda ordem, na verdade e no seu entender o grande ônus da sociedade colonial. dos historiadores da economia e sociedade coloniais.
. . Procura mo&trar que levam uma vida puramente vegetativa, sem idéias e
tdcars~ robotizada en firm, exrgrn
· · do das ehtes · e fonnas de contenção,
· estratégras A administração portuguesa na colônia, bem como a administração me-
tropolitana responsável também ptlos negócios da colônia, são aqui, mais uma
que_ vao d~ repressão ao favor, evitando com isso as tensões sociais e a revo- vez, objetos de uma análise, que nlo lhes é em nada favorável.
luçao, muno embora ele , au tor, abra um espaço pnvdegrado
- - - para as xnsurrer·
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lo Júmor, op fll., p.
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1 1lf/\1.\~ \ri /10 /IRA .\11 l 'ON /1 Al/'rlii.INt·. ll JOSI'! ROIJnR'f() llO AMAHAI l.AI'A
l\l.l~ dt 11 .11 h.uno no~. nt•stt' lllllllll'llto linal, na que~tüo do que c wn~idr Fora do grande domínio-· família mais unidade de produção - c da igreJa.
, .1 P l ~,
1 1 11 1 nin> ouHHllJ'·llll~· ona ~tK'wdadc colonial. que confcrl'fll organicidadt.: à colônia, servem par,, minar esse organismo, não
Tlllnnu sL' 101 , iqut'Jra n (.H·illdadt• cmlCl:ssiva comqtlt' O!> cientistas ~u t6nt nexo moral, "constituem unidade& e grupos incoerentes que apenn' coc-
, ,, 11 , utilllalll M' do sunik t•ntll' nn>qm humano l' a sorkdud ·. Das suus par. xi~tt.:1n c se tocam".
lt's ,111 lnllllOll:tllll'lllo, St'l \'l'lll M' da imagem 1 ara l'lltcndt•J' c t'Xplkar 01110 Nito têm portanto capacidade c não encontram condiçi'les para construir
ftllll'IWl íl .l SIX'J\'d.tdt•. 11111 a nuçao soberana, coesa c justa.
f'vl ,1111 pul.lfldouma St'l Jt' de tlllÇllt'l> .tJ>a~tir da idt:ia de corpus, p:n a dmnj. Assim, retomemos uma das teses centrais do livro, que é a que aponta
'"" \t'll Jli <ÍJll ill ,·onht'tlllll'llllll' p.n a cfdto dtd;itico. const•gnl'lll cxtntordiná. t:Sbt.: caldo étnico formado por pretos boçais e fmlios apática.~. engrossados
1111 1·,ult,Jdos 11\':,\t' Sl'lltJdo. por !Jrrmtrl.l' dt'gt•lferados e decadclltes, para usarmos a desdenhosa adjeti-
. sJfn, t·ntJt' umtllgunisnw sauújve l c um docntt\ cntrc o que c considc- vação do autor, corno sendo o substrato da nossa sociedade, fatal compromc·
1,~d11m g.ifuro ou ulorganÍL'I>, bnl.mça n nossa comprccns:1o. tcdor de um processo revolucionário que pudesse romper com essa decisiva
htl' li\ m dt• ('aio Pral.lo Junior c a sua própria ohra têm pc1passudo, em bane ira de origem.
IIIUillt'Ws t• dik11.:nt ·s momento:,, por cssa trun~posição. Uma projeção fácil de ser feita, para entender-se a continuidade dcs a
i\ 1d( i.t dt• mnr!!anicidade e~tu st.:mprc presente: o nosso organi mo so- bast.:, que vigcria na época em que o autor escreveu o seu livro c viveu ao
cial na o rum Jtlll.t, cmnprom ·tido por uma si!Jie de anomalias, uja origem, longo das suas reedições, acabaria por mostrar-nos que aquelas categorias
qu.t~L' dmamns. ,. em sua maioria dt• 1111.\tt'IIÇfl. i. c•.. nasceram com o próprio vieram a dar no caipira c nos desclassificados, que, como dissemos, oneram
corpo MlCJ.tl na ~ ua concepção, no parto c puerícia, remontando-nos portanto à contcmporaneamente o povo e a sociedade brasileiros, como está explícito no
tbwht·rt.t, inícto c Jlllllo (sentido) na colonização. pensamento de Caio Prado Júnior.
Os seus componentes c funcionalidade tinham no caso um sentido per- Concedamos que o caipira é uma espécie em extinção, mas resta ainda a
VI:I () c certa maneira: o dt.: servirem ao outro c não a si próprio. multidão de desclassificados, que seria melhor definir como desqualificados,
Fm nss tm sendo, deu no qut.: deu: não conseguimos livrar-nos dessa he· i. e., sem qualificação para responder às exigências da ditadura de mercado.
r:mç;~ como que K• n.:tica c somos o que somos: um país de pobres e miserá· cada vez mais apuradas, quando muito admitindo que sejam acomodados nas
v~:1s, um pa ís rico de um povo pohrc, cujo desafio é superar essa herança para fímbrias desse mercado, num nível de vida que integra ou resvala à misera-
cnwntrar o seu próprio destino. bilidade.
Tomar orgâmco, e portanto funcionando direito, aquilo que não o é. Con· Responder-se-ia que esse somatório não constitui nada que a educação,
cei tos como dt.: órgáo, orgânico, organicidade são aplicados à sociedade no seu a cultura e a saúde, bem cuidadas, não possam resolver. E aí teríamos então a
todo e em seus segmentos. revolução preconizada, tendo como resultado o "equilíbrio recíproco das dife-
Assim, "u colonização não se orientara no sentido de constituir uma base rentes classes e categorias sociais", que o autor prega.
cconômica sólida c orgânica". 18 Dela, da natureza que assumiu e das estraté· Eliminar-se-ia assim a condição inorgânica que impede o funcionamento
gias adotadas resultariam a sociedade composta em sua maioria de uma popu- da sociedade. Entretanto, em todos os demais países, resultantes ou não de
hção, na qual se projetavam os vadios, verdadeira endemia social, 19 ou OS processos imigratórios, que tenham passado ou não pelo regime da escravidão,
que >iviam, ou melhor, "vegetavam à margem da ordem social", sem ocupa- motivado pelas diferenças que marcam o gênero humano, o contingente da
çõc normais e estáveis. Definitivamente, eram "formas inorgânicas da socie- População que é portador das li!nitações de inteUgênçia, talento e saúde ocupa
dade colonial brasileira".20 consideravelmente o maior es o na sociedade, o que de fato libera então o
raciocínio para culpar a colonização portuguesa pela falta de capacidade em
p (,7
saber suprir aquelas deficiências e produzir uma nova extensão do seu povo -
lt V· 2R2 a brasileira - que fosse uma ed.ição mais aprimorada.
"' lb d p. 284
270
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Tlllnnu sL' 101 , iqut'Jra n (.H·illdadt• cmlCl:ssiva comqtlt' O!> cientistas ~u t6nt nexo moral, "constituem unidade& e grupos incoerentes que apenn' coc-
, ,, 11 , utilllalll M' do sunik t•ntll' nn>qm humano l' a sorkdud ·. Das suus par. xi~tt.:1n c se tocam".
lt's ,111 lnllllOll:tllll'lllo, St'l \'l'lll M' da imagem 1 ara l'lltcndt•J' c t'Xplkar 01110 Nito têm portanto capacidade c não encontram condiçi'les para construir
ftllll'IWl íl .l SIX'J\'d.tdt•. 11111 a nuçao soberana, coesa c justa.
f'vl ,1111 pul.lfldouma St'l Jt' de tlllÇllt'l> .tJ>a~tir da idt:ia de corpus, p:n a dmnj. Assim, retomemos uma das teses centrais do livro, que é a que aponta
'"" \t'll Jli <ÍJll ill ,·onht'tlllll'llllll' p.n a cfdto dtd;itico. const•gnl'lll cxtntordiná. t:Sbt.: caldo étnico formado por pretos boçais e fmlios apática.~. engrossados
1111 1·,ult,Jdos 11\':,\t' Sl'lltJdo. por !Jrrmtrl.l' dt'gt•lferados e decadclltes, para usarmos a desdenhosa adjeti-
. sJfn, t·ntJt' umtllgunisnw sauújve l c um docntt\ cntrc o que c considc- vação do autor, corno sendo o substrato da nossa sociedade, fatal compromc·
1,~d11m g.ifuro ou ulorganÍL'I>, bnl.mça n nossa comprccns:1o. tcdor de um processo revolucionário que pudesse romper com essa decisiva
htl' li\ m dt• ('aio Pral.lo Junior c a sua própria ohra têm pc1passudo, em bane ira de origem.
IIIUillt'Ws t• dik11.:nt ·s momento:,, por cssa trun~posição. Uma projeção fácil de ser feita, para entender-se a continuidade dcs a
i\ 1d( i.t dt• mnr!!anicidade e~tu st.:mprc presente: o nosso organi mo so- bast.:, que vigcria na época em que o autor escreveu o seu livro c viveu ao
cial na o rum Jtlll.t, cmnprom ·tido por uma si!Jie de anomalias, uja origem, longo das suas reedições, acabaria por mostrar-nos que aquelas categorias
qu.t~L' dmamns. ,. em sua maioria dt• 1111.\tt'IIÇfl. i. c•.. nasceram com o próprio vieram a dar no caipira c nos desclassificados, que, como dissemos, oneram
corpo MlCJ.tl na ~ ua concepção, no parto c puerícia, remontando-nos portanto à contcmporaneamente o povo e a sociedade brasileiros, como está explícito no
tbwht·rt.t, inícto c Jlllllo (sentido) na colonização. pensamento de Caio Prado Júnior.
Os seus componentes c funcionalidade tinham no caso um sentido per- Concedamos que o caipira é uma espécie em extinção, mas resta ainda a
VI:I () c certa maneira: o dt.: servirem ao outro c não a si próprio. multidão de desclassificados, que seria melhor definir como desqualificados,
Fm nss tm sendo, deu no qut.: deu: não conseguimos livrar-nos dessa he· i. e., sem qualificação para responder às exigências da ditadura de mercado.
r:mç;~ como que K• n.:tica c somos o que somos: um país de pobres e miserá· cada vez mais apuradas, quando muito admitindo que sejam acomodados nas
v~:1s, um pa ís rico de um povo pohrc, cujo desafio é superar essa herança para fímbrias desse mercado, num nível de vida que integra ou resvala à misera-
cnwntrar o seu próprio destino. bilidade.
Tomar orgâmco, e portanto funcionando direito, aquilo que não o é. Con· Responder-se-ia que esse somatório não constitui nada que a educação,
cei tos como dt.: órgáo, orgânico, organicidade são aplicados à sociedade no seu a cultura e a saúde, bem cuidadas, não possam resolver. E aí teríamos então a
todo e em seus segmentos. revolução preconizada, tendo como resultado o "equilíbrio recíproco das dife-
Assim, "u colonização não se orientara no sentido de constituir uma base rentes classes e categorias sociais", que o autor prega.
cconômica sólida c orgânica". 18 Dela, da natureza que assumiu e das estraté· Eliminar-se-ia assim a condição inorgânica que impede o funcionamento
gias adotadas resultariam a sociedade composta em sua maioria de uma popu- da sociedade. Entretanto, em todos os demais países, resultantes ou não de
hção, na qual se projetavam os vadios, verdadeira endemia social, 19 ou OS processos imigratórios, que tenham passado ou não pelo regime da escravidão,
que >iviam, ou melhor, "vegetavam à margem da ordem social", sem ocupa- motivado pelas diferenças que marcam o gênero humano, o contingente da
çõc normais e estáveis. Definitivamente, eram "formas inorgânicas da socie- População que é portador das li!nitações de inteUgênçia, talento e saúde ocupa
dade colonial brasileira".20 consideravelmente o maior es o na sociedade, o que de fato libera então o
raciocínio para culpar a colonização portuguesa pela falta de capacidade em
p (,7
saber suprir aquelas deficiências e produzir uma nova extensão do seu povo -
lt V· 2R2 a brasileira - que fosse uma ed.ição mais aprimorada.
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FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÃNEO
Vista desse ângulo, a tese perde a sua extensão em termos de cobrir toda VfTOR NuNF.S LEAL
a nossa trajetória histórica, uma vez que os remanescentes determinadores da
E·ta\3 então con\ encido de que o Brasil vivia mais um daqueles momen-
tos deci tvos para as transformações esperadas, que entretanto, como sabe-
mo .. não se der...n
Brasilicatc. 1966). p. 2.
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FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÃNEO
Vista desse ângulo, a tese perde a sua extensão em termos de cobrir toda VfTOR NuNF.S LEAL
a nossa trajetória histórica, uma vez que os remanescentes determinadores da
E·ta\3 então con\ encido de que o Brasil vivia mais um daqueles momen-
tos deci tvos para as transformações esperadas, que entretanto, como sabe-
mo .. não se der...n
Brasilicatc. 1966). p. 2.
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SoBREo -r
1
Dados biográficos extraídos da Enc:iclopldla Aqâblllca Brarilli/Z- IAI'OIUse CrdtruYJI
Paulo: Universo, 1988).
2'1J
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SoBREo -r
1
Dados biográficos extraídos da Enc:iclopldla Aqâblllca Brarilli/Z- IAI'OIUse CrdtruYJI
Paulo: Universo, 1988).
2'1J
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CORONELISMO, ENXADA E VOTO
BOLfVAR LAMOUNIER
EsTRU'TIJRA DO UVRO
TESE CENTRAL
O texto está dividido em sete capítulos. O primeiro- intitulado "Indica-
A tese central do livro é, na verdade, a contestação de uma impressão ções sobre a estrutura e o processo do coronelismo" - desenvolve a tese
que se costumava tomar como fato óbvio e assentado no debate político brasi- central que acima expus de maneira resumida. Nos capítulos 2 a 6 o autor
leiro daquela época: a de que a hipertrofia do papel político-eleitoral dos proprie- estuda, com amplo respaldo histórico e jurídico, a posição do município na
tário< rurais - o chamado ''coronelismo"- seria a decorrência lógica da pujança estrutura federativa, e a organização policial e judiciária e eleitoral do paí ,
c~:onômtca e sociál do latifúndio, que se sobrepunha ao próprio poder públiCO· ligando cada uma dessas questões à tese central ~e pretende demonstrar. No
Contra essa impressão, Vítor Nunes propõe o seu paradoxo: a dilatação do capítulo 7, intitulado "Considertções finais", retama os pontos enunciados no
papel político-eleitoral do latifúndio não é conseqüência de sua força, mas de Prirneiro capítulo e reafirma sua e da progressiva decadência do coronelato.
bn 1110
>nf/, ' rllxada t voro (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997), p. 36.
276
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CORONELISMO, ENXADA E VOTO
BOLfVAR LAMOUNIER
EsTRU'TIJRA DO UVRO
TESE CENTRAL
O texto está dividido em sete capítulos. O primeiro- intitulado "Indica-
A tese central do livro é, na verdade, a contestação de uma impressão ções sobre a estrutura e o processo do coronelismo" - desenvolve a tese
que se costumava tomar como fato óbvio e assentado no debate político brasi- central que acima expus de maneira resumida. Nos capítulos 2 a 6 o autor
leiro daquela época: a de que a hipertrofia do papel político-eleitoral dos proprie- estuda, com amplo respaldo histórico e jurídico, a posição do município na
tário< rurais - o chamado ''coronelismo"- seria a decorrência lógica da pujança estrutura federativa, e a organização policial e judiciária e eleitoral do paí ,
c~:onômtca e sociál do latifúndio, que se sobrepunha ao próprio poder públiCO· ligando cada uma dessas questões à tese central ~e pretende demonstrar. No
Contra essa impressão, Vítor Nunes propõe o seu paradoxo: a dilatação do capítulo 7, intitulado "Considertções finais", retama os pontos enunciados no
papel político-eleitoral do latifúndio não é conseqüência de sua força, mas de Prirneiro capítulo e reafirma sua e da progressiva decadência do coronelato.
bn 1110
>nf/, ' rllxada t voro (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997), p. 36.
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CORONELJSMO, ENXADA E VOTO
BOLfVAR LAMOUN!E!R
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CORONELJSMO, ENXADA E VOTO
BOLfVAR LAMOUN!E!R
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1 tl/lfiN I/1\Mfi I NH/M I VII I ()
, :ur1irnunilipali la . M·,
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, < a
.
1111 li 11 , 1 ~.IPIIUIIIII 1p.d 1· la 1\'iiJiolll'll'll,llloi < llll\llllllfi:to de J<J4(,, revigorada c
'oi 111 ,lllllll!'tiHblh-' •. t\ oilllllllllllll.l do~ lrllliii<'IJIIO~ IOII:()fi~ CIIIplada pela clciçã(J
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(Of/1) 111 1111 I XMJA I \010 I! OLIVA R L \MOt I I ER
, 1 d. a mesmas atributçõcs que se iria verificar t!m per' rbanismo. portanto, em detrimento do agrarisrno: e predomínio, também, do!'
COill ~,; ll. alll rl o ~:: , ' . . ' ' • • " ~ lO-
dn uh uJUt.:lll
• J. nos a lmtona. 1 so nao ocorreu em n:laçao as ft!ccita
~:: • . . . . ~ ~nteresscs comerciais e industriais é o que revela essa análise da drenagem
. J
pr opl "' os 1
mllliLIJ>ios. Em anáh e nunuc10sa da parttclpação da
_ s ~os recursos do campo para a cidade. Aqui Nunes Leal aborda um dos tema.
. d . no bolotnburárro, mostra que nao houve grandes variações candentes de nossa história republicana: a oposição entre industrialismo e
J)JUIII~Ip.r 1I ,J< 1 • , . , . . a
, ~:r p~.:t• 1r1•. CJUt'r 11 a colonia e no rmpcno, . _
quer. na repubhca,
•
a Situação
•
dos agrarismo. Reconhecendo à época a supremacia da indústria sobr a agricul-
. .
IIIUIIIC.:IJliO l
rrlpt • foi de extrema .pcnúna flnancctra. . , .
Somente a pantr. da Cons ' tura. descarta, contudo, com veemência a tradicional oposição entre esses dois
ltllliÇoill (cI I 'J lú lJIIl' ~c iria dc\tlnar am mumc1p10s um volume mats cxpres. ólos. Dando como certo o esgotamento do protecionismo tarifário c aduanci-
1 O iJ 11.: lll~l ;0 como forma de estímulo à nossa indústria, e diante das escassas pcrspccli·
Dur nlc ,1 lung.1 vtgência da Con~tituiçãu de 1891, as renda municipais, vas de exportação num mercado internacional competitivo, entendia que a
111 , 1,Ji , fi>ram ínfima<: P<tra Vítor. unes. a penúria financeira dos estados, ampliação do mercado interno seria o único caminho duradouro para o desen-
uhr tudo d.tlflll'k\ mais pobre~. estava na ba e da escassez de rendas dos volvimento industrial no Brasil. E a ampliação do mercado interno, por ~u
1111101 upio~. 0 quats dctxa\alll de contar com fontes potenciais de tributação, turno, dependia obviamente da melhoria da situação das populações rurais,
cl• ma 11 11 ,1 ,1 .~t~mkr a nccc\sidades dos minguados cofres dos estados. Em com o conseqUente fortalecimento dos municípios do interior. Subjacente ao
u, 1 p.d.avr.1 , "nao rc~ta dúvida que \1 deficiente quinhão tributário dos esta- municipalismo dos constituintes de I 946 haveria, portanto, segundo ele, uma
d ~~. 11 ,1 pa 11ilha ronstituciunal, tcr.i sido fator muito importante, pois era das consciência, ainda que difusa, da necessidade de tomar efetivamente comple-
fo 11 t ·~ tríhut.ínas estaduais que tinha de sair a receita municipal". 3 Aqui os mentares a indústria e a agricultura, o campo e a cidade. Nas palavras do
111111 , ·ro .io mui~ cloqúcntcs do que as palavras: no período em questão, a autor,
l'r11:rn am·~:adava (J3'Jf, do total dos impostos; os estados só recebiam 28% e
p.11.1 c •, municípios sobrava a miséria de 9%. nem todos esrarão conscientes de que o aumenro da recc1ta dos mumcfpios t, ~om
A ton~Jtluiçocs de I 93-t c de I 937 rcgi~traram alguns avanços jurídicos muita probabilidade, uma consequencia mdrreta das necesstdades de ampltarmo~ o
1111 lot olllll' ás finall\J lllllnictpais, '>Cm contudo alterar, na prática, a Situação mercado interno. pela inversão de tais recurso na methona de vida dillt populaçõe~
dc pttuiri.l qut• ~cmprc as l<traclcri;ou. Vítor Nunes calcula que, às vésperas rurais. Nem todos, portanto, estaria conscientes de que e !>C rurali mo do pre!>ente
tem Intimas ligações com o industrialismo. por sua vez tllo esrreiramentc rclac1onado
d.t ( \ÍJI tltlll\ao de l C).J6, o interior do país abrigava 86,4% da população do com as atividades comerciais e bancárias.'
p.rfs. 111.1~ ~u.a Jl.lrlit ipação no holo trihutário não ia além de 6,9% . Mudança
C\ ptc ·.i\.t só Í11.1 O((lrrcr, port.mto, a partir da Constituição de I 946. De fato,
Nesse momento, insiste uma vez mais em sua tese de que o amesquinha-
onom tcxtnnJo aJ'lellas dilatou substancialmente a base que poderia ser tribu· mento financeiro do município reforça a dependência das lideranças políticas
ltdo~ pdtí\ munu.:ípios wrno lhes de. tinou 10% do imposto sobre a renda. Re-
locais em relação ao situacionismo estadual: a carência financetra municipal
p.utttl.l l'lll J>arlt'S tguais, essa fração representava um beneficio imponante s~ndo, por con eguinte, um dos pilares do chamado sistema "coronelista".
pata os nuis pohn·s dt·ntrc clc:s.
No capítulo V, ao tratar da "Organização policial e judiciária", Vft r Nunes
I oi!Clldo um hishirico do que precedeu a consciência e a medidas iní apre entar aquele que foi um dos principais ustentáculos do coronelismo: a
munittpaltst.ts dt• I<>·IC,, o autor conclui que até ali não se tinha feito outra coisa
organização policial. Sustentará a tese segundo a qual, enquanto o aparelho
st·n.to dtn1ar a 1\'t:cita pública do interior para os maiore c ntros urbanos. Ao
rctchl'tt'm.t União c os estados a maior parte do que pagam os municípios do
aa
judiciário se racionaliza ao lon&o história do país, a organização policial fica
para trás: permanece por lonao perlodo de tempo atrás do judiciário, atuando
llllcttnr.•t aplir.tç:io desses recursos vinha sendo revertida principalmente eJD
ainda como braço das forças políticas.
bt•nefrt n d.ts t:apitais e dos grandes centros urbano . Predomínio exc sivodo
No que se refere à vida na colônia. chama a atençio para a superpo ição
das funções judiciárias e policiais no período. Juízea ordinários e de fora,
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IIOi.fVAK LAMOIJNIHl
r.ll\l' ~·oHt ll.l hll •t·1al, tllUllS, L' L'rcr.un luu~,;,ws 111~ m~·smo lt'lltpn policial ~ romn lllNIIIImt·nto huhnuul de açdn pnl!111a ,, dilcl<'n~. 1 ~ 411 ~ Jl.l\ ou., r v r ,
• d1• ~lljll'lfltl'!Çil\l lk llll'lhiiiÇOl'S, COilMtUitt s,. a 1 1 1
• 1111l ll. r.nl..1, . . IJIIIUI"ll
l'SSl' • . ~ 1 1uuçlks r\lluhuu~. quando nntcs CJiwdcn.t an1 dc~ls:ruo dn~-:owrno nntr.•l"
I'I~'P'll t •11 ·1'1 lt' .s1·nhori.ttl11 uralt• 111:1is adtanh:,
. pm iutL·rml-dio uns ouvid,,r r~c
d'" ju 111., <k lnt.t, t,t\'!'1 'l'\'11 ~~· ,, suhnussao dos n:bl'ldL·s colonns ao P\ldcr da Oulra vcrlentc fundamental da máquina policial dos estudo, (' tava n. 1
polfcia militar. Seu papel, como parte do aparelhamento policial, na prcpar.tt,:5o
"' P''li!ldos suhs 'l)Ül'lllt's,o pt~nduln pllhtico-institm:ion;tl oscilou entre dus campa nhas eleitorais sempre foi da maior importância, ~obrcpondo se,
~~ l' 11 ·m• ~ da •1•1uJ.lh/a ·;111 ·tia tk:-.L'L'lltr.ili:açào, com repercusM cs ~cnsj. nwitus Vl'ZCS, à sua atribuição regular de manter a ordem. Como condu 1 0
1 •1, 11 ,1 ,11 •• 111 í1 •1,·.w dtl .1pardhn p11licialc judiciário. Com a vinda da corte anwr. "durante a Primeira República, a organização policial foi um do~ rnaís
,,b , 1\',I s1• um 111\)\ lll\l'llto tiL' ,·aratcr daramcutc cunscrvador. Naquele mo: sólidos sustentáculos do coronclismo". 1J
111 ,. 11 1\,, mstiiU ·m s · Jil·er~os trihunais sup1·riorcs L'lll nosso país, aurnenta·sc: ('om :1 república, passa-se a dispor de duas justiças: a federal, de organi
0
111111 w11 d11s j111:L's de f11rae ctÜ-sl' 11 cargo de intt:ndcntc-gL·ral da polícia da 1 açiío l' de competência legislativa da União, c a local, organizada pelos esta-
co 1t · 1• tiL r~tad,l d11 Brasil, ~:ujas funçõc., além de judiciürias. eram também dos, que também legislavam sobre o respectivo processo. Eram os seguintes
poht'I,H~ os órgãos judiciários nos estados: tribunais de segunda instância nas capitais;
:\ rl'ft,nna dl) l'xligo do procc so criminal feita em 1832 teve caráter jufzcs de direito nas comarcas; tribunais do júri; juízes municipais nos termos;
emim·nt•mcnte dt•.ccntr.llizador. A rcspo la viria em 1841, com um novo ato juízc de paz, em regra eletivos, nos distritos. Somente eram considerado~
adíl't\lll.tl. L'SSL' de caráter ccntralizador, estabelecendo quc cada província te- magistrados, para efeito de garantias, os juízes de direito c os membros dos
tl.t mn chdc dt• poli ia c restringindo a autonomia do juiz de paz. Subordinados tribunais de segunda instância.
,tn ·hcfc de polícia se achavam os delegados c os subdelegados. todos de livre Embora se observasse ao longo da república a profissionalização cres-
lll'IIIL'.IÇJn Jn gon:mo. Ao analisar a impropriedade do ato centralizador, Vftor cente do judiciário, como a transformação em L934 do Ministério Público em
unrs nota que carreira, persistiam brechas, como o mecanismo de promoções c remoções c
a permanência da figura do juiz temporário, pelas quais prosseguia a colabora-
. r,·.r~in contr..r o JUdtciansmo policial dos liberais de 1832, com as funções policiais ção da organização judiciária com o situacionismo local.
C"Olrei!Uc a lliiiC' Jl' pa1 elet1vos, fm certamente excessiva com a inversão operada- Vítor Nunes chama especial atenção para dois instrumentos - as orde-
o pohuah~mo JUdrci no, confiadas às autondades policiais funções nitidamentejudi· nanças, na colônia, e a Guarda Nacional, no império - de transação entre os
nanas'
poderes público e privado. Congregando em tomo do latifúndio, no período
colonial, um expressivo contingente humano- fossem escravos ou agregados
A sina la ainda que, sob o império, a máquina policial esteve sempre do-
-, os senhores rurais na verdade tinham a seu dispor exércitos de fato ou em
minada pelo espírito partidürio. Na organização judiciária, por outro lado, em·
potencial. O autor considera que a coroa mostrou sabedoria ao revestir de
hora e registr.tssem sensíveis progressos, persistiam mazelas diversas, entre
autoridade jurídica a autoridade espontânea dos senhores de terra, direcionando-
.1s quais a corrupção da magistratura e suas notórias vinculações políticas.
a deste modo para o serviço da ordem pública e dos objetivos do governo. Na
Com o fedemlismo de 1891, deixou-se a função policial ao arbítrio do
colônia, foram as ordenanças- reserva militar de terceira linha que enquadra-
estado. Adotou-se como regra o princípio da livre nomeação dos chefes de
va toda a população masculina!le dezoito a sessenta anos- a expressão de sa
polícia. delegados c subdelegados, princípio esse que permaneceu no governo
~utoridade jurídica conferida ao poder privado. Nas palavra de Vítor Nunes, a
discricionário de 1930, no período constitucional de 1934 a 1937, no Estado
•mponância do potentado rural no período da colônia foi tão grande, que
Nuvo, c ainda vigora nos dias de hoje. Como observa Vítor Nunes,
10
11 lbid., p. 198.
I 1.1 Jl 194. u lbid., p. 201.
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r lJh'rl 111\'.\10, IN\ 1/J\ I 1'1 1/0
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1 •1, 11 ,1 ,11 •• 111 í1 •1,·.w dtl .1pardhn p11licialc judiciário. Com a vinda da corte anwr. "durante a Primeira República, a organização policial foi um do~ rnaís
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:\ rl'ft,nna dl) l'xligo do procc so criminal feita em 1832 teve caráter jufzcs de direito nas comarcas; tribunais do júri; juízes municipais nos termos;
emim·nt•mcnte dt•.ccntr.llizador. A rcspo la viria em 1841, com um novo ato juízc de paz, em regra eletivos, nos distritos. Somente eram considerado~
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discricionário de 1930, no período constitucional de 1934 a 1937, no Estado
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Nuvo, c ainda vigora nos dias de hoje. Como observa Vítor Nunes,
10
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I 1.1 Jl 194. u lbid., p. 201.
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COJWNf.l.ISMO, /,NXAIJA I. VOUJ
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rkllwram . ·qüclas extremamente negativa~. que em parte até hoje pcrdu rc~rn
se Ü UVIJf A VrA 'A
. • nt•· certo que o "coronulismo" fo1 urna das principais correi·a dt:'
~: tgua 1me ...
llansmissão que as trouxe do ~éculo XIX para o século XX.
Para Vítor Nunes Leal, a efetiva decomposição do coronelismo iria de.
pender de uma profunda alteração em nossa estrutura agrária. Is50 veio a Instituições políticas brasileiras
acontecer, na segunda metade do século XX, não tanto por meio da rcf(Jrfll4
agrária que já L:m sua época começava a ser intensamente debatida, ma~ 0_
br~tudo como decorrência da industrialização e de outras importantes tran·.
formações econômicas que o país viria a conhecer desde então, e que resultaram
no difícil convívio, que hoje conhecemos, de uma agricultura que é ao meslllQ
tempo moderníssima (em certas regiões) e completamente arcaica (em ou.
tras) Me~mo assim. no que se refere ao desenvol vimento político, não há Maria Herminia Tavares de Almeida
dúvida de que muitos obstáculos foram vencidos .Tomando como base de com-
paração o quadro traçado por ele em 1948, já nos encontramos em um pata-
mar bem mais avançado. Esse desenvolvimento se explica por uma série de
fatores estruturais que tomaram impossível ou meramente residual o controle
antes absoluto do senhoriato rural sobre os cidadãos-eleitores:
1) a aceleração do crescimento da população e, concomitantemente, a
vert1g~nosa urbanização que se verificou nesse período, inclusive com a forma-
ção de gigantescas áreas metropolitanas;
2J a definiti"a constituição do nosso mecanismo eleitoral-representativo.
com a consolidação de urna moldura básica e da própria Justiça Eleitoral (cria-
da no anos 30J, com a extensão do direito de voto à mulher já em 1934, e ao
analfabeto e ao adolescente em 1988 -tudo isso culminando na regularização
da prática eleitoral periódica e na formação de um dos maiores eleitorados do
mundo, já ultrapassando a casa dos 100 milhões;
3) a politização do país, por certo ainda insuficiente, mas que já se reflete
em saudável competição pluripartidária e numa teia de organizações (urna "so-
ciedade civil'') bastante robusta.
Atuando em conjunto, esses fatores comprovaram a tese que Vítor Nunes
Leal expôs com notável argúcia já em 1948: a de que o "coronelato" rural
tenderia a perder rapidamente a sua velha importância política. entreabrindo-
se dessa forma amplos horizontes para o desenvolvimento, entre nós, da de·
mocracia representativa.
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llansmissão que as trouxe do ~éculo XIX para o século XX.
Para Vítor Nunes Leal, a efetiva decomposição do coronelismo iria de.
pender de uma profunda alteração em nossa estrutura agrária. Is50 veio a Instituições políticas brasileiras
acontecer, na segunda metade do século XX, não tanto por meio da rcf(Jrfll4
agrária que já L:m sua época começava a ser intensamente debatida, ma~ 0_
br~tudo como decorrência da industrialização e de outras importantes tran·.
formações econômicas que o país viria a conhecer desde então, e que resultaram
no difícil convívio, que hoje conhecemos, de uma agricultura que é ao meslllQ
tempo moderníssima (em certas regiões) e completamente arcaica (em ou.
tras) Me~mo assim. no que se refere ao desenvol vimento político, não há Maria Herminia Tavares de Almeida
dúvida de que muitos obstáculos foram vencidos .Tomando como base de com-
paração o quadro traçado por ele em 1948, já nos encontramos em um pata-
mar bem mais avançado. Esse desenvolvimento se explica por uma série de
fatores estruturais que tomaram impossível ou meramente residual o controle
antes absoluto do senhoriato rural sobre os cidadãos-eleitores:
1) a aceleração do crescimento da população e, concomitantemente, a
vert1g~nosa urbanização que se verificou nesse período, inclusive com a forma-
ção de gigantescas áreas metropolitanas;
2J a definiti"a constituição do nosso mecanismo eleitoral-representativo.
com a consolidação de urna moldura básica e da própria Justiça Eleitoral (cria-
da no anos 30J, com a extensão do direito de voto à mulher já em 1934, e ao
analfabeto e ao adolescente em 1988 -tudo isso culminando na regularização
da prática eleitoral periódica e na formação de um dos maiores eleitorados do
mundo, já ultrapassando a casa dos 100 milhões;
3) a politização do país, por certo ainda insuficiente, mas que já se reflete
em saudável competição pluripartidária e numa teia de organizações (urna "so-
ciedade civil'') bastante robusta.
Atuando em conjunto, esses fatores comprovaram a tese que Vítor Nunes
Leal expôs com notável argúcia já em 1948: a de que o "coronelato" rural
tenderia a perder rapidamente a sua velha importância política. entreabrindo-
se dessa forma amplos horizontes para o desenvolvimento, entre nós, da de·
mocracia representativa.
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1 1
111 cnto deid~ia!> anti liberais qul! varreu o Ocidente na décadas de J'12() e 11)3() ,.,
110 Brasil, se condensou na crítica as instituiçõc~ c prática~ política\ da Pnrn ra
1
Rcpública ( 18R9-1930). Publicado em 1949, o livro ~6 ganha ~ignifiLad'J pleno no
marco do intenso debate intelectual que precedeu c preparou o fim da Reptíhlica
Velha c, sete anos mais tarde, o advento do Estado Novo (1937 1945). J· •
dcbatc não era alheio ao assédio à democracia liberal movido pelas idcolog1a~ ( •
movimentos) socialistas ou fascistas, em ascensão na Europa.
Ostentando as marcas de sua época, fn.llituições polfticas hrnnleim
é, porém, muito mais do que uma crítica contingente dos desacertos de no sa
organização política. É um grande ensaio sobre os fundamento~ hist6ncos c
sociais da política brasileira, com suas mazelas e potencialidades. O tema de~
sa obra mestra é o desencontro das regras que tratam de organizar a vida
política, cristalizadas nos princípios liberais das constituições bra~ileiras- de~
de 1824 -,e os comportamentos efetivos, moldados por uma cultura política
que exprime a trama verdadeira de uma sociedade ainda tradicional, tecida ao
longo de nossa história. O tema é, pois, o da distância oceânica que separa o
país legal do pafs real, para usar uma expressão cara aos contemporâneos de
Oliveira Viana. O primeiro é o pafs das elites cosmopolitas e metropolitanas,
entre as quais se destacam os juristas liberais. O segundo é a terra do povo-
massa esmagadoramente rural, com suas normas, comportamentos c tradi-
ções próprios e ignorados pelas elites. A oposição entre o país idealizado na
Constituição e o Brasil profundo é o motivo que se repete ao longo de toda a
obra, o fio condutor da argumentação que acompanharemos a seguir.
O livro está dividido em quatro partes: "Fundamentos sociais do Estado"
(Direito público e cultura), "Metodologia do direito público" (Os problema~
brasileiros da ciência polftica}, "Tecnologia das reformas" c "Organização da
democracia no Brasil".
29S
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110 Brasil, se condensou na crítica as instituiçõc~ c prática~ política\ da Pnrn ra
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Rcpública ( 18R9-1930). Publicado em 1949, o livro ~6 ganha ~ignifiLad'J pleno no
marco do intenso debate intelectual que precedeu c preparou o fim da Reptíhlica
Velha c, sete anos mais tarde, o advento do Estado Novo (1937 1945). J· •
dcbatc não era alheio ao assédio à democracia liberal movido pelas idcolog1a~ ( •
movimentos) socialistas ou fascistas, em ascensão na Europa.
Ostentando as marcas de sua época, fn.llituições polfticas hrnnleim
é, porém, muito mais do que uma crítica contingente dos desacertos de no sa
organização política. É um grande ensaio sobre os fundamento~ hist6ncos c
sociais da política brasileira, com suas mazelas e potencialidades. O tema de~
sa obra mestra é o desencontro das regras que tratam de organizar a vida
política, cristalizadas nos princípios liberais das constituições bra~ileiras- de~
de 1824 -,e os comportamentos efetivos, moldados por uma cultura política
que exprime a trama verdadeira de uma sociedade ainda tradicional, tecida ao
longo de nossa história. O tema é, pois, o da distância oceânica que separa o
país legal do pafs real, para usar uma expressão cara aos contemporâneos de
Oliveira Viana. O primeiro é o pafs das elites cosmopolitas e metropolitanas,
entre as quais se destacam os juristas liberais. O segundo é a terra do povo-
massa esmagadoramente rural, com suas normas, comportamentos c tradi-
ções próprios e ignorados pelas elites. A oposição entre o país idealizado na
Constituição e o Brasil profundo é o motivo que se repete ao longo de toda a
obra, o fio condutor da argumentação que acompanharemos a seguir.
O livro está dividido em quatro partes: "Fundamentos sociais do Estado"
(Direito público e cultura), "Metodologia do direito público" (Os problema~
brasileiros da ciência polftica}, "Tecnologia das reformas" c "Organização da
democracia no Brasil".
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O dt'' 'flt'tl lll tt • ck dul' it o lc1 c di1cito costume no Brasil é oposiç o entre
J,,, mPdtl.lil' M'l,t'llllc duas culturas polfticas diversa~>: a das elites mctropo-
lu,tn,t 111111 .t ca ht·ç.t dK' I:.t das idéia:; dominantes nos grandes centros estran·
''1111 • • ·' d.1 'll llll l · mas.·;, de população rural - o povo-massa - , imersa em
lt.ldtçt'Cs tL'nll·n.1 ria~.
l'ur li L'· l.tzií ·s. <I idéia de cultura é essencial ao argumento do autor. Em
primc tro lugar. ela evoca a particularidade: a cultura é sempre cultura de um
~rupo t''flCCt fico. Em segundo, associa-se à permanência: os fenômenos cultu·
n1. sao supra- indi viduais e, transmitidos de geração em geração, têm longa I fbid., p. 74 .
duração. A cultura. ao contrário da opinião e da moda, não muda com facilida· ' Na verdade, a cultura ~. segundo o autor, um dos Ir! clemenUrs a mp r
de pt r simples ato de vontade de quem quer que seja. Finalmente e, em civth7.aç5o c da Históna". Os outros dois seriam os faiOfe "antropo&e ;I~ c
c os fatores "biológicos c heredológicos (linhagem e raça) ·. ln1t/wo1 ÕfJ poliu
conscqü~ncia, é impossível transplantar cultura de uma sociedade para outra. pensado como parte de um projeto mais ambicioso de tttudo da formaç
O estudo da cultura, segundo Oliveira Viana, implica o reconhecimento e incluiria uma história da formaçlo racial de. Brasil e ama hl>l6na soe da <COD
análise de complexos culturais, isto é, "um conjunto objetivo de fatos, signo.s foram escritas. Todavia, o fato de que a cmprenada tenha começado pelo • tudo da
Política aio parece ler sido csçolha fortllila No segundo póJ·guerra, mod:J de • P
ou objetos. que, encadeados num sistema, se correlacionam a idéias, senil·
-
baseados em diferenças raciais - assim como os que pDllham tnfase w CMI<Iert u d
físico - haviam caldo em desuso nos meios totelectua1s :sérios, por 1'3z6es ób\ E
menções a raça nlo estejam ausentes das p4giDas de lnslllw•çõn ela á nlo 1em l
1
J F OI eua V1ana.
1
Cullural, 1974 ), p 27
lnwtui('õ~.\ polfticas brasi/~iras, v. 1 (3 1 edição. Rio de Janeiro: R~ irnportancia explicativa que assumiu em obras ulenorcs de Obv<tra \Utaa espeoal111<
Popu/açiíe.r muidlonaú do BrtJSIL, publicada em 1920
' J. F. Oliveira Viana, lnstitui(&.s polflirru bmsilt1nu, v I. c1t. P. 75
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conscqü~ncia, é impossível transplantar cultura de uma sociedade para outra. pensado como parte de um projeto mais ambicioso de tttudo da formaç
O estudo da cultura, segundo Oliveira Viana, implica o reconhecimento e incluiria uma história da formaçlo racial de. Brasil e ama hl>l6na soe da <COD
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/,\',mfU! ÇÕFS POLIT!CAS BRASILEIRAS
MARIA HERMfNIA TAVARES DE ALMEIDA
Esta, a estruturação ecológica sob a qual evolUJu nossa população colonial. Caracte-
EuROPA E BRASlL: TRAJETÓRlAS DIVERGENTES
rizada pela rarefação e adelgaçamento da massa povoadora. pela dispersão dos mora-
dores por uma base territorial imensa e mculta, apenas percomda calcante pede pelo
A democracia na Europa tem raízes profundas e milenares: as comuni- povo-massa e carecente quase em absolulo de comunicações espirituais, tinha que
dades de aldeia, ''remanescentes do primitivo coletivismo agrário, que a comu- acabar, como acabou, por enformar o homem, criando-lhe um tipo humano adequado
nidade ariana praticou nos seus primórdios". 5 Espalhadas por todo o continente a essa disposição dispersiva, individualista e atomfslica. E criou o homo colonialis,
amante da solidão e do deserto, rústico e anti urbano, fragueiro e dendrófilo, que evua
e mais tarde na América do Norte, nelas se forjaram as instituições de
a cidade e tem o gosto do campo e da lloresla. Homem de que a expressão mrus
autogo\'erno: a participação nos comícios, as assembléias populares, o sentido acabada e representativa é o paulista do baJI(ieiri.smo- telúrico, eruptivo, abrupto, tal
profundo do interesse coletivo. Aí foi se elaborando, ao longo de séculos, um como as rochas de gnaisse e manganês de seu habitat formador.'
"complexo de democracia direta", de grande vitalidade e longevidade. Ele não
se desfez, quando a lenta evolução histórica produziu primeiro a cidade-estado, A rala vida política das cidades nada tinha de democrática. Dela partici-
depois o estado-império e finalmente o estado-nação. Apenas estendeu seu pavam apenas a nobreza dos homens bons, os altos funcionários civis e milita-
àmbiro até atingir, modernamente, os contornos da nação, transformando-se res investidos pela coroa, os comerciantes enriquecidos. Poucos deles moravam
em complexos democráticos nacionais. A sabedoria dos legisladores fez com no núcleo urbano. Os verdadeiros detentores do poder, os senhores rurais,
que a constituições se limitassem a recolher e sistematizar as instituições muito menos. O centro de gravidade do sistema colonial era a grande proprie-
ancorada em hábiros, sentimentos e idéias preexistentes entre o povo-massa. dade rural, auto-suficiente. A existência do grande domínio tinba conseqüên-
As im. uma e periência urbana particular dotou a democracia européia e cias desagregadoras, antiurbanas: sua força centrípeta atraía as populações e
n ne-americana de sólidas bases socioculturais, de um complexo cultural de- transformava os vilarejos em satélites seus. Engendrou assim um complexo
m rático e nacional prévio e cultural de vida pública peculiar:
que e a -ar C'idade d~ cada cidadão de subordinar, ou mesmo sacrificar. os seus Essa a formação social e econômica de nosso povo. Como se vê, ela se processou
ego1<:n < '1;uur.us e seus mteresses pessoais (de indivíduo. de famllia ou de clã) aos dentro do mais extremado individualismo familiar. É claro que de tudo isto outra
n·er . = ,er.u e coleti\OSdos grupos ou comunidades maiores, a que ele pertence cousa não se poderia esperar senão esle traço cultural tão nosso. caractenzado pela
J~der. to:nun •o\ nc1a. nação). • despreocupação do interesse coletivo, pela ausência de espínto púbhco, de espfnto
do bem comum, de solidariedade comuna! e coletiva e pela carência de msuuuções
corporativas em prol do interesse do "lugar", da "vda", da "c•dade".'
Em contraste, a colonização portuguesa na América não deu lugar 8
d q e :e pareces ·e com a aldeia ou a polis democrática. Ela foi essencial- No Brasil, a colonização produziu duas instituições fundamentais. molda-
men·e ntiurbana. pri\atista e antiigualitária. O sistema de povoamento e de das por dois arraigados complexos culturais, em tudo avessos aos costumes e
1
tnb 'I ão de terra fa\oreceu a dispersão da população pelo território. A práticas democráticas: o clã feÔda.l e o clã parental. O clã feudal brota da
ca a 1d11 rbana concentrou-se. no litoral, nas sedes das capitanias, nas grande propriedade rural auto-suficiente. É UJ:la estrutura omple a e
lias rner.::il 11 e. bem mais tarde, na zonas de mineração. Para o interior. 05 hierarquizada. No seu vértice está o senhor do feudo e sua fanu1ia. Abaixo
• lbid, p. l18 .
• lbid., p 127.
~98
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/,\',mfU! ÇÕFS POLIT!CAS BRASILEIRAS
MARIA HERMfNIA TAVARES DE ALMEIDA
Esta, a estruturação ecológica sob a qual evolUJu nossa população colonial. Caracte-
EuROPA E BRASlL: TRAJETÓRlAS DIVERGENTES
rizada pela rarefação e adelgaçamento da massa povoadora. pela dispersão dos mora-
dores por uma base territorial imensa e mculta, apenas percomda calcante pede pelo
A democracia na Europa tem raízes profundas e milenares: as comuni- povo-massa e carecente quase em absolulo de comunicações espirituais, tinha que
dades de aldeia, ''remanescentes do primitivo coletivismo agrário, que a comu- acabar, como acabou, por enformar o homem, criando-lhe um tipo humano adequado
nidade ariana praticou nos seus primórdios". 5 Espalhadas por todo o continente a essa disposição dispersiva, individualista e atomfslica. E criou o homo colonialis,
amante da solidão e do deserto, rústico e anti urbano, fragueiro e dendrófilo, que evua
e mais tarde na América do Norte, nelas se forjaram as instituições de
a cidade e tem o gosto do campo e da lloresla. Homem de que a expressão mrus
autogo\'erno: a participação nos comícios, as assembléias populares, o sentido acabada e representativa é o paulista do baJI(ieiri.smo- telúrico, eruptivo, abrupto, tal
profundo do interesse coletivo. Aí foi se elaborando, ao longo de séculos, um como as rochas de gnaisse e manganês de seu habitat formador.'
"complexo de democracia direta", de grande vitalidade e longevidade. Ele não
se desfez, quando a lenta evolução histórica produziu primeiro a cidade-estado, A rala vida política das cidades nada tinha de democrática. Dela partici-
depois o estado-império e finalmente o estado-nação. Apenas estendeu seu pavam apenas a nobreza dos homens bons, os altos funcionários civis e milita-
àmbiro até atingir, modernamente, os contornos da nação, transformando-se res investidos pela coroa, os comerciantes enriquecidos. Poucos deles moravam
em complexos democráticos nacionais. A sabedoria dos legisladores fez com no núcleo urbano. Os verdadeiros detentores do poder, os senhores rurais,
que a constituições se limitassem a recolher e sistematizar as instituições muito menos. O centro de gravidade do sistema colonial era a grande proprie-
ancorada em hábiros, sentimentos e idéias preexistentes entre o povo-massa. dade rural, auto-suficiente. A existência do grande domínio tinba conseqüên-
As im. uma e periência urbana particular dotou a democracia européia e cias desagregadoras, antiurbanas: sua força centrípeta atraía as populações e
n ne-americana de sólidas bases socioculturais, de um complexo cultural de- transformava os vilarejos em satélites seus. Engendrou assim um complexo
m rático e nacional prévio e cultural de vida pública peculiar:
que e a -ar C'idade d~ cada cidadão de subordinar, ou mesmo sacrificar. os seus Essa a formação social e econômica de nosso povo. Como se vê, ela se processou
ego1<:n < '1;uur.us e seus mteresses pessoais (de indivíduo. de famllia ou de clã) aos dentro do mais extremado individualismo familiar. É claro que de tudo isto outra
n·er . = ,er.u e coleti\OSdos grupos ou comunidades maiores, a que ele pertence cousa não se poderia esperar senão esle traço cultural tão nosso. caractenzado pela
J~der. to:nun •o\ nc1a. nação). • despreocupação do interesse coletivo, pela ausência de espínto púbhco, de espfnto
do bem comum, de solidariedade comuna! e coletiva e pela carência de msuuuções
corporativas em prol do interesse do "lugar", da "vda", da "c•dade".'
Em contraste, a colonização portuguesa na América não deu lugar 8
d q e :e pareces ·e com a aldeia ou a polis democrática. Ela foi essencial- No Brasil, a colonização produziu duas instituições fundamentais. molda-
men·e ntiurbana. pri\atista e antiigualitária. O sistema de povoamento e de das por dois arraigados complexos culturais, em tudo avessos aos costumes e
1
tnb 'I ão de terra fa\oreceu a dispersão da população pelo território. A práticas democráticas: o clã feÔda.l e o clã parental. O clã feudal brota da
ca a 1d11 rbana concentrou-se. no litoral, nas sedes das capitanias, nas grande propriedade rural auto-suficiente. É UJ:la estrutura omple a e
lias rner.::il 11 e. bem mais tarde, na zonas de mineração. Para o interior. 05 hierarquizada. No seu vértice está o senhor do feudo e sua fanu1ia. Abaixo
• lbid, p. l18 .
• lbid., p 127.
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INSTITUIÇÕES POL {TI CAS BRASILEIRAS
MARIA HERMÍNIA TAVARES DE ALMEIDA
[... ]quem observa o panorama rural do 2•Império é ferido por qualquer coisa de
o patriarca da família; os parentes consangüíneos (filhos e netos); os parentes colaterais
alterado de novo na situação em que estávamos nos fins do período colonial e ao
(irmâos, uos e sobrinhos); os parentes por afinidade civil (genros e cunhados); os
penetrarmos o novo ciclo da Independência Estes senhores rurais- até então dt persos
parentes por afinidade religiosa (os "compadres" e "afilhados"); os parentes ~r
e autônomos, na sua condição de pequenos autarcas - mostravam-se agora juntos e
adoção (os "cnas" da casa senhorial e, sem dúvida, os "moleques mimosos" de Antoml
arregimentados: desaparecera a sua antiga dispersão, a sua antiga desconexlo e Isola-
c \'i lhe na. ••
mento. Eles, que viviam até então dissociados e autônomos- e só ocasionalmente
reunidos em grupos parentais para fins de autodefesa dominical ou pessoal -estão
t Jm sistema complexo de deveres e normas une e dá solidez ao clã paren~: agora solidarizados em dois grupos maciços, cada um deles com um chefe osten •vo,
obrigações de solicJariedade, responsabilidade coletiva, proteção e assistência com governo e autoridade em todo o municfpio e a cujo mando todos obedecem. Este
recíproca. chefe ostensivo é um agente unificador local: é o garante da unidade do comportamen·
to dos clãs agremiados num destes Gols grupos sociais. niD exist~nu.s alllol~ndario~~:~
As condições da colonização favoreceram a constituição dessa~
Renunciando à velhaind.ependenc' velha combatiVI'dadeehelhams 1 """"" tal
familiar específica: as necessidades de defesa comum em meio in6sptto, a .. _.,_ andoapnnu'üvasobdarledadeparen e
dos séculos colonuus, talvez mesmo uJUUX l6b de
feudal estão todos unidos agora debaixo de uma legenda. de um aro. uma
• rvado Ubtrau u
bandeira, que até entio nio arvoravam: são Conse ru ou
• lbul 06
.. ll>ld p ll2 " lbid., pp. 244-245 .
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300
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INSTITUIÇÕES POL {TI CAS BRASILEIRAS
MARIA HERMÍNIA TAVARES DE ALMEIDA
[... ]quem observa o panorama rural do 2•Império é ferido por qualquer coisa de
o patriarca da família; os parentes consangüíneos (filhos e netos); os parentes colaterais
alterado de novo na situação em que estávamos nos fins do período colonial e ao
(irmâos, uos e sobrinhos); os parentes por afinidade civil (genros e cunhados); os
penetrarmos o novo ciclo da Independência Estes senhores rurais- até então dt persos
parentes por afinidade religiosa (os "compadres" e "afilhados"); os parentes ~r
e autônomos, na sua condição de pequenos autarcas - mostravam-se agora juntos e
adoção (os "cnas" da casa senhorial e, sem dúvida, os "moleques mimosos" de Antoml
arregimentados: desaparecera a sua antiga dispersão, a sua antiga desconexlo e Isola-
c \'i lhe na. ••
mento. Eles, que viviam até então dissociados e autônomos- e só ocasionalmente
reunidos em grupos parentais para fins de autodefesa dominical ou pessoal -estão
t Jm sistema complexo de deveres e normas une e dá solidez ao clã paren~: agora solidarizados em dois grupos maciços, cada um deles com um chefe osten •vo,
obrigações de solicJariedade, responsabilidade coletiva, proteção e assistência com governo e autoridade em todo o municfpio e a cujo mando todos obedecem. Este
recíproca. chefe ostensivo é um agente unificador local: é o garante da unidade do comportamen·
to dos clãs agremiados num destes Gols grupos sociais. niD exist~nu.s alllol~ndario~~:~
As condições da colonização favoreceram a constituição dessa~
Renunciando à velhaind.ependenc' velha combatiVI'dadeehelhams 1 """"" tal
familiar específica: as necessidades de defesa comum em meio in6sptto, a .. _.,_ andoapnnu'üvasobdarledadeparen e
dos séculos colonuus, talvez mesmo uJUUX l6b de
feudal estão todos unidos agora debaixo de uma legenda. de um aro. uma
• rvado Ubtrau u
bandeira, que até entio nio arvoravam: são Conse ru ou
• lbul 06
.. ll>ld p ll2 " lbid., pp. 244-245 .
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!NS11/'UIÇ6tS Nll.fTICAS BRASILEIRAS
a:e.:!::
:: lbid., p. 27S. . como Moisda orp.alz.ou suu
lbli p 53 O autor toma a expressao do passagem da Bibl1a mf'elento liiiiDCUll
lb11 , pp 260-261 hastes: "E escolheu Moi~ bOIIICIIS capazes de todo o lslld, c 01 plls por cabeças
lnaionas de mil, maiorias de cento, maiorias de çiDqllcllta c malorlu cro dez. Chama
302 i(IJ
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!NS11/'UIÇ6tS Nll.fTICAS BRASILEIRAS
a:e.:!::
:: lbid., p. 27S. . como Moisda orp.alz.ou suu
lbli p 53 O autor toma a expressao do passagem da Bibl1a mf'elento liiiiDCUll
lb11 , pp 260-261 hastes: "E escolheu Moi~ bOIIICIIS capazes de todo o lslld, c 01 plls por cabeças
lnaionas de mil, maiorias de cento, maiorias de çiDqllcllta c malorlu cro dez. Chama
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MAJIIA HUPAf ; rA TAVA~F.'. IJL AI Mfl 1\
fNI(/fli/Çf,fS J'(Jf)Tf( AS IJRASfU:ffiA.~
rarm:ntc abandonada. A elite dos "homens de 1.000" forma-se apesar das transformação do Brasil em nação plenamente constítuídil nMJ é. afín 1. ( ,,
todo impossível. Mas requer que se di~cutam as condiçõe!i de éxJtr) d<~ política
instituições e da cultura política herdadas do período colonial. Ela é produto du
mérito individual de seus componentes c da vontade de um imperador eMadi~
transformadora. É disso que tratam a .segunda e terceira parte de In r1tw-
ta, que soube selecionar os melhores e dar-lhes um papel permanente na po]í. ções políticas brasileiras, chamadas "Metodologia do drreito p íbltco • c
"Tecnologia das reformas".
tica nacional.
Dua~ c.tusa~ pcmnuram a formação desta elite admirável: L•. a gestação no seio do
povo _ por força de hered1tanedades eugêmcas combmadas - de individualidades IDEALISMO DAS ELITES E SUAS ALTER ATIVAS
upworl!s, dotadas orgamcamente. constitucionalmente de espfrito público e de
e~pírito de serv1ço"; 2• o mecanismo seletivo que o império organizou, permitmdo "Metodologia do direito público" retoma o tema do hiato entre o país legal
a fixação destes homens superiores no serv1ço permanente do país.n e 0 país real pelo ângulo da crítica à visão jurisdicista dos problemas da orga-
nização política brasileira. Duas são as características do que o autor chamará
Três foram os instrumentos de seleção: o Ministério, onde se testavam as de idealismo jurídico. A primeira é acreditar no poder transformador do direi-
qualidade~ dos líderes políticos, o Senado e o Conselho de Estado. Por serem to-lei. A segunda é crer na viabilidade de transpor instituições de uma ocieda-
vrtal ícios. o cargos de senador e conselheiro permitiam a estabilização da elite de a outra por meio da replicação de seus dispositivos constitucionais.
dirigente. Nos três casos, o discernimento do imperador- e não o sufrágio_ O idealismo utópico é o traço marcante das elites de juristas e legislado-
determinava a escolha. A seleção pelo método eleitoral nunca daria o mesmo res que fizeram as constituições brasileiras de 1824. 1891 e. também, de 1934
rcsultJdo: não poderia senão criar um corpo de representantes que espelhasse
e de 1946. Essas elites
a cultura do povo-massa, o espírito de clã, o personalismo e o privatismo.
A construção de uma elite verdadeiramente nacional foi interrompida (... ]estavam e estão ainda nesse estado de espfrito um tanto místico, em que a norma
pela república. Ela eliminou o Poder Moderador e com ele a possibilidade de escrita é tudo e pode levar a tudo. Parecem conduzu-se como se a lei do E rado
existir uma instâncta situada acima dos partidos e das miúdas disputas de clãs possuísse um dom misterioso, uma esptcie de poder mágico e radiante. capaz de
que encarnavam. A república colocou o mecanismo eleitoral no centro da vida atuar sobre os homens- como na fé dos crentes. os esconJuros dos fetticerros, desde
que acompanhados de certas palavras cabalfsticas. Se puserem no texto da le1. por
política. Ao fazê- 1o abriu as comportas para o povo-massa, para o predomínio
exemplo, a palavra Liberdade (com L grande) -logo a liberdade se estabelecerá no
do direito público costumeiro, realidade muito mais forte do que os dispositivos
costumes e na sociedade. Se, em vez da palavra Liberdade, puserem a pala\'ra Igual·
da Constituição liberal de 1891. O país tornou-se prisioneiro de seu passado: dade (com I grande)- a igualdade se instalará logo entre os homens. E tudo só o:
"E a república tem sido o predomínio dos homens de 100 e dos homens de !O exclusivamente pela virtude mesma da lei escnta. devidamente promulgada. de acordo
-todos pen ·,mdo regionalisticamente ou, mesmo, municipalisticamente, ten· com os ritos preestabelecidos. Daí seu empenho em fazerem Constituições modela·
do da consciência nacional apenas a antiga imagem residual, deixada pelo im· res e progressistas, bem redigidazinhas em vernáculo e promulgadas em nome do
pério". 18 Povo c de Deus."
Para Oliveira Viana, uma elite de indivíduos excepcionais e um dirigente
d_otado da con ciência nacional que falta ao povo parecem ser, assim, necessá· O idealismo utópico trata os fatos da política do ângulo exclusivo da nor-
nos para que o país escape ao destino ao qual o condenara sua história. A ma jurídica, da lei escrita, estudlmdo-a com a ''metodologia dialética", na qual
0 que importa é a coerência interna do sistema de regras abstratas e não sua
'" metnhros das elites municipais. de "homens de 100" os membros das elites estadUaiS
(li pp 3'l326)
,. 11"dPl' ~~8·129
lbtd p J r,, " Instituições polfticas brasUtiras, cit., v 2, p. 28.
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MAJIIA HUPAf ; rA TAVA~F.'. IJL AI Mfl 1\
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rarm:ntc abandonada. A elite dos "homens de 1.000" forma-se apesar das transformação do Brasil em nação plenamente constítuídil nMJ é. afín 1. ( ,,
todo impossível. Mas requer que se di~cutam as condiçõe!i de éxJtr) d<~ política
instituições e da cultura política herdadas do período colonial. Ela é produto du
mérito individual de seus componentes c da vontade de um imperador eMadi~
transformadora. É disso que tratam a .segunda e terceira parte de In r1tw-
ta, que soube selecionar os melhores e dar-lhes um papel permanente na po]í. ções políticas brasileiras, chamadas "Metodologia do drreito p íbltco • c
"Tecnologia das reformas".
tica nacional.
Dua~ c.tusa~ pcmnuram a formação desta elite admirável: L•. a gestação no seio do
povo _ por força de hered1tanedades eugêmcas combmadas - de individualidades IDEALISMO DAS ELITES E SUAS ALTER ATIVAS
upworl!s, dotadas orgamcamente. constitucionalmente de espfrito público e de
e~pírito de serv1ço"; 2• o mecanismo seletivo que o império organizou, permitmdo "Metodologia do direito público" retoma o tema do hiato entre o país legal
a fixação destes homens superiores no serv1ço permanente do país.n e 0 país real pelo ângulo da crítica à visão jurisdicista dos problemas da orga-
nização política brasileira. Duas são as características do que o autor chamará
Três foram os instrumentos de seleção: o Ministério, onde se testavam as de idealismo jurídico. A primeira é acreditar no poder transformador do direi-
qualidade~ dos líderes políticos, o Senado e o Conselho de Estado. Por serem to-lei. A segunda é crer na viabilidade de transpor instituições de uma ocieda-
vrtal ícios. o cargos de senador e conselheiro permitiam a estabilização da elite de a outra por meio da replicação de seus dispositivos constitucionais.
dirigente. Nos três casos, o discernimento do imperador- e não o sufrágio_ O idealismo utópico é o traço marcante das elites de juristas e legislado-
determinava a escolha. A seleção pelo método eleitoral nunca daria o mesmo res que fizeram as constituições brasileiras de 1824. 1891 e. também, de 1934
rcsultJdo: não poderia senão criar um corpo de representantes que espelhasse
e de 1946. Essas elites
a cultura do povo-massa, o espírito de clã, o personalismo e o privatismo.
A construção de uma elite verdadeiramente nacional foi interrompida (... ]estavam e estão ainda nesse estado de espfrito um tanto místico, em que a norma
pela república. Ela eliminou o Poder Moderador e com ele a possibilidade de escrita é tudo e pode levar a tudo. Parecem conduzu-se como se a lei do E rado
existir uma instâncta situada acima dos partidos e das miúdas disputas de clãs possuísse um dom misterioso, uma esptcie de poder mágico e radiante. capaz de
que encarnavam. A república colocou o mecanismo eleitoral no centro da vida atuar sobre os homens- como na fé dos crentes. os esconJuros dos fetticerros, desde
que acompanhados de certas palavras cabalfsticas. Se puserem no texto da le1. por
política. Ao fazê- 1o abriu as comportas para o povo-massa, para o predomínio
exemplo, a palavra Liberdade (com L grande) -logo a liberdade se estabelecerá no
do direito público costumeiro, realidade muito mais forte do que os dispositivos
costumes e na sociedade. Se, em vez da palavra Liberdade, puserem a pala\'ra Igual·
da Constituição liberal de 1891. O país tornou-se prisioneiro de seu passado: dade (com I grande)- a igualdade se instalará logo entre os homens. E tudo só o:
"E a república tem sido o predomínio dos homens de 100 e dos homens de !O exclusivamente pela virtude mesma da lei escnta. devidamente promulgada. de acordo
-todos pen ·,mdo regionalisticamente ou, mesmo, municipalisticamente, ten· com os ritos preestabelecidos. Daí seu empenho em fazerem Constituições modela·
do da consciência nacional apenas a antiga imagem residual, deixada pelo im· res e progressistas, bem redigidazinhas em vernáculo e promulgadas em nome do
pério". 18 Povo c de Deus."
Para Oliveira Viana, uma elite de indivíduos excepcionais e um dirigente
d_otado da con ciência nacional que falta ao povo parecem ser, assim, necessá· O idealismo utópico trata os fatos da política do ângulo exclusivo da nor-
nos para que o país escape ao destino ao qual o condenara sua história. A ma jurídica, da lei escrita, estudlmdo-a com a ''metodologia dialética", na qual
0 que importa é a coerência interna do sistema de regras abstratas e não sua
'" metnhros das elites municipais. de "homens de 100" os membros das elites estadUaiS
(li pp 3'l326)
,. 11"dPl' ~~8·129
lbtd p J r,, " Instituições polfticas brasUtiras, cit., v 2, p. 28.
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ç ES POL 7CA5 BR SILEIR.4S ~1ARI,>. HER !Í. IA TA\ARES DE L\fEID ....
. to'p'coé expre s-o de um fenômeno social tipicodos Pai e colha dos chefes do executivo nos e tados e na t"ntão; as campanha deito-
o de tsrr: · .
. m-rginalismo da e ite_ Os homens de ehte são marginais
0
rais: enfim. todas as instituições tomadas de empréstimo à Inglarerra ou aos
mec:. em que .. \ i't'em todos eles entre . duas culturas: uma .. - a do seu Po> o. Estados Unidos e que pouco teriam a \'er com as Yerdadeiras in tituições polí-
.- ubcon ciente oletl\O; outra- a europew ou norte-amer,· ticas nacionais. Positivos- e, por conseguinte. dignos da eternidade- e riam o
q e I es l' mu 0 . . . ·
ue lhe dá 5 idéias. as dlTetnzes do pensamento, os paradtgmas cons. regime presidencialista, que importava no reconhecimenro da neces idade de
catw, q li . " JJ O 'd 1' • . urn pcxler central forte; sua defesa do primado do poder judiciário, com compe-
• • • ,.n'te'rio dej'ulaarnento po uco . 1 ea 1smo utoptco denunc1·a
Utu I nJJ • 05 ~ "' • . .
ma espécie de ccmplexo de inferiondade naciOnal das_ehte: fre.nte aos países tência revisora dos atos do legislativo e do exe{:uti vo. e a defesa das liberdade.
mais de n\ o]\ idos .. fas. ao mesmo tempo. atesta sua tgnorancta das real ida. individuais e civis.
des do p ís e a forma. equi\ocada e li~ta_d~. com.o abo~dam o direito, toman. À metodologia clássica ou dialética do direito público de Rui Barbosa.
do-o como um çistema de normas e pnnc1ptos umversats e abstratos. Oliveira Viana contrapõe a metodologia objetiva e realista de Alberto Torre e
oJ 1veira Viana apresenta Rui Barbosa como paradigma do espírito jurídi. seu próprio método sociológico. A Alberto Torres atribui o mérito de discutir
co pre\alecente no império e na república e a expressão mais elevada do os problemas da organização política do país à luz da indagação sobre a reali-
idealismo utópico e do marginalismo. A "mentalidade anglo-saxã" e o fato de dade brasileira no que tinha de específico, porque resultante da sua e\ olução
pertencer a duas épocas políticas - o império e a república - fizeram dele 0 histórica. E, especialmente, a disposição de pensar os problemas de organiza-
protótipo do intelectual e jurista "marginal", que acreditava ser a moderniza- ção política subordinados à meta de unidade nacional.
ção do país apenas uma questão de boa arquitetura constitucional.
Em Rui Barbosa o autor crítica o formalismo jurisdicista- o bacharelismo, Torres, portanto, reacordou o sentido nacionalista da nossa e:ustêncJa e. com a sua
doutrina, restaurou -para a vida política do país, para as suas ehtes dJrigcntes. nas
como se convencionou dizer-. o desconhecimento do Brasil real e o que cha-
suas expressões mais representativas- a consciência da nacionalidade. o sentimento
ma de u:Jfusão entre os meios da sua tecnologia e os fins de sua ideologia, ou dominante da pãtria comum 2o
seJa. a crença de que uma nação civilizada só poderia atingir suas metas ("go-
verno do pü\O, liberdades civis e políticas, administração local, ordem pública, Pensador social mais do que sociólogo, faltaram a Torres os instrumemos
paz social, progresso, grandeza nacional") pelos métodos que a tradição anglo- das ciências sociais que lhe teriam permitido transformar suas intuições em
saxã con agrara ("democracia, sufrágio universal, partidos políticos, suprema- conhecimento empírico da realidade sociocultural do país. Esta requeria estu-
cia do parlamento. separação de poderes, executivo controlado e dependente, dar o direito público com a metodologia sociológica e essa é a contribuição
etc "J. inovadora que Oliveira Viana atribui a sua própria obra, na qual destaca Popu-
Na verdade, Rui Barbosa seria uma espécie de prisioneiro das limitações lações meridionais do Brasil. O método sociológico é o que lhe teria permi-
intelectuais de sua época: o incipiente conhecimento do Brasil profundo e de tido desvendar a verdade íntima das instituições políticas do direito costumeiro
seu povo; o embrionário desenvolvimento das ciências sociais e da ciência do povo-massa. bem como escancarar seu desacordo com os dispositivos cons-
política; e, em particular, o predomínio de uma visão formalista do direito que titucionais que o marginalismo jurídico tomara emprestado às nações mais avan-
favorecia aquela confusão entre o propósito de construção de uma nação mo- çadas.
de ma e os meios de realizá-lo. A refonna política possfvel)lão seria. portanto, aquela que se limitasse a
Presa de suas circunstãncias, a obra política de Rui Barbosa não era. impor modelos estrangeiros a uma sociedade que lhes era estranha e hostil. A
porém, de todo equivocada ou descartável. Nela haveria o perecível e o eter· verdadeira reforma política teria que partir do direito costumeiro. Deveria re-
no. Indignos de sobreviver seriam a federação e o federalismo; a magistratura conhecer que é um processo demorado e difícil de mudança cultural, de trans-
dupla - federal e estadual; o sistema de partidos; o sufrágio universal para formação de comportamentos, crenças e normas seculares. E exigiria, além
11
TI>!/ p 19. " lbid., p. 71.
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ç ES POL 7CA5 BR SILEIR.4S ~1ARI,>. HER !Í. IA TA\ARES DE L\fEID ....
. to'p'coé expre s-o de um fenômeno social tipicodos Pai e colha dos chefes do executivo nos e tados e na t"ntão; as campanha deito-
o de tsrr: · .
. m-rginalismo da e ite_ Os homens de ehte são marginais
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rais: enfim. todas as instituições tomadas de empréstimo à Inglarerra ou aos
mec:. em que .. \ i't'em todos eles entre . duas culturas: uma .. - a do seu Po> o. Estados Unidos e que pouco teriam a \'er com as Yerdadeiras in tituições polí-
.- ubcon ciente oletl\O; outra- a europew ou norte-amer,· ticas nacionais. Positivos- e, por conseguinte. dignos da eternidade- e riam o
q e I es l' mu 0 . . . ·
ue lhe dá 5 idéias. as dlTetnzes do pensamento, os paradtgmas cons. regime presidencialista, que importava no reconhecimenro da neces idade de
catw, q li . " JJ O 'd 1' • . urn pcxler central forte; sua defesa do primado do poder judiciário, com compe-
• • • ,.n'te'rio dej'ulaarnento po uco . 1 ea 1smo utoptco denunc1·a
Utu I nJJ • 05 ~ "' • . .
ma espécie de ccmplexo de inferiondade naciOnal das_ehte: fre.nte aos países tência revisora dos atos do legislativo e do exe{:uti vo. e a defesa das liberdade.
mais de n\ o]\ idos .. fas. ao mesmo tempo. atesta sua tgnorancta das real ida. individuais e civis.
des do p ís e a forma. equi\ocada e li~ta_d~. com.o abo~dam o direito, toman. À metodologia clássica ou dialética do direito público de Rui Barbosa.
do-o como um çistema de normas e pnnc1ptos umversats e abstratos. Oliveira Viana contrapõe a metodologia objetiva e realista de Alberto Torre e
oJ 1veira Viana apresenta Rui Barbosa como paradigma do espírito jurídi. seu próprio método sociológico. A Alberto Torres atribui o mérito de discutir
co pre\alecente no império e na república e a expressão mais elevada do os problemas da organização política do país à luz da indagação sobre a reali-
idealismo utópico e do marginalismo. A "mentalidade anglo-saxã" e o fato de dade brasileira no que tinha de específico, porque resultante da sua e\ olução
pertencer a duas épocas políticas - o império e a república - fizeram dele 0 histórica. E, especialmente, a disposição de pensar os problemas de organiza-
protótipo do intelectual e jurista "marginal", que acreditava ser a moderniza- ção política subordinados à meta de unidade nacional.
ção do país apenas uma questão de boa arquitetura constitucional.
Em Rui Barbosa o autor crítica o formalismo jurisdicista- o bacharelismo, Torres, portanto, reacordou o sentido nacionalista da nossa e:ustêncJa e. com a sua
doutrina, restaurou -para a vida política do país, para as suas ehtes dJrigcntes. nas
como se convencionou dizer-. o desconhecimento do Brasil real e o que cha-
suas expressões mais representativas- a consciência da nacionalidade. o sentimento
ma de u:Jfusão entre os meios da sua tecnologia e os fins de sua ideologia, ou dominante da pãtria comum 2o
seJa. a crença de que uma nação civilizada só poderia atingir suas metas ("go-
verno do pü\O, liberdades civis e políticas, administração local, ordem pública, Pensador social mais do que sociólogo, faltaram a Torres os instrumemos
paz social, progresso, grandeza nacional") pelos métodos que a tradição anglo- das ciências sociais que lhe teriam permitido transformar suas intuições em
saxã con agrara ("democracia, sufrágio universal, partidos políticos, suprema- conhecimento empírico da realidade sociocultural do país. Esta requeria estu-
cia do parlamento. separação de poderes, executivo controlado e dependente, dar o direito público com a metodologia sociológica e essa é a contribuição
etc "J. inovadora que Oliveira Viana atribui a sua própria obra, na qual destaca Popu-
Na verdade, Rui Barbosa seria uma espécie de prisioneiro das limitações lações meridionais do Brasil. O método sociológico é o que lhe teria permi-
intelectuais de sua época: o incipiente conhecimento do Brasil profundo e de tido desvendar a verdade íntima das instituições políticas do direito costumeiro
seu povo; o embrionário desenvolvimento das ciências sociais e da ciência do povo-massa. bem como escancarar seu desacordo com os dispositivos cons-
política; e, em particular, o predomínio de uma visão formalista do direito que titucionais que o marginalismo jurídico tomara emprestado às nações mais avan-
favorecia aquela confusão entre o propósito de construção de uma nação mo- çadas.
de ma e os meios de realizá-lo. A refonna política possfvel)lão seria. portanto, aquela que se limitasse a
Presa de suas circunstãncias, a obra política de Rui Barbosa não era. impor modelos estrangeiros a uma sociedade que lhes era estranha e hostil. A
porém, de todo equivocada ou descartável. Nela haveria o perecível e o eter· verdadeira reforma política teria que partir do direito costumeiro. Deveria re-
no. Indignos de sobreviver seriam a federação e o federalismo; a magistratura conhecer que é um processo demorado e difícil de mudança cultural, de trans-
dupla - federal e estadual; o sistema de partidos; o sufrágio universal para formação de comportamentos, crenças e normas seculares. E exigiria, além
11
TI>!/ p 19. " lbid., p. 71.
306 197
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JN\/IJI//I,rJ/·.1' J'tiJIIJ( 'JIS 11/MS/U/1/AS
Ç• '
( r) ode &cr necessária.
No en tauto, mc.~ rno a técnica autr,ritána tern cu, htnltc•. D1 <. 1111
Os nots t'AMINIIOS DA I!I ·H>I!MA c.xpcrif:nda da Rú~<,Ía ~>ovit:rica, ca·.o exempl:u dt• h;nUttÍw• rl• rcf •lln-J
técruca autoritária, Oliveira Viana <.:<mc luJ' ''() l·:.tad() Mnd •rn1, .srrr ·,rJ,, d
1 ~ 1 ,~ 11 , 1 0 B1as 11~oudt•nudo <tO atraso íntpObtO pelolegudo li<>c íoc ultural faculdades (; poderes exccpcíona i ~ que fllll> pti\',JlÍa (I I. lado Lihcral wxJ
d.,<'ohntii'IÇ•Jo' ,,hmt.htgt'lll ~·ulturalí~tu n. o comJuziria nccc~~ariamcntc à uuríto, M.:Jn dúvida; rna~ não pode tudc,. 1.. I Ciolpi .mc,cculturali\mr, ..u, r.;(, J a•
l'lllttln~.lo dt• qm• toJo cslorçotk mudança é vão e inóc uo? Nenhuma cultura contradit6ria~. A rea lidade scJ<.:ial cxhtc, <:i, o fali,· .lJ
c unut.ivt•l. 11:spondt• Olivcir.t Viana. As ~ocit•<.ladcs mudam cspoutancarncntc. P<utir da rea lidade scJ<.:ial é, a\\im, a regra de ouro par.s nt ·ntl ·r a;,
k~m 11110 Jl 1,1sil c possíwl dtsccrnir a knta dbsoluç; o dos complexos cuh u. car41 cter í,tica~o da organização política a que o paí~ pode rcali~Jtrcam •• · ·•·P'
r.ns p11·J1Hninantt•s Mas as mudan,:as cspont ilncas, cnd6gcnus, acrmtc~:cm rar. E~~c é o tema da última parte da obra, "Organizaçãr, da dcmocra
muito knt, 11 m·utc por meio de trunsformuçc cs ímpcrct.:ptfvcis da mgani1.ação Bra~il"
social t dos wmpk ·os ulturais que a define m. Esse tipo de mudança,
11wx 01 ,1vcl. Jntkpcndc da vontudt.: c das iniciativas dos age ntes ~oc i a i s; é urn
.no dJ vida dos povos. A DEMOCRACIA POSS[VK
Ao auto1 interessa discutir a outra modalidade de transformação social: a
mudança cxógcna. resultado da decisão consciente de mudar c que se matc-
naliz.l em um plano de rcfonnas de uma elite. um partido ou um "gênio políti- O erro dos nossos re formadores polfticos tem srdo querer rcal11ar aqur - nr1 m '''
co', posto em marcha por políticas de Estado. A mudança deliberada não é des&es nossos rudimentarismos de estrutura e de cultura polfu~a- uma dcmocrdOa de
impossível. mas não pode ignorar certas restrições objetivas e seus resultados tipo inglês. Porque sejam quais forem as combinações a arranjos con utucron;m que
serão sempre limitados. engenharem, seja qual for a pregação dos novos Ru1 do futuro, estare mo condcnadCJs
a jamais ser ingleses."
0:. reformador~~ devem ser capazes de distinguir o que na sociedade
pode ser modificado com facilidade; quais elementos da sua estrutura e cultura
A Inglaterra, argumenta Oliveira Viana, não conheceu o clã e os usos c
são permanentes c quais são de difíci l transformação. Em outros termos, o
costumes políticos que a ele se vinculam. Por essa razão, a democracia a
conhecimento da sociedade e de seus mecanismos íntimos de funcionamento é
inglesa não dispõe de mecanismos para lidar com essa instituição que domina
o ponto de partida obrigatório. Por isso, o conhecimento e o respeito "às leis da
a vida pública brasileira.
ciência socwl" 22 é condição necessária da eficiência do empreendimento
reformador. O desafio central da reforma política no Brasil é desenhar instituições
específicas capazes de neutralizar, ou pelo menos reduzir, por meio de um
Além do mais, há que escolher entre duas técnicas de reforma que a
sistema de freios e contrapesos, a influência adversa do espírito de clã. Criar
históna ensina: a litieral e a autoritária. No primeiro caso, espera-se que o povo
um ambiente hostil à cultura políti:a privatista, personalista e patrimonialista do
adira à mudança que a política governamental propõe e a execute esponta·
clã é condição prévia para a liberdade, democracia e progresso. Para ter ê ito,
neamente. em liberdade. No segundo, o Estado usa da coação para obrigar o
a reforma política, embora deva enfraquecer o complexo de clã, não pode
povo a mudar de conduta. A longa experiência de reformas no país parece
violentar a cultura e sentimentos do povo-massa, razão pela qual deve ser
indicat '" 1 autor que é mais difícil obter êxito por meio da técnica liberal. Na
308 309
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JN\/IJI//I,rJ/·.1' J'tiJIIJ( 'JIS 11/MS/U/1/AS
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técruca autoritária, Oliveira Viana <.:<mc luJ' ''() l·:.tad() Mnd •rn1, .srrr ·,rJ,, d
1 ~ 1 ,~ 11 , 1 0 B1as 11~oudt•nudo <tO atraso íntpObtO pelolegudo li<>c íoc ultural faculdades (; poderes exccpcíona i ~ que fllll> pti\',JlÍa (I I. lado Lihcral wxJ
d.,<'ohntii'IÇ•Jo' ,,hmt.htgt'lll ~·ulturalí~tu n. o comJuziria nccc~~ariamcntc à uuríto, M.:Jn dúvida; rna~ não pode tudc,. 1.. I Ciolpi .mc,cculturali\mr, ..u, r.;(, J a•
l'lllttln~.lo dt• qm• toJo cslorçotk mudança é vão e inóc uo? Nenhuma cultura contradit6ria~. A rea lidade scJ<.:ial cxhtc, <:i, o fali,· .lJ
c unut.ivt•l. 11:spondt• Olivcir.t Viana. As ~ocit•<.ladcs mudam cspoutancarncntc. P<utir da rea lidade scJ<.:ial é, a\\im, a regra de ouro par.s nt ·ntl ·r a;,
k~m 11110 Jl 1,1sil c possíwl dtsccrnir a knta dbsoluç; o dos complexos cuh u. car41 cter í,tica~o da organização política a que o paí~ pode rcali~Jtrcam •• · ·•·P'
r.ns p11·J1Hninantt•s Mas as mudan,:as cspont ilncas, cnd6gcnus, acrmtc~:cm rar. E~~c é o tema da última parte da obra, "Organizaçãr, da dcmocra
muito knt, 11 m·utc por meio de trunsformuçc cs ímpcrct.:ptfvcis da mgani1.ação Bra~il"
social t dos wmpk ·os ulturais que a define m. Esse tipo de mudança,
11wx 01 ,1vcl. Jntkpcndc da vontudt.: c das iniciativas dos age ntes ~oc i a i s; é urn
.no dJ vida dos povos. A DEMOCRACIA POSS[VK
Ao auto1 interessa discutir a outra modalidade de transformação social: a
mudança cxógcna. resultado da decisão consciente de mudar c que se matc-
naliz.l em um plano de rcfonnas de uma elite. um partido ou um "gênio políti- O erro dos nossos re formadores polfticos tem srdo querer rcal11ar aqur - nr1 m '''
co', posto em marcha por políticas de Estado. A mudança deliberada não é des&es nossos rudimentarismos de estrutura e de cultura polfu~a- uma dcmocrdOa de
impossível. mas não pode ignorar certas restrições objetivas e seus resultados tipo inglês. Porque sejam quais forem as combinações a arranjos con utucron;m que
serão sempre limitados. engenharem, seja qual for a pregação dos novos Ru1 do futuro, estare mo condcnadCJs
a jamais ser ingleses."
0:. reformador~~ devem ser capazes de distinguir o que na sociedade
pode ser modificado com facilidade; quais elementos da sua estrutura e cultura
A Inglaterra, argumenta Oliveira Viana, não conheceu o clã e os usos c
são permanentes c quais são de difíci l transformação. Em outros termos, o
costumes políticos que a ele se vinculam. Por essa razão, a democracia a
conhecimento da sociedade e de seus mecanismos íntimos de funcionamento é
inglesa não dispõe de mecanismos para lidar com essa instituição que domina
o ponto de partida obrigatório. Por isso, o conhecimento e o respeito "às leis da
a vida pública brasileira.
ciência socwl" 22 é condição necessária da eficiência do empreendimento
reformador. O desafio central da reforma política no Brasil é desenhar instituições
específicas capazes de neutralizar, ou pelo menos reduzir, por meio de um
Além do mais, há que escolher entre duas técnicas de reforma que a
sistema de freios e contrapesos, a influência adversa do espírito de clã. Criar
históna ensina: a litieral e a autoritária. No primeiro caso, espera-se que o povo
um ambiente hostil à cultura políti:a privatista, personalista e patrimonialista do
adira à mudança que a política governamental propõe e a execute esponta·
clã é condição prévia para a liberdade, democracia e progresso. Para ter ê ito,
neamente. em liberdade. No segundo, o Estado usa da coação para obrigar o
a reforma política, embora deva enfraquecer o complexo de clã, não pode
povo a mudar de conduta. A longa experiência de reformas no país parece
violentar a cultura e sentimentos do povo-massa, razão pela qual deve ser
indicat '" 1 autor que é mais difícil obter êxito por meio da técnica liberal. Na
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INSTITUIÇÕES POLfTICAS BRASILEIRAS
MA RI A HERMÍN IA TAVARES DE ALMEI A
gradat 1·,,ac e moderada. Não há de confiar na técnica liberal: precisa reco rrer a Em conseqüência, a, participação do povo na escolha dos governantes h,a
uma certa coação. . . . .
de ser restnngida. O sufragw um versal não constitui uma técnica adequada as
Partindo do reconhecimento da especificidade da organização s .
condições de um povo-massa destituído de educação democrática. Argumen-
cultura política e trajetória histórica do Brasil, Oliveira Viana desenha~tal,
~ d' - . . llla ta Viana:
'tgenda de mudanças que envo lve tres _Imensoes essenciais
c • 1•.
do sistema poru.
co: as estruturas do Estado e a sua relaçao com os partidos; os mecanismos de Em conclusão: o sufrágio universal e o sufrágio igual é amicientifico, quando aplicado
c colha dos governantes e as formas de garantia das liberdades civis S sistematicamente a nosso povo. Pela pluralidade de sua estrutura cultural e pela di ver-
preferência inequívoca é uma organização política nacionalmente centrali~adua sidade de sua estrutura ecológica, o nosso povo está exigmdo também uma pluralidade
com um executivo forte e liberto da influência do parlamento e dos partid a, de sistemas eleitorais ou, mais exatamente - uma pluralrdadc de eleitorados :11
os.
Na medida em que esses seriam . a forma . moderna de expressão dos clãs , "a
despartidarização do executivo e a subestimação da importância dos políticos Diferentes franquias eleitorais para a escolha dos representantes no
[representam] a primeira atitude sensata que devemos tomar na obra longa e legislativo e no executivo, diferentes requisitos para aceder ao direito de voto e
delicada de desintegração deste complexo da política e dos partidos, que nos ao direito de apresentar-se como candidato, e a diferenciação dos corpos elei-
vem embaraçando a existência desde o império". 25 torais segundo o desenvolvimento das regiões- eis as propostas que o autor
A descentralização política, por meio do municipalismo ou do federalis- considera adequadas às condições do Brasil real. Todavia, o grande problema
mo, é condenada, pois significa reforçar o que se quer combater: o rnandonismo da democracia brasileira, diz Oliveira Viana, não é a extensão universal do
o coronelismo. enfi m, todas as formas de manifestação do complexo de clã. A direito de voto, mas a garantia das liberdades civis e individuais:
organização federativa brasileira, ademais, teria a desvantagem de tratar da
Reconhecer, assegurar e organizar a defesa efetiva das hberdades ci ~ rs do povo-massa
mesma maneira regiões imensamente desiguais do ponto de vista econômico e
há de ser o nosso primeiro trabalho- se sonhamos dar v1da e realidade à democracra
sociocultural. A uniformidade do modelo federativo deveria dar lugar a uma no Brasil. É este o meio principal, e talvez o único, que temos para desrntegrar os
estrutura de autonnmias desiguais, em função das condições concretas de cada nossos dois formidáveis e velhos complexos - o do "feudo" e o do ''clã'' - que
unidade, a exemplo do modelo de capitanias do período colonial. nasceram e se desenvolveram justamente em conseqüência do regime quadnssecular
Adequada à Inglaterra, no Brasil a autonomia municipal é um mal a com- de desgarantias dessas liberdades privadas, em que tem vivido nosso po~o-rnassa
desde o primeiro século.21
bater. A desconcentração administrativa deve andar de mãos dadas com a
centralização decisória no executivo federal, cerceando o espaço, por exce-
Assim, as reformas do sistema judiciário e da estrutura da polícia são
lência. ao floresci mento dos clãs. O objetivo é mais realista do que a inatingível
trazidas para o centro das mudanças institucionais que Oliveira Viana conside-
eliminação das oligarquias:
ra necessárias. Elas requerem a criação de um sistema de justiça federal e de
O nosso grande problema, como já disse alhures, não é acabar com as oligarquias;~
uma polícia também federal e de carreira, subtraindo-as do controle político
transformá-las, faze ndo-as passar de sua atual condição de oligarquias broncas para dos potentados locais. Requerem, sobretudo, o primado do Poder Judiciário em
uma nova condição- de oligarquias esclarecidas. Estas oligarquias esclarecidas seriam todo o território nacional. Ao contrário do que imaginam as elites, a liberdade
então, realmente, a ex pressão da única forma de democracia possível no Brasil; por- política, expressa no direito de voto, não é garantia das liberdades civis. Ape-
que realizada na sua forma genuína, isto é, no sentido ateniense - do governo dos nas sobre a garantia viva dos dtreitos do cidadão é possível assentar uma de-
mellrores.'6
mocracia digna do seu nome. Essa foi a lição da Inglaterra que as elites
marginalistas, anglófilas, nunca aprenderam:
3/0 3IJ
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INSTITUIÇÕES POLfTICAS BRASILEIRAS
MA RI A HERMÍN IA TAVARES DE ALMEI A
gradat 1·,,ac e moderada. Não há de confiar na técnica liberal: precisa reco rrer a Em conseqüência, a, participação do povo na escolha dos governantes h,a
uma certa coação. . . . .
de ser restnngida. O sufragw um versal não constitui uma técnica adequada as
Partindo do reconhecimento da especificidade da organização s .
condições de um povo-massa destituído de educação democrática. Argumen-
cultura política e trajetória histórica do Brasil, Oliveira Viana desenha~tal,
~ d' - . . llla ta Viana:
'tgenda de mudanças que envo lve tres _Imensoes essenciais
c • 1•.
do sistema poru.
co: as estruturas do Estado e a sua relaçao com os partidos; os mecanismos de Em conclusão: o sufrágio universal e o sufrágio igual é amicientifico, quando aplicado
c colha dos governantes e as formas de garantia das liberdades civis S sistematicamente a nosso povo. Pela pluralidade de sua estrutura cultural e pela di ver-
preferência inequívoca é uma organização política nacionalmente centrali~adua sidade de sua estrutura ecológica, o nosso povo está exigmdo também uma pluralidade
com um executivo forte e liberto da influência do parlamento e dos partid a, de sistemas eleitorais ou, mais exatamente - uma pluralrdadc de eleitorados :11
os.
Na medida em que esses seriam . a forma . moderna de expressão dos clãs , "a
despartidarização do executivo e a subestimação da importância dos políticos Diferentes franquias eleitorais para a escolha dos representantes no
[representam] a primeira atitude sensata que devemos tomar na obra longa e legislativo e no executivo, diferentes requisitos para aceder ao direito de voto e
delicada de desintegração deste complexo da política e dos partidos, que nos ao direito de apresentar-se como candidato, e a diferenciação dos corpos elei-
vem embaraçando a existência desde o império". 25 torais segundo o desenvolvimento das regiões- eis as propostas que o autor
A descentralização política, por meio do municipalismo ou do federalis- considera adequadas às condições do Brasil real. Todavia, o grande problema
mo, é condenada, pois significa reforçar o que se quer combater: o rnandonismo da democracia brasileira, diz Oliveira Viana, não é a extensão universal do
o coronelismo. enfi m, todas as formas de manifestação do complexo de clã. A direito de voto, mas a garantia das liberdades civis e individuais:
organização federativa brasileira, ademais, teria a desvantagem de tratar da
Reconhecer, assegurar e organizar a defesa efetiva das hberdades ci ~ rs do povo-massa
mesma maneira regiões imensamente desiguais do ponto de vista econômico e
há de ser o nosso primeiro trabalho- se sonhamos dar v1da e realidade à democracra
sociocultural. A uniformidade do modelo federativo deveria dar lugar a uma no Brasil. É este o meio principal, e talvez o único, que temos para desrntegrar os
estrutura de autonnmias desiguais, em função das condições concretas de cada nossos dois formidáveis e velhos complexos - o do "feudo" e o do ''clã'' - que
unidade, a exemplo do modelo de capitanias do período colonial. nasceram e se desenvolveram justamente em conseqüência do regime quadnssecular
Adequada à Inglaterra, no Brasil a autonomia municipal é um mal a com- de desgarantias dessas liberdades privadas, em que tem vivido nosso po~o-rnassa
desde o primeiro século.21
bater. A desconcentração administrativa deve andar de mãos dadas com a
centralização decisória no executivo federal, cerceando o espaço, por exce-
Assim, as reformas do sistema judiciário e da estrutura da polícia são
lência. ao floresci mento dos clãs. O objetivo é mais realista do que a inatingível
trazidas para o centro das mudanças institucionais que Oliveira Viana conside-
eliminação das oligarquias:
ra necessárias. Elas requerem a criação de um sistema de justiça federal e de
O nosso grande problema, como já disse alhures, não é acabar com as oligarquias;~
uma polícia também federal e de carreira, subtraindo-as do controle político
transformá-las, faze ndo-as passar de sua atual condição de oligarquias broncas para dos potentados locais. Requerem, sobretudo, o primado do Poder Judiciário em
uma nova condição- de oligarquias esclarecidas. Estas oligarquias esclarecidas seriam todo o território nacional. Ao contrário do que imaginam as elites, a liberdade
então, realmente, a ex pressão da única forma de democracia possível no Brasil; por- política, expressa no direito de voto, não é garantia das liberdades civis. Ape-
que realizada na sua forma genuína, isto é, no sentido ateniense - do governo dos nas sobre a garantia viva dos dtreitos do cidadão é possível assentar uma de-
mellrores.'6
mocracia digna do seu nome. Essa foi a lição da Inglaterra que as elites
marginalistas, anglófilas, nunca aprenderam:
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. 1\Rl H'' \ 111-\T \\\RI''Il \L\11
TOTA BIOGRÁFICA
/1 d p 17~
312 JIJ
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. 1\Rl H'' \ 111-\T \\\RI''Il \L\11
TOTA BIOGRÁFICA
/1 d p 17~
312 JIJ
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C ELSO FURTADO
Francisco de Oliveira
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C ELSO FURTADO
Francisco de Oliveira
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REsUMO BIOGRÁFICO
317
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REsUMO BIOGRÁFICO
317
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!-OHMAÇÃO ECONOMICA IJO BRASil, FRANCISCO DE OLIVEIRA
· r ·. obstáculo ao desenvolvimento e reiteração do subdesenvolv·_ historiografia brasileira também é notável: desde Capistrano de Abreu, figura
thnlna pen,ena. 1
maior do século XIX, passando por Roberto Simonsen. líder industrial mais
' t't • n a base sobre a qual se assenta o trabalho de Celso Furtad
mt.:nto, cons 1uc1 o importante de São Paulo nas décadas de 30 e 40 e historiador com obra impor-
e seu livro clássico.
Antonio Candido de Mello e Souza, fundador, entre outros, da moderna tante, História econômica do Brasil. Caio Prado Jr. está presente na tese de
teoria lttcrária brasileira, chamou o trio ~e autores da décad~ de 30, Gilberto doutoramento, embora não seja citado em Fomwção. Mas ua influêncta so-
Freire, Sérgio Buarque de Holanda e Cato Prado Jr., de demmrgos do Brasil, bre Celso Furtado é transparente, para quem conhece e compara os trabalhos
no sentido de que elaboraram interpretações que moldaram, definitivamente, dos dois autores. Gilberto Freire, com sua rica interpretação da sociedade pa-
nns ,1 maneira de compreender a formação da sociedade, do Estado e da na- triarcal em Casa-grande & senzala, também influiu, sendo citado na tese de
ç 10 • com suas formas sociais. econômicas, po~ítica~ e_ culturais, com seus es- doutoramento, desaparecendo em Fonnação.
tigmas e modos de relacionamento que nos tmpnmuam um selo especial. A herança recebida da ampla literatura internacional de economia e ciên-
Representações do país que se tomaram insubstituíveis para quem quiser ter cias humanas, compreendidas nestas a filosofia, a sociologia, a ciência política, a
acesso aos signi fi cados da sociedade brasileira. São teorias da especificidade, antropologia e as ciências da cultura- Celso Furtado deu, sempre, especial aten-
da <tutoconstrução. ct.:rtamentc tensionada pelo mundo em volta, pelo capitalis- ção à autonomia da cultura nos amplos processos formadores da civilização-, é
mo mundtal que foi, na sua expansão mercantil. o próprio fundador das colô- rica e variada. Comparece, em primeiro lugar, na própria obra da Cepa!, na qual
n1as. Processos conlraditórios, e portanto não passivos: concede-se lugar central já haviam sido filtradas várias heranças teóricas, recuperadas numa construção
ao sujeito sociais, econômicos, políticos e culturais internos e à encenação originalíssima. Com Karl Manheim, um sociólogo importante dos anos 40, Celso
q11 e faze m de si mesmos, como formas de sua ideologia. Celso Furtado junta- Furtado tem reconhecido uma enorme dívida teórica e humanística, em sua in is-
~ . com jusuça, a esse seleto grupo - ao qual, de resto, também pertence o tência sobre as possibilidades racionais e democráticas da escolha e do planeJa-
próprio Antonio Candido com seu Formação da literatura brasileira- atuali- mento, embora Manheim não compareça na bibliografia do livro. Max Weber. o
zando. rcnoYtmdo, marcando as rupturas, sobretudo porque ele apanha o inten- gigante das modernas ciências sociais, também deu sua contribuição à formação
~o proces o dt: 111dustrialização que se acelera a partir da Revolução de 30. de Furtado, não apenas pela via mannheimiaoa, mas pela teorização dos procc •
!'Jn o ~rro ou o acerto. boa parte da política econômica brasileira nas últimas sos de racionalização e da formação da burocracia, importantes para a compre-
qu.ttro déca -o li no c de 1959 - é uma di cus ão em tomo de suas fonnu- ensão dos processos decisórios e dos níveis de fonnalização hierárquicos na
l.l õe hi tória. A influência de Karl Marx, o fundador do marxismo, é patente em Celso
Furtado e no seu livro, embora também sem citação. A junção não ju taposta,
não mecânica, não simplista entre teoria e história é amai importante c ntnbUI-
ção silenciosa de Marx na obra de Furtado. Recentemente, c te tem re sallad
e sa dívida. Mas, sem dúvida, a contribuição mais marcante é a de John . 1aynard
Keyncs, o economista inglê que revolucionou a teoria econômica neste século
om sua obra A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. , hi t ria
econômica realizada por Furtado é, de certa maneira. uma releiturJ ke n iana
da hi tória bra ileira. A teoria de Keyne ajudou Furtad a de lindar, ~r em-
pio, .a autonomia do Estado ileiro para realizar a açoe interv nci nista
partir da Revolução de 30, bem como a ampliar o alcance das trJn foi1Tl3 ,-
econômicas do ciclo do café que ajudaram na criação do rçado mt m dt e-
renciando-o do anteriores ciclos da hi t' ria econômica nacional e a t
ke>~e .i:ma da demanda como núcleo do pr o ec ·nuco pi la q
po Slbthta operação interpretati L
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!-OHMAÇÃO ECONOMICA IJO BRASil, FRANCISCO DE OLIVEIRA
· r ·. obstáculo ao desenvolvimento e reiteração do subdesenvolv·_ historiografia brasileira também é notável: desde Capistrano de Abreu, figura
thnlna pen,ena. 1
maior do século XIX, passando por Roberto Simonsen. líder industrial mais
' t't • n a base sobre a qual se assenta o trabalho de Celso Furtad
mt.:nto, cons 1uc1 o importante de São Paulo nas décadas de 30 e 40 e historiador com obra impor-
e seu livro clássico.
Antonio Candido de Mello e Souza, fundador, entre outros, da moderna tante, História econômica do Brasil. Caio Prado Jr. está presente na tese de
teoria lttcrária brasileira, chamou o trio ~e autores da décad~ de 30, Gilberto doutoramento, embora não seja citado em Fomwção. Mas ua influêncta so-
Freire, Sérgio Buarque de Holanda e Cato Prado Jr., de demmrgos do Brasil, bre Celso Furtado é transparente, para quem conhece e compara os trabalhos
no sentido de que elaboraram interpretações que moldaram, definitivamente, dos dois autores. Gilberto Freire, com sua rica interpretação da sociedade pa-
nns ,1 maneira de compreender a formação da sociedade, do Estado e da na- triarcal em Casa-grande & senzala, também influiu, sendo citado na tese de
ç 10 • com suas formas sociais. econômicas, po~ítica~ e_ culturais, com seus es- doutoramento, desaparecendo em Fonnação.
tigmas e modos de relacionamento que nos tmpnmuam um selo especial. A herança recebida da ampla literatura internacional de economia e ciên-
Representações do país que se tomaram insubstituíveis para quem quiser ter cias humanas, compreendidas nestas a filosofia, a sociologia, a ciência política, a
acesso aos signi fi cados da sociedade brasileira. São teorias da especificidade, antropologia e as ciências da cultura- Celso Furtado deu, sempre, especial aten-
da <tutoconstrução. ct.:rtamentc tensionada pelo mundo em volta, pelo capitalis- ção à autonomia da cultura nos amplos processos formadores da civilização-, é
mo mundtal que foi, na sua expansão mercantil. o próprio fundador das colô- rica e variada. Comparece, em primeiro lugar, na própria obra da Cepa!, na qual
n1as. Processos conlraditórios, e portanto não passivos: concede-se lugar central já haviam sido filtradas várias heranças teóricas, recuperadas numa construção
ao sujeito sociais, econômicos, políticos e culturais internos e à encenação originalíssima. Com Karl Manheim, um sociólogo importante dos anos 40, Celso
q11 e faze m de si mesmos, como formas de sua ideologia. Celso Furtado junta- Furtado tem reconhecido uma enorme dívida teórica e humanística, em sua in is-
~ . com jusuça, a esse seleto grupo - ao qual, de resto, também pertence o tência sobre as possibilidades racionais e democráticas da escolha e do planeJa-
próprio Antonio Candido com seu Formação da literatura brasileira- atuali- mento, embora Manheim não compareça na bibliografia do livro. Max Weber. o
zando. rcnoYtmdo, marcando as rupturas, sobretudo porque ele apanha o inten- gigante das modernas ciências sociais, também deu sua contribuição à formação
~o proces o dt: 111dustrialização que se acelera a partir da Revolução de 30. de Furtado, não apenas pela via mannheimiaoa, mas pela teorização dos procc •
!'Jn o ~rro ou o acerto. boa parte da política econômica brasileira nas últimas sos de racionalização e da formação da burocracia, importantes para a compre-
qu.ttro déca -o li no c de 1959 - é uma di cus ão em tomo de suas fonnu- ensão dos processos decisórios e dos níveis de fonnalização hierárquicos na
l.l õe hi tória. A influência de Karl Marx, o fundador do marxismo, é patente em Celso
Furtado e no seu livro, embora também sem citação. A junção não ju taposta,
não mecânica, não simplista entre teoria e história é amai importante c ntnbUI-
ção silenciosa de Marx na obra de Furtado. Recentemente, c te tem re sallad
e sa dívida. Mas, sem dúvida, a contribuição mais marcante é a de John . 1aynard
Keyncs, o economista inglê que revolucionou a teoria econômica neste século
om sua obra A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. , hi t ria
econômica realizada por Furtado é, de certa maneira. uma releiturJ ke n iana
da hi tória bra ileira. A teoria de Keyne ajudou Furtad a de lindar, ~r em-
pio, .a autonomia do Estado ileiro para realizar a açoe interv nci nista
partir da Revolução de 30, bem como a ampliar o alcance das trJn foi1Tl3 ,-
econômicas do ciclo do café que ajudaram na criação do rçado mt m dt e-
renciando-o do anteriores ciclos da hi t' ria econômica nacional e a t
ke>~e .i:ma da demanda como núcleo do pr o ec ·nuco pi la q
po Slbthta operação interpretati L
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1 ORMAÇÃO ECONÓMICA DO BRASIL
FRANCISCO DE OLIVEIRA
320 J21
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1 ORMAÇÃO ECONÓMICA DO BRASIL
FRANCISCO DE OLIVEIRA
320 J21
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[O//MAÇAO HON6Mf(A DO 11//AW/,
FRANCISCO DE OLIVEIRA
duçao ou uc .• • ~;xp• 1oração são ex itosas, c o êxito funda uma estrutura d.c
. rim~ira parte é uma espécie de abertura, ouverture, árra, que sL:r:Í tcmaiJI:'Hla
pro , escravts
. . . . t·a, muito concentrada em termos . .da propriedade da terra c
roduçao capdesdobrada nas segun d·a c tcrcctra
. parte~ . A smtesc
' da proposta .mterprcratJva
.
P
d·ts ~~ndas pro Ul.l • , d ·das Es c êxito será , contradJtonamentc, um dos maiorc
• sobre a nova colônia é de que ela é o emblema de um sub~istcma que, na~c1do
' .
obstaculos . f u1uro.s· Ao con trário, a colônta. de povoamento, de que os Estad
A~ • _ 05 da própria expansão mercantilista, se transformará em condição fundamental
l i 111· dos C O (' an,J. dá • assim ' como a Austrália c a Nova , .Zclandta, sao cxempta. ara 0 êxito da expansão econômica da própria Europa. Furtado l!nfatiza o•
rcs,eumro . tun do f1acasso comercial. Mas, pelo propno fracasso, do ponto de
A • _ •
;esultados do subsistema: o barateamento de todas as especiarias procedente~
. das me trópol"s
VIsta "' Inglaterra c França, as. colontas
. . sao abertas
. para a uni-
do Oriente- Índia como emblema- c o nascimento de uma nova agricullura,
graça-o cu ro[J':· ... 1•.1. fundando-se estruturas socmts mats malcávcts, que contarão a agricultura tropical, cuja contribuição não pode sequer ser exag~.:rada. tome-
corno I ru nfos· no futuro·· acesso mais fácil à terra, dando lugar à pequena pro- se 0 lugar central do milho na produção ccrcalífera mundial- o milho é .tmeJJ-
priedadt ; um espírito de iniciativa que não é atributo psic~ló_g ico dos imigran-
cano- para aqui Iatar-se a revolução econômica produzida pelo emprecndim~:nto
tes. mas uma f~JTCa necessidade, até mesmo porque a coloma de povoamento
colonial.
é um fracasso comercial. E o êxito, tampouco, depende inteiramente desses
A segunda parte, que se desenvolve em cinco capítulos. já é urna
fatores, mas é o aproveitamento de uma brecha criada pela desarticulação da
redcfinição das fases da economia e uma "interpretação", tratando os sl!culos
agricu ltura européia como resultado das guerras napoleônicas, de um lado, c,
XVI e XVII como uma "economia escravista de agricultura tropical". Repre-
de nutro, p<!lo abasteci mento das coló111as de exploração ex itosas das Antilhas.
senta um esforço além, posto que aqui o centro dinâmico já é a produção dt.:
Para que tudo nao pareça uma história predeterminada desde as origens, vale
açúcar, e não mais o extrativismo; o elemento rcdefinidor em relação à histo-
,1 pt:na salientar que a visão contemporânea à época não acreditava no suces-
riografia brasileira clássica é a conjunção entre "escravismo e agricultura tro-
o da~ "colônias de povoamento".
pical", cujos termos não estavam ausentes da produção anterior. mas cuja
1\s próprias guerras napoleônicas são já o declínio da época colonial como
conjunção renova e redefine o sentido da exploração c do ciclo açucareiro. A
expansao Jo mercantilismo. Um repique da forma colonial se dará ainda sobre
interpretação beneficia-se claramente do aporte kcynesiano, já referido, ao
u Á 1a. com as novas colônias inglesas e francesas da Indochina e do Extremo
estudar a capitalização e nível de renda na região açucareira, capítulo VTIJ, c
Oriente, no fim do s.:culo XVIII, c na repartição da África subsaariana e do
os fluxos de renda e crescimento, no capítulo IX. Furtado avança além de seus
sul da Arrica, sobretudo no século XIX. Abre-se o ciclo das independências
predecessores na história econômica da colônia c da nação, ao conceder espe-
nu t\méncas, com a revolução norte-americana, à qual se seguem as outras
cial atenção ao que ele chamará "complexo econômico nordestino". Para o
indepcndi!ncias nas Américas espanhola e portuguesa. Restarão Cuba, que
êxito da empresa agrícola, contribuirá a experiência portuguesa de produção
~omcnte ~c libertará da Espanha no fim do éculo XIX, as Antilhas/Caribeeas
do açúcar nos Açores, a presença do financiamento holandês para a funda~ao
antigas (Juianas. que somente experimentarão a libertação já no movimento
de engenhos e a solução encontrada para o problema da mão-de-obra que. na
geral do pós-guerra de 1945. O fim da etapa colonial, como o chamou Furtado,
quase impossibilidade da migração a partir do próprio Portugal c de outws
é entendido como fruto. também, da submissão de Portugal à Espanha, que
lugares da Europa, terminará sendo o negro escravo trazido da Africa.
a ~im perde para a Inglaterra a jóia de sua coroa imperial, a Índia. Comprimido
escravização do índio, que ocorreria inicialmente, é descartada em virtude d,t
nas ll'nazcs das expansões da Inglaterra, França e Holanda, Portugal opta pela
superioridade técnica do negro africano, além de que o comércio negreiro. era.
proteçào ingba com o Tratado de Methucn, com o que a economia luso·
ele mesmo, de alta lucratividade c Uffiil das estruturas fundamentais da colônia
bra\i lcira se transforma em dependência da Inglaterra, já que à mesma foram
c dos interesses da metrópole portuguesa.
concedidos privilégios comerciais c diplomáticos com a colônia brasileira. O
O financiamento por capitais holandeses, pelo lucro da atividade de co-
no\() Ciclo do ouro no Brasil financiará a submissão de Portugal à Inglaterra. A
mdcp ·n lêncta br.tsikira será negociada nesse quadro. mércio de escravos- a que Furtado não dá muita relevância- e pela rcaplicação
1 n~ atividade açucareira dos seus próprios lucros, determinará, em grand mc-
' tado circun~crcv~.: a primeira parte mais rigorosamente à colônia; OS
drda, os fluxos da renda gerada. Além disso, a natureza escravista do trabalho
ekmcnJ d.t herança ibérica são aproveitados com grande economia. De fato.
fará com que não exista remuneração do trabalhador. Todos esses f tore .
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FRANCISCO DE OLIVEIRA
duçao ou uc .• • ~;xp• 1oração são ex itosas, c o êxito funda uma estrutura d.c
. rim~ira parte é uma espécie de abertura, ouverture, árra, que sL:r:Í tcmaiJI:'Hla
pro , escravts
. . . . t·a, muito concentrada em termos . .da propriedade da terra c
roduçao capdesdobrada nas segun d·a c tcrcctra
. parte~ . A smtesc
' da proposta .mterprcratJva
.
P
d·ts ~~ndas pro Ul.l • , d ·das Es c êxito será , contradJtonamentc, um dos maiorc
• sobre a nova colônia é de que ela é o emblema de um sub~istcma que, na~c1do
' .
obstaculos . f u1uro.s· Ao con trário, a colônta. de povoamento, de que os Estad
A~ • _ 05 da própria expansão mercantilista, se transformará em condição fundamental
l i 111· dos C O (' an,J. dá • assim ' como a Austrália c a Nova , .Zclandta, sao cxempta. ara 0 êxito da expansão econômica da própria Europa. Furtado l!nfatiza o•
rcs,eumro . tun do f1acasso comercial. Mas, pelo propno fracasso, do ponto de
A • _ •
;esultados do subsistema: o barateamento de todas as especiarias procedente~
. das me trópol"s
VIsta "' Inglaterra c França, as. colontas
. . sao abertas
. para a uni-
do Oriente- Índia como emblema- c o nascimento de uma nova agricullura,
graça-o cu ro[J':· ... 1•.1. fundando-se estruturas socmts mats malcávcts, que contarão a agricultura tropical, cuja contribuição não pode sequer ser exag~.:rada. tome-
corno I ru nfos· no futuro·· acesso mais fácil à terra, dando lugar à pequena pro- se 0 lugar central do milho na produção ccrcalífera mundial- o milho é .tmeJJ-
priedadt ; um espírito de iniciativa que não é atributo psic~ló_g ico dos imigran-
cano- para aqui Iatar-se a revolução econômica produzida pelo emprecndim~:nto
tes. mas uma f~JTCa necessidade, até mesmo porque a coloma de povoamento
colonial.
é um fracasso comercial. E o êxito, tampouco, depende inteiramente desses
A segunda parte, que se desenvolve em cinco capítulos. já é urna
fatores, mas é o aproveitamento de uma brecha criada pela desarticulação da
redcfinição das fases da economia e uma "interpretação", tratando os sl!culos
agricu ltura européia como resultado das guerras napoleônicas, de um lado, c,
XVI e XVII como uma "economia escravista de agricultura tropical". Repre-
de nutro, p<!lo abasteci mento das coló111as de exploração ex itosas das Antilhas.
senta um esforço além, posto que aqui o centro dinâmico já é a produção dt.:
Para que tudo nao pareça uma história predeterminada desde as origens, vale
açúcar, e não mais o extrativismo; o elemento rcdefinidor em relação à histo-
,1 pt:na salientar que a visão contemporânea à época não acreditava no suces-
riografia brasileira clássica é a conjunção entre "escravismo e agricultura tro-
o da~ "colônias de povoamento".
pical", cujos termos não estavam ausentes da produção anterior. mas cuja
1\s próprias guerras napoleônicas são já o declínio da época colonial como
conjunção renova e redefine o sentido da exploração c do ciclo açucareiro. A
expansao Jo mercantilismo. Um repique da forma colonial se dará ainda sobre
interpretação beneficia-se claramente do aporte kcynesiano, já referido, ao
u Á 1a. com as novas colônias inglesas e francesas da Indochina e do Extremo
estudar a capitalização e nível de renda na região açucareira, capítulo VTIJ, c
Oriente, no fim do s.:culo XVIII, c na repartição da África subsaariana e do
os fluxos de renda e crescimento, no capítulo IX. Furtado avança além de seus
sul da Arrica, sobretudo no século XIX. Abre-se o ciclo das independências
predecessores na história econômica da colônia c da nação, ao conceder espe-
nu t\méncas, com a revolução norte-americana, à qual se seguem as outras
cial atenção ao que ele chamará "complexo econômico nordestino". Para o
indepcndi!ncias nas Américas espanhola e portuguesa. Restarão Cuba, que
êxito da empresa agrícola, contribuirá a experiência portuguesa de produção
~omcnte ~c libertará da Espanha no fim do éculo XIX, as Antilhas/Caribeeas
do açúcar nos Açores, a presença do financiamento holandês para a funda~ao
antigas (Juianas. que somente experimentarão a libertação já no movimento
de engenhos e a solução encontrada para o problema da mão-de-obra que. na
geral do pós-guerra de 1945. O fim da etapa colonial, como o chamou Furtado,
quase impossibilidade da migração a partir do próprio Portugal c de outws
é entendido como fruto. também, da submissão de Portugal à Espanha, que
lugares da Europa, terminará sendo o negro escravo trazido da Africa.
a ~im perde para a Inglaterra a jóia de sua coroa imperial, a Índia. Comprimido
escravização do índio, que ocorreria inicialmente, é descartada em virtude d,t
nas ll'nazcs das expansões da Inglaterra, França e Holanda, Portugal opta pela
superioridade técnica do negro africano, além de que o comércio negreiro. era.
proteçào ingba com o Tratado de Methucn, com o que a economia luso·
ele mesmo, de alta lucratividade c Uffiil das estruturas fundamentais da colônia
bra\i lcira se transforma em dependência da Inglaterra, já que à mesma foram
c dos interesses da metrópole portuguesa.
concedidos privilégios comerciais c diplomáticos com a colônia brasileira. O
O financiamento por capitais holandeses, pelo lucro da atividade de co-
no\() Ciclo do ouro no Brasil financiará a submissão de Portugal à Inglaterra. A
mdcp ·n lêncta br.tsikira será negociada nesse quadro. mércio de escravos- a que Furtado não dá muita relevância- e pela rcaplicação
1 n~ atividade açucareira dos seus próprios lucros, determinará, em grand mc-
' tado circun~crcv~.: a primeira parte mais rigorosamente à colônia; OS
drda, os fluxos da renda gerada. Além disso, a natureza escravista do trabalho
ekmcnJ d.t herança ibérica são aproveitados com grande economia. De fato.
fará com que não exista remuneração do trabalhador. Todos esses f tore .
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FORMAÇtiO ECONOM!CA DO BRASIL
PRANCJSCO DE OLIVEIRA
aliados ao controle das terras, que somente eram dadas pela coroa a qu
, . em sos dias. A propósito, a concepção de desenvolvimento para o ~ardeste. que
tivesse cabedais- um termo do. portu~ues arcaico para designar os recursos
dos proprietários e nobres que mvest1ram na exploração colonial _e à alta dá lugar à criação da Sudene pelo presidente Juscelino Kubitschek em 1959, é
lucratividade do negócio açucareiro, fazem da atividade uma forte geradora d inteiramente calcada na interpretação do "complexo econômico norde. tino"
rendas muito concentradas. O fluxo monetário interno é fraquíssimo, mas~ Não por acaso, Celso Furtado foi o forrnulador desse projeto para o Nordeste
e 0 primeiro superintendente da nova instituição, até 1964, quando a ditadura
direcionamento para fora dos resultados da exploração açucareira é fortíssimo.
militar o afasta e cassa seus direitos políticos.
Do lucro, os proprietários tirarão seu próprio consumo, na sua maior Pane
constituído de mercadorias importadas da metrópole. A terceira e mais curta parte do livro, com apenas três capítulos, trata do
deslocamento do centro dinâmico da economia colonial para a região aurífera,
A ampliação da atividade açucareira dependia inteiramente da demanda
que teve Minas Gerais como epicentro. Seu tratamento em separado deve-se
ou pr:lcura externa. à qual os proprietários respondiam com acrescentada com.
ao destaque que Furtado concede ao chamado "ciclo do ouro", aproveitando
pra de escravos e de algum equipamento, moendas, instrumentos de trabalho
as sugestões de historiadores da economia colonial que o precederam, de ta
para artesãos e escravos, equipamentos mais ou menos rudes para obtenção
vez enfatizando o papel articulador desse deslocamento na estruturação das
do açúcar, etc. Na retração. isto é, queda de preços e/ou de procura na Euro.
economias meridionais do Brasil, até então pouco mais que preadoras e
pa, os engenhos recolhiam-se sobre si mesmos, não desempregando o escravo
predadoras de índios. A influência desse deslocamento estende-se até o mais
-que era propriedade, equivalente, portanto, a um equipamento. Tratava-se de
remoto sul: ficará explícita a ligação entre a produção de charque no Rio Gran-
uma estrutura plástica, apta a crescer e a resistir às crises. Essa será sua
de do Sul, a produção de mulas para o transporte, seu itinerário pela então
força e fraqueza ao longo dos séculos.
comarca do Paraná, criando economias de manutenção e trânsito da mercado-
Sendo praticamente unidade altamente especializada na produção de ria transportadora, com a região do ouro. Importante nessa parte é a formação
açúcar, o típico engenho necessita, porém, de animais de tiro para transporte de uma extensa área de subsistência, que Furtado faz derivar da regres ão
da .:anas para o engenho e do açúcar para o porto, e como força motriz das econômica do ouro, assentando as bases do que será a economia do hinterlmul
moendas. Isso dá lugar à criação da periferia em tomo da região açucareira, mineiro e do centro-oeste. Furtado segue, neste passo, sugestões de Caio Pra-
que se projeta. as. 1m. para os sertões do Nordeste, penetrando para o Ceará, do Jr. em sua obra de referência. Percebe-se como, nesta construção, estão.
Pi uí e altos sertões da Bahia. Terras pobres, por isso de fácil acesso, utiliza· historicamente, assentadas as bases para a interpretação teórica do dualismo
ção de mão-de-obra em muito pequena escala e assim mesmo em caráter cepalino, que já é, em Formação, uma típica construção de Furtado e que
prati amente servil, sem pagamento de salários, baixas produtividade e marcará notavelmente a produção teórica nas ciências sociais no Brasil. in-
lucrati ·idade. eis o esquema da pecuária nordestina. A economia pecuária não fluindo também poderosamente sobre as perspectivas políticas que se deri\ am
concorria em n da com a economia do açúcar, sendo-lhe, muito pelo contrário. do dualismo.
complementar e dependente. Sua reprodução em progressão aritmética- pois O ouro promoverá um fenômeno demográfico da maior importância. com
o increm nto da produtividade era quase nulo - dava-se como produto da migração espontânea de Portugal, pela primeira vez na história da colõma. e
decadência do açúcar. até chegar ao ponto de uma quase autonomia, no longo deslocamentos das reservas de escravos da região açucareira em de adência.
• o que responde pela \'asta ocupação das terras interiores. Os homens livres de Piratininga também acodem. Há indicaçõe de que
Formou-se: assim. o que o autor chama "complexo econômico nord~ população de origem européia se multiplicou por dez. O papel dos homen
n " ·m setor e~portador de alta lucralividade e elevadíssima concentraçlO livres também é importante, poiS de sua iniciativa dependerá a própria desco-
da propnedade e da<; rendas. sustentado sobre o trabalho escravo, em articula- berta de novos jazimentos e sua exploração. Embora fundada no trabalho e -
. co • um etor de subsistência de baixa produtividade e baixos lucros.~ cravo, outra era a organização da produção, em pequena escala adequada à
~ eo n m tra alho servil. não escravo mas tampouco livre no seadcfD necessidades da exploração. ·a
-·Cf do enno. É es e complexo, uma vez mais, força e Será UIQaatiYidadodebaiacapilatizlçlo. iato6. pouquíssima~.
' · u de ''dual' , que marcará definitivamente o N<Jil'dc.a:::1 de tnáq~ luaattvidade
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FORMAÇtiO ECONOM!CA DO BRASIL
PRANCJSCO DE OLIVEIRA
aliados ao controle das terras, que somente eram dadas pela coroa a qu
, . em sos dias. A propósito, a concepção de desenvolvimento para o ~ardeste. que
tivesse cabedais- um termo do. portu~ues arcaico para designar os recursos
dos proprietários e nobres que mvest1ram na exploração colonial _e à alta dá lugar à criação da Sudene pelo presidente Juscelino Kubitschek em 1959, é
lucratividade do negócio açucareiro, fazem da atividade uma forte geradora d inteiramente calcada na interpretação do "complexo econômico norde. tino"
rendas muito concentradas. O fluxo monetário interno é fraquíssimo, mas~ Não por acaso, Celso Furtado foi o forrnulador desse projeto para o Nordeste
e 0 primeiro superintendente da nova instituição, até 1964, quando a ditadura
direcionamento para fora dos resultados da exploração açucareira é fortíssimo.
militar o afasta e cassa seus direitos políticos.
Do lucro, os proprietários tirarão seu próprio consumo, na sua maior Pane
constituído de mercadorias importadas da metrópole. A terceira e mais curta parte do livro, com apenas três capítulos, trata do
deslocamento do centro dinâmico da economia colonial para a região aurífera,
A ampliação da atividade açucareira dependia inteiramente da demanda
que teve Minas Gerais como epicentro. Seu tratamento em separado deve-se
ou pr:lcura externa. à qual os proprietários respondiam com acrescentada com.
ao destaque que Furtado concede ao chamado "ciclo do ouro", aproveitando
pra de escravos e de algum equipamento, moendas, instrumentos de trabalho
as sugestões de historiadores da economia colonial que o precederam, de ta
para artesãos e escravos, equipamentos mais ou menos rudes para obtenção
vez enfatizando o papel articulador desse deslocamento na estruturação das
do açúcar, etc. Na retração. isto é, queda de preços e/ou de procura na Euro.
economias meridionais do Brasil, até então pouco mais que preadoras e
pa, os engenhos recolhiam-se sobre si mesmos, não desempregando o escravo
predadoras de índios. A influência desse deslocamento estende-se até o mais
-que era propriedade, equivalente, portanto, a um equipamento. Tratava-se de
remoto sul: ficará explícita a ligação entre a produção de charque no Rio Gran-
uma estrutura plástica, apta a crescer e a resistir às crises. Essa será sua
de do Sul, a produção de mulas para o transporte, seu itinerário pela então
força e fraqueza ao longo dos séculos.
comarca do Paraná, criando economias de manutenção e trânsito da mercado-
Sendo praticamente unidade altamente especializada na produção de ria transportadora, com a região do ouro. Importante nessa parte é a formação
açúcar, o típico engenho necessita, porém, de animais de tiro para transporte de uma extensa área de subsistência, que Furtado faz derivar da regres ão
da .:anas para o engenho e do açúcar para o porto, e como força motriz das econômica do ouro, assentando as bases do que será a economia do hinterlmul
moendas. Isso dá lugar à criação da periferia em tomo da região açucareira, mineiro e do centro-oeste. Furtado segue, neste passo, sugestões de Caio Pra-
que se projeta. as. 1m. para os sertões do Nordeste, penetrando para o Ceará, do Jr. em sua obra de referência. Percebe-se como, nesta construção, estão.
Pi uí e altos sertões da Bahia. Terras pobres, por isso de fácil acesso, utiliza· historicamente, assentadas as bases para a interpretação teórica do dualismo
ção de mão-de-obra em muito pequena escala e assim mesmo em caráter cepalino, que já é, em Formação, uma típica construção de Furtado e que
prati amente servil, sem pagamento de salários, baixas produtividade e marcará notavelmente a produção teórica nas ciências sociais no Brasil. in-
lucrati ·idade. eis o esquema da pecuária nordestina. A economia pecuária não fluindo também poderosamente sobre as perspectivas políticas que se deri\ am
concorria em n da com a economia do açúcar, sendo-lhe, muito pelo contrário. do dualismo.
complementar e dependente. Sua reprodução em progressão aritmética- pois O ouro promoverá um fenômeno demográfico da maior importância. com
o increm nto da produtividade era quase nulo - dava-se como produto da migração espontânea de Portugal, pela primeira vez na história da colõma. e
decadência do açúcar. até chegar ao ponto de uma quase autonomia, no longo deslocamentos das reservas de escravos da região açucareira em de adência.
• o que responde pela \'asta ocupação das terras interiores. Os homens livres de Piratininga também acodem. Há indicaçõe de que
Formou-se: assim. o que o autor chama "complexo econômico nord~ população de origem européia se multiplicou por dez. O papel dos homen
n " ·m setor e~portador de alta lucralividade e elevadíssima concentraçlO livres também é importante, poiS de sua iniciativa dependerá a própria desco-
da propnedade e da<; rendas. sustentado sobre o trabalho escravo, em articula- berta de novos jazimentos e sua exploração. Embora fundada no trabalho e -
. co • um etor de subsistência de baixa produtividade e baixos lucros.~ cravo, outra era a organização da produção, em pequena escala adequada à
~ eo n m tra alho servil. não escravo mas tampouco livre no seadcfD necessidades da exploração. ·a
-·Cf do enno. É es e complexo, uma vez mais, força e Será UIQaatiYidadodebaiacapilatizlçlo. iato6. pouquíssima~.
' · u de ''dual' , que marcará definitivamente o N<Jil'dc.a:::1 de tnáq~ luaattvidade
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r nw IÇitl rcow."'mCAJt) RR.\ 11
FRANCISCO DE OLIVFIRA
t' alus ima mobilidade e pacial. Al~m di o, p~· _ 1e.tar:í sua necc sidades d~
dução d ·algodão, provocada pela Guerra de Sccc são nos E tar.io· Umdos 1.1
.llim 'll!O e animais d • tran. porte. cnando a pentena da economia de ub is.
111 depcndcntes. ··
t~n ·iJ em tina c ativandu a ' onomia ao sul da capitania aurífera. desde a
A expansão do café é imediatamente ligada às formas do trabalho c ·cra-
feira lk mul.\s de Sorocaba. em ào Paulo, até a capitania do Rio Grande do
vo, à sua incapacidade de oferta, ao crescimento do custo do trabalho c cravo.
' ui
pelo incremento do custo social do controle frente à crescente rebelião do.
o ciclo do ouro foi muito r:ípido: em menos de cinqüenta ano , contados escravo .. O trabalho livre surge como alternativa, e o deslocamento do centro
de de a cfctiYa exploração. começou e acabou. Deu lugar, entretanto, a uma
diniimico de fato está ligado à resolução do problema do trabalho. Apcs.u de
ociedade meno rica que a ge tada no engenho de açúcar do Nordeste, mas decadente, o sistema escravocrata em Minas Gerais e no ardeste ainda de-
c , 01 riqueza me no concentrada. devido às características da exploração e tém enorme capacidade de reter seus excedentes da mercadoria e crava e,
ao lugar do homem livre nela. Revelou-se, entretanto, muito rapidamente, in- por e e obstáculo, o centro dinâmico via embotada sua capacidade de cr .:i-
su ·tentá\ e!, eja pelo rápido esgotamento dos jazimcnlo -na verdade, em sua menta. Ao mesmo tempo, Furtado concede toda centralidade à geração de
maior parte. ouro de aluvião-, seja porque não se de dobrou em outras ativi- renda que a economia cafeicultora propiciava, a qual, como forma de re olu-
dades. omo a manufatura metalúrgica, por exemplo. Contraditoriamente. como ção da questão do trabalho, elaborava uma divisão social do trabalho mais rica
já e as inalou antes - é o autor em questão que acentua esse aspecto _ a e mais diversificada do que haviam sido as anteriores economias do açúcar •
emergência do ouro no Brasil financiou a dependência portuguesa em relação do ouro fundadas no trabalho escravo. A influência de Keynes é elaborada por
à Inglaterra e foi- não propositalmente- um elemento anulador da manufatu- Celso Furtado dando central idade à demanda, seja a do trabalho, eja aquela
ra em Portugal. pagando as contas portuguesas na sua relação comercial com propiciada pelo fluxo de renda gerado pela economia cafeicultora. Uma \CZ
os mgleses. Em seu declínio- a Inconfidência Mineira é um doloroso episódio mais, está já em ação teórica, tensionando-se com as soluções históricas. a
do Jrclínio e não do auge- deixará a economia de subsistência de Minas, que construção do dual-estruturalismo cepalino-furtadiano: a eçonomia do café será
formará parte do setor "atrasado" da economia brasileira, tanto quanto a parte o fundamento do setor moderno, enquanto as economias de sub istência de
equivalente do Nordeste. Minas e do Nordeste, e o resto da economia açucare ira também em regressão,
A quarta é a mais alentada parte do livro, com quatorze capítulos. O funcionarão como o setor arcaico ou atrasado. Além disso. essa especial on -
cre~cimento exponencial do café, outro deslocamento do centro dinâmico da trução econômica deslizava em direção a um permanente desequilíbrio exter-
economia, rompido, com a independência, o estatuto colonial, é o fulcro da no, tanto por ingressar na divisão internacional do trabalho da fase pós-colonial.
exposição. Não sem antes Furtado integrar a breve explosão da economia do com sua dualidade de produtores de matérias-primas (a periferia) e produtores
Maranhão. no vazio da produção mundial de algodão provocado pelas guerras de manufaturas (o centro), quanto porque a específica articulação interna da
de independência das treze colônias inglesas contra a Inglaterra, no fim do economia nacional entre setor moderno e setor atrasado impedia ao primeiro a
século XVIII. como parte do fim da época colonial. O Maranhão solucionará o internalização de um setor de produção de bens de capital. São as ba s teóri-
problema da mão-de-obra também pelo escravismo dos negros africanos, em co-históricas para a emergência do padrão de relações centro-periferia e a
tal escala e intensidade que fez de São Luís, sua capital, a cidade mais negra constituição do subdesenvolvimento como formação histórica ingular, e não
do Brasil, que.muitos pensam ser Salvador. Pode-se ver aqui, num panorama uma fase do desenvolvimento capitalista primitivo em direção à maturidade.
que tem o tom épico da palheta dos muralistas mexicanos da escola de Diego Embora acentue sempre a explicação econômica dos eventos e proc -
De Rivera. o movimento mundial da primeira grande descolonização: a inde- sos mais estruturantes, concêde-se aqui uma certa centralidade à política, no
pendên.:ia dos Estados Unidos articulada com as independências da América capítulo da independência brasileira. A solução dinástica de independência com
L~llma, não apenas pela elaboração de uma ideologia libertária, mas pelas rela· a casa de Bragança, na pessoa de D. Pedro I, como já se assinalou, represen-
• e~tabelecidas e sua crise, com a economia das metrópoles. A economia tou a herança, pelo novo país, do estatuto de dependência e imples projeção
hensc somente voltará a conhecer um enonne e rápido auge ~ccmõ[l]lC::U, econômica da Inglaterra, que continuou com seus privilégios até o fmal da
1
na segunda metade do século XIX, de novo como resultado da queda Pritneira metade do século XIX.
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r nw IÇitl rcow."'mCAJt) RR.\ 11
FRANCISCO DE OLIVFIRA
t' alus ima mobilidade e pacial. Al~m di o, p~· _ 1e.tar:í sua necc sidades d~
dução d ·algodão, provocada pela Guerra de Sccc são nos E tar.io· Umdos 1.1
.llim 'll!O e animais d • tran. porte. cnando a pentena da economia de ub is.
111 depcndcntes. ··
t~n ·iJ em tina c ativandu a ' onomia ao sul da capitania aurífera. desde a
A expansão do café é imediatamente ligada às formas do trabalho c ·cra-
feira lk mul.\s de Sorocaba. em ào Paulo, até a capitania do Rio Grande do
vo, à sua incapacidade de oferta, ao crescimento do custo do trabalho c cravo.
' ui
pelo incremento do custo social do controle frente à crescente rebelião do.
o ciclo do ouro foi muito r:ípido: em menos de cinqüenta ano , contados escravo .. O trabalho livre surge como alternativa, e o deslocamento do centro
de de a cfctiYa exploração. começou e acabou. Deu lugar, entretanto, a uma
diniimico de fato está ligado à resolução do problema do trabalho. Apcs.u de
ociedade meno rica que a ge tada no engenho de açúcar do Nordeste, mas decadente, o sistema escravocrata em Minas Gerais e no ardeste ainda de-
c , 01 riqueza me no concentrada. devido às características da exploração e tém enorme capacidade de reter seus excedentes da mercadoria e crava e,
ao lugar do homem livre nela. Revelou-se, entretanto, muito rapidamente, in- por e e obstáculo, o centro dinâmico via embotada sua capacidade de cr .:i-
su ·tentá\ e!, eja pelo rápido esgotamento dos jazimcnlo -na verdade, em sua menta. Ao mesmo tempo, Furtado concede toda centralidade à geração de
maior parte. ouro de aluvião-, seja porque não se de dobrou em outras ativi- renda que a economia cafeicultora propiciava, a qual, como forma de re olu-
dades. omo a manufatura metalúrgica, por exemplo. Contraditoriamente. como ção da questão do trabalho, elaborava uma divisão social do trabalho mais rica
já e as inalou antes - é o autor em questão que acentua esse aspecto _ a e mais diversificada do que haviam sido as anteriores economias do açúcar •
emergência do ouro no Brasil financiou a dependência portuguesa em relação do ouro fundadas no trabalho escravo. A influência de Keynes é elaborada por
à Inglaterra e foi- não propositalmente- um elemento anulador da manufatu- Celso Furtado dando central idade à demanda, seja a do trabalho, eja aquela
ra em Portugal. pagando as contas portuguesas na sua relação comercial com propiciada pelo fluxo de renda gerado pela economia cafeicultora. Uma \CZ
os mgleses. Em seu declínio- a Inconfidência Mineira é um doloroso episódio mais, está já em ação teórica, tensionando-se com as soluções históricas. a
do Jrclínio e não do auge- deixará a economia de subsistência de Minas, que construção do dual-estruturalismo cepalino-furtadiano: a eçonomia do café será
formará parte do setor "atrasado" da economia brasileira, tanto quanto a parte o fundamento do setor moderno, enquanto as economias de sub istência de
equivalente do Nordeste. Minas e do Nordeste, e o resto da economia açucare ira também em regressão,
A quarta é a mais alentada parte do livro, com quatorze capítulos. O funcionarão como o setor arcaico ou atrasado. Além disso. essa especial on -
cre~cimento exponencial do café, outro deslocamento do centro dinâmico da trução econômica deslizava em direção a um permanente desequilíbrio exter-
economia, rompido, com a independência, o estatuto colonial, é o fulcro da no, tanto por ingressar na divisão internacional do trabalho da fase pós-colonial.
exposição. Não sem antes Furtado integrar a breve explosão da economia do com sua dualidade de produtores de matérias-primas (a periferia) e produtores
Maranhão. no vazio da produção mundial de algodão provocado pelas guerras de manufaturas (o centro), quanto porque a específica articulação interna da
de independência das treze colônias inglesas contra a Inglaterra, no fim do economia nacional entre setor moderno e setor atrasado impedia ao primeiro a
século XVIII. como parte do fim da época colonial. O Maranhão solucionará o internalização de um setor de produção de bens de capital. São as ba s teóri-
problema da mão-de-obra também pelo escravismo dos negros africanos, em co-históricas para a emergência do padrão de relações centro-periferia e a
tal escala e intensidade que fez de São Luís, sua capital, a cidade mais negra constituição do subdesenvolvimento como formação histórica ingular, e não
do Brasil, que.muitos pensam ser Salvador. Pode-se ver aqui, num panorama uma fase do desenvolvimento capitalista primitivo em direção à maturidade.
que tem o tom épico da palheta dos muralistas mexicanos da escola de Diego Embora acentue sempre a explicação econômica dos eventos e proc -
De Rivera. o movimento mundial da primeira grande descolonização: a inde- sos mais estruturantes, concêde-se aqui uma certa centralidade à política, no
pendên.:ia dos Estados Unidos articulada com as independências da América capítulo da independência brasileira. A solução dinástica de independência com
L~llma, não apenas pela elaboração de uma ideologia libertária, mas pelas rela· a casa de Bragança, na pessoa de D. Pedro I, como já se assinalou, represen-
• e~tabelecidas e sua crise, com a economia das metrópoles. A economia tou a herança, pelo novo país, do estatuto de dependência e imples projeção
hensc somente voltará a conhecer um enonne e rápido auge ~ccmõ[l]lC::U, econômica da Inglaterra, que continuou com seus privilégios até o fmal da
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na segunda metade do século XIX, de novo como resultado da queda Pritneira metade do século XIX.
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, r1 f.' r úw r '' J fJR IL
FRA ·c JSCO DE OLIVEIRA
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FRA ·c JSCO DE OLIVEIRA
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FR ( Df
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I•JrA'H 1,1 flllf IIIIVIII'A
1111 .I dtll olflJI,dJ• 11111 llliiiHiiid, t'III,IO 11,1 ~ll:llll . IÍ~ ~'li!Vt', .il llall)'t ll ll' !' proflllld,a ()~r:tpÍtttf o f1ttJW,d1· oílflil lft·ton,trlll!lll,lh-lllllf.ul<t ,, Kfils lll~ltdlr
11 1
, ,, f kp1 ··~~.10 d.1 dt•t .tda dl' lO. h IH 11.1Vt I l' lll I:lll( ado, •l:)' IJnuJ,,
1 ; 1,111 d1 piohlt: lll!l'• ljll t' H llltf ll •,lrÍfrll/il\:111 !!il J>l'llflll<t I'Xii("IIJa l••llfl 11 Ja (I U•
.t pt 1 . 1 ~ dt· ( ', 11 pt•1.1do 11 r tlt·l<nht'llo ..;i lliOIIM'tl, a l"a hm, a ~ao da 1·x pan ~ao ! ui líiJrio ('X Il' IIIO, l t:II ~II!J 111ff11t IIIII<HI<I, t!lfl(l'lltr,H,illl d,J fCnri,J C :JIIflll'lllfl dI.
111 11' 111 .1prlltl.lllt'lllt nH'IIIt' t'llt h·u~.tnt om o~ Cl' n lto~ dlltanllt'os do ~·a pit , tli ~nto I
cfl'',il'tta · .'• (l'llf llfJ( l O ',jllf. I IOI " ( ,lffll .a !II'• I11110 ,1 "I< I f)f(K I Uf,. IOI I'
lcf :tdt•<, IC!'IIIIlill
1111111111 ,d, 1,.,. 1",11 tdo ,., 'ltiH'I:tltlll, .1 pctli lar a 1\:st• de lon;as iul t' liW ~ pa ssiv"s rual<(lla~ prínr a~ e bc u ~ primáiÍoh, c, rk outro, o "pmgrarn;1" d•· lurl.trlo p.ua
. 1·llt .~.r~ dlllt'llllll; ao uHllr.tlltl, 11 qu ·o ria m t'S<.'\11'0 mostr .1 s.10 as opçuc~
11 osi-Cf' Uirna iudustrializaçao, na r c~o l uç;io daqut·<olao r~.: 'I• mal do Nrudc r
d rl.t .~ 1 111,, ''"'~ t'ntnntllllo rum as tklt'rllli tHH_:oes d · ordem ~.:x t ~.: 1 na . ~a qiiCi>ll o agrá ria , da distríhttiçao da r<"nda. e~~;.1pando da MITt.ldllh.•~ d,,
for 'lll• , 1 o~ pt ohkmas dt· tt'lr .u;ao dn dt' II J:Uida I'Xterua , M' Ja pela redu "·laçm> c~.:lltl o perill:ria , que niio havia d c~apilrt·cit.lo, up nus s · redclmulo de
~·"' d. 1 qu.nrlrd.uks. sei.1 fK' I,t ll'tltrr;ao dos P ll'ÇO~ intt·rnacionais, u~ r i asse~ 01111 a ror m a. (~ a p1oposição de um dc~en vo l v i mtn l o Cllplta li<,ta nar.:imwl iiiii!J
tfnrn 111 ,rnl!' dn r:tfl t' ~um. cxprcs~m:~ polítiras começa r,un a reali zar 0 que 1u11110 , em que a economia é a viu para encont rar os ca minho. d.t naç.m f íca,
fHts~on .1 ~l' chamadn"polílil'a tk va lurizaçao'', i1-to é, a defesa d<t produ~·.m c para além de qualquer previsão ou vonwdc não-rca li tada (o que, nu> ('f ··nc1.1s
dos prl'~o·. o qlll' kvou a alllli.ll.enagc m de café, permanecendo o pagamento sociais, nao é prova de fracasso, mas da natureza ma is íntima da cíéncia >oci.tl
;rm pmtluiLlll'S e lr.rh.tlhatlort·s. Nm I 'llllOS do uutur, defendeu-se o emprego ·uquanto soc ial), a construção do conceito de suhdcscnvolvimenro. uma ver
lllll'IIIO n qut:, ern uma econom ia de tra halho assa lariado, significa defender a d,JCici ra c origin al contribuição do pensamento latino·amcricano -do qual C'el-
1·nda, b~a opl'r .1çao, ent retanto, gasta din heiro pura ser fei ta, o que outra vez o Furtado é um dos grandes próccrcs- às ciências humanas un 1vcrsa rs.
b.HI ·,r a llcc~.:~t~id.lde de empréstimos interuaciona is para sustentar os prc. O uso do fecundo método, tcnsionando 1c01 ia c história, havi.t dado seus
ço . o l'ltlprq:~o c a renda. Esse verdadeiro " nô górd io" é cortado pela Grande fru tos c, como no Evangelho, eles eram b ·
J),·prt:\s.ío 'Jt I 1)29, que, de uma vet,, derruba demanda c preços c promove
11n1.1 Jura de Lapitais estrangeiros do Hrasi l para os centros internacionais,
sobr ·1wlo p.~ra os Ell Nao dá mais para sustentar o armazenamento, que
c11~ta muito, c a resolução c a da quei ma pura c simples dos estoques, manten-
dn-s~: u pa)•Jmcn ln a produtores e tra balhadores, mas economizando gastos do
gmemo c cortando a tendênc ia a superprodução c à pressão que o próprio
arrnu1 ·namenlo fazia sobre os preços internacionais, deprimindo-os ainda mais.
O c.tpítulo XXXI. ''Os mecani mos de defesa c a crise de 1929", e o
·'X ·u. "Ot:sfocamenlo do centro dinâmico" são de uma resolução primorosa.
t.'les. F1111ado mostra como as classes sociais internas, buscando defender
~t'U\ interesses. a defesa do café, de seus preços e da renda interna gerada,
lran~!Pnnam a ousada façanha de queima dos estoques, ordenada e executa·
d,t pdo go,·cmo fl!dcral na presidência provisória de Getúlio Vargas, num mo-
\imcnto de transformação em direção à industrialização. São os interesses
jogando seu papel- como diria Marx. os homens fazendo a história, nem sem·
P . a~ndo por que a fazem. nem em que direção a desenvolvem. É um
bnlhante ·randfinale para es c magnífico livro, que impregnará o vastocam·
P dJ e )m1a c da ciências socia is no Brasil e na América Latina, tornan·
o- ' !) úrgma de uma geração de pesquisadores e fonnuladores de política
o •ltnentc.
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1111 .I dtll olflJI,dJ• 11111 llliiiHiiid, t'III,IO 11,1 ~ll:llll . IÍ~ ~'li!Vt', .il llall)'t ll ll' !' proflllld,a ()~r:tpÍtttf o f1ttJW,d1· oílflil lft·ton,trlll!lll,lh-lllllf.ul<t ,, Kfils lll~ltdlr
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~·"' d. 1 qu.nrlrd.uks. sei.1 fK' I,t ll'tltrr;ao dos P ll'ÇO~ intt·rnacionais, u~ r i asse~ 01111 a ror m a. (~ a p1oposição de um dc~en vo l v i mtn l o Cllplta li<,ta nar.:imwl iiiii!J
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J),·prt:\s.ío 'Jt I 1)29, que, de uma vet,, derruba demanda c preços c promove
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sobr ·1wlo p.~ra os Ell Nao dá mais para sustentar o armazenamento, que
c11~ta muito, c a resolução c a da quei ma pura c simples dos estoques, manten-
dn-s~: u pa)•Jmcn ln a produtores e tra balhadores, mas economizando gastos do
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O c.tpítulo XXXI. ''Os mecani mos de defesa c a crise de 1929", e o
·'X ·u. "Ot:sfocamenlo do centro dinâmico" são de uma resolução primorosa.
t.'les. F1111ado mostra como as classes sociais internas, buscando defender
~t'U\ interesses. a defesa do café, de seus preços e da renda interna gerada,
lran~!Pnnam a ousada façanha de queima dos estoques, ordenada e executa·
d,t pdo go,·cmo fl!dcral na presidência provisória de Getúlio Vargas, num mo-
\imcnto de transformação em direção à industrialização. São os interesses
jogando seu papel- como diria Marx. os homens fazendo a história, nem sem·
P . a~ndo por que a fazem. nem em que direção a desenvolvem. É um
bnlhante ·randfinale para es c magnífico livro, que impregnará o vastocam·
P dJ e )m1a c da ciências socia is no Brasil e na América Latina, tornan·
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J dt no do fJnd
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J dt no do fJnd
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EsCLARECI~fE.\ITOS
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EsCLARECI~fE.\ITOS
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ti.' [)0.\'0S /10 l'tW I R LAURA DI! MELLO I! SOUZA
.unJa. ~, J ., L' LI ,1 ritmo acelerado dJ · rda õe comerciais c o fato de 0 rei D ESCOBRIMENTO E COLONIZAÇAO, EMPREENDIMENTOS DO Es rADO
1111
n.tr· • 0 primeiro coml'rciant ·do reino,. omando esta atribuição à outra, de
scnhl'l de terras. e ~erindo Jmbas omo empresa ua. E lavam a ·sim lançadas Num primeiro momento, quando nada apresentava de comerciável aos
.1s b.1se do ·apit.dismo de Estado. olhos dos mercadores portugueses, o Brasil de pontou como escoadouro para
\r ·wlu<io d · A\i. af.t tou o perigo de uma confederação de tipo feu. miseráveis, pintado pelo grupo dominante com tons paradisíacos. funcionando
d;~l. consolidando o E tado patrimonialista português e amadurecendo um qua. como silenciador das revoltas e aliviador da tensões. Este aceno, promissor
Ul\l Jc administr.!dor.:s. A coroa tinha de e r gerida como empresa econômica de ascensão súbita, constituiu o ramo popular do impulso colonizador.
l'lllt.td.l para o mar. e requeria um grupo de conselheiros e executores subordi- Na conquista, o elemento político foi repre entado pelo rei . defensor e
n.tJo~ .u e1. Apotado na burguc ia, o novo monarca conseguiu, através da garantia da empresa; o comercial foi personificado pelo contratador. armador
e trutura patrimonial, erguer o seu d~mínio acima da classe que havia patroci- das naus, vinculado aos financiadores europeus; o territorial se concretizou na
nJdo a monarqu ia e que, a partir de então, passaria a servi-la. Ao lado da feitoria . O estabelecimento colonial não representou uma volta ao feudal i mo.
nobreza, a burguesia se tomou fator do poder, situando- e dentro do Estado. uma regressão: na verdade, a colonização foi obra do Estado, e teve nítido
Aci ma de uma e de outra, pairavam o rei e a monarquia. cunho capitalista, embora o capitalismo fosse politicamente orientado.
O grupo de comando não era, então, uma classe, mas um estamento. A Empresa real, a colonização foi confiada às pessoas que cercav.1m o
difen.::nça en tre um e outro reside no fato de a primeira ser determinada econo- trono e que garantiriam a preservação dos vínculos públicos com a conquista:
mtcamente, enquanto o segundo é. antes de tudo, uma camada social: "os os burocratas e militares, letrados e guerreiros, a pequena nobreza sedenta de
cstamentos govemam, as classes negociam". Em Os donos do poder, o autor glórias, enfim, o estamento burocrático. Rei e estamento criariam as vilas an-
se preocupa com o estamento político: aquele em que os membros têm cons- tes das povoações, criando a realidade com a lei e o regulamento: "A América
~iêncta de pertencer a um mesmo grupo - qualificado para o exercício do seria um reino a moldar, na forma dos padrões ultramarinos, não um mundo a
poder- e que se caracteriza pelo desejo de prestígio e honra social. O estamento criar".
é típico das sociedad ·s em que a economia não é totalmente dominada pelo As ameaças à posse e à integridade da colônia levaram a coroa a criar
mercado. corno a feudal e, no caso português, a patrimonial. Contudo, encon- um sistema de delegação de autoridade que utilizava os agentes locais, propor-
tra:sc também. de forma residual, nas sociedades capitalistas. Representa um cionando-lhes vantagens em troca de encargos e, ao mesmo tempo. preser-
freto conservador, voltado para si mesmo e preocupado em assegurar as bases vando os monopólios e o sistema de tributos.
du ~~er: aliado ao Estado português, o estamento propiciou-lhe a organização Nesse tempo, mais do que os ataques de índios e piratas, era a ''privatiza-
poliuca capaz de empreender a aventura ultramarina, que nunca poderia ter ção dos donatários e colonos" que assombrava a metrópole. Para que se man-
stdo obra de particulares. tivesse o edifício colonial, era necessário dar as rédeas ao estamento burocrático:
A exp~oraçào sistemática dos cargos - "no país, os cargos são para os em 1548 instalou-se o governo geral, e, em nome do rei, Tomé de Sousa subor-
homens: e nao os homens para os cargos", dizia um ditado da época- também dinou os agentes coloniais, deles fazendo agentes do soberano. A disciplina da
caractenza\
, . a 0 Est·ado patnmomal
· . de estamento, cujo objetivo era a obtenção atividade econômica forneceu as bases de sustentação da unidade administra-
do max tmo provei to , I· A r'ndJa
. era então uma grande vinha a que os tiva, judicial e financeira; apesar das distâncias enormes, a lei de papel
f . , . poss1ve
unciOna;tos acorriam para suas abundantes vindimas. A nobreza ociosa e correspondeu à exceção na re.alidade. Mas algutnas malhas ficaram soltas: "A
ostcntatona nutria-s d . .. . • rede oficial não cobrirá todo o Qlundo social, inaugurando, com o viço haurido
, e a economta dtngtda pelo estamento. A corrupçao
ra 'a\ a c o cargo c ~ · nas capitanias, um dualismo d forças entre Estado e vida civil".
.tpar ,1h . d . . ?n ena nobreza: onde havia comércio, estabelecia-se um
0
a mmtstrattvo· •·. d · · Nessa política metropolitana de limitação às aspirações autonomistas dos
para pr éito d . · a a rrumstração segue a economia, organizando-a
o ret, senhor e regente do tráfico". potentados, os conselhos municipais tiveram papel importante sendo instru-
mentos da centralização, abrigo dos colonos e latifundiários que o Estado do-
mesticara e transformara em homens bons. O temor da autonomia Dão ex.i tiu
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ti.' [)0.\'0S /10 l'tW I R LAURA DI! MELLO I! SOUZA
.unJa. ~, J ., L' LI ,1 ritmo acelerado dJ · rda õe comerciais c o fato de 0 rei D ESCOBRIMENTO E COLONIZAÇAO, EMPREENDIMENTOS DO Es rADO
1111
n.tr· • 0 primeiro coml'rciant ·do reino,. omando esta atribuição à outra, de
scnhl'l de terras. e ~erindo Jmbas omo empresa ua. E lavam a ·sim lançadas Num primeiro momento, quando nada apresentava de comerciável aos
.1s b.1se do ·apit.dismo de Estado. olhos dos mercadores portugueses, o Brasil de pontou como escoadouro para
\r ·wlu<io d · A\i. af.t tou o perigo de uma confederação de tipo feu. miseráveis, pintado pelo grupo dominante com tons paradisíacos. funcionando
d;~l. consolidando o E tado patrimonialista português e amadurecendo um qua. como silenciador das revoltas e aliviador da tensões. Este aceno, promissor
Ul\l Jc administr.!dor.:s. A coroa tinha de e r gerida como empresa econômica de ascensão súbita, constituiu o ramo popular do impulso colonizador.
l'lllt.td.l para o mar. e requeria um grupo de conselheiros e executores subordi- Na conquista, o elemento político foi repre entado pelo rei . defensor e
n.tJo~ .u e1. Apotado na burguc ia, o novo monarca conseguiu, através da garantia da empresa; o comercial foi personificado pelo contratador. armador
e trutura patrimonial, erguer o seu d~mínio acima da classe que havia patroci- das naus, vinculado aos financiadores europeus; o territorial se concretizou na
nJdo a monarqu ia e que, a partir de então, passaria a servi-la. Ao lado da feitoria . O estabelecimento colonial não representou uma volta ao feudal i mo.
nobreza, a burguesia se tomou fator do poder, situando- e dentro do Estado. uma regressão: na verdade, a colonização foi obra do Estado, e teve nítido
Aci ma de uma e de outra, pairavam o rei e a monarquia. cunho capitalista, embora o capitalismo fosse politicamente orientado.
O grupo de comando não era, então, uma classe, mas um estamento. A Empresa real, a colonização foi confiada às pessoas que cercav.1m o
difen.::nça en tre um e outro reside no fato de a primeira ser determinada econo- trono e que garantiriam a preservação dos vínculos públicos com a conquista:
mtcamente, enquanto o segundo é. antes de tudo, uma camada social: "os os burocratas e militares, letrados e guerreiros, a pequena nobreza sedenta de
cstamentos govemam, as classes negociam". Em Os donos do poder, o autor glórias, enfim, o estamento burocrático. Rei e estamento criariam as vilas an-
se preocupa com o estamento político: aquele em que os membros têm cons- tes das povoações, criando a realidade com a lei e o regulamento: "A América
~iêncta de pertencer a um mesmo grupo - qualificado para o exercício do seria um reino a moldar, na forma dos padrões ultramarinos, não um mundo a
poder- e que se caracteriza pelo desejo de prestígio e honra social. O estamento criar".
é típico das sociedad ·s em que a economia não é totalmente dominada pelo As ameaças à posse e à integridade da colônia levaram a coroa a criar
mercado. corno a feudal e, no caso português, a patrimonial. Contudo, encon- um sistema de delegação de autoridade que utilizava os agentes locais, propor-
tra:sc também. de forma residual, nas sociedades capitalistas. Representa um cionando-lhes vantagens em troca de encargos e, ao mesmo tempo. preser-
freto conservador, voltado para si mesmo e preocupado em assegurar as bases vando os monopólios e o sistema de tributos.
du ~~er: aliado ao Estado português, o estamento propiciou-lhe a organização Nesse tempo, mais do que os ataques de índios e piratas, era a ''privatiza-
poliuca capaz de empreender a aventura ultramarina, que nunca poderia ter ção dos donatários e colonos" que assombrava a metrópole. Para que se man-
stdo obra de particulares. tivesse o edifício colonial, era necessário dar as rédeas ao estamento burocrático:
A exp~oraçào sistemática dos cargos - "no país, os cargos são para os em 1548 instalou-se o governo geral, e, em nome do rei, Tomé de Sousa subor-
homens: e nao os homens para os cargos", dizia um ditado da época- também dinou os agentes coloniais, deles fazendo agentes do soberano. A disciplina da
caractenza\
, . a 0 Est·ado patnmomal
· . de estamento, cujo objetivo era a obtenção atividade econômica forneceu as bases de sustentação da unidade administra-
do max tmo provei to , I· A r'ndJa
. era então uma grande vinha a que os tiva, judicial e financeira; apesar das distâncias enormes, a lei de papel
f . , . poss1ve
unciOna;tos acorriam para suas abundantes vindimas. A nobreza ociosa e correspondeu à exceção na re.alidade. Mas algutnas malhas ficaram soltas: "A
ostcntatona nutria-s d . .. . • rede oficial não cobrirá todo o Qlundo social, inaugurando, com o viço haurido
, e a economta dtngtda pelo estamento. A corrupçao
ra 'a\ a c o cargo c ~ · nas capitanias, um dualismo d forças entre Estado e vida civil".
.tpar ,1h . d . . ?n ena nobreza: onde havia comércio, estabelecia-se um
0
a mmtstrattvo· •·. d · · Nessa política metropolitana de limitação às aspirações autonomistas dos
para pr éito d . · a a rrumstração segue a economia, organizando-a
o ret, senhor e regente do tráfico". potentados, os conselhos municipais tiveram papel importante sendo instru-
mentos da centralização, abrigo dos colonos e latifundiários que o Estado do-
mesticara e transformara em homens bons. O temor da autonomia Dão ex.i tiu
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OS DONOS DO PODER LAURA DE MELLO E SOUZA
brasileiro". Esboçou-se, assim, um_poder político que não correspondia às for- Comum a ambos os partidos foi o debate teórico sobre o Poder Modera-
ças econômica e socialmente dorrunantes. dor, um dos grandes temas polêmicos de todo o Segundo Reinado. As vozes se
A regência apresentou ainda enorme arbitrariedade social e jurídica_ levantariam, unânimes, contra o poder pessoal, contra a falta de garantias e de
regras determinadas, e pregando a reforma das instituições. o Poder Modera-
0 '"poder inoportuno"- , não sa tisfazendo a ninguém, não pacificando a na-
ção, apesar das violências cometid~s. A renúncia de Feijó significou 0 fim do dor funcionaria como armadilha, entravando a emergência dos tempos novos.
governo liberal moderado que se maugurara com a abdicação, e o controle Sob a concórdia aparente, o império apresentava um povo sem nenhuma
do poder pelo partido conservador: foi o "regresso", com bases políticas n representatividade, incapaz de ter sua vontade expressa em eleições que ho-
Norte e que. em 1837, fixou definitivamente o parlamentarismo e reduziu: mologavam as decisões de cima e confirmavam os gabinetes: eram filhas do
povo a "uma ficção, mínima e sem densidade, que vota em eleições fantas- partido no poder. O regime monárquico era representativo, mas o governo não
mas''. Era o parlamentarismo sem povo, no qual o poder merecia todas as o era. O fundamento da vida partidária do império foi a mesa eleitoral, "eixo
homenagens. maior da máquina de compressão" e lugar das manipulações e das fraudes.
O primeiro passo do movimento centralizador foi a Lei de Interpretação do Feita a mesa, dizia-se, estava feita a eleição; o número de eleitores da paró-
Ato Adicional, que acabou por lhe infundir um conteúdo oposto ao inicial, pois quia ficava a seu arbítrio.
privilegiou o Poder Legislativo e fez com que as assembléias provinciais perdes- O gabinete da Conciliação (1853-1857) procurou estabelecer reformas
sem terreno. Apesar das investidas liberais que visavam a submeter o poder eleitorais que suprimissem o mecanismo de pressões sobre o eleitor, como se a
moderador ao ontrole da nação, as decisões continuavam sendo tomadas na simples lei pudesse transformar a realidade profunda. A cruzada em favor da
cúpula. sob a autoridade do imperador. No contexto político e jurídico de centra- reforma eleitoral culminou com a reforma de 1881, que foi decepcionante.
possibilitando eleições mais pacíficas mas ainda controladas pelos elementos
lização, os capangas dos senhores se tomavam capangas do império, e o unifor-
me da Guarda Nacional burocratizava agricultores e senhores de engenho: economicamente dominantes. A barganha entre pólo oficial e local passou a
dominar a carreira política, substituindo a imposição armada. Sob a influência
'Sobre :15 senões e os campos desce a espada imperial; estruturada, na cúpu-
dos grandes chefes políticos, a máquina eleitoral tinha sua base de sustentação
la, num mecanismo estável de governo, mecanismo superior às mudanças de
na corte. O candidato deveria ser filhote: filho ou apadrinhado de algum per-
gabinete''. O Estado era ainda o das dinastias de Avis e Bragança, todo poder
sonagem importante; na carreira política, o cargo público foi, freqüentemente.
emanando do rei e a ele volvendo, os conservadores sem cargos se fazendo de
o passo inicial.
revolucionários e o lib ral no poder esquecendo "a pólvora incendiária".
Nessa época, um novo fator começou a contar: o coronelismo. A influên-
cia local obedecia à geral, com a condição de que houvesse viagem pelo distri-
to: verdadeira peregrinação que formava os vínculos do futuro deputado e
p ARTIDOS POLÍTICOS E ELEIÇÕES NO IMPÉRIO
homologava solidariedades ao mando local, independentes de programas ou
reivindicações nacionais. "O deputado será o agente que cuida das nomea-
A partir de 1836. a história política do império se resumiu à luta dos dois
ções, das promessas, dos favores, dos arranjos, árbitro das disputas de campa-
grandes partidos: o Liberal e o Conservador, cujas linhas eram bastante distin-
nário".
ta·. Des~e o início. oyartido Liberal se achou comprometido com a idéia de
O predomínio do soberano através do Poder Moderador, a centralização
soberanta popular. sendo mais democrático do que propriamente liberal. Já os
articulada na corte e o voto manipvlado não formavam, entretanto, um si terna
con~erv_adores reverenciavam o trono e a tradição, acatando a fórmula de que
0 ret rema, governa e administra, com base no Conselho de Ministros e no
político. Esse se baseava numa tradição persistente, assentada em velhas idéias
importadas e em fatores novos, ativos mas incapazes de transformar a ordem
Sen~do. O panido Liberal se encontrava mais próximo da propriedade rural na
mt.:dtda que prega va a descentralrzaçao
. - e o federalismo suscttan . do os das coisas. Acima das classes e dos conflitos políticos, o estamento burocrati-
poderes :lis ao ma d O 'd , . mats. co persistia, fechado na hereditariedade e mantendo suas características hi tó-
,. . · , n o. part1 o Conservador, por sua vez, estana ricas e funcionais .de camada aristocrática. A exigências do Estado eram
proAtn:o do comercio e do crédito.
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OS DONOS DO PODER LAURA DE MELLO E SOUZA
brasileiro". Esboçou-se, assim, um_poder político que não correspondia às for- Comum a ambos os partidos foi o debate teórico sobre o Poder Modera-
ças econômica e socialmente dorrunantes. dor, um dos grandes temas polêmicos de todo o Segundo Reinado. As vozes se
A regência apresentou ainda enorme arbitrariedade social e jurídica_ levantariam, unânimes, contra o poder pessoal, contra a falta de garantias e de
regras determinadas, e pregando a reforma das instituições. o Poder Modera-
0 '"poder inoportuno"- , não sa tisfazendo a ninguém, não pacificando a na-
ção, apesar das violências cometid~s. A renúncia de Feijó significou 0 fim do dor funcionaria como armadilha, entravando a emergência dos tempos novos.
governo liberal moderado que se maugurara com a abdicação, e o controle Sob a concórdia aparente, o império apresentava um povo sem nenhuma
do poder pelo partido conservador: foi o "regresso", com bases políticas n representatividade, incapaz de ter sua vontade expressa em eleições que ho-
Norte e que. em 1837, fixou definitivamente o parlamentarismo e reduziu: mologavam as decisões de cima e confirmavam os gabinetes: eram filhas do
povo a "uma ficção, mínima e sem densidade, que vota em eleições fantas- partido no poder. O regime monárquico era representativo, mas o governo não
mas''. Era o parlamentarismo sem povo, no qual o poder merecia todas as o era. O fundamento da vida partidária do império foi a mesa eleitoral, "eixo
homenagens. maior da máquina de compressão" e lugar das manipulações e das fraudes.
O primeiro passo do movimento centralizador foi a Lei de Interpretação do Feita a mesa, dizia-se, estava feita a eleição; o número de eleitores da paró-
Ato Adicional, que acabou por lhe infundir um conteúdo oposto ao inicial, pois quia ficava a seu arbítrio.
privilegiou o Poder Legislativo e fez com que as assembléias provinciais perdes- O gabinete da Conciliação (1853-1857) procurou estabelecer reformas
sem terreno. Apesar das investidas liberais que visavam a submeter o poder eleitorais que suprimissem o mecanismo de pressões sobre o eleitor, como se a
moderador ao ontrole da nação, as decisões continuavam sendo tomadas na simples lei pudesse transformar a realidade profunda. A cruzada em favor da
cúpula. sob a autoridade do imperador. No contexto político e jurídico de centra- reforma eleitoral culminou com a reforma de 1881, que foi decepcionante.
possibilitando eleições mais pacíficas mas ainda controladas pelos elementos
lização, os capangas dos senhores se tomavam capangas do império, e o unifor-
me da Guarda Nacional burocratizava agricultores e senhores de engenho: economicamente dominantes. A barganha entre pólo oficial e local passou a
dominar a carreira política, substituindo a imposição armada. Sob a influência
'Sobre :15 senões e os campos desce a espada imperial; estruturada, na cúpu-
dos grandes chefes políticos, a máquina eleitoral tinha sua base de sustentação
la, num mecanismo estável de governo, mecanismo superior às mudanças de
na corte. O candidato deveria ser filhote: filho ou apadrinhado de algum per-
gabinete''. O Estado era ainda o das dinastias de Avis e Bragança, todo poder
sonagem importante; na carreira política, o cargo público foi, freqüentemente.
emanando do rei e a ele volvendo, os conservadores sem cargos se fazendo de
o passo inicial.
revolucionários e o lib ral no poder esquecendo "a pólvora incendiária".
Nessa época, um novo fator começou a contar: o coronelismo. A influên-
cia local obedecia à geral, com a condição de que houvesse viagem pelo distri-
to: verdadeira peregrinação que formava os vínculos do futuro deputado e
p ARTIDOS POLÍTICOS E ELEIÇÕES NO IMPÉRIO
homologava solidariedades ao mando local, independentes de programas ou
reivindicações nacionais. "O deputado será o agente que cuida das nomea-
A partir de 1836. a história política do império se resumiu à luta dos dois
ções, das promessas, dos favores, dos arranjos, árbitro das disputas de campa-
grandes partidos: o Liberal e o Conservador, cujas linhas eram bastante distin-
nário".
ta·. Des~e o início. oyartido Liberal se achou comprometido com a idéia de
O predomínio do soberano através do Poder Moderador, a centralização
soberanta popular. sendo mais democrático do que propriamente liberal. Já os
articulada na corte e o voto manipvlado não formavam, entretanto, um si terna
con~erv_adores reverenciavam o trono e a tradição, acatando a fórmula de que
0 ret rema, governa e administra, com base no Conselho de Ministros e no
político. Esse se baseava numa tradição persistente, assentada em velhas idéias
importadas e em fatores novos, ativos mas incapazes de transformar a ordem
Sen~do. O panido Liberal se encontrava mais próximo da propriedade rural na
mt.:dtda que prega va a descentralrzaçao
. - e o federalismo suscttan . do os das coisas. Acima das classes e dos conflitos políticos, o estamento burocrati-
poderes :lis ao ma d O 'd , . mats. co persistia, fechado na hereditariedade e mantendo suas características hi tó-
,. . · , n o. part1 o Conservador, por sua vez, estana ricas e funcionais .de camada aristocrática. A exigências do Estado eram
proAtn:o do comercio e do crédito.
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OS DON(JÇ /)0 POOI:R LAURA DE MELLO E SOl!ZA
quw procurou respond~r a~s ataques: reorganizando-se, ~a~ a sua insistência do início do século defenderiam o país agrícola sólido, estável, da lazend,t
cnt preservar a ccntrahznçao neutralizou as reformas de ulttma hora, mesmo soldável e articulada ao comércio exterior, substituindo o comissâno pelo e:<..-
porque 0 seu único ponto de apoio consistia nos ~azendeiros do Vale do Paraíba. portador estrangeiro e criando, em 1906, o esquema de valorização do café.
0 cstarnento, entre a sua falência e a da monarqma, optou pela última e abando. Os instrumentos patrimonialistas de comando da economia sofreram gran
nou 0 barco, já combalido pelns discussões liberais de caráter antiestamental e de cerceamento, sendo evocados uma vez ou outra como corretivo da politJca
anti burocrático. econômica; o estamento estatal perecia "em favor das unidades federadas
Sob)). Pedro I. doze militares são elevados ao Senado, e cinco ao Con- plantadas sobre o café". A indústria possível passou a ser a que e arttcula\a
~clho de E~tado. Achavam-se ainda vivas, então, as tradições da monarquia e era compatível com o café e com a predominância política do Sul. Duas
aristocrática. que integrava os militares na ordem dominante e dirigente. Com modalidades se desenvolveriam: a paulista, capitalista c de índole li~ral ; a
a rcgi!ncia. verificou-se a ruptura: em nove anos, dois militares no Senado. o fluminense, especuladora e dependente dos favores do governo.
Segundo Reinado só fez confinnar o ostracismo do quadro militar, acentuando- O processo modernizador, politicamente orientado e repousando no com-
o: os soldos eram péssimos, mal dando para viver, e a profissão era vista com plexo exportador, apresentava grandes contradições, comprometido desde o
repu! a por não ser diretamente ligada às atividades produtivas. Discriminado, início: "A absorção, num só impulso ascensional. do patrimonial i mo c do capi-
o Exército se sentia cadn vez mais solidário internamente; tendo a ascensão talismo moderno, voltado este para a indústria e para a lavoura como empresa,
social bloqueada, desenvolvia valores próprios e um modo específico de pen- será um destino não possível para o esquema modemizador, comprometido
ar, cxtremarnente crítico. Seu envolvimento na questão militar, no abolicionismo com a comercialização e não com o âmbito produtor". 3 O núcleo modernizador
..: no rcpublicanismo abalaram definitivamente a monarquia: "sem compromis- acabou, assim, por cair no controle dos particulares consagrado estadualmen-
'os com a propriedade territorial, de onde não saíam os oficiais, não se dispôs te; a necessidade de centralização, o processo antifederal alimentavam as cor-
a apoiar, dr:- outro lado, o estamento monárquico, do qual se desligara e que não rentes que desembocariam em 30.
admtlla abrir-lhe as portas". No seu último momento, a monarquia compreen-
deu a gravidade da c!issidência militar e procurou, num derradeiro esforço,
atrair os soldados com honrarias, títulos e cargos, chamando-os à participação 0 MILITARISMO E OS MILITARES
no governo; mas já então o título tinha som oco. A república viria, mesmo que
muitos dos espectadores de 15 de novembro acreditassem, confonne narra A integridade da pátria era a preocupação central do grupo militar que
Aristides Lobo, estar assistindo a uma parada militar. ascendeu ao poder em 1889, e que para tal se firmou como guardião das insti-
tuições constitucionais. Nesse momento, afastar o Exército do poder significa-
ria consagrar o imobilismo oligárquico do regime, sob domínio de São Paulo.
0 LIBERALISMO DOS SENHORES
Minas e da política dos governadores. Era necessário, pois, cultivar o seu con-
vívio, o que foi feito, através dos tempos, por todos os que desejamm se apro-
O liberalismo político se harmonizara com os interesses dos senhores de ximar do poder. Mas nenhuma das categorias dissidentes conquistaria o
terras, defensores do federalismo, da descentralização, da soberania popular- Exército, que conseguiu preservar sua identidade, sua estrutura e tamental,
o povo sendo os proprietários agrícolas -e da democracia. Do seio do libera· "sem fechar-se numa casta e estruturar-se numa classe", tomando-se catego-
lismo político brotou o liberalismo econômico, valorizando a livre concorrência. ria política atuante. O militarismo, invocado com freqüência, era posshel mas
atacando 0 protecionismo e as peias estatais. não chegou a aflorar no curso da nossa história.
Acima do Congresso, do Ministério e do aparelho burocrático, o milita-
. .N·t crise de 1889-1891, duas correntes se cruzariam, uma voltada para a
.l~>gat' 1 • outra para a reconstrução da economia: sob seu impacto, o industria· res procurariam base de apoio nos estados. A força annada zelaria pela con-
hsmo. ·f'ndido por RUJ· Bar bosa, se retrai,· e se consohda · o agransmo,
· en·
quanto tenta se li herar das garras dos com1ssanos
· , . e banqueiros. Os cafe1c· ul""'-
L"'- ' lbid., p. S34.
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OS DON(JÇ /)0 POOI:R LAURA DE MELLO E SOl!ZA
quw procurou respond~r a~s ataques: reorganizando-se, ~a~ a sua insistência do início do século defenderiam o país agrícola sólido, estável, da lazend,t
cnt preservar a ccntrahznçao neutralizou as reformas de ulttma hora, mesmo soldável e articulada ao comércio exterior, substituindo o comissâno pelo e:<..-
porque 0 seu único ponto de apoio consistia nos ~azendeiros do Vale do Paraíba. portador estrangeiro e criando, em 1906, o esquema de valorização do café.
0 cstarnento, entre a sua falência e a da monarqma, optou pela última e abando. Os instrumentos patrimonialistas de comando da economia sofreram gran
nou 0 barco, já combalido pelns discussões liberais de caráter antiestamental e de cerceamento, sendo evocados uma vez ou outra como corretivo da politJca
anti burocrático. econômica; o estamento estatal perecia "em favor das unidades federadas
Sob)). Pedro I. doze militares são elevados ao Senado, e cinco ao Con- plantadas sobre o café". A indústria possível passou a ser a que e arttcula\a
~clho de E~tado. Achavam-se ainda vivas, então, as tradições da monarquia e era compatível com o café e com a predominância política do Sul. Duas
aristocrática. que integrava os militares na ordem dominante e dirigente. Com modalidades se desenvolveriam: a paulista, capitalista c de índole li~ral ; a
a rcgi!ncia. verificou-se a ruptura: em nove anos, dois militares no Senado. o fluminense, especuladora e dependente dos favores do governo.
Segundo Reinado só fez confinnar o ostracismo do quadro militar, acentuando- O processo modernizador, politicamente orientado e repousando no com-
o: os soldos eram péssimos, mal dando para viver, e a profissão era vista com plexo exportador, apresentava grandes contradições, comprometido desde o
repu! a por não ser diretamente ligada às atividades produtivas. Discriminado, início: "A absorção, num só impulso ascensional. do patrimonial i mo c do capi-
o Exército se sentia cadn vez mais solidário internamente; tendo a ascensão talismo moderno, voltado este para a indústria e para a lavoura como empresa,
social bloqueada, desenvolvia valores próprios e um modo específico de pen- será um destino não possível para o esquema modemizador, comprometido
ar, cxtremarnente crítico. Seu envolvimento na questão militar, no abolicionismo com a comercialização e não com o âmbito produtor". 3 O núcleo modernizador
..: no rcpublicanismo abalaram definitivamente a monarquia: "sem compromis- acabou, assim, por cair no controle dos particulares consagrado estadualmen-
'os com a propriedade territorial, de onde não saíam os oficiais, não se dispôs te; a necessidade de centralização, o processo antifederal alimentavam as cor-
a apoiar, dr:- outro lado, o estamento monárquico, do qual se desligara e que não rentes que desembocariam em 30.
admtlla abrir-lhe as portas". No seu último momento, a monarquia compreen-
deu a gravidade da c!issidência militar e procurou, num derradeiro esforço,
atrair os soldados com honrarias, títulos e cargos, chamando-os à participação 0 MILITARISMO E OS MILITARES
no governo; mas já então o título tinha som oco. A república viria, mesmo que
muitos dos espectadores de 15 de novembro acreditassem, confonne narra A integridade da pátria era a preocupação central do grupo militar que
Aristides Lobo, estar assistindo a uma parada militar. ascendeu ao poder em 1889, e que para tal se firmou como guardião das insti-
tuições constitucionais. Nesse momento, afastar o Exército do poder significa-
ria consagrar o imobilismo oligárquico do regime, sob domínio de São Paulo.
0 LIBERALISMO DOS SENHORES
Minas e da política dos governadores. Era necessário, pois, cultivar o seu con-
vívio, o que foi feito, através dos tempos, por todos os que desejamm se apro-
O liberalismo político se harmonizara com os interesses dos senhores de ximar do poder. Mas nenhuma das categorias dissidentes conquistaria o
terras, defensores do federalismo, da descentralização, da soberania popular- Exército, que conseguiu preservar sua identidade, sua estrutura e tamental,
o povo sendo os proprietários agrícolas -e da democracia. Do seio do libera· "sem fechar-se numa casta e estruturar-se numa classe", tomando-se catego-
lismo político brotou o liberalismo econômico, valorizando a livre concorrência. ria política atuante. O militarismo, invocado com freqüência, era posshel mas
atacando 0 protecionismo e as peias estatais. não chegou a aflorar no curso da nossa história.
Acima do Congresso, do Ministério e do aparelho burocrático, o milita-
. .N·t crise de 1889-1891, duas correntes se cruzariam, uma voltada para a
.l~>gat' 1 • outra para a reconstrução da economia: sob seu impacto, o industria· res procurariam base de apoio nos estados. A força annada zelaria pela con-
hsmo. ·f'ndido por RUJ· Bar bosa, se retrai,· e se consohda · o agransmo,
· en·
quanto tenta se li herar das garras dos com1ssanos
· , . e banqueiros. Os cafe1c· ul""'-
L"'- ' lbid., p. S34.
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LAUR DE \1ELLO E SO ZA
.I O
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.,~,..,
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LAUR. DE \1ELLO E 'OCZA
O poder- a sobe rama nominalmente popular -tem donos. que não emanam lia nação.
da sociedade, da plebe tgnara e pobre. O chefe não é um delegado, mas um g.:~tur de
negócios. gestor de negócios e não mandatário. O Estado. pela eooptação ~ mpre que
poss!vel, pela violência se necessário. resiste a todos os assaltos. reduzido, nm ~eus
conflitos, à conquista dos membros graduados de seu estado·maior E o pov . pala\ ra
CoNcLUsAo e não realidade dos contestatários, o que quer ele? Este osctla entre o parastli>mo .•1
mobilização das passeatas sem participação pol!tica e a naciOnalização do poder l l
De D. Jo:io I a Getúlio Varga . numa viagem de seis séculos, uma estru· A lei, retórica e elegante. não o interessa. A eletção, mesmo formalmente liHe. lhe
tura político-s 1cial re. istiu a todas a transformações fundamentais, aos desa- reserva a escolha entre opções que ele não fonnulou.s
lios mai p10fundo . "à travessia do oceano largo". Durante todo esse tempo,
o patnmoniali mo estatal se manteve, os olhos voltados para a especulação, o Nem a cultura forneceu solução alternativa, sufocada pela campaça ad-
lulro c a aventura. ministrativa. Resistindo às setas, à voluptuosidade das índia . ao dcsatio Jo
A princip.tl c.trac terística do capitalismo do Estado patrimonial foi a pre· novo mundo, a máquina estatal permaneceu portuguesa, "hipocritamente ca -
dominância do quadro administrdtivo junto ao foco uperiorde poder: o estamento ta, duramente administrativa, aristocraticamente superior".
que evoluiu de .1ri ·tocr;ítico para burocrático, acomodando-se às mudanças
sem altl·rar as esttuturas. O patrimonialismo também evoluiu, passando de
pl.'s~n:tl para estatal, amoldando-se às transformações. adequando-se às mu·
d.mç.ts. hsa compatibiltdade entre capital i mo moderno e quadro tradicional é
111 11
• a das dta\e para a compreensão do fenômeno histórico português-brasi·
leirt.
hso foi pmsívcl devido à existência de um sistema de forças políticas
que p.mavam acima da elas es: a uma camada que mudou e se renovou, mas
nunc.t 't resentou · ~ 0
., a na a · grupos e as classes procuraram, sem sucesso
e lurtar \\la opr•s ~ . rd . .
c sao. a o em era tmposta de cima para batxo, ' lbld., p 748.
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LAUR. DE \1ELLO E 'OCZA
O poder- a sobe rama nominalmente popular -tem donos. que não emanam lia nação.
da sociedade, da plebe tgnara e pobre. O chefe não é um delegado, mas um g.:~tur de
negócios. gestor de negócios e não mandatário. O Estado. pela eooptação ~ mpre que
poss!vel, pela violência se necessário. resiste a todos os assaltos. reduzido, nm ~eus
conflitos, à conquista dos membros graduados de seu estado·maior E o pov . pala\ ra
CoNcLUsAo e não realidade dos contestatários, o que quer ele? Este osctla entre o parastli>mo .•1
mobilização das passeatas sem participação pol!tica e a naciOnalização do poder l l
De D. Jo:io I a Getúlio Varga . numa viagem de seis séculos, uma estru· A lei, retórica e elegante. não o interessa. A eletção, mesmo formalmente liHe. lhe
tura político-s 1cial re. istiu a todas a transformações fundamentais, aos desa- reserva a escolha entre opções que ele não fonnulou.s
lios mai p10fundo . "à travessia do oceano largo". Durante todo esse tempo,
o patnmoniali mo estatal se manteve, os olhos voltados para a especulação, o Nem a cultura forneceu solução alternativa, sufocada pela campaça ad-
lulro c a aventura. ministrativa. Resistindo às setas, à voluptuosidade das índia . ao dcsatio Jo
A princip.tl c.trac terística do capitalismo do Estado patrimonial foi a pre· novo mundo, a máquina estatal permaneceu portuguesa, "hipocritamente ca -
dominância do quadro administrdtivo junto ao foco uperiorde poder: o estamento ta, duramente administrativa, aristocraticamente superior".
que evoluiu de .1ri ·tocr;ítico para burocrático, acomodando-se às mudanças
sem altl·rar as esttuturas. O patrimonialismo também evoluiu, passando de
pl.'s~n:tl para estatal, amoldando-se às transformações. adequando-se às mu·
d.mç.ts. hsa compatibiltdade entre capital i mo moderno e quadro tradicional é
111 11
• a das dta\e para a compreensão do fenômeno histórico português-brasi·
leirt.
hso foi pmsívcl devido à existência de um sistema de forças políticas
que p.mavam acima da elas es: a uma camada que mudou e se renovou, mas
nunc.t 't resentou · ~ 0
., a na a · grupos e as classes procuraram, sem sucesso
e lurtar \\la opr•s ~ . rd . .
c sao. a o em era tmposta de cima para batxo, ' lbld., p 748.
!54 55
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ANTONIO ( ,J\NJ)IJ)()
Formação da
literatura brasileira
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ANTONIO ( ,J\NJ)IJ)()
Formação da
literatura brasileira
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Uma primeira observação que pode cr feita para quem começa J lcttura
de Formaçfio da literatura brasileira· mmnt'ntos d1•citil'os.l d Antonio
Candido, refere-se às marcas biográficas de eu autor, em que o gt•..tos un
cidadão participante parecem conjugar-se com os do crítico e professor de
literatura. Há, nesse sentido. uma interação das atitude que singulanzaram a
sua práxis como personalidade na vida ociocultural c os traym defimdor·s de
sua personalidade enquanto crítico. a cido no Rio de Janeiro (19lR), filho do
médico Aristides Candido de Mello e Sou7a e de Clarisse Tolentino de Mello e
Souza. Antonio Candido de Mello e Souza passou ua mfànCJa entre os IIm ih.:
geográficos e culturais de Minas Gerais e São Paulo (Cá sta, P os de Calda
e São João da Boa Vista), para fixar-se na capital pauli ta a partir de l917
Ingressou na Faculdade de Direito c na de Filosofia da Umvcnd de d ·ao
Paulo em 1939, tendo abandonado a primeira no quinto ano e e formado n
segunda em 1942. Nesse ano tomou-se assistente de sociolo Ja do pr te sor
Fernando de Azevedo, dessa última faculdade. Desde então. seu nome t vc
ligado à perspectiva crítica que marcou a história dessa in tttuiçao c s ·u em
bates contra formas e práticas do pensamento conscnador
Em sua vida acadêmica, Antonio Candido permaneceu como pro fc
de sociologia até 1958, quando passou a dedicar-se de forma e clusi\ J a li!
ratura. Já em 1945 havia sido aprovado num concurso de hvre-doc·n~·
literatura brasileira coma tese lnrroduçãoan mirodo crifle o d Sfllw Rr m ro
e. em 1958, em concurso de doutorado na área de Ciencaa octaa c m te
Os parceiros do rio Bonito.l No período de 1958 a 1960. foa prof
literatura brasileira da Faculdade de Filosofia de A i . voltando m • u
universidade de origem para assumir a disciplina de teona literária c h
comparada, adquirindo o grau de professor titular ( 1974 e aposentando-
1978. Foi ainda coordenador do In tituto de E&tudos da Linguagem
sidade de Campinas, de 1976 a 1978
Antonio Candido iniciou ua criuca na revasta ClUIUJ 1941-1
ao lado de Paulo Enúlio SaJJes Gomes, Alfredo Mesquita. Déc
Prado, Gilda de Morais Rocha (sobrinha de Mário de Andnde•. "'"''" ,.'""""
a se casar) e outros, procurava c~ uma
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Uma primeira observação que pode cr feita para quem começa J lcttura
de Formaçfio da literatura brasileira· mmnt'ntos d1•citil'os.l d Antonio
Candido, refere-se às marcas biográficas de eu autor, em que o gt•..tos un
cidadão participante parecem conjugar-se com os do crítico e professor de
literatura. Há, nesse sentido. uma interação das atitude que singulanzaram a
sua práxis como personalidade na vida ociocultural c os traym defimdor·s de
sua personalidade enquanto crítico. a cido no Rio de Janeiro (19lR), filho do
médico Aristides Candido de Mello e Sou7a e de Clarisse Tolentino de Mello e
Souza. Antonio Candido de Mello e Souza passou ua mfànCJa entre os IIm ih.:
geográficos e culturais de Minas Gerais e São Paulo (Cá sta, P os de Calda
e São João da Boa Vista), para fixar-se na capital pauli ta a partir de l917
Ingressou na Faculdade de Direito c na de Filosofia da Umvcnd de d ·ao
Paulo em 1939, tendo abandonado a primeira no quinto ano e e formado n
segunda em 1942. Nesse ano tomou-se assistente de sociolo Ja do pr te sor
Fernando de Azevedo, dessa última faculdade. Desde então. seu nome t vc
ligado à perspectiva crítica que marcou a história dessa in tttuiçao c s ·u em
bates contra formas e práticas do pensamento conscnador
Em sua vida acadêmica, Antonio Candido permaneceu como pro fc
de sociologia até 1958, quando passou a dedicar-se de forma e clusi\ J a li!
ratura. Já em 1945 havia sido aprovado num concurso de hvre-doc·n~·
literatura brasileira coma tese lnrroduçãoan mirodo crifle o d Sfllw Rr m ro
e. em 1958, em concurso de doutorado na área de Ciencaa octaa c m te
Os parceiros do rio Bonito.l No período de 1958 a 1960. foa prof
literatura brasileira da Faculdade de Filosofia de A i . voltando m • u
universidade de origem para assumir a disciplina de teona literária c h
comparada, adquirindo o grau de professor titular ( 1974 e aposentando-
1978. Foi ainda coordenador do In tituto de E&tudos da Linguagem
sidade de Campinas, de 1976 a 1978
Antonio Candido iniciou ua criuca na revasta ClUIUJ 1941-1
ao lado de Paulo Enúlio SaJJes Gomes, Alfredo Mesquita. Déc
Prado, Gilda de Morais Rocha (sobrinha de Mário de Andnde•. "'"''" ,.'""""
a se casar) e outros, procurava c~ uma
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fORM,\Ç.{O Di\ l.rtEHMl/RA BRASILI:.IRA
360
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fORM,\Ç.{O Di\ l.rtEHMl/RA BRASILI:.IRA
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FORMAÇÃO DA LITERATURA BRAS/l.EIRA
BENJAMIN ABDALA JUNIOR
plano do imaginário. S~ o tempo tro~xe aos escrit~res ~rasileir?s a consciência do seu comportamento que pudessem fazê-lo ombrear com este- no cavalhe 1mmo,
de que essa diferença tmha suas ongens nas mattzaçoes sofndas no país por na generosidade, na poesia.7
uma ltteratura organicamente vinculada às da Europa. Para Antonio Candido,
ao contrário do que imaginavam os românticos, nossa literatura -como toda A consciência crítica dos modernos permitiu-nos imaginar as im uma
cultura dominante no Brasil - foi-nos imposta, constituindo um produto da co- diferença mais funda que a dos românticos, embalados por um mecanismo de
Iomzação. Não era um prolongamento das culturas locais, como sonhavam, compensação: a busca de um equivalente nacional aos pretensamente altivos
ma um transplante da literatura portuguesa. Nesse sentido, o crítico, logo nas cavaleiros medievais. Menos evidente mas mais importante que essas opera-
primeiras páginas da Fonnação, indica: ções de substituição foi a adaptação dos gêneros às necessidades de expres-
são dos sentimentos nacionais. São essas formas que irão se acentuar à medida
Há literaturas de que um homem não precisa sair para receber cultura e enriquecer a que o sentimento de nacionalidade- entendido nesta resenha como exten ão
cn 1bllidade; outras, que só podem ocupar uma parte de sua vida de leitor. sob pena das relações de parentesco - tornou-se mais evidente por afastar-se de im-
de lhe re tring1rem memediavelmente o horizonte [... ) A nossa literatura é galho pregnações ideológicas coloniais, propiciando à literatura brasileira adquirir uma
secundário da portuguesa, por sua vez arbusto de segunda ordem do Jardim das
dicção própria.
Musas. Os que e nutre m apenas delas são reconhecíveis à pnmeira vista, me mo
quando erudJto e mtehgentes, pelo gosto provinciano e falta de senso de proporções
[ . ] Comparada às grandes, a nossa literatura é pobre e fraca. Mas é ela e não outra,
que nos expnme.• SISTEMA LITERÁRJO NACIONAL
Essa condição subalterna aponta, em termos de valoração, para o con- Na Formação, a literatura brasileira é apresentada como "síntese de
junto da literatura e não para produções individualizadas. Não exclui, pois, a tendências universalistas e particularistas", 8 nos momentos decisivos- isto é.
possih tdade de obras individualmente relevantes. Nossa literatura viria de um os momentos estudados, de acordo com um critério qualitativo, tendo em vJsta
processo de inculcação de valores do processo colonial e, para o crítico, torna- a caracterização dos traços predominantes de nossa literatura. Para a com-
se necessário adquirir consciência crítica deles, para assim reverter o quadro preensão dessa formação, é necessário, segundo o autor, distinguir manifesta-
da dependência. que extrapola esse momento h.istórico - um processo que, ções literárias de literatura propriamente dita. A literatura envolve um "sistema
como marcas da colc:nização, adquire novas roupagens, em outras situações de obras ligadas por denominadores comuns, que permitem reconhecer as no-
históricas de nossa cultura. Para os românticos, colocava-se, então, a necessi- tas dominantes duma fase". 9 O sistema envolve uma articulação orgânica en-
dade de buscar assun tos diferentes dos veiculados na Europa, mas acabaram tre autor-obra-público, pressupondo
restritos a uma operação de substituição como a ocorrida com o índianismo. É
mteressante observar a perspectiva histórica de Antonio Candído em relação a existência de um conjunto de produtores literários, mais ou menos consciente de
seu papel; um conjunto de receptores. formando os diferentes tipos de público. em
ao tratamento desse tema:
os quais a obra não vive; um mecanismo transmissor (de modo geral, uma Imguagem.
traduzida em estilos), que liga uns a outros[ ... ] Quando a athidade de esc•1tores de
Em nossos d1as, o neo-ind1anismo dos modernos de 1922 (precedido por meio século um dado período se integra em tal sistema. ocorre outro elemento decisi\o. a forma-
de etnografia tsteÍnáti ca) iria acentuar aspectos autênticos da vida do fndio, encaran- ção da continuidade literária[...] É a tradição[ .. ] formando padrões que se tmpõem
do-o. nafJ como gcnul-homem embnonáno, mas como primitivo, cujo interesse resi- [...] Sem essa tradição não há literatura como fenômeno de civ!lização.'
dia precisamente no que trouxesse de d1ferente, contraditório em relação à nossa
cultura eu ropéta. O mdiani\mo dos romãnticos, porém, preocupou-se sobremaneira
em qUJpará-lo qualitati vamente ao conqubtador, realçando ou inventando aspectos 7
lbid., v. 2, p. 20.
1
lbid., v. I, p. 23.
' lbid~m.
I "'.·v. I, pp 9 10 10
lbid., pp. 23-24.
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FORMAÇÃO DA LITERATURA BRAS/l.EIRA
BENJAMIN ABDALA JUNIOR
plano do imaginário. S~ o tempo tro~xe aos escrit~res ~rasileir?s a consciência do seu comportamento que pudessem fazê-lo ombrear com este- no cavalhe 1mmo,
de que essa diferença tmha suas ongens nas mattzaçoes sofndas no país por na generosidade, na poesia.7
uma ltteratura organicamente vinculada às da Europa. Para Antonio Candido,
ao contrário do que imaginavam os românticos, nossa literatura -como toda A consciência crítica dos modernos permitiu-nos imaginar as im uma
cultura dominante no Brasil - foi-nos imposta, constituindo um produto da co- diferença mais funda que a dos românticos, embalados por um mecanismo de
Iomzação. Não era um prolongamento das culturas locais, como sonhavam, compensação: a busca de um equivalente nacional aos pretensamente altivos
ma um transplante da literatura portuguesa. Nesse sentido, o crítico, logo nas cavaleiros medievais. Menos evidente mas mais importante que essas opera-
primeiras páginas da Fonnação, indica: ções de substituição foi a adaptação dos gêneros às necessidades de expres-
são dos sentimentos nacionais. São essas formas que irão se acentuar à medida
Há literaturas de que um homem não precisa sair para receber cultura e enriquecer a que o sentimento de nacionalidade- entendido nesta resenha como exten ão
cn 1bllidade; outras, que só podem ocupar uma parte de sua vida de leitor. sob pena das relações de parentesco - tornou-se mais evidente por afastar-se de im-
de lhe re tring1rem memediavelmente o horizonte [... ) A nossa literatura é galho pregnações ideológicas coloniais, propiciando à literatura brasileira adquirir uma
secundário da portuguesa, por sua vez arbusto de segunda ordem do Jardim das
dicção própria.
Musas. Os que e nutre m apenas delas são reconhecíveis à pnmeira vista, me mo
quando erudJto e mtehgentes, pelo gosto provinciano e falta de senso de proporções
[ . ] Comparada às grandes, a nossa literatura é pobre e fraca. Mas é ela e não outra,
que nos expnme.• SISTEMA LITERÁRJO NACIONAL
Essa condição subalterna aponta, em termos de valoração, para o con- Na Formação, a literatura brasileira é apresentada como "síntese de
junto da literatura e não para produções individualizadas. Não exclui, pois, a tendências universalistas e particularistas", 8 nos momentos decisivos- isto é.
possih tdade de obras individualmente relevantes. Nossa literatura viria de um os momentos estudados, de acordo com um critério qualitativo, tendo em vJsta
processo de inculcação de valores do processo colonial e, para o crítico, torna- a caracterização dos traços predominantes de nossa literatura. Para a com-
se necessário adquirir consciência crítica deles, para assim reverter o quadro preensão dessa formação, é necessário, segundo o autor, distinguir manifesta-
da dependência. que extrapola esse momento h.istórico - um processo que, ções literárias de literatura propriamente dita. A literatura envolve um "sistema
como marcas da colc:nização, adquire novas roupagens, em outras situações de obras ligadas por denominadores comuns, que permitem reconhecer as no-
históricas de nossa cultura. Para os românticos, colocava-se, então, a necessi- tas dominantes duma fase". 9 O sistema envolve uma articulação orgânica en-
dade de buscar assun tos diferentes dos veiculados na Europa, mas acabaram tre autor-obra-público, pressupondo
restritos a uma operação de substituição como a ocorrida com o índianismo. É
mteressante observar a perspectiva histórica de Antonio Candído em relação a existência de um conjunto de produtores literários, mais ou menos consciente de
seu papel; um conjunto de receptores. formando os diferentes tipos de público. em
ao tratamento desse tema:
os quais a obra não vive; um mecanismo transmissor (de modo geral, uma Imguagem.
traduzida em estilos), que liga uns a outros[ ... ] Quando a athidade de esc•1tores de
Em nossos d1as, o neo-ind1anismo dos modernos de 1922 (precedido por meio século um dado período se integra em tal sistema. ocorre outro elemento decisi\o. a forma-
de etnografia tsteÍnáti ca) iria acentuar aspectos autênticos da vida do fndio, encaran- ção da continuidade literária[...] É a tradição[ .. ] formando padrões que se tmpõem
do-o. nafJ como gcnul-homem embnonáno, mas como primitivo, cujo interesse resi- [...] Sem essa tradição não há literatura como fenômeno de civ!lização.'
dia precisamente no que trouxesse de d1ferente, contraditório em relação à nossa
cultura eu ropéta. O mdiani\mo dos romãnticos, porém, preocupou-se sobremaneira
em qUJpará-lo qualitati vamente ao conqubtador, realçando ou inventando aspectos 7
lbid., v. 2, p. 20.
1
lbid., v. I, p. 23.
' lbid~m.
I "'.·v. I, pp 9 10 10
lbid., pp. 23-24.
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J-ON\fAÇÃO DA UTf.RATURA BRAS/Lf:IRA
BENJAMIN ABDALA JU ·!OR
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J-ON\fAÇÃO DA UTf.RATURA BRAS/Lf:IRA
BENJAMIN ABDALA JU ·!OR
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1 011. lAÇAO />A I 111 HA I URA BRASil /:IRA
BENJAMIN ABDAI A JU:-iiOR
furma lit••tána ~ s.to J'sím históricas c sociais. sem deixarem de ter sua auto.
nomia t'' Pl:dlica uma <tutonomia relativa capaz de articular o social e 0 renova~or que essa tendên~ia literária adquiriu em Portugal, através de grupos
de escntores que consegUiam construir um público para suas obras. Era 0
lu !lírico. Melhor dizcndo, a obra literária contém em suas formas internas
movimento das academias, que rompia com o isolamento dos cscrrtores ante-
t t' ~odal ,. histônco, evitando-se asstm o paralelismo da historiografia
riores que, embora pudessem ter feito produções de interesse artístico (foram
po 1uvt <.ta que tk~considerava a er,pecificidade dos textos literários ao colocá-
poucos os casos realmente significativos, como os de Anchieta, Antômo V reira,
lo~ como dct orrcn1.ia passtva dos fatos históricos. Mais: é próprio da maneira
Gregório de Matos), valeram mais pela singularidade individual de suas produ
dt• ~~·r do h·xto litcrúrio a criattvidadc, a inovação artística. Na medida do
ções. Como indica a Formação, essas produções tiveram repercussões locais
pos•ivd, l'lc nfto ~~·ltmtla, pois, à reprodução dos repertórios culturais anterio- e não conseguiram formar uma tradição, devido à não-configuração orgân 1ca
rt•s. da articulação sistema-obra-público.
Foi fundada em 1759, na Bahia, a Academia dos Renascidos, cujos inte-
t ltn p<Wrna rcv~ I.1 ~enurncntos, 1dé1as. experiências; um romance revela 1sto mesmo, grantes
com m.u Jrn[lhtudc c menos concentração. Um c outro valem, todav1a. não por
cup1ar '' v1da. como pcnsan.t, no Ium te, um crítiCO não hteráno; nem por criar uma
c.l prc ,an em ('ontcúdo, como pcnsana, também oo hmtte, um fonnahsta radical.
não deixaram de lado um dos interesses centrats do Setecentos brasJlctro. 4uc o
passaria como legado ao século segumte: o da epopém nahv1sta. dando catc~tona
Vntrm porr1uc 1/ll'f/1/am uma vida nova, \cgundo a organ11ação formal, tanto quanto
estética aos feitos da crônica local. A primeira academia baiana. dos E~quwdos,
po ~fvt· l nov.J. que ,Jifoagmaçào unpnmc a seu objeto''
desincumbira-se em prosa, com a Hisr6ria da América porlllgllrla, de Rocha Pita ,.
Ao refletir assim ~obre as relações da nossa literatura com a história da A Academia dos Renascidos procurou congregar acadêmicos de outras
11.1 .to, Antonio Cand1do nos mostra os mecanismos pelos quais aprendemos a partes da colônia: seu horizonte já não se circunscrevia à atmosfera local.
m1· ver c ,1 nos imaginar - ml.!cani~mos de l.cntido prospectivo, atraídos por Essa inclinação para uma visão conjunta da colônia- o sentimento nativista
lutlll, .1 Sl:r contmuarncnte inventado. Essa maneira de ver a literatura em sua adquirindo traços de sentimento nacional- vai tomar-se mais evidente com o
.tutunornia relativa é cxtcnsiva- entendemos- para todos os campos artísti- deslocamento do eixo político e econômico para o sul e a maior presença do
cos c 11.10 artísticos de mts\a cultura, onde o sistema nacional entra em interação ideário iluminista. Modificava-se o mapa demográfico do país, com implica-
com uutro ststcmas c. em particular, com um campo intelectual de caráter ções na vida social: maior número de cidades, que se intercomunicavam, em-
~upr.tnauonal. I~ evi t·ntc que relações de poder simbólico atravessam esse bora os vazios fossem ainda acentuados. Desenhava-se um rosto próprio par
campo, ulm implicações político-culturais. Há sempre a necessidade de se o Brasil, que gradativamente se conscientiza de sua individuahdade e pas a a
con idcrar ond~.: o tndivídno, seja ele autor ou crítico. tem os seus pés e por ter aspirações diferenciadas. Configura-se para as elites brasileiras a idéia de
nndt: circula a sua cat>eça. que o pafs já não era o espelho de Portugal. Dessa forma, na aflflllação da
idéia de independência, os ideais libertários de Rousseau e dos enciclopedista
passaram a embalar cada vez mais as novas academias. Em 1795, foi fechada
M UffRATfiRA CONGRI:GADA: a Sociedade Literária do Rio de Janeiro: para as autoridades coloma1s, seus
O, rtGLR ·SE O SISTFJ>tA LITERÁRIO BRASILEIRO membros eram subversivos.
o ambiente para a pr~ literiria. nos meados do século XVIII, e~a
r .u.li mo é o momento decisivo em que a literatura adquire, no Brasil, entretanto muito pobre. conforme indica Antonio Candído ProduZJa- e e•
t1 .1 rg·nic s de um sistema".'~ Reproduz-se no Brasil o sentido cu lava-se uma subliteratura cheia de lugares-conums- um subprodut ·quase
· e do ..nvinri•nimtO
sempre, da v1'da reI'1g1osa 1"~·---
das elas dirigentes. É a partir
• ll>i4. p 81.
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1 011. lAÇAO />A I 111 HA I URA BRASil /:IRA
BENJAMIN ABDAI A JU:-iiOR
furma lit••tána ~ s.to J'sím históricas c sociais. sem deixarem de ter sua auto.
nomia t'' Pl:dlica uma <tutonomia relativa capaz de articular o social e 0 renova~or que essa tendên~ia literária adquiriu em Portugal, através de grupos
de escntores que consegUiam construir um público para suas obras. Era 0
lu !lírico. Melhor dizcndo, a obra literária contém em suas formas internas
movimento das academias, que rompia com o isolamento dos cscrrtores ante-
t t' ~odal ,. histônco, evitando-se asstm o paralelismo da historiografia
riores que, embora pudessem ter feito produções de interesse artístico (foram
po 1uvt <.ta que tk~considerava a er,pecificidade dos textos literários ao colocá-
poucos os casos realmente significativos, como os de Anchieta, Antômo V reira,
lo~ como dct orrcn1.ia passtva dos fatos históricos. Mais: é próprio da maneira
Gregório de Matos), valeram mais pela singularidade individual de suas produ
dt• ~~·r do h·xto litcrúrio a criattvidadc, a inovação artística. Na medida do
ções. Como indica a Formação, essas produções tiveram repercussões locais
pos•ivd, l'lc nfto ~~·ltmtla, pois, à reprodução dos repertórios culturais anterio- e não conseguiram formar uma tradição, devido à não-configuração orgân 1ca
rt•s. da articulação sistema-obra-público.
Foi fundada em 1759, na Bahia, a Academia dos Renascidos, cujos inte-
t ltn p<Wrna rcv~ I.1 ~enurncntos, 1dé1as. experiências; um romance revela 1sto mesmo, grantes
com m.u Jrn[lhtudc c menos concentração. Um c outro valem, todav1a. não por
cup1ar '' v1da. como pcnsan.t, no Ium te, um crítiCO não hteráno; nem por criar uma
c.l prc ,an em ('ontcúdo, como pcnsana, também oo hmtte, um fonnahsta radical.
não deixaram de lado um dos interesses centrats do Setecentos brasJlctro. 4uc o
passaria como legado ao século segumte: o da epopém nahv1sta. dando catc~tona
Vntrm porr1uc 1/ll'f/1/am uma vida nova, \cgundo a organ11ação formal, tanto quanto
estética aos feitos da crônica local. A primeira academia baiana. dos E~quwdos,
po ~fvt· l nov.J. que ,Jifoagmaçào unpnmc a seu objeto''
desincumbira-se em prosa, com a Hisr6ria da América porlllgllrla, de Rocha Pita ,.
Ao refletir assim ~obre as relações da nossa literatura com a história da A Academia dos Renascidos procurou congregar acadêmicos de outras
11.1 .to, Antonio Cand1do nos mostra os mecanismos pelos quais aprendemos a partes da colônia: seu horizonte já não se circunscrevia à atmosfera local.
m1· ver c ,1 nos imaginar - ml.!cani~mos de l.cntido prospectivo, atraídos por Essa inclinação para uma visão conjunta da colônia- o sentimento nativista
lutlll, .1 Sl:r contmuarncnte inventado. Essa maneira de ver a literatura em sua adquirindo traços de sentimento nacional- vai tomar-se mais evidente com o
.tutunornia relativa é cxtcnsiva- entendemos- para todos os campos artísti- deslocamento do eixo político e econômico para o sul e a maior presença do
cos c 11.10 artísticos de mts\a cultura, onde o sistema nacional entra em interação ideário iluminista. Modificava-se o mapa demográfico do país, com implica-
com uutro ststcmas c. em particular, com um campo intelectual de caráter ções na vida social: maior número de cidades, que se intercomunicavam, em-
~upr.tnauonal. I~ evi t·ntc que relações de poder simbólico atravessam esse bora os vazios fossem ainda acentuados. Desenhava-se um rosto próprio par
campo, ulm implicações político-culturais. Há sempre a necessidade de se o Brasil, que gradativamente se conscientiza de sua individuahdade e pas a a
con idcrar ond~.: o tndivídno, seja ele autor ou crítico. tem os seus pés e por ter aspirações diferenciadas. Configura-se para as elites brasileiras a idéia de
nndt: circula a sua cat>eça. que o pafs já não era o espelho de Portugal. Dessa forma, na aflflllação da
idéia de independência, os ideais libertários de Rousseau e dos enciclopedista
passaram a embalar cada vez mais as novas academias. Em 1795, foi fechada
M UffRATfiRA CONGRI:GADA: a Sociedade Literária do Rio de Janeiro: para as autoridades coloma1s, seus
O, rtGLR ·SE O SISTFJ>tA LITERÁRIO BRASILEIRO membros eram subversivos.
o ambiente para a pr~ literiria. nos meados do século XVIII, e~a
r .u.li mo é o momento decisivo em que a literatura adquire, no Brasil, entretanto muito pobre. conforme indica Antonio Candído ProduZJa- e e•
t1 .1 rg·nic s de um sistema".'~ Reproduz-se no Brasil o sentido cu lava-se uma subliteratura cheia de lugares-conums- um subprodut ·quase
· e do ..nvinri•nimtO
sempre, da v1'da reI'1g1osa 1"~·---
das elas dirigentes. É a partir
• ll>i4. p 81.
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111 JAMI AllllAI Jl NIOK
' I I' M ~
h1 l' 'l i
' lb!l. I' \(11)
.. lbld . p 177
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111 JAMI AllllAI Jl NIOK
' I I' M ~
h1 l' 'l i
' lb!l. I' \(11)
.. lbld . p 177
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FORMAÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA BENJAMIN ABDALA JUNIOR
cJviliração natural, cujo filho surge como vftima de espoliação inevitável, pois Outro árcade foi Silva Alvarenga (1749-1814), com importante papel for-
mador de intelectuais do Rio de Janeiro que vieram a participar da independên-
"O sossego da Europa assim o pede".2s
cia. O poeta apoiou as reformas pombalinas do ensino universitário em seu
livro O desertor (1774). Sua obra literária mais relevante foi Glaura (1799 ),
E será contra o sossego da Europa que se manifestarão no país as
que "partiu de Basílio como este partira dos primeiros árcades, levando às
tendências ilustradas do governo de Pombal. Foi em tomo de poetas que se últimas conseqüências a busca da naturalidade, que nele se exprime pelo sen-
organizou a Inconfidência Mineira ( 1789), dela participando Cláudio Manuel timentalismo algo lamurioso na psicologia e, na forma, melopéia adocicada". 2s
da Costa, Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga. O destino de Cláudio Uma atitude semelhante à de Silva Alvarenga é de se registrar em Sousa
Manuel da Costa foi trágico: a prisão levou-o ao suicídio. Os dois outros foram Caldas (1762-1814), que chegou a ser processado pela Inquisição.
deportados para a África. Em Glaura, Silva Alvarenga fez poemas de grande musicalidade, os
Entre esses poetas, Antonio Candido destaca Gonzaga, poeta "de uma rondós. A procura da musicalidade já havia sensibilizado Tomás Antônio
crise afetiva e de uma crise política, diferente nisto de Cláudio, cuja atividade Gonzaga, que teve muitos poemas musicalizados. Será entretanto um outro
parece um longo, consciencioso artesanato de escritor". 26 Sua poética fez-se a poeta- Caldas Barbosa (1738-1800), filho de português e de uma escrava-
partir do repertório da Arcádia Lusitana e de Cláudio Manuel da Costa para que difundirá a modinha brasileira (os lunduns, de origem africana) na corte
configurar um lirismo amoroso construído com base numa experiência indivi- lisboeta. Sua linguagem, em Viola de Lereno (1798, 1826), valeu-se de um
dual concreta: sua paixão (Gonzaga é a personagem Dirceu) por Man1ia (Ma- léxico mestiço, próprio da fala popular brasileira:
ria Dorotéia Joaquina de Seixas), em Man1ia de Dirceu (a primeira compilação
desst! texto é de 1792). É a mulher bras i!eira que começava a ser representada Nhanhá faz um pé de banco
na poesia brasileira: Com seus quindins, seus popôs,
Tinha lançado os seus laços,
Fit ' olhos na Janela, Aperta assim mais os nós.
Aonde, Marília bela, ("4ndum em ouro", etc.) 29
Tu chegas ao fim do dw
lttJ., PP 1 !-133 .
.. lbd., p
7S lbid., p. 137.
lbid, p 1 19
lbid., p. ISO.
371
J70
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FORMAÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA BENJAMIN ABDALA JUNIOR
cJviliração natural, cujo filho surge como vftima de espoliação inevitável, pois Outro árcade foi Silva Alvarenga (1749-1814), com importante papel for-
mador de intelectuais do Rio de Janeiro que vieram a participar da independên-
"O sossego da Europa assim o pede".2s
cia. O poeta apoiou as reformas pombalinas do ensino universitário em seu
livro O desertor (1774). Sua obra literária mais relevante foi Glaura (1799 ),
E será contra o sossego da Europa que se manifestarão no país as
que "partiu de Basílio como este partira dos primeiros árcades, levando às
tendências ilustradas do governo de Pombal. Foi em tomo de poetas que se últimas conseqüências a busca da naturalidade, que nele se exprime pelo sen-
organizou a Inconfidência Mineira ( 1789), dela participando Cláudio Manuel timentalismo algo lamurioso na psicologia e, na forma, melopéia adocicada". 2s
da Costa, Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga. O destino de Cláudio Uma atitude semelhante à de Silva Alvarenga é de se registrar em Sousa
Manuel da Costa foi trágico: a prisão levou-o ao suicídio. Os dois outros foram Caldas (1762-1814), que chegou a ser processado pela Inquisição.
deportados para a África. Em Glaura, Silva Alvarenga fez poemas de grande musicalidade, os
Entre esses poetas, Antonio Candido destaca Gonzaga, poeta "de uma rondós. A procura da musicalidade já havia sensibilizado Tomás Antônio
crise afetiva e de uma crise política, diferente nisto de Cláudio, cuja atividade Gonzaga, que teve muitos poemas musicalizados. Será entretanto um outro
parece um longo, consciencioso artesanato de escritor". 26 Sua poética fez-se a poeta- Caldas Barbosa (1738-1800), filho de português e de uma escrava-
partir do repertório da Arcádia Lusitana e de Cláudio Manuel da Costa para que difundirá a modinha brasileira (os lunduns, de origem africana) na corte
configurar um lirismo amoroso construído com base numa experiência indivi- lisboeta. Sua linguagem, em Viola de Lereno (1798, 1826), valeu-se de um
dual concreta: sua paixão (Gonzaga é a personagem Dirceu) por Man1ia (Ma- léxico mestiço, próprio da fala popular brasileira:
ria Dorotéia Joaquina de Seixas), em Man1ia de Dirceu (a primeira compilação
desst! texto é de 1792). É a mulher bras i!eira que começava a ser representada Nhanhá faz um pé de banco
na poesia brasileira: Com seus quindins, seus popôs,
Tinha lançado os seus laços,
Fit ' olhos na Janela, Aperta assim mais os nós.
Aonde, Marília bela, ("4ndum em ouro", etc.) 29
Tu chegas ao fim do dw
lttJ., PP 1 !-133 .
.. lbd., p
7S lbid., p. 137.
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FORMAÇÃO DI! UTERATURA BRASILEIRA BE'J
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FORMAÇÃO DI! UTERATURA BRASILEIRA BE'J
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1·0/IMA<fi.O DA Ull:HA'f!JRA fl RAS I/Jo/JIA
Ao contr;írio das esferas oficiab que consideravam Ma ga lhik\ "o se mod ificaria no decorrer do século. Se até!;, mício
n:formador da literatura brasileira c o patria rca do estilo novo", a maioria do~
poeta' . mesmo jornalistas considerava Gonçalves Dias como "o verdadeiro
criador da literatura nacional'?• Para Antonio Candid o, ele foi um "acontec i-
m.:nto dccisivo da poesia romântica"/' pois formou uma tradição entre os
0011 poetas eguintcs, de Junqucira Freire a Castro Alves, c isso foi po~s ívc l
porque ua poética constituiu uma experiência nova, tanto no tratamento dos para a cidade ti veram como conseqliéncia o aden~am;;nto d4 pop laçã
tt:mas quanto no da forma artística. na do país. Surgem então novos padrões de cond tél e olicitaçõe · _Ject 1
e artísticas de caráter mais crítico.
O romance nacional promove, desde as sua origen , a c0 figu•açã-c d
U\1A LITERATURA NOVA PARA UM PAfS !\OVO modo de vida brasileiro. É por força dos localismos que o romance r::g10na
conflui para o hi stórico, trazendo tipos brasileiros em sua vidas em socie :. ~
Gonçalves D1as parece reuni r em sua poética uma uni versal idade simbó- na cidade e no campo. Já o romance indianista busca. como foi indicado, .m·
lica capaz de atisfazcr as expectati vas do nacionalismo literário brasileiro nesse origem simbólica para o país nas sociedades indígenas. Antonio C · ·
primeiro momento A aspiração nacionalista se mostraria entretanto ainda três espaços a serem mapeados pelo projeto romântico rcida e, cam
dctalhista, ao buscar abrangência nas di versidades locais para ver o país, as- va), que será desenvolvido de forma mais integral por José de Ale car
nn de corpo inteiro, através da descrição da paisagem física e humana do 1877). Inspirado em Balzac, que procurou representar o conjunto da
conJunto do território. Seria o momento, pois, de se imaginar o país na particu- francesa, Alencar fez romance indianista fixando
laridade de seus lugares, a serem mapeados pela literatura, bem como no con-
um dos mais caros modelos da senstbthdade brastle ra: a índio deal. e.
junt dos acontecimentos que marcaram sua história, seu cotidiano, seus
Gonçalves Dias, mas lançado por ele na própria VJda quot diana. A Ir ~m
co turm:s. Para Antonio Candido, esse projeto nacionalista Ubiratãs, Aracis, Perís, que todos os anos. há quase um séctJ o, vão ::n
batistérios a "mentirada genttl" do indtanJsmo. traduzem a on~ rot
fez do romance verdadetra forma de pesqui sa e descoberta do pafs. A nossa cultura brasileiro de perpetuar a convenção. que dá a um pais de mestl o o .il b1 ~
rntelcctual encont• u msso um elemento dmamizador de primeira ordem, que contri· heróica, e a uma nação de história curta. a profundidade do tempo le d~'lO
buw para f"lxar uma conscit!ncta mais viva da literatura como estilização de determina-
du cundtçõcslocats. O tdeal romântico-nacionalista de criar a expressão nova de um
Um segundo Alencar é o das mocinhas e dos moços bem-comport
paí novo encontra ;a nu romance a linguagem mais eficiente."
construídos como se fossem sempre bons e dedicados, em narrativa mo! n-
tadas na cidade e no campo. Na verdade, essas estruturas discursi\ .,uem
E sa ênfase nos aspectos descritivos das regiões brasileiras e de seus
perspectivas do gosto urbano. de caráter burguês. Há entretanto um Ale
costumes certamente contribuiu para a fraca tensão psicossocial na caracteri-
de temas profundos, que se opõe à pieguice sentimental de muitas d
zação da~ pcr~onagens dos primeiros romances brasileiros. Para tanto, seria
narrativas, com personagens mais ambíguas e de maior densidad human-
ele 'J.Í.Vcl que tivessem ocorrido articulações mais criativas entre aspectos
Essas facetas literárias que..apontam para uma personalidade riati\a, capl.Z
geográficos c seus atores sociais. Talvez não pudesse ter sido diferente: o
de construir personagens em oposição ao espaço soctal. são c ntr ria ·
fraco desenvolvimento da sociabilidade urbana tomava pouco provável a cons-
marcas biográficas do cidadão José de Alencar- um político con n·ador.
truçao de ~aracteres psicológicos mais elaborados - um dado referencial que
"lbld
11 '" d
lo~rt, o. 112 .. lbid., p. 224.
375
374
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1·0/IMA<fi.O DA Ull:HA'f!JRA fl RAS I/Jo/JIA
Ao contr;írio das esferas oficiab que consideravam Ma ga lhik\ "o se mod ificaria no decorrer do século. Se até!;, mício
n:formador da literatura brasileira c o patria rca do estilo novo", a maioria do~
poeta' . mesmo jornalistas considerava Gonçalves Dias como "o verdadeiro
criador da literatura nacional'?• Para Antonio Candid o, ele foi um "acontec i-
m.:nto dccisivo da poesia romântica"/' pois formou uma tradição entre os
0011 poetas eguintcs, de Junqucira Freire a Castro Alves, c isso foi po~s ívc l
porque ua poética constituiu uma experiência nova, tanto no tratamento dos para a cidade ti veram como conseqliéncia o aden~am;;nto d4 pop laçã
tt:mas quanto no da forma artística. na do país. Surgem então novos padrões de cond tél e olicitaçõe · _Ject 1
e artísticas de caráter mais crítico.
O romance nacional promove, desde as sua origen , a c0 figu•açã-c d
U\1A LITERATURA NOVA PARA UM PAfS !\OVO modo de vida brasileiro. É por força dos localismos que o romance r::g10na
conflui para o hi stórico, trazendo tipos brasileiros em sua vidas em socie :. ~
Gonçalves D1as parece reuni r em sua poética uma uni versal idade simbó- na cidade e no campo. Já o romance indianista busca. como foi indicado, .m·
lica capaz de atisfazcr as expectati vas do nacionalismo literário brasileiro nesse origem simbólica para o país nas sociedades indígenas. Antonio C · ·
primeiro momento A aspiração nacionalista se mostraria entretanto ainda três espaços a serem mapeados pelo projeto romântico rcida e, cam
dctalhista, ao buscar abrangência nas di versidades locais para ver o país, as- va), que será desenvolvido de forma mais integral por José de Ale car
nn de corpo inteiro, através da descrição da paisagem física e humana do 1877). Inspirado em Balzac, que procurou representar o conjunto da
conJunto do território. Seria o momento, pois, de se imaginar o país na particu- francesa, Alencar fez romance indianista fixando
laridade de seus lugares, a serem mapeados pela literatura, bem como no con-
um dos mais caros modelos da senstbthdade brastle ra: a índio deal. e.
junt dos acontecimentos que marcaram sua história, seu cotidiano, seus
Gonçalves Dias, mas lançado por ele na própria VJda quot diana. A Ir ~m
co turm:s. Para Antonio Candido, esse projeto nacionalista Ubiratãs, Aracis, Perís, que todos os anos. há quase um séctJ o, vão ::n
batistérios a "mentirada genttl" do indtanJsmo. traduzem a on~ rot
fez do romance verdadetra forma de pesqui sa e descoberta do pafs. A nossa cultura brasileiro de perpetuar a convenção. que dá a um pais de mestl o o .il b1 ~
rntelcctual encont• u msso um elemento dmamizador de primeira ordem, que contri· heróica, e a uma nação de história curta. a profundidade do tempo le d~'lO
buw para f"lxar uma conscit!ncta mais viva da literatura como estilização de determina-
du cundtçõcslocats. O tdeal romântico-nacionalista de criar a expressão nova de um
Um segundo Alencar é o das mocinhas e dos moços bem-comport
paí novo encontra ;a nu romance a linguagem mais eficiente."
construídos como se fossem sempre bons e dedicados, em narrativa mo! n-
tadas na cidade e no campo. Na verdade, essas estruturas discursi\ .,uem
E sa ênfase nos aspectos descritivos das regiões brasileiras e de seus
perspectivas do gosto urbano. de caráter burguês. Há entretanto um Ale
costumes certamente contribuiu para a fraca tensão psicossocial na caracteri-
de temas profundos, que se opõe à pieguice sentimental de muitas d
zação da~ pcr~onagens dos primeiros romances brasileiros. Para tanto, seria
narrativas, com personagens mais ambíguas e de maior densidad human-
ele 'J.Í.Vcl que tivessem ocorrido articulações mais criativas entre aspectos
Essas facetas literárias que..apontam para uma personalidade riati\a, capl.Z
geográficos c seus atores sociais. Talvez não pudesse ter sido diferente: o
de construir personagens em oposição ao espaço soctal. são c ntr ria ·
fraco desenvolvimento da sociabilidade urbana tomava pouco provável a cons-
marcas biográficas do cidadão José de Alencar- um político con n·ador.
truçao de ~aracteres psicológicos mais elaborados - um dado referencial que
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f IR\1 •,i(}/)\ 1//ER.I{{R\ llR,\ l/EIRA
BENJA~11N ABDALA 11.:. 'IOR
-
tico~ l. pareciam sof d
rer e complexo de culpa por afastarem-se da ênfase na-
" lbid., p. 149.
... lb,J. p. 307.
Q lbid., p. 268.
376 377
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Q lbid., p. 268.
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FOR\fM,;ÃO DA f 11 fR,\ TUR,\ BRASfLf.IRI\ BHNJAMIN ABDALA JU JOR
rcdl'fimd;~ pela Formaçao, quando estabelece os textos básicos da configura- tros países com os quais se articula obra ileiro, recebendo-os para os combr-
çao Jc no a literatura. Para essa consciência contribuíram textos críticos de nar com as sugestões locais:
n , 0 ~ escritores c de críticos c historiadores literários. Destaque-se entre os
05 Assim, se Swifl, Pascal, Schopenhauer, Stcme. a Bíblia ou ourras fontes que seJam.
últimos a aluaçao de Joaquim Norberto (1820-1891).
podem esclarecer a sua visão do homem c a sua rémca, só a conscrencia da sua
A formação dessa consciência (consciência crítica em relação à imagem integração na continuidade da ficção romântica esclarece a natureza de ~cu romance. O
do D1asil) ganhou dewidade nos anos 70 e 80 pela influência do positivismo e fato de haver presencrado a evolução do gênero desde o começo da carrcrra de Alencar
cvoluoonisrno, qu • st.:nsibilizava o campo intelectual brasileiro e chegava às habilitou-o, com a consciência crítrca de que sempre dispôs. a compreendê-lo, av,!lrar
da c, m~dia~ Citadinas. num movimento mais abrangente. É desse tempo 0 o seu significado e sentir-lhe o amadurecimento. Prezou sempre a tradtção románrica
hvro O alm/l(irmi\IIUJ (1883) c Um estadista do império (3 volumes, 1897- brasileira c, ao continuá-la, deu o exemplo de como se faz lrtcrawra umvcr~al pelo
aprofundamento das sugestões Iocats.••
1H9<J), de J< •:tqurm Nabuco (1849-19 10). Fazem-se sentir na literatura as influên-
cias de Srlvro Romero (1851-1914) e depois de José Veríssimo (1857-1916) e
A consciência crítica da maneira de ser da cultura brasilerra nutre-se.
Ar,tripe JtÍnior ( 1848- I9 I I). Essa forma de consciência do Brasil e de seu
pois, da dialética contraditória entre o local e o universal. De um lado há a
sistema literário já se processa c se di sc ute de forma mais regular entre os historicidade da tradição interna, que teve suas origens no processo de inculcnção
intelectuais. Mais importante é se notar que o sistema se alimenta da colonial e estabelece uma linha de continuidade; de outro, os rcpettórios de
arronimidade de seus atores sociais: o que conta é o conjunto dos escritores circulação entre os sistemas culturais articulados ao do Brasil. Entre os dois
qn · veiculam seus textos atrav~s de múltiplos veículos. É nesse momento que pólos (interno/externo) abrem-se espaços para relevar carências, que favorc
toma relevo a obra de Machado de Assis (1839-1908) -autor do ensaio Ins- cem uma tomada de consciência, conforme a perspectiva da crítrca empe
rrnt" r!t• mrcionalidadC' ( 1873), em que considera superado o indianismo e o nhada da Fomwção, aqui alargada para o conjunto da cullura. Essa tomada
loc.tli~mo. Defende nesse texto uma literatura que vá além dos modismos, de consciência - uma maneira crítica de nos ver e de nos imagrnar cumo
para form 11 um sentimL'IIto íntimo que em sendo atual c do país seja também comunidade nacional - reúne condições então, no particular da s~rie literária
univcrs<rl Machado mostra-se o ponto de chegada da estratégia discursiva da como no de outras séries de nossa cultura, de levar ao aprvfwrdanu•nt(l dto
Fm11wçáo, configurando- c 1om ele plenamente a literatura brasileira enquanto sugestões locais, formas de nosso imaginário que se fazem as ·im uni\er .u ..
~istema amadurecido Por um lado, ao voltar-se para a literatura do país, Ma-
chado de Assis
"lbld .. p 118
,d rP 11
J7
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FOR\fM,;ÃO DA f 11 fR,\ TUR,\ BRASfLf.IRI\ BHNJAMIN ABDALA JU JOR
rcdl'fimd;~ pela Formaçao, quando estabelece os textos básicos da configura- tros países com os quais se articula obra ileiro, recebendo-os para os combr-
çao Jc no a literatura. Para essa consciência contribuíram textos críticos de nar com as sugestões locais:
n , 0 ~ escritores c de críticos c historiadores literários. Destaque-se entre os
05 Assim, se Swifl, Pascal, Schopenhauer, Stcme. a Bíblia ou ourras fontes que seJam.
últimos a aluaçao de Joaquim Norberto (1820-1891).
podem esclarecer a sua visão do homem c a sua rémca, só a conscrencia da sua
A formação dessa consciência (consciência crítica em relação à imagem integração na continuidade da ficção romântica esclarece a natureza de ~cu romance. O
do D1asil) ganhou dewidade nos anos 70 e 80 pela influência do positivismo e fato de haver presencrado a evolução do gênero desde o começo da carrcrra de Alencar
cvoluoonisrno, qu • st.:nsibilizava o campo intelectual brasileiro e chegava às habilitou-o, com a consciência crítrca de que sempre dispôs. a compreendê-lo, av,!lrar
da c, m~dia~ Citadinas. num movimento mais abrangente. É desse tempo 0 o seu significado e sentir-lhe o amadurecimento. Prezou sempre a tradtção románrica
hvro O alm/l(irmi\IIUJ (1883) c Um estadista do império (3 volumes, 1897- brasileira c, ao continuá-la, deu o exemplo de como se faz lrtcrawra umvcr~al pelo
aprofundamento das sugestões Iocats.••
1H9<J), de J< •:tqurm Nabuco (1849-19 10). Fazem-se sentir na literatura as influên-
cias de Srlvro Romero (1851-1914) e depois de José Veríssimo (1857-1916) e
A consciência crítica da maneira de ser da cultura brasilerra nutre-se.
Ar,tripe JtÍnior ( 1848- I9 I I). Essa forma de consciência do Brasil e de seu
pois, da dialética contraditória entre o local e o universal. De um lado há a
sistema literário já se processa c se di sc ute de forma mais regular entre os historicidade da tradição interna, que teve suas origens no processo de inculcnção
intelectuais. Mais importante é se notar que o sistema se alimenta da colonial e estabelece uma linha de continuidade; de outro, os rcpettórios de
arronimidade de seus atores sociais: o que conta é o conjunto dos escritores circulação entre os sistemas culturais articulados ao do Brasil. Entre os dois
qn · veiculam seus textos atrav~s de múltiplos veículos. É nesse momento que pólos (interno/externo) abrem-se espaços para relevar carências, que favorc
toma relevo a obra de Machado de Assis (1839-1908) -autor do ensaio Ins- cem uma tomada de consciência, conforme a perspectiva da crítrca empe
rrnt" r!t• mrcionalidadC' ( 1873), em que considera superado o indianismo e o nhada da Fomwção, aqui alargada para o conjunto da cullura. Essa tomada
loc.tli~mo. Defende nesse texto uma literatura que vá além dos modismos, de consciência - uma maneira crítica de nos ver e de nos imagrnar cumo
para form 11 um sentimL'IIto íntimo que em sendo atual c do país seja também comunidade nacional - reúne condições então, no particular da s~rie literária
univcrs<rl Machado mostra-se o ponto de chegada da estratégia discursiva da como no de outras séries de nossa cultura, de levar ao aprvfwrdanu•nt(l dto
Fm11wçáo, configurando- c 1om ele plenamente a literatura brasileira enquanto sugestões locais, formas de nosso imaginário que se fazem as ·im uni\er .u ..
~istema amadurecido Por um lado, ao voltar-se para a literatura do país, Ma-
chado de Assis
"lbld .. p 118
,d rP 11
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Conciliação e reforma no Brasil
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Conciliação e reforma no Brasil
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nem uma conferência ("A políti a de onctliação. ht t n
ta''), um resumo cortant e direto do pensamento que nel
e antíteses da história do Brasil"). doi longo arttgos de
analfabeto e a tradiçio política bra ileira" e "Eiettore e el
do direito polfti no Brasil") e um te to de com te •
umapolíli asubdesen oi ida")- udoescntona\ésper elogod,epo,:;clo
d arço de 1964 e a refletir. como era natufll. pecl U\
cepções, INgoas. queixas.lristeza. repu! ressenúmcn Uldit,gna.:;J-:,
trabalhos, a febre das cin:tmStâncw e da IDCOI1
a e posiçio de uma tese para a qual o
de historiador - um lústoriador que tiDba por
embora na eemencaa do estslo wnbé
boa. e que meditou sobre o passado com berdade iiDIIIDJ~) e
do presente. Emboa ae aP
ouviDtes de coufeleDriu e 1á1ores de
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nem uma conferência ("A políti a de onctliação. ht t n
ta''), um resumo cortant e direto do pensamento que nel
e antíteses da história do Brasil"). doi longo arttgos de
analfabeto e a tradiçio política bra ileira" e "Eiettore e el
do direito polfti no Brasil") e um te to de com te •
umapolíli asubdesen oi ida")- udoescntona\ésper elogod,epo,:;clo
d arço de 1964 e a refletir. como era natufll. pecl U\
cepções, INgoas. queixas.lristeza. repu! ressenúmcn Uldit,gna.:;J-:,
trabalhos, a febre das cin:tmStâncw e da IDCOI1
a e posiçio de uma tese para a qual o
de historiador - um lústoriador que tiDba por
embora na eemencaa do estslo wnbé
boa. e que meditou sobre o passado com berdade iiDIIIDJ~) e
do presente. Emboa ae aP
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c ,tÇ{ E FFO 1 O BRiaS!L
ALBERTO D r O>TA E SIL
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ALBERTO D r O>TA E SIL
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Ct'l\ !U~ÇJ.O E F.Ft R.ll.\ \'0 BRA /L
ALBERTO D-\ COST-\ E IL\
Foi em nome da
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Ct'l\ !U~ÇJ.O E F.Ft R.ll.\ \'0 BRA /L
ALBERTO D-\ COST-\ E IL\
Foi em nome da
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( ONC /liA( ÃO f . HI.FOR.'rft\ I\"O /JRAS/1.
u 1111 Artur B<'l nard~s (cujo gov~rno _se cara~tcri~ou pelo estado de sítio), rom.
pe •t' <k novo .1 poht1ca de concJhaça<~: ~ mmona governante fecha-se naquilo tendia promover apenas mud I'
'd , . . anças po llicas superficiais, cmhora mcluísse r rn
"qut• Jo c f lo nono Rodngue~ chama c1rcu lo de ferro" do poder. Não ouve seu 1 cano 1tens antes 1mpen á ,. . ·
08 c' . . s VCIS, como aJornad<.~ de oito horas d.: tr<.~halh
op 1 11o1.•' . 1: n.w pcrnutc qu~ a ele tenha acesso aquela parte da elite que tem as tenas pagas, a mdcnização d. d ·
b Ih d por 1Spensa e emprego c a rcgulamcntacao do
H.k 1.1 tlllt:rcntc~ c, mu1~o menos, aquele~ que aspiram a nela ingressar e se tra a o as mulheres e dos menores, acabou por desencadear uma ~rie de
JUig.tm wm tuulos para 1sso O descontentamento dos que se viam no oslracis- refon~as de fundo cc?nômic~ que modificariam. atualizando-a, amda que de
llh> o cn· cera com o anos c, de insurreição em insurreição, desaguará, em modo mcompleto, a v1da brastleira.
1930, n.1 ruptura d:t legalidade. Os pri.meiros anos de Vargas, de transação com a minoria dominante,
l.mto n;,~ .t c conciliatória!. quanto nas voluntariosas, os republicanos foram s~gurdos por esforços bem logrados de conciliação criadora entre u
como qu~.: rc fitcr.tr•l o pJcto colonial. Repetiam, de certa forma, 0 homens da
poder _c a sociedade. Compreendeu ele que seria impos ível moderni7.ar o pars
mdcpcndênt 1,1, que .1 haviam proclamado sem romper, contudo, com 0 sistema e traze-lo para o século XX, contando apenas com as elites e com as classes
médias. Tomara-se urgente incorporar à vida política as massas populares
wlon1.d "t'SJX'Cialrncnte nos seus aspectos fundamentais de relações sociais e
marginalizadas. Para isso, era necessário reformar a economia, apressando e
Jc rc •une de terra". ·.1 repúb lica. o laços de dependência não mais seriam
aprofundando a industrialização. O governo saiu da rotina administrativa Ma
'l!.1do pelo entendimento entre a metrópole européia c as elites nativas. porém
não deu um só passo além das fronteiras das cidades. No campo. não se me-
1 •lo~ ;.~li;lllça entre os estado~ dominantes, São Paulo e Minas Gerais, senhores
xeu. Nem na estrutura fundiária, nem na situação do trabalhador 111r.tl. do
d• •lhlll 'I > ·do manejo do voto. e as minorias privilegiadas dos estados perifé- sertanejo, que continuou abandonado à miséria c aos massacres da polícia. E
Tr em função dos intcre~sl.!s de São Paulo e de Minas- em última será pela violência, e não pela conciliação, que se extinguirá o cangaço
m.tli ·, J t:.1fc . aliados aos das oliga rquias dos demais estados- ou seja, do Vargas teve comportamento ambivalente: "ora conciliador, nra intransi-
l.urtunc.ho-, qu c movia o governo federal. Os mineiros traziam do império o gente; ora libertário, ora liberticida". Impôs ao país uma ditadura. mas jamais
•mto da hdcr.mça t' .1 hahd1dadc para exercê-la; os paulistas substituíram no desistiu de tentar aliciar, converter ou acomodar os opositores. Modcmi~ador.
•m.1ndo o flummen c-s. ma·, .'i o !>oubcram continuá-los nas práticas concilia- rezava, contudo, pela cartilha de um positivismo comtiano que já entra1a no
I >ri.t resto do mundo para os arquivos da história das idéias. Não acrl'dJt<wa na
Nau aren.~·. o paí, se dividira entre estados senhores e estados coloniais, maioridade do povo, e nessa crença não se apartava de tantos dos melhore
1111 se <~gr.tvar 1 .lind,l ma i o di~sídio entre o poder c a sociedade, entre o políticos brasileiros do passado.
'C•\crnn • .t na~ao Se ao l.!>.cmvo c~tava negada a cidadania, não se queria Esses foram quase sempre mais moderadores do que criadores. Evita
11.11 do que a uhmis ao do trahalhador do campo c do operário, que havia vam as reformas que tinham geralmente por precipitadas. c com isso des ·rv1am
P"ll o <~J>Jic~; •1,1 llCI c n.írio. Em alguns mandatos presidenciais prevaleceu a o povo e comprometiam o progresso da nação. Em contrapartida. currigiam<>s
1 1l1t1• a concrli:.J dnra. 'certo, ma esta endereçou-se apenas às elites dominan- radicalismos e poupavam o pais da intolerância, refletindo na açao políttca as
ao c hu c lU em n]()mcnto al!!um harmonizar os distintos interesses dos aspirações de harmonia e entendimento de uma gente na qual a mest1çagcm
t.H.l f< d r. do n mo da capitais com O!> do sertão, nem muito menos os abrandou a relações sociais. As politicas de conciliação não atenderam con
I 1 mo Jo p >H> tudo, apenas a esse desiderato. Na maior parte do tempo, e para a m;uona do
nJ .t p ht1c.t d mtransígencra com os adversários c de exclusão de que as praticaram, serviram a um cqnservadorismo estéril e pemutiram que o
t rrniaado c •rn ntc1 das dites cstaduai\ o que iria levar ao poder Getúlio interesses arcaicoa quase sempre vencessem oa movadore . A norma m nu
r o me mo, J ReH>lução de 30 só foi revolução no nome, feita
a história foi o triunfo dos imobil sobre as corrente r formi tas ou do
Jl(•Vo a fí1. c. Não c propunha dar ''um salto no progres·
radicalismo que Joio Ribeiro qualificou de mameluco
A conciliaç!o como fim. como objetivo em st mesma.· fot uma arte fin
o atra o", nem atender as a pirações de mudança estrutu·
. da . dominante e . tempre ao compr01l11110 doi mteres dt v
ra int n 1nnalm nte um instante de aceleração; era a na rrunona · te
rnporâne .•· o entanto. um movimento que pre-
gentes de seus próprios Jl'UP'I'"· ~ deatacara biltorícamen
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( ONC /liA( ÃO f . HI.FOR.'rft\ I\"O /JRAS/1.
u 1111 Artur B<'l nard~s (cujo gov~rno _se cara~tcri~ou pelo estado de sítio), rom.
pe •t' <k novo .1 poht1ca de concJhaça<~: ~ mmona governante fecha-se naquilo tendia promover apenas mud I'
'd , . . anças po llicas superficiais, cmhora mcluísse r rn
"qut• Jo c f lo nono Rodngue~ chama c1rcu lo de ferro" do poder. Não ouve seu 1 cano 1tens antes 1mpen á ,. . ·
08 c' . . s VCIS, como aJornad<.~ de oito horas d.: tr<.~halh
op 1 11o1.•' . 1: n.w pcrnutc qu~ a ele tenha acesso aquela parte da elite que tem as tenas pagas, a mdcnização d. d ·
b Ih d por 1Spensa e emprego c a rcgulamcntacao do
H.k 1.1 tlllt:rcntc~ c, mu1~o menos, aquele~ que aspiram a nela ingressar e se tra a o as mulheres e dos menores, acabou por desencadear uma ~rie de
JUig.tm wm tuulos para 1sso O descontentamento dos que se viam no oslracis- refon~as de fundo cc?nômic~ que modificariam. atualizando-a, amda que de
llh> o cn· cera com o anos c, de insurreição em insurreição, desaguará, em modo mcompleto, a v1da brastleira.
1930, n.1 ruptura d:t legalidade. Os pri.meiros anos de Vargas, de transação com a minoria dominante,
l.mto n;,~ .t c conciliatória!. quanto nas voluntariosas, os republicanos foram s~gurdos por esforços bem logrados de conciliação criadora entre u
como qu~.: rc fitcr.tr•l o pJcto colonial. Repetiam, de certa forma, 0 homens da
poder _c a sociedade. Compreendeu ele que seria impos ível moderni7.ar o pars
mdcpcndênt 1,1, que .1 haviam proclamado sem romper, contudo, com 0 sistema e traze-lo para o século XX, contando apenas com as elites e com as classes
médias. Tomara-se urgente incorporar à vida política as massas populares
wlon1.d "t'SJX'Cialrncnte nos seus aspectos fundamentais de relações sociais e
marginalizadas. Para isso, era necessário reformar a economia, apressando e
Jc rc •une de terra". ·.1 repúb lica. o laços de dependência não mais seriam
aprofundando a industrialização. O governo saiu da rotina administrativa Ma
'l!.1do pelo entendimento entre a metrópole européia c as elites nativas. porém
não deu um só passo além das fronteiras das cidades. No campo. não se me-
1 •lo~ ;.~li;lllça entre os estado~ dominantes, São Paulo e Minas Gerais, senhores
xeu. Nem na estrutura fundiária, nem na situação do trabalhador 111r.tl. do
d• •lhlll 'I > ·do manejo do voto. e as minorias privilegiadas dos estados perifé- sertanejo, que continuou abandonado à miséria c aos massacres da polícia. E
Tr em função dos intcre~sl.!s de São Paulo e de Minas- em última será pela violência, e não pela conciliação, que se extinguirá o cangaço
m.tli ·, J t:.1fc . aliados aos das oliga rquias dos demais estados- ou seja, do Vargas teve comportamento ambivalente: "ora conciliador, nra intransi-
l.urtunc.ho-, qu c movia o governo federal. Os mineiros traziam do império o gente; ora libertário, ora liberticida". Impôs ao país uma ditadura. mas jamais
•mto da hdcr.mça t' .1 hahd1dadc para exercê-la; os paulistas substituíram no desistiu de tentar aliciar, converter ou acomodar os opositores. Modcmi~ador.
•m.1ndo o flummen c-s. ma·, .'i o !>oubcram continuá-los nas práticas concilia- rezava, contudo, pela cartilha de um positivismo comtiano que já entra1a no
I >ri.t resto do mundo para os arquivos da história das idéias. Não acrl'dJt<wa na
Nau aren.~·. o paí, se dividira entre estados senhores e estados coloniais, maioridade do povo, e nessa crença não se apartava de tantos dos melhore
1111 se <~gr.tvar 1 .lind,l ma i o di~sídio entre o poder c a sociedade, entre o políticos brasileiros do passado.
'C•\crnn • .t na~ao Se ao l.!>.cmvo c~tava negada a cidadania, não se queria Esses foram quase sempre mais moderadores do que criadores. Evita
11.11 do que a uhmis ao do trahalhador do campo c do operário, que havia vam as reformas que tinham geralmente por precipitadas. c com isso des ·rv1am
P"ll o <~J>Jic~; •1,1 llCI c n.írio. Em alguns mandatos presidenciais prevaleceu a o povo e comprometiam o progresso da nação. Em contrapartida. currigiam<>s
1 1l1t1• a concrli:.J dnra. 'certo, ma esta endereçou-se apenas às elites dominan- radicalismos e poupavam o pais da intolerância, refletindo na açao políttca as
ao c hu c lU em n]()mcnto al!!um harmonizar os distintos interesses dos aspirações de harmonia e entendimento de uma gente na qual a mest1çagcm
t.H.l f< d r. do n mo da capitais com O!> do sertão, nem muito menos os abrandou a relações sociais. As politicas de conciliação não atenderam con
I 1 mo Jo p >H> tudo, apenas a esse desiderato. Na maior parte do tempo, e para a m;uona do
nJ .t p ht1c.t d mtransígencra com os adversários c de exclusão de que as praticaram, serviram a um cqnservadorismo estéril e pemutiram que o
t rrniaado c •rn ntc1 das dites cstaduai\ o que iria levar ao poder Getúlio interesses arcaicoa quase sempre vencessem oa movadore . A norma m nu
r o me mo, J ReH>lução de 30 só foi revolução no nome, feita
a história foi o triunfo dos imobil sobre as corrente r formi tas ou do
Jl(•Vo a fí1. c. Não c propunha dar ''um salto no progres·
radicalismo que Joio Ribeiro qualificou de mameluco
A conciliaç!o como fim. como objetivo em st mesma.· fot uma arte fin
o atra o", nem atender as a pirações de mudança estrutu·
. da . dominante e . tempre ao compr01l11110 doi mteres dt v
ra int n 1nnalm nte um instante de aceleração; era a na rrunona · te
rnporâne .•· o entanto. um movimento que pre-
gentes de seus próprios Jl'UP'I'"· ~ deatacara biltorícamen
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CO/li( Jl ft\(, O I· RJ·:FORMA NO BRASil.
ALBERTO DA C'OSTA E SILVA
. . . qu" desde a independência participaram do comando do país os balhava a terra. Em vez disso, para pre ervar-se a grande propriedade agríco-
UliOCllOS, " . '
fluminenses c os baianos. Ao perderem os flummenses a posição econômica la, buscou-se substituir o escravo pelo colono- ou eja, pelo imigrante com
pn:poudcrantc que lhe dava o café •. ~ão Paul~ lhes tomou o l~gar. E seria do que se pretendia, sem alterar nada ou alterando o mínimo possível, contin uar o
Rio Grande do Sul, cujas classes dmgentcs unham estado ate então sempre regime de espoliação dos braços da lavoura.
divididas c freqüentemente em guerra entre si, que viria, em 1930, a tentativa Não só nos revelamos refratários a dar saltos para a frente. como não
dl' rmnper o imobilismo c renovar o país. faltaram, em nossa história, passos atrás. Tal se deu no caso do voto do anal-
As rcmtencias às mudanças não se dobraram, de 1930 a 1964. O que fabeto. Aqui não houve pudor nem temor de romper a tradição. Na época da
c<n.tcteriza 0 Brasill\ aliás, a estabi lidade secular de suas estruturas políticas colônia, eram contados os eleitores- estavam excluídos os trabalhadores ma-
e i.!l'Onômicas. A tão apregoada instabilidade política é sempre conjuntural. nuais, os mercadores, os judeus, os não-católicos. os soldados, o degredado~
Rdlcte as luta s pelo poder dentro da minoria dominante, quando esta não con- e até os nascidos na metrópole-, mas votavam os analfabetos. Não se discn-
~c!!UC harmorll!ar seus interesses, mas não atinge a carne nem, muito menos, minavam, portanto, os que não sabiam ler e escrever, até porque. se fossem
a ossanu a das mslituições. Sempre que as elites conciliadoras propõem refor- eles excluídos, seriam pouquíssimos os que poderiam eleger c ser elei tos. C'om
mas, estas são de superfície , eleitorais ou jurídicas, "remendos dos fósseis", ou a independência, as restrições não atingiram o analfabeto: este continuou a
chega m. morosas. com gra nde atraso, como se o Bra il fosse "dirigido por poder votar e a ser votado. Para pertencer ao corpo eleitoral, o imprescindível
e~pcctros'', por "fantasma de outras eras". Assim se explicam, entre nós, a era contar com certa renda (como, de resto, sucedia nos países europeus).
tc1mnsa "sohrcv1vencia do arcaico" c as repetidas "derrotas do contemporâ- Entre os votantes, não se admitiam, porém, os que "recebiam salários", os
neo" religiosos regulares, os estrangeiros naturalizados, os ex-escravos, os mendi-
IIHtve no Brasil rebeliões, insurreições, golpes de estado e quarteladas, gos, os criminosos e, desde 1846, os soldados ou praças de pré. A dis~.:rimina
llhls rn .1 vinl~ncia dos movimentos armados e das guerras civis que ocorre- ção era de situação social, profissão, classe c nível de renda.
1.1111 n.1 Hulivia,nu Colômbia. no México ou nos Estados Unidos. Em contrapartida A partir de 1882, passou-se a exigir a assinatura do interessado no título
L' cl.tren Ju c I lonôno Rodrigues-, não tivemos uma só verdadeira rcvolu- eleitoral: o votante tinha, portanto, de saber ao menos escrever o nome . A
\•lll. \o c'p1rito conc iliador causam pânico as fraturas no corpo social e os medida derivou, contraditoriamente, de um projeto de lei do ano antenor, cujo
,,dtos no que 11.10 pode ser pn.:visto. Ora, as revoluções são exatamente isto: objetivo era ampliar a representatividade eleitoral. Nesse projeto. admitia- e
··unl.ltcntatn a de. alto no processo histórico··. um rompimento das obstruções que votassem os acatólicos, os naturalizados, os negros ingênuos c o~ liberto,,
qu · .1~ in~tltuiçi1es vigente., ~.: as forças do passado opõem às novas idéias, às e se reduzia a idade mínima do eleitor solteiro, de 25 para 21 anos. Contra
nm .1s \' 1 re~soes 1k r ida, :ts novas realidades ou. em última análise, ao fluxo Joaquim Nabuco e Saldanha Marinho, que não viam motivo para que nao vo-
in ·,·ss.llll<' das r ·formas que a própria dinümica social está constantemente a tassem os que não sabiam ler nem escrever, prevaleceu a posição de Jo~é
nbr.tr- nl>~ l lma revolução t! cmpre violenta, ainda que possa dar-se sem Antônio Saraiva, Cândido de Oliveira e Rui Barbosa. A este último. "esperan-
r '\.'urso :\s arma ·. porque rcpn:senta uma ruptura do que se tinha por normali- çoso de que a discriminação estimularia a alfabetização e promoveria o. inte-
d tlk mas 0 s •u grau de , iolência dependerá dos muros que forem postos para resse do governo pela expansão do ensino", deveu-se também o ter s1do o
1mpdn llll r·tarJar o a\anço das mudanças. princípio da exclusão do analfabeto adotado pela Constituição de J 891. de onde
\ .lh\1li .io da es\.'ra\ atura. que e procurou adiar enquanto se pôde e emigrou para as de 1934, 1937 e 1946. As cartas magnas r puhlic_a~as rc\ cla-
'\ m ·' m.lis im cnti\'a, formas de ludíbrio, poderia ter sido um salto revolucio- ram-se, aliás, na área dos direit~ políticos, muito menos democratu.:as c mar
n,nto E fni. L'lllll J sa hi tória, o que ficou mais perto disso. Da abolição pode- restritivas e elitistas do que a legi !ação do império.
n.t ter r ·sultad,,, em vez da marginalização do ex-escravo e de seus Em 1882 abriu-se e fechou-se, ao mesmo tempo, a fenda das umas para
•1• nJcnLL·s. a in..:orpora ·ão do trabalhador agrícola. até então no cativeiro. à os ex-cativos, 'os descendentes de escravos. os sertanejos e os artífi es A
pl·nitude J.1 n tdania. O fim da escravidão não foi, contudo, como seria de exclusão de quem não sabia ler e escrever representava desterrar do ~roces .o
P rl\r l\ ~.h:.. l ,u1hado por un1a refom1a agrária, que valorizasse quem tra· eleitoral quase toda a nação. Prevalecia a tese de que a democrac1a dev1a
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CO/li( Jl ft\(, O I· RJ·:FORMA NO BRASil.
ALBERTO DA C'OSTA E SILVA
. . . qu" desde a independência participaram do comando do país os balhava a terra. Em vez disso, para pre ervar-se a grande propriedade agríco-
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fluminenses c os baianos. Ao perderem os flummenses a posição econômica la, buscou-se substituir o escravo pelo colono- ou eja, pelo imigrante com
pn:poudcrantc que lhe dava o café •. ~ão Paul~ lhes tomou o l~gar. E seria do que se pretendia, sem alterar nada ou alterando o mínimo possível, contin uar o
Rio Grande do Sul, cujas classes dmgentcs unham estado ate então sempre regime de espoliação dos braços da lavoura.
divididas c freqüentemente em guerra entre si, que viria, em 1930, a tentativa Não só nos revelamos refratários a dar saltos para a frente. como não
dl' rmnper o imobilismo c renovar o país. faltaram, em nossa história, passos atrás. Tal se deu no caso do voto do anal-
As rcmtencias às mudanças não se dobraram, de 1930 a 1964. O que fabeto. Aqui não houve pudor nem temor de romper a tradição. Na época da
c<n.tcteriza 0 Brasill\ aliás, a estabi lidade secular de suas estruturas políticas colônia, eram contados os eleitores- estavam excluídos os trabalhadores ma-
e i.!l'Onômicas. A tão apregoada instabilidade política é sempre conjuntural. nuais, os mercadores, os judeus, os não-católicos. os soldados, o degredado~
Rdlcte as luta s pelo poder dentro da minoria dominante, quando esta não con- e até os nascidos na metrópole-, mas votavam os analfabetos. Não se discn-
~c!!UC harmorll!ar seus interesses, mas não atinge a carne nem, muito menos, minavam, portanto, os que não sabiam ler e escrever, até porque. se fossem
a ossanu a das mslituições. Sempre que as elites conciliadoras propõem refor- eles excluídos, seriam pouquíssimos os que poderiam eleger c ser elei tos. C'om
mas, estas são de superfície , eleitorais ou jurídicas, "remendos dos fósseis", ou a independência, as restrições não atingiram o analfabeto: este continuou a
chega m. morosas. com gra nde atraso, como se o Bra il fosse "dirigido por poder votar e a ser votado. Para pertencer ao corpo eleitoral, o imprescindível
e~pcctros'', por "fantasma de outras eras". Assim se explicam, entre nós, a era contar com certa renda (como, de resto, sucedia nos países europeus).
tc1mnsa "sohrcv1vencia do arcaico" c as repetidas "derrotas do contemporâ- Entre os votantes, não se admitiam, porém, os que "recebiam salários", os
neo" religiosos regulares, os estrangeiros naturalizados, os ex-escravos, os mendi-
IIHtve no Brasil rebeliões, insurreições, golpes de estado e quarteladas, gos, os criminosos e, desde 1846, os soldados ou praças de pré. A dis~.:rimina
llhls rn .1 vinl~ncia dos movimentos armados e das guerras civis que ocorre- ção era de situação social, profissão, classe c nível de renda.
1.1111 n.1 Hulivia,nu Colômbia. no México ou nos Estados Unidos. Em contrapartida A partir de 1882, passou-se a exigir a assinatura do interessado no título
L' cl.tren Ju c I lonôno Rodrigues-, não tivemos uma só verdadeira rcvolu- eleitoral: o votante tinha, portanto, de saber ao menos escrever o nome . A
\•lll. \o c'p1rito conc iliador causam pânico as fraturas no corpo social e os medida derivou, contraditoriamente, de um projeto de lei do ano antenor, cujo
,,dtos no que 11.10 pode ser pn.:visto. Ora, as revoluções são exatamente isto: objetivo era ampliar a representatividade eleitoral. Nesse projeto. admitia- e
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nm .1s \' 1 re~soes 1k r ida, :ts novas realidades ou. em última análise, ao fluxo Joaquim Nabuco e Saldanha Marinho, que não viam motivo para que nao vo-
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d tlk mas 0 s •u grau de , iolência dependerá dos muros que forem postos para resse do governo pela expansão do ensino", deveu-se também o ter s1do o
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\ .lh\1li .io da es\.'ra\ atura. que e procurou adiar enquanto se pôde e emigrou para as de 1934, 1937 e 1946. As cartas magnas r puhlic_a~as rc\ cla-
'\ m ·' m.lis im cnti\'a, formas de ludíbrio, poderia ter sido um salto revolucio- ram-se, aliás, na área dos direit~ políticos, muito menos democratu.:as c mar
n,nto E fni. L'lllll J sa hi tória, o que ficou mais perto disso. Da abolição pode- restritivas e elitistas do que a legi !ação do império.
n.t ter r ·sultad,,, em vez da marginalização do ex-escravo e de seus Em 1882 abriu-se e fechou-se, ao mesmo tempo, a fenda das umas para
•1• nJcnLL·s. a in..:orpora ·ão do trabalhador agrícola. até então no cativeiro. à os ex-cativos, 'os descendentes de escravos. os sertanejos e os artífi es A
pl·nitude J.1 n tdania. O fim da escravidão não foi, contudo, como seria de exclusão de quem não sabia ler e escrever representava desterrar do ~roces .o
P rl\r l\ ~.h:.. l ,u1hado por un1a refom1a agrária, que valorizasse quem tra· eleitoral quase toda a nação. Prevalecia a tese de que a democrac1a dev1a
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CON('fi/AÇAO F J(JJ"UIIMA NO DRAS/1,
assc nlar-s~ nas diminutas clas si!. médias E continuou-se. assim, a proscrever FLORESTAN FER 1ANDES
do processo polílico os que trahalhavam com as mãos c, em última análise, a
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CON('fi/AÇAO F J(JJ"UIIMA NO DRAS/1,
assc nlar-s~ nas diminutas clas si!. médias E continuou-se. assim, a proscrever FLORESTAN FER 1ANDES
do processo polílico os que trahalhavam com as mãos c, em última análise, a
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"Com·c i a e crever este livro 'm 1966. Ele de ·na er uma respo ta
intelectual à ituação política que e cnara com o regime in taurad ~m 31 e
março de 1964." Assim se inicia a "nota explicati\ a" c m que Flore ·tan
Fernandes apre enta em 1974 o eu "ensaio de intcrpret:1ção ociol ~gi~:a··
conjunto de mudanças na sociedade brasileira que denominou re\ olu ·ão bur-
guesa. A natureza do livro está assim explicada. E um pouco também o . eu
forn1ato. Mas a referência ao ensaio revela mais do que o caráter inaca do c
pouco istemático da exposição. A advertência obre os limite da obra e ·oca
tamMm, com um travo amargo. as circunstâncias da sua composição. que
impuseram a ela o seu formato fragmentado. de projeto interrompido mas não
abandonado; assim como haviam feito com o próprio ofício do autor.
Como tantos outros grandes livros. esse apresenta seus a pectos mais for-
temente datados. Mas, afinal, explicitamente não se trata de "sociologia acadê-
mica". Propõe-se mais propriamente ser uma intervenção no debate
contemporâneo. Acadêmico o livro não tinha como ser, a rigor. pois Flore tan
Fernandes havia sido compulsoriamente aposentado na USP cinco anos ante
(embora sempre se deva lembrar que no Brasil a PUC-SP abriu-lhe espaço para
a docência e a reflexão em tempos sombrios, assim como no Canadá o fizera a
Universidade de Toronto). Mas é claro para quem \ai ao livro que. sem prejuízo
de sua importantíssima atividade como publicista na imprensa, que o acompa-
nhou por toda a vida e se acentuou a partir dos anos 80, quando sua participação
pública atingiu o ápice como deputado federal pelo Partido dos Trabalhadore
(PT) e integrante da Constituinte de 1988, Florestan sempre foi visceralmente
um intelectual"acadêmico" no melhor sentido do termo. Foi pesquisador de ab-
soluta primeira linha, combatente denodado pela qualidade do en ino e da pesqui-
sa na universidade pública, à qual dedicou todo o seu talento como docente e
pesquisador. E teve a rara distinção de ser o autor de dois clássicos inconte tá-
veis nas ciências sociais no Brasil, bem caracteristicamente ituados em área
de pesquisa muito diferentes: A função social da guerra na sociedade
tupinambá (espantosa proeza de reconstrução etnológica de uma sociedade
extinta, que ele próprio considerava a sua obra-prima) e A revolução burguesa
no Brasil, que agora nos vai ocupar. Falar em dois clássicos certamente não é
pouco. Mas ainda omite um outrQ sério candidato, q\le é a sua obra de mead s
dos anos 60 sobre A integração .ro Mgro na or:Udoáe ik elas es.
Para começar, do que trata o 'vro? Ora. dare olução burguesa no Bra-
sil, claro. Não é isso que O-título diz com todas as letras? Diz. sim. mas é preciso
ir longe no texto para~ onde c tj a &nfase da aníJisc: se é na "revolu-
ção u. o ~rasif'l: 'Vale dize~ se é no feD&ileno Jli8J6 geral ou no
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"Com·c i a e crever este livro 'm 1966. Ele de ·na er uma respo ta
intelectual à ituação política que e cnara com o regime in taurad ~m 31 e
março de 1964." Assim se inicia a "nota explicati\ a" c m que Flore ·tan
Fernandes apre enta em 1974 o eu "ensaio de intcrpret:1ção ociol ~gi~:a··
conjunto de mudanças na sociedade brasileira que denominou re\ olu ·ão bur-
guesa. A natureza do livro está assim explicada. E um pouco também o . eu
forn1ato. Mas a referência ao ensaio revela mais do que o caráter inaca do c
pouco istemático da exposição. A advertência obre os limite da obra e ·oca
tamMm, com um travo amargo. as circunstâncias da sua composição. que
impuseram a ela o seu formato fragmentado. de projeto interrompido mas não
abandonado; assim como haviam feito com o próprio ofício do autor.
Como tantos outros grandes livros. esse apresenta seus a pectos mais for-
temente datados. Mas, afinal, explicitamente não se trata de "sociologia acadê-
mica". Propõe-se mais propriamente ser uma intervenção no debate
contemporâneo. Acadêmico o livro não tinha como ser, a rigor. pois Flore tan
Fernandes havia sido compulsoriamente aposentado na USP cinco anos ante
(embora sempre se deva lembrar que no Brasil a PUC-SP abriu-lhe espaço para
a docência e a reflexão em tempos sombrios, assim como no Canadá o fizera a
Universidade de Toronto). Mas é claro para quem \ai ao livro que. sem prejuízo
de sua importantíssima atividade como publicista na imprensa, que o acompa-
nhou por toda a vida e se acentuou a partir dos anos 80, quando sua participação
pública atingiu o ápice como deputado federal pelo Partido dos Trabalhadore
(PT) e integrante da Constituinte de 1988, Florestan sempre foi visceralmente
um intelectual"acadêmico" no melhor sentido do termo. Foi pesquisador de ab-
soluta primeira linha, combatente denodado pela qualidade do en ino e da pesqui-
sa na universidade pública, à qual dedicou todo o seu talento como docente e
pesquisador. E teve a rara distinção de ser o autor de dois clássicos inconte tá-
veis nas ciências sociais no Brasil, bem caracteristicamente ituados em área
de pesquisa muito diferentes: A função social da guerra na sociedade
tupinambá (espantosa proeza de reconstrução etnológica de uma sociedade
extinta, que ele próprio considerava a sua obra-prima) e A revolução burguesa
no Brasil, que agora nos vai ocupar. Falar em dois clássicos certamente não é
pouco. Mas ainda omite um outrQ sério candidato, q\le é a sua obra de mead s
dos anos 60 sobre A integração .ro Mgro na or:Udoáe ik elas es.
Para começar, do que trata o 'vro? Ora. dare olução burguesa no Bra-
sil, claro. Não é isso que O-título diz com todas as letras? Diz. sim. mas é preciso
ir longe no texto para~ onde c tj a &nfase da aníJisc: se é na "revolu-
ção u. o ~rasif'l: 'Vale dize~ se é no feD&ileno Jli8J6 geral ou no
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1\ !U\'0/.UÇÍO Rl!RCUESA IvO IJR,\ SIL GABRIEL COH
~u wntt•xto p.u ticular. Ou, visto por outro lado: o foco do c tudo é a revolu- questão básica derivam outras. que definirão a pauta da pesquisa. Em que
<;:io hurl•ue~a. c o capitali smo moderno do qual ela é inseparável, ou é 0 Brasil? condições, internas e externas, isso se dá? Vale dizer. como se constitui histo-
Nao ~c !J,!la de questan fútil, com a resposta óbvia demais de que são ambas ricamente o cenário desse relato? Quais são seus protagoni tas • Ct>mo atuam
.t ro ~a~ É toda a 01ganização c o encaminhamento da análise que estão nesse cenário? A revolução burguesa é um drama histórico, cheiO de som e
1 fúria; cabe a quem o estuda mostrar que o que nele ocorre faz sentid0, apesar
din·tamente envolvidos E a resposta já está indicada na afirmação de Florestan
que ahrc o presente te to: é do Brasil que se trata, e do I3rasil contemporâneo, de tudo.
Para melhor situar esse drama é indispensável uma referên.:ia preliminar
, quek no qual Florestan c tava visccralmente envolvido, como intelectual e
1
ao seu principal personagem: a burguesia, claro, pois está em jogo a revoluç:io
co111o cid.1d.10 politicamente oposicionista em nome de antigos compromissos
burguesa. Personagem bem problemático, sem dúvida. sempre a beira de um
dl' militâncl.l >ll<:Jalista. É o Brasil da primeira metade dos anos 70, no auge da
ataque de nervos; mas finalmente capaz de fazer, ao seu modo, o quL·lhe cabe
ditadura milit<lf que começaria a abrir espaços para a rcdcmocratização nos
A introdução desse personagem suscita algumas das qucstõc centrais da an:Í·
anos finais daquela década, que dá o tom e o colorido às considerações que
li se. A principal delas tem a ver com o modo como se organiza internam ·nte
orientam a obra, conferindo-lhe, em suma, seu caráter próprio.
esse coletivo a que se refere o termo burguesia e, em consonância com isso.
Fst udar a revolução burguesa no 13ra il ignifica, para Florestan, recons-
como são levados a agir os seus membros enquanto "burgueses". Flor o;t,ln
ll uJr como se dá nesta particular configuração histórica um processo de pro-
mostra ao longo do livro que o caso brasileiro não permite fai.Lr da hurguesia
pnrçl>c mundiais que é simultaneamente econômico, político, social, cultural e que aqui se forma nos termos estritos de um modelo extraído da c, periência
qu1 · t .tende até à estrutura da personalidade c às formas de conduta indivi- histórica das sociedades européias que servem de paradigma para a cara\:lcn·
du.u !': um pmccsso multid1mcnsional que está em jogo, c que ocorre em zação da revolução burguesa. Nesse modelo a burguesia organiza-se c .1ge
rnllltiplo~ nívc1s Reconstruir esses níveis nas suas diferenças c nas suas arti- como classe c tende a impor os requisitos dessa forma de t)rganiwção .1ns
culaçoes em ,..~da fase do processo é a principal c a mais espinhosa tarefa da setores da sociedade que ainda se organizam conforme o padrão da oci<.:dadc
anüli se. Não se trata, portanto, nem de perseguir traços gerais da organização que a revolução burguesa está justamente em via de tran formar.
'ocial própria ao capitalismo nem de realizar análise comparativa, confrontan- Essa forma de organização que contrasta com a de classe r idcntificad.l
do o caso br.ts1leiro ao britânico, digamos. E não é propriamente a expansão do no livro mediante a noção de estame11to. A diferença básíca entre cssL'S dois
capitalismo que está em pauta. A dimensão central da análise não é econômi- princípios de organização social consiste em que no cstamento um conjunto de
CJ. mas sim soc iopolítica; daí a ênfase na revolução burguesa. Florestan tem indivíduos se agrega conforme um critério de inclusão ou exclusão no dcslrutc
.1 formulação exata p:~ra dar conta disso tudo. Trata-se de examinar a forma- de uma série de vantagens vinculadas ao intercâmbio social: contatos, Ullli:lc~.
ção de um "e~ti lo especial de revolução burguesa".' prestígio e, naquilo que particularmente nos interessa aqui, privilégio (I' ale
O termo c.1tilo é muito apropriado. Ele remete a três aspectos funda- dizer, garantias exclusivas quanto aos seus interesses particulares cnquanl<l
nu: ntaí~: p1 ime1ro. ao arranjo específico dos elementos que exprimem a nature- membros do estamento, "pessoas gradas"). A organização estamental. por-
í'.l própria de uma entidade complexa (poderia ser uma obra de arte mas, no tanto, é como que voltada para dentro: tem mais a ver com a capacidade de
casfl. ~ a revoluçiio burguesa como processo histórico formador da sociedade fechar-se para o exterior e oferecer aos seus membros a ~arantia de ace. o
hra~ilcira .:ontl.!mporânea); segundo, ao caráter necessário da presença des- f
restrito a posições valorizadas. busca de expansão med1~nte o. upro~ctta
ses cl~mentos para a existência dessa entidade; terceiro, ao papel que cada mento de oportunidades incertas, de risco, não é o seu forte. Garantias. pn \ Llc-
um dele s desempenha para conferir-lhe unidade interna e continuidade. gios, interesses privativos do grupo são seu~ lemas. . _
A pergunta é, portanto: como a sociedade brasileira confere um estilo Em contraste com isso a classe (especialmente as classes. ou fra s ~e
p1CíP 110 à impl ntação c consolidação do capitalismo no seu interior? Dessa classes, que formam a burguesia) associa os eus membro conforme ~m cn-
tério que premia o sucesso na disputa pelo aproveitamento ~e o~rtumdades
sobretudo econômicas, oferecidas na sociedade sem respeitar hnute Seus
1
Flore 1·'" r:~rnJndcs. ,\ rewluçdo burguoa no Braul. F..nsaio d~ mtapr~lilft'10 socio/6gira (Rio
de Ja•l<'llu Znhar Ednor , t 91 ~). p I SI.
.196
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1\ !U\'0/.UÇÍO Rl!RCUESA IvO IJR,\ SIL GABRIEL COH
~u wntt•xto p.u ticular. Ou, visto por outro lado: o foco do c tudo é a revolu- questão básica derivam outras. que definirão a pauta da pesquisa. Em que
<;:io hurl•ue~a. c o capitali smo moderno do qual ela é inseparável, ou é 0 Brasil? condições, internas e externas, isso se dá? Vale dizer. como se constitui histo-
Nao ~c !J,!la de questan fútil, com a resposta óbvia demais de que são ambas ricamente o cenário desse relato? Quais são seus protagoni tas • Ct>mo atuam
.t ro ~a~ É toda a 01ganização c o encaminhamento da análise que estão nesse cenário? A revolução burguesa é um drama histórico, cheiO de som e
1 fúria; cabe a quem o estuda mostrar que o que nele ocorre faz sentid0, apesar
din·tamente envolvidos E a resposta já está indicada na afirmação de Florestan
que ahrc o presente te to: é do Brasil que se trata, e do I3rasil contemporâneo, de tudo.
Para melhor situar esse drama é indispensável uma referên.:ia preliminar
, quek no qual Florestan c tava visccralmente envolvido, como intelectual e
1
ao seu principal personagem: a burguesia, claro, pois está em jogo a revoluç:io
co111o cid.1d.10 politicamente oposicionista em nome de antigos compromissos
burguesa. Personagem bem problemático, sem dúvida. sempre a beira de um
dl' militâncl.l >ll<:Jalista. É o Brasil da primeira metade dos anos 70, no auge da
ataque de nervos; mas finalmente capaz de fazer, ao seu modo, o quL·lhe cabe
ditadura milit<lf que começaria a abrir espaços para a rcdcmocratização nos
A introdução desse personagem suscita algumas das qucstõc centrais da an:Í·
anos finais daquela década, que dá o tom e o colorido às considerações que
li se. A principal delas tem a ver com o modo como se organiza internam ·nte
orientam a obra, conferindo-lhe, em suma, seu caráter próprio.
esse coletivo a que se refere o termo burguesia e, em consonância com isso.
Fst udar a revolução burguesa no 13ra il ignifica, para Florestan, recons-
como são levados a agir os seus membros enquanto "burgueses". Flor o;t,ln
ll uJr como se dá nesta particular configuração histórica um processo de pro-
mostra ao longo do livro que o caso brasileiro não permite fai.Lr da hurguesia
pnrçl>c mundiais que é simultaneamente econômico, político, social, cultural e que aqui se forma nos termos estritos de um modelo extraído da c, periência
qu1 · t .tende até à estrutura da personalidade c às formas de conduta indivi- histórica das sociedades européias que servem de paradigma para a cara\:lcn·
du.u !': um pmccsso multid1mcnsional que está em jogo, c que ocorre em zação da revolução burguesa. Nesse modelo a burguesia organiza-se c .1ge
rnllltiplo~ nívc1s Reconstruir esses níveis nas suas diferenças c nas suas arti- como classe c tende a impor os requisitos dessa forma de t)rganiwção .1ns
culaçoes em ,..~da fase do processo é a principal c a mais espinhosa tarefa da setores da sociedade que ainda se organizam conforme o padrão da oci<.:dadc
anüli se. Não se trata, portanto, nem de perseguir traços gerais da organização que a revolução burguesa está justamente em via de tran formar.
'ocial própria ao capitalismo nem de realizar análise comparativa, confrontan- Essa forma de organização que contrasta com a de classe r idcntificad.l
do o caso br.ts1leiro ao britânico, digamos. E não é propriamente a expansão do no livro mediante a noção de estame11to. A diferença básíca entre cssL'S dois
capitalismo que está em pauta. A dimensão central da análise não é econômi- princípios de organização social consiste em que no cstamento um conjunto de
CJ. mas sim soc iopolítica; daí a ênfase na revolução burguesa. Florestan tem indivíduos se agrega conforme um critério de inclusão ou exclusão no dcslrutc
.1 formulação exata p:~ra dar conta disso tudo. Trata-se de examinar a forma- de uma série de vantagens vinculadas ao intercâmbio social: contatos, Ullli:lc~.
ção de um "e~ti lo especial de revolução burguesa".' prestígio e, naquilo que particularmente nos interessa aqui, privilégio (I' ale
O termo c.1tilo é muito apropriado. Ele remete a três aspectos funda- dizer, garantias exclusivas quanto aos seus interesses particulares cnquanl<l
nu: ntaí~: p1 ime1ro. ao arranjo específico dos elementos que exprimem a nature- membros do estamento, "pessoas gradas"). A organização estamental. por-
í'.l própria de uma entidade complexa (poderia ser uma obra de arte mas, no tanto, é como que voltada para dentro: tem mais a ver com a capacidade de
casfl. ~ a revoluçiio burguesa como processo histórico formador da sociedade fechar-se para o exterior e oferecer aos seus membros a ~arantia de ace. o
hra~ilcira .:ontl.!mporânea); segundo, ao caráter necessário da presença des- f
restrito a posições valorizadas. busca de expansão med1~nte o. upro~ctta
ses cl~mentos para a existência dessa entidade; terceiro, ao papel que cada mento de oportunidades incertas, de risco, não é o seu forte. Garantias. pn \ Llc-
um dele s desempenha para conferir-lhe unidade interna e continuidade. gios, interesses privativos do grupo são seu~ lemas. . _
A pergunta é, portanto: como a sociedade brasileira confere um estilo Em contraste com isso a classe (especialmente as classes. ou fra s ~e
p1CíP 110 à impl ntação c consolidação do capitalismo no seu interior? Dessa classes, que formam a burguesia) associa os eus membro conforme ~m cn-
tério que premia o sucesso na disputa pelo aproveitamento ~e o~rtumdades
sobretudo econômicas, oferecidas na sociedade sem respeitar hnute Seus
1
Flore 1·'" r:~rnJndcs. ,\ rewluçdo burguoa no Braul. F..nsaio d~ mtapr~lilft'10 socio/6gira (Rio
de Ja•l<'llu Znhar Ednor , t 91 ~). p I SI.
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t1 Rf:VOWÇiO /JURGUES1\ NO BRASIL
GABRI EL COH
398
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t1 Rf:VOWÇiO /JURGUES1\ NO BRASIL
GABRI EL COH
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A RIYOWÇ'riO 8 /JRGUFSA NO BRASIL GADRIEL COIIN
lltdem social imperante na sociedade colonial c reforçando-a, ao contrário, as as referências ideológicas que ela também oferece, e que alimentam a cr;n-
ro.:fcrid.t dites atuaram n.:volucionariamcnte ao nível das estruturas do poder servação no plano econômico.
polírico. que foram consciente c deliberadamente adaptadas às condições in- Na análise de Florestan a reiterada atribuição de um carát<'r "con<,trult
tct nas de integração c funcionamento daquela ordem social'? vo" a efeitos ou a funções de condutas de agentes sociéiiS e político~ divide a
Do ponto de vista do processo de independência nacional o efeito disso é atenção com as não menos numerosas ocorrências de outro termo lundam n-
de..: i ivo. Retomando as palavras do próprio autor, "a Independência foi natu- tal nele. Trata-se da noção de "polarização", ou, na sua formulação ma i forte.
ralmente solapada como processo revolucionário, graças ao predomínio de in- "polarizações dinâmicas". A referência à dinâmica (que também é imcu ,,.
Ou~n .. ias histórico-sociai~ que confinavam a profundidade da ruptura com o mente importante por si mesma, e aparece ao longo da obra crn contrastt: com
pas ,1do. O c tatuto colonia l Ioi condenado c superado como estado jurídico- a dimensão "estrutural") pode ser entendida como de~ignando a pr ·scuça. nn
político. O me mo não sucedeu com o seu substrato material, social e moral, o desencadeamento, de uma força; o que, em termos ~ociolôgicm. ~t: traduz
por uma conduta social compartilhada, dotada de inh.:nçi10 c objetivo prr'Jprio
4uc iria perpetuar· ·c c servir de suporte à construção de uma sociedade na-
ltomd".1 Essas circunstâncias configuram, nas palavras do autor, um "parado- segundo a percepção mais ou menos inteligente qu~ seus agent~~ (vale diz ·r,
xo", a ahcr, que "a 're\'olução nacional' não resultou de uma 'revolução figuras capazes de definir opções) têm da sua situação c dos s~u~ objt:tivo~.
econômica· nem concorreu para forjar ideais de autonomia econômica que Em algumas passagens essa concepção da dimensão construtrva de lorma d •
11nplicasscm ruptura imediata, irreversível e total com o passado rccente". 4 atuação social apresenta-se de modo pleno: "A ausência de um c torço. c )11
M , tr:t o livro que esse padrão básico se mantém, com conteúdos diferentes, ciente c inteligente, de coordenação e de orientação das força~ L' formas ~.:co
,t I n •u dt: toda a "revolução burguesa" no Urasil. nômicas emergentes impediu que o longo período de sobn.:vivéncia da ordem
f'cculi<H soc iedade essa, em que a emancipação política dos laços colo- escravocrata senhorial operasse, construtivamente, como um mt:io (k prepa-
!11.11~ dct ava de pl!, ainda qut: concentrada no plano econômico, a questão da ração da 'economia nacional' para as exigências do futuro , yue impunham a
,JUtonomi<t ttJcJOnal. É verdade que os Ouxos econômicos internos passam a plena mercantilização de todos os níveis e fases do sistema econômico 'naltO·
cr comandados pelos integrantes da nova dominação senhorial, que se di ver- nal'".s
ificam ~obn:tudo em resposta a expansão da grande lavoura c da difercncia- A referência à polarização, por sua vez, oferece ma i dificuldade b a
ç.lo da5 atividade·> comerciais c financeiras. Mas o centro dinâmico da economia, minemos isso à luz de algumas passagens do livro. Ao di~cutir o período irm:-
.llltl;S nitidamente localizauo na metrópole, continua externo, agora satelizado diatamente posterior à independência, Flort.:stan assinala duas "polarwu;oc
pela jrea nuclear da revolução burguesa em escala internacional (sobretudo a dinâmicas" da "absorção do liberalismo pelas elites nativa\". 1' A pt imcrr.t '';t'-
Inglaterra, claro). As mudanças fundamentais se dão no âmbito interno, e nis- sociava o liberalismo aos processos de consciência social vinculados a ·~rnan
o a OHlcm ,cnhorial de base cstamcntal, ao reorganizar o Estado e ao enfren- cipação colonial"'. A segunda o associava "com a construção de um Estado
tar a construção de uma ordt:m legal de matriz liberal, produz efeitos nacional". Portanto, o liberalismo é visto como apontando em dois scnttdo
ru/1\trutii'Os, para usar uma das expressões prediletas do autor. Vale dizer, opostos. Por um lado, aponta para o que já foi feito; pelo outro, aponta para
contribui pata construir um novo patamar de integração da sociedade nacional. que cabe fazer. Há uma polarização, portanto. É isto que pcnnitc a Hore tan
~l;s .c ponto, c preciso ler diretamente a brilhante análise que Florestan faz do dar mais um passo, e identificar uma polarização correspondente no mtenor
\tgmficado do liberalismo na construção da sociedade nacional no século XIX, mesmo do liberalismo no Brasil novecentista. Nesse ca o a polarizaçao c
ao oferecer aos estamentos senhoriais as referências utópicas que lhes per- caracteriza por ter um pólo de caráter ideológico (que se esgota no presente) c
mttcm projetar aspirações e visões da sociedade no futuro, em contraste com um pólo utópico (que se projeta 1lO futuro).
d' I' 32
I ,,f.p 33 ' Jbid., pp. 175-176.
' lbid. J1 7:.. • lbid.• p. 34.
401
400
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A RIYOWÇ'riO 8 /JRGUFSA NO BRASIL GADRIEL COIIN
lltdem social imperante na sociedade colonial c reforçando-a, ao contrário, as as referências ideológicas que ela também oferece, e que alimentam a cr;n-
ro.:fcrid.t dites atuaram n.:volucionariamcnte ao nível das estruturas do poder servação no plano econômico.
polírico. que foram consciente c deliberadamente adaptadas às condições in- Na análise de Florestan a reiterada atribuição de um carát<'r "con<,trult
tct nas de integração c funcionamento daquela ordem social'? vo" a efeitos ou a funções de condutas de agentes sociéiiS e político~ divide a
Do ponto de vista do processo de independência nacional o efeito disso é atenção com as não menos numerosas ocorrências de outro termo lundam n-
de..: i ivo. Retomando as palavras do próprio autor, "a Independência foi natu- tal nele. Trata-se da noção de "polarização", ou, na sua formulação ma i forte.
ralmente solapada como processo revolucionário, graças ao predomínio de in- "polarizações dinâmicas". A referência à dinâmica (que também é imcu ,,.
Ou~n .. ias histórico-sociai~ que confinavam a profundidade da ruptura com o mente importante por si mesma, e aparece ao longo da obra crn contrastt: com
pas ,1do. O c tatuto colonia l Ioi condenado c superado como estado jurídico- a dimensão "estrutural") pode ser entendida como de~ignando a pr ·scuça. nn
político. O me mo não sucedeu com o seu substrato material, social e moral, o desencadeamento, de uma força; o que, em termos ~ociolôgicm. ~t: traduz
por uma conduta social compartilhada, dotada de inh.:nçi10 c objetivo prr'Jprio
4uc iria perpetuar· ·c c servir de suporte à construção de uma sociedade na-
ltomd".1 Essas circunstâncias configuram, nas palavras do autor, um "parado- segundo a percepção mais ou menos inteligente qu~ seus agent~~ (vale diz ·r,
xo", a ahcr, que "a 're\'olução nacional' não resultou de uma 'revolução figuras capazes de definir opções) têm da sua situação c dos s~u~ objt:tivo~.
econômica· nem concorreu para forjar ideais de autonomia econômica que Em algumas passagens essa concepção da dimensão construtrva de lorma d •
11nplicasscm ruptura imediata, irreversível e total com o passado rccente". 4 atuação social apresenta-se de modo pleno: "A ausência de um c torço. c )11
M , tr:t o livro que esse padrão básico se mantém, com conteúdos diferentes, ciente c inteligente, de coordenação e de orientação das força~ L' formas ~.:co
,t I n •u dt: toda a "revolução burguesa" no Urasil. nômicas emergentes impediu que o longo período de sobn.:vivéncia da ordem
f'cculi<H soc iedade essa, em que a emancipação política dos laços colo- escravocrata senhorial operasse, construtivamente, como um mt:io (k prepa-
!11.11~ dct ava de pl!, ainda qut: concentrada no plano econômico, a questão da ração da 'economia nacional' para as exigências do futuro , yue impunham a
,JUtonomi<t ttJcJOnal. É verdade que os Ouxos econômicos internos passam a plena mercantilização de todos os níveis e fases do sistema econômico 'naltO·
cr comandados pelos integrantes da nova dominação senhorial, que se di ver- nal'".s
ificam ~obn:tudo em resposta a expansão da grande lavoura c da difercncia- A referência à polarização, por sua vez, oferece ma i dificuldade b a
ç.lo da5 atividade·> comerciais c financeiras. Mas o centro dinâmico da economia, minemos isso à luz de algumas passagens do livro. Ao di~cutir o período irm:-
.llltl;S nitidamente localizauo na metrópole, continua externo, agora satelizado diatamente posterior à independência, Flort.:stan assinala duas "polarwu;oc
pela jrea nuclear da revolução burguesa em escala internacional (sobretudo a dinâmicas" da "absorção do liberalismo pelas elites nativa\". 1' A pt imcrr.t '';t'-
Inglaterra, claro). As mudanças fundamentais se dão no âmbito interno, e nis- sociava o liberalismo aos processos de consciência social vinculados a ·~rnan
o a OHlcm ,cnhorial de base cstamcntal, ao reorganizar o Estado e ao enfren- cipação colonial"'. A segunda o associava "com a construção de um Estado
tar a construção de uma ordt:m legal de matriz liberal, produz efeitos nacional". Portanto, o liberalismo é visto como apontando em dois scnttdo
ru/1\trutii'Os, para usar uma das expressões prediletas do autor. Vale dizer, opostos. Por um lado, aponta para o que já foi feito; pelo outro, aponta para
contribui pata construir um novo patamar de integração da sociedade nacional. que cabe fazer. Há uma polarização, portanto. É isto que pcnnitc a Hore tan
~l;s .c ponto, c preciso ler diretamente a brilhante análise que Florestan faz do dar mais um passo, e identificar uma polarização correspondente no mtenor
\tgmficado do liberalismo na construção da sociedade nacional no século XIX, mesmo do liberalismo no Brasil novecentista. Nesse ca o a polarizaçao c
ao oferecer aos estamentos senhoriais as referências utópicas que lhes per- caracteriza por ter um pólo de caráter ideológico (que se esgota no presente) c
mttcm projetar aspirações e visões da sociedade no futuro, em contraste com um pólo utópico (que se projeta 1lO futuro).
d' I' 32
I ,,f.p 33 ' Jbid., pp. 175-176.
' lbid. J1 7:.. • lbid.• p. 34.
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I RErt!U Ç\0 BURGUES. \ .'\'0 BR \S/1 GABRIEL COHS
Is-o sugere que quando e fala de polarizaçõ está em jogo uma dinâmi- encaminhada, nos planos econômico, social e político a sua abolição. A análise
ca ten. a entre sentidos opo tos presente no mesmo objeto de referência, que do movimento abolicionista permite a Florestan reconstruir os sentidos da cre<-
orknta a atuação de grupos sociais. O liberal i mo é um bom exemplo disso: cente diferenciação in tema da sociedade brasileira ao longo do século XIX e a
en.: como referência para grupos ociais e orienta as suas ações na arena emergência de novos atores sociais, em especial nas condições de mobilidade
políu~a. dando forma a a piraçõe que de outro modo ficariam difusas e perdi- social propiciadas por um meio urbano em expansão. Mas a questão do rcgtme
d;:s no interior da sociedade. Mas é importante não perder de vista que a de trabalho escravo, para além de seus outros significados. ganha toda a sua
polarização só ocorre cfeti\ amente quando tem suporte social: são os homens força na análise quando associada à questão do regime de poder senhnrial.
c grupos de homens que "puxam" para direções diferentes no interior dos contra o pano de fundo do núcleo mesmo da revolução burguesa, que é :J
grandes agrupam·nto da oc iedade, e nas relações entre eles. formação daquilo que para Florestan é a "ordem social competiti va" E te
É wrdadc que o uso. por Florestan, de expressões como "duas polariza- termo designa uma fonna de organização da sociedade em que po ições so-
ções" quando c.. tão em jogo dois pólos de uma polarização (mesmo porque ciais, riqueza e poder são disputados em campo aberto. sem respeito por bar-
não exJM(! pólo isolado) por vezes retira força do seu argumento. Mas a noção reiras tradicionais, e a capacidade empreendedora e inovadora ganha relevo
• muito fecunda. mesmo quando em alguns momentos apareça disfarçada, no elenco das qualidades socialmente valorizadas.
como ocorre em 11nponante passagem, na qual e analisam as tran~formaçõcs Numa passagem importante do livro lê-se a rcspctto do comportamento
>fridas pela fig ura soc ial do senhor na fase inicial da existência nacional. das elites da sociedade imperial brasileira:
( Jr rar Jo o p rocc~~o pelo qual "a ~ elites dirigentes dos e~tamcntos senho-
11 • b rv ramas funções que antes eram desempenhadas mediante a tutela
co! rua!. prr ilcgiJitd u politicamente seu prestígio social". 7 Florestan assinala
llltJ unr dos seus res ultados "a diferenciação dos papéis políti-
mitodequeoBr
mo t'Jclart'cldO
E, em seguida:
vlrtuded 1
/1,., l ~I
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I RErt!U Ç\0 BURGUES. \ .'\'0 BR \S/1 GABRIEL COHS
Is-o sugere que quando e fala de polarizaçõ está em jogo uma dinâmi- encaminhada, nos planos econômico, social e político a sua abolição. A análise
ca ten. a entre sentidos opo tos presente no mesmo objeto de referência, que do movimento abolicionista permite a Florestan reconstruir os sentidos da cre<-
orknta a atuação de grupos sociais. O liberal i mo é um bom exemplo disso: cente diferenciação in tema da sociedade brasileira ao longo do século XIX e a
en.: como referência para grupos ociais e orienta as suas ações na arena emergência de novos atores sociais, em especial nas condições de mobilidade
políu~a. dando forma a a piraçõe que de outro modo ficariam difusas e perdi- social propiciadas por um meio urbano em expansão. Mas a questão do rcgtme
d;:s no interior da sociedade. Mas é importante não perder de vista que a de trabalho escravo, para além de seus outros significados. ganha toda a sua
polarização só ocorre cfeti\ amente quando tem suporte social: são os homens força na análise quando associada à questão do regime de poder senhnrial.
c grupos de homens que "puxam" para direções diferentes no interior dos contra o pano de fundo do núcleo mesmo da revolução burguesa, que é :J
grandes agrupam·nto da oc iedade, e nas relações entre eles. formação daquilo que para Florestan é a "ordem social competiti va" E te
É wrdadc que o uso. por Florestan, de expressões como "duas polariza- termo designa uma fonna de organização da sociedade em que po ições so-
ções" quando c.. tão em jogo dois pólos de uma polarização (mesmo porque ciais, riqueza e poder são disputados em campo aberto. sem respeito por bar-
não exJM(! pólo isolado) por vezes retira força do seu argumento. Mas a noção reiras tradicionais, e a capacidade empreendedora e inovadora ganha relevo
• muito fecunda. mesmo quando em alguns momentos apareça disfarçada, no elenco das qualidades socialmente valorizadas.
como ocorre em 11nponante passagem, na qual e analisam as tran~formaçõcs Numa passagem importante do livro lê-se a rcspctto do comportamento
>fridas pela fig ura soc ial do senhor na fase inicial da existência nacional. das elites da sociedade imperial brasileira:
( Jr rar Jo o p rocc~~o pelo qual "a ~ elites dirigentes dos e~tamcntos senho-
11 • b rv ramas funções que antes eram desempenhadas mediante a tutela
co! rua!. prr ilcgiJitd u politicamente seu prestígio social". 7 Florestan assinala
llltJ unr dos seus res ultados "a diferenciação dos papéis políti-
mitodequeoBr
mo t'Jclart'cldO
E, em seguida:
vlrtuded 1
/1,., l ~I
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1 Rl-\'OLl (.\O 81 HG f.S.\ \'0 BRASIL
GABRIEL COH. 1
com,, l'''punent •s da ordem social competi tiva (ou simples mente ordem bur-
•ue .1) Um comptment•· h.ísico de se· pro cs.o é o que aparece no livro Mesmo que leiamos essa referência a uma "dupla polarllaç;io" u'lllll
com "bur \C tati z.t~·:io" da orucm senhorial. Refe re-se isto ao uso que os de- referindo-se a uma polarização si mples, é fundamental a c.tractcru.l<,•io d.t
l ·ntt r ·s ·st.uncnta is Je privil~gios L>uhcrarn faze r do seu ace so pri vativo a
dependência como muito mais do que a mera suborJinação cxtcma. Ao Oll''"
1'0'1 'll's ',tf,,ri;adas para ocupar os novos cargos gerado pela modernização trar que u dependência envolve uma tensa dinâmica intcnw d ·uma estruwr.t
u.ll't'dl'tll kgal c 1elas dikrenciações estruturais em curso na sociedade. Isso com uma ponta orientada por intluxos externos c a outra vn~tada para dcn~ro.
t'lltw~p,,ndia a unu csp ;c i e dl! abcr lltra da ordem se nhorial para as exigê ncias
essa caracterização assinala que se está falando da re,oluçao burguesa, nn.
d · n't'r .tni7aç.ll1 ec,,n\mic.t. Essa circ un stância "tanto abriu caminho a domi- mas Brasil.
110
A contrapartida estrutural à polarização (na qual esta as~um..: ~~ seu
n.l .hl C\lamcntal propt i;~ml'lltC dita, quanto su citou a necessidade de se dc-
caráter dintimico) exprime-se na noção de dupla articulaçao Es~ a Jd<:lJ de
s n~,,hct~.:m supnrtL'S l'Cl)llÔmicos dime nsio nado s à sua ex istênc ia c
dupla articulação é da maior importância no livro, pois é dela que H~'re~t.an. c
(l't('t'llt 1 '.lll O pt iYilc ~ i.um:nto l'Con0mico das atividades práticas das carna- ' d s diferenciados para anal i ar o desenvoh tm•mo .lpltah ta
d.t ilhl'lt.tis as umtu. a. sim. o caráter J e um 'imperati vo histórico' ".'! Isso va Ic comconteu o • . . .•. d· dll
• . . do ~e'culo X Falando das pnmetra tre. uCÇJ ,IS
st •nit !l',l que. se por um !aJo c. se processo já indicava a perpetuação de tra- em momentos cructats , · . d•
.. adrão de desenvolvimento c.tpttahst.l ~ unt,
,, c. tamt•nt.d. nt> interior da l rdl!m cOt.npctiti va que se anunciava, por outro século, ele se refere a um P . 1 da· 1 Intcrnamcntt• ..ttra-
. t't' . duplamente al1JCUa · ·
economia capitaltsta compe t tva. • od ·mo ou urbano ~;t'illcfctal
vés da articulação do setor arcatco ao st.:tor m t.: ,
I) lbid., p. 90.
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1 Rl-\'OLl (.\O 81 HG f.S.\ \'0 BRASIL
GABRIEL COH. 1
com,, l'''punent •s da ordem social competi tiva (ou simples mente ordem bur-
•ue .1) Um comptment•· h.ísico de se· pro cs.o é o que aparece no livro Mesmo que leiamos essa referência a uma "dupla polarllaç;io" u'lllll
com "bur \C tati z.t~·:io" da orucm senhorial. Refe re-se isto ao uso que os de- referindo-se a uma polarização si mples, é fundamental a c.tractcru.l<,•io d.t
l ·ntt r ·s ·st.uncnta is Je privil~gios L>uhcrarn faze r do seu ace so pri vativo a
dependência como muito mais do que a mera suborJinação cxtcma. Ao Oll''"
1'0'1 'll's ',tf,,ri;adas para ocupar os novos cargos gerado pela modernização trar que u dependência envolve uma tensa dinâmica intcnw d ·uma estruwr.t
u.ll't'dl'tll kgal c 1elas dikrenciações estruturais em curso na sociedade. Isso com uma ponta orientada por intluxos externos c a outra vn~tada para dcn~ro.
t'lltw~p,,ndia a unu csp ;c i e dl! abcr lltra da ordem se nhorial para as exigê ncias
essa caracterização assinala que se está falando da re,oluçao burguesa, nn.
d · n't'r .tni7aç.ll1 ec,,n\mic.t. Essa circ un stância "tanto abriu caminho a domi- mas Brasil.
110
A contrapartida estrutural à polarização (na qual esta as~um..: ~~ seu
n.l .hl C\lamcntal propt i;~ml'lltC dita, quanto su citou a necessidade de se dc-
caráter dintimico) exprime-se na noção de dupla articulaçao Es~ a Jd<:lJ de
s n~,,hct~.:m supnrtL'S l'Cl)llÔmicos dime nsio nado s à sua ex istênc ia c
dupla articulação é da maior importância no livro, pois é dela que H~'re~t.an. c
(l't('t'llt 1 '.lll O pt iYilc ~ i.um:nto l'Con0mico das atividades práticas das carna- ' d s diferenciados para anal i ar o desenvoh tm•mo .lpltah ta
d.t ilhl'lt.tis as umtu. a. sim. o caráter J e um 'imperati vo histórico' ".'! Isso va Ic comconteu o • . . .•. d· dll
• . . do ~e'culo X Falando das pnmetra tre. uCÇJ ,IS
st •nit !l',l que. se por um !aJo c. se processo já indicava a perpetuação de tra- em momentos cructats , · . d•
.. adrão de desenvolvimento c.tpttahst.l ~ unt,
,, c. tamt•nt.d. nt> interior da l rdl!m cOt.npctiti va que se anunciava, por outro século, ele se refere a um P . 1 da· 1 Intcrnamcntt• ..ttra-
. t't' . duplamente al1JCUa · ·
economia capitaltsta compe t tva. • od ·mo ou urbano ~;t'illcfctal
vés da articulação do setor arcatco ao st.:tor m t.: ,
I) lbid., p. 90.
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A E\ Ll,Ç-0 BLRGLE ,\ \ 0 BRASIL GABRIEL COH
anuncia também o modo como ele \ai carac erizar a at ac::. '=~ ~ a
como classe à medida que a "revolução bur,ue a"' \at e do' :1 d
potencialidades. 1 ·a sua análise. essa atuação vai as_umindo c d:l ' ez r.;
caráter defensivo (ao ponto de a revolução de 19M ap ecer c m
dura de classe preventiva"). Pre•alece, portanto. a apo t hts órk
sia na atuação adaptativa. de ajuste ou acom ç·o. pela q I te ~
Em uir...L .. a rtnolução nacional continuaria a ser dimensionada pela enrijecer-se os traços estruturais da dupla articulaç-o e. per e·s
"· us:~ c n·ug:! ::.o or~ân i...J de desemolvimento desigual interno e domina- pendência). Fica relegado para segundo plano o a\•anço da tran ~
- ·mperi.l.! ~ - ex.terna"'. sociedade por meios autônomos. com as polarizaç- s d' nimt 'JS
\ idé: d dupla articulação ganha todo o seu sentido na análise de cessariamente envolve e os riscos corre pondentes.
est.:m qu do e aminada junto com sua contrapartida. a idéia de polari::.a- Mais uma vez temos. portanto. duas dimensões da an 'lise en ·e
diuimica. Por um lado encontramos a polarização dinâmica, que se opõe se dá um jogo sutil, cujos lances despontam aqui e ali em p no: e •• . '= ~
~ m r :~daptação. A polarização projeta pontas opostas. tensiona e abre espa- da exposição. A idéia que dá sentido a es_as forrnulaç-~- tJI\ez c rur -
presença de novas tendênc ias e forças. Já a adaptação, como o ção mais fascinante do livro. que acabou send in ·orpora a n títu ) d \.
o mdi..:a. deL"<.a tudo correr como está, e vai se ajustando a isso segundo importante obra de Florestan da mesma época (.e bem poderia ter en r 1
comeniências do momento.• ·a realidade ambas essas faces do processo título desta que estamos acompanhando). Trata-se da imat;em J 11 ·1 :r < •
rico eram juntas. mas não necessariamente de modo simétrico, ou equi- chado. Primeiro ela surge associada à dupla articula ã
Ora pre\ alece uma. ora outra. Como face estrutural do processo, a
pl rtJ.:: ulação emolve intrinsecamente a adaptação. Claro que um proces-
so de transformação em grande escala de uma sociedade (nesse sentido, uma
I iío1 que opere só em termos adaptativos é um contra-senso, da pers-
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A E\ Ll,Ç-0 BLRGLE ,\ \ 0 BRASIL GABRIEL COH
anuncia também o modo como ele \ai carac erizar a at ac::. '=~ ~ a
como classe à medida que a "revolução bur,ue a"' \at e do' :1 d
potencialidades. 1 ·a sua análise. essa atuação vai as_umindo c d:l ' ez r.;
caráter defensivo (ao ponto de a revolução de 19M ap ecer c m
dura de classe preventiva"). Pre•alece, portanto. a apo t hts órk
sia na atuação adaptativa. de ajuste ou acom ç·o. pela q I te ~
Em uir...L .. a rtnolução nacional continuaria a ser dimensionada pela enrijecer-se os traços estruturais da dupla articulaç-o e. per e·s
"· us:~ c n·ug:! ::.o or~ân i...J de desemolvimento desigual interno e domina- pendência). Fica relegado para segundo plano o a\•anço da tran ~
- ·mperi.l.! ~ - ex.terna"'. sociedade por meios autônomos. com as polarizaç- s d' nimt 'JS
\ idé: d dupla articulação ganha todo o seu sentido na análise de cessariamente envolve e os riscos corre pondentes.
est.:m qu do e aminada junto com sua contrapartida. a idéia de polari::.a- Mais uma vez temos. portanto. duas dimensões da an 'lise en ·e
diuimica. Por um lado encontramos a polarização dinâmica, que se opõe se dá um jogo sutil, cujos lances despontam aqui e ali em p no: e •• . '= ~
~ m r :~daptação. A polarização projeta pontas opostas. tensiona e abre espa- da exposição. A idéia que dá sentido a es_as forrnulaç-~- tJI\ez c rur -
presença de novas tendênc ias e forças. Já a adaptação, como o ção mais fascinante do livro. que acabou send in ·orpora a n títu ) d \.
o mdi..:a. deL"<.a tudo correr como está, e vai se ajustando a isso segundo importante obra de Florestan da mesma época (.e bem poderia ter en r 1
comeniências do momento.• ·a realidade ambas essas faces do processo título desta que estamos acompanhando). Trata-se da imat;em J 11 ·1 :r < •
rico eram juntas. mas não necessariamente de modo simétrico, ou equi- chado. Primeiro ela surge associada à dupla articula ã
Ora pre\ alece uma. ora outra. Como face estrutural do processo, a
pl rtJ.:: ulação emolve intrinsecamente a adaptação. Claro que um proces-
so de transformação em grande escala de uma sociedade (nesse sentido, uma
I iío1 que opere só em termos adaptativos é um contra-senso, da pers-
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\1.'\I1Rill ! OIJN
A burguesia brasileira não conseguiu levar a cabo re~o ução. II3S corldiçoo COJIII que
se defrontava (com dificuldades inerentes não só a wnac:atne~ruacoDapeltlU\'õl de
dente e subdesenvolvida, mas às pl'CSSÕeS desencadeadas[- ) pelas ~trat:ldcsCOI'J)(){3~
. A prim Ira vi ta de\eria causar estranheza que a acomodação se deva à e por economias centrais que operavam em outra acala I
fa! · de elasticidade'' de urna ordem social. ao invés de resultar de elasticida- brasileira perdeu sua "oportulidade histórica" porque. em última
....
e.! ::e SI\• a. Afin I e sa rigidez gerou acomodação, e não resistências duras. fora do seu alcance neutralizar ntmos desigu3lS de delen ol mtnto
mo[••)."
408
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\1.'\I1Rill ! OIJN
A burguesia brasileira não conseguiu levar a cabo re~o ução. II3S corldiçoo COJIII que
se defrontava (com dificuldades inerentes não só a wnac:atne~ruacoDapeltlU\'õl de
dente e subdesenvolvida, mas às pl'CSSÕeS desencadeadas[- ) pelas ~trat:ldcsCOI'J)(){3~
. A prim Ira vi ta de\eria causar estranheza que a acomodação se deva à e por economias centrais que operavam em outra acala I
fa! · de elasticidade'' de urna ordem social. ao invés de resultar de elasticida- brasileira perdeu sua "oportulidade histórica" porque. em última
....
e.! ::e SI\• a. Afin I e sa rigidez gerou acomodação, e não resistências duras. fora do seu alcance neutralizar ntmos desigu3lS de delen ol mtnto
mo[••)."
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A RE\"Of.UÇtÍ O BURGUESA NO BRASfL GABRiEL COHN
Aqui cabl!m duas observações, ambas referentes a aspectos centrais da especialmente no momento em que o livro foi escrito, nenhuma des as condi-
ar'•umentação de Florestan . A primeira diz respeito ao próprio modo como ele ções se realizava plenamente no Brasil, nem havia razão para supor que as
or;anita sua análise. Tem mais a ver com questões de método, portanto. A três pudessem realizar-se simultaneamente em algum momento.
segunda tange questões mais substantivas, relativas ao que significa falardes- No plano politico o quarto de século que decorreu desde a redação da
s,t oportunidade perdida. parte final do livro permite ver mudanças: o regime autocrático burgut:s de que
Em primeiro lugar, a leitura dessa passagem pode causar estranheza ou fala Florestan foi substituído por formas mais amplas. embora ainda re tritas.
mc~mo ugerír incoerência com relação a um ponto centraL Afinal, como se de legitimidade democrática. Restam duas questões: podem as três condições
pode fa lar dt.: "perder uma oportunidade'' se realizá-la estava "fora do alcance" enunciadas acima como intrínsecas à cabal realização da revolução burgue a
do agentt.:'' Aqui \e encontra. ainda que de modo impllcito, um exemplo da ma- -vigência da ordem social competitiva no plano social. da democracia repre-
ne ira como Florest.an orienta sua visão do tema que está examinando. Duas sentativa no plano político e da autonomia nacional no plano econômico- er
d1mensõc estão presentes: os agentes. que fazem opções, aproveitam ou per- satisfeitas simultaneamente? E, no ponto mais delicado da análise: o regime
dem oportunidade e assim por diante: e as condições estruturais em que as democrático representativo burguês constitui tendência e trutural da socieda-
ac- s de ses agentes se in erem. Importante é que Florestan sempre olha ambas de brasileira tal como se deu nela a revolução burguesa ou. pelo contrário. há
e. a!t dimen õe com a atenção voltada para as relações entre elas e e pecial- uma afinidade intrínseca, ainda que só manifesta em situações críticas. entre a
nte p..lrJ os eus aspectos dinâmicos. No caso dos agentes isso quer dizer: burguesia que aqui se formou e um regime do tipo que Flore tan denomina
intdigentc ou não} da condições em que agem e dos seus objetivos, autocrático burguês? A resposta de Florestan a esta questão é mequh oca:
h ( om nÍ\ eis di ferenciados de eficiência) na sua consecução. o caso numa sociedade capitalista dependente como a brasileira' erifica-se "uma for-
~<trutur mais abrangente é a sociedade toda) a coisa é mais complica- te dissociação pragmática entre desenvolvimento capitalista e democracw:
da Aq u ue tao é a de reconhecer um tipo de estrutura. É como se a socie- ou uma forte associação racional entre desenvolvimento capitalista e auto-
cracia".20 Em suma, o regime compatível com a natureza peculiar da re\ lu-
d~ fos e: ob 'rvada como algo em construção, com sua armação básica já
ção burguesa no Brasil traz o timbre de uma classe dominante que. não ob tantl!
defimda. Tra -se de identificar um tipo de sociedade; ou seja, trata-se de discernir
estar inscrita historicamente num processo de transformação da ocied:~de.
o fom1ato j ·co que os traços que exibe aqui e agora permitem dizer que ela
não suporta a polarização (e portanto também o conflito de elas. e ) e. sob
pod 'ia apr' en·ar se completar seu desenvolvimento nessa mesma linha. A
pressão, recua para a acomodação econômica e social e para o despou.mo
· e -:ub :.t ente é que. dada uma certa linha de desenvolvimento, a tendência é
té o fim. até in orporar o conjunto de traços que define um tipo (a ordem político.
Entretanto, passagem anterior do livro já apresentava a advertêncta de
i I ~ompctiti\ , digamos). Com base nisso, trata-se de examinar como uma
que o capitalismo no seu formato contemporâneo. monopolista portanto. n:io
dad' tend<.:. no m o como funciona. a realizar esse tipo; ou, altemativa-
poderá prevalecer "com base na violência institucionalizada e na opres. ão per-
:1t ·. como e por que não chega a alcançar plenamente o tipo para o qual
manente",21 pois a pura imposição é uma "técnica precária, que se e gorarJ
te d. em duas ou três décadas, se não antes disso". A dificuldad mais funda e. ui
• e as condições é pos hei reler a passagem acima como inteiramente
na incapacidade desse capitalismo de conquistar o apoio co~cr:to das "mai~ri
oerentc, na med1da em que assinala dois malogros e não um só, o da burgue- silenciosas dos pobres e excluídos", coisa que Florestan nao ve como pos nel.
ia qu perde sua oportunidade. É que, do ponto de vista estrutural e dinâmico
No fundo disso tudo está quê,
d<! I' o e se dois termos tão caros a Florestan), a sociedade toda também
I Zà o .ílogo a uma perda de oportunidade histórica. O tipo para o qual ela
t de na · cia irrestrita da revolução burguesa, é o de uma ordem social
pet.·, hti::amente organizada como um regime democrático represen-
" m predomínio burguês, e com uma ordem econômica capitalista autô- » Ibid., p. 292.
21 lbld~ p. l'ro.
otada de imtâncias e mecanismos internos de decisão eficazes. Mas,
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A RE\"Of.UÇtÍ O BURGUESA NO BRASfL GABRiEL COHN
Aqui cabl!m duas observações, ambas referentes a aspectos centrais da especialmente no momento em que o livro foi escrito, nenhuma des as condi-
ar'•umentação de Florestan . A primeira diz respeito ao próprio modo como ele ções se realizava plenamente no Brasil, nem havia razão para supor que as
or;anita sua análise. Tem mais a ver com questões de método, portanto. A três pudessem realizar-se simultaneamente em algum momento.
segunda tange questões mais substantivas, relativas ao que significa falardes- No plano politico o quarto de século que decorreu desde a redação da
s,t oportunidade perdida. parte final do livro permite ver mudanças: o regime autocrático burgut:s de que
Em primeiro lugar, a leitura dessa passagem pode causar estranheza ou fala Florestan foi substituído por formas mais amplas. embora ainda re tritas.
mc~mo ugerír incoerência com relação a um ponto centraL Afinal, como se de legitimidade democrática. Restam duas questões: podem as três condições
pode fa lar dt.: "perder uma oportunidade'' se realizá-la estava "fora do alcance" enunciadas acima como intrínsecas à cabal realização da revolução burgue a
do agentt.:'' Aqui \e encontra. ainda que de modo impllcito, um exemplo da ma- -vigência da ordem social competitiva no plano social. da democracia repre-
ne ira como Florest.an orienta sua visão do tema que está examinando. Duas sentativa no plano político e da autonomia nacional no plano econômico- er
d1mensõc estão presentes: os agentes. que fazem opções, aproveitam ou per- satisfeitas simultaneamente? E, no ponto mais delicado da análise: o regime
dem oportunidade e assim por diante: e as condições estruturais em que as democrático representativo burguês constitui tendência e trutural da socieda-
ac- s de ses agentes se in erem. Importante é que Florestan sempre olha ambas de brasileira tal como se deu nela a revolução burguesa ou. pelo contrário. há
e. a!t dimen õe com a atenção voltada para as relações entre elas e e pecial- uma afinidade intrínseca, ainda que só manifesta em situações críticas. entre a
nte p..lrJ os eus aspectos dinâmicos. No caso dos agentes isso quer dizer: burguesia que aqui se formou e um regime do tipo que Flore tan denomina
intdigentc ou não} da condições em que agem e dos seus objetivos, autocrático burguês? A resposta de Florestan a esta questão é mequh oca:
h ( om nÍ\ eis di ferenciados de eficiência) na sua consecução. o caso numa sociedade capitalista dependente como a brasileira' erifica-se "uma for-
~<trutur mais abrangente é a sociedade toda) a coisa é mais complica- te dissociação pragmática entre desenvolvimento capitalista e democracw:
da Aq u ue tao é a de reconhecer um tipo de estrutura. É como se a socie- ou uma forte associação racional entre desenvolvimento capitalista e auto-
cracia".20 Em suma, o regime compatível com a natureza peculiar da re\ lu-
d~ fos e: ob 'rvada como algo em construção, com sua armação básica já
ção burguesa no Brasil traz o timbre de uma classe dominante que. não ob tantl!
defimda. Tra -se de identificar um tipo de sociedade; ou seja, trata-se de discernir
estar inscrita historicamente num processo de transformação da ocied:~de.
o fom1ato j ·co que os traços que exibe aqui e agora permitem dizer que ela
não suporta a polarização (e portanto também o conflito de elas. e ) e. sob
pod 'ia apr' en·ar se completar seu desenvolvimento nessa mesma linha. A
pressão, recua para a acomodação econômica e social e para o despou.mo
· e -:ub :.t ente é que. dada uma certa linha de desenvolvimento, a tendência é
té o fim. até in orporar o conjunto de traços que define um tipo (a ordem político.
Entretanto, passagem anterior do livro já apresentava a advertêncta de
i I ~ompctiti\ , digamos). Com base nisso, trata-se de examinar como uma
que o capitalismo no seu formato contemporâneo. monopolista portanto. n:io
dad' tend<.:. no m o como funciona. a realizar esse tipo; ou, altemativa-
poderá prevalecer "com base na violência institucionalizada e na opres. ão per-
:1t ·. como e por que não chega a alcançar plenamente o tipo para o qual
manente",21 pois a pura imposição é uma "técnica precária, que se e gorarJ
te d. em duas ou três décadas, se não antes disso". A dificuldad mais funda e. ui
• e as condições é pos hei reler a passagem acima como inteiramente
na incapacidade desse capitalismo de conquistar o apoio co~cr:to das "mai~ri
oerentc, na med1da em que assinala dois malogros e não um só, o da burgue- silenciosas dos pobres e excluídos", coisa que Florestan nao ve como pos nel.
ia qu perde sua oportunidade. É que, do ponto de vista estrutural e dinâmico
No fundo disso tudo está quê,
d<! I' o e se dois termos tão caros a Florestan), a sociedade toda também
I Zà o .ílogo a uma perda de oportunidade histórica. O tipo para o qual ela
t de na · cia irrestrita da revolução burguesa, é o de uma ordem social
pet.·, hti::amente organizada como um regime democrático represen-
" m predomínio burguês, e com uma ordem econômica capitalista autô- » Ibid., p. 292.
21 lbld~ p. l'ro.
otada de imtâncias e mecanismos internos de decisão eficazes. Mas,
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1' .11 llt•IIH'. 111.111,1 · •nltu;.1o hlll)'ll\'\,lllo llta<,tl, l' lllllito lllt'll!ls ltiiVt't;í'l
t 1mt• d1.111l• dn11 1.1111 dl lllll.J LXjlt'lll'lllla hlstmtca lluslt ad.t'l N,to ~~· trat.l
dt ~~~. I) ljlll I h li\ <,1. 111 IJIW,ll .I c ljlll' (',\( 1/ \ .I 1\'VOlllt,'ólO hlii")'UL'SU ljlll' ll'V('
llllhl t 11 ,tl i/ 11' llil tt.qdoll;l ill ~lntlr.t rollt:IL'Ia d.t sociedade luu:.ilt·u,t. 1\
1
lotn 'llt"•l.t !t'1 , la1 u que '\l.t no \l'll akatll'l dcutro da su<t pl't\pcctivu de
rl.t'>~t Ch \t'll\ litllllt''> ll.Hl <,;~o.qwn.ts tts du seu c.unpn de lonnaçaoe at11a
\•to td•t l'ltlllt.lllll p.ls,,utalllll' da Jllla 'l'lll d.t " btnglll'\la frustrada" p.tra a da
"h111 111 . 1.1 \'li 1111.1' ) (h ltnliiL'" histw11.:os dL' unta clasSl' ><Í podem M.:r c!'ltahc
J, '"" pn1 LHIII.tli,I\SC: na aust'IILia d1 sso o podet (h,: 11111a dassc na suatl'ia
L 10 llll 1 ,, outt.ls d.tsst'\ d.1 snut·dadc Sl' umccntra sem frt.:ios, por mais
I·'
dtlllllllllll IJIIL' •.t u.L •,11.1 td.H.;.tu lOill l'' upo; cumümicos c outras instâncias
dl pPdL'I t ·tn.ls. I :m snma, uHtvntc ·~c. no intc1 ior da sociedade, em alguma
lotlll.l dt autoti.IU<I.
O qllt' I 'loH''\1;111 nos d11. c que, deix;tda a bur~·ucsia, numa sociedade
1.'111110 ,1 b1 1 tlt•u.t, · olt,t L'" su.t \OJ tc, sua tevoluçúo, aquela que a leva a con-
lunn.u ,1 ~ocll·d adl..' a ~ ~~ • l'll:t~'l.!lll e sc mdhanç:J, nao tcrn como ser dcmocrá-
tn 1 111a-, M'lliJlll' l'\t,IJ,t soh o l'ncanlll da soluçao autocrática. J'OJianto, nf10
tcvoht~··'" htll !'lll''•' l' muítollli..'IIOS tevol u<.-,10 ckmocnítico-hurguesa, mas re-
' t~lllf\<IO :nllon.tlllO hulflll'Sa E n:.tn avanço autúnomo c progn.: s~ivo das elas-
, ·. hurgtll'Sil~. ma. acelcra\'Ull wnlinada ntllll ctrcuíto ~·chado, qw.: exige outras
lnrç.t lustoJ tca~ para M.' ah1 ir.
1
' l•ld I' 2 {)
41:?
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L 10 llll 1 ,, outt.ls d.tsst'\ d.1 snut·dadc Sl' umccntra sem frt.:ios, por mais
I·'
dtlllllllllll IJIIL' •.t u.L •,11.1 td.H.;.tu lOill l'' upo; cumümicos c outras instâncias
dl pPdL'I t ·tn.ls. I :m snma, uHtvntc ·~c. no intc1 ior da sociedade, em alguma
lotlll.l dt autoti.IU<I.
O qllt' I 'loH''\1;111 nos d11. c que, deix;tda a bur~·ucsia, numa sociedade
1.'111110 ,1 b1 1 tlt•u.t, · olt,t L'" su.t \OJ tc, sua tevoluçúo, aquela que a leva a con-
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tn 1 111a-, M'lliJlll' l'\t,IJ,t soh o l'ncanlll da soluçao autocrática. J'OJianto, nf10
tcvoht~··'" htll !'lll''•' l' muítollli..'IIOS tevol u<.-,10 ckmocnítico-hurguesa, mas re-
' t~lllf\<IO :nllon.tlllO hulflll'Sa E n:.tn avanço autúnomo c progn.: s~ivo das elas-
, ·. hurgtll'Sil~. ma. acelcra\'Ull wnlinada ntllll ctrcuíto ~·chado, qw.: exige outras
lnrç.t lustoJ tca~ para M.' ah1 ir.
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SOBRL f) AUTOPE
/'J O) ( ;r J>;~ulo Dua ( idades, !982); Lahírinto.s - Dos generat.\ a No\ a G AFWILI.- CrJH.,
líqníblrca (Sao Paulo. Hucitec, 1996J c os anigo~ "O Brasil sob Cardoso·
Profe~sor titular do Depanamento d(! Clé c'<~ f' c
n oliberali mo . . dcsc nvol vi mcnti mo". em Tempo social - Revwa
editor da revista Lua ,\o•a do Centro de E d de C • .ra C
rh• s·01 10/ogia da fJSP, l i (2) fSiio Paulo, 2000); "Giobalização c descnvol-
nea (CedcCJ. Autor de Crítica e re ígnat;iio: Hax ~~eher e a r ,,
vml ·nto <~estratég ia br sJicira dos anos 90", em Novos Estudos Cebrap, no
Coleção Tópicos, (São Paulo: Maníns Fontes, 2fiJ3J e d art' f' r
5 (Siio Paulo, 2000) c ",\1etamorfoses do Estado brasileiro no fi nal do séc ulo
e dilemas: o pensamento de Florestan Femand~s' em Regi a o f x
XX', em f?ew ta Bm rlflra de Ciéncírll' Sociais, 18 (52) (São Pau lo, 2003).
Ricardo Antunes e Vera B. Ferrante (org ) fnzeli i:nc a bm lera Sa
Paulo: Brasiliense, 1986) e "O ecletismo bem temperado . em iana .' n
C \RLOS Gt a li F m MorA D'Incao (org.), O saber milítante. En aios wbre Flore tar1 Femande
fli toriador Professor titular de História Contemporânea da FFLCH- (São Paulo: Unesp/Paz e Terra, I 987 )·
USP Profc sor honorário do Instit uto de Est udos Avançad os da USP e
coordenad or do ProgrOJma de Educação, Arte c Hi stória da Cu ltura no J ANJCE THEODORODA SILVA
curso de pós-graduação da Uni vcrsidade Pres biteriana Mackenzie, é Professora titular do Depanamento de História da FFLCH-CSP Aut ra os
autor. cntrl.! outros livros. de Ideologia da cultura brasileira (São Paul o: livros Descobrimentos e colonização (São Paulo: Atica, 19 7); m 'rica
Áti a, 1998); Idéia de revoluçrio no Brasil ( 1789-1 801 ) (São Paulo: Conez, barroca. Tema e variações (São Paulo: Edusp/Nova Fronteira. 1992)· Pen-
19· 11) ; e organizador de Viagem incompleta: a experiência brasileira sadores, exploradores e mercadores (São Paulo: Sctpione, 199-fJ. É direto-
1i500-20001, vols. J e::>. (São Paulo: Ed itora Senac São Paulo, 2000). ra do Centro Virtual de Estudos Históricos (Ceveh) (www.ce eh.com.br
dan ia, FFLCH-USP. Autor de A economia brasileira: crftica à razão Escritor. Autor de Noel Rslsa, de costas para o nwr (São Paul~: Brasil.ense.
dualt.11a. 5 l:d. (Petrópolis: Vozes, 1987); O elo perdido: classe e identi- 1982)· Mauá, empresário do império (São Paulo: Companhta das LetraS.
dade de . :·tsse (São Paulo: Brasíliense, 1987); Elegia para uma religião, 1995)·' A nação mercant11sta
·1· (S-ao Paulo·· 34 Letras • 1999 ' \'iagc'm ptla
G• cd. (I' ' de Janeiro: Paz e Terra, 1993); A economia da dependência . •~ : .,~_ Brasü (São Paulo: Companhia das Letra . 1997), m co-auto·
hrswna uu · Goe d Paul
impo.feit<l, S• ed. (Rio de Janeiro: Graal, 1995); Os direitos do alltivalor- ria com Cláudio Marcondes, Flávio de Carvalho e rgt s
a cronomia polírim tia hegemonia imperfeita (Petrópolis: Vozes, 1998).
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/'J O) ( ;r J>;~ulo Dua ( idades, !982); Lahírinto.s - Dos generat.\ a No\ a G AFWILI.- CrJH.,
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Profe~sor titular do Depanamento d(! Clé c'<~ f' c
n oliberali mo . . dcsc nvol vi mcnti mo". em Tempo social - Revwa
editor da revista Lua ,\o•a do Centro de E d de C • .ra C
rh• s·01 10/ogia da fJSP, l i (2) fSiio Paulo, 2000); "Giobalização c descnvol-
nea (CedcCJ. Autor de Crítica e re ígnat;iio: Hax ~~eher e a r ,,
vml ·nto <~estratég ia br sJicira dos anos 90", em Novos Estudos Cebrap, no
Coleção Tópicos, (São Paulo: Maníns Fontes, 2fiJ3J e d art' f' r
5 (Siio Paulo, 2000) c ",\1etamorfoses do Estado brasileiro no fi nal do séc ulo
e dilemas: o pensamento de Florestan Femand~s' em Regi a o f x
XX', em f?ew ta Bm rlflra de Ciéncírll' Sociais, 18 (52) (São Pau lo, 2003).
Ricardo Antunes e Vera B. Ferrante (org ) fnzeli i:nc a bm lera Sa
Paulo: Brasiliense, 1986) e "O ecletismo bem temperado . em iana .' n
C \RLOS Gt a li F m MorA D'Incao (org.), O saber milítante. En aios wbre Flore tar1 Femande
fli toriador Professor titular de História Contemporânea da FFLCH- (São Paulo: Unesp/Paz e Terra, I 987 )·
USP Profc sor honorário do Instit uto de Est udos Avançad os da USP e
coordenad or do ProgrOJma de Educação, Arte c Hi stória da Cu ltura no J ANJCE THEODORODA SILVA
curso de pós-graduação da Uni vcrsidade Pres biteriana Mackenzie, é Professora titular do Depanamento de História da FFLCH-CSP Aut ra os
autor. cntrl.! outros livros. de Ideologia da cultura brasileira (São Paul o: livros Descobrimentos e colonização (São Paulo: Atica, 19 7); m 'rica
Áti a, 1998); Idéia de revoluçrio no Brasil ( 1789-1 801 ) (São Paulo: Conez, barroca. Tema e variações (São Paulo: Edusp/Nova Fronteira. 1992)· Pen-
19· 11) ; e organizador de Viagem incompleta: a experiência brasileira sadores, exploradores e mercadores (São Paulo: Sctpione, 199-fJ. É direto-
1i500-20001, vols. J e::>. (São Paulo: Ed itora Senac São Paulo, 2000). ra do Centro Virtual de Estudos Históricos (Ceveh) (www.ce eh.com.br
dan ia, FFLCH-USP. Autor de A economia brasileira: crftica à razão Escritor. Autor de Noel Rslsa, de costas para o nwr (São Paul~: Brasil.ense.
dualt.11a. 5 l:d. (Petrópolis: Vozes, 1987); O elo perdido: classe e identi- 1982)· Mauá, empresário do império (São Paulo: Companhta das LetraS.
dade de . :·tsse (São Paulo: Brasíliense, 1987); Elegia para uma religião, 1995)·' A nação mercant11sta
·1· (S-ao Paulo·· 34 Letras • 1999 ' \'iagc'm ptla
G• cd. (I' ' de Janeiro: Paz e Terra, 1993); A economia da dependência . •~ : .,~_ Brasü (São Paulo: Companhia das Letra . 1997), m co-auto·
hrswna uu · Goe d Paul
impo.feit<l, S• ed. (Rio de Janeiro: Graal, 1995); Os direitos do alltivalor- ria com Cláudio Marcondes, Flávio de Carvalho e rgt s
a cronomia polírim tia hegemonia imperfeita (Petrópolis: Vozes, 1998).
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SOBIU OS AI I'ORFS SO il RI.l OS AIJTURES
Jos 1 Rom RIO no A~tAR \I LAPA ( 1929 2000) Brasilicnsc/CNPq. 1990) c A wcioloJ.Iia do Gumc11n tRio dt· Janmo· UHU,
l'oJ pl~Jlt·s~o' titular Je llí~tória do I~CH-Unicam p . Entre outros li vro , !995), além de in úmeros an igos l' lll revistas acad~:nucas
l''CJ"I.!v ·u A llahirr ~·a 1'(/1'/l'im ela lndia (São Pa ulo: Nac ional , 1968);
f:t 1111 omia !'olomal (S.io Pau lu: Pi.!rspi.!Cllva, 1971); A h i.\lcíria L'lll ques- L u1z F t= t tPE nn A t liNCASTRO
/ao {!\:trópoiis Voze~. 197ó): U1•m da visitaçcio do Sa111o Ofício da icnl1 sta político c historiador, pesquisador dn Ccnt11\ 13tasilt' lrn d.: An.ili'l'
Jnqui.11çao ao f~·.,tado do ( , li/o l'arú ( 1763- 1769) (Pet rópoli s: Vozes, c Planejamento (Cchrnp) 1' professor do Instituto de Fcnnomia da l 'mr.HllJl
1'171\); A ,•cmlmllia c cl{c·c'Jra (Siio Pau lo: Hrasihi.! nse, 1983): ff istó ria e Org:mizadoJ' c um dos autOI'l'S do volume 11 da 1/1.1/orw da t•Jdtl f ' lll'atla
h11tonog1a/w: !Jnml pol· M (Rio de Janeiro: Paz c Ti.!n a. 1<>85); o .1 is
110 Nmsif - Jmpt1rio : a cmlt' t' 11 modcm iâac/,• IIIIJ'•·n a l ("\ao l'aultl: ( ont
l<'llltl 1 ,,,,,,,, tSan Paulo: AtJca, 199 I); A cidade: os cantos ,. os mrros
1 p.mhia tias Letras, 1997) c autor de O n ·oro tlo.1 vil'l'lllc'.\ }OIIIItl(rto "''
(S:in 1'.1ulu USP. 111%).
/Jm,l illlo quadro do Alll/lltico Sul, ,~, s, ulm \'I 1 <' \I 11 (Sao I' auto < nm
panhia das Lt~lra s, 2000).
L\111{.\ lll· M111 o I· Snt•Z·\
l'wlt'\StH.1 dn Ikpan.un~:ntn de ll istlÍJ'J,t da liS P Seus pri nci pais trabalhos M ARCO AIIRI'ItO NonmtRA
~.111 /), sdtl.l.l'l/1< rrtfo1 do ol/Jtl a t•obr,•:,, mi11, ira 110 .1'1'1'11/o \I 111 Professor livn• d0~l'llll' tk '(',·m-ia 1\llítila da F.tculdadl' t.k l ·II'JII'tas t' 1,•
(1{1<1 de tuH.'IIll (lr.1JI. !9R;); O diaho e tl/<'rra ti,• Sal/la Ou ~ J( ·illça tras da lliK·sp. crllllfll/.1' de Arat•1qu.1ra . l'l·~qHil-.ld tlr da I und.1\.1<' d,, I) ·
llu t' •,•Jrgro.\ldatf,• f'"f''tl'" 1111 llmsil <'Oir>llial (SJo P.mlo: Companhia scnvoh imento AdministratiVll (Fundap), cn~ . ll ~ l.1l' 11 adutn1 \ uhH. dt'Hi h '
d.1 I c'll.l • l C),'(l), lll{t'IIIO c/1/Ú/l/ICO "•'IIIO/Iolof.ii<l ,. c·olon i;açcio (St'· outros. de As rf, ·,n •c•llt/lmS do /ihc •ralwllo · Jot/1{111111 \ 'ali//( O, ·l .,,. 11111
<uh" I f \\ 1//) (S.to l'.llllo Comp.mlu.t d.1. Lct r.1 . 19l)J): I li,\'l< íria da q11ia t' a l'< 'fllihlic •a tSün Paulll: Pa/ l' T,., 1.1 , I!)~. n ,. •~<' 1.1 J'O " il'''''''"'' '
11.1<1 1111 udo, 1 o/ I, <oJid11111o , \'Ida f'lll'<llla na ,\mérica ponugue.1·a riu pulrlil'a: idt·w s para a ,, ~fc lllllll tf,•m,,, ,,,,;, ,, tf,, f'.,r,,cJ,, (:"-.11 1 P,ntln:
ll'l!! l (S.Hl P.mltl' (\lmp.l!llua Jas l.t• tr.ts, 1907); Norma,. ronf7ilo - Paz c Terra, I CJIJ8).
·•'!'• !'los.! 1 h;sfr>l ;,, d1 \li nas ,,, ,, ,·utf,l \I 111 tlkh) llori;nntc · UFMC~
(1)11'})
MARIA JltlRMINI \ TA\'\RI'S OI\ AtMFIIl \
l'rofcssont asso~:iaua l' t:hl'l'e dn Dl'p:H t.lllWllhl dl' t 'i,·m·i,1l'l•ht' ' ;1.!.1li SI'
Thin/..er l'isiling f'W/(',\ ,Hll ' da Uniwr~it\ tll .'t.l!llt•tJ t l'l'l!l l lll• '~>1 ,l
JPm.t(i,l.t 1'1 indp.11s tr 1h.tllws publil·adns \ hi ,toria l·il·ida (coord .) vob. Cri.l't' t't'mlrlmica ,. inll'ft'.I'.I'< 'S orgrmi; adc>.\ (S.t\l P.lllh l h hi'·I',J •li·<' I'·
1
1 \I ' .' I). 11 \I •>.' I),. I! I \I l),' _) (S;1ll P.ndo: O Fsrado de S. f'c~rlfo): ·\ndr,· 1996); 'lilllumdo parluf,,, j( liii/11/Ulo c•t•illirl<l (S.m l'auh1 "illltl.ll <, I•JS \
\/,;f,,," lld • r•m•:! od,,, '•'lltaçclt's tSJo Pault1: Brasiliense, 19!l2): f h sttio Organizudora. ·om lkmardn Snrj . J · Srl<'h d(zd, , t"'/!11. •I ''u /lr,Nipc '
d, lrh,ndr. l'l'l•"a<l I i.dtl!!O (Sih !\ mi o: BrasilienSl'. I9, IL t•, ·rwllm' ó-1 (São Paulo: Br.l s 1lil'll~l·. l1lg)) .
1
•r ' ., i'•''·'' "til: "' d.r lllaat/1 /tl br as1lt'im (nrg. juntamente l' Oill
lkn), 1llllll \bJaiJ JuniL1r) (S.Io Pault1: Editora Scnac S.io l'aulo. 200 l ).
RoNALDO VAtNI'.-\S
Lt 1\ L l'l'l Ot!\T!R.\ Professor titular de lli. t \ri .I l\hxll'lll.l n.tl 'n 'I;' Isid;ttk r ·dt J.ll l·lunlln li. '
Autor de Trópico dos pt·cw/,•.~: mom l..11'\fulll•l,ull.' /11 Fll •i\ ti 1 "''
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c ·qu"·1 1•1 dl' C 'nllo k· D,x·umcntaçiio c Pc~quisa de Hist6ria Contem-
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l t C). d:~ FundaçàLl G •tülio V.uga no R in de Janeiro.
Bra.
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Jos 1 Rom RIO no A~tAR \I LAPA ( 1929 2000) Brasilicnsc/CNPq. 1990) c A wcioloJ.Iia do Gumc11n tRio dt· Janmo· UHU,
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MARIA JltlRMINI \ TA\'\RI'S OI\ AtMFIIl \
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JPm.t(i,l.t 1'1 indp.11s tr 1h.tllws publil·adns \ hi ,toria l·il·ida (coord .) vob. Cri.l't' t't'mlrlmica ,. inll'ft'.I'.I'< 'S orgrmi; adc>.\ (S.t\l P.lllh l h hi'·I',J •li·<' I'·
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RoNALDO VAtNI'.-\S
Lt 1\ L l'l'l Ot!\T!R.\ Professor titular de lli. t \ri .I l\hxll'lll.l n.tl 'n 'I;' Isid;ttk r ·dt J.ll l·lunlln li. '
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Brasil cc>lcmial (Rio de J.meirtl: t'.unpux. lllS'l) tJc' ·diç.h 1 I •l,t • •''·' 11 n
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\ut~~r:
diálogo platônico do smo o e. ta
Cmji 5ões dtl Balua (S.io Paulo· Companhi a das Letras. 1997). original- se discute o amor. aoui o Brasil •
m nte publicadJs por C pi trano de breu em 1921.
0~8 181) llí e~ac ambição deste hvro não pode ir e não
\V L: TCF 'OGt:ElR-\ G. L\ÃO l \.:mpbr I O•r ~6 ~
va1 além daquilo que diz seu titulo -
Profe. sora titular de Teoria Literária e Literatura Comparada (USP). LI-
vro· mais r,.;centes: A don::ela-guerreira (São Paulo: Editora Senac São ser uma introdução, para servir de es-
Paulo. 199 ): Desrom-ersa (Rio de Janeiro: UFRJ, 1998); Correspon- Devolverem Assim tímulo ao contato d1reto com os textos
déncia ele Eurlides da Cunha (São Paulo: Edusp, 1997); Le roma 11
bréJiltet; au XX' Siecle (Paris: P.U.F. , 1995 ); Os melhores contos de originais. O conJunto de obras aqui re·
Cltmc Lispector (org ) (São Paulo: Global, 1994). No prelo: Le camaval
à R1o rfans. Chandeigne); edição crítica de Grande seHão: veredas (Pa-
senhadas mostra como nos vimos e nos
ris: Collection Archives), Prezado senhor (c/ ádia Batella Gottlib) (São julgamos ao longo da histona. Ele le·
Paulo: Companhia das Letras).
vanta as grandes perguntas que nos
fizemos - e as várias respostas que
lhes demos - sobre o que somos e
-
qual o nosso lugar no mundo, sobre os
obstáculos que entravam ou retardam
nossa marcha e o que fazer para removê-
senac (I
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diálogo platônico do smo o e. ta
Cmji 5ões dtl Balua (S.io Paulo· Companhi a das Letras. 1997). original- se discute o amor. aoui o Brasil •
m nte publicadJs por C pi trano de breu em 1921.
0~8 181) llí e~ac ambição deste hvro não pode ir e não
\V L: TCF 'OGt:ElR-\ G. L\ÃO l \.:mpbr I O•r ~6 ~
va1 além daquilo que diz seu titulo -
Profe. sora titular de Teoria Literária e Literatura Comparada (USP). LI-
vro· mais r,.;centes: A don::ela-guerreira (São Paulo: Editora Senac São ser uma introdução, para servir de es-
Paulo. 199 ): Desrom-ersa (Rio de Janeiro: UFRJ, 1998); Correspon- Devolverem Assim tímulo ao contato d1reto com os textos
déncia ele Eurlides da Cunha (São Paulo: Edusp, 1997); Le roma 11
bréJiltet; au XX' Siecle (Paris: P.U.F. , 1995 ); Os melhores contos de originais. O conJunto de obras aqui re·
Cltmc Lispector (org ) (São Paulo: Global, 1994). No prelo: Le camaval
à R1o rfans. Chandeigne); edição crítica de Grande seHão: veredas (Pa-
senhadas mostra como nos vimos e nos
ris: Collection Archives), Prezado senhor (c/ ádia Batella Gottlib) (São julgamos ao longo da histona. Ele le·
Paulo: Companhia das Letras).
vanta as grandes perguntas que nos
fizemos - e as várias respostas que
lhes demos - sobre o que somos e
-
qual o nosso lugar no mundo, sobre os
obstáculos que entravam ou retardam
nossa marcha e o que fazer para removê-
senac (I
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