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Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus

Faculdade de Filosofia
Introdução à Filosofia
Profª. Maria Eugênia
Luiz Harding Chang, sj
Belo Horizonte, 18 de junho de 1998.

Os Sofistas

1. Introdução:
O presente trabalho visa apresentar um pouco o que foi a sofística, apontando algumas
A Sofística é o primeiro grande momento iluminístico da história. Se trata de um movimento
peculiar da cultura grega. A cultura indiana por exemplo, uma cultura sobre muitos aspectos
elevada, desenvolveu uma filosofia impressionante. Metafísicas de grande rigor lógico, de
grande imaginação e praticidade. Mas na cultura indiana nunca houve um fenômeno como o
iluminismo. Nunca houve uma tentativa de questionar os valores baseando-se em argumentos
racionais. É isto que sucede na sofística. De uma parte é sem dúvida um passo para o
progresso da humanidade. Se não estivermos dispostos a questionar nossas convicções
embasadas na autoridade e na tradição, evidentemente não mais progrediremos. De outra
parte, e isto vemos como um resultado da sofística, se a critica à moral tradicional não estiver
em condições de questionar de maneira construtiva nossos valores, a conseqüência do
iluminismo será o nihilismo, que é a negação de todos os valores e a negação de cada relação
de direito e deveres, negação das relações de poder.
de suas características e alguns traços da vida de seus principais pensadores. Para
tanto devemos conhecer a realidade sócio - político e cultural da Atenas dos Sofistas.

2. Preâmbulo Histórico, Político e Cultural:


Os atenienses gabavam-se de serem autóctones, inteiramente originários da Ática.
Desde seus primórdios, a cidade se organizara em pequenas vilas onde se formaram uma
classe de agricultura e outra de artífices; os indivíduos eram remunerados por segundo seu
trabalho e tratavam coletivamente dos negócios comuns.
"Pouco a pouco surgiu uma nobreza agrária , famílias de proprietários
fundiários e de guerreiros, ligadas por laços de sangue, formando a aristocracia e
instituindo um regime escravista, comum em todo o mundo antigo. Com a reforma de
Sólon, em 594 a.C. foram destruídas as barreiras que separavam a família e a pólis,
criou-se leis válidas para todos e que não poderiam ser violadas pelas tradições e
costumes patriarcais. A divisão de classes já não se fazia por famílias, mas pelas
fortunas. Por fim, a partir de 510 a.C. a reforma de Clístines instituiu o espaço cívico ou
a pólis propriamente dita. Clistines redistribuiu as famílias (géne) de proprietários, de
modo a retirar deles, pelo modo de distribuição no espaço, os poderes aristocráticos e
oligárquicos. Isto faz com que a unidade política de base e a proximidade territorial não
coincidam, de sorte que os vizinhos não constituem uma base política legalmente
reconhecida. A divisão política do espaço impede o poderio das famílias vizinhas que
fortalecidos sempre produziam tiranos ou grupos muito poderosos. Criam as trítias:
uma circunscrição territorial de base, reúne-as em tribos, cada qual com três trítias
(uma no litoral, uma na cidade e uma no interior). Cada trítia é formada por um conjunto
de Demos, cada grupo de cem demos forma a unidade política de base, cada qual com
suas assembléias, seus magistrados e suas festas religiosas, espaço onde os
atenienses faziam o aprendizado da vida política. Cria a mais importante instituição de
Atenas: a Boulé (que cuida das questões políticas cotidianas) e a Ekklesía Assembléia
Geral de todos os cidadãos atenienses, na qual se discutem e decidem-se
publicamente os grandes assuntos da cidade, sobretudo as decisões de guerra e de
paz. Está inventada a democracia".
(Chauí, Marilena. Introdução à História da Filosofia - dos pré-socráticos a Aristóteles.
Vol 1. São Paulo, Ed. Brasiliense, 1994. P. 110)
A democracia ateniense possui características que diferem das democracias modernas.
Primeiramente por nem todos serem cidadãos. Mulheres, crianças, estrangeiros e escravos não
são cidadãos. Em segundo lugar é uma democracias direta ou participativa e não
representativa como as atuais. Dois princípios fundamentais definem a cidadania: a isonomía,
igualdade de todos os cidadãos perante a lei, e a isegoría, o direito de qualquer cidadão de se
expremir em público na boulé ou na ekklesía
A educação como formação cultural completa visava, para os gregos a permitir que se
realizasse a areté. A Grécia aristocrática possuia uma areté: a formação do guerreiro belo e
bom. Este ideal aristocrático supunha a existência de escravos e o desprezo pelos trabalhos
manuais. O guerreiro belo e bom devia ser ocioso e o ócio era um valor social positivo; devia
ser educado até a maturidade. Sua educação era feita nos ginásios – para a perfeição do corpo
– e por perceptores que lhe ensinavam Homero e Hesíodo – para a perfeição do espírito
A dimensão política acentuadamente democrática na vida social de Atenas da segunda
metade do século V a.C., pediu uma profunda transformação na educação tradicional e nas
assembléias, nas quais se confrontam as diversas possibilidades de escolha política,
principalmente quando se trata de obter a maioria, de segurar as decisões. Foram os tribunais
que funcionam também nestes novos âmbitos centrais da vida social. Por isso não basta mais
a antiga forma da “fina” educação, própria dos jovens aristocráticos atenienses; não basta mais
estudar Homero, conhecer qualquer coisa da teologia de Hesíodo e de resto limitar-se ao
exemplo dos pais dos anciãos das famílias.
Ora numa sociedade urbana como Atenas , a antiga areté não podia ter lugar; para o
novo cidadão, a areté aristocrática é inaceitável, pois fundada nos privilégios do sangue e das
linhagens.
“Logo se fez sentir a necessidade de uma nova educação que satisfizesse aos
ideais do homem da polis (...). seguindo as pegadas da antiga nobreza (que mantinha
rigidamente o princípio aristocrático da raça), a polis tratou de realizar uma nova
areté considerando todos os cidadãos livres do Estado ateniense como descendentes
da estirpe ática e fazendo-os conscientes da sociedade estatal, obrigados a servir o
bem da comunidade (...). sua finalidade era a superação dos privilégios da antiga
educação para qual a areté só era acessível aos que possuíam sangue divino (os
áristoi). Coisa não diícil de alcançar para o para o pensamento racional que ia
prevalecendo. Era preciso, antes de tudo, romper a estreiteza das antigas
concepções, seu mítico preconceito do privilégio do sangue, e col;ocar em seu lugar a
força espiritual e moral do saber, da sophía.”
(Jaeger, Werner. Paidéia – A formação do Homem Grego. São Paulo, Martins Fontes,
1995. P.264)

3. A Sofística:
É neste ambiente que a sofística se desenvolve na segunda metade do século V a. C.
quando todo o mundo grego volta-se para Atenas. Um grupo de intelectuais: Protágoras de
Abdera, Górgias de Leontini, Trassimaco de Calcedônia, Hípias de Élide, Crítias de
Atenas, Pródico de Céos, Antifonte, entre outros podem ilustrar o que pensavam, o que foi, o
que faziam os sofistas. Antes do séc. V a.C. , a palavra sophistés era usada para referir-se aos
poetas, que foram os primeiros educadores da Grécia (Homero, Hesíodo, Teógnis). A partir do
séc. V a.C. , a palavra também passa a ser usada em relação aos que escrevem em prosa e
começam a ocupar o lugar dos antigos poetas.
Conhecemos pouco dos sofistas. Em primeiro lugar, porque com exceção de um sofista
tardio, Isócrates, de quem temos as obras, não possuímos senão fragmentos dos dois
principais sofistas: Protágoras de Abdera e Górgias de Leontini. Em segundo lugar porque a
doxografia e os relatos sobre eles foram feitos por seus principais inimigos: o historiador
Tucídides, o autor de comédias Aristófanes, Platão e Aristóteles, que nos deixaram
testemunhos altamente desfavoráveis (Tucídides, Aristófanes, Platão e Aristóteles não tem
simpatia pela democracia, defendem um partido aristocrático e consideram o sofista como
exemplo do que há de pior na política, a demagogia, que, segundo eles é inseparável da
democracia).
Os sofistas são considerados os fundadores da pedagogia democrática, mestres da arte
da educação do cidadão. Arte e não ciência, pois os sofistas se apresentavam como técnicos e
professores de técnicas e não como filósofos. Um sofista era um professor. O sofista ensina e
escreve porque tem um dom especial de saber comunicar, saber o que é prático ou técnico.
Aquele que é hábil em argumentar é o sofista. O sofista tem algumas características que são
resultados preocupantes para a cultura Ateniense e que foram odiados por outra parte desta
cultura.

3.1. Os Professores:
Sendo mestre e professor é um erudito - possui todos os conhecimentos úteis ao objeto
de seu ensinamento. Sabe escolher e apresentar seus temas de maneira atraente. Ensina as
artes úteis aos homens e o faz usando uma arte especial, a retórica, que permite obter a
atenção e a benevolência do ouvinte. A palavra sofista não tem o sentido pejorativo que veio
assumir mais tarde, em Atenas, quando os inimigos de Protágoras e de Górgias escreveram
contra os sofistas. Tinha um sentido ambíguo, mescla de admiração e de desconfiança, e por
isso os inimigos aproveitando-se dessa ambigüidade, chamarão os sofistas de charlatães e
mentirosos. Em Atenas sofista indicava um grupo social particular, isto é, professores
profissionais, geralmente estrangeiros, que forneciam instrução aos jovens e davam mostras de
eloqüência mediante pagamento. Os sofistas foram os primeiros professores da história da
educação, e esta é a principal acusação contra a sofística. Ele faz portanto comércio do saber,
é um artesão do conhecimento. Aos olhos da cultura ateniense, ao qual desde Platão (o
principal mentor das acusações) é fundamentalmente aristocrática, tudo isto comporta uma
desvalorização social e uma depreciação moral. "Há", disse Platão, "uma maneira de
prostituição da cultura que os sofistas operam". Todavia sua obra está bem longe de ser
totalmente desprezada pela população, ao contrário é profundamente apreciada e necessária.
Os atenienses não tinham má vontade nem desprezo por quem se fazia remunerar pelos
serviços prestados. Pelo contrário vimos Péricles elogiar os profissionais e criticar os que não
evitavam a pobreza.
Nem todos os sofistas atingiram um conceito tão elevado da sua profissão. O sofista
mediano dava-se por satisfeito em transmitir a sabedoria. Para avaliar com justiça a totalidade
do movimento é preciso estudar os seus representantes mais vigorosos. A posição central que
Protágoras atribui à educação do homem caracteriza o propósito espiritual da sua educação
como humanismo. Este consiste na ordenação da educação por sobre todo o reino da técnica.
A separação clara e fundamental entre poder e saber técnico e a cultura propriamente dita
converte-se no fundamento do humanismo.

3.2. Os Cosmopolitas:
Os sofistas ensinavam a arte de argumentar e persuadir, arte decisiva para quem exerce
a cidadania numa democracia direta, onde as discussões e decisões são feitas em público e
onde vence quem melhor souber persuadir os demais, sendo hábil, jeitoso, astuto na
argumentação em favor de sua opinião e contra o adversário. Os aristocráticos por sua vez
criticavam os sofistas por ensinarem a ser cidadão sem serem cidadãos. Diziam que os sofistas
eram estrangeiros que chegaram a Atenas desconhecendo a estripe ática e os negócios da
cidade e por isso imaginavam poder ensinar o que não se ensina. De fato os sofistas não eram
atenienses ( só mais tarde haverá sofistas de Atenas), mas vinham das colônias gregas da
Jônia e da Magna Grécia. Esta origem é muito importante pelos seguintes motivos: 1) Os
sofistas chegavam em Atenas conhecendo todo o debate e a crise da filosofia, os impasses do
Ser e do Devir, do Uno e do múltiplo pois vinham de regiões onde nascera e se desenvolvera a
filosofia. 2) Vinham de uma região - a Jônia - onde os contatos com os outros povos fora
decisivo para o nascimento de um tipo de saber tão novo quanto a filosofia: a história
inventada por Heródoto. A história leva os sofistas à percepção das variações dos povos, leis,
costumes, e idéias e a não dar valor absoluto aos costumes, leis, idéias dos gregos. São por
isso cosmopolitas e pouco dispostos a aceitar que os costumes e leis sejam obra da natureza.
3) Os sofistas vinham de regiões onde a medicina havia realizado grandes desenvolvimentos e
nas quais sabia-se que ela se originara não de um presente dos deuses, mas de um esforço
dos homens para se humanizar. Também a antiga medicina não separava o corpo do espírito,
mas estabelecia relações casuais entre eles, de tal modo que, uma doença podia ser
diagnosticada pelo tipo de sonhos do doente. A separação de copro e espírito trouxe dois
resultados: o primeiro deles aparece no modo de fazer o diagnóstico, e o segundo exprime-se
no modo como era feita a cura. O médico além de intervir nos hábitos alimentares, de higiene e
de vestuário, de sono e vigília do paciente, além de fazer pequenas operações, realizava o
trabalho de convencer o espírito do paciente a aceitar o tratamento e colaborar com ele: era
psicologia. 4) Por fim usando a tradição da Magna Grécia onde nasceu a dialética, lógica,
retórica os sofistas transformaram essas formas em técnicas de linguagem – a oratória ou a
eloqüência.

3.3. Opção pelo nómos:


Os sofistas introduziram o ardor pela dialética e pela retórica, as dúvidas quanto à
pretensão da filosofia de conhecer a verdade última das coisas, as discussões sobre a
diferença entre nómos (a convenção) e a physis ( a natureza), optando pelo primeiro contra a
segunda, o espírito crítico diante das tradições religiosas, políticas e intelectuais. Por isso ( a
opção pelo nómos) os sofistas são considerados relativistas, negando a existência de valores,
idéias absolutas e universais. No mundo aristocrático o costume e a lei costumeira tem a força
do Direito, normas cuja transgressão implica castigo. Os sofistas, na defesa do partido
democrático contra o aristocrático, afirmarão que o costume e a lei não escrita não são naturais,
mas convenções (nómos).
Assim a um conjunto de perguntas e respostas os sofistas oferecerão os argumentos
para provar a predominância do nómos sobre a physis:
1)Os costumes e crenças sobre o justo e o verdadeiro são nómos. A moral é convenção.
2)As leis não escritas codificadas para o bom uso e as normas do Direito são nómos. A
política é convenção.
3)Os deuses existem pelonómos. A religião é convenção
4)Os Estados nascem por convenção.
5)As raças que dividem os homens, e que os pré-socráticos explicavam a partir das
mudanças na physis ,são por convenção.
6)A igualdade e a desigualdade entre os homens é fruto das convenções.
Se tudo é convenção, tudo pode ser ensinado, como os costumes, as convenções,
portanto os sofistas deveriam ser sobretudo mestres do consenso ou da concórdia, obtida pelo
combate das opiniões (dialética) e pela persuasão ou retórica. A retórica é a arte de persuadir
operando com opiniões (dóxa) contrárias ou conflitantes e portanto, para se realizar precisa da
dialética, a arte da discussão.
Já os socráticos diziam que os sofistas operavam apenas com opiniões (dóxa)
contrárias, ensinando a argumentar persuasivamente tanto em favor de uma como de outra,
dependendo de quem lhes está pagando; não operam com a verdade (alethéia), que é sempre
a mesma para todos.

3.4. Os Retóricos:
Os sofistas eram verdadeiros “técnicos do espírito”, grandes oradores e grandes
argumentadores lógicos. Orgulhosos dessa capacidade acreditavam que isso fosse tudo. Isto
significa o que para nós, na nossa sociedade, é o "monopólio dos especialistas". Todavia a
retórica, a parte mais fraca numa divergência, torna-se a mais forte quando presente numa
degeneração do saber, do saber fazer. Todos os sofistas desenvolveram a retórica em quanto
arte do discurso persuasivo, e da argumentação convincente. Seguramente esta foi a causa
porque a sofística teve tanto sucesso em Atenas. Sendo professores de jovens aristocráticos
atenienses, ensinavam como dominar as causas nos processos, como estar em condições de
convencer outras pessoas. É claro que a importância da palavra cresce quando se acredita
mais num Ser absoluto. Para Parmênides o Ser absoluto é qualquer coisa que se precisa
entender baseando-se numa clara intuição lógica. Uma vez que para os sofistas não existe uma
verdade absoluta, a coisa mais importante é poder influenciar as opiniões. Por isso a sofística
dá uma tal importância à retórica em quanto através dela se manipula e se forma as opiniões
dos outras pessoas e dá condições de asá-la para seus interesses.
É famosa a frase de Protágoras segundo a qual ele estava em condições de
transformar o lógos mais fraco no argumento mais forte, isto é, faze-lo parecer melhor. Isto não
quer dizer que Protágoras quisesse colocar verdadeiro aquilo que é falso. Protágoras não nega
a existência de uma verdade até o dia em que ela aparece. Para Protágoras o grande retórico é
aquele que sabe fazer aparecer o que quer e desta maneira “fazer” a verdade. Se
considerarmos a análise da linguagem, a sofística tem um grande mérito. Por causa dela
desconfiança e conhecimento humano começam a criticar a linguagem. Vários sofista como
Pródico, por exemplo analisam os homônimos. Analisam o fato de que as palavras significam
coisas diversas e que o filósofo deve estar cônscio deste fato para não se enganar na
linguagem e cometer em erro lógico.
Protágoras desenvolve o tema da “orthoépeia”, do significado real da palavra. Ele
descobre por exemplo que qualquer substantivo da língua grega com um significado masculino
tem um gênero gramatical feminino e vice-versa. Análises dos homônimos, sinônimos,
metonímias como as encontramos em Demócrito é certamente uma importante contribuição
para uma fundamentação mais rigorosa e mais crítica da filosofia. Górgias dizia que é preciso
descobrir que a linguagem, a palavra e o pensamento não são idênticos, mas que são distintos,
como no caso dos homônimos.

3.5 A Ontologia:
A ontologia de Górgias e Protágoras são similares pois Górgias não queria negar a
existência de qualquer coisa. Queria negar que existisse um ser no sentido parmenídio. Esta
também é a convicção de Protágoras, que está convicto que todo ser é relativo ( como disse
Antístenes na metafísica e que o ser muda conforme o sujeito ao qual aparece. Lembremos a
famosa sentença de Protágoras segundo a qual “o homem é a medida de todas as coisas
enquanto são e enquanto não são”. É total subjetivismo. Naturalmente se pode perguntar se
Protágoras quer falar no homem no sentido da razão humana ou no sentido de pessoa humana,
ao menos os seus alunos lhe interpelavam de maneira subjetivista. De fato Protágoras ataca
toda tentativa de fundar uma ontologia que transcende a esfera pragmática na qual nós
vivemos.
Protágoras disse que não se pode julgar se existe a idéia ou não, por várias razões.
Primeira porque a coisa é obscura e depois pela brevidade da vida humana. Protágoras ataca a
validade da matemática. Ele, uma vez que tinha uma ontologia materialista, afirma que a
tangente não toca o círculo em um único ponto, mas em vários pontos. Será a ontologia de
entidade matemática de Platão para dar base científica a matemática grega.
Górgias de Leôncio é o autor do tratado filosófico do "não ser". Este título, que na
verdade foi atribuído mais tarde, demonstra que é um texto oposto à filosofia de Parmênides.
Se o texto de Parmênides constituísse a tese da filosofia grega o de Górgias seria a anti - tese.
Parmênides era convicto que existisse somente o "ser" e este ser é absoluto e conhecível ao
pensamento e comunicável a palavra humana. Górgias negava exatamente o que Parmênides
queria dizer.
Na filosofia de Gógias encontramos 3 teses que desenvolvem o argumento de seu
tratado:
1) Não existe nada. Com isto Górgias não queria dizer que nada existe, mas quer
dizer que não há um ser com a estrutura do ser de Parmênides, que não há nada de
absoluto.
2) Também se existisse qualquer coisa não poderíamos conhecê-la.
3) E também se nós pudéssemos conhece-la não poderíamos comunicá-la.
Temos aqui numa simples estrutura analítica as 3 categorias fundamentais da filosofia: a
categoria ontológica (o ser), a categoria gnosiológica (o conhecer), e a categoria da
comunicação (o comunicar). Categorias que correspondem às categorias da objetividade, da
subjetividade, e da inter - subjetividade. A todas estas categorias Górgias nega um valor
absoluto. Segundo ele o ser que existe é somente um ser flutuante e empírico. O
conhecimento que nós temos é um conhecimento empírico e a comunicação que nós temos é
uma comunicação que pode ser influenciada pela retórica, que não é baseada na verdade
absoluta.
A famosa frase que o homem é a medida de todos os valores foi diversamente
interpretada entendendo o homem no sentido do gênero humano, contrapondo ao divino, ou ao
invés de homem como indivíduo – provavelmente a tese de Protágoras se pode definir deste
modo: não há justiça que se origina dos princípios transcendentes ou externos ao mundo
humano. A justiça do homem é a que vem sancionada na lei e é justo que a lei da cidade
considere o indivíduo, pois é promulgada por uma maioria democrática na cidade. Os homens
enquanto cidadãos são a medida dos valores que promulgam, selecionando o que é justo ou
injusto.

3.6. Moral e Direito:


Esta tese de Protágoras é perigosa, mesmo para uma democracia ao qual esta tese
quer oferecer um fundamento e uma justificação moral. De um lado se mantém que a vida da
cidade seja neste modo auto-suficiente moralmente e juridicamente, de outro, e este raciocínio
será feito pelos sofistas, se não há nenhum fundamento objetivo para as normas morais e
políticas, se este fundamento está nas mãos de quem detém o poder de impor a lei, ou através
da maioria ou através dos atos tirânicos, se deverá dizer que a norma moral é está totalmente
nas mãos dos poderosos. As normas morais, como dirá Trasímaco são apenas o
mascaramento do poder.
Em coerência com o ceticismo teórico destruidor da ciência, a sofística sustenta o
relativismo prático destruidor da moral. Como é verdadeiro o que tal ao sentido, assim é bem o
que satisfaz ao sentimento, ao impulso, à paixão de cada um em cada momento. Ao
sensualismo, ao empirismo gnosiológicos correspondem o hedonismo e o utilitarismo ético: o
único bem é o prazer, a única regra de conduta é o interesse particular. Górgias declara plena
indiferença para com todo o moralismo: ensina ele a seus discípulos unicamente a arte de
vencer os adversários, que a causa seja justa ou não, não lhe interessa. A moral, portanto,
como norma universal de conduta, é concebida pelos sofistas não como lei racional do agir
humano, isto é, como lei que potencia profundamente a natureza humana, mas como um
empecilho que incomoda o homem.
Desta maneira os sofistas estabelecem uma oposição especial entre natureza e lei, quer
política, quer moral, considerando a lei como fruto arbitrário, interessado, modificador, uma pura
convenção e entendendo por natureza, não a natureza humana racional, mas a natureza
humana sensível, animal, instintiva. E tentam criticar a vaidade desta lei, na verdade tão
mutável conforme os tempos e os lugares, bem como a sua utilidade comumente celebrada:
não é verdade que a submissão à lei torne os homens felizes, pois grandes malvados, mediante
graves crimes, têm freqüentemente conseguido grande êxito no mundo e, aliás, a experiência
ensina que para triunfar no mundo, não é mister justiça e retidão, mas prudência e habilidade.
Então a realização da humanidade perfeita segundo o ideal dos sofistas, não está na
ação ética e ascética, no domínio de si mesmo, na justiça para com os outros, mas no
engrandecimento ilimitado da própria personalidade, no prazer e no domínio violento dos
homens. Esse domínio violento é necessário para possuir e gozar os bens terrenos, visto estes
bens serem limitados e ambicionados por outros homens. É esta, aliás, a única forma de vida
social possível num mundo em questão em jogo unicamente forças brutas, materiais. Seria
portanto, um prejuízo a igualdade moral entre os fortes e os fracos, pois a verdadeira justiça
conforme a natureza material, exige que o forte , o poderoso, oprima o fraco em seu proveito.

SOFOCLE, Edipo tiranno, vv. 83O - 924


(Canto della fede che illumina e del dubbio che ottenebra)
«Chiedo solo probità e giustizia
e fede nella legge morale
che gli Dei crearono dalle antiche vette di Olimpo
la montagna sacra.
Nessun uomo creò questi precetti
né mai essi si smarriscono nell'oblio o decadono con il tempo
così come l'uomo afferma intorno alle cause prime da sorgenti naturali
generati come una pura ed eterna fonte
Al di sopra dei precetti regole eterne dominio assoluto
il tiranno divora denaro e uomini
brama potere assoluto
e in un'ora fatale
sopravanza se stesso e finisce nel fango
Un uomo ambizioso
si mostra devoto agli dei
lo guida il suo demone nel risolvere l'enigma
ha in dispreggio la legge morale
lo amano gli Dei e il suo popolo prospera
Ma che uomo è quello
che si fa beffe della giustizia
arraffa ciò che vuole non si cura con parole ed azioni dell'onestà e della verità
e saccheggia i sacri altari?
Può egli sperare di sfuggire
alle conseguenze della sua violenza?
Quando l'uomo crudele fugge impunito si dilegua con il bottino
e l'assassino diventa re
perché dovrei affidarmi alla vecchia saggezza e moralità
o onorare con il canto il segreto rifugio?
Perché dovrei in pellegrinaggio recarmi
a Delfi o ad Olimpia o in qualche altro luogo sacro
se tali manifeste verità non sono evidenti a tutti gli uomini
e gli avvertimenti divini provocano il riso
senza che il pensiero scorga ciò che verrà?
O Zeus universale
se odi i nostri canti
mostraci ancora il tuo potere immortale
e in questa ora nefasta
in cui i mentitori dominano
e spargono il loro orrido verbo
scaglia la tua saetta ammonitrice.»

Quanto ao direito e a posição da sofística é extremista também, naturalmente, como na


gnosiologia e na moral. A sofística move uma justa crítica contra o direito positivo, muitas vezes
arbitrário, contigente, tirânico, em nome do direito natural. Mas este direito natural, bem como a
moral natural, segundo os sofistas, não é o direito fundado sobre a natureza racional do
homem, e sim sobre a sua natureza animal, instintiva, passional. Então o direito natural é o
direito mais poderoso, em uma sociedade em que estão em jogo apenas forças brutas, a força
e a violência podem ser o único elemento organizador, o único sistema jurídico admissível.
A norma protege os fracos, os súditos. Não protege os poderosos que a impõe em
vantagem própria. É em conseqüência deste pensamento sofístico que nasce a reação
socrática e platônica: se a cidade quer sobreviver, se a cidade não cair num conflito
indiscriminado pelo poder, se deve aos princípios e aos valores morais que valham para todos,
que não estejam ao arbítrio dos que estão no poder, sejam constituídos por uma maioria
democrática ou por um tirano ou grupo oligárquico. É preciso encontrar um fundamento objetivo
para os valores que regem o poder e às leis que o poder delibera. Este é o ponto de partida
fundamental para a reflexão platônica: como fundar objetivamente os valores como livrá-los do
relativismo com relação ao poder, cujos os sofistas em qualquer modo pareciam haver
conseguido.

3.7. A Dimensão Religiosa:


A respeito da religião e da divindade, os sofistas não só trilham a mesma senda dos
filósofos racionalistas gregos do período precedente e posterior, mas - de harmonia com o
ceticismo deles - chegam até o extremo, até o ateísmo, pelo menos praticamente. Os sofistas,
pois, servem-se da injustiça e do muito mal que existe no mundo, para negar que o mundo seja
governado por uma providência divina.
A crítica à religião que começa no século V a.C. teve três fases. A primeira é um fase
crítica ainda interna na religião e é o problema da Teodicéia – o problema que toda pessoa
religiosa tem, de ver as pessoas justas sofrerem no mundo e as injustas estarem bem. Esta
crítica a religião que também vem desenvolvida na tragédia grega, permanece ainda e remete a
fé a concessão religiosa tentando transcender de um conceito ingênuo da divindade para
chegar a um mais profundo.
O segundo nível de crítica à religião é aquele que se pode chamar de crítica científica.
Segundo esta crítica não há sentido assumir que a divindade age no mundo. Este é somente
um argumento das pessoas que não são capazes de explicar as verdades da realidade. O
exemplo melhor disto é o escrito sobre epilepsia de Ipócrates, que diz claramente que um sinal
da fraqueza dos médicos está em atribuir causas divinas a esta doença, que era chamada de
doença sacra. Segundo Ipócrates esta doença tem causas normais como todas as doenças e
pode ser curada de maneira racional.
O terceiro grau da crítica da religião é uma crítica antropológica segundo a qual a
religião sempre surge das necessidades dos homens. Os homens vem chamando de
divindades as suas próprias necessidades, por exemplo, Deméter para o pão, Dionísio para o
vinho, etc. De uma parte as necessidades dos homens , de outra os interesses das pessoas
espertas que através da religião podem guiar as massas. Este famoso fragmento de Crítias que
antecipa o pensamento “nietzschiano” segundo o qual um homem inteligente inventou a
divindade afim dos homens terem o encargo ou se sentirem obrigados a respeita-la, ainda
quando não temem de serem punidos imediatamente. Este é o grande problema da sofística.
Uma vez que rejeitou o fundamento da moral e coloca-a sobre o egoísmo racional isto é
absolutamente impossível na sofística e todas as formas de utilitarismo e hedonismo
desenvolvidos que são explicados como interesse do agir moral, porque se nós não agimos de
maneira moral seremos punidos ou sentiremos remorso na consciência, como fazer que uma
pessoa que não tivesse nada a temer agindo de maneira imoral, agisse de maneira moral?

CRIZIA, Sisifo
«C'è stato un tempo, quando senza ordine era la vita umana, e bestiale, e asservita alla forza, un
tempo in cui non c'era premio per i buoni, né castigo per i malvagi.
In seguito ritengo, che gli uomini emanassero le leggi per punire, di modo che la Giustizia fosse
assoluta signora egualmente di tutti e avesse ad ancella la Forza; e fosse punito chiunque
peccasse.
Ma poiché le leggi scoraggiavano gli uomini dal compiere delitti palesi, ma non di nascosto, allora,
io suppongo, che un uomo saggio di mente ed ingegnoso abbia inventato per loro il timore degli
dèi, si che uno spauracchio vi fosse ai malvagi anche per ciò che di nascosto facessero,
pensassero o dicessero.
E per colpire la mente degli uomini poneva la dimora degli dei là da dove sapeva che vengono ai
mortali gli spaventi e le consolazioni alla loro misera vita: dalla sfera celeste, dove vedeva i lampi,
dove udiva gli orrendi rombi dei tuoni e il corpo stellato del cielo, opera mirabilmente varia di un
artefice sapiente: il Tempo; da dove avanza fulgida la massa rovente del Sole, e scende sulla
terra l'umida pioggia.
Così agitando tali spaventi dinanzi agli occhi degli uomini, e servendosi di essi, costruì, da artista,
con la parola la divinità ponendola in un luogo a lei adatto; sconfisse con le leggi l'illegalità.
Per tale via, dunque, io credo che in principio qualcuno abbia persuaso gli uomini a credere nella
esistenza degli dèi.»

4.Protágoras de Abdera:
Protágoras nasceu em Abdera - pátria de Demócrito, cuja escola conheceu - pelo ano
480. Viajou por toda a Grécia, ensinando na sua cidade natal, na Magna Grécia, e
especialmente em Atenas, onde teve grande êxito, sobretudo entre os jovens, e foi honrado e
procurado por Péricles e Eurípedes. Acusado de ateísmo, teve de fugir de Atenas, onde foi
processado e condenado por impiedade, e a sua obra sobre os deuses foi queimada em praça
pública. Refugiou-se então na Sicília, onde morreu com setenta anos ( 410 a.C. ), dos quais,
quarenta dedicados à sua profissão. Dos princípios de Heráclito e das variações da sensação,
conforme as disposições subjetivas dos órgãos, inferiu Protágoras a relatividade do
conhecimento. Esta doutrina enunciou-a com a célebre fórmula; o homem é a medida de todas
as coisas. Esta máxima significava mais exatamente que de cada homem individualmente
considerado dependem as coisas, não na sua realidade física, mas na sua forma conhecida.
Subjetivismo, relativismo e sensualismo são as notas características do seu sistema de
ceticismo parcial. Platão deu o nome de Protágoras a um dos seus diálogos, e a um outro o de
Górgias.

5. Górgias de Leôncio:
Górgias nasceu em Abdera, na Sicília, em 480-375 a.C - correlacionado com
Empédocles - representa a maior expressão prática da sofística, mediante o ensinamento da
retórica; teoricamente, porém, foi um filósofo ocasional, exagerador dos artifícios da dialética
eleática. Em 427 foi embaixador de sua pátria em Atenas, para pedir auxílio contra os
siracusanos. Ensinou na Sicília, em Atenas, em outras cidades da Grécia, até estabelecer-se
em Larissa na Tessália, onde teria morrido com 109 anos de idade. Menos profundo, porém,
mais eloqüente que Protágoras, partiu dos princípios da escola eleata e concluiu também pela
absoluta impossibilidade do saber. É autor duma obra intitulada "Do não ser", na qual
desenvolve as três teses: Nada existe; se alguma coisa existisse não a poderíamos conhecer;
se a conhecêssemos não a poderíamos manifestar aos outros. A prova de cada uma destas
proposições e um enredo de sofismas, sutis uns, outros pueris.
No Górgias de Platão, Górgias declara que a sua arte produz a persuasão que nos
move a crer sem saber, e não a persuasão que nos instrui sobre as razões intrínsecas do objeto
em questão. Em suma, é mais ou menos o que acontece com o jornalismo moderno. Para
remediar este extremo individualismo, negador dos valores teoréticos e morais, Protágoras
recorre à convenção estatal, social, que deveria estabelecer o que é verdadeiro e o que é bem!

6. Conclusão:
A sofística é um movimento da história e do espírito. Algumas formas da sofística - a
saber: de filosofia negativa, de uma ontologia empirista, de seticismo, de relativismo moral, de
uma tentativa de reduzir a moral ao próprio interesse - todas estas formas ocorrem e se
repetem na história da filosofia.
"Estas experiências, como disse um agudo intérprete dos sofistas, são
"trágicas": e nós esclarecemos (...) que elas se descobrem como trágicas justamente
porque pensamento e palavra pederam o seu objeto e sua regra, perderam o ser e a
verdade. (...) Mas se, para reencontrar o divino e a verdade eram necessárias as
descobertas metafísicas e lógicas de Platão e Aristóteles, que estão decididamente
além dos horizontes da sofística, para reconstruir um novo rosto do homem bastavam
os recursos disponíveis no interior do horizonte da sofística: e esta foi a contribuição
que Sócrates soube dar"
.(Reale, Giovanni. História da Filosofia Antiga vol. 1 - das origens a Sócrates. (trad. de
Marcelo Perine). São Paulo, Loyola, 1995.
Infelizmente o nosso século tem tido quase somente "filósofos sofistas". O pensamento
do nosso século é seguramente relativista e nihilista. Por isso ao analisar a sofística poderemos
entender muitos princípios da filosofia moderna: que é em grande parte uma repetição da
sofística, num nível mais alto, diferenciado, baseado na negação das normas e princípios
ontológicos absolutos. Quem quer entender nosso tempo deve estudar também a sofística.
E mais importante ainda que a sofística deve-se estudar o superação da sofística
efetuado por Sócrates e Platão. A grandeza da cultura grega foi que, intelectualmente e
filosoficamente, chegou em um sistema filosófica, aquele de Platão no qual os momentos
negativos da sofística vieram integrar-se num sistema complexo que dava espaço ao não ser e
a história. Com Platão supera-se as conseqüências negativas e o nihilismo que nos
encontramos.
7. Bibliografia:

Reale, Giovanni. História da Filosofia Antiga. – vol. 1 Das origens a Sócrates. ( trad. Marcelo
Perine). São Paulo, Loyola, 1993.

Reale, Giovanni. História da Filosofia Antiga. – vol. 5 Léxico, Índices... (trad. Marcelo Perine e
Henrique C. de Lima Vaz). São Paulo, Loyola, 1995.

Jaeger, Werner. Paidéia – A Formação do Homem Grego. (trad. Artur M. Parreira). São Paulo,
Martins Fontes, 1995.

Chauí, Marilena. Introdução à História da Filosofia - vol. 1 dos Pré – Socráticos e Aristóteles.
São Paulo, Brasiliense, 1994.

Gadamer, Hans G.; Hösle, Vitório; Vegetti, Mário. Le Radice del Pensiero Filosofico – I Sofisti.
on line Disponível na Internet via WWW.URL: http://www.emsf.rai. it/opere/le radice del
pensier...eca/sofisti.htm. (resgatado em maio/1998).
Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus
Faculdade de Filosofia
Introdução à Filosofia
Profª. Maria Eugênia
Luiz Harding Chang, sj.

Os Sofistas
Belo Horizonte, junho de 1998.

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