-tí-y 1T) l{ Ltìrr'ìrrrr-')

-ir':ïì)i-. ì)Í:; r(\üUi?,1\, r\ t-. Í1 Êl [t-!{\i, /\

t: i'! jii:tlÈ!r-:
( r, r tí ( /\_tl rrl\| (
l'ltlr!.1,!Ë , !:!-:\-, [ Â íiÌ-;-\ L"-t1 fr'-11,]-

Ê.:i ' ï; L\ I.íLoLL_Ar"r,lt 1 .1 du)1.,

{ irq'cs., /trì /. "rÇ, )

.,i i.ì
''-'i I Í
ri ' -1" ,Í
[. [. .L l,
-,i ì ':]
tJi

Comn frl*4,abkí^a/ at
l Mo
dn bebê ruróLí,u kueçuÁn ?
 -"''r*.
'
.,
rliú,;,,.,. l

l'
'1''
'
As concepções damente do recém-nascido têmva-
riado na filosofia e na psicologia. Essa é uma área em
que não há ainda consenso, mas algumas idéias têm
sido cada vezmais aceitas.Antes defalardelas, vamos
falar um pouco do cérebro, porque/ ao contrário do
que muitos (leigos e cientistas) aindapensam, cérebro
e rnente não são cluas coisas separadas e/ou indepen-
dentes. Considerá-los dessa forma é uma visão
"dualista" e que envolve a concepção do "Íantasma na
máquina"26. O cérebro, o corpo em geral, seria a má-
qtrin4 governada por uma mente incorpórea, o "fan-
tasma", algo que não vemos27. Hoje essa concepção
vem sendo seriamente questionada e temos evidências
de que nossa vida mental é inseparável dos aconteci-
rnentos fisiológicos dos tecidos nervosos do cérebro.

O estudo do cérebro humanq de seu funcionamen-

to e desenvolvimento, tem apresentado muitos avan-
ços recenternente, Ele é feito pela neurociência. Assim

51
 Bmts: ctlìr.tctrr PrrR coNl tEcutÌ, p^tì^ culD^R
^tìETo
como em outras ciências, esta depende de ferramen-
tas. Aigumas.muito poderosas têm sido desenvolvidas
para permitir o estudo de cérebros funcionando de for-
ma globaf e não só a análise de tecidos de cérebros de
pessoas já mortas.Aatividade elébica do cérebro é ana-
lisada externarnente por meio de aparatos instalaclos
no couro cabeludo (uma espécie de touca com grande
quantidade de eletrodos, que pode ser colocada na
cabecirúa do bebê e que permite acompanhar o que
acontece quando ele realizavárias atividades)28 oupela
medida da atividade do cérebro quando ele queima
glicose. Há técnicas mais invasivas, em que glicose ra-
dioativa é injetada no cérebro, usaclas para diagnósti-
co de tumores e para verificar a necessidade de cirur-
gia. Outras acornpanham a atividade cerebral pelo
gasto de glicose, mas não envolvem injeções e podem
ser usadas para pesquisas com crianças pequenas.
O cérebro humano começa a se formar clurante a
gestação e não está completo ou pronto no nascimen-
to. O cérebro do recérn-nascido aindaestá se desenvol-
venclo. Ele tem mais ou menos um quarto do tamarúo
do cérebro adulto, e no primeiro ano vai triplicar, qua-
se atingindosua dimensão adulta. Nesse período mui-
ta coisa acontece.
O número de neurônios disponíveis no nascimento
é mais ou menos igual ao de um cérebro aclulto, em
tomo de 100 bilhõesze. Até 1998 pensava-se não havel
formação de céluias nervosas depois do nascimento,
ffi
MaRln Luctn Suul or Mounir E AontaNn Fpnnctne P,trs Rtras
ïi,
mas agora sabemos que há, embora amaior parte das
células já esteja a postos quando o bebê nasce. Elas vão
sofrer transfonnações e estabelecer comunicação umas
com as outras.
A maturação envolve o desenvolvimentodas célu-
las, a formação de sinapses e a mielinizaçáo, e ocorre
progressivamente, seguindo uma seqüência das par- iti
tes inferiores para superiores, da medula até o córtex.
Nonascimento a medulae o tronco cerebralestão quase
lr
totalmente desenvolvidos. Eles conholam a maioria das
funções vitais. Com isso, o bebê pode realizar suas ta-
reÍas básicas: sobreviver, crescer e vincular-se com seus
cuicladores. Aos pottcos outros centros amadurecem,
como o cerebelo, que controla os movimentos, o siste-
ma límbico, que controla a emoção e a memória, e o
córtex cerebral, que é a sede de nossa experiência cons-
ciente e habilidades racionais. Essa seqüência é pro-
gramada geneticamente, mas sua qualidade vai depen-
der do ambiente em que o bebê nasce e é cuidado. O
clesenvolvimento do cérebro vai depender da interação
constante entre predisposições e ambiente.
No processo de maturação, as células crescem e se
desenvolvem. Os neurônios expandem seus dendritos,
que são extensões lançadas paraf.azer conexões com
outros neurônios, por meio de seus axônios. O ponto
cle comunicação entre duas células nervosas é chama-
do de sinapse. Além do aumento dos dendritos, eles
clesenvolvem minirramificações que vão aumentar as
 BEBÊs: clÈNcta r^R^ coNHtcE& AFETo pAn cutDAR
,, 'i, 'l
possibiliclades de comunicação. O córtex cerebral vai
triplicar sua espessura no primeiro ano, só pelo desen_
volvimento dos dendritos.
Além desse crescimento de dendritos e sinapses, há
urn processo crítico do desenvolvimento cerebral, que
é a mielinização. Esse processo é importante porque
toda a comunicação entre as células nervosas ocorre
pela transmissão de impulsos elétricos (pelo fluxo cle
elétrons e íons). Como os cabos elétr.icos, é importante
que os axônios, os quais estabelecem contato com os
dendritos, transmitam eficientemente os sinais. para
isso devem ser adequadamente isolados. Esse é o papel
da mielina, uma substância que serve para isolar os
axônios. Sem mielina há mais risco de interferência
nos sinais. Amielinização se dá na ordem de centros
mais primitivos'ou básicos, que controlam funções
vegetativas (antes do nascimento), para os mais com_
plexos, como o córtex.
Todos esses processos estão programados genetica-
rnente, mas dependem cla experiênci4 do ambiente,
do que ele vê, ouve, sente e percebe em geral. Essa ex-
periência não só põe emfuncionamento o que o cére-
bro pode f.azer, mas leva à fonnação de novas cone-
xões nervosas e dá a "forma final" ao cérebro e à estru-
tura da mente. Não só conexões nervosas são
estabelecidas, mas algumas ligações possíveis, embora
inúteis, sãocomo que desligadas, umaespécie depocla
do cérebro. Um exemplo disso éa capacidade dos be-
M..
Marua Lucra SrtoL oR Mouna g Aoruaul Funnrrna PaBs I{rnas
bês cle discriminar sons de vozes humanas. Um bebê
recém-nascido de qualquerpaís é capaz de distinguir
sons de qualquer lÍngua. Ele, no entantq nasce em urna
determinada comunidade de Íalantes. Oliver, oneti-
nho de Maria Lucia por exemplo, é filho de uma bra-
sileira e um inglês e vive em Londres. As línguas de
seus pais são o português e o inglês. Ele era capaz de
fazer as mesmas discriminações que umbebê chinês
recém-nascidq mas agor4 com clois ano$ "perdeu" essa
capacidade. Ela não era útil e seu cérebro pode ser mais
bemutilizado para outras coisas. As pesquisas quenos
mostraram isso são fascinantess. --
Conhecer o desenvolvimento cerebral fundamental é
para que façamos hipóteses sobre a arquitetura e o fun-
cionamento cla mente, e vice-versa. Apesquisadora con-
temporânea KarmiloÍf-Smith3r apresenta um modelo in-
teressante da mente humana. Ela afirma que obebê re-
cém-nascido tem várias predisposições, mas que isso não
elimina o papel ea importância dos ambientes físico e
social. É adepta da idéia de especializações, mas oê que
essa especializaçãq ou modula ruação,só ocorre com o
clesenvolvimento. Ou seja, apesar de conter predisposi-
ções específicas, a mente não é totalmente modular no
início, mas se toma assim com o desenvolvimento.
A plasticidade é a característica do desenvolvimento
inicial do cérebro. Com base nessa plasticidade, há espe-
cializações inatas, ou sej4 tendências especializadas para
hatar de domínios específicos, mas não uma total espe-
BsgÊs: crôÌ{crA f,^RA coNHEctiR, ÂFETo p RA curD^R
Mrrnta, Lucta Selol ou Mouna r ADnmrua Fennuna pers Rrsas

cialiaç5s. Com o tempo circuitos cerebmis são progres-

o ambiente fisico e sociocr-rltural. Isso envolve a tendên-
sivamente selecionados para computa$es diferentes, do-
cia de que o bebê preste atenção mais a certos tipos de
mínio-específicas. As predisposições inatas vão interagir
estímulo do que a outros e um certo número de predis-
com o tipo de estímulo proporcionado pelo arnbiente.
posições básicas que impõem limites ao processamento
desses estímulos.
O cérebro não é estruturado previamente com re-
presentações já prontas, então uma construção vai se
O conhecimento armazenado na mente do bebê
dar a partir da organização que ele apresentano nas-
toma duas direções. Uma parte toma-se cadavezmais
cimento clo bebê, incluindo predisposições para tratar
especializada e não-consciente, e outra cada vez mais
de certos estímulos e não de outros preferencialmente,
acessível. Amente explora internamente a inÍormação
como veremos no próximo capíhrlo. Essas predisposi-
que tem armazenada (tanto inata como adquirida)
ções fazem com que o bebê não seja um indefeso alvo redescrevendo suas representações, ou seja, reorgani-
de umbombardeio de estímulos. Suamente percebe o
zando-a de maneiras diferentes. Além disso, há mu-
mundo de forma organizada e não caótica por causa danças que envolvem a construçãoconsciente e explo-
clesse conjunto de preclisposições especializadas. Elas
ração cle analogias, experimentos mentais e reais, em
limitam a g;una de hipóteses a seïem consideradas, ao fases posteriores à dobebê, é claro.
permitir que obebê aceite apenas como estímulo inici-
almente dados que possa ser capaz de computar de
Essas idéias de que amente dobebê tempredisposi-
forma específica. Apartir clesses limites impostos por
ções à especialização são aceitas por muitos, mas nem
urna base inat4 o desenvolvimento se clá por um pro-
todos concordam. Dois autores que tentamentender a
cesso de transformações que a autora chama de mente humana e seu desenvolvimento, M. Tomasello32
redescrição representacional.
e K. Nelson33, pensam na mente do recém-nascido, e
na mente humana, como regida por princípios e pro-
As predisposições inatas são de dois tipos: específi-
cessos gerais, e não por domínios especificados. para
cas e não-específicas. Podem ser especificadas em de-
Tomasello, somos sociais desde o começo, mas vários
talhe ou dar apenas a direção geral. Quando especifi-
animais tarnbém o são. A característica da mente hu-
cadas de forma detalhada, os estímulos do ambiente
mana que a distingue da deoutras espécies é a capaci-
sãoapenas disparadores doprocesso. No segundo caso,
dade, que emerge aos nove meses de idade, de ver seus
o ambienteinfluencia aestrutura subseqüente do cére-
co-específicos (os outros membros da espécie) como
bro mediante rica interação específica entre a mente e
seres que têm intenções.

57
 pAR coNl lvlAIìlA LUcIA Jlllljl- uÌ1 lvluul(A b fìIJKIANA r LKKLIIí\ f lìts5 l\lxA5
BEt]Írs: crÊNCíA ltìcuR, A[EtÌ) ÍìRA culDÀR llïl
lil

ffi
Outros autoress tambérn não desconsideram as evi- Iìeflgxo i.
Caracterlzacão
,, i, :.. .,.,,1ì
l, ,'lrr I ',

dências que serão apresentadasno próximo capítulo, li'l'

rnas pensam que são parte de características da mente Agarrar :. S. o adulto passar o dedo na palma tïit
da mão do recém-nascido, este irá Íechar
de primatas em geral. Essa mente é planejada para
extrair informação do ambiente agindo sobre ele ou
. amãoesegurarodedo. ìrtï

[il
observando-o. No caso humano/ esse conjunto de ca- Ìvloro Se o adulto, corn o bebê sobre as mãos,
ItÌ

racterísticas é apenas o ponto de partida para um fun- fizer um nrovitnento cle unta sttposta lïrfi

cionamenttt rttais Ílexível, embora organizado por elas. quecla, o bebê irá abrir: osbraços e as per- ïrl

O bebê hutnano constrói representações de seu mun- nas, arqlrear as costas e poderá chorar,

do com base em suas exPeriências. O conhecimento

Marcha Se o adulto segurar o bebê por baixo
derivado da experiência resulta da ação no mundo, mas
clos braços (axilas), deixanclo o corpiúo
tarnbém de disposiçõesbiológicas de organizar aex-
dele livre, e conì os pés tocando uma
periência de determinadas maneiras, das interações superfície, o bebê irá Íazer movimentos ['I
sociais e atividades e de arranjos culturais. de marcha, alternando os passos. ltil

As ações iniciais não são intencionais' Os bebês não Tônico-cervical Se o bebê estiver cleitaclo de barriga

as planejam ou têm consciência delas. São reflexos,
que por definição são respostas que o organismo clá
atrtomaticamente diante de alguns tipos de estimu-
lação. Ao nascer; o recém-nascido já rnostra um con-
junto de reÍlexos35.Por exemplo, cle sugar, engolir e o
de rotação (tarnbém chamado de reflexo de procurar
o peito), que são rnuito importantes para a sobrevi-
vência do bebê humano. Como dissemos, mesmo pre-
sentes no nascimento, passarão por um processo de
aperfeiçoamento.
Além desses reflexos, outro conjunto de respostas
reÍlexas encontrado no recém-nascido. A tabela a se-
é objeto com uma das rnãos, não precisando usar a ou-
guir ilustra algumas delas.
para cima e o act"rlto viraÍ a cabeça dele
para um laclo, ele mostrará o seguittte
padr:ão: arqueaÍ o corpopara o lado cou-
tr'ário clo rosto c estenclcr o braço do tnes-
mo laclo pala o qual o r:osto está virado'
Os reÍlexos que são controlados por partes mais pri- illì'
mitivas clo cérebro tendem a desaparecer ao longo do lilt
primeiro ano cle vida à medida que o córtex se desen-
volve. Mas toclos têm importância para desenvolvimen-
tos fufuros. Veja os exemplos: o reflexo tônico-cervical lr{
lli
será útil no futuro para ajudar o bebê a seguraÍ um lllli
llr:
tra mão. O reflexo de marcha pocle estar ligado à ca-
liiii

llrï

\trubr lïi
, BuuÊs: ctâucrrr rAR^ coNH[,cnR, p lÌ culDAR Ivlnnrrr Luctn Snror- pr Mounn n Aomnun FrHnrrR^ PAFs RrB^s
^tjÍjro

pacidade posterior de andar. O reÍlexo de agarrar está isso põe mãe e pai na jogada. Vocês serão os grandes
ligado à capacidade posterior de segrrrar objetos. organizadores desses ambientes. Selecionarão os estí-
mulos a que expõem seusbebês e os ritmos a que essa
Além disso, os reflexos têm ainda importância por- exposição será sujeita.
que a verificação dessas capacidades inÍorma aos mé-
dicos as condições de desenvolvimento dobebÇ per-
rnitindo diagnóstico e intervenção precoce.

hrdependentemente dessas divergências ern relação

à especificidade de domínios e da arquitetura da men-
te, podemosbuscaitompreender o que as pesquisas
indicam ern termos de três grandes categorias cle ex-
periência infantil inicial: o self,objetos e pessoas. É só
um modo de organização, porque, na verdade, os três
aspectos estão relacionados de forma dinâmica.

E vocÊ coM TUDo rsso?

O quepensarsobre o que se aprendeuneste capítu-

lo? Em primeiro lugar, que os pesquisadores ainda não
sabem exatamente como a mente do bebê funciona.
I-Iá a idéia de que ele nasce com uma mente flexível,
mas preparada para processar certos estímulos por
predisposições especializadas, e que isso o protege cle
urn caos de estímulos abembardeá-lo. Há uma orga-
nização, desde o início, naquela cabecirüra cheirosa.
Outro aspecto é pensar que as predisposições genéti-
cas vão encontrarum ambiente físico e socialonde seu
bebêviveeque o desenvolvimento dele éproduto des-
sa troca e não é determinado por nada. Mais uma vea

61
 ,;lr'1,.:
,jlirt,irliiri
!

|I* cÌ
I 1 t" l-l
l:
li rÌ-.h
I l,,^,
-L

0 bejê rúm-luÃaÁ"o
oalffipuürcatudetq
 ''li,\1r,,,,,. ,
','
i,ìi.
r,:ri[;:i
ïi;i;d ;;i, I . .

''f1; r

,i ''
i:i.! ,!1

,
.,!r,ÌÌi
:

:ii',.,.
:l ' I,'1,r

- ir,tiri I I

,F.sse éum tema fascinante e sobre o qual ainda há

muitas idéias que não são apoiadas cientificamente.
Desde o século XIX, com autores como W. ]ames36,
muitos pensam que os bebês ao nascer experimentam
um estado confusional e fundido com a mãe e com o
mundo. Para W. James, os bebês recém-nascidos não
mostram nenhum sinal de serem capazes de discrimi-
nar estirnulação voltacla para o seu eu (selfl oupara o
que não é parte de seu eu (não-sef) A idéia era a de
fusão ou indiferenciação entrebebês e seu ambiente, e
de uma grande confusão mental. Da mesma form4
para vários autores psicanalistas, desde Freud, os be-
bês não se relacionam com o munclo a sua volta. São
autocentraclos e necessitarão passar porum processo
de separação e individuação (por exemplq M. Mahler).

Na verdacle, essas concepções são altamente espe-

culativag e nãobaseadas em evidências empíricas cle

65
,
 BDBÊs: ctÊNctA p^lt coNI{[cLR, pltrn culD^lì
^raro
pesquisas científicas. Corno vimog o conhecimento ci-
entífico provém do teste de idéias ou hipóteses que te-
mos. Nãobasta ter as idéias, é preciso testá-las. Para tes-
tar hipóteses sobre o desenvolvimento inicial, esfudos
empíicos podem ser realizados, e é o que tem ocorriclo
nas irltimas décadas. Esses eshrdos e seus resultados têm
levado a que se conclua que, desde o nascimentq o bebê
não se mosha confuso ou autista em seu colnportarnen-
tq mas tem capacidades perceptivas e de açãq desen-
volvendo já uma noção de seu corpo como separado do
ambiente em que está situado e que interage com ele.
Desse inodo, nunca vivencia um períoclo de total
indiÍerenciação eu-oufoo e é responsivo a eventos sociais
desde o início. Parece improvável? Vamos ver mais adi-
ante como os psicólogos dregaram aessa conclusão.
O psicanalista D. Stern3T consiclera que o bebê co-
meça a formar um senso de eu emergente apartir da
integração de suas experiências sensoriais, de interação
com os outros, seus estad<js intemos, suas ações, o que
lhe permite algum sentido de orgarrização. Os proces-
sosbásicos envolvidos na formação do senso de eu emer-
gente são: a percepção amodal e os afetos de vitalidade.
Oprimeiro atua capacitando obebê aintegrar as inÍor-
rnações recebiclas em uma modalidacle sensorial com
outra, por exemplo, inÍormações táteis e visuais. O se-
gundo capacita obebê a integrar suas experiências em
um contexto de afetividade.Integrando o que percebe
de diversas formas e envolvido em um contexto de
afetividade, o bebê organiza suas experiências. Sua
ffi
Mnntir Lucr,r Suor, or Moun.r u ADtÌl{614 lìgs1;ilp4 pers Rra,rs
mente permite isso, como discutimos no capít*lo anteri-
or. Organizando suas experiências, o bebê se percebe
como separado do mundo e dos outros.
Vamos apresentaragora algumas das evidências de
pesquisas feitas que levam ao fortalecirnento da hipó_
tese de que os bebês são ligados no ambiente desde
o
colneço e ganham consciência de seu corpo por per_
cepções amodais e multimodais.
Cr<ruNlaçÂo DA cArlEÇA IÌARA soNS
Atualmente esse já éum dos itens-padrãopara ava_
liação neurobiológic4 e a observação desse cõmporta_
mento é usada para clocumentar percepção auditiva
no desenvolvimento inicial. É possível que você tenha
observaclo isso em seu bebê, mas, contrariamente ao
que pensava Darwin, constata-se quebebês viram a
cabeçana direção de sons, e que esse comportamento
não é rígido ou automático. Assim, os psicólogos pen_
sam que, ao se orientarem sistematicamente para sons,
os bebês mostram que espaços corporais e auditivos
são mapeaclos e integrados em vez de desconexos.
'ï'HatnunNTo DE TNFORÌvÍAÇÕES
DÌ] DIJAS NIODAT,IDADES SENSORIA]S
Com um mês de vid4 os bebês demonstram pocler
transferir informação do toque para vi$o. Isso Íoi ob_
servado em experimento realizado por Meltzoff e
 t,At<A curuAl(
^Ì.htu
Ilortorç em 1 979, em que bebês chupavarn u rna chupeta
com urna superfície não-lisa e demorstravarn reconhecê-
la quando apresentada visualmente. Isso Íoi comprovado
em experirnento de laboratórioem que eram dadas aos
bebês drupetas ligadas a um computador que regish'a o
seu sugar. Com isso se pode saber se esse sugar é mais
fraco ou mais forte, se aumenta ou climinui. Foram da-
das chupetas lisas ou cheias c{e bolotas, sem os bebês
poderem ver o que estavam úupando. Depois eram
mostradas imagens dos dois tipos de drupetas, sern clei-
xar que as drupassern. Osbebêsolhavam mais para as
imagens das chupetas que haviam sugado.Isso pode
ter vários sentidos, mas os psicólogos interpretamesses
resultados como indicando que os bebês relacionam a
sensação da chupetanaboca com a visão clela.
Outro experimento interessante testou a integração
entrevisãoe som. Eram mostrados aosbebês clois úje-
tos quicando para cima e para baixo e era apresentada
uma gravação de um som (boing, boing, boúrg), num
determinadorihno, sincrônico ao quicar de umdos ob-
jetos. Os bebês olham mais para o objeto que quica no
ritmo do som que ouvem. Eles combinam o que vêem e
o que ouvem (duas modalidades sensoriais).
IvnnçÃo INrcrAï. DII MOVIMUNToS
ruÃo-rrlsÍvnts
Os bebês nascem sabendo imitar movimentos que
vôem no rosto dos outros. Estuclos que vêm sendo rea-
'
rr,i"i
ri, i':,1:
Ìvlnnr.r Lucla Sr,rpl or Moun"r r AonrlNa Ftri.ntrna paus
Rrus
lizados há qr"rase vinte anos38 mostram imitação logo
após onascimento, imitação demovimentos faciais de
adultos. O bebê não vê seu próprio movimento, por
ser em seu rosto, mas, colocaclo no colo virado parâ o
rosto do pai, cla mãe ou mesmo do experimentador, é
capaz cle imitar movimentos como os de colocar a lín-
gua para fora (como uma careta), estender o lábio e
abrir a boca.
Nos primeiros estudos nos anos 1970, osbebês tes-
tados tirdram entre 12 e 2l dias, mas em pesquisas pos-
teriores, de 1983, os bebês testados tinham entre L hora
e 71 horas de vida. Os pesquisadores ficavam de plan-
tão, quase como obstetras. Os pais que haviam con-
cordaclo em participar cla pesquisa avisavam-lhes
quando estavam indo para o hospital. Isso era irnpor-
tante para testar se era runa capacidade realmente pre-
sente no nascimento.
A inteqpretação dessas evidências de imitação varia3e.
Uns acham que se trata de um comportamento auto-
rnático clos bebês. Os autores que fizeram as princi-
pais pesquisas não concordam. Para eles, os bebês já
são capazes de emparelharnento de informações que
percebem em duas modalidacles sensoriais, como fala-
mos. Nesse caso, o emparelhamento é entre visão e
propriocepção.
Pesquisas foram feitas, então, para mostraÍ que o
comportamento não era automático e verificar se be-
 UEBISI QENCI^ P^R^ CONtllrClilì, AllglO PARA CUID^R
M.lnrl Lucra Saror, ot Moun,t e Aonnrul Fenntrna pnrs Rrras

bês de seis semanas poderiam responder 24 horas de-

externa. Faz sentido, não é? Quando alguém toca em
pois cle terem visto o modelq ou sej4 se teriam capaci-
nosso ombro, por exemplq nos viramos para ver o que
dade de memória, Apesquisa utilizou procedimentos
é. Quando esbarramos sem querer o braço em nós rnes-
experimentais muito rigorosos. Enhe outros aspectos,
mos,não viramos para saber o que ocorreu. Distingui-
os pesquisaclores variararn omovimento a ser irnitado.
mos nosso próprio toque do de outra pessoa. Da mes-
Os resultados confirmaram a capacidade de imitação
ma Íorma, os pesquisadores pensam que isso indica
e slra presença depois do intervalo de 24 horas. Tais
qlle os bebês conseguem discriminar esses dois tipos
achados suscitaram um intenso debate e permitiram
cle estimulação. Se conseguem, não estão "fundidos"
que se especulasse sobreuma capacidade dobebê de
no outro (mãe, pai ou outro adulto que deles cuida).
organizar ações tendo como base representações ar'-
mazenadas de eventos ausentes. Alguns pesquisaclo-
IluEnnNCÌAÇÃo DE sEU coRpo
res pensam que isso mostra que os bebês representam
DO CORPO DO OUTRO
mentalmente coisa que vêem.

Ainda sobre essa diferenciação, observações muito

ExpnnrÊNcrn Do roeuË DUPLo
reveladoras e instigantes foram feitas de bebezinhas
siamesas presas pela superfície do ìentre, sem compar-
Os pesquisadores observararn a tendência dos bebês
tilhar nerüum órgãoal. Uma semana antes da separa-
a colocar a mão em contato com a boca e com a face
desde onascimento, emesmo desde a fase pré-natal (o ção, Íoram feitos estudos sobre a possibilidade de que
esses bebês diferenciassem o que era seu corpo e o que
que é observado em ultra-sonografias). Também perce-
era do outro. Imagine como isso é complicado, já que
beram que os bebês viram o rosto quando sua mão toca
os clois corpos estão efetivarnente ligados.
ou são tocados no canto da boca. Ficaram curiosos corn
isso. Será qtre faz diferença para o bebê seu toque do de
Os pesquisadores observaram que as bebezinhas
outra pessoa? Para tentar esclarecer isso, fez-se um ex-
chupavam tanto seus próprios dedinhos como os da
perimentoao e veriÍicararn-se diferençasna resposta em
outra. Faziam, então, uma coisa simples: removiam
situações de estimulação extema (pelos experimen-
delicadamente o dedo dabocanos dois casos. Senão
tadores) e auto-estimulação (casual).
houvesse diferenciação entre seus corpos, as respostas
deveriam ser as mesmas, não acha? Não foi isso que
Bebês com menos deum dia de nascido apresenta-
aconteceu. As respostas foram diferentes. No caso de
vam três vezes mais respostas no caso cle estimulação
seu próprio dedo, as nenéns faziam movimentos com

7'l
fütíFdf #{
 IJliBLs: ctÊNch p nÁ colluEcnR, o rARA culDAR
^trrt
amão/ resistindo e levando-a à boca novamente. No
caso do dedo da outra, a que estava chupando incli-
nava a cabeça para frente na direção do dedo.
ï.)ossÍvrrs DITERMTNANTES DA TnNDÊwcrn
DO IìECÉI\4.NASCIDO DE LEVAI{ SUAS MÃOS
EM CONTATO COM SUA BOCA
Para Rochat e seus colaboradores,u algumashoras
depois do nascimentq os recérn-nascidos não colocam
suas mãos na boca por acidente. Condições particula-
res parecem controlar e predizer tal comportamento.
A colocação de uma solução doce na língua dos bebês
com uma seringa acarreta a intensificação do com-
portamento de levar a mão à boca -bebês parecem
calmos e levam de Íorma suave uma ou as duas mãos
à boca, enfiando nela os dedos para chupar. Quando
a mão está ainda sendo levada à boca, ela abre, em
antecipação do contato. Os autores interpretam essas
observações dizendo que a coordenação mão-boca
que começa a se desenvolver no útero é evidente no
nascimento. Além disso, parece parte de um sistema
complexo de ações que podern ser controladas por
estimulação específica.
DmrnnrucmÇÃo r nncuraÇÃo wo sucnR
Sugar é algo que os bebês sabem fazer bem desde
que nascem. Desde a década de 1980 estudos são fei-
tos sobre o ato de sugar chupetasa3. Foram observados
i*! l.ii,*liiul.;
ÌvÍanr,r Lucte SEIoL oe MouRn e Aonrrrrua FEnnnrn,r. Pnrs Rrus
padrões não-rítmicos e desorganizados que aumen-
tavam em função da excentricidade da úupeta, dife-
rentes dos padrões usados para o sugar nutritivo (do
bico de mamadeiras). Isso foi interpretado como indi-
cando que os bebês usam um padrão diÍerente cle res-
posta oral para aprender sobre objetos do mundo.
Bebês recém-nasciclos mostram também capacida-
de de regular seu sugar para ouvir a voz de sua mãe
em vez da voz de uma estranha assim como para veÍ
a face de sua mãe aparecer em uma tela.
Ev sÍNrusu
Esses estudos são apenas alguns exemplos. Pare-
cem apoiar a hipótese de que o bebê ao nascer já dis-
crimina o que faz parte de seu corpo e o que não faz.
Assim, o bebê parece ter um sef inicial, que é deter-
minado por sua capacidade de percepção direta e
integração de diversas modalidades. Desse modo, o
conhecimento de sinão se inicia com o estado cle con-
fusão suposto desde o filósofo W. James.
E vocÊ coM TUDo rsso?
O que pensar sobre o que você aprendeu neste ca-
pítulo? Talvez algo que você já sabe intuitivamente:
seu bebê é urna pessoa única e, apesar de ligado a
você por forte vínculo afetivo, é alguém separaclo de
você, que já se percebe assim. Com as capacidades
 que tem ao nascer,ele
é capaz dessa percepção, "ll,i
vai passar toda a mas
a.râr,u.ì;eïil comopes-
soa. É uma "iau
aventur;;;;ï."^'l:']:"-se
Lra matavilhosa
processo. acornpanhur lrru

'
'iÌl:"
I ;,ii, ,

'.
,l'
:r..,i,lrlii l:,ir,l 'I,r.,.,il,.'
,:,1i.1 . ,,.
;f{1
,i:: . l
,

., l',r i

'
.,:: ,r
"
...1 ,t,:
,.,,r'1" ' '
lrr i Í',r,1 l
1it",1 '

ltil
tii

Ç- í:ì ï"ì í t ïr I * f.;ï

0 bebê rúm-ft^MaÁ^o
e 0S Otttl,OS
74
ffi
 'i1.;' ;,; , , ,ìl ,rr,;
"'
't'di,;,i,'t''

r'il

l:',1

Iilrr
:,, ll ,

,Os bebês têm as características da espécie de serem

sociais necessitarem se vincular afetivamente. Quando
e
i,1 rÌascem/ parecem predispostos a responder seletivamente
',,.',
I tl I
aeventos sociaisaa e apresentam uma motivação básica
para se relacionar com pessoas. Eles parecem vir equipa-
dos para interessar-se por elas e começar a conhecê-las.
Essabagagem indui dados de represerrtação de seus com-
parúreiros de espécie que são usados no processamento
das informações que recebem sensoriakhente.

Os recém-nascidos apresentamum conjunto cle ca-

racterísticas que os capacitam para os primeiros conta-
tos e trocas com os membros da cultura, inicialmente
representados, sobretudo, por sua mãe. Como é isso?
Vamos ver a seguir.

PRut'riRÊNCIA pEr.A voz I{uMANA E

CAPACIDADE PAIÌA ï'RA'TAMENTO DA FALA

O munclo é cheio de sons. Exper.imente fechar os

olhos e prestar atenção. Como você já aprendeu a reco-
nhecer vários desses sons, mesmo de olhos fechaclos é
 bEtlrrs: ctSNCtA pAR^ CONt.ilìC8R, pARA CUTDAR
^t;0IO
capazde clistinguir o som da serra elétrica da obra ao
lado de sua cas4 o barulho do tráfego na rua, o passa-
rinho que canta na árvore em frente, sua mãe falando
na cozinha e o úoro de seu bebô entre outros. O bebê
recém-nascido ouve fudo isso. Aliás, ouve muita coisa
desde antes de nascer. No entanto/ nem todos os sons
têm a mesma importâneia para ele. Faz parte de sua
bagagem genética ter preferências.
O sistema auditivo do bebê parece pré-adaptaclo
para tratar avozhumana. Ele distingue as vozes hu-
manas de outros sonsi preferindo ouvi-las. No conjun-
to de sons que mencionamos, seubebê preferiria ouvir
avezcle sua avó a ouvir os outros ruídos. Não é só isso.
Entre as vozes humanas (da vovó, do papai, de uma
amiga da mamãe ou do jomaleiro) clemonstra prefe-
rência por vozes femininasas. Com rnenos de sete dias
de iclacle já revela a capacidade cle discrimina r a voz
cla rnãe cla de outra mulher e preferir a primeiraa6.
Para clescobrir isso foi feito um experirnento, Nele
se usoLl o sugar do bebê em uma chupeta própria, li-
gacla a um computador, como resposta a ser observa-
cla. Foram eshrdaclos bebês com poucas horas de nas- i
ciclos. Quando os bebês sugavam, duas coisas podiam
acontecer: avoz de suas mães (lendo uma história de
um livro infantil) ou a voz de uma estranha eram
reproduzidas. O que os bebês Íaziam? Eles sugavam
mais quanclo sua atividade produzia a voz da mãe. Os
bebês dernonstraram discriminar os dois tipos de estí-:
78
l,á"üi'j'lii{di
Manrn Lucr,r Serol oe Mouna n AoRrala Furrr<lrrra pnss Rro^s
nrulos apresentados e preÍerir avozmaterna. Segun-
clo os autoresaT, essa capacidade pode ser importante
para o estabelecimento de vínculo com a mãe e demons-
tra que os bebês são sensíveis ao ritmo, à entonação, à
variação de freqüência e aos componentes fonéticos da
fal4 e têm competência auditiva apropriada para dis-
criminar entre falantes.
Além de suapreferênciaporvozes, em especial a de
suas mãeq os bebês recém-nascidos parecem apresen-
tar uma sensibilidade a propriedades da fala humana.
Desde quatro clias de idadg tem sido demonstrado que
osbebês são capazes de discriminar fonemas e perceber
sílabas bem-formadas como unidades; são sensíveis aos
ritmos da fala distinguindo sentenças cle línpras em que
essas propriedades ríhnicas são diÍerentes.
DrscnimN AÇÃo oLrrATlvA
Essa capacidade discriminativa se manifesta tam-
bérn no sistema olfativo. A partir de nove a dezsema-
nas aproximadamente depois da concepçãd, osbebês
inalam e exalam o líquido amniótico. Isso proporciona
ao feto experiências com odores, e o senso de olfato já
se mostra desenvolvido no nasúnento€, Com isso, tem
sido verificaclo que, desde o terceiro clia devida, os be-
: bês conseguem distinguir sua mãe de uma estranÌra
com base no cheiro. O bebê vira a cabeça na direção
do algodão embebido com o leite de sua mãeae. parece
que a natnreza quer garantir que o bebê reconheça e
79
 ,., u[oË.Lru\!t]\t-l\rv\ttt\tluLDK, l\tl,lurAloLUluAl(
I ,
se vincule a seu cuidador principaf que em geral é a
mãe. Além de reconhecer sua voz, ele reconhece seu
úeiro. Como é importante que isso se dê tambérn com
a mãe, parece que nós, adultos (mães), temos capaci-
dades complementares às dosbebês. Háevidências de
que a mãe é capaz de reconhecer seu bebê de três dias
com base em seu cheiro.
DrscnrvrNnÇÃo E l,r{ËrìltRÊwcta poR rìÂcES
Vozes, cheiros. Essas informações são processaclas
por sistemas sensórios já razoavelmente desenvolvidos
no nascimento. Como será em relação à visão, qlle co-
meça a se desenvolver apenas no nascimento, já que
na vida intra-uterina os bebês apenas parecem reagir
a luzes? Desde os anos L960 respostas têm sido daclas a
essa questão.
As investigações cle R. Fantzs0 na década de j"960
demonsharam capacidades visuais também importan-
tes. O que é especialmente relevante em nosso conhe-
cimento e para nosso relacionamento com pessoas?
Seus rostos, não é? Quando somos apresentados a al-
Suém, precisamos ver seu rosto. O rosto não é hrdq é
claro, mas é fundamental. Para os bebês também. Eles
discriminam e manifestam preferências pela
visualização de configurações de rostos humanos. Foi
observado quebebês dirigemmais atenção para o ros-
to humano do que para figuras semelhantes a ele, ten-
clo os mesmos elementos, mas com uma organização
I l:'" 1'.;Ì
i*effi
. Manra Lucrrr SErpl pn Mounn E Aomarun FDnntnrl perc Rtsas
diferentesl. FIá, assim, o reconhecimento dessa confi-
guração específica e írnica do rostohumano.
Essa é uma questão intrigante e complexa. Muitos
lril' r' estudos são feitos sobre ela, para tentar explicar que
, i.i
lr: i,ìl,r
processos estão ocorrendo no nascimento e como se
,, ili
modifica depois. Para alguns autores, nas primeiras
semanas de vida o bebê faz discriminações porque tem
capacidades básicas de reconhecer padrões das faces
cle membros de sua espécie. Depois ele vai aprender
sobre faces específicas e slras característicass2.
Com duas semanas, os bebês conseguem discrimi-
nar Íaces e mostram mais atenção para o rosto da mãe
do que paÍa o de um(a) estranho(a), mesmo quando a
informação olfativa é conholada. Isso se coordena com
aspreferências auditivas, e quantomais amãefala com
ìtl :Ìl
obebê enquanto olhaparaele, mais atençãoé demons-
l'ìi
i.' trada. As evidências dessa preferência por faces foram
'i rl
tambérn observadas quando as faces eram registradas
em vídeo. Bebês sugavam rnais para ver em vídeo a
face de sua mãe do que a de uma eètranhas3.
Iutra,çÃcl DLr, EXrRESSÕES FACIATs
]á falamos sobre a capacidade de imitação de movi-
mentos faciais observada em bebês. Essa capacidade
tem sido interpretada como um ato de cognição social
que tem a finalidade de ajudar o bebê a identificar,
compreender e reconhecer pessoas. Outras capacida_
81
 rl: .'"
.. lii:: 'i', Mnnrn Lucra SElpr. Moun,r c Apruarue FEnnrrnl prrs IÌrrrrs
',i,..r i
oE

.i,;. , .

des imitativas têrn sido descobertas, como

a de que os
bebês tendem a imitar expressões ' '
1

faciais de alegrii tris_ ,

'',,1
ui i1i, l, que ele respira, os sons (embora vfuios ele já reconhe-
teza e surpres4 enfre outras.
ç4 como discufunos), a temperatura... Poderíamos fi-
car aqui enumerando tudo o que muda, mas não é
O:; pnrvrìrrROS ENLIoNTï{os DO exatamente o ponto ao qual queÍernos c-hegar. Na ver-
I{ECÉM-NASCIDO COM OS CUIDADOIìI]S dacle, desejamos frisar que/ em meio a tantas mudan-
ças, o recém-nascido está tendo seus primeiros encon-
Pelo que vimos até aqtri, o recém_nascido tros com os cuidadores, e aí o afeto é algo absoluta-
vem ao
mundo com várias capacidades que lhe permitem mente marcante.
o
contato social. É pertinente fecharìste capítulo
faran-
do um pouco sobre acontecimentos comuns
nos pri_ Os pesquisadoresilesfudaram os padrões de toque
meiros encontros do bebê recém_nascido com sãus
das mães nos bebês recém-nasciclos nos minutos ou
cnidadores, em especial com a mãe. Afinal,
as primei_ horas seguintes ao nascimento. Os resultados são en-
ras horas e os primeiros dias depois do
nascimento cantadores: as mães quando estavarn em contato com
são apenas uma etapa desta jomada
tão especial que seus bebês (que estavarn nus) tendiam a nos primeiros
é a interação rnãe-bebê. Você que já teve
um bËUê minutos tocar com a ponta dos dedos as extremidades
recém-nascido deve estar lembrunjo como
foi; você do corpo dobebê; mais oumenos depois de seisminu-
que aindanão teve, deve estarimaginando
como será. tos elas tendiam a tocar com a palma da mão o tronco
dos bebês, como se estivessemmassageando. Seja com
Mas conro escrever sobre isso se os bebês podem
úe_ a ponta dos dedos ou com a palrna cla mãq a mãe está
gar ao mundo cle modos tão diferentes e, por quenão,
"viver" em mundos tãci difere'tes? Poclem.,ui.", dando a chance de seubebê começar a conhecer sen-
urr,
grnpos nômacles, aldeias indígenas, metrópoles... parc_ sações básicas para seu desenvolvimento: o calor e o
ce que não há outra saída a não ser escolher afeto que o toque proporciona.
um e.tre
os muitos jeitos diferentes de nascer, e de
se encontrar
corn o cr-ridador. Escolhemos este nosso jeito No momento seguinte ao nascimento também é
ocicrental,
urbanq no qual os bebezinhos nascem em matemicra- comrun em nossa culfura que mães e bebês travem seus
des e em segr-rida vão para casa com afamília. primeiros contatos olho a olho. Por um lado, o bebê,
em especial quando está no estado alerta passivg fica
Vamos lembrar que esses bebês recém_nasciclos com os olhos bem abertos, com pouca movimentação
es_
tão em um rnundo que é novo: alttz, os cheiros, corporal e atento ao qlle vê - com freqüência o que vê
o ar
é orosto da mãe. Pesquisadores comoKlauseKennellss

82
83
BEufis: clÊNct^ r, R^ ccrllrDcltR, AtìLro IARA cutDAn
também têm relatado o interesse das mães em Íixar o
olhar nos olhos de seus bebês nas primeiras horas e
dias desse encontro e o quanto as mães dizem sentir-se
altamente gratificadas quando podem finalmente olhar
seusbebêsnos olhos.AQui, outravia de transmissão de
afeto entra em cena: o olhar no contato face a face.
A amamentação é, sem dúvida, ouha grande chance
para o envolvimento entre a mãe e o bebê. Durante
esse encontro, além do alimentq a proximidade física
proporciona aconchego, permite que a mãe e o bebê
comecetn a conhecerpistas faciais, pistas de movimen-
tação corporal que dão um para o outro, O corpo da
rnãe é fonte de calor; mesmo quando elanão está ama-
mentando, fica com seu bebê no colo. eue born para
os dois que podem sentir esse calor emocional, experi-
mentar contato físico, sentir os cheiros um do outro,
olhar um para o outro, começar a se conhecer. Há coi-
sa melhor do que colo de mãe?
Os dias depois do nascimento também são marca-
dos por várias mudanças. As evidênciass6 indicam que
o padrão de sono dos bebês modifica-se por volta do
segundo dia de vida e os padrões de choro começam
também alterar em tomo do terceiro dia. Ou seja
a se
com o passar dos dias o ritmo do bebê modifica-se, e a
mãe e o bebê precisam se entender.
Nesse processo é possível que a mãe ajude obebê a
reorganizar e ajustar seu ritmo a sua nova condição,
M,rnr,r Luclr SuoL oe MouR^ r AonnNa Ftnntrrn.l pnrc lìrnas
afinal ele âgoÍa está vivendo em um mundo bem dife-
rente. Muitos autores cómparam a interaçãomãe-bebê
a uma dança. Cremos ser urna comparação muito apro-
priada. De nossa parte, ressaltamos que os estilos de
dança, uma valsa, um tango, variam, e os parceiros,
com suas características próprias, também, mas um
elemento básico na dança é o afeto entre os envolvidos.
Outro ponto que nos parece importante ao falar so-
bre os primeiros enconhos com o recém-nascido é o das
diferenças individuais. Será que o bebê recém-nascido
que dregapara amãe é igualzinho ao que chegoupara
a vizinha ou amiga dela? Havia, ou ainda h4 uma ten-
dência a dizer que os bebês recém-nascidos são todos
iguais. Será que é verdade? Parece que não. Este peque-
no parceiro que está dregando na família é único, e a
família dele é única também. Ainda que os bebês hu-
manos tenham um conjunto de capacidades e compe-
tências comuns à espécie, mosham diferenças individu-
ais. Vários autores s7 têm nos ensinado sobre como os
bebês têm características próprias. Parece que estes pe-
quenos já têm desde o nascimento formas de organiza-
ção intema que podem ser diferentes, por exemplq no
ciclo dos estágios de vigília nos padrões de sono e de
amamentação na reação a estímulos novos.
Pense em um bebê recém-nascido que ao sair de casa
para ir ao rnédico precisa ser deslocado de carro ou de
ônibus até o consultóriq experimenta diferentes con-
dições de temperatura, de som, provavehnente será
 BEDÊs: crôNct/\ p^R/\ coNÌrECER, AFEÌo pARA cutD^lì
despido para o exarne fisicg tocado pelo pediatra du-
rante aavaliação clínica. ConÍorme obebê em quevocê
pensou, pode ser que elereaja demodo mais hanqiiilo
a todas essas mudanças ou nem tanto. Quem de nós
também já não ouviu de alguma mãe uma fiase do
tipo: "Quando nasceu, João dormia muito, era calmo.
Maria não, dormia e acordava para m;ünar a cada hor4
eu ficava exausta". Exemplos como esses mosftam jus-
tamente como bebês podem ser fill-ros de um rÌesmo
pai e uma mesma mãe, nascer sem complicações de
saúde e ainda assim serbastante diferentes urrr do ou-
tro. Felizmente, porque desde o começo davida já po-
dernos ter nossa marca pessoal.
Queremos destacar duas características indiiriduais
clos bebês: a irritabiliclade e o úoro. Você poderia logo
perguntar por que essa importância. Como dissemos,
os bebês variam em muitas características. Quanclo
uma mãe recebe umbebezinho recém-nascido que se
irrita com mais Íacilidade, que chora com maior fre-
qüência ou que é mais difícil de ser consolado quanclo
inquieto ouirritadq e possível que algumas cois$ acon-
teçarn. Ela pode ficar mais cansada, sentir-se lespon-
sável pelo choro ou irritação do bebê, ou mesno sen-
tir-se incapaz de acalmar e cuidar de seu bebê. lor isso
é tão importante lembrar as mães de que elal são as
pessoas que melhor podem conhecer o estilo e cuidar
ì: r'i -: l r r'.
t.i
i,' de seusbebês. Acada dia, nesses encontros, osdois se
ì,r,. ,"..'
conhecem melhor, ela percebe o jeitinho de ser bebê,
i-i1'1,.: ;'. ill
i, irr,r 1i,.'l :,.,,1i'"'
sua posição preferida para dormir, para manar/ as
;ì' lri l :, ji;i:ii
:", ::.,
:':ll'. r:j. ;
| " . .:lf
i,1r.r';,,,';;;
ü.ui*Éi,t*ri"at
Manrrr Lucre Srurl De MouR^ [ Apntarun Ftinnerna pars Rltas
experiências que são bem recebidas por ele ou não. Lem-
bram*se da marca pessoal de que falamos? pois é, essa
marca pessoal do bebê é dele e estará lá, mas nos encon_
hos comseus parceiros ele vai se modiÍicandq se ajus_
tando, se adaptando. Tais encontros modificamnão só
o recém-nasciclo, mas toda a Íamília. parece que o im_
portante nesse caso é "dançar" com afeto e harrnonia,
com respeito às caracteúticas de cadaparceiro e encon_
trar um ritmo ou estilo de dança que faça todos Íelizes.
Como vimos até aqui, os bebês humanos têm a ca_
pacidade de se adaptar a diversas sifuações, ambien_
tes, e podem se desenvolver de modo igualmente sadio
vivendo em diferentes grupos sociais, culturais, com
diÍerentes famílias... parece que ( possível ser um bebê
feliz de modos muito diferentes, masumelementopa_
rece ser fundamental na relação dos bebês com seus
cuidadores:o afeto.
Eu sÍN'rrlsu
Os bebês parecem apresentar uma sensibilidade es_
sencialmente humana para estímulos sociais. Estão
atentos a esses estímulos. As pessoas são interessantes
para eles. Eles ainda não são capazes de saber muito
sobre as pessoas ou colocar-se no lugar clelas. Não po_
dern entender que suas mães estão cansadas depoisde
levantar várias vezes durante a noite para cuidar de_
les. Apresentam, no entanto/ Llma vida subjetiva, com
experiências básicas em termos de sentimentos, afetos
 Dbuhs: ct[NclA pARA CoNHECER, p^R,\ CUtt)AR
^trEIO

e emoções, traços de temperamento cluradouros e li-

nhas de base afetivas particulares que fazem parte de
seu senso privado de self.

Nas primeiras relações sociais, em interação íntima

com pessoas, têm oporfunidade de rea_lizar trocas recí-
procas associadas à co-regulação de afetos, sentimen-
tos e ernoções. Nas interações mãe-bebê, os afetos, sen-
timentos e emoções de um ecoam os do outro por
espelhamento, contágio ou reações contingentes emurn
curto período. Nesses contatos iniciais os parceiros (mãe
e recém-nascido) têm a úance de começar a se corúe-
cer e experirnentar sifuações e sentimentos de gratifi_
cação regados de afeto.

E vocÊ coM TUDo rsso?

Certamente você já tinha observado muito do que

descrevemos neste capítulo. Sabia que seu bebê gosta
de olhar para você, que "sabe" que você é uma pessoa
especial e a reconhece por sua voz, por seu colo. Agora
já sabe que o que já corürecia intuitivamente, os pesqui-
sadores têrn clemonshado sistematicamente nas trltirnas (:np,ítLrIr:, {,
décadas. Não só você é importante; ouhas pessoas tam-
bém sãq como o papai, a vovó e o vovô, os irmãozinhos
e prirnos, os amigos da família e as pessoas que se abai-
xam para olhar seubebê no carrinho e falar com elena
o bebê rúru./ua6c/Á"0
rua. Todos são fascinantes para ele. Conhecer pessoas,
ligar-se a elas, aprender com elas, tudo jsso é fundamertal e o u,til"dn d"s ohfeÉos
p€ua o desenvolvimento de seu bebê.

88
 1 'ri;,i
,i!t
_'ri . ,
j

,
iÌ,
itl '
,jl
i ,,jntir,
, ,

',ì
.t Nos dois capítulos anteriores falamos sobre obebê e
'.ii
seu conhecimento de sie dosoutros. Oinício de seuco-
nhecimento do mundo fisico também tem sido estuda-
do. Uma ampla gama de capacidades discriminativas e
perceptivas tem sido identiÍicada em bebês recém-nas-
',ì,1
! cidos que permite esse conhecimento domturdo que o
:ti

,i r rodeia. Em várias modalidades sensoriais, obebê tem

, i,,i
i üdo experiências desde o ambiente pré-natal.
I
::.lr:ì

iìiÌ
,l AuprÇÃo

O clesenvolvimento cle ferramentas como a ultra-

'rl sonograíia tern permitido que se saiba bem mais sobr e
'l

a vida intra-uterina. Por meio da ultra-sonografi4 os

,l

pesquisadores focalizam reações de piscar de olhos, o

ritmo de batimento cardíaco e movimentos de pernas
nos fetos. Verificaram que havia reações sistemáticas
quando sons eram transmitidos da superfície do abdô-
men da mãe58.

,i
,l 91
ij
ttF,Rtì5: cltNct^ p^RA CONIìECU& ÂF[]O pi\RA CUtD^rì
Pensava-se que o útero era um lugar esÕrro e silen-
cioso, uma espécie delimbo onde osbebês viviam iso-
laclos até nascer. Agora sabemos que isso não é verda-
de. O útero é um ambiente acusticamente rico; o feto
se desenvolve nele em meio a sons muito variados, in-
temos (como obatimento cardíaco da mãe) e extemos
(como avozmaterna). Assim, ao final da gestação, os
fetos parecem ter aprendido alguns desses sons farnili-
ares, como avoz da mãe, que vão reconhecer depois
denascidos.
Verificou-se ainda que os bebês não demonstram
preferência pela voz do pai a que tenham sido expos-
tos, porque microfones colocados no útero não regis-
travam outras vozes de pessoas próximas à mãe, só a
dela. Também foi observado que rimas ouvidas no úte-
r o enhe 33 e 37 semanas de gestação são posteriormente
reconhecidas pelo recém-nascido, que apresenta rea-
ções de farnüaridade qüando as ouve depois clonasci-
rnento. Enfim, o bebê nasce já conhecendo alguns sons
do mundo, às vezes até habituado a eles, como é o caso
de bebês cuja mãe passou a gestação moranclo perto
de um aeroporto, por exemplo, e não reagem ao baru-
lho cle aviões depois quenascem.
Pnlnnnri E oLFAt-o
Não audição dos bebês que se aprimora des-
é só a
de a gestação e que se apresenta desenvolvida no nas-
cimento. Eles têm sentidos de paladar e olfato funcio-
M,rnrl Lucra SErol or Mouu e Aonrnrue FnnncrRÀ P/r!:s RIB^s
rÌ
,t
nando regularmente no nascimento. Quando lhes c{a-
mos água com ou sem açúcar, eles sugam de maneira
,i
rri
fì
diÍerente, mostrando que discriminarn os dois sabores.
:l
i
ÌI
I
Também apresentam reações diferenciac{as, em ter- I
Ì
mos tanto de batimentos cardíacos, respiração e movi- 1
mentos corporais quanto de expressões faciais, quan- i
i
i
clo os fazemos cheirar algodões embebidos em subs-
tâncias com odores diversos (doces x avinagrados,
amargos, azedos).
Como já falamos, horas depois dànascidos osbebês
parecem capazes de fazer discriminações do cheiro clo
corpo, do leite e do líquido amniótico de suas mães em
relação aos de estranhasse. Osbebês senclo amamen-
tados acalmam-se quando sentem o cheiro deum pro-
tetor de seio usado por suas mães, o que não ocorre
corn o contato com um protetor usado por outras
lactantes.
VrsÃc>
A visão é o sentido mais recente e a modalidade sen-
sorial menos desenvolvida no nascimento. Ao contrá-
rio dos outros sentidos dos quais falamos até agor4 o
feto não tem estímulos visuais no útero. Eles já ouvem
avozmaterna, mas só vão poder ver seu rosto depois
cle nascer. Muitos pensavarn e alguns ainda acreditam
que os bebês não enxergam quando nascem, como os
gatinhos. Na verdacle, a acuidade visual c{os recém- ,ll
i
i
 ,L!È\/ N.rru rltKA LUIUAt{

Manrn Lucra Seror_ oE Mouna n Aonrnltn Fcnnrrtt,r pnts Rnr,rs

nascidos é um pouco lirnitada, mas eles enxergam

de
pertq numa distância de cerca de 20cm (distâncià mais movimentos de braço para frente quando acom-
apro_
ximada do rosto de quem o segura no colo panhando visualmente um objeto se movendo numa
e o ama_
menta). distância curta a sua frente, em comparação a situa-
ções em quenãohá objetos6t.
Além de n-ao nascerem cegos/ os bebês, com a
capa_
cidade visual que têm, parecem já sensíveis
a um mun-
Enr sÍNrnsn
do de objetos. Uma das evidências é a de que
eles olham
maispara objetos tridimensionais do quepara suasfo_ As capacidacles perceptivas dosbebêsnão são ainda
togrúas, mesmo qua'doum de seus orhos é coberto.
plenarnente desenvolvidaq mas podemos dizer que eles
são capazes de perceberomundo aonascerenão ape-
Desde que nascem, os bebês são sensíveis a nas sentir e reagir automaticamente, como se pensava62.
pistas
cle profundiclade que não são binocular.es, O conjunto de capacidades que osbebês já têmnascer,
discriminam
e*h'e vários contornos de formas, entre padrões algumas fruto de sua experiência durante a gestação,
icrênt!
cos estáticos ou eln movimento, e têrn tendência Íomece-lheumabase para a ampliação de seu conheci-
a olhar
mais para padrões de altocontraste. Sabemos mento do mundo físicq inicialmente rudimentar.
tambem
que têm capacidades de discriminar constância
de for_
ma e tamanho. Em um experimento interessantetr Alem de perceberem muito do que os rodeia, são
dois
cubos foram usados como estímulos, um deles ativos exploradores do rnundq mas ainda não agem
duas
vezes maior do que o outro. Eles eram apresentados nele com desenvolfura. Para poderem agir de forma a
em distâncias diferentes aobebê. observtu-se conhecer os objetos, precisam ainda superar obstácu-
que os
bebês preferiam olhar para o cubo que clava los de ordem postural e motora. Por isso, mesmo com
omaior
tanrarúo na retina, indepe^dentemente da distâ'cia algtrm conhecimento domundofísico, não o tracluzem
ern que era apresentado ou sell tamanho real. diretarnente em ação, Sua forma de agir ainda é restri-
t4 envolvendo olhar ou sugar, por exemplo.
Ruunanllro Dn coorìDENAÇÃo N4Ão-oLI.lc)
E vocÊ coM luDo rsso?
Os bebês têm essas capacidades perceptivas,
mas
que possibilidades têm de integração com suas Lendo este livro até aqul, você já deve ter reconheci-
ações?
Observa-se que tendem a manifestar. significativamente clo muitas coisas que já sabia só de observar seu bebê.
Este capítulo tratou de suas capacidades para conhe-
 Dtlrb: ciljNClA I'^lìA CONI.|ECUR, AII.TO PARA CUtD^lt

cer o mundo. O mundo que ele vai corüecer em gï€ul- i

de parte, aquele que você, mãe, e você, par,
vão aprãr"r,_
tar e organizar para ele. Assim, sabendo que
ele vê e que
prefere ver coisas interessantes, podem pendur*
,"u
berço um móbile ou brinquedos coloridos. podem "* dar-
lhe oporhrniclade de ouvir sons de músic4 de
acordo
com o gosto de sua família.Issq na verdade, é
o mais
importante: seu bebê vai conhecer o mundo a partir
do
mturdo mais próximo em que vive com sua família.
Ele
precisa se sentir parte dessa família, seguro e amado
por
ela, para aventurar-se além desse micromundo,
para
conhecer o que o rodeia e desenvolver_se.

96