Sei sulla pagina 1di 21

Pierre J.

Ehrlich - Dinâmica de Sistemas na Gestão Empresarial

7 - Dinâmica de Sistemas e Cenários

As técnicas de construção de Cenários para a prospecção do futuro são antigas e


passaram a ser formalizadas, do modo que as praticamos atualmente, no início dos anos
50. Em 1967 Khan, H. e Wiener, A. publicaram um estudo de grande impacto
prospectando cenários para o ano 2000. Desde então as publicações sobre o tema são
extremamente freqüentes. O desenvolvimento de cenários não requer a utilização de
Dinâmica de Sistemas (DS). Entretanto DS pode trazer grandes contribuições quando
desejamos analisar os impactos cruzados de Fatores Condutores (que definiremos mais
adiante), quando desejamos analisar a consistência de cenários, quando desejamos
projetar o impacto de percepções e de hipóteses e quando desejamos quantificar (observe
como, em DS distinguimos quantificação de mensuração) certas análises. O interesse de
DS pelos comportamentos dinâmicos numa visão de "floresta em vez de árvore" é bem
apropriado ás metodologias de construção de cenários.

7.1 - Decisões e Cenários


Frente a um processo de decisão sob incerteza, temos que analisar os possíveis
futuros "estados da natureza", alternativas de decisões e calcular as conseqüências
cruzadas das decisões com os estados da natureza. A seguir passamos á chamada fase da
informação onde atribuímos probabilidades de ocorrência para cada "estado da natureza".
Finalmente, adota-se a alternativa que conduz á maximização de uma utilidade esperada
(onde o valor esperado é um caso particular). As situações imaginadas para o futuro
raramente apresentam grandes diferenças estruturais; é mais uma questão de valores para
possíveis resultados.
De fato, este procedimento é o melhor que podemos fazer. Entretanto, nossas
percepções do futuro têm mostrado fracassos notáveis. Ao se aventurar pouco além das
projeções de curto prazo (que mantendo as estruturas do passado, apenas as projeta no
futuro) temos acumulado decepções. Os procedimentos utilizando modelos matemáticos,
como os de econometria, ou os subjetivos como o Delphi, desembocam nas mesmas
decepções1. Em particular, temos dificuldades em tratar de previsões com rupturas
estruturais.
O objetivo de construir-se cenários é totalmente diferente. A idéia é mais de
vigilância, prontidão e flexibilidade. Os cenários apresentam (preferivelmente) situações
estruturalmente diferentes. Deseja-se monitorar a evolução de Fatores Condutores que, de
modo dinâmico, nos levam de um cenário presente para um dos plausíveis cenários
futuros. Monitorando a evolução dos Fatores Condutores, preparamo-nos para a tomada
de decisões dentro do cenário (ou do leque de cenários) que se configura. Procura-se
reduzir os riscos por meio de monitoramento e flexibilidade.
Cenários não são previsões.

1
Estudos sobre a evolução dos procedimentos para previsões, de 1970 a 2005, mostram que no tocamte a
projeções de curto prazo houve uma substancial melhoria de precisão devido a melhor qualidade dos dados
coletados, facilidades computacionais e aprimoramento de técnicas. Quanto ao médio prazo, continuamos
com dificuldades com a utilização de percepções subjetivas (consequentemente as melhorias são apenas
ligeiras) e não houve melhoria alguma no referente ao longo prazo.

1
Capítulo 7: Dinâmica de Sistemas e Cenários

Cenários introduzem as idéias de Pensamento Sistêmico e de Dinâmica de


Sistemas (mesmo que sem sempre formalizados) na percepção da evolução do presente
para o futuro. A elaboração de cenários obteve seus maiores sucessos no campo do
planejamento estratégico.

7.2 - Cenários
A elaboração de Cenários é um procedimento de aprendizado sobre o futuro.
Cenários são narrativas plausíveis sobre o futuro, consistentes e cuidadosamente
estruturadas em tôrno de idéias, com propósitos de sua comunicação e de sua utilidade
(por exemplo, em planejamento). As narrativas se focam sobre relações causais e
procuram nos indicar pontos de decisão. Analisam-se a natureza e os impactos dos mais
relevantes Fatores Condutores (tanto os inevitáveis como os incertos) de mudanças para o
futuro. Distintas extrapolações ou visões para estes Fatores Condutores conduzem a
distintos cenários. O processo de construção de cenários leva a uma melhor compreensão
das nossas percepções e a uma melhor avaliação dos impactos que julgamos relevantes.
Não devemos associar previsões a cenários; eles são simplesmente plausíveis.
Não podemos associar cenários com probabilidades de ocorrências. A identificação dos
Fatores Condutores e o monitoramento das suas evoluções ao longo do tempo nos
permitem "estar de prontidão" para os possíveis cenários do futuro.
Precisão não é uma medida para avaliar um bom cenário; procuramos:
. Que seja plausível (conexões racionais entre pontos no tempo)
. Que tenha consistência interna
. Que descreva um processo causal
. Cenários distintos devem representar diferentes estruturas.
. Que seja útil para a tomada de decisões
. Apesar do termo cenário conotar a descrição de um retrato estático, um bom
cenário deve enfatizar os processos dinâmicos.

7.3 - Procedimentos para a construção de Cenários


Cenários podem ser desenvolvidos de traz para diante ou do presente para o
futuro. Trabalhar de traz para diante consiste na elaboração de um cenário para o futuro,
plausível e consistente; procura-se então entender o caminho para atingir este futuro -
seria o modo clássico de abordar problemas em programação Dinâmica. Do presente para
o futuro consiste em analisar os Fatores Condutores e suas possíveis evoluções; segundo
estas evoluções, partindo do presente alcançaremos um cenário futuro. O primeiro
procedimento é conduzido pela pergunta "Como chegar?" enquanto o segundo é
conduzido por "Para onde estamos indo?".
De um modo geral, convém reter a percepção de Dinâmica de Sistemas onde
observamos eventos que ao longo do tempo mostram padrões de comportamento, mas a
compreensão da estrutura do sistema de condiciona estes comportamentos é a chave para
entender o processo evolutivo.
Existe uma vasta literatura sobre procedimentos para a construção de Cenários.
Livros excelentes2 foram escritos e muitas empresas de consultoria descrevem seus

2
Alguns títulos:
Liam, F. & Randall, R. - Learning from the Future; John Wiley, 1998

2
Pierre J. Ehrlich - Dinâmica de Sistemas na Gestão Empresarial

procedimentos - basta procurar na Internet referências por palavras chave do tipo:


Scenario Planning, Future Research, etc..
Apresentaremos um roteiro típico:

1 - Identificação de pessoas participantes com grande envolvimento e


comprometimento com o estudo. A inclusão de pessoas externas, que possam trazer
novas visões e enriquecer o processo pode ser aconselhada.
2 - Entrevistas e reuniões de modo a identificar como os participantes percebem
as "grandes mudanças" que afetarão a sociedade, a economia, a política, a tecnologia,
etc.. no futuro. Estas "grandes mudanças" é o que chamamos de Fatores Condutores (FC).
A utilização de perguntas que sirvam de fio condutor, do tipo "Quais os pontos mais
relevantes para recursos humanos dedicados a serviços de saúde na próxima década?", ou
então "Que evoluções mais afetarão no futuro o tema em estudo?" é recomendada por
muitos consultores.
3 - Costumam ser identificados cerca de 6 a 30 FC. Agregue estes FC de modo a
reduzir redundâncias procure classifica-los em PASTE3: Políticos, Ambientais, Sociais,
Tecnológicos e Econômicos. Identifique quais são os inevitáveis e quais são os incertos.
Retenha apenas os mais relevantes.
4 - Analisar os Fatores Condutores que moldaram o presente, a partir do passado.
Contrastar as diferentes visões que, no passado tínhamos do futuro (ou seja, atualmente o
presente). Esboçar Diagramas Causais para ilustrar o impacto e as relações entre os
Fatores Condutores. Alguns autores recomendam traçar a evolução do passado para o
presente num horizonte que seja o dobro daquele que desejamos projetar no futuro.
5 - Estabeleça uma lista de prioridades para as idéias consideradas as melhores.
6 - Procure organizar um ou mais planos com eixos mais diferenciadores de modo
a poder posicionar os cenários a serem desenvolvidos num ou dois planos. Os eixos serão
os FC mais relevantes ou uma combinação deles. Por exemplo, dois eixos definem quatro
quadrantes onde se posicionarão os cenários:
. (A) e (B)
. (A) e (não B)
. (não A) e (B)
. (não A) e (não B)
7 - Esboce imagens aproximadas para futuros baseados nestas prioridades
(histórias, esboços de cenários). Retenha apenas alguns cenários a serem desenvolvidos
(geralmente de 2 a 5).
8 - Cenários distintos devem corresponder a diferentes estruturas.
9 - Atribua nomes sugestivos para cada um dos cenários a ser desenvolvido e
designe subgrupos de trabalho para "apadrinharem" cada um dos cenários. Posicione
estes cenários nos planos definidos em (5).
10 - Cada subgrupo detalha seu cenário, analisando sua plausibilidade, sua
consistência interna e seus implicações do ponto de vista de impacto. Muito importante é
a identificação dos Fatores Condutores e das suas evoluções para a concretização do

Heijden, Kees van der - Scenarios, the art of strategic conversation; John Wiley, 1996 (traduzido para o
português: Editora Bookman)
Schwartz, P. - The Art of the Long View; Doubleday, 1991 (traduzido para o português: Editora Campus)
3
Em inglês STEEP: Social, Technological, Economic, Environmental, Political.

3
Capítulo 7: Dinâmica de Sistemas e Cenários

cenário em estudo. Identifique os procedimentos de monitoramento destas evoluções


(sinais antecipatórios) e sugira pontos críticos para inflexões nestas evoluções.
11 - Compare os cenários desenvolvidos enfatizando os contrastes, as implicações
e sugerindo decisões.

Para os adeptos de utilização de técnicas de cenários, o desenvolvimento de


cenários deixa de ser uma atividade pontual e se incorpora dentro das atividades de
rotina. Possivelmente é a formalização de algo que (bem ou mal) todos nós fazemos.
Assim como para outros tipos de situações, formalizações permitem um trabalho
participativo, mantendo um certo rigorismo e documentam uma visão retrospectiva das
percepções que tínhamos no passado.

7.4 - Armadilhas a serem evitadas


Anos de experiências bem e mal sucedidas produziram uma longa lista de
armadilhas. Vamos listar apenas algumas.
1 - Tratar cenários como se fossem previsões.
2 - Diferenciar os Cenários de modo excessivamente simplista, do tipo: otimista e
pessimista.
3 - Restringir a abrangência do trabalho e ater-se ao "Cenário Oficial".
4 - Perda de objetividade. Falta de focalização na utilidade do trabalho sendo
desenvolvido. A armadilha é restringir-se a meras especulações. Desejamos identificar
pontos de decisão.
5 - Leviandade ao tratar o processo como um mero exercício e não atribuir-lhe a
importância do aprendizado e da preparação para o futuro.
6 - Falta de comprometimento dos participantes.
7 - Falta de criatividade e de imaginação para a criação de cenários.
8 - Furtar-se a quantificações, apesar da natureza essencialmente qualitativa da
metodologia de cenários.
9 - Mal uso da equipe de facilitadores do processo. Os facilitadores devem evitar
de condicionar as percepções dos participantes.

7.5 - Alguns Fatores Condutores


A construção de cenário objetiva uma utilidade. Esta utilidade condiciona a
identificação de muitos dos Fatores Condutores que nos possam interessar. Abaixo
listamos alguns Fatores de interesse geral.

1 - O Envelhecimento das Populações


As implicações são importantes sob muitos aspectos relativos ao trabalho,
governos, viagens, entretenimento, lazer, saúde, etc. As relações entre os grupos
populacionais se alterarão. Dispomos de diversas medidas quantitativas para monitorar a
evolução.

2 - Globalização
Por mais que apareçam grupos de contestação ao processo de globalização, ela é
inevitável. Posicionar-se no contexto deste fato inevitável passa a ser extremamente

4
Pierre J. Ehrlich - Dinâmica de Sistemas na Gestão Empresarial

importante. Dispomos de algumas medidas indiretas tais como volume de comércio,


volume de comunicações, etc.

3 - Importância da Qualidade de Vida


A procura de uma maior renda disponível já está deixando de ser prioridade. Em
todo o mundo ocidental a renda disponível está em queda. A prioridade passa a ser a
qualidade de vida, apesar dela ainda ser mal definida. Tentamos quantificar por IDH
(índice de desenvolvimento humano), mas ainda precisaremos melhorar os indicadores.
Qualidade de vida está fortemente condicionada a valores culturais.

4 - Tecnologia e Produtividade
A evolução da tecnologia está alterando fortemente o papel do fator humano no
processo produtivo. A reorganização das relações sociais é inevitável, por mecanismos de
negociação, ou até mesmo violentos. Os impactos se refletem em todos os setores de
atividades.

5 - Reorganizações Políticas Internacionais


Curiosamente, a globalização em vez de promover a homogeneização do mundo,
ela está promovendo oportunidades para todos. Se a globalização requer a seleção de
algumas "línguas - chave" para a comunicação, ela também está promovendo o
reaparecimento de línguas regionais e de outras características culturais que foram
reprimidas quando da formação de grandes espaços políticos. A formação de grandes
espaços políticos exigiu um alto grau de concentração em torno de valores comuns e de
intolerância para esmagar as diferenças. É de se prever grandes mudanças nos recortes
políticos e culturais, com fortes implicações em nosso modo de vida. Este Fator tem
aparecido como elemento de enriquecimento dos valores humanos, mas também como
causador de tensões violentas.

6 - Esgotamento dos Recursos Naturais


Há uma corrida entre o desenvolvimento tecnológico e o esgotamento do recursos
naturais. Nossas aspirações de melhoria de Qualidade de Vida para a totalidade da
humanidade poderá sofrer impactos positivos e negativos, com eventual tendência
oscilatória. O primeiro grande livro de divulgação de Dinâmica de Sistemas, chamado
"Os Limites do Crescimento" elaborado sob o patrocínio do "Clube de Roma" nunca
perdeu sua extrema relevância.

Muitos autores listam Fatores Condutores extremamente relevantes nos contextos


das suas sociedades ou das suas atividades. Assim para um norte-americano, a integração
racial é um FC muito importante. Convidamos o leitor a acrescentar ou eliminar FC á
lista acima esboçada, dentro da problemática para suas tomadas de decisões.

5
Capítulo 7: Dinâmica de Sistemas e Cenários

7.6 – Um Estudo de Caso

Preparar-se para os próximos 20 anos: Cenários para o Brasil

7.6.1 - Resumo
O presente caso relata um experimento na construção e na análise de cenários.
Em maio de 2005, numa classe de pós graduação na FGV-EAESP-MPA,
aproveitando a experiência profissional de jovens (com idades entre 30 e 45 anos)
executivos e sua motivação, construímos quatro cenários distintos para o Brasil dentro de
20 anos. A questão não foi sobre o Brasil em termos absolutos, mas em termos relativos
dentro do ambiente internacional. A seguir, os participantes analisaram o posicionamento
estratégico das suas empresas no contexto de cada cenário. A redação e a estrutura de
cada cenário procura respeitar as apresentações dos respectivos autores.

7.6.2 - O histórico
No passado, construção de Cenários procurava uma previsão visionária do futuro.
Nas últimas décadas passou-se de objetivar previsão para objetivar preparar-se para o
futuro. Cenários deixaram de ser vistos como prováveis e passaram a ser plausíveis. Por
outro lado, a construção de cenários passou de um exercício especulativo para uma etapa
importante no planejamento estratégico. Neste contexto, cenários são construídos com
objetivos bem definidos; eles são a moldura condicionante do planejamento.
O desejo de previsão e o uso de cenários, desde a antigüidade até o presente estão
muito bem descritos em Holstius & Malaska (2004). Este exercício nunca deixou de ser
praticado, sendo o objeto de diversas publicações, como por exemplo, a revista francesa
Futuribles. O livro de Khan & Wiener (1967) foi um “best seller” e acredito ter sido o
inspirador de Rattner (1979) para o Brasil. Para o leitor comum esta foi uma fase de
“previsão visionária” onde pessoas inteligentes e bem informadas especulavam sobre o
futuro4.
O uso de cenários para fins militares deve ter sido ininterrupto, sem ter saído deste
âmbito. O grande impacto em termos de administração e de desenvolvimento
metodológico se deu dentro da empresa petrolífera Shell seguido de colaboração com o
Stanford Research Institute. Os três livros referenciados na bibliografia e publicados à
partir de 1990 são o fruto deste desenvolvimento. Desde então diversos grupos de
consultores se dedicam à atividade e publicam muito das suas produções; Rosnay (2005)
lista os centros mais ativos.
Os pontos importantes a reter deste desenvolvimento são:
a) Planejar e decidir são atividades que visam o futuro. Desde que saiamos do
curto prazo (vide as definições em Ehrlich, 2005), todas as técnicas de
previsão para o futuro fracassaram. De modo que o melhor que podemos fazer
é nos preparar para diversos cenários plausíveis. O planejamento só faz
sentido se dentro de um cenário específico e o processo de decisão deve ser

4
Evidentemente eu não esgotei as referências bibliográficas sobre esta fase, mas listei apenas as que mais
me impactaram. Nem listo os livros ditos de entretenimento como 1984 de Orwell, G., ou os livros de
Huxley, A., entre muitos.

6
Pierre J. Ehrlich - Dinâmica de Sistemas na Gestão Empresarial

flexível para acompanhar a evolução do cenário presente em direção ao


futuro.
b) A construção de cenários não visa previsões. Não faz sentido atribuir
probabilidades a cenários. De modo que é preciso evitar a construção de três
cenários com os rótulos de mais provável, otimista e pessimista, assim como é
preciso evitar a fixação num “cenário oficial” da empresa.

7.6.3 - A metodologia
Todas as referências posteriores a 1990 apresentam metodologias muito
parecidas. Resumindo:
a) O grupo como um todo identifica os eixos principais de evolução. Estes eixos
são analisados e divididos em inevitáveis e incertos. Os inevitáveis servem de
“pano de fundo” enquanto os incertos servem para definir distintos cenários.
Os cenários devem ser plausíveis e consistentes. As referências citam casos de
adoção de 2 a 7 cenários.
b) O grupo é dividido em subgrupos de “apadrinhamento” de cada cenário. Cada
subgrupo detalha seu cenário, verifica as consistências e analisa as Forças
Condutoras que podem levar do presente para seu cenário. Também são
identificados os indicadores que deverão ser monitorados para acompanhar a
evolução do presente para o cenário.
c) O grupo analisa a questão inicialmente proposta (como por exemplo o modo
de atuação da empresa) dentro de cada cenário (o futuro pode nos reservar
uma combinação de cenários).
d) O tempo para a elaboração deve ser curto (de poucos dias a poucas semanas) e
os participantes devem sentir um forte comprometimento com seu trabalho.

7.6.4 - O trabalho desenvolvido


Na qualidade de “animador” do grupo, eu procurei respeitar as percepções dos
participantes e limitar minhas intervenções aos aspectos metodológicos. A questão foi “O
que diferencia o Brasil dos outros países da comunidade internacional e como pode
evoluir esta diferenciação”. A ênfase deveria ser na especificidade do Brasil. O grupo
teve acesso a diversos trabalhos para visões globais e não pretendeu repetir estes
trabalhos. A evolução do mundo foi considerada “pano de fundo”.
Na apresentação, a título de provocação dei como exemplo para os objetivos a
serem alcançados que num cenário de grande abertura internacional, o programa de MPA
dentro do qual estávamos desenvolvendo nossa atividade, poderia se tornaria uma
“commodity” e que a FGV poderia problemas em recrutar estudantes de alto nível.
Muitos eixos diferenciadores foram propostos. Após uma sessão de uma hora e
meia de debates optou-se por manter três eixos. O grupo decidiu adotar referencias de 0 a
100 para estes eixos, de modo a melhor posicionar os cenários5. Os eixos foram:

A – O Grau de Internacionalização. Este eixo procura medir a abertura do país e


engloba noções de participação do comércio no PIB, barreiras alfandegárias e outras,
aceitação de mão de obra estrangeira (a todos os níveis) e outras percepções de abertura.

5
Este procedimento me pareceu “original” do grupo e eu resolvi respeita-lo.

7
Capítulo 7: Dinâmica de Sistemas e Cenários

Numa medida de percepção subjetiva em escala de 0 a 100, o valor 0 corresponde ao país


“fechado” e o valor 100 ao país “aberto”. O grupo observou que no passado o país foi
muito fechado e que ele se abriu principalmente durante o governo Collor. Assim mesmo
o país continua bastante fechado e a posição atual foi avaliada como valor 35.

B – Integração Social. Este eixo corresponde a uma das características estruturais


do país. Iniciou-se pensando em distribuição de renda, acesso a escolaridade e a saúde,
mobilidade social, entre outros aspectos. Finalmente fixamos na distribuição (e não no
valor médio) do IDH – Índice de Desenvolvimento Humano. Na escala adotada de 0 a
100, o valor 0 é de exclusão social extrema e o valor 100 de integração. Observou-se que
apesar da procura de melhoria afirmada por governos sucessivos, o país continua sendo o
segundo pior do mundo em integração – perdendo apenas para Serra Leone. Na situação
atual a nota dada foi 10.

C – Estado Forte versus Sociedade Civil Forte. Este eixo corresponde ao papel do
Estado incluindo, o tamanho da máquina administrativa, participação das empresas
estatais ou controladas por estatais, imposição, e semelhantes. Resolveu-se excluir o
autoritarismo versus democracia por ser de pouco impacto para os objetivos do projeto. O
valor 0 corresponde a um Estado muito forte e presente e 100 é o oposto. Para a situação
atual a pontuação é de 80.

Neste ponto é preciso enfatizar que o importante não é quais são os “verdadeiros”
eixos. O grupo debateu bastante para chegar a estes eixos “percebidos”. De qualquer
modo, cenários sempre são construídos a partir de percepções. Para alguns problemas,
poder-se-ia pedir a participação de especialistas que ajudem a educar a percepção do
grupo. Entretanto sempre prevalece a percepção. Não há como eliminar a subjetividade
(mesmo que coletiva) da atividade.
Eu imagino que o leitor poderia ter outra percepção. Muitos aspectos foram
debatidos como corrupção, violência urbana, educação e capacidade de assimilação da
evolução tecnológica mundial. O grupo decidiu que estes aspectos, ou estavam bem
representados pelos eixos adotados, ou não caberia inclui-los por terem forte correlação
com os eixos adotados, ou não eram diferenciadores (a questão proposta).

7.6.5 - Cenários
Foram gerados quatro cenários para o horizonte de 20 anos. Chegou-se a pensar
na eliminação do eixo B por considerar a posição dos cenários quase imóvel. Visões um
pouco mais otimistas nos convenceram a manter este eixo. Os nomes foram escolhidos
pelo grupo.

Cenário I – Atual II - Darth Vader6 III - Turbinado IV - Nacionalista

A 35 20 60 35
B 10 10 25 20
C 80 90 60 90

6
Personagem do filme “Guerra nas Estrelas” – a idéia é de atuar como uma praça forte sitiada.

8
Pierre J. Ehrlich - Dinâmica de Sistemas na Gestão Empresarial

Estes quatro cenários foram apadrinhados por subgrupos de dois a três


participantes. Foi enfatizado que eles teriam que se colocar dentro do cenário,
independentemente de gostar dele ou não. De qualquer modo, eles escolheram os
cenários que desejavam apadrinhar. Os mais desfavoráveis para suas atividades foram
tratados como desafios e todos acabaram gostando do trabalho.
Neste ponto eu deixo cada grupo descrever seu cenário.

I - CENÁRIO ATUAL: BRASIL PERMANECE COMO EM 2005


Marcos H. G. de Oliveira e Rodolfo Zerbini

Integração
Mundial
A Estado
Forte
C
80
Discriminação 20 Integração
Social Social
B
35

Sociedade
Forte
Isolacionismo

No cenário “atual”, apesar dos esforços, o país não altera suas estruturas em
termos relativos com o resto do mundo. Os indicadores se mantém. O caminho ao longo
dos 20 anos é dinâmico. Ocorrem pequenas oscilações nos indicadores mas, em média,
fica tudo na mesma.

Descrição do Cenário:

Eixo A: Em relação à integração mundial, o Brasil se encontra numa situação


relativamente mais isolada que a maioria dos países. Apesar da política de
abertura ao comércio internacional, o ritmo desta abertura vem sendo inferior
ao apresentado pela maioria dos demais países e dos blocos onde estão
inseridos, não permitindo, portanto, aumentar a presença do país nos volumes
de comércio mundial.

Eixo B: A discriminação social no Brasil permanece acentuada: enquanto há pequenos


núcleos com indicadores sócio-econômicos comparados a países
desenvolvidos, a maioria da população vive em condições de pobreza,

9
Capítulo 7: Dinâmica de Sistemas e Cenários

apresentando baixos níveis de renda e de escolaridade, além de problemas de


saúde há muito tempo erradicados em outras regiões do planeta. Essa situação é
particularmente visível nos maiores centros urbanos, como São Paulo e Rio de
Janeiro, gerando instabilidade social e insegurança.

Eixo C: O Brasil apresenta uma forte presença do Estado na economia, com a gestão de
diversas estatais como a Petrobrás, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica
Federal e os Correios. Mesmo onde o Estado não atua de maneira marcante
como empresário, ele possui enorme influência como controlador ou regulador,
como nos setores de telecomunicações e educação. A política social é
preferencialmente assistencialista, baseando-se em ações de distribuição de
renda e de gêneros alimentícios (como cestas básicas e leite, por exemplo),
constituindo-se em simples paliativo para os problemas sociais. As atitudes
organizadas da sociedade civil são pontuais e não geram resultados consistentes
em grande escala.

Eventos que levam a este Cenário Futuro:

O Brasil, nestes últimos 20 anos, apresentou, em média, crescimento econômico baixo e


não sustentável, colocando em situação vulnerável ao contexto mundial. Em alguns
momentos, o cenário mundial favorável possibilitou bom desempenho da economia,
trazendo sentimentos de euforia à população. No entanto, o país não soube criar bases
sólidas para transformar essas oportunidades em situações permanentes. Dessa forma,
quando o ambiente externo deixou de ser favorável, o Brasil sofreu retrações em sua
economia, praticamente anulando os momentos de avanço.

Grande parte da performance econômica acima relatada pode ser atribuída ao cenário
político das duas últimas décadas. Assim como no final da década de 90 e início dos anos
2000, imperou um revezamento no poder entre o PSBD e a linha “suave” do PT. Nenhum
dos 2 partidos obteve maiorias estáveis no Congresso Nacional e, dessa forma, fizeram
alianças políticas que garantiram a representatividade daqueles interessados em manter a
situação vigente, tais como empresários e empregados que poderiam sofrer com a maior
abertura comercial e parte das elites econômicas e políticas. Dessa forma, reformas
importantes para o crescimento do país, como a política, a tributária e a do Judiciário
nunca chegaram a serem implementadas em sua totalidade.

Apesar do país ter buscado intensificar sua proposta de abertura comercial, esta não
ocorreu devido a 2 fatores. Em primeiro lugar, muitos empresários que não se
interessavam pela maior integração mundial do país se fizeram representar junto ao
Governo, atrapalhando o sucesso dessa empreitada. Porém, o fator preponderante foi o
fato de que o Brasil, atuando em um ambiente de consolidação de grandes blocos como a
União Européia e a ALCA, não ter conseguido fortalecer o Mercosul. Isso não foi obtido
porque Brasil e Argentina não superaram desconfianças mútuas, o que os impediu de
estabelecer um verdadeiro relacionamento cooperativo.
A desigualdade social permaneceu constante em função da insistência de se manter um
modelo econômico onde o desenvolvimento sustentável não foi possível. Assim, apesar

10
Pierre J. Ehrlich - Dinâmica de Sistemas na Gestão Empresarial

de alguns momentos de melhoria nos índices de emprego e renda, o Brasil continuou


vulnerável a crises internacionais, as quais deterioravam rapidamente as condições da
economia. Os investimentos em educação e saneamento básico continuaram a ser
insuficientes em relação à demanda da população.

O discurso político nacionalista continuou sensibilizando a população, o que dificultou a


privatização de empresas como a Petrobrás. Continuou imperando a visão de que o
Estado deveria ser o grande motor da economia, sendo essa visão potencializada pelo
baixo crescimento econômico, já que a população enxergava a participação do Estado
como uma forma de saída do marasmo. Instrumentos bastante utilizados foram as
políticas de investimento setoriais, com o apoio do BNDES.

Cenário empresarial:

Nos últimos 20 anos, não houve relevantes mudanças de estratégias empresariais


decorrentes de alterações no cenário nacional. Apesar de tentativas de algumas empresas
de incluir uma parcela das camadas mais pobres para o mercado de consumo (exemplo:
concessão de crédito para pessoas de baixa renda), isso não se revelou muito frutífero.
Por outro lado, o mercado de alto luxo continuou em ascensão, atraindo marcas poderosas
em todo o mundo para o território brasileiro. A grande desigualdade social e o baixo
crescimento econômico não permitiram uma expansão significativa na base de
consumidores, o que inibiu a diversificação de negócios das empresas e as levou, em
muitos casos, a enfocarem questões de eficiência interna, como reduções de custos, para
aumentarem suas margens de lucro.

O Brasil não pode evitar ser atingido pelas tendências do ambiente externo, como
avanços tecnológicos, expansão do setor de serviços e concentração dos países em suas
vantagens comparativas. Como o país desenvolveu, nas últimas duas décadas, uma gama
de serviços de classe mundial ou competências ligadas a tecnologias de ponta, sua
participação no comércio internacional ficou cada vez mais concentrada na agricultura ou
produtos que não apresentam tecnologia distintiva, como aqueles ligados a tecnologias
eletromecânicas.

Apesar dos indicadores relativos do Brasil continuarem os mesmos em relação a outros


países, deve-se destacar que o cenário de mercado mudou devido principalmente ao
avanço da tecnologia. Os principais pontos a destacar são:

ƒ Forte automação de tarefas repetitivas e transacionais, com repasse das reduções de


custo para os preços dos produtos;
ƒ Redução pela demanda por mão-de-obra sem qualificação intelectual;
ƒ Intensificação do papel do setor de serviços como principal gerador de empregos;
ƒ Aumento significativo na produtividade industrial.

11
Capítulo 7: Dinâmica de Sistemas e Cenários

Cenário de nosso ramo de atuação (Setor Bancário de Varejo):

No setor bancário, com o baixo crescimento e a não expansão relativa da


internacionalização, os níveis de crédito (relação entre volume de crédito privado e PIB)
no Brasil continuam baixos.

Para rentabilizar suas operações, os bancos continuam investindo em títulos públicos,


mantendo altos spreads no crédito e intensificando o processo de oferta de produtos
financeiros para os segmentos de baixa renda (crédito direto ao consumidor, crédito
consignado em folha de pagamento, cartões de crédito, etc) e de alta renda (atendimento
personalizado, consultoria de investimento, cash managment, etc).

Com a evolução da tecnologia e a intensificação da automação, os bancos apresentarão


custos de operação relativamente mais baixos, tornando o sistema bancário mais acessível
a grande parte da população de baixa renda.

A tendência é de que a competitividade no setor seja intensificada e de que bancos de


varejo que não consigam ganhar escala suficiente para competir com os grandes bancos,
sejam incorporados por estas instituições, gerando uma concentração desta indústria. A
probabilidade de ingresso de bancos internacionais no mercado será pequena, pois as
características do mercado brasileiro (normas, sistema tributário, sistema jurídico,
características de consumo, etc) e a instabilidade econômica não tornarão o mercado
atrativo para investimentos do exterior.

Indicadores para este cenário:

• Participação das importações e exportações brasileiras no comércio mundial


• Crescimento do PIB nacional X Crescimento da Riqueza Mundial
• Valor agregado das exportações brasileiras X Valor agregado dos produtos
exportados pelos demais países
• Distribuição da renda nacional (como medida de avaliação do mercado consumidor
nacional)
• Participação do PIB gerado pelo Estado em relação ao PIB total
• Evolução do volume de recursos gastos em programas assistencialistas
• Distribuição do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)

Pode-se notar que há vários indicadores que comparam a economia nacional à mundial.
Isso se deve à susceptibilidade interna em relação ao ambiente externo verificada nesse
cenário.

II - Cenário Darth Vader:


Alberto Maier , André Brito e Radha Krishna Juggapah

Grau de Internacionalização(A): 20 (nível pré-Collor)


Integração Social: 10
Estado Forte versus Sociedade Civil Forte: 90 (estado muito forte)

12
Pierre J. Ehrlich - Dinâmica de Sistemas na Gestão Empresarial

Cenário

O mundo tem passado por uma profunda crise devido ao aumento nos preços de
commodities e o crescimento econômico acelerado da China. O aumento na diferença de
custos entre o país asiático e outras nações em desenvolvimento leva a uma corrida pela
criação blocos econômicos que restringem enormemente o intercâmbio entre países não
membros. A OMC não consegue valer seus acordos iniciais e, na prática, não tem mais
força para impor decisões.
Adicionalmente, há um fortalecimento nas últimas duas décadas de líderes populistas
que, utilizando a bandeira do patriotismo/socialismo, tem incentivado em muitos países, a
nacionalização de algumas indústrias consideradas estratégicas para seus povos.
Na prática, criam-se três grandes blocos. O primeiro é formado pelos EUA, União
Européia, Chile, Japão, China, Arábia Saudita e Índia (EUA, EU e Japão são os
consumidores e detentores de capital, outros são fonte mão de obra ou energia barata). O
segundo, formado por Rússia, Brasil, Venezuela, Irã e alguns países do Leste Europeu
(países com similaridades ideológicas e controle sobre suas indústrias). O terceiro é
formado pelos excluídos, aqueles que não entraram em nenhum dos dois outros blocos
(por divergências internas ou por não haverem vantagens em se unir ao 1º ou 2º bloco).
O Brasil, ao participar do segundo bloco, tem suas exportações de produtos de maior
valor agregado fortemente reduzidas. Em contrapartida, suas commodities
(principalmente grãos) tem sua participação aumentada no PIB nacional. O país, na
prática, torna-se a “fazenda e latifúndio” do bloco. Com base no conceito de proteger o
país do sucateamento proposital de suas indústrias por parte do bloco de direita, o
governo brasileiro inicia um processo de nacionalização de várias indústrias (energia,
telecomunicações, serviços financeiros).. O PIB do país permanecesse mais ou menos
constante (após um período de forte queda no período de 2009 e 2013) porém a renda per
capita nacional continua caindo. O governo apóia-se principalmente nos grandes
produtores de grãos que detêm o poder político e econômico no país. Restrições nas
informações divulgadas pela imprensa são consideradas comuns.

Indicadores de Mudança:

(1) Desenvolvimento político: medidas protecionistas, estreitamento de relações com


outros países em desenvolvimento com ideologias consideradas de esquerda (relação
política principalmente, não econômica). (2) Fortalecimento dos Ministérios de
Comunicação, Minas e Energia, Planejamento e Agricultura. Enfraquecimento do Banco
Central. Eliminação das agências reguladoras (incorporadas aos ministérios). (3) Criação
de blocos político/econômicos. (4) Enfraquecimento da OMC e ONU. (5) Queda no
comércio internacional.

13
Capítulo 7: Dinâmica de Sistemas e Cenários

III - Cenário Turbinado


Sergio Mathias, Luis Felipe West Offa e Pablo Ibanez

O Cenário Turbinado se caracterizaria pelo maior grau de abertura internacional entre os


cenários estudados. A questão da integração social, embora ainda pequena também é a
maior entre os cenários propostos. Já com relação ao grau de força do Estado, o cenário
apresenta um menor grau de força, ou seja, o tamanho da máquina administrativa é o
menor dos cenários propostos.

Dentro desse contexto, os principais aspectos que caracterizariam o Brasil no período dos
próximos 20 anos seriam:

• Credibilidade sustentável, altos níveis de investimentos externos e maior inserção


no mercado internacional no longo prazo;
• Patamares de credibilidade que permitam atrair a confiança de empresas e
investimentos, sedimentando o processo democrático no país e criando um
ambiente estável;
• Crescimento sustentável com ganhos de produtividade e mercado consumidor,
maior nível educacional e melhor distribuição de renda;
• Aumento da poupança privada para novos investimentos;
• Alto grau de transparência das políticas públicas;
• Equalização da questão tributária e arrecadatória do governo;
• Aumento do trabalho formal e aumento da renda do trabalhador assalariado.

Os pré-requisitos para que esse cenário se concretize no período de 20 anos seriam:

• Uma agenda para reavaliação do sistema jurídico nacional, incluindo o sistema


legal e a reavaliação da estrutura dos tribunais e os seus processos, com o objetivo
de atingir uma maior segurança dos contratos.
• Fortalecimento das instituições políticas, dentro das suas alçadas de competências,
através do aumento de suas autonomias.
• Plano de investimento de longo prazo que busque reduzir a polarização social,
através da gradativa melhora na distribuição de renda e investimentos em
educação.
• Redução e melhoria dos gastos públicos em todas as esferas administrativas para
aliviar a política de arrecadação fiscal;
• Melhorar o grau de transparência das políticas monetárias, fiscal e cambial com
propostas mais claras (nexo de causalidade) para as metas apresentadas;
• Reforma Tributária;
• Reforma Trabalhista.

É fato que o alcance do cenário discutido depende da capacidade de mudança de algumas


estruturas políticas e econômicas. Uma questão sensível para o desenvolvimento do país,

14
Pierre J. Ehrlich - Dinâmica de Sistemas na Gestão Empresarial

se refere à melhoria na segurança dos contratos, que pode representar um avanço para a
credibilidade nas relações comerciais. Isto significaria uma maior inserção no mercado
internacional de forma sustentável, atraindo mais investimentos externos e favorecendo o
fortalecimento do mercado interno e a modernização da indústria local. Nesse sentido, é
plausível admitirmos que o aumento da competição pela maior inserção e a modernização
do parque industrial pelo aumento dos investimentos, permitiria ao país ganhos de
produtividade sustentáveis e aumento da poupança interna.

O fortalecimento das instituições políticas possui um papel fundamental para a redução


da volatilidade dos mercados e aumento da visibilidade das estratégias políticas, na
verdade um aspecto decorre do outro. Na medida em que as instituições políticas dentro
de cada esfera de poder (executivo, judiciário e legislativo) possuem a capacidade de se
autodeterminarem, dentro das suas alçadas de competências, elas mantêm o vinculo de
subordinação, mas com plena autonomia sobre o mérito da sua competência. Essa
configuração permite à sociedade em especial aos investidores em geral a redução das
incertezas sobre as regras. Dessa forma, a maior visibilidade sobre as regras e a segurança
do seu cumprimento (segurança dos contratos) abre caminho para ganho de credibilidade,
redução do risco e queda da volatilidade da economia.

A polarização social, sob seus mais diversos aspectos (distribuição de renda, educação,
região e política) representa um entrave ao desenvolvimento econômico e social de uma
nação. Nesse contexto, uma política desenvolvimentista de longo prazo com
investimentos dirigidos para a redução das desigualdades, contribuiria significativamente
para a melhoria na qualificação da mão-de-obra, para o crescimento do mercado
consumidor, para a consolidação do regime democrático e para a melhorias das condições
sociais, como saúde e segurança.

No cenário discutido, o Brasil também teria sido capaz de nos próximos 20 anos ter
realizado uma reforma tributária capaz de proporcionar a simplificação do complexo
sistema de tributação hoje existente no país e redução da carga tributária sobre a
sociedade civil, que atualmente está em cerca de 40% do Produto Interno Bruto (PIB).
Essa redução e simplificação do sistema tributário faria também com que a questão da
sonegação diminuísse e conseqüentemente aumentasse a arrecadação do governo em
todas as esferas administrativas. Com isso teríamos um sistema mais simples e justo, que
traria benefícios tanto para os empresários e sociedade civil como também funcionaria
como um fator de atração de investimentos externos face a maior abertura econômica
proposta no cenário em questão.

Essa reforma tributária também deveria ser acompanhada de uma racionalização dos
gastos públicos de forma que a população brasileira pudesse contar com melhores e mais
abrangentes serviços públicos, principalmente no que diz respeito as questões de saúde,
educação e moradia. Ou seja, teríamos um Estado menor, mas que proporcionasse
serviços públicos de qualidade à sociedade. Com isso teríamos melhoria nas condições de
vida das pessoas e teríamos indivíduos mais preparadas para as novas oportunidades
presentes no mercado de trabalho, que se ampliaria num cenário de maiores
investimentos internos e externos.

15
Capítulo 7: Dinâmica de Sistemas e Cenários

Além da Reforma Tributária também se faz necessária uma Reforma Trabalhista que
permitisse uma desoneração dos encargos incidentes sobre o trabalho assalariado, de
forma a permitir um aumento do trabalho formal e um aumento da renda do trabalhador
assalariado brasileiro.

Um outro fator característico do cenário proposto seria o maior grau de transparência das
políticas fiscal, monetária e cambial do governo federal. Atualmente já vemos algumas
ações embrionárias a respeito de uma maior governança por parte do governo federal e do
Banco Central. As decisões com relação à questão da taxa de juros (SELIC) estão
disponíveis à sociedade através da publicação das atas do Comitê de Política Monetária
(COPOM) no site do Banco Central. Também vemos algumas ações do governo em
disponibilizar uma prestação de contas dos gastos em seus sites na Internet. São ações
isoladas, mas que já demonstram uma intenção de tornar transparentes as políticas do
governo. No cenário proposto vemos uma ampliação de ações desse tipo e uma
consolidação desse tipo de ação por parte de todas as esferas administrativas.

Trata-se de um cenário animador que representaria uma oportunidade de negócio para


vários segmentos da indústria e do mercado de serviços. Para um dos alunos que trabalha
no mercado bancário, esse cenário permitiria uma maior inclusão social, um aumento do
emprego formal e um aumento da renda que permitiria uma ampliação da carteira de
crédito do banco. Dessa maneira poderíamos dar acesso ao crédito para uma faixa da
população brasileira que atualmente se encontra fora desse segmento do mercado.

IV – CENÁRIO NACIONALISTA:
Carlos Iwata Marinelli e Guilherme Francis Fagundes Sortino

“PRINCIPAIS INDICADORES DE MUDANÇAS”

• ELEVAÇÃO DO NÍVEL MÉDIO DE EDUCAÇÃO


• NÍVEL DE GASTOS/DÉFICIT PÚBLICO
• DETERIORAÇÃO DAS CONTAS EXTERNAS
• ELEVAÇÃO DAS TAXAS DE JUROS
• DETERIORAÇÃO DAS CONTAS INTERNAS
• INDISPOSIÇÃO PARA INVESTIMENTOS DIRETOS
• AUMENTO DA CARGA TRIBUTÁRIA

A evolução do cenário inicial para o cenário final revela uma crença no fato de
que mais gastos sociais levam a inserção social (o que é questionável).
Entretanto, supondo que isto seja possível, os procedimentos que levam a este
cenário partem das políticas públicas com vistas à distribuição de renda através de
serviços públicos adicionais.

16
Pierre J. Ehrlich - Dinâmica de Sistemas na Gestão Empresarial

Por exemplo, supondo que os gastos públicos sejam feitos com responsabilidade,
não havendo desvios ou corrupção, o Estado poderia ampliar sua participação em
políticas educacionais, elevando os gastos públicos para promover a formação de pessoas
nas várias partes do país.
Este procedimento faz parte do ideário do partido atualmente no poder (o PT),
porém, seguramente, muitos políticos, inclusive de outros partidos estariam dispostos a
tomar atitudes como esta se tivessem certeza dos resultados e se pudessem colher frutos
eleitorais dessa decisão.
O problema é que políticas públicas dessa natureza são de longo prazo,
requerendo quase que uma geração para apresentar resultados.
Isto significa que a ampliação do papel do Estado iria crescendo sistematicamente,
ano a ano, com programas sociais efetivos, onde os resultados em termos de inserção
pudessem ser medidos objetivamente.
A transição ocorreria de forma linear, sem contratempos ou desvios.
Este cenário, ao se configurar, seguramente implicaria em maior papel do Estado,
mas não necessariamente muito diferente do de hoje, embora tenhamos asseverado a
passagem da “força condutora” C para 90.
Há, entretanto, que se examinar o que vai ocorrer com outras variáveis
importantes (indicadores de mudança) associadas ao aumento de gastos públicos, mesmo
considerando os aspectos positivos gerados pelo bom cenário educacional e inclusivo
apresentado.
Embora seja observado o ganho com ELEVAÇÃO DO NÍVEL MÉDIO DE
EDUCAÇÃO, na prática não se pode desconsiderar a hipótese de que o NÍVEL DE
GASTOS/DÉFICIT PÚBLICO será profundamente alterado em relação ao que vigora
hoje em dia, com um potencial elevado de DETERIORAÇÃO DAS CONTAS
EXTERNAS, elevando a dependência do país da geração de recursos extras ou
adicionais, sobretudo proveniente do exterior (dado o esgotamento das fontes internas
pela explosão do “crowding out”), exigindo, seguramente, a ELEVAÇÃO DAS TAXAS
DE JUROS para patamares superiores aos atuais.
Neste cenário de política monetária apertada, a conseqüência natural, sobretudo
pela incapacidade de arrecadação que se altera lentamente, seria a DETERIORAÇÃO

17
Capítulo 7: Dinâmica de Sistemas e Cenários

DAS CONTAS INTERNAS, promovendo mais endividamento e elevando a


desconfiança dos credores internos e externos.
Uma clara INDISPOSIÇÃO PARA INVESTIMENTOS DIRETOS seguramente
seria sentida nesta ocasião, em especial se os demais países do mundo estiverem
transitando cada vez mais para uma economia aberta, de base privada e de pouca
intervenção estatal.
O resultado final poderia ser um país mais isolado, mais pobre, com alguma
elevação do nível de educação da população mais pobre (como em Cuba), porém com
desempenho econômico que poderia comprometer este quadro ainda mais.
Esta análise não quer dizer que não se deva fazer mais inclusão social, apenas que
o caminho de maior estatização pode representar mais gastos públicos, comprometendo a
política fiscal, eventualmente inviabilizando o ciclo de crescimento requerido para que
este cenário possa se concretizar.
Podemos também considerar que a evolução para o cenário final se deu com as
seguintes características:
Grau de Internacionalização:
- Brasil consegue manter suas exportações, com superávites variáveis da balança
comercial dentro de um modelo que privilegia a indústria nacional principalmente em
setores de alta geração de emprego;
- O mercado nacional continuará fechado com altas taxas de importação para bens
de consumo e indústrias pouco desenvolvidas no mercado nacional;
- Permanecem as concessões de privilégios para indústrias de base sem
competitividade internacional (exemplo dos estaleiros) e outros grupos que se fazem
próximos dos círculos do poder;
- Quebra de patentes em setores relacionados à tecnologia cria barreiras
comerciais para os produtos brasileiros em mercados externos (retaliação contra as
políticas de quebra de patentes do Brasil, dificulta a inserção internacional);
- Aumento (abaixo do seu potencial) da participação da agricultura como
importante fonte das exportações brasileiras (incompatibilidade entre o modelo de
agronegócio e movimentos políticos revolucionários como o MST, estes por crescerem

18
Pierre J. Ehrlich - Dinâmica de Sistemas na Gestão Empresarial

prejudicam a imagem do país e dificultam investimentos importantes para melhoria da


produtividade no campo);
- Privilégios de integração dado para países não desenvolvidos como países da
África e América Latina (Mercosul) sem grandes vantagens para o país, resultando num
gasto de energia maior e desproporcional aos retornos disponíveis.
- O nível de Internacionalização do Brasil se mantém ou mais provavelmente cai
neste horizonte de 20 anos, com os principais mercados mundiais e se reforça com
mercados incipientes, ou seja, no geral cai dos níveis atuais.
Integração Social:
- O crescimento das políticas assistencialistas geram aumento dos gastos do
governo sem efetividade de longo prazo ou retornos concretos para a sociedade (fome
zero);
- Aumento dos gastos com pessoal em setores como saúde e educação em vistas
de uma política de valorização do serviço público não trazem aumento de produtividade e
efetividade dos gastos e aumentam os gastos com funcionários inativos;
- Negação de cancelamento de privilégios para funcionários públicos inativos
aumenta os gastos do governo e retira capacidade de oferta de melhores condições para as
aposentadorias do setor privado;
- Aumento das desigualdades, piora da qualidade dos serviços públicos e
empobrecimento geral da população.
Surge uma elite muito forte e ligada a estrutura da maquina do governo, a classe
média é reduzida e aumenta muito a camada mais pobre da população.
Estado Forte vs Sociedade Civil Forte
- A participação do estado cresce à medida que o seu nível de intervencionismo
em instituições públicas se fortalece e a política de privatizações e concessões públicas
deixa de ser utilizada, ou acaba revertida, com a estatização de algumas atividades e
setores com o Estado fazendo intervenções crescentes também em instituições
normalmente reguladas pelas leis de mercado;
- A burocracia cresce em todos os níveis e a eficiência do estado se degrada como
um todo, o funcionalismo é fortemente agregado, politizado se organiza e consome
recursos de forma crescente.

19
Capítulo 7: Dinâmica de Sistemas e Cenários

- O ambiente da sociedade civil se degrada com o crescimento da corrupção e o


afastamento de novos investimentos da iniciativa privada devido ao alto grau de
intervencionismo do estado.
- Em palavras finais, mantidas as condições de contorno atuais e fazendo a sua
projeção no tempo, estamos avançando para o Norte: mas na trajetória de Cuba e não na
dos países centrais e desenvolvidos.
As implicações deste cenário para nossas organizações são as seguintes:
Empresas Automotivas – Foco em produtos de baixo custo para desenvolvimento
e produção locais. Nicho de luxo atendido a partir do exterior (Importado) Carros médios,
diminuem sua presença no mercado na mesma proporção do encolhimento da classe
média.
Empresas do setor de Saúde – Atendimento de alto nível permanece, com número
restrito de clientes, atendimentos de baixo custo, em grande escala, através de convênios
baratos, e sem afastar o risco de estatização para este tipo de serviço.
Este é um cenário que o ambiente político atual, através da democracia e a natural
alternância do poder provavelmente prevenirão a sua realização, porém através da
ditadura ou do populismo, ele poderia se tornar realidade.

7.6.6 - Conclusões

Bastaram duas reuniões de três horas cada para o projeto todo. De fato os
participantes se envolveram muito. Eles já tinham maturidade e experiências
suficientes para uma participação conseqüente. Por outro lado eles eram
suficientemente jovens para se enxergarem em atividade profissional dentro de
vinte anos.

A disciplina dentro da qual o experimento foi desenvolvido, como um todo


trata de Pensamento Sistêmico e Dinâmica de Sistemas; o que certamente é uma
boa preparação. Quanto a cenários, os participantes se iniciaram por leituras e
algumas discussões. Na primeira reunião chegaram à estruturação dos cenários. De
uma semana para outra os “padrinhos” se reuniram para o detalhamento do seu
respectivo cenário. A apresentação dos cenários, assim como as análises das
implicações tomou apenas mais três horas.
Seguimos o roteiro apresentado na literatura e obtivemos a mesma eficiência

20
Pierre J. Ehrlich - Dinâmica de Sistemas na Gestão Empresarial

7.6.7 - Bibliografia

Global Business Network – Empresa de Peter Schwartz; acessado 2005


http://www.gbn.com/

Heijden, Kees van der - Scenarios, the art of strategic conversation; John Wiley, 1996

Holstius, K. & Malaska, P. – Advanced Strategic Thinking: Visionary Management; 2004


www.tukkk.fi/

Khan, H. & Wiener, A. – The Year 2000: A Framework for Speculation on the next
Thirty-Three Years; The Macmillan Co., 1967

Liam, F. & Randall, R. - Learning from the Future; John Wiley, 1998

Rattner, H - Brasil 1990, Caminhos Alternativos do Desenvolvimento; Editora


Brasiliense, 1979

Rosnay, Joël de – Crossroads to the Future, acessado 2005


csiweb2.cite-sciences.fr/derosnay/english/link.html

Schwartz, P. – The Art of the Long View: Planning for the Future in an Uncertain World;
Doubleday, 1991.

21

Potrebbero piacerti anche