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Os dois primeiros textos não fazem parte do Trovadorismo português.

Por conta disso, não é possível observar as


estruturas das cantigas líricas e satíricas galego-portuguesas discutidas em sala.

Se eu não a tenho, ela me tem


Se eu não a tenho, ela me tem
o tempo todo preso, Amor,
e tolo e sábio, alegre e triste,
eu sofro e não dou troco.
É indefeso quem ama.
Amor comanda
à escravidão mais branda
e assim me rendo,
sofrendo,
à dura lida
que me é deferida.
[…]

É tal a luz que dela vem


que até me aqueço nessa dor
sem outro sol que me conquiste,
mas no sol ou no fogo
não digo quem me inflama.
O olhar me abranda,
só os olhos têm vianda,
e a ela vendo
vou tendo
mais distendida
minha sobrevida.
[…]

Eu sei cantar como ninguém


mas meu saber perde o sabor
se ela me nega o que me assiste.
Vejo-a só, não a toco,
mas sempre que me chama
para ela anda
meu corpo, sem demanda,
e sempre atendo,
sabendo
que ela me olvida
a paga merecida.

DANIEL, Arnaut. In: CAMPOS, Augusto de. Invenção. São Paulo: Arx, 2003. p. 90-93.

Deferida: concedida
Vianada: alimento
“O que me assiste”: aquilo a que tenho direito.
Olvidar: esquecer.
CANÇÃO

Ao ver a ave leve morrer


Alegres as alas contra a luz,
Que se olvida e deixa colher
Pela doçura que a conduz,
Ah! tão grande inveja me vem
Desses que venturosos vejo!
É maravilha que o meu ser
Não se dissolva de desejo.

Ah! tanto julguei saber


De amor e menos que supus
Sei, pois amar não me faz ter
Essa a que nunca farei jus.
A mim de mim e a si também
De mim e tudo o que desejo
Tomou e só deixou querer
Maior e um coração sobejo.
[…]

Bem feminino é o proceder


Dessa que me roubou a paz.
Não quer o que deve querer
E tudo o que não deve faz.
Má sorte enfim me sobrevém,
Fiz como um louco numa ponte,
E tudo me foi suceder
Só porque quis mais horizonte.

Piedade já não pode haver


No universo para os mortais.
Se aquela que a devia ter
Não tem, quem a terá jamais?
Ah! como acreditar que alguém
De olhar tão doce e clara fronte
Deixe que eu morre sem beber
Água de amor em sua fonte?
[…]

VENTADORN, Bernart de. Tradução: Augusto de Campos. In: Verso reverso Controverso. São Paulo: Perspectiva, 1978. (Fragmento)

Alas: asas (forma arcaica)


Venturosos: felizes, afortunados.
Sobejo: audaz, ousado.
Cantiga d’amor de refran Cantiga de amor de refrão
Quantos an gran coita d’amor Quantos o amor faz padecer
eno mundo, qual og’eu ei, penas que tenho padecido,
querriam morrer, eu o sei, querem morrer e não duvido
o averian én sabor. que alegremente queiram morrer.
Mais mentr’eu vos vir’, mia senhor, Porém enquanto vos puder ver,
sempre m’eu querria viver, vivendo assim eu quero estar
e atender e atender! e esperar, e esperar.

Pero já non posso guarir, Sei que a sofrer estou condenado


ca já cegan os olhos meus e por vós cegam os olhos meus.
por vos, e non me val i Deus Não me acudis; nem vós, nem
nem vos; mais por vos non mentir, Deus.
enquant’eu vos, mi senhor, vir’, Mas, se sabendo-me abandonado,
sempre m’eu querria viver, ver-vos, senhora, me for dado,
e atender e atender! vivendo assim eu quero estar
e esperar, e esperar.
E tenho que fazen mal-sen
quanto d’amor coitados son Esses que veem tristemente
de querer sa morte, se non desamparada sua paixão
ouveron nunca d'amor ben, quererndo morrer, loucos estão.
com'eu faç'. E, senhor, por én Minha fortuna não é diferente;
sempre m'eu querria viver, porém eu digo constantemente:
e atender e atender! vivendo assim eu quero estar
e esperar, e esperar.
GARCIA DE GUILHADE, João. In:
CORREIA, Natália (Sel., intr. e notas). CORREIA, Natália (Adap.). Cantares dos
Cantares dos trovadores galego-portugueses. trovadores galego-portugueses. 2.ed. Lisboa:
2.ed. Lisboa: Editorial Estampa, 1978. p.124. Editorial Estampa, 1978. p. 125.
Cantiga d’amigo Cantiga de amigo (alba)
Levad’, amigo, que dormides as manhãas frias;
todas-las aves do mundo d’amor dizian: Ergue-te, amigo que dormes nas manhãs frias!
leda m’and’eu. Todas as aves do mundo, de amor, diziam:
alegre eu ando.
Levad’, amigo, que dormide’-las frias manhãas;
toda-las aves do mundo d’amor cantavan: Ergue-te, amigo que dormes nas manhãs claras!
leda m’and’eu. Todas as aves do mundo, de amor, cantavam:
alegre eu ando.
Toda-las aves do mundo d’amor dizian;
do meu amor e do voss’en ment’avian: Todas as aves do mundo, de amor, diziam:
leda m’and’eu. do meu amor e do teu se lembraria:
alegre eu ando.
Todas-las aves do mundo d’amor cantavan;
do meu amor e do voss’i enmentavan: Todas as aves do mundo, de amor, cantavam:
leda m’and’eu. do meu amor e do teu se recordavam:
alegre eu ando.
Do meu amor e do voss’en ment’avian;
vós lhi tolhestes os ramos em que siian: Do meu amor e do teu se lembrariam;
leda m’and’eu. tu lhes tolheste os ramos em que eu as via:
alegre eu ando.
Do meu amor e do voss’i enmentavan;
vos lhis tolhestes os ramos em que pousavan: Do meu amor e do teu se recordavam:
leda m’and’eu. tu lhes tolheste os ramos em que pousavam:
alegre eu ando.
Vós lhi tolhestes os ramos em que siian
e lhis secastes as fontes em que bevian: Tu lhes tolheste os ramos em que eu as via;
leda m’and’eu. e lhes secaste as fontes em que bebiam:
alegre eu ando.
Vós lhi tolhestes os ramos em que pousavan
e lhis secastes as fontes u se banhavan: Tu lhes tolheste os ramos em que pousavam;
leda m’and’eu. e lhes secaste as fontes que as refrescavam:
alegre eu ando.
TORNEOL, Nuno Fernandes. In: CORREIA, Natália.
TORNEOL, Nuno Fernandes. In: CORREIA,
(Sel., intr. e notas). Cantares dos trovadores galego-portugueses.
2. e. Lisboa: Editorial Estampa, 1978. p. 218 -220. Natália.
(Sel., intr. e notas). Cantares dos trovadores
galego-portugueses.
2. e. Lisboa: Editorial Estampa, 1978. p. 219 –
221.
Cantiga de maldizer
Ai, dona fea, fostes-vos queizar
que vos nunca louv’en (o) meu cantar;
mais ora quero fazer un cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar;
dona fea, velha e sandia!

Dona fea, se Deus mi pardon,


pois avedes (a) tan gran coraçon
que vos eu le, en esta razon
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!

Dona fea, nunva vos eu loei


en meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já un bon cantar farei,
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!

TORNEOL, Nuno Fernandes. In: CORREIA, Natália.


(Sel., intr. e notas). Cantares dos trovadores galego-portugueses.
2. e. Lisboa: Editorial Estampa, 1978. p. 136.

"Que vos nunca louv'en (o) meu cantar":


que nunca vos louvei em meu cantar.
Loarei: louvarei.
Sandia: louca.
"Se Deus mi pardon": que Deus me
perdoe.
Coraçon: vontade.
Loaçon: elogio, louvação.
Cantiga d'escarnho Cantiga d’escarnho
Natura das animalhas É próprio dos animais
que son dûa semelhança que da mesma espécie são
é de fazeren criança fazer filhos; para a função
mais dês que son fodimalhas. têm órgãos naturais.
Vej'ora estranho talho Mas vejo eu um caso
qual nunca cuidei que visse: o qual não cuidei que visse:
que emprenhass' e parisse que emprenhasse e parisse
a camela do bodalho. a camela do bodalho.
As que son dûa natura Os de idêntica natura
juntan-s' a certas sazões juntam-se em certos momentos
e fazen sas criações; para engendrar seus rebentos;
mais vejo já criatura mais eis que uma criatura
ond'eu non cuidei veê-la; vejo onde não cuidei vê-la
e poren me maravilho e com tal me maravilho:
de bodalho fazer filho, Bodalho fazer um filho
per natura, na camela. naturalmente a camela.
As que son, per natureza, Esses a que a natureza
corpos dûa parecença deu igual conformação
juntan-s' e fazen nacença, - unem-se e nessa união
esto é sa dereiteza: fazem filhos com justeza.
mais non coidei en mia vida Mas não vi em minha vida
que camela se juntasse camela que se juntasse
con bodalh'(e) emprenhasse com bodalho, engravidasse
(e) demais seer d'el parida. e fosse dele parida.

Esta é uma cantiga em D. Pedro faz uma brincadeira onomástica com as alcunhas da freira Moor Martiinz e do tabelião Joan Mariz,
Camela e Bodalho, respectivamente. Conforme explica Rodrigues Lapa, "Com pretexto nestes dois sobrenomes e atendendo ao
escândalo daquela ligação, fez o Conde uma cantiga deveras engraçada, em desenvolta redondilha maior, metro que se afirma
justamente na decadência do nosso trovadorismo".

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