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UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ – UNOCHAPECÓ

CURSO BACHARELADO DE PSICOLOGIA


DISCIPLINA: EPISTEMOLOGIA
PROFESSORES: MURILO CAVAGNOLI

ENSAIO CRÍTICO SOBRE A EPISTEMOLOGIA NA CONTEMPORANEIDADE

Andressa Diemer e Morgana Granella 1

Encontra-se, na realidade, historicidade, ou ainda, o reconhecimento da existência de


processos que se desdobram e se entrelaçam para dar temporalidade, formas, movimentos e
expressões. Este emaranhado de acontecimentos compõe o real e, a partir de sua
processualidade histórica e sua complexidade, ela está passível à diversas interpretações. As
ciências buscaram compreender a realidade através de uma maneira que pudessem comprovar
e demonstrar como o externo, este “lado de fora”, pode ser explicado e acreditado. Por esta via,
os seres, a natureza e o “invisível” foram tomados como objetos de estudo e estrangulados até
que se pudesse extrair qualquer resquício de resultado que afirmasse a existência e o real da
realidade. Afirmar, e não comprovar, porque jamais existiu alguém ou algo que expusesse o
real a tal ponto, que sujeito algum se sentisse impedido, mesmo nos dias atuais, de proclamar o
questionamento, “como saber se a realidade é mesmo real?”. A tudo isso, Latour (ANO) assume
como “medo de perder a realidade”. Nós, escritoras desta passagem, atribuímos outro medo: o
medo da completa ausência de sentido da própria existência no real, medo da existência vazia.
Quanto mais se questiona sobre ao que podemos dar sentido, dizer ser real, ou ainda, atribuir
certeza àquilo que vemos, mais se pode perceber o quanto não podemos ver nada, que a certeza
não existe, e que o nítido desaparece. Isso se caracteriza como uma crítica à ciência, ao que é
produzido e como é produzido.
Nessa tentativa de atribuir certeza à realidade, alguns estudiosos se destacam, como
Descartes e Kant. Ambos insistiram por realizar seus estudos através de um percurso com uma
via que, fatalmente, defrontaria-se com uma encruzilhada, e a tomada de decisão por seguir
apenas um caminho se fez inevitável. À direita, visualizava-se a mente e à esquerda, o corpo.
Para estes estudiosos, corpo e mente nunca são vistos em seu conjunto. Apesar de estarem
próximos, apesar de ainda existir no percurso uma via que os une, a relação entre a mente e o

1
Acadêmicas do curso de Psicologia – Bacharelado; 7º Semestre; Matriz 1034.
corpo é sempre e necessariamente divisível. Assim, Descartes e Kant pensam a realidade a
partir dessa fragmentação. O primeiro, busca a certeza absoluta separando a mente do corpo
por afirmar não ser possível a compreensão do real sem distanciá-los. Desta forma, a mente
contempla o mundo de dentro para fora, construindo e percebendo o real, mas não através do
contato do corpo com a realidade e sim, por meio da divindade, de Deus. O segundo, tocando
a superfície das águas do empirismo, não aceitou a ideia da exclusividade de Deus em permitir
o contato com o real e, ao chegar nos impasses da certeza absoluta para explicá-lo e de sua
construção à cargo da mente, afirmou que a realidade está posta a priori, e que a mente apenas
exerce o controle, através de leis universais criadas por ela mesma. Assim, Kant encontra na
mente extirpada do corpo, razões pelas quais a existência possui sentido, partindo de seus a
prioris como maneira de explicar o real, do abandono da certeza absoluta e de uma mente mítica
que molda e controla a realidade. (LATOUR, 2017)
Quando Kant extirpa a mente pulsante de um corpo exânime para pensar a realidade,
ele declara universalidade do funcionamento desta mente, deste “Ego transcendental”, como a
chamava. Contudo, as pessoas constataram que se tornara ficção crer apenas no transcendente
para explicar o imanente. Então, uma nova explicação do real emergiu, sendo ela, a sociedade.
Esta, surge como paradigma para determinar o que é a realidade a partir das representações das
pessoas que vivem juntas. Em conjunto com a emergência do social, o que era individual se
distanciou ainda mais do real, considerando que agora, com a cultura, os hábitos, as tradições,
houve um aprisionamento das pessoas dentro do grupo social. Desta forma, o consensual tornou
a realidade possível e explicável através de um conjunto de mentes extirpadas. Ou seja,
individualmente já não se olhava para o real pelos mesmos sentidos, pela mesma perspectiva,
quando se olha pelas lentes do social, distancia-se ainda mais da realidade por existir uma
barreira fosca ao externo, isolando os sentidos dos fenômenos e tomando os significados pré-
estabelecidos. Outro abismo que esta mente - ainda extirpada do corpo e agora, se relacionando
com a perspectiva do social - provocou, foi a ruptura da universalidade das categorias a priori,
propostas por Kant. Isso porque nem todos estavam trancafiados no mesmo cárcere, pois a
existência de diferentes grupos sociais fez com que emergissem também, outras prisões,
desconexas. (LATOUR, 2017)
Apenas estamos abordando estas perspectivas sobre o olhar para a realidade porque
também estamos navegando sobre os mares da epistemologia, que se caracteriza por realizar
análises e estudos críticos sobre como são construídas as ciências. Ou seja, seu objetivo é
aprimorar as maneiras de produção do conhecimento científico, através da compreensão do que
o envolve, desde como um pesquisador se coloca naquilo que produz, até os conceitos
filosóficos, ontológicos, empíricos, entre outros, que irão compor os processos de construção
da ciência. (TESSER, 1998) Isso significa que as discussões às quais nos voltamos não estão
relacionadas à existência, ou não, de uma realidade única e verdadeira, mas sim, para os
processos científicos que se debruçaram e interviram em qualquer que seja esta realidade,
afirmando produzir verdades sobre a mesma. Desta forma, nos questionamos, como a ciência
produz verdades? Ela de fato, as produz? Quais verdades? Para quem?
Latour nos dirá que “as ciências não falam do mundo, mas constroem representações
que ora parecem empurrá-lo para longe, ora trazê-lo para perto” (2017, p. 46). Estas
representações estão envolvidas ao movimento de perceber o mundo como estando disposto a
ser designado por signos e sentidos. Desta forma, a realidade se mostra como verdadeira ou
falsa à medida que pulsa, se transforma e se apresenta ao contato do humano, com o inumano.
Contudo, os fenômenos não estão apenas no ponto de encontro, mas sim, em todos os processos
que partem deste ponto e percorrem as transformações subsequentes. Latour (2017) manifesta
o conceito de “referência circulante” para designar os processos de transformações,
transmutações e translações que perpassam os referentes. Estes, por sua vez, representam a
manutenção da constância em meio às mudanças que ocorrem. Ou seja, mesmo que existam
transformações contínuas, o referente permanece constante e é condutor e receptáculo de signos
e sentidos. Assim, a composição da referência circulante se configura como uma rede reversível
de reduções e amplificações. No primeiro caso, o que se reduz seriam todos os fragmentos de
um caminho processual, deixados para trás devido às atribuições de novos, outros retalhos.
Estes últimos, que estão sendo atribuídos, amplificam a rede, abrindo espaço para a
reformulação e composição de signos e sentidos inéditos. Desta forma, assim como nas
reduções, as amplificações remontam, transformam, atribuem e retiram signos e sentidos do
referente, compondo um diagrama nunca concluído. Isto concerne à representação política
social das ciências.
Os cientistas compreendem que a construção da ciência não está desvinculada da
sociedade, mas não se considera a construção da realidade a partir desse viés, isto é, da
construção em conjunto. Isso decorre devido à existência de uma hierarquia, na qual a ciência
pode sempre extrair e explicar fatores dispostos na sociedade, e nunca o contrário, pois o objeto
de estudo é sempre determinado à medida que se faz necessário no social, portanto, realiza-se
um caminho somente de ida. Além disso, não é clara a percepção sobre a amplitude das
determinações que o produto científico trará à sociedade. O que geralmente acontece é que se
individualiza a ciência, sem perceber as implicações sociais e políticas que perpassam o
momento histórico que possibilitam sua criação. Por outro lado, aqueles que estão envolvidos
com os aspectos políticos, nem sequer teriam como centralidade a construção de uma ciência.
Isso significa que é errônea a dicotomização feita entre ciência e política, como se não se
afetassem, considerando a perspectiva de mundo do ser que olha, a partir da parte da realidade
na qual ele está implicado, ou seja, se for cientista irá desdobrar sobre uma certa ciência, se for
político, será sobre uma certa política, porém, deixa-se de perceber que o contexto histórico que
perpassa os dois universos, intrinsecamente relacionados, determina o desfecho para ambas as
circunstâncias. Ou seja, ciência e política se constroem juntas. (LATOUR, 2017)
Os estudos científicos existem por necessidades sociais, e seu objetivo é aproximar os
dois campos para que possam olhar juntos para o mesmo lugar, e isso não significa se tornar a
mesma coisa, mas não desvincular suas conexões. De fato, não significa que a conexão entre
ciência e sociedade existe a priori, pois isso depende de como essa relação será construída,
porém, os estudos científicos trazem elementos para que se perceba essa conexão quando ela
existe, através de perguntas que ainda não foram feitas, às quais permitem um novo olhar sobre
a realidade.
Latour (2017) apresenta o conceito de translação para explicar como um ideal político
pode se transformar em científico ou o científico em político. Translação essa, que constitui boa
parte dos estudos científicos. Isso quer dizer que quando uma ideia científica emerge em um
lugar e uma ideia política surge em outro, as implicações do momento histórico poderão levar
essas duas ideias a se cruzarem. A gênese da referência circulante nesta perspectiva, faz com
que o encontro possibilite a efetivação destas ideias, tornando-se uma orientação para onde
devem ir e possibilitando a construção de um objetivo em comum, a partir de como a realidade
se coloca. Em consequência disso, a ideia pode mudar de paradigma, mas ainda assim, perpetua-
se seu objetivo inicial. Desta forma, a translação seria o ato de unir estes dois ideais em um,
para que por fim, possa ser efetivado. E isso tudo significa que ciência e política andam lado a
lado, são indissociáveis. Os impactos da ciência influenciam na política e no social, e o inverso
também é verdadeiro. Os resultados desta conexão repercutem ao longo da história, nos
processos de subjetivação, no controle social, bem como, na emancipação e autonomia dos
sujeitos em seus modos de ser e existir.
Pensando no campo da psicologia como ciência, produto e produtora da realidade, o
discurso de ser neutro permanece um tabu. Já sabemos que temos uma construção histórica, à
qual atribuímos sentidos a partir de nós mesmos, na atuação não poderia ser possível nos
desvincularmos completamente da história que atravessa nossa existência. No momento que
partimos em direção à ampliação e continuidade da construção da ciência psicológica através
de pesquisas e intervenções, inserções e observações, a experiência que tomamos como objeto
de estudo deve ser além, ou seja, deve ser compreendida como um universo que não é nosso.
Portanto, deve-se tomar cuidado para que essa experiência não seja sobre nós, mas sobre o outro
que exprime suas significações para o mundo sob a sua ótica e a sua maneira de existir, que é,
indiscutivelmente, diferente da nossa. Nosso objetivo, enquanto futuros profissionais,
amparados pelas ciências psicológicas, não é dizer o que é certo e errado, mas compreender os
processos do pesquisar como indissociável do intervir, e nos questionarmos sobre como, o que
produzimos, interfere na realidade consensual, como nos afirmamos em uma verdade para dizer
que somos uma ciência e também, como construímos objetivos que funcionam no real,
transformando-o e ressignificando-o. Ou seja, precisamos reconhecer quais são os efeitos de
nossa inserção e atuação no mundo e nos sujeitos. O cuidado que devemos ter, não é sobre saber
ou não, fazer ou não, mas sim, sobre como andar nesse caminho. Afinal, o mundo não é meu
ou teu, é compartilhado, e por isso, qual é o meu direito de dizer qual é a verdade do outro?
Compartilhar é o que torna a existência real e tão extraordinária, e o que nos faz querer conhecê-
la ainda mais.

REFERÊNCIAS

LATOUR, B. Você acredita na realidade?: notícia das trincheiras das Guerras na Ciência. In:
LATOUR, B. A esperança de Pandora. São Paulo: SciELO-Editora UNESP, 2017.
LATOUR, B. Referência circulante: amostragem do solo da floresta Amazônica. In: LATOUR,
B. A esperança de Pandora. São Paulo: SciELO-Editora UNESP, 2017.
LATOUR, B. O fluxo sanguíneo da ciência: um exemplo da inteligência de Jolito. In:
LATOUR, B. A esperança de Pandora. São Paulo: SciELO-Editora UNESP, 2017.
TESSER, G. J. Principais linhas epistemológicas contemporâneas. Revista Tecnologia &
Humanismo, n. 18, p. 61-66, 1998.

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