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-- Tolerância ativa é a que vai ao encontro do outro para encontrar nele um valor --
explica Culleton.
Para o filósofo, uma das formas de se promover a tolerância são as "ações afirmativas",
para além das cotas, porque desativam os processos de desativação da paranoia.
Na entrevista a seguir, Culleton fala sobre caminhos para um mundo mais tolerante e
sobre os papeis sublimes que o ódio pode desempenhar em uma sociedade: na arte e no
esporte.
Ao mesmo temo, cada vez mais o mundo tende a nos colocar em contato com a
diferença: sejam os imigrantes, seja a população crescente de idosos.
E isso é tão bom, um mundo cheio de coisas diferentes, levanta de manhã e não sabe o
que vai encontrar. Pode ser uma coisa muito boa. Você ter infinitas possibilidades de
interação, de descobertas, com gente com condições diferentes, modos de se socializar
diferente. São aspectos importantes que essa diversidade nos dá. E a tolerância vai
otimizar essas oportunidades. Não tenho de tolerar porque o outro tem direito, mas
tolerar ativamente, porque é bom para mim.
Outro debate presente é o do discurso de ódio versus opinião. Por que manifestar o
ódio se tornou algo tão presente?
O ódio é uma coisa natural. Qualquer humano tem ódio. Ninguém vai deixar de odiar
porque decidimos que não deve. Agora, o que agente faz com esse ódio? Racha lenha,
luta contra o vírus HIV? Odeio discriminação, então vai lutar contra a discriminação,
olha que lugar bom para odiar. Se você não tem o que fazer com esse ódio, vai odiar o
vizinho, o primeiro que cruzar na frente, o colorado, o gremista. O ódio tem uma função
importante na sociedade, do ponto de vista mais propositivo, que tem de ser usada de
maneira adequada. Mas é preciso falar sobre o ódio, externalizá-lo de maneira sublime,
na arte, no cinema, nos concertos -- a música às vezes é uma disputa entre o violinos e
os sopros, por exemplo. Essa disputa, essa luta que se dá na arte. Se você não
encaminha seu ódio para o lado propositivo, vai acabar odiando cachorros, gatos,
gremistas, colorados, petistas. Há uma cultura do ódio porque há uma falta de espaço
nobre para o ódio.
Uma sociedade com muito ódio sendo proferido de uns contra os outros está
carente de espaços para o ódio ser sublimado?
Exatamente, de canais adequados para o exercício do ódio. Onde se regra o ódio na
escola? Tem esportes, um espaço em que a gente conflita, luta contra o adversário.
Mas tem horário para começar, para terminar, tem regras, certo e errado.
Terminou, os adversários se abraçam. Quando você vê a luta de judô, você está
odiando, ninguém luta querendo o outro. Mas acabou, acabou. Quando mais esporte,
menos ódio. Quanto mais arte, menos ódio. E essa é uma reserva que o ser humano tem
para momentos limite, uma guerra, uma invasão, uma injustiça grave, uma ameaça real.
Momentos em que a pessoa tem de agir violentamente.