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Universidade Sul de Santa Catarina

Estudos
Socioculturais

UnisulVirtual
Palhoça, 2016

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Créditos

Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul


Reitor
Sebastião Salésio Herdt
Vice-Reitor
Mauri Luiz Heerdt
Pró-Reitor de Ensino, de Pesquisa e de Extensão
Mauri Luiz Heerdt
Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional
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Pró-Reitor de Operações e Serviços Acadêmicos
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Diretor do Campus Universitário UnisulVirtual
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Campus Universitário UnisulVirtual


Diretor
Fabiano Ceretta

Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Ciências Sociais, Direito, Negócios e Serviços


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Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Educação, Humanidades e Artes
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Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Produção, Construção e Agroindústria
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Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Saúde e Bem-estar Social
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Gerente de Operações e Serviços Acadêmicos


Moacir Heerdt
Gerente de Ensino, Pesquisa e Extensão
Roberto Iunskovski
Gerente de Desenho, Desenvolvimento e Produção de Recursos Didáticos
Márcia Loch
Gerente de Prospecção Mercadológica
Eliza Bianchini Dallanhol

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Cláudio Damaceno Paz
Elvis Dieni Bardini
Jaci Rocha Gonçalves
Tade-Ane de Amorim

Estudos
Socioculturais

Livro didático

Designer instrucional
Marina Melhado Gomes da Silva
Isabel Zoldan da Veiga Rambo

UnisulVirtual
Palhoça, 2016

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Copyright © Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por
UnisulVirtual 2016 qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

Livro Didático

Professora conteudista Diagramador


Cláudio Damaceno Paz Josué Lange
Elvis Dieni Bardini
Jaci Rocha Gonçalves Revisor
Tade-Ane De Amorim Perpétua Guimarães Prudêncio
Diane Dal Mago
Designer instrucional
Marina Melhado Gomes da Silva
Isabel Zoldan da Veiga Rambo

Projeto gráfico e capa


Equipe UnisulVirtual

E84
Estudos socioculturais : livro didático / [conteudistas] Cláudio
Damaceno Paz, Elvis Dieni Bardini, Jaci Rocha Gonçalves, Tade-Ane de
Amorim ; design instrucional [Marina Melhado Gomes da Silva], Isabel
Zoldan da Veiga Rambo. – Palhoça : UnisulVirtual, 2016.
XX p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.

1. Ciências sociais. 2. Cultura – Aspectos sociais. 3. Sociedades. I.


Paz, Cláudio Damaceno. II. Bardini, Elvis Dieni. III. Gonçalves, Jaci Rocha.
IV. Amorim, Tade-Ane. V. Silva, Marina Melhado Gomes da. VI. Rambo,
Isabel Zoldan da Veiga. VII. Título.

CDD (21. ed.) 301

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul

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Sumário

Capítulo 1
Cidadania e Direitos Humanos  9

Capítulo 2
Identidade e culturas 23

Capítulo 3
Sociedade: teorias clássicas e contemporâneas 43

Capítulo 4
Práticas culturais e processos midiáticos 53

Considerações Finais | 67

Referências | 69

Sobre o Professor Conteudista | 73

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Introdução

Caro(a) estudante,

Você inicia agora o estudo da Unidade de aprendizagem Estudos socioculturais,


com o intuito de procurar compreender a dinâmica e a diversidade das
sociedades humanas, para agir responsavelmente nos diferentes contextos
sociais. Nesse sentido, nosso objetivo é que você tenha elementos para analisar
e compreender contextos diversos, estabelecendo diálogos com diferenças
socioculturais.

Os conteúdos aqui reunidos, além dos demais materiais disponíveis nos tópicos
de estudo do Espaço Virtual de Aprendizagem seguem uma temática, bem como
uma abordagem relacionada à sociedade e à cultura.

Especificamente, por meio de quatro roteiros de estudo, você estuda teorias


clássicas e contemporâneas relativas à sociedade; a questão do Estado e da
cidadania, da ética e dos direitos humanos; acerca da cultura e da identidade;
das práticas culturais e dos processos midiáticos. Este livro e os demais materiais
disponíveis não têm pretensão de esgotar assuntos tão complexos, mas tão
somente se pretende desenvolver uma abordagem didática, sistemática e parcial.
Procure ampliar seus conhecimentos sobre as temáticas abordadas, consultando
os textos originais dos pensadores citados, dicionários e outras obras, sempre
que considerar pertinente. Desejamos-lhes boa aprendizagem!

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Capítulo 1

Cidadania e Direitos Humanos

Cidadania como conquista de direitos


Cláudio Damaceno Paz

A vida em sociedade constitui um imperativo, pois as interações entre os


humanos e com o meio em que estão inseridos não são escolha, mas necessárias
para a potencialização das suas capacidades. Porém, pela divergência de
interesses, essas relações tendem a se tornar conflituosas. Em decorrência,
para viabilizar suas existências, os humanos têm desenvolvido mecanismos que
viabilizem a resolução de conflitos. Diversos são os meios criados e utilizados
para disciplinar as condutas na busca da harmonia social, entre eles podemos
destacar o Direito.

É o Direito que deve garantir os interesses de cada um e impedir que uns sejam
prejudicados pelos outros. A pessoa que tem um direito violado está sofrendo
uma perda de alguma espécie. E quando uma pessoa que teve um direito
ofendido não reage, isso pode encorajar a ofensa de outros direitos seus, pois
sua passividade leva à conclusão de que ela não pode ou não quer defender-se.
(DALLARI, 1985).

A caminho do trabalho, no dia 1º de dezembro de 1955, uma costureira negra, de


42 anos, Rosa Parks (1913-2005), moradora de Montgomery, capital do Alabama,
nos EUA, tomou um ônibus, sentou-se numa poltrona situada ao meio para
frente do veículo de transporte coletivo. Minutos depois, o motorista exigiu que
ela e outros três trabalhadores negros cedessem seus lugares para passageiros
brancos, os quais embarcaram no ponto seguinte. Rosa Parks negou-se a
cumprir a ordem do motorista. Foi, então, retirada do ônibus, detida e levada
para a prisão. Em decorrência do seu ato, Rosa Parks enfrentou ameaças de
morte, humilhações e teve até de se mudar de estado por não conseguir arranjar
emprego no Alabama.

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Capítulo 1

No entanto, a atitude de resistência pacífica de Rosa Parks deflagrou uma


série de protestos contra a discriminação racial nos EUA. Trabalhadores negros
recusaram-se a embarcar em ônibus enquanto estivesse em vigor, no estado
do Alabama, a lei discriminatória que impunha aos negros ocuparem os lugares
do fundo dos transportes coletivos, enquanto aos brancos eram reservados
os lugares dianteiros. Durante os protestos, era comum encontrar grupos de
trabalhadores negros dirigindo-se a pé para o trabalho, acenando e cantando nas
ruas, enquanto eram xingados pelos brancos.

O exemplo emblemático de Rosa Parks e os avanços ocorridos nos EUA em


relação aos direitos civis nas décadas subsequentes demonstram que os direitos
nascem das lutas dos seres humanos contra as formas de opressão. No entanto,
são conquistas gradativas que se configuram no processo histórico.

Os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são


direitos históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias,
caracterizados por lutas em defesa de novas liberdades contra
velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não todos de uma
vez e nem de uma vez por todas. (BOBBIO, 1992, p.5).

Compreender os direitos humanos como conquista e construção humana ao


longo da história afirma o protagonismo das pessoas na luta pelos direitos a
serem positivados como direitos fundamentais. Ressalta-se que as expressões
“direitos humanos” e “direitos fundamentais” são frequentemente utilizadas como
sinônimos.

Segundo a sua origem e significado, poderíamos distingui-los da seguinte


maneira: direitos do homem [humanos] são direitos válidos para todos os povos
e em todos os tempos; [...] os direitos fundamentais seriam [são] os direitos
objetivamente vigentes numa ordem jurídica concreta. (CANOTILHO, 1998).
Partindo do pressuposto de que os direitos humanos resultam de conquistas
que se materializam no processo histórico, pela ação humana, evidencia-se a
importância das Revoluções Liberais (Inglesa, Americana e Francesa) para a
emancipação dos indivíduos e das coletividades no contexto de construção da
modernidade e da criação dos direitos.

No processo da Revolução Inglesa, em 1689, o Parlamento inglês apresentou


à monarquia uma declaração de direitos (Bill of Rights), que assegurava aos
indivíduos os direitos de liberdade, de segurança e de propriedade, como garantia
frente ao poder soberano – e arbitrário – do Estado absolutista.

A Bill of Rights impunha limites ao poder real ao deslocar para o Parlamento as


competências de legislar e criar tributos. Ao mesmo tempo, instituía a separação
de poderes para evitar o autoritarismo do poder absolutista do monarca.

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Estudos Socioculturais

No entanto, ao consentir em manter a imposição de uma religião oficial, a


anglicana, – estabelecida pelo rei Henrique VIII – muitos ingleses, sem a liberdade
de professar e manifestar sua crença religiosa, distinta da oficial, viram-se
constrangidos a migrar para terras distantes, temerosos de perseguições. Para
os puritanos (calvinistas ingleses), a América consistiu em alternativa para viver
em liberdade, conforme suas crenças.

Depois de estabelecidos na “nova Canaã”, como denominavam a América


do Norte, os agora colonos americanos foram constrangidos, em 1765, pelas
imposições fiscais da autoridade metropolitana – que contrariava o estabelecido
na Bill of Rights – a recolher uma série de impostos para cobrir o déficit da Coroa
que havia se envolvido na Guerra dos Sete Anos (1756-1763) contra a França.

Em 1773, na cidade de Boston, ocorreu a The Boston Tea Party. Colonos que
viviam do comércio, por se sentirem prejudicados com a Lei do Chá, disfarçaram-
se de índios peles-vermelhas, assaltaram os navios da companhia de transporte,
que estavam ancorados no porto de Boston, lançando o carregamento de chá
no mar. A reação inglesa foi imediata e mesmo violenta. Em 1774, os rebelados
criaram um exército comum entre as colônias, demonstrando a fragilidade
das suas relações com a metrópole inglesa, fato que abriu caminho para a
independência.

Em 1776 foi elaborada a Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia,


afirmando que todos os seres humanos são livres e independentes, possuindo
direitos inatos, tais como a vida, a liberdade, a propriedade, a felicidade e a
segurança, registrando o início do nascimento dos direitos humanos na história.
(COMPARATO, 2003).

A referida Declaração de Direitos, que abriu caminho para a independência dos


EUA, ocorrida em 4 de julho de 1776, proclamada na Filadélfia, positivada na
Constituição da República dos Estados Unidos da América em 1787, afirmou
que o governo tem de buscar a felicidade do povo, definiu a separação de
poderes, estabeleceu o direito dos cidadãos à participação política, à liberdade
de imprensa e a livre escolha da religião, conforme a consciência individual. No
entanto, a pátria da liberdade manteve a mácula da escravidão que deixou a
herança da segregação racial.

A prática da escravidão foi abolida nos Estados Unidos da América em 1863, com
a Declaração de Emancipação promulgada pelo presidente Abraham Lincoln, no
contexto de uma guerra civil, a Guerra da Secessão. No entanto, a discriminação
racial, mesmo com a abolição, assumiu na cultura estadunidense um caráter
segregacionista, que deu origem a inúmeras ações afirmativas e reações violentas.

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Capítulo 1

Em virtude das manifestações decorrentes do protesto pacífico de Rosa Parks,


em 13 de novembro de 1956, a Suprema Corte aboliu a segregação racial nos
transportes coletivos de Montgomery, tornando também ilegal essa discriminação
racial em todo o território dos EUA. Em 21 de dezembro de 1956, o ativista negro
Martin Luther King e o sacerdote branco Glen Smiley entraram juntos num ônibus
e ocuparam lugares na primeira fila.

Martin Luther King organizou e liderou marchas que reivindicavam para os


negros o direito ao voto, o fim da segregação e das discriminações, bem como a
conquista de outros direitos civis básicos. A maior parte desses direitos foi, mais
tarde, agregada à constituição estadunidense, com a aprovação da Lei de Direitos
Civis (1964) e da Lei de Direitos Eleitorais (1965).

Em 4 de abril de 1968 Martin Luther King foi assassinado em Memphis, no


Tennessee. Em 20 de janeiro de 2009 Barack Obama tomou posse da presidência
dos Estados Unidos como primeiro negro eleito para o comando executivo do
mais influente Estado-nação do mundo:

Neste dia, estamos reunidos porque escolhemos a esperança


acima do medo, a unidade de objetivos acima do conflito e da
discórdia. Neste dia, vimos proclamar o fim dos sentimentos
mesquinhos e das falsas promessas, das recriminações e dos
dogmas desgastados que por tanto tempo estrangularam nossa
política. (OBAMA, 2009).

A sociedade organizada com justiça é aquela em que os encargos e os benefícios


são partilhados entre todos, pois os direitos, para além da sua criação histórica
e positivação jurídica, precisam constituir-se em prática social. A Declaração
de Direitos do Povo da Virgínia (1776) consistiu numa ação pioneira na luta
pelos direitos humanos ao reivindicar direitos políticos e justiça social, porém,
apresentava, na época, como referido, caráter seletivo. No entanto, foi a
Declaração dos Direitos do Homem, aprovada pela Assembleia Nacional francesa,
no contexto revolucionário, em 1789, que exerceu grande influência sobre os
movimentos emancipacionistas e libertários na modernidade, pelo seu caráter de
universalidade.

A França quer ser exemplar, não para ensinar, mas porque é


a história dela, é sua mensagem. Exemplar para as liberdades
fundamentais: é a sua luta, é também sua honra. Esta é a razão
pela qual a França vai continuar a realizar todas essas lutas:
para a abolição da pena de morte, pelos direitos das mulheres
à igualdade e dignidade, para a descriminalização universal da
homossexualidade, que não deve ser reconhecida como um
crime, mas, pelo contrário, reconhecida como uma orientação.

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Estudos Socioculturais

[...]. Todos os países membros [da ONU] têm a obrigação de


garantir a segurança de seus cidadãos, e se um país adere a
esta obrigação, então é imperativo que nós, nas Nações Unidas,
facilitemos os meios necessários para fazer essa garantia. Estas
são as questões que a França vai levar e defender nas Nações
Unidas. Digo isso com seriedade. Quando há paralisia e inação,
então a injustiça e a intolerância podem encontrar o seu lugar.
(HOLLANDE, 2012).

Os revolucionários franceses de 1789 iniciaram a Declaração de Direitos do


Homem afirmando, no artigo primeiro, que “Os homens nascem e são livres e
iguais em direitos”, e no artigo quarto enfatizam que

A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o


próximo. Assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem
não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros
membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes
limites apenas podem ser determinados pela lei.

Outro aspecto relevante da Declaração de Direitos criada pelos franceses está


explicitado no artigo dezesseis, nos seguintes termos: “A sociedade em que não
esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos
poderes não tem Constituição.” (DALARI, 1985, p. 53-54).

O século XX foi marcado por duas grandes guerras de proporções mundiais. Na


origem dessas guerras está o choque entre interesses imperialistas das potências
capitalistas e seus asseclas. A ambição pelo poder e pela riqueza, somada ao
desprezo aos direitos humanos, explicam os horrores gerados pelos referidos
conflitos, materializados em privações das liberdades e das garantias individuais
e sociais, crises de desabastecimento, bombardeios, destruição, terror e mortes
físicas e psicológicas.

O trauma causado pelas referidas guerras impeliu as lideranças mundiais à


criação e consolidação de uma organização (ONU) com o propósito de: assegurar,
por meios pacíficos, a manutenção da paz internacional; lutar pela defesa dos
direitos humanos; estabelecer relações amistosas entre as nações, com base
no princípio de autodeterminação dos povos; gerar mecanismos de cooperação
entre os países na busca de solução para os problemas internacionais de
ordem econômica, social, cultural e humanitária; e constituir-se em centro de
convergência das ações dos Estados-nação na luta por objetivos comuns.

Para que fosse permanentemente relembrado o valor da pessoa humana e para


estabelecer o mínimo necessário que todos os países e todas as pessoas devem
respeitar, a ONU encarregou um grupo de pessoas muito respeitadas, entre as
quais havia filósofos, juristas, cineastas, políticos, historiadores, de várias partes
do mundo, para redigir uma nova Declaração de Direitos.

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Capítulo 1

Esses estudiosos reuniram-se, pediram a opinião de muitas outras pessoas e


prepararam um documento que proclama os Direitos Humanos, os quais devem
ser considerados fundamentais. (DALLARI, 1985, p. 51 e 52).

Os autores da Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela


Assembleia Geral das Nações Unidas, em Paris, no dia 10 de dezembro de 1948,
evitaram redigir uma mera carta de intenções. Nos artigos da referida declaração
foram incluídas exigências que devem ser atendidas para que a dignidade
humana seja respeitada. O artigo terceiro, por exemplo, lembra que “Todo homem
tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”. Em decorrência, no artigo
quarto está expressamente ordenado que “Ninguém será mantido em escravidão
ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as
suas formas.”

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi assinada por países do mundo
inteiro, inclusive pelo Brasil, valendo como um compromisso moral desses países.
É necessário que o maior número possível de pessoas conheça a Declaração,
para cobrar de seus governos o respeito ao compromisso assumido. (DALLARI,
1985, p. 52).

Leia na íntegra os trinta artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos:


http://www.dhnet.org.br/direitos/deconu/index.html#deconu

A ênfase da referida Declaração está na internacionalização dos direitos humanos,


fixando-o no contexto internacional dos direitos fundamentais, ensejando a
prevalência desse no ordenamento jurídico dos Estados signatários do referido
documento e daqueles que se integram à comunidade das nações unidas como
filiados da ONU.

O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, criado em 2006, em


substituição à Comissão das Nações Unidas sobre os Direitos Humanos, criticada
pela tolerância com Estados cujas ações constituíam desrespeito aos direitos
humanos, tem como objetivo combater as violações aos direitos humanos em
todo o mundo.

O Brasil, membro da ONU, signatário da Declaração Universal dos Direitos


Humanos, define na Constituição Federal, promulgada em 1988, os direitos
fundamentais no título II, Dos Direitos e Garantias fundamentais. O capítulo I
dos Direitos Individuais e Coletivos é constituído pelo artigo 5º, com 78 incisos,
alinhados com o referido documento da ONU. No caput deste artigo lê-se: “Todos
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida,
à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, [...].”

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Estudos Socioculturais

A dificuldade da concretização dos direitos humanos, entre outros fatores, reside


na adoção, pelos Estados-nação, de políticas seletivas, dando prioridade a alguns
direitos e postergando a positivação de outros.

Ressalta-se que os direitos humanos foram sendo positivados de maneira


gradativa. Estudiosos do tema, para fins didáticos, sem desconsiderar o princípio
estrutural de indivisibilidade, apontam para quatro gerações de direitos que foram
sendo criados e incorporados às constituições dos Estados-nação ao longo do
processo histórico-social na modernidade.

Na escala evolutiva dos direitos, legislados ao longo dos séculos XIX e XX, há
quatro gerações sucessivas de direitos fundamentais:

•• Os direitos de primeira geração: Os direitos de liberdade foram os


primeiros a constar dos instrumentos normativos constitucionais,
a saber: os direitos civis e políticos. Os direitos de liberdade têm
por titular o indivíduo. Os direitos de liberdade fazem ressaltar, na
ordem dos valores políticos, a nítida separação entre a Sociedade
e o Estado, e a submissão do segundo à primeira. Essa geração de
direitos corresponde aos direitos diretamente ligados ao conceito de
pessoa humana e de sua própria personalidade, como, por exemplo:
vida, dignidade, honra, liberdade. Basicamente, a Constituição de
1988 os prevê no art. 5º, tão significativo para todos os brasileiros.
•• Os direitos de segunda geração: decorrem dos efeitos
provocados pelas transformações econômicas e sociais gerados
pela industrialização e urbanização. São os direitos sociais
vinculados aos econômicos, bem como os direitos coletivos e os de
coletividades. Nasceram em decorrência das lutas dos trabalhadores
e estão articulados ao princípio da igualdade. A consciência de um
mundo partido entre nações desenvolvidas e subdesenvolvidas deu
lugar a que se buscasse outra dimensão dos direitos fundamentais,
aquela que se assenta sobre a fraternidade. Dotados de altíssimo
teor de humanismo e universalidade.
•• Os direitos de terceira geração: tendem a cristalizar-se enquanto
direitos que não se destinam especificamente à proteção
dos interesses de um indivíduo, de um grupo ou determinada
sociedade, pois seu destinatário primeiro é o gênero humano e
sua existencialidade concreta. Emergiram da reflexão sobre temas
referentes à autodeterminação dos povos, incluindo o direito
ao desenvolvimento, à paz, à dignidade humana, o combate às
diferentes formas de discriminação, bem como a necessidade de
universalizar o acesso aos bens necessários para a vida digna, ao
meio ambiente equilibrado, ao patrimônio comum da humanidade.

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Capítulo 1

•• Os direitos de quarta geração: constituem-se no direito à


democracia, à informação, à defesa da vida, à proteção da
intimidade, o direito à diferença e o respeito ao pluralismo num
mundo multicultural. (Texto adaptado de palestra proferida por Paulo
Bonavides, quando do aniversário de quinze anos da Constituição
Federal do Brasil, promulgada em outubro de 1988.).

Considerando este resumo, você, caro aluno(a), pode alargar sua compreensão
sobre os Direitos Humanos e sua positivação na legislação brasileira. São muitas
as possibilidades para aprofundar estudos nesta área. Selecionamos no EVA
para vocês o texto do autor SARMENTO, Jorge. AS GERAÇÕES DOS DIREITOS
HUMANOS E OS DESAFIOS DA EFETIVIDADE. Leia e destaque alguns avanços e
possibilidades de efetividade dos Direitos Humanos na vida dos brasileiros.

Apesar de inúmeras dificuldades produzidas historicamente, o Brasil tem


buscado, em meio às desigualdades econômicas e sociais, promover ações
destinadas à emancipação dos indivíduos na busca e efetivação dos direitos
fundamentais. A discussão dos direitos humanos e as ações políticas e práticas
empreendidas por meio de programas governamentais e iniciativas da sociedade
civil tem criado condições objetivas para a promoção da cidadania e o respeito
aos direitos humanos. No entanto, ainda existem brasileiros sem acesso aos
meios que os assegurem usufruir dos direitos fundamentais.

Direitos humanos como prática social 1


Valéria Rodineia Zanette

Em tempos de pluralidade de valores, como é o caso da contemporaneidade,


é bastante complexo estabelecer conteúdos gerais a que todos devem seguir,
mesmo que esses conteúdos sejam os direitos humanos. Ocorre que tais direitos
conseguem até se fazer presentes nos ordenamentos jurídicos de muitos Estados.
Prova disso é o fato de um grande número deles terem assinado a Declaração
Universal dos Direitos Humanos. Mas a verdade é que, no cotidiano das pessoas,
os direitos humanos, muitas vezes, estão ausentes ou inexistem.

1 Extraído de: ZANETTE, V.R. Schulze. Desafios da cidadania e dos direitos humanos na contemporaneidade.
In: Ética, cidadania e direitos humanos. Livro digital, 5ª ed. Palhoça: UnisulVirtual, 2012.

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Estudos Socioculturais

É consenso, entre muitos autores que tratam do tema dos direitos humanos,
que a democracia e o Estado de direito são elementos indispensáveis para a
realização desses direitos. No entanto, como já deve ser de seu conhecimento,
existe mais de um tipo de Estado de Direito, bem como mais de um tipo de
democracia. Qual Estado e qual sistema democrático praticam melhor os direitos
humanos? Aliás, algum desses pode realizar tais direitos?

Como uma resposta à própria evolução histórica, podemos observar que muito se
tem evoluído na garantia dos direitos humanos, no próprio entendimento do que
eles são e de sua importância na sociedade mundial e brasileira.

Tendo feito essa análise dos direitos humanos até o presente, cabe agora pensar:
quais são os desafios dos direitos humanos, hoje? E amanhã? Mais ainda: pode-
se afirmar que os direitos humanos são efetivamente garantidos no Brasil? E
no mundo? A resposta mais rápida e fácil a ser dada é que, evidentemente, os
direitos humanos não são garantidos de maneira efetiva como um todo; e nem
para todos, como podemos ver a seguir.

No passado, o Brasil vivia em um Estado escravagista, em que o negro africano


não merecia direitos porque não era visto como pessoa, mas sim como
propriedade. Para ter direitos, tinha-se que preencher requisitos importantes
como: o sexo, a cor da pele, a classe social, as relações de poder, a religião etc.

O que vemos atualmente é um Brasil bastante evoluído, mas distante, muito


distante, de ser chamado de um país alheio às discriminações. O que falar das
inúmeras leis que tentam garantir um tratamento digno aos homossexuais, que,
no fundo, ainda enfrentam, diariamente, situações discriminatórias? E, no caso da
mulher que os relatórios estatísticos de violência revelam a grave desigualdade
de gênero? E da diferença salarial entre homens e mulheres? E o nordestino que
escuta diariamente piadinhas de sua origem? E, pior ainda, daqueles que, pelo
simples fato de serem pobres, são taxados de marginais?

Tais circunstâncias são corriqueiras e fazem parte do cotidiano de todos nós, de


forma tão natural que nem parece uma verdadeira afronta aos direitos humanos.
A conscientização de todos em relação a isso é um processo demorado. De
qualquer forma, o Brasil tem trabalhado bastante na elaboração de um sistema
normativo que prima pelos direitos fundamentais, assim como na ratificação e
engajamento aos direitos humanos no plano internacional. Sendo assim, o que
falta então?

O problema está no cumprimento das normas jurídicas criadas, sejam elas de


direitos humanos ou fundamentais. Bem como assevera Norberto Bobbio (1992,
apud PIOVESAN, p. 110), o problema dos direitos humanos hoje: “não é mais o
de fundamentá-los, e sim o de protegê-los”.

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Capítulo 1

Uma constatação negativa é que ainda temos trabalho escravo em todas as


regiões do país, como descreve Breton (2002, p. 25):

Hoje em dia as coisas são um pouco mais sutis. Você não possui
a pessoa, você apenas a usa por quanto tempo precisar dela. É
a escravidão por dívida. Funciona assim: oferecem um emprego
para o cara, dão um adiantamento, e ele começa a trabalhar.
Quando chega o dia do pagamento, ele descobre que está
endividado. Tem de descontar o adiantamento, o pagamento do
transporte e o que deve na cantina – alimentos, ferramentas e
remédios – a dívida não termina nunca.

Com isso, as pessoas trabalham, horas a fio, no meio do nada, correndo risco
de vida e, ao final, o que recebem é muito pouco. A boa notícia é que a Justiça
Federal está condenando fazendeiros por terem submetido trabalhadores a
condições semelhantes à escravidão: pessoas que vivem sem remuneração,
presas a relações de dívidas forjadas e as mais variadas condições degradantes
de trabalho, expostas a existência de alojamentos precários, instalações
sanitárias em péssimo estado de conservação, não fornecimento de água potável,
não fornecimento de equipamentos de proteção individual, entre outras. São
muitas as situações sendo superadas pela ação dos órgãos que combatem o
trabalho análogo a escravo.

Outro exemplo são as ações afirmativas, como o sistema de cotas nas


universidades. Esse sistema foi criado com o intuito de promover a igualdade
material, já que as pessoas negras, constantemente, formam um número muito
inferior nas universidades. Isso pode ser justificado como uma consequência
das desigualdades econômicas, pois as pessoas negras não têm acesso a
uma educação fundamental de qualidade, precisam trabalhar para seu próprio
sustento e de sua família, ficando impossibilitadas de competir, em grau de
igualdade, com os outros com melhores condições e preparo.

Nesse contexto,

[...] o Estado abandona sua tradicional posição de neutralidade


e de mero espectador dos embates que se travam no campo
da convivência entre os homens e passa a atuar ativamente
na busca de concretização da igualdade positivada nos textos
constitucionais. (GOMES, 2001, p. 20).

Mesmo parecendo um caminho simples, muitos brasileiros, na verdade, são contra


esse tipo de ação. Não conseguem entender que tudo isso faz parte de um círculo
vicioso e que, se não forem promovidas ações discriminatórias positivas em favor
dos desprivilegiados, possivelmente o caminho ainda será mais longo para se
alcançar a igualdade. O caso do acesso ao ensino superior ilustra, bem, isso.

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completo.indb 18 09/06/2016 09:00:15


Estudos Socioculturais

Uma das principais argumentações contra o “sistema de cotas” era que, mesmo
conseguindo entrar na universidade, os cotistas acabariam por desistir, ou mesmo
que isso acabaria por prejudicar o próprio andamento do curso, já que esses não
conseguiriam acompanhar os outros estudantes em decorrência do déficit no
ensino médio. No entanto, pesquisas produzidas, por exemplo, Mandelli (2010),
destacam o fato de que, mesmo vindo de um ensino médio defasado, o esforço
dos cotistas é tamanho que apresentam bom desempenho acadêmico.

As mulheres também são objeto desse tipo de ação, como é o caso de se


destinar a elas um número de cadeiras no executivo. Essa ação afirmativa em
benefício das mulheres também é uma forma de promover o tratamento igualitário
entre homens e mulheres, possibilitando-se que ambos tenham acesso na
administração do nosso país.

Mas, certamente, há alguns passos importantes a serem dados nessa busca da


igualdade entre homens e mulheres, já que, infelizmente, a mulher ainda recebe
salários inferiores (mesmo exercendo a mesma função), ocupa menos cargos de
chefia (mesmo quando apresenta alto grau de instrução), entre outras situações
corriqueiras a serem conquistadas pelo gênero feminino. A violência doméstica e
familiar contra a mulher é uma das evidências mais graves das desigualdades de
gênero.

Considerando isso e verificando a elevação dos índices de violência e a frágil


segurança pública a que o povo brasileiro tem sido remetido, seu direito está
longe de ter a proteção necessária.

A vida e a boa convivência social são essenciais para a humanidade e compete


a todos nós, sociedade e organizações do Estado, zelarmos pela sobrevivência
saudável e sustentável, nossa e do meio ambiente.

Outro elemento que contribui para o direito à vida saudável é o acesso à


saúde. O Brasil conta com um sistema único de saúde (SUS) reconhecido
internacionalmente pela sua cobertura e universalização do acesso, no entanto,
ele não possibilita atendimento satisfatório. Além da falta de atendimento, os
profissionais da saúde regularmente protestam por “melhores condições de
trabalho”. No concernente ao saneamento básico, a realidade evidencia que
metade dos domicílios brasileiros não possuem qualquer ligação com a rede
coletora de esgoto, sendo que quanto mais pobre a região, maior o descaso.

Também está entre os basilares dos direitos civis o direito de “não ter o lar
violado”. Isso vai depender de uma série de circunstâncias para que realmente
seja respeitado, tais como: o bairro em que mora, o tipo de policial que está em
atividade e, até mesmo, o momento histórico. Tudo isso pode ser comprovado se
nos lembrarmos das invasões que ocorrerem nas favelas dos grandes centros,
em que absolutamente todos os “barracos” são invadidos, mesmo ali morando
pessoas de bem. Essas acabaram pagando por estarem no lugar e no momento
errado.

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completo.indb 19 09/06/2016 09:00:15


Capítulo 1

Muitas pessoas constroem suas moradas em áreas de risco, de preservação


ambiental, em lugares que geram perigos à vida. A violação do direito à moradia/
habitação é constante. Acompanhamos diariamente despejos forçados sem
cumprir as determinações internacionais de realojar essas pessoas, pois, na
prática, elas são retiradas por meio de força policial (que nada mais é do que o
braço do próprio Estado). Irresponsabilidades pessoais, privadas e do Estado
gerando insegurança às famílias, regiões, cidades, pela falta de condições de um
habitar seguro.

Os direitos humanos são a melhor forma de se defender e garantir a liberdade


pública, assim como de se proporcionarem as condições mínimas para uma
existência digna. E, para isso, conta-se com os poderes executivo, legislativo e
judiciário, voltados para o fortalecimento da democracia e da paz social.

O poder judiciário é o último guardião dos direitos humanos, isso porque é a


ele que o indivíduo, provado de seu direito, vai buscar guarida. E, por isso, é
tão importante que todos esses poderes estejam preparados para tamanha
responsabilidade: a de garantir os direitos humanos fundamentais.

A busca pela efetividade dos direitos humanos – principalmente dos direitos


econômicos, sociais e culturais – passa pela efetivação de políticas públicas e
pela responsabilidade de todas as instâncias e poderes. Muito ainda precisa ser
feito, principalmente visando à busca da universalidade e indivisibilidade dos
direitos humanos, porque o desrespeito aos direitos civis e políticos e a ausência
dos direitos econômico-sociais remete a preconceitos, exclusão e desigualdades
evidentes. Aqueles em situação de maior vulnerabilidade social são os mais
atingidos. São aqueles que vivem em locais com precárias condições de vida,
sem instrução, sem segurança, às margens da sociedade, os mais suscetíveis
à violência da criminalidade comum, são vítimas de balas perdidas, de violência
na escola, de doenças relacionadas à falta de saneamento básico, entre outras
violações.

Essas desigualdades ficam ainda mais evidentes quando relacionadas às


minorias, porque, por mais que sejam promovidas leis com o intuito de promover
a igualdade, ainda enfrentam grandes obstáculos, diariamente.

Vejamos o caso das mulheres, das crianças e dos idosos. As mulheres,


como já dito, ainda estão num processo intenso de busca de valorização.
Profissionalmente, precisam provar que são tão capazes quanto os homens
para merecerem respeito, quando em muitas circunstâncias são muito mais
capacitadas. Em casa, nem todas mantêm relações de respeito e igualdade na
divisão das responsabilidades.

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completo.indb 20 09/06/2016 09:00:15


Estudos Socioculturais

As crianças ainda são as que mais sofrem as vicissitudes da miséria e da


violência, já que, por si só, não possuem maturidade para lutarem pela sua
própria subsistência e proteção. E, quando acontece de lutarem, a falta de
estrutura sempre leva a caminhos bastante tortuosos, que o digam as crianças de
rua nas cidades brasileiras, entregues ao abandono, aos vícios, aos abusos.

Os idosos também têm sido objeto de legitimação, na tentativa de a sociedade


ou os órgãos públicos promover-lhes certa qualidade de vida quando chegam
à terceira idade. O fato é que a realidade ainda está distante de acompanhar as
normas. Constatam-se abandonos, descasos, fragilidades, violências tanto por
parte das famílias quanto por parte do Estado.

Quanto aos direitos políticos, esses não são amplamente assegurados quando o
povo não tem um mínimo de instrução para entender a importância de seus atos
e de suas escolhas, quando prevalece nas práticas dos gestores públicos práticas
de manobras conduzidas pelos interesses pessoais, políticos partidários, de
grupos privilegiados acima dos interesses coletivos e da república.

Podem ser citados muitos outros direitos que são violados diariamente em nosso
país, os quais são resultados de muitos fatores, entre eles deve ser ressaltada
a falta de informação e até de educação da população quanto aos seus direitos
humanos. A importância de nos percebermos como sujeitos transformadores da
vida, dos ambientes de convivência, do local onde moramos, da cidade, do país.

A paz, a solidariedade, a sustentabilidade a democracia são pilares de uma


sociedade que todos precisamos visualizar e ajudar a construir. Muito já
avançamos, precisamos continuar nos colocando como protagonistas da vida e
da história.

Existem muitas iniciativas que evidenciam a responsabilidade do Estado e da


sociedade com os Direitos Humanos, veja algumas iniciativas no site da Secretaria
de Direitos Humanos: http://www.sdh.gov.br e no site da Secretaria de Políticas para
Mulheres: http://www.spm.gov.br. Os links estão disponíveis no EVA.

Assim, entendemos que: não basta a incorporação dos direitos humanos ao


ordenamento jurídico brasileiro se esse não for do conhecimento de todos. Faz-
se necessária a promoção da educação para os direitos humanos, a fim de que
a população em geral possa conhecê-los para então buscá-los, respeitá-los e
vivenciá-los.

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completo.indb 21 09/06/2016 09:00:15




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Capítulo 2

Identidade e culturas
Jaci Rocha Gonçalves

Identidade, ethos cultural e relações pluralistas


As teorias clássicas da sociologia mostram um macro-olhar sobre a realidade dos
grupos humanos e de suas organizações. É da placenta da sociologia que nasce
a antropologia social ou também chamada Antropologia cultural.

Essa ciência auxilia os profissionais de todas as áreas a elaborarem um olhar


atento para a miudeza, para o micro das sociedades humanas que, muitas vezes,
passa despercebido aos profissionais em sua área específica de conhecimento.
É como se buscássemos o constitutivo próprio do humano, dando-lhe identidade
entre os seres da criação, ou seja, configurando-lhe um jeito-de-ser, um ethos
cultural capaz de gerar respostas diferentes para necessidades iguais.

Foi o que aconteceu recentemente com um aluno de ciências contábeis


da UNISUL, ao auxiliar uma comunidade mbyá-guarani na atualização da
personalidade jurídica criada para a aldeia. Foram dois anos de troca de saberes.
No período de visitação e observação, o acadêmico passou por vários estágios,
até que descobriu naquele povo a existência de uma etno-matemática. Fez a
experiência de estranhamento 1, questionando o porquê havia apenas aprendido
a matemática greco-romana e arábica. Pesquisou, então, no TCC, intitulado
Contador pluralista: ensaio de contabilidade com os mbyá-guarani das
aldeias Ka´akupé e kuri´y sobre a etno-matemática guarani. A banca lhe
deu nota em guarani. Foi outra surpresa. Os docentes mostraram ao formando
a importância de fortalecer esse olhar antropológico-cultural de pesquisador
pluralista de ciências contábeis. 2 Portanto, o encontro com o diferente cultural
pode revelar nossa identidade, nosso jeito de ser eternos aprendizes.

1 Segundo Laplantine (2005, p. 3) “estranhamento (depaysement) é essa experiência de perplexidade


provocada pelo encontro das culturas que são para nós as mais distantes, e cujo encontro vai levar a uma
modificação do olhar que se tinha sobre si mesmo.”

2 Consulte o TCC de SILVA JUNIOR, Ivo. O contador pluralista (…) no blog Revitalizandoculturas: blogspot.com.br

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completo.indb 23 09/06/2016 09:00:15


Capítulo 2

Quanto à construção identitária pessoal, podemos utilizar a análise filológica


dos termos antropologia e cultura, seguindo o que dizem alguns filósofos, como
Leonardo Boff (2001). Eles nos advertem que palavras como antropologia e
cultura “estão grávidas de significados existenciais porque reúnem infindáveis
experiências, positivas e negativas, de busca, de encontro, de certeza, de
perplexidade e de mergulho no ser. Com os dados da filologia, podemos
desentranhar sentidos das palavras com suas riquezas escondidas.” (BOFF, 2001,
p. 83).

Para nossa identidade, interessa-os a análise do significado de antropologia. Vem


do grego Άντθρωπος (ánthropos), que significa humano. Desse termo podemos
deduzir o que os antigos pensavam de si mesmos, e dos seres humanos. De fato,
Άντθρωπος (ánthropos) é composto pelo prefixo Άν, que quer dizer, todo aquele
que (com ideia de desejo, possibilidade, que afirma ou interroga de maneira
suave). A outra parte vem do verbo Τρέφω (tréfo), que significa crescer.

Portanto, os antigos davam o nome de ánthropos ao ser humano enquanto ser


que cresce se desenvolve, é bem nutrido, educado, tem força e está disposto. É
o oposto de átrofos, ser que está impedido de crescer, ou seja, definha, atrofia.
Assim, ánthropos é o humano enquanto ser que inclusive enfrenta o átrophos, a
atrofia. É como a origem do termo “humano”, em português. Vem do latim homo,
do substantivo húmus que significa terra fértil. Assim, húmus=homo=humano;
portanto, os humanos nascem para ser como o húmus, terra fértil.

Como se vê pela filologia, os sentidos de homo e de ánthropos se encontram,


embora elaborados em lugares e culturas diferentes. Em ambas as culturas, o
humano é visto como ser que cresce, ser bem nutrido, ser que previne e supera
atrofias.

Cabe, pois, a todo profissional, o direito e dever de construir uma visão, um olhar
antropológico-cultural pluralista de dualidade sobre o humano como ser holístico
e diverso. Tanto nas pesquisas interativas das ciências biológicas, ciências
sociais, tecnológicas como na saúde. De um lado, aprender a arte da inteireza
de ser e, de outro, capacitar-se a ver a diversidade como um constitutivo do
universo, da biodiversidade e, sobretudo, do humano. Porque só ao humano é
dado, como ser consciente, ter um viver pluralista, multicultural.

Na verdade, o pluralismo, acrescenta à pluralidade sua aceitação consciente


e procurada. A pessoa pluralista opta pelo diálogo. O diálogo abre horizontes
e supõe corações abertos. Quem tudo sabe, não dialoga; só ensina. Quem se
considera melhor, não dialoga, só julga. É a atitude da humildade (parecer-se com
o HUMUS) que nos convida à opção pelo diferente. (GONÇALVES, 1995).

Nesse modo-de-ser humano, de ser ánthropos, é determinante a inteligência


relacional.

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completo.indb 24 09/06/2016 09:00:15


Estudos Socioculturais

Para uma performance eficiente, deve investir no cuidado adequado das relações
culturais consigo, com o outro e o mundo; daí, sua saúde ético-ontológica
(HEIDEGGER apud GONÇALVES-IUNSKOVISKI, 2015). A primeira relação do
sujeito é com o seu ethos cultural, ou seja, o modo particular de viver e de habitar
eticamente o mundo que uma comunidade tem ao fazer sua história.

Consequentemente, passa a ser também fundamental a endoculturação, ou seja,


o processo de cultivo do ethos cultural por meio de uma sadia interação de quem
valoriza seu contexto vital. Endoculturação sublinha a relação positiva do sujeito
ao interno de sua cultura semelhante à socialização - do vocabulário sociológico
e psicológico (AZEVEDO, 1986, p. 413). Esse cuidado endocultural é importante
não só para cada pessoa mas, sobretudo, para agregar valor a toda pessoa
estudiosa, como nós, denominada pelo filósofo italiano Antonio Gramsci, como
pessoa intelectual orgânica. Optando pela formação universitária, o indivíduo
resolveu construir um perfil crítico-criativo e solidário-pluralista na sociedade em
que vive.

É uma postura saudável para nutrir o ethos pessoal e sociocultural na convivência


com o outro diferente, possibilitando também viver uma adequada aculturação.
Essa relação designa todo processo de transformações que se verificam numa
pessoa ou grupo pelo contato com uma cultura que não é a sua ou pela interação
de duas ou mais culturas distintas, sem perder sua identidade. A pesquisa
antropológica, sem nunca se substituir aos projetos e às decisões dos próprios
atores sociais deve propor instrumentos que os ajudem a reagir ao “choque
da aculturação, isto é, ao risco de um desenvolvimento conflituoso, levando
à violência negadora das particularidades econômicas, sociais e culturais de
um povo.” (LAPLANTINE, 1997). O mesmo autor pede atenção para outras
duas urgências que fazem a nossa diferença identitária pessoal e comunitária,
sobretudo, enquanto intelectuais orgânicos pluralistas.

A primeira urgência é a preservação dos patrimônios culturais locais ameaçados.


Lutamos contra o tempo para que a transcrição dos arquivos orais e visuais
possa ser realizada a tempo, enquanto os últimos depositários das tradições
ainda estão vivos. A segunda urgência é promover a restituição aos habitantes
das diversas regiões nas quais trabalhamos, do seu próprio saber e saber-fazer.
(LAPLANTINE apud GONÇALVES, 2016a, p. 49). A Constituição Brasileira de 1988
(arts 215-216) pede resposta a essas urgências.

Essas urgências pedem ruptura com a concepção assimétrica da pesquisa, ou


seja, baseada apenas na captação unilateral de informações sem se importar com
a reciprocidade entre os sujeitos envolvidos na pesquisa, dispostos a não perder
formas originais e únicas de pensamento e de atividades. Essas urgências se
acentuam no Brasil com relação não só aos povos originários mas também aos
afro e de descendência euro-asiáticas.

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completo.indb 25 09/06/2016 09:00:15


Capítulo 2

Darcy Ribeiro (2006) resume essas urgências na sentido de “negar as negações”


seculares e, na mesma proporção, fortalecer as afirmações das ricas diferenças
de saberes e fazeres próprias dos trópicos.

Podemos concluir essa reflexão sobre as relações com o diferente cultural,


analisando relações etnocêntricas tão comuns na construção histórica
de nossa identidade de povo brasileiro. Existente na humanidade, essas
relações etnocêntricas tomaram contornos mundiais nos últimos 600 anos
de modernidade, ou seja, a partir das Grandes Navegações e da invenção da
prensa. Seguiu-se uma dupla ideologia pendular entre fascínio e recusa da
alteridade originária ameríndia e africana. Elas resultaram em complexas relações
crônicas de negação de identidades que ainda repercutem em nosso cotidiano
atual. Somos refratários da intolerância, fruto do chamado etnocentrismo ou
transculturação.

É uma relação de possível ou efetiva transferência unilateral e,


eventualmente, impositiva, de sentidos e valores, de símbolos,
padrões e instituições, de uma cultura específica para outras
culturas. Transculturação, nesta acepção, conota, de algum
modo, uma postura etnocêntrica e/ou dominante da cultura
emissora, autossuficiente na consciência da própria superioridade
cultural. A cultura que assim opera, afetando as outras
profundamente, tende, contudo, a não se deixar influenciar por
elas. (AZEVEDO, 1986, p. 413).

As conseqüências das relações etnocêntricas ao longo da história de ontem e


de hoje são caóticas. A colonização certamente não foi a única, mas, a mais
marcante. Como exemplos de visão eurocêntrica pode-se transcrever a opinião
de Cornelius de Pauw (1774), sobre os índios da América do Norte. Diz ele que os
americanos têm “temperamento tão úmido quanto o ar e a terra onde vegetam”,
isso explica que eles não têm nenhum desejo se­xual. Em suma, são “infelizes que
suportam todo o peso da vida agreste na escuridão das florestas; parecem mais
animais do que vegetais”. (PAUW, 1774, apud LAPLANTINE, 2005, p. 43).

Hegel em Introdução à Filosofia da História (1830) se horroriza com os povos extra-


europeus: os originários das Américas e da Ásia e, sobretudo, da África do interior
pertencem a uma infra-humanidade: “Ele cai”, escreve Hegel, “para o nível de uma
coisa, de um objeto sem valor”. (Idem, p. 47).

Esta visão transculturadora, etnocêntrica deixou marcas de etnocídios históricos


como no México entre 1532-1568 de mais de 14 milhões de mortos e que tem
sido objeto de estudiosos, como Enrique Dussel (1986).

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completo.indb 26 09/06/2016 09:00:15


Estudos Socioculturais

Abordamos fatos e causas dos etnocídios a partir do Diário de Bordo de


Colombo; também ele, o comandante, entre a admiração religiosa e a violência
que você pode aprofundar. (GONÇALVES, 2016a, p.41-45). Seguiu-se um
interminável genocídio ou etnocídio feito pelos conquistadores, como o lembrado
acima no México. Dussel (1986) comenta que se fizesse a busca estatística do
mesmo fenômeno de extermínio e genocídio na América do Norte, o horror seria,
provavelmente, bem maior.

No Brasil, os atos praticados pela colonização desde 1500 aos 900 povos
originários sustentaram um genocídio com extinção paulatina: dos cinco milhões,
hoje restam 350 mil originários e cerca de 250 etnias. De acordo com os números
referidos pelo etnógrafo Francisco Dias Tano, os Bandeirantes, nas ofensivas
entre 1636-1638 às vinte e cinco reduções indígenas dos Sete Povos das
Missões, transformaram em escravos e/ou mataram trezentos mil índios.

Sete Povos das Missões é o nome que se deu ao conjunto de sete aldeamentos
indígenas fundado pelos Jesuítas espanhóis no Continente do Rio Grande de São
Pedro, atual Rio Grande do Sul, composto pelas reduções de São Francisco de
Borja, São Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista, São
Luiz Gonzaga e Santo Ângelo Custódio.

Outro horror legalizado pela jurídica eurocêntrica transculturadora na história


brasileira foi com os africanos forçados a trabalharem aqui como escravos desde
1550. Gonçalves (1995, p. 76) mostra que essa coisificação legalizada de pessoas
teve sua garantia jurídica pela Lei do Padroado português. As Constituições da
Bahia de 1707 restringem os direitos à cidadania do originário, do judeu, do negro
e das pessoas com deficiência. Eles não poderiam ter acesso às ordens sacras,
por exemplo. No Título LIII, art. 224, as alíneas determinam esses impedimentos.
(GONÇALVES, 2016a, p. 41-45).

Na Guerra do Paraguai (1860-1870) acontece mais um genocídio negro-guarani


oficial. Junto aos 75% dos guarani do Paraguai mortos para completar no
genocídio indígena de 1750-1763, cem anos antes, a Guerra do Paraguai matou
40% da população negra brasileira, cerca de um milhão de negros. Foi a primeira
vez na História do Brasil que os negros diminuíram em números proporcionais e
absolutos em relação à população branca. Em 1800 havia um milhão de negros
no país; em 1860, 2,5 milhões; em 1872, apenas 1,5 milhão. Um verdadeiro
processo de arianização ou embrancamento do Império. (GONÇALVES, 1995, p.
59).

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completo.indb 27 09/06/2016 09:00:15


Capítulo 2

Os estudos sobre a negritude e o escravismo no Brasil foram muito prejudicados


pelo decreto do Ministro Rui Barbosa, em 1890. Ele ordenou a destruição de todos
os documentos relacionados com a escravidão. Além dos documentos destruídos
e desaparecidos, há os que permanecem sepultados nos arquivos. (GONÇALVES,
2016a, p. 52-53).

Nesse contexto histórico marcado pela transculturação, você tem conhecimento,


é claro, das reações desses povos afrodescendentes. Cada vez mais conhecidos,
os quilombos estiveram presentes por todo o território nacional; os negros
também estiveram presentes nas confrarias. Ainda pouco estudadas, estão
vivas a resistência estética do samba e de suas escolas, as terapias e medicinas
religiosas do terreiro; as artes e sabedorias da capoeira.

Hoje, os movimentos políticos de afrodescendentes pós 1975 têm protagonizado


um processo de negação das negações de identidade e, com os povos
originários, vão além: procuram a afirmação de sua rica diversidade.

Os movimentos de afirmações internacionais seguem pelo mesmo caminho


desde a década de 1960, na política, com Martin Luther King nos EUA, Léopold
Senghor no Senegal e Mandela na África do Sul. Além disso, políticas de
reparação com afirmações estéticas na diáspora africana contribuíram para a
Declaração do Direito Universal à Diversidade Cultural, pela ONU em Durban,
setembro de 2001, na África do Sul. Após 53 anos, finalmente se obedece ao
sonho plantado no artigo 27 da Declaração Universal dos Direitos Humanos de
1948.

A própria criação de etnos-filosofias tem respondido às sabedorias do norte do


Equador com uma nova assertiva aos cartesianos, por exemplo. Isso vem bem
resumido pelo pensador Eboussi Boulaga, quando afirma que na identidade
africana, em personagens como Muntu da obra La crisi Du Muntu, vale o Eu
penso, logo, existo! de Descartes, mas, sobretudo, o Eu Danço, então, e vivo!
das sabedorias ancestrais africanas.

Diante desse percurso, vale retomar os sonhos das possíveis e necessárias


relações adequadas com o diferente cultural, superando conceitos de raça e de
distinção dos humanos por características físicas. O que nos identifica é o cultural
de nosso ethos, cuja riqueza constitui-se pela diversidade de respostas para
necessidades iguais. Esse nosso ethos cultural merece que nos eduquemos a
uma visão pluralista e multicultural para um bem viver mais justo e feliz.

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completo.indb 28 09/06/2016 09:00:15


Estudos Socioculturais

O cultural no humano: conceitos, escolas antropológicas e


métodos essenciais
Ser cultural é o natural do humano. Aprofundamos agora o ser cultural como o
natural e específico modo de ser do humano. Esse jeito de ser característico que
nos possibilita gerar respostas diferentes para necessidades iguais demanda uma
cuidadosa análise dos conceitos sobre o cultural no ánthropos. Como constata o
pai do Estruturalismo Claude Lévi-Strauss: “pois se há algo natural nessa espécie
particular que é a espécie humana, é sua aptidão à variação cultural.” (LÉVI-
STRAUSS apud LAPLANTINE, 2005, p. 9)

Por isso, é preciso aprofundar o difícil conceito de cultura, como explica


Eagleton (2005, p. 9) “cultura é considerada uma das duas ou três palavras mais
complexas de nossa língua”. Achar uma definição única é algo impossível, pois
sua própria diversidade de interação, representação e interpretação, dificultam e
pluralizam seu conceito.

Mais uma vez, com apoio da filologia, (BOSI, 2015), podemos ver como a palavra
cultura se formou em nossa língua. Vem do verbo latino colere conjugado no
presente do indicativo colo (eu cultivo a terra) e no particípio passado cultus
(aquilo que foi cultivado e tornado culto no rito religioso). Do particípio futuro
culturus se extraem os adjetivos culturus, a, um (o que ainda vai ser cultivado).
Três palavras que na língua latina amarram o presente, passado e futuro. Portanto,
culturus tem raiz em colo (presente) e em cultus (passado). (GONÇALVES, 2016b,
p. 5)

O antropólogo brasileiro Roberto Damatta (GONÇALVES, 2016b, p. 37) explica


ser fundamental para o olhar antropológico-cultural “estranhar aquilo que nos
parece familiar, para assim descobrir o exótico que está congelado dentro de nós
pela reificação, ou seja, a redução à coisa natural do que, na verdade, é cultural,
bem como pelos mecanismos de legitimação.” Importa, pois, fazer constantes
incursões sobre essa busca cada vez mais consciente do cultural em nós, como a
nossa forma de ser com DNA característico entre as demais espécies.

Sobre a teoria da cultura, muita reflexão se tem produzido desde que em 1871,
Edward B. Tylor (1871, vol. I, p. 1) descreveu cultura como “o conjunto complexo,
a totalidade de conhecimentos, crenças, artes, leis, moral, costumes e qualquer
capacidade e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma
sociedade.” Hoje, aceita por todos os estudiosos do ramo.

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completo.indb 29 09/06/2016 09:00:15


Capítulo 2

Vale também lembrar que o cultural, próprio do humano, é dinâmico. Clifford


Geertz acentua o aspecto da transformação que o ser humano, consciente
e livremente, realiza na natureza, tanto na própria quanto na alheia, visando
ao seu aperfeiçoamento. Por isso diz que a cultura “não é um complexo de
comportamentos concretos mas um conjunto de mecanismos de controle,
planos, receitas, regras, instruções (que os técnicos de computadores chamam
programa) para governar o comportamento”. No entanto, C. Klukhohon e A. L.
Kroeber recenseando 164 definições de cultura, entre cerca de 300 citadas na sua
obra, reconhecem que “a cultura entendida como ‘totalidade compreensiva’ de
toda a vida do grupo social, é algo que ‘atualmente é aceita com universalidade’”.
(KLUKHOHON-KROEBER, 1972, p. 88)

Você pode ter agora uma visão geral das escolas ocidentais mais conhecidas que
se sucederam, objetivando estudar o cultural no humano nesses cerca de 215
anos de buscas de sistematização dos estudos sobre o cultural no ánthropos.
O primeiro laboratório da nascente ciência antropológica foi a Escola do
Evolucionismo Social de matriz inglesa, berço das ciências da natureza.

Na Midiateca do EVA, você pode estudar sobre Teorias da Cultura, de autoria


da profª Dra. Maria Terezinha da Silva Sacramento. A socióloga dialoga com
pensadores expoentes de várias escolas de antropologia cultural e da sociologia
sobre conceitos, métodos, problemas e prospectivas das questões culturais dos
brasileiros e outros povos.

A partir de agora, seguem adaptadas as sinopses bem elaboradas do antropólogo


Dr. Vagner Gonçalves da Silva, para facilitação de seus estudos.

Fonte: SILVA, Vagner Gonçalves da. Antropologia. Disponível em: http://www.fflch.


usp.br/da/vagner/antropo.html> Acesso em: 14 maio 2016.

Quadro 1.1 - Escola do Evolucionismo Social

Escola/Paradigma Evolucionismo Social


Período Século XIX

Características Sistematização do conhecimento acumulado sobre os


“povos primitivos”. Predomínio do trabalho de gabinete.
Método comparativo das variações culturais. Método
Comparativo ou Etnológico.

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completo.indb 30 09/06/2016 09:00:15


Estudos Socioculturais

Temas e Conceitos Unidade psíquica do homem. Evolução das sociedades


das mais “primitivas” para as mais “civilizadas”. Busca das
origens (Perspectiva diacrônica). Estudos de Parentesco
/Religião /Organização Social. Direitos do Matriarcado.
Substituição gradativa do conceito de raça pelo de
cultura. Primeira definição e conceito de cultura.

Alguns representantes  Maine (“Ancient Law” - 1861). 


e obras de referência Herbert Spencer (“Princípios de Biologia” - 1864). 
Edward Burnet Tylor (“A Cultura Primitiva” - 1871). 
Lewis Henry Morgan (“A Sociedade Antiga” - 1877). 
James Frazer (“O Ramo de Ouro” - 1890).

Johann Jakob Bachofen (1815 – 1887). (“Mother Right:


an investigation of the religious and juridical character of
matriarchy in the Ancient World” - 1861) e Adolf Bastian
(1826-1905) Controversen in der Ethnologie, 1893.

Fonte: SILVA, 2016.

As escolas de antropologia vão nascendo como filhas de discussões abertas.


Seu primeiro objeto é estudar as populações que não pertencem à civilização
ocidental. Demonstram que todos os seres humanos descendiam de um único
ancestral comum e pertenciam a uma única espécie. A crítica posterior é a
acentuação progressionista que eleva o modo de ser do povo europeu sobre as
outras sociedades. (GONÇALVES, 2016b, p. 8-15)

A Escola Sociológica Francesa reúne os primeiros críticos ao pensar


evolucionista da Antropologia biológica ou física a partir da jovem ciência da
sociologia.

Quadro 1.2 - Escola Sociológica Francesa

Escola/Paradigma Escola Sociológica Francesa


Período Século XIX

Características Definição dos fenômenos sociais como objetos de


investigação sócio-antropológica. 
Definição das regras do método sociológico. Método
genealógico – desenvolve o estudo do parentesco e suas
implicações sociais. Interesse e pesquisa de campo de
sociedades distantes.

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completo.indb 31 09/06/2016 09:00:15


Capítulo 2

Temas e conceitos Representações coletivas. Solidariedade orgânica e mecânica.


Formas primitivas de classificação (totemismo) e teoria do
conhecimento. Busca pelo fato social total (biológico +
psicológico + sociológico). A troca e a reciprocidade como
fundamento da vida social (dar, receber, retribuir). Trabalhar
minúcias.

Alguns representantes  Émile Durkheim: “Regras do método sociológico”- 1895;


e obras de referência “Algumas formas primitivas de classificação” - c/ Marcel Mauss
- 1901; “As formas elementares da vida religiosa” - 1912. 
Marcel Mauss: “Esboço de uma teoria geral da magia” - c/
Henri Hubert - 1902-1903; “Ensaio sobre a dádiva” - 1923-
1924; “Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa,
a noção de eu”- 1938); “Manual de Etnografia” - 1930.

Fonte: Silva, 2016.

É tradição desses pesquisadores/as estudarem as sociedades não ocidentais


deixando o gabinete e viajando em busca do humano não europeu: eles
confirmam que a variação cultural constitui a experiência social humana. Claude
Lévi-Strauss (1993) destacou que foi Émile Durkheim o primeiro a introduzir nas
ciências do homem a exigência de olhar as especificidades. Dessa forma, a
Antropologia se diferencia da Sociologia, pois, à Antropologia importa focar o
minucioso, valorizar o micro. À Sociologia, interessa o macrossocial.

Coube a Marcel Mauss, discípulo e sobrinho de Durkheim, mostrar essa


importância do minucioso. Para ele é possível observar e anotar, de forma
sistemática, o repertório de respostas de cada povo na elaboração de suas
respostas diferentes a necessidades iguais entre os humanos. Mauss demonstra,
por exemplo, no Ensaio sobre a dádiva, que “toda representação é relação –
isto é, funda-se sobre a união de uma dualidade de contrários” (LANNA, 2000, p.
175). É a dádiva que produz alianças, tanto matrimoniais como políticas (trocas
entre chefes ou diferentes camadas sociais), religiosas (como nos sacrifícios,
entendidos como um modo de relacionamento com os deuses), econômicas,
jurídicas e diplomáticas (incluindo-se aqui as relações pessoais de hospitalidade).

Exemplo brasileiro típico é o cunhadismo, apontado pelo antropólogo brasileiro Darcy


Ribeiro (1995). O cunhadismo, semelhante ao fenômeno observado por Mauss, é a
instituição social do milenar uso indígena de incorporar estranhos à sua comunidade
ameríndia e no Brasil pré-cabraliano. (GONÇALVES, 2016b, p. 18).

Para esses cientistas, primeiros antropólogos, o aspecto sociológico constitui


todos os seres vivos, mas o cultural é percebido como exclusivo do ánthropos.
À nossa ciência cabe interessar-se pelo cultural como específico do humano.
(GONÇALVES, 2016b, p. 14)

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Estudos Socioculturais

A Escola Funcionalista contribui com a visão de totalidade e o funcionamento


por sistemas observados. Voltamos ao outro lado do Canal da Mancha, na
Inglaterra, berço das ciências da natureza nos tempos do Empirismo.

Quadro 1.3 - Escola Funcionalista

Escola/Paradigma Escola Funcionalista


Período Século XX - anos 20

Características  Modelo de etnografia clássica (Monografia). Ênfase no


trabalho de campo (Observação participante). Sistematização
do conhecimento acumulado sobre uma cultura. Método
Funcionalista – desenvolve o estudo das culturas a partir de
sua funcionalidade dentro de um universo cultural mais amplo.
Temas e conceitos Cultura como totalidade. Interesse pelas Instituições e suas
funções para a manutenção da totalidade cultural. Ênfase
na Sincronia x Diacronia. Síntese integrada. Unidade na
diversidade.

Alguns  representantes  Bronislaw Malinowski (“Argonautas do Pacífico Ocidental”


e obras de referência -1922).  Radcliffe Brown (“Estrutura e função na sociedade
primitiva” - 1952-; e “Sistemas Políticos Africanos de
Parentesco e Casamento”, org. c/ Daryll Forde - 1950).  Evans-
Pritchard (“Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande” -
1937; “Os Nuer” - 1940). 
Raymond Firth (“Nós, os Tikopia” - 1936; “Elementos de
organização social - 1951). Max Glukman (“Ordem e rebelião
na África tribal”- 1963). Victor Turner (“Ruptura e continuidade
em uma sociedade africana” - 1957; “O processo ritual” -
1969). Edmund Leach - (“Sistemas políticos da Alta Birmânia”
- 1954).

Fonte: Silva, 2016.

É o antropólogo polonês naturalizado inglês Bronislaw Malinowski (1884-1942)


quem se sobressai nessa ótica britânica do estudo da organização dos sistemas
sociais. A Escola Funcionalista mantém o método da etnografia clássica de
estudo sistemático, a monografia, e afirma a importância da ênfase ao trabalho de
campo com a observação participante na pesquisa antropológico-cultural. Como
os franceses, esses cientistas do ánthropos se desalojam: enfrentam os mares e
vão residir e conviver com povos distantes.

Malinowski atrai a atenção sobre a antropologia quando publica Os Argonautas do


Pacífico Ocidental, em 1922. É o primeiro a viver com as populações que estudava
e a recolher materiais de seus idiomas. Radicalizou essa compreensão por dentro,
para isso, procurou romper ao máximo os contatos com o mundo europeu.

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completo.indb 33 09/06/2016 09:00:15


Capítulo 2

Malinoviski representa a postura cientificamente rigorosa em arriscar-se a


compreender de dentro, por uma verdadeira busca de despersonalização, o que
sentem os homens e as mulheres que pertencem a uma cultura que não é nossa.

Hoje, todos os etnólogos estão convencidos de que as sociedades diferentes


da nossa são humanas tanto quanto a nossa. Os homens e mulheres que nelas
vivem são adultos e se comportam de forma apenas diferente da nossa; não
são primitivos, autômatos e atrasados (em todos os sentidos dos termos), que
pararam em uma época distante e vivem presos a tradições estúpidas.

Mas pensar assim nos anos 20 era uma postura revolucionária adotada por
Malinowski. Optando por observar e analisar essa coerência interna em cada
sociedade, Malinowski elabora a teoria do funcionalismo que tira seu modelo das
ciências da natureza. Assim, os padrões culturais determinariam o surgimento
do estatuto, que é o liame entre as intuições. Neste processo de análise da
realidade, Malinowski vê como fundamentais três procedimentos metodológicos:
1) a observação de todos os costumes dos nativos; 2) a apreensão das narrativas
orais; e 3) a utilização do método estatístico. Ele mostra também como ponto
essencial na observação do comportamento dos nativos é estar atento aos
imponderáveis da vida real, ou seja, os elementos não abarcados pela análise
estatística e que, na verdade, são a carne e o sangue da arquitetura teórica de
toda pesquisa científica. (GONÇALVES, 2016b, p. 26).

Importa agora que aprofundemos os métodos e técnicas da ciência


antropológico-cultural e que significa, antes de tudo, ouvir Franz Uri Boas
(1858-1942), conhecido como o Pai da Antropologia Americana e fundador da
Escola Culturalista. Boas teve como alunas e colegas Ruth Benedict, Edward
Sapir, Alfred Louis Kroeber, Robert Lowie, Melville Jean Herskovits, Paul Radin e
como obra A formação da antropologia americana 1883-1911: antologia.

Franz Boas, físico, geógrafo e historiador muito contribuiu com sua escola à
crítica do Método Comparativo ou Etnológico e seus reducionismos. Sugeriu o
acréscimo de certa dose do que chamou de relativização. O relativismo inclui que
os resultados obtidos na etnografia passem pelo crivo dos estudos históricos
das culturas, das condições psicológicas e dos ambientes onde se desenvolvem
essas culturas.

Por essa relativização, Franz Boas abre os olhos para os perigos de falsas
interpretações das teorias deterministas do fenômeno cultural. Fruto das críticas
de Franz Boas e de sua escola a esse possível comportamento reducionista
de generalização foi o contraponto da necessidade de analisar os elementos
culturais em seu contexto de conjunto, já que o vício comum era inferir-se a uma
totalidade a partir de uma parcela mínima da cultura.

Boas acreditava que a comparação deveria ser restrita a um pequeno território.

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Estudos Socioculturais

Dessa forma, passou a ser um importante crítico do evolucionismo e do


funcionalismo por causa do excesso de uso do Método Comparativo para
dedução de indícios culturais. Por isso, alertava para o fato de que fenômenos
iguais podem ter causas e sentidos diferentes: “cada máscara é única,” sua
célebre frase.

Depois que Franz Boas convidou os antropólogos americanos formados em sua


Escola Culturalista a observar cada fenômeno como resultante de acontecimentos
históricos, estes estudiosos passaram a “elaborar conceitos definidos para o
estudo dos fatos da difusão cultural, sem deixarem, no entanto, de continuar a
acumular uma massa impressionante de dados” (MERCIER, 2000, p. 56).

Como as escolas anteriores, evolucionista e funcionalista, Boas valoriza, na


Antropologia Cultural, o seu modo característico de olhar o microssociológico.
Para ele, tudo deve ser anotado com descrição minuciosa e devem ser colhidas
todas as versões. Cada cultura é uma unidade autônoma e um costume só tem
significado frente ao contexto no qual se insere.

No entanto, é na Escola do Estruturalismo de Claude Lévi-Strauss que podemos


clarear melhor os métodos e técnicas para uma adequada aproximação
científico-cultural. Claude Lévi-Strauss (1908-2009), com sua mulher, Dina
Dreifruss, deixou marcas profundas na fundação da disciplina de Antropologia
Cultural no Brasil enquanto participante do grupo de docentes franceses criador
da USP (Universidade de São Paulo) (GONÇALVES, 2016b, p. 51). Sua escola
traz a visão da busca das regras estruturantes das culturas presentes na mente
humana, sintetizando muitas contribuições de escolas anteriores, visando a dar
autonomia à nossa ciência da Antropologia Cultural.

Quadro 1.4 - Escola Estruturalista

Escola/Paradigma Escola do Estruturalismo


Período Século XX -  anos 40

Características Busca das regras estruturantes das culturas presentes


na mente humana. Teoria do parentesco/Lógica do mito/
Classificação primitiva. Distinção natureza x cultura. 

Temas e Conceitos Princípios de organização da mente humana: pares de


oposição e códigos binários. Reciprocidade.

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Capítulo 2

Alguns representantes  Claude Lévi-Strauss: “As estruturas elementares do


e obras de referência  parentesco” - 1949.
 “Tristes Trópicos”- 1955.
“Antropologia estrutural” – 1958. 
“Pensamento selvagem” - 1962. 
“O cru e o cozido” – 1964.
“O homem nu” – 1971 - Saudades do Brasil. “Antropologia
estrutural dois” – 1973. 
Lévi-Bruhl, Marcel Griaule, Dieux d’Eau, Germaine Dieterlen
e Le Renard Pâle.

Fonte: Silva, 2016.

Alguns a consideram uma “super teoria”, mas também sofreu críticas e


questionamentos principalmente em relação à utilização dos modelos, pois ao
observar as relações sociais se utiliza de modelos que podem explicar todos os
fatos observados. Por isso, o estruturalismo pode ser considerado tanto como
uma linha de análise antropológica quanto um método de análise. Marconi (1992,
p. 277) cita esses pontos importantes do estruturalismo:

1. Visão sincrônica e sistêmica da cultura.


2. Visão globalizante do fenômeno cultural (o conhecimento do todo
leva à compreensão das partes).
3. Adoção das noções de estrutura social e relações sociais.
4. Utilização de modelos na análise cultural.
5. Unidade de análise: estruturas mentais inconscientes.
6. Compreensão ampla da realidade cultural.
Laplantine (2005, p. 25) resume a visão de Lévi-strauss sobre o Método
antropológico-cultural. São três etapas:

1. ETNOGRAFIA: É a coleta direta, e o mais minuciosa possível, dos


fenômenos que observamos, por uma impregnação duradoura
e contínua e um processo que se realiza por aproximações
sucessivas. Esses fenômenos podem ser recolhidos tomando-
se notas, mas também por gravação sonora, fotográfica ou
cinematográfica.
2. ETNOLOGIA: Consiste no primeiro nível de abstração: através da
analise dos materiais colhidos, fazer aparecer a lógica específica da
sociedade que se estuda.
3. ANTROPOLOGIA: Consiste num segundo nível de abstração:
construir modelos que permitam comparar as sociedades entre si.
(LÉVI-STRAUSS apud LAPLANTINE 2005, p. 25).

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Estudos Socioculturais

Você pode aprofundar também sobre os métodos e técnicas aplicáveis em sua


área de conhecimento profissional, porque são frutos da interdisciplinaridade. A
técnica de pesquisa trata-se, sinteticamente, de um modo de conseguir os dados
sem nenhuma intermediação de outros registros, sejam eles os dos historiadores,
viajantes, missionários, médicos, assistentes sociais ou funcionários do governo
que estiveram antes na região ou grupo em pesquisa. Nenhuma técnica dispensa
a da Observação Participante pelo profissional responsável. Observe, no quadro
que segue, algumas técnicas de vários métodos de ciências afins do estudo
sobre o humano e com as quais podemos interagir:

Quadro 1.5 - Métodos e Técnicas com interface para a ciência da Antropologia Cultural

Método Histórico: procura investigar acontecimentos passados, a fim de compreender


aspectos ou modos de vida do presente. Para isso, usa coleta de documentos materiais e
imateriais;

Método Monográfico ou Estudo de Caso: desenvolve estudo aprofundado de determinado


caso ou grupo humano em todos os seus aspectos;

Método Funcionalista: desenvolve o estudo das culturas a partir de sua funcionalidade


dentro de um universo cultural mais amplo.

Técnica Estatística: os dados coletados são transformados em termos quantitativos e


dispostos em tabelas, quadros e gráficos para uma análise posterior;

Técnica da Genealogia: desenvolve o estudo do parentesco e de suas implicações sociais.

Técnica da observação: sistemática e participante.

Técnica da entrevista: dirigida e livre.


Fonte: Adaptação do Autor, 2016.

A Antropologia Cultural, nesse sentido, vem diversificando seus temas de


abordagem e se aproximando cada vez mais da Linguística, da Psicologia,
da História, da Sociologia como vimos mencionando até aqui. A análise
antropológico-cultural nessas etapas tripartites propostas por Lévi-Strauss
deve levar em consideração os dados históricos, os fatos econômicos, os
conflitos políticos e o todo que constitui esse complexo fenômeno do cultural no
humano. Por isso, nossa análise não pode se desprender do diálogo científico
interdisciplinar.

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completo.indb 37 09/06/2016 09:00:15


Capítulo 2

Desafios para a saúde cultural planetária e brasileira


Nossos estudos sobre identidade e culturas propõem como essencial, para o bem
viver humano individual e planetário, um adequado tratamento da relação com o
cultural para que o ánthropos aconteça em cada pessoa de forma consciente e
lhe garanta reprodução e qualidade de vida sustentável. E o desafio maior está
indicado e mapeado na própria filologia do sentido de cultural. Você lembra que
a palavra cultura está ligada ao particípio futuro latino do verbo colere (cultivar),
ou seja, culturus = o que vai ser trabalhado e cultivado. É, pois, um termo que une
passado e presente. Cultura supõe, sobretudo, uma consciência grupal operosa
e operante que desentranha da vida presente os planos para o futuro = dimensão
de projeto (jectus = jogado, arremessado; pro = para frente).

O sonho de convivência adequado entre diferentes culturas é constatável


há milênios. Exemplo claro está no histórico diciodeontológico de leis e
mandamentos nas culturas conhecidas no Oriente e Ocidente. Eles aparecem
como respostas teimosas de esperança na organização do material caótico
deixado por situações crônicas de histórico de guerras e de invasões, apontando
para o convívio impossível com o diferente cultural. A mais recente carta de
esperança vai completar 70 anos. É a resposta às tragédias de crueldade
indescritível imposta a milhões de vítimas nas duas guerras mundiais do século
XX: a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 10 de dezembro de
1948.

Os autores aprofundam essa difícil implantação e vivência ética dos Direitos


Humanos e da natureza. Aqui o nosso foco são os direitos culturais e
socioambientais. Tudo o que vimos refletindo já mostra a complexidade, a
escassez de pesquisa e a urgência de dedicação ao estudo, em vista de
saudáveis relações entre culturas diferentes vistas como riqueza e não como
ameaças. O sonho da realização dos direitos culturais já está definido no Artigo
27 da Declaração Universal de Direitos Humanos em 1948:

“1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida


cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do
processo científico e de seus benefícios. 2. Toda pessoa tem
direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes
de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja
autor.”

A implementação do Artigo 27 dá um primeiro passo no Pacto


Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC), tratado
multilateral que só foi adotado pela ONU em 16 de dezembro de 1966, e em vigor
dez anos depois, em 3 de janeiro de 1976. A obediência à regulamentação do
Artigo 27 passa ainda por um lento mas insistente processo de concretização do
sonho na Conferência Mundial sobre as Políticas Culturais (MONDIACULT),

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Estudos Socioculturais

no México, em 1982; isso se fortalece na Comissão Mundial de Cultura


e Desenvolvimento no documento Nossa Diversidade Criadora, 1995,
e na Conferência Intergovernamental sobre Políticas Culturais para o
Desenvolvimento em Estocolmo, 1998.

Todos os esforços levaram à Declaração Universal sobre a Diversidade


Cultural de setembro de 2001, em Durban, na África do Sul. Na Assembleia Geral
da ONU de 20 de dezembro de 2002, a Res. 57/249 Cultura e desenvolvimento
declara 21 de maio como o Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e
Desenvolvimento. Tamanho passo foi ofuscado pelos acontecimentos do 11 de
setembro no World Trade Center (nos EUA).

O primeiro resultado foi o acolhimento dos avanços da ciência da Antropologia


Cultural sobre o conceito de cultura:

A cultura deve ser considerada como o conjunto dos traços


distintivos espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que
caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que abrange,
além das artes e das letras, os modos de vida, as maneiras de
viver juntos, os sistemas de valores, as tradições e as crenças.
(UNESCO, preâmbulo, 2001, Cf. outros aspectos no próprio
documento).

O passo mais urgente da humanidade em relação à riqueza da diversidade


cultural, no entanto, ocorre em 13 de setembro de 2007. É a Declaração
Universal do Direito dos Povos Indígenas. A Declaração com 46 artigos visa a
proteger mais de 370 milhões de pessoas que integram essas comunidades, as
mais vulnerabilizadas e marginalizadas no planeta.

É um marco histórico para o movimento indígena após 20 anos de pressão nos


corredores das Nações Unidas. Os quatro votos contrários foram dos Estados
Unidos, Canadá, Rússia e Nova Zelândia. Nesses países, porém, as populações
nativas como os inuit (esquimós), maoris e aborígenes mantêm movimentos
organizados de resistência política e cultural. A declaração estabelece os
padrões mínimos de respeito aos direitos dos povos indígenas do mundo. Os
Estados devem assegurar o reconhecimento e a proteção jurídica das terras,
territórios e recursos. Também, não podem proceder a nenhum traslado “sem o
consentimento livre, prévio e informado dos povos indígenas interessados, sem
nenhum acordo prévio sobre uma indenização justa e equitativa”.

A Declaração garante ainda outros direitos humanos fundamentais, como o


respeito às diferenças culturais e às tradições; manutenção e fortalecimento de
suas próprias instituições políticas de decisão. Ela busca eliminar a discriminação,
a exclusão e o preconceito de que os indígenas são vítimas, como consequência
do processo de colonização que sofreram durante séculos.

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Capítulo 2

A parlamentar do Peru, do povo quechua Juana Huancahuari diz: “O que se


aprovou é um marco internacional sobre os direitos inalienáveis e indestrutíveis
dos povos indígenas que todos os Estados estão moralmente obrigados
a cumprir.” Reconhece ainda os direitos individuais, e coletivos relativos à
educação, à saúde e ao emprego. Assegura a melhoria contínua das condições
econômicas e sociais dos anciãos, mulheres e crianças, e destaca a importância
da educação bilíngue.

Já estudamos como a diversidade é um constitutivo do universo, da


biodiversidade e do humano. Educar-se a um perfil pessoal, profissional e coletivo
de cidadão pluralista, significa acrescentar à pluralidade nossa aceitação
consciente e procurada, como vimos acima.

Nesse contexto de obediência ao Artigo 27 da Declaração de 1948, a caminhada


brasileira registra significativa atuação proativa na Constituição Cidadã de 1988.
Ela antecipa aquele conceito de culturas, da futura declaração de 2001, lembrada
acima. Assim, os constituintes dão uma guinada hermenêutica, interpretativa, por
exemplo, sobre o conceito de patrimônio: antes reduzido a histórico, passa agora
a ser entendido como patrimônio cultural.

De fato, até então, as leis utilizavam o conceito de cultura redutivo a patrimônio


histórico. Agora, os artigos 215 e 2016 adotam, de vez, o conceito dos
antropólogos sobre cultura como o conjunto complexo de saberes e fazeres de
um povo, ou seja, seu patrimônio cultural incluindo os de ordem histórica. Esses
artigos embasam as posteriores e revolucionárias Leis de Incentivo à Cultura. É
possível valorizar, desde então, tanto os bens de natureza material como imaterial,
tombados individualmente ou em conjunto. Consagra-se o fato de que esses
bens são portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira. Vejamos:

Art. 215 - O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos


direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e
apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações
culturais.

§ 1º - O Estado protegerá as manifestações das culturas


populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos
participantes do processo civilizatório nacional.

§ 2º - A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de


alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais.

§ 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração


plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à
integração das ações do poder público que conduzem à:

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completo.indb 40 09/06/2016 09:00:16


Estudos Socioculturais

I - defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro; II -


produção, promoção e difusão de bens culturais; III - formação
de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas
dimensões;
IV - democratização do acesso aos bens de cultura; V -
valorização da diversidade étnica e regional.

Após clarear esse horizonte humano pluralista, os constituintes incluem,


minuciosamente, como numa jurídica antropológico-cultural, a lista das
produções do patrimônio histórico de ordem material. Passa-se, pois, à
ampliação de olhar para outras memórias imateriais, igualmente simbólicas,
pois são constitutivas fundamentais do cultural do ánthropos. Essas memórias
patrimoniais são responsáveis pela autoestima e fortalecimento das identidades
das culturas dos povos constitutivos da nação brasileira. Vejamos:

Art. 216 - Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens


de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou
em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação,
à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem:

I - As formas de expressão; II - Os modos de criar, fazer e viver; III


- As criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - As obras,
objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados
às manifestações artístico-culturais; V - Os conjuntos urbanos
e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico.

§ 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade,


promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por
meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e
desapropriação, e de outras formas de acautelamento e
preservação.

§ 2º - Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão


da documentação governamental e as providências para
franquear sua consulta a quantos dela necessitem.

§ 3º - A lei estabelecerá incentivos para a produção e o


conhecimento de bens e valores culturais.

§ 4º - Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos,


na forma da lei.

§ 5º - Ficam tombados todos os documentos e os sítios


detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos.

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completo.indb 41 09/06/2016 09:00:16


Capítulo 2

O último parágrafo revoluciona ainda mais, quando os constituintes mostram a


real importância do cultural para a saúde integral do ánthropos. Passam a exigir
fomento e financiamento, garantindo novos nichos de mercado para os bens
culturais.

§ 6º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a fundo


estadual de fomento à cultura até cinco décimos por cento de
sua receita tributária líquida, para o financiamento de programas
e projetos culturais, vedada a aplicação desses recursos no
pagamento de:

I - despesas com pessoal e encargos sociais;

II - serviço da dívida;

III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente


aos investimentos ou ações apoiados.

Quanto aos Povos Originários, cf. os artigos 230 e 231, da Constituição Cidadã
de 1988, também antecipam a Declaração Universal dos Direitos dos Povos
Indígenas de 2007.

Nesse sentido, nosso último tópico aprofunda ainda as relações do cultural


do ánthropos e as possibilidades que as novas tecnologias de comunicação
oferecem para acolher, editar e divulgar as riquezas das culturas deste Brasil de
muitos brasis, como dizia Darcy Ribeiro.

Pode-se concluir redizendo que o conceito de cultura ligado a projeto de futuro


pode significar mais saúde holística em nosso ethos pessoal e cultural, porque
harmoniza-nos unindo o cultus e o colo. A memória do passado (cultus), que não
é neutra porque é testemunha de construção, de tomada de consciência e de
luta por sonhos, tem a força simbólica no imaginário cultural. Força simbólica,
isto é, de sin + bolein = aquilo que une, oposto à força diabólica, ou seja, diá +
bolein = aquilo que divide. Os símbolos carregam memórias capazes de alienar
ou transformar. Por isso, o filósofo Agostinho dizia que “a memória é o ventre
da alma”, da força que move o ethos humano cidadão na direção dos sonhos,
das utopias factíveis já iniciadas (no cultus) e ainda em execução (no colo). Viver
o ethos cultural implica crescer numa consciência grupal operosa e criativa
que desentranha da vida presente as riquezas da diversidade cultural por uma
sociedade pluralista sustentável (culturus).

Abraçando a alma do ánthropos, pode-se tornar uma pessoa e profissional


pluralista. Conscientes da limitação, mas indomáveis na luta como disse aos
94 anos o velho sábio Edgar Morin, passando em terras brasileiras: “Podemos
não chegar ao melhor dos mundos, mas a um mundo melhor.” (MORIN, DC,
13/08/2011). E pode-se acrescentar: mais justo, igualitário e alegre.

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completo.indb 42 09/06/2016 09:00:16


Capítulo 3

Sociedade: teorias clássicas e


contemporâneas
Tade-Ane de Amorim

Concepções de sociedade: autores clássicos


O que nos mantém juntos? Por quais motivos nós, homens e mulheres,
vivemos em sociedade? A palavra sociedade deriva do latim societas e significa
“associação amistosa com outros”. Assim, uma definição mais geral de sociedade
pode ser um conjunto de interações humanas padronizadas culturalmente. Dessa
forma, pode-se pensar em sociedade como valores, cultura, sistema de símbolos.

A sociedade não é apenas um conjunto de indivíduos que vivem juntos em


determinado local. Designa, também, o pertencimento a uma dada organização
social compartilhada entre seus membros, com a presença de instituições e
leis que regem a vida de cada indivíduo e da coletividade. A sociedade é objeto
de estudo de diferentes áreas das ciências sociais, como Sociologia, História,
Geografia e Antropologia. Também é amplamente estudada pela Filosofia.

O sociólogo Norbert Elias (1994, p.13) apresenta-nos uma questão bastante


interessante:

Que tipo de formação é esse, esta “sociedade” que compomos


em conjunto, que não foi pretendida ou planejada por nenhum de
nós, nem tampouco por todos nós juntos? Ela só existe porque
existe um grande número de pessoas, só continua a funcionar
porque muitas pessoas, isoladamente, querem e fazem certas
coisas, e no entanto sua estrutura e suas grandes transformações
históricas independem, claramente, das intenções de qualquer
pessoa em particular.

Essa é uma das questões que a Teoria Social vem buscando responder desde
o início de sua trajetória. Mobilizaremos as teorias de sociólogos considerados
os clássicos da Sociologia: Emile Durkheim, Karl Marx e Max Weber, para
discutirmos por que vivemos juntos!

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Capítulo 3

Emile Durkheim
Para Durkheim, a sociedade constituía-se como um reino social, com
individualidade distinta dos reinos animal e vegetal. Dessa forma, a sociedade
não é apenas a soma dos indivíduos que a compõem; ela é uma síntese que se
encontra em cada elemento que compõe os diferentes aspectos da vida.

Durkheim definiu sociedade como um complexo integrado de fatos sociais,


que são as maneiras de agir, pensar e sentir, como práticas coletivas de um
grupo, e que exercem coerção sobre os indivíduos. Além disso, os fatos sociais
dizem respeito ao caráter objetivo da sociedade, isto é, são independentes dos
indivíduos.

Durkheim esforçou-se muito para afirmar a exterioridade dos fatos sociais, isto
é, para separá-los de razões pessoais ou de impulsos da consciência individual.
Segundo ele:

Fato social é toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de


exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, que é
geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma
existência própria, independente das manifestações individuais
que possa ter. (DURKHEIM,1978, p. 13).

Assim, para o autor a sociedade seria resultado da ligação existente entre as


partes e o todo, sendo que o todo predomina sobre as partes. Nesse sentido,
o fundamento da vida social estaria na sociedade e não no indivíduo. As
estruturas sociais, uma vez que foram criadas pelo homem, passariam a funcionar
independentes dele. E mais: passariam a condicionar suas ações.

O predomínio da sociedade sobre a ação individual é o que mais se destaca no


entendimento de sociedade de Durkheim. Para o autor, homens e mulheres não
agem como desejam agir, mas são condicionados pela sociedade, que exerce um
poder coercitivo sobre as ações individuais.

Dessa forma, o modo como o indivíduo age é sempre condicionado pela sociedade,
pois o agir individual origina-se no exterior, ou seja, na sociedade. Ele é imposto pela
sociedade ao indivíduo, por isso é coercitivo, tem existência própria e independente da
existência do indivíduo, que age como a sociedade gostaria que ele agisse.

Durkheim chamou esse processo de coerção social, isto é, a sociedade dita


regras e os indivíduos as seguem, e na maior parte das vezes sem nem perceber
que estão seguindo regras impostas.

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Estudos Socioculturais

Pense, por exemplo, que, antes de dormir, você “naturalmente” vai escovar os
dentes. Esse ato de escovar os dentes não é “natural” e, sim, imposto como uma
regra que deve ser seguida por todos. Mas, como não pensamos se devemos ou
não escovar os dentes ao irmos dormir, já interiorizamos essa regra, de tal modo
que ela não parece mais uma coerção social. E é exatamente no momento no
qual não a sentimos mais como impositiva que a regra obtém o sucesso.

De acordo com Durkheim, os fatos sociais têm objetividade porque eles têm
existência independente dos indivíduos. A sociedade, nesse sentido, é mais do
que a soma dos indivíduos, sendo uma espécie de síntese que não se encontra
em nenhum dos elementos que compõem os diferentes aspectos da vida.

Uma vez constituído um fenômeno, ele tem uma forma que cada elemento
individual não possui. A sociedade, nesse sentido, é mais do que a soma das
partes. Por isso, os fenômenos, uma vez combinados e fundidos, fazem nascer
algo completamente novo, o qual não está mais nas motivações individuais e nem
é o resultado das partes colocadas mecanicamente uma ao lado da outra.

A interação entre os indivíduos possui uma força peculiar capaz de gerar novas
realidades. Durkheim mostra que a mentalidade do grupo não é a mesma coisa
que a mentalidade individual; que o estado de consciência coletiva não é a
mesma coisa que o estado de consciência individual e que um pensamento
encontrado em todas as consciências particulares ou um movimento repetido por
todos, não é, em si, um fato social.

Para ter um caráter social, é necessário que sua origem esteja na coletividade
e não nos membros da sociedade. A exterioridade do fato social é dada pela
possibilidade de entendê-lo como objeto de observação, independentemente das
ações dos indivíduos.

Os fatos sociais constituem-se a partir de causas externas que se processam


nas interações grupais, na pluralidade de consciência e como obra coletiva, com
ascendência sobre os indivíduos, e que, por isso, são externos a eles.

Como reconhecer se um fato é social ou não? Podemos reconhecê-lo pela


coerção que ele exerce sobre os indivíduos. Para Durkheim, o organismo social precisa
manter o estado saudável e identificar os fenômenos doentes, a fim de orientar sua
cura. O caráter coercitivo nem sempre é percebido pelos indivíduos.

A presença desse poder é reconhecível pela existência de alguma sanção


determinada, seja pela resistência que o fato opõe a qualquer empreendimento
individual que tenda a violentá-lo, ou pela difusão geral que se apresenta no
interior do grupo.

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completo.indb 45 09/06/2016 09:00:16


Capítulo 3

Em cada indivíduo só existe um fragmento da sociedade. Se olharmos os


indivíduos isoladamente, nunca compreenderemos a sociedade. É o todo que tem
precedência sobre as partes.

Na concepção de Durkheim, é a sociedade que pensa, deseja, sente, embora o


faça sempre por meio dos indivíduos. Mas estes são resultados diretos do que é a
sociedade.

Uma assembleia não é a soma dos indivíduos, mas é a produção de algo novo,
nas palavras de Durkheim, algo “Sui Generis”. A realidade Sui Generis da
sociedade pode ser chamada de representação coletiva de um fenômeno, ou
seja, a forma como a sociedade vê a si mesma e ao mundo que a rodeia, por
meio de suas lendas, mitos, concepções religiosas e suas crenças morais.

A partir das representações coletivas, encontramos as bases nas quais se


originam os conceitos, que são traduzidos nas palavras do vocabulário de
uma comunidade, de um grupo ou de uma nação. Note que, para Durkheim,
os conceitos e categorias são sociais e não individuais; assim, as percepções
do belo, do feio, do agradável não são inatas ao indivíduo, mas passadas pela
sociedade.

Para o autor, até mesmo em um momento extremo, em que o indivíduo resolve


acabar com sua própria vida, é a sociedade que se manifesta nesse desejo.

Geralmente, atribuímos o ato do suicídio a um problema estritamente de ordem


individual. Contrariamente a essa ideia, e de forma bastante original, Durkheim
apontou que o suicídio deve-se a fatores sociais.

Marx
Karl Marx viveu no século XIX, no período da consolidação do sistema capitalista,
que imprimiu uma nova maneira de ser da sociedade. Suas formulações teóricas
sobre a vida social, com destaque para as análises que fez da sociedade
capitalista da sua época, causaram repercussões entre os intelectuais, a ponto
de a Sociologia Ocidental Moderna preocupar-se basicamente em confirmar ou
negar as questões levantadas por ele.

Ele cumpriu o papel de desvendar o sistema capitalista de forma ampla,


analisando seus aspectos políticos, sociais e econômicos, com a utilização do
método dialético. Isso é tão marcante que se pode afirmar que o conceito de
realidade social de Marx é dialético.

Caracterizando o método, Marx (1982, p. 179) afirmava que “o movimento do


pensamento é o reflexo do movimento real, transportado e transposto no cérebro
do homem”. É o movimento da matéria, da realidade social e da vida do ser
humano que é objetivamente dialético.

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completo.indb 46 09/06/2016 09:00:16


Estudos Socioculturais

Marx reencontrou a dialética na sua unidade, isto é, no conjunto de seu


movimento. A realidade em estado de movimento, a realidade em processo,
impulsionada pela superação de elementos contraditórios que a permeiam, é
uma ideia básica no método dialético. Para ele, tudo parecia levar à própria
contradição e, por consequência, à mudança, à transformação.

Para os historiadores, as teorias ou abstrações são representações que os


homens fizeram para si mesmos na história. Nesse aspecto, elas são o resultado
da história humana, estando ao mesmo tempo destinadas a descrevê-la e a
permitir sua continuidade ou descontinuidade. Portanto, são contextualizadas e
podem ser modificadas, porque toda história traz em si o germe da sua própria
destruição.

A dinâmica das relações sociais, o movimento das mudanças e transformações


constantes, e a dialética da realidade e do pensamento constituem a força motora
da história. As circunstâncias fazem os homens tanto quanto os homens fazem
as circunstâncias. Ao produzir seus meios de existência, os homens produzem
indiretamente a sua própria vida material e social, processo que implica o surgimento
de contradições. Nesse sentido, o sociólogo poderia compreender a sociedade
capitalista e a direção na qual ela estaria transformando-se, graças as suas
contradições internas.

Na verdade, Marx nunca tratou da produção em geral, mas referiu- se à produção


num estágio de desenvolvimento social, como sendo a produção dos indivíduos
que vivem em sociedade. A sociedade depende do estágio de desenvolvimento
social, de suas forças produtivas e das relações sociais de produção, conforme
citação que segue:

[...] os homens não são livres árbitros de suas forças produtivas,


pois toda força produtiva é uma força adquirida, produto de
uma atividade anterior. Portanto, as forças produtivas são os
resultados da energia prática dos homens, [...] determinada pelas
condições em que os homens se encontram colocados, pelas
forças produtivas já adquiridas [...]. (MARX apud QUINTANEIRO,
BARBOSA e OLIVEIRA, 2001, p. 71).

A maneira pela qual os homens produzem seus meios de existência depende da


natureza dos meios de existência já conhecidos e que precisam ser reproduzidos
ou substituídos. A compreensão dos processos históricos não pode ser feita sem
referência à maneira como os homens produzem sua sobrevivência material. Por
isso, o conceito de trabalho é fundamental para o entendimento, pois é nesse
processo que se estabelece a interação com a natureza e é por meio do trabalho
que o homem a transforma.

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completo.indb 47 09/06/2016 09:00:16


Capítulo 3

Na concepção marxista, o homem trabalhando é considerado como força


de trabalho, significando a energia despendida no processo de trabalho, por
meio do qual chega ao produto. E é o trabalho que atribui ao produto um valor
determinado.

Weber e a sociedade
Diferentemente de Marx e Durkheim, Weber apontou que, para compreendermos
a sociedade, precisamos centrar a análise no sujeito, pois é a partir da ação
individual que se dará a constituição da sociedade.

Weber não apresentou uma teoria geral sobre a sociedade, estando mais
preocupado em discutir situações sociais concretas. Desse modo, esse pensador
partiu da ideia de que o indivíduo é o elemento primordial para compreender a
realidade social. E essa análise passava pelo comportamento dos indivíduos,
já que tudo que existe na sociedade é resultado da vontade e da ação dos
indivíduos. É em suas condutas individuais que o agente associa um sentido
orientado pelo comportamento dos outros. Leia as palavras do próprio autor:

Falaremos de ação na medida em que o indivíduo atuante atribua


um significado subjetivo ao seu comportamento– seja ele claro
ou disfarçado, omissão ou aquiescência. A ação é “social” na
medida em que o seu significado subjetivo leva em conta o
comportamento dos outros e é por ele orientado em seu curso.
(WEBER, 1994, p. 4).

A ação social está, deste modo, profundamente ligada ao


conceito de relação social. A expressão ‘ação social’ será usada
para indicar o comportamento de uma pluralidade de atores na
medida em que, em seu conteúdo significativo, a ação de cada
um deles leva em conta a ação de outros, e é orientada nesses
termos. (IDEM, p. 26).

Weber deu ênfase à relação na qual a atribuição de sentido é uma ação


necessária e até mesmo fundadora do intercâmbio social. É por isso que ele
firmava ser a Sociologia uma ciência voltada para a compreensão interpretativa
da ação social e para a explicação causal no seu transcurso e nos seus efeitos.

É o sentido que os homens estabelecem em suas ações que, segundo Weber,


fundamenta a ordem social. Assim, o homem passa a ter, na teoria de Weber,
como indivíduo, um significado e uma especificidade que não encontramos no
positivismo. Não existe nesse autor a mesma oposição presente em Durkheim
entre sociedade e indivíduo. Em Weber, as normas sociais só se tornam concretas
quando se manifestam nos indivíduos sob a forma de uma motivação.

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completo.indb 48 09/06/2016 09:00:16


Estudos Socioculturais

Cada indivíduo é levado a agir por um motivo que é dado pela tradição, por
interesses racionais ou pela emotividade.

Weber deixou dito que, por mais individual que seja a ação, o fato de o indivíduo agir
segundo a expectativa do outro faz com que a sua ação tenha um caráter coletivo e
social. É o que ele denominou ação social.

Quando esse sentido da ação social é compartilhado, temos a relação social.


Isso é diferente da ação individual e, para que se estabeleça uma relação social, é
preciso que haja um sentido compartilhado.

A ação social é a conduta do agente que está orientada pela conduta do outro,
pela expectativa que você possui sobre o que o outro espera que você faça. Na
relação social, a conduta de cada qual entre múltiplos agentes envolvidos orienta-
se por um conteúdo de sentido reciprocamente compartilhado.

Ainda é preciso considerar que essa relação orienta-se pelas ações dos outros,
que podem ser passadas, presentes ou esperadas como futuras (vingança por
ataques anteriores, réplica a ataques presentes, medidas de defesa diante de
ataques futuros). Porém, nem toda espécie de ação, incluindo a ação externa, é
social. A conduta humana é ação social somente quando ela está orientada pelas
ações dos outros. Por exemplo: um choque de dois ciclistas é um simples evento
como um fenômeno natural. Por outro lado, haveria ação social na tentativa
dos ciclistas se desviarem, ou na briga, ou, ainda, considerações amistosas
subsequentes ao choque.

Pensamento contemporâneo
Discutimos três diferentes perspectivas da análise da relação entre indivíduo
e sociedade. Emile Durkheim apontou para a coerção que a sociedade exerce
sobre os indivíduos. Para Karl Marx, a discussão maior se colocou sobre a
inserção dos indivíduos em suas classes sociais. E Max Weber discutiu as ações
individuais como constituintes da sociedade. Mesmo olhando a sociedade e os
indivíduos por diferentes perspectivas, todos os autores clássicos da sociologia
procuraram explicar como se dá a constituição da sociedade.

Contemporaneamente, vários outros sociólogos vêm discutindo essa interessante


relação entre indivíduos e sociedade. A ênfase mais contemporânea é tentar
superar a dicotomia entre indivíduo e sociedade, ou seja, mostrar que não
são as ações individuais que determinam a sociedade e nem a sociedade que
determina a ação social, mas que há uma relação entre sociedade e indivíduo,
que nessa relação há uma constante transformação tanto da sociedade como dos
indivíduos. Dessa forma, os indivíduos modificam a sociedade ao mesmo tempo
em que são modificados por ela.

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Capítulo 3

Um dos sociólogos que discute essa relação é o francês Pierre Bourdieu (1983),
que desenvolveu o conceito de habitus. Segundo esse autor, habitus significa:

[...] um sistema de disposições duráveis e transponíveis que,


integrando todas as experiências passadas, funciona a cada
momento como uma matriz de percepções, de apreciações e
de ações – e torna possível a realização de tarefas infinitamente
diferenciadas, graças às transferências analógicas de esquemas
[...]. (BOURDIEU, 1983, p. 65).

A questão central de Bourdieu (1983) é mostrar a articulação entre como os


indivíduos vivem e suas condições de existência e percepções dentro e fora
de grupos sociais. Assim, o conceito de habitus relaciona-se com as práticas
cotidianas, com as formas de organização social dos indivíduos sua vida
concreta como indivíduo e suas condições predeterminadas pela sociedade,
como sua condição de classe. Assim, ele explica que as condições objetivas e
pré-determinadas pela sociedade fundem-se com as condições subjetivas. A
superação da oposição entre indivíduo e sociedade na obra de Bourdieu (1983) é,
assim, proporcionada por meio do conceito de habitus:

[...] o todo social não se opõe ao indivíduo. Ele está presente em


cada um de nós, sob a forma do habitus, que se implanta e se
impõe a cada um de nós através da educação, da linguagem...
Tudo o que somos é produto de incorporação da totalidade.
(BOURDIEU, 2002, p. 33).

O conceito de habitus concilia o que outros sociólogos colocaram como


oposição: a relação ente realidade exterior e as realidades individuais. O
sociólogo explica que habitus é um sistema de esquemas individuais, socialmente
constituído de disposições estruturadas (no social) e estruturantes (nas mentes).
Tais disposições e experiências são adquiridas pelas experiências práticas, em
condições sociais que são definidas pela existência. O habitus é estruturado pelas
instituições que atuam na socialização do ator social (a família, a escola, são
exemplos de instituições sociais).

Outro sociólogo que fez significativas contribuições para a discussão sobre o estudo
das sociedades foi o inglês Anthony Giddens. O autor desenvolveu a teoria da
estruturação, procurando resolver a dicotomia entre indivíduo e sociedade. (GIDDENS,
1989).

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completo.indb 50 09/06/2016 09:00:16


Estudos Socioculturais

Como já foi discutido anteriormente, alguns autores destacam a importância


dos atores e do sentido ao qual tais atores atribuem as suas ações. Por outro
lado, há autores que mostram que a estrutura social sobrepõe-se ao indivíduo.
Giddens (1989) procurou superar as teorias deterministas, as quais reduzem a
ação individual à coerção da sociedade, sendo essa considerada autônoma e
coercitiva. Dessa forma, o autor levou a um entendimento de reprodução social
como mecânica, entendendo o ator como totalmente livre dos condicionantes
sociais. Giddens (1989), portanto, entendeu que tal antagonismo pode ser
superado com a proposta teórica que articula estrutura e ação. Nas palavras do
autor:

Cada investigação realizada nas ciências sociais ou na história


está envolvida em relacionar a ação à estrutura, em traçar,
explicitamente ou não, a conjunção ou as disjunções de
consequências premeditadas ou impremeditadas da atividade, e
em verificar como elas afetam o destino de indivíduos. Nenhum
malabarismo com conceitos abstratos poderá substituir o estudo
direto de tais problemas nos contextos reais de interação. Pois
as permutas de influências são intermináveis, e não há um (único)
sentido em que a estrutura ‘determine’ a ação ou vice -versa.
A natureza das coerções a que os indivíduos estão sujeitos, os
usos que eles dão às capacidades que possuem e as formas de
cognoscitividade que revelam são todos eles manifestamente
variáveis do ponto de vista histórico. (GIDDENS, 1989, p. 178-
179).

Na Teoria da Estruturação, proposta por Giddens em seu livro “A Constituição


da Sociedade” (publicado originalmente no ano de 1986), ele procurou mostrar
que a relação entre indivíduo e sociedade é dinâmica. Para o autor, a sociedade
(estrutura) e o indivíduo (ator social) estão em constante processo de mudança
mútua. Entende-se estrutura como um coletivo de regras e recursos que se
constituem na reprodução social. “As estruturas são conjuntos de regras que
ajudam a constituir e regular as atividades, definindo-as como de uma certa
espécie e sujeitas a uma determinada gama de sanções”. (GIDDENS, 1989, p.
102).

É importante destacar que, para o autor, as regras que regulam as atividades não
podem ser assumidas como apenas restritivas ou coercitivas. “A estrutura não
deve ser equiparada à restrição, à coerção, mas é sempre, simultaneamente,
restritiva e facilitadora”. (GIDDENS, 1989, p. 30). Nessa concepção, não há
indivíduos independentes da estrutura social, bem como não existe estrutura
dada, prévia à ação dos indivíduos. Assim, para entendermos os processos
sociais, temos de compreender a ação individual e a relação de tal ação com as
estruturas sociais. As estruturas são significadas por meio da ação individual e a
ação efetiva-se estruturalmente.

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completo.indb 51 09/06/2016 09:00:16


Capítulo 3

As teorias de Bourdieu e de Giddens foram desenvolvidas no intuito de superar


a oposição entre objetivismo e subjetivismo, ou ação e estrutura. E ambas
analisam a ação social como um processo em constante mudança, em que há o
peso da sociedade, mas há também capacidade de os indivíduos constituírem
sua história. Para Pierre Bourdieu as estruturas objetivas são determinantes na
organização do mundo social e, consequentemente, nas práticas do ator social.
Já para Giddens, o ator social age no mundo a partir das suas representações e
está constantemente alterando suas práticas, a partir de informações renovadas,
o que ele chama de reflexividade da vida social. É importante destacar que os
dois autores apresentam aproximações e distanciamentos.

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completo.indb 52 09/06/2016 09:00:16


Capítulo 4

Práticas culturais e processos


midiáticos
Elvis Dieni Bardini

As tecnologias de informação e comunicação


no século XXI: a sociedade em rede
A Globalização e o advento da sociedade em rede
A globalização contemporânea consiste em um fenômeno impulsionado
pelo desenvolvimento de tecnologias da informação e da comunicação que
intensificaram a velocidade e o alcance da interação entre as pessoas ao redor do
mundo. (GIDDENS, 2005).

Com os avanços das tecnologias de informação e comunicação, houve


uma profunda transformação na abrangência e na intensidade dos fluxos
de comunicação. Nunca foi produzida e nem veiculada tanta informação.
A capacidade de armazenamento de informação em pequenos suportes é
uma realidade, assim como processadores mais poderosos funcionando em
dispositivos móveis. A tecnologia a cabo tornou-se mais eficiente e menos
dispendiosa, e o desenvolvimento de cabos de fibra ótica tem expandido o
número de canais transmitidos.

A comunicação por satélite também foi importante para a disseminação das


comunicações internacionais. Hoje, há uma rede de mais de 200 satélites
instalados para facilitar a transferência de informação em todo o mundo. A
globalização tem reflexos na nossa vida cotidiana, mesmo que às vezes nem
nos demos conta. A internet surgiu como o instrumento de comunicação que
teve o maior crescimento em todos os tempos. Duas pessoas situadas em
lados opostos do planeta, além de conversarem em tempo real, podem enviar
documentos, fotos, imagens, tudo com a ajuda do satélite. Cada vez mais,
pessoas estão conectando-se por meio dessas tecnologias, mesmo em lugares
que antes eram isolados.

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completo.indb 53 09/06/2016 09:00:16


Capítulo 4

A economia global não é mais predominantemente agrícola ou industrial, mas,


cada vez mais, ganha força a atividade virtual. Essa economia é a única que tem a
sua base na informação, como é o caso dos softwares de computador.

Esse novo contexto da economia tem sido descrito como sociedade pós-industrial, era
da informação, economia da informação, revolução da microeletrônica e da informática.
Algo que está relacionado a uma base crescente de consumidores, tecnologicamente
aptos e que integram, em seus cotidianos, os novos avanços da computação,
entretenimento e telecomunicações.

Para serem mais competitivos nas condições globalizantes, os negócios e as


corporações reestruturam-se a fim de ganharem flexibilidade, fazem parcerias, e
a participação nas redes de distribuição globais tornou-se essencial para se fazer
negócios em um mercado em constante mudança.

No plano do fluxo de informações, os indivíduos estão agora mais conscientes


de sua conectividade com os outros e mais propensos a se identificarem com
questões e processos globais do que no passado. Como membros de uma
comunidade global, as pessoas percebem cada vez mais que a responsabilidade
social não para nas fronteiras nacionais, mas se estende além delas. Os desastres
e as injustiças que as pessoas enfrentam do outro lado do globo não são somente
infortúnios que devem ser suportados, mas motivo para ação e intervenção.
(GIDDENS, 2005). Enquanto no passado os instrumentos da integração foram
a caravela, o barco à vela, o barco a vapor e o trem, seguidos do telégrafo e do
telefone, a globalização recente faz-se pelos satélites e pelos computadores
ligados à internet.

Segundo Giddens (2005), duas das mais influentes forças das recentes
sociedades modernas, a tecnologia da informação e os movimentos sociais,
uniram-se produzindo resultados surpreendentes. Os movimentos sociais
espalhados pelo globo conseguem unir-se em imensas redes regionais e
internacionais que abrangem organizações não governamentais, grupos religiosos
e humanitários, associações que lutam pelos direitos humanos, defensores dos
direitos de proteção ao consumidor, ativistas ambientais e outros que agem em
defesa do interesse público.

Essas redes eletrônicas de contatos agora têm uma capacidade, nunca vista,
de reagir imediatamente aos acontecimentos, de acessar e compartilhar fontes
de informação, além de pressionar corporações, governos e organismos
internacionais.

A internet esteve na vanguarda dessas mudanças, embora os telefones celulares,


o fax e a transmissão via satélite também tenham apressado sua evolução.
Ao aperto de um botão, histórias locais são disseminadas internacionalmente,
recursos são compartilhados, experiências são trocadas e as ações são
coordenadas em conjunto.

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completo.indb 54 09/06/2016 09:00:16


Estudos Socioculturais

A habilidade de coordenar campanhas políticas internacionais é a mais


inquietante para os governos e a mais estimulante para aqueles que participam
dos movimentos sociais. Os movimentos sociais internacionais apresentaram um
crescimento constante com a difusão da internet, por meio dos protestos a favor
do cancelamento da dívida do Terceiro Mundo, das campanhas pela proibição
das minas terrestres explosivas, confirmando a capacidade de unir defensores
além das fronteiras nacionais e culturais.

Para alguns observadores, a era da informação está produzindo uma migração


do poder dos Estados-nações às novas alianças e coalizões não governamentais.
Existem os movimentos on-line que visam à difusão de informações sobre
corporações, políticas de governos ou efeitos de acordos internacionais, para
públicos que poderiam não estar a par desses assuntos.

Alguns governos, mesmo democráticos, consideram as guerras em rede uma


ameaça assustadora. Um relatório do exército norte-americano afirma que: uma
nova geração de revolucionários, radicais e ativistas está começando a gerar
ideologias da era da informação nas quais as identidades e as lealdades do
Estado-nação podem ser transferidas para o nível transnacional da sociedade
global. (CASTELLS, 2055).

Mídia e comunicações de massa: jornais, televisão e internet


A expressão “meios de comunicação de massa” é ampla e refere-se à imprensa
escrita, à televisão, ao rádio, às revistas, ao cinema, à publicidade, aos
videogames e aos cds. As palavras “mídia” e “meios” podem ser usadas como
sinônimo, e ambas se referem ao processo de transmissão de comunicação
para uma pessoa ou grupo de pessoas, que não é feito diretamente, ou face a
face, mas necessita de tecnologia para mediar na transmissão de mensagens. A
palavra “massa” significa que o meio atinge muita gente.

Jornais
De acordo com Bryn (2006), o primeiro sistema de escrita surgiu no Egito e na
Mesopotâmia há cerca de 5500 anos. Os jornais no formato moderno começaram
a circular no século XVIII, e, no século XIX, a imprensa tornou-se de massa, com
uma tiragem diária lida por milhares de pessoas.

Os jornais representaram um avanço para a mídia moderna, pois um só veículo


conseguia concentrar assuntos da atualidade, entretenimento e bens de
consumo, somando-se a isso a facilidade de reprodução.

Foi nos Estados Unidos que a população viu surgir o primeiro jornal impresso com
preços acessíveis à boa parte de seus moradores.

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completo.indb 55 09/06/2016 09:00:16


Capítulo 4

Isso aconteceu no ano de 1830. O diário de “um centavo” foi originado em


Nova York e rapidamente copiado em outras grandes cidades. No Brasil, foi
somente com a chegada da família real, em 1808, que foi criada a Imprensa Régia
Brasileira, e o primeiro jornal a circular foi a Gazeta do Rio de Janeiro, um órgão
oficial da imprensa portuguesa. (BRYN, 2006).

Durante mais de meio século, os jornais foram soberanos como principal forma
de transmitir informação de maneira rápida e abrangente. A maior parte das
mídias eletrônicas surgiu no século XX. O primeiro sinal de TV foi transmitido em
1925, quatorze anos depois foi criada a primeira rede de TV, nos Estados Unidos.
A internet comercial é de 1991. Com o surgimento do rádio, do cinema, da
televisão e da internet, os jornais diminuíram sua influência. (BRYN, 2006).

É possível que a comunicação eletrônica leve a uma diminuição na circulação de


jornais impressos, pois as notícias estão agora disponíveis on-line e atualizadas
constantemente, ou a “cada minuto”. A maior parte dos jornais de médio e
grande porte tem suas versões eletrônicas, nas quais a maioria dos acessos são
gratuitos, mas a quantidade de publicidade é elevada.

Televisão
Junto com a internet, a TV é o grande fenômeno dos meios de comunicação de
massa nos últimos 50 anos. É possível que uma criança que nasça hoje passe
mais tempo de sua vida, quando acordado, em frente à TV do que fazendo
qualquer outra atividade. Praticamente todos os lares brasileiros têm TV e
ficam ligados por mais de 5 horas diárias. O número de canais de televisão vem
crescendo com os avanços na tecnologia de satélites e cabos.

Com o advento da globalização, a televisão vem sofrendo mudanças importantes,


fazendo com que programas de TV atinjam um nível mais global. Lugares em que
o sistema de programas de televisão e o número de aparelho de TV eram baixos,
como a antiga União Soviética, partes da África e da Ásia, por exemplo, nos
últimos anos expandiram sua capacidade de transmissão, sobretudo, importando
programas de outras redes de televisão. É bastante conhecido do público o
sucesso das novelas brasileiras em países da África, por exemplo.

Muitas pesquisas têm sido desenvolvidas para tentar compreender os efeitos


dos programas de televisão. Entre os tópicos mais pesquisados, está a forma de
transmissão de notícias na TV. Como uma grande parte dos indivíduos não tem
o hábito da leitura de jornais impressos, boa parte da informação sobre o que
acontece no mundo é recebido por noticiários da TV. De acordo com Giddens
(2005), as pesquisas mais conhecidas sobre o assunto são as desenvolvidas
pelo Glasgow Media Group (Grupo de Mídia de Glasgow), da Universidade de
Glasgow.

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Estudos Socioculturais

O grupo publicou uma série de livros sobre a apresentação de notícias. O primeiro


é baseado na análise de noticiários, dos três canais de TV do Reino Unido da
época, entre os meses de janeiro e junho do ano de 1975.

Nas palavras de Giddens (2005, p. 372):

O objetivo era oferecer uma análise sistemática e imparcial


dos conteúdos das notícias e do modo como elas eram
apresentadas. [...] Bad News conclui que as notícias sobre as
relações industriais foram sempre apresentadas de maneira
seletiva e tendenciosa. Termos como ‘desordem’, ‘radical’ e
‘greve inútil’ sugeriram visões anti-sindicalistas. Os efeitos das
greves, provocando transtornos para o público, foram bem
mais relatados que as suas causas. As imagens utilizadas
faziam muitas vezes com que as atividades dos manifestantes
parecessem irracionais e agressivas. [...] O livro também chamou
atenção para o fato de que aqueles que constroem as notícias
agem como ‘porteiros’ do que entra na agenda – em outras
palavras, tudo o que o público ouve.

Com um conteúdo tão controverso, esse livro foi motivo de intensos debates.
Alguns pesquisadores acusaram o grupo da Universidade de Glasgow de estar
sendo parcial; outra crítica afirmava que a pesquisa não era confiável, pois os
cinco meses em que o grupo analisou os noticiários não foram representativos.

De qualquer forma, as pesquisas foram válidas no sentido de mostrar que


as notícias jornalísticas não são apenas uma ‘descrição’ de um determinado
fato, mas uma interpretação. E essa interpretação sobre a realidade é a que é
mostrada ao público.

Internet
A internet é um novo fenômeno de mídia. Não se sabe exatamente o número
de pessoas que a utilizam, mas há estimativas de que mais de 100 milhões
de pessoas espalhadas no mundo inteiro podem acessá-la. Seu crescimento
é de aproximadamente 200% em cada ano, desde 1985. O acesso à internet
é extremamente desigual tanto em termos de países, como regiões dentro do
Brasil.

De acordo com o mapa da inclusão da Internet World Usage, os Estados Unidos


possuem mais de 280 milhões de usuários, por volta de 87% da população total,
enquanto no Brasil, atualmente 58% da população é usuária da internet, o que
significa pouco mais de 117 milhões de indivíduos com acesso à rede mundial de
computadores. Há uma variação regional grande, com concentração de usuários,
ou internautas, nas regiões urbanas do sudeste e sul do país.

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Capítulo 4

Figura 4.1 – Mapa da inclusão

BRAZIL

BR - 204,259,812 Population (2015) - Country Area: 8,544,418 sq km

Capital City: Brasilia - population 2,593,886 (2012)

117,653,652 Internet users as of Dec/14, 57.6% penetration, per IWS.

202,944,033 Mobile cellular subscribers as of Dec/10, 99.8% penetration, per ITU.

103,000,000 Facebook users on Nov 15/2015, 50.4% penetration rate.

UNITED STATES OF AMERICA

US - 321,368,864 Population (2015) - Area: 9,629,047 sq km

Capital City: Washington D.C. - population 603,860 (2012)

280,742,532 Internet users as of Nov.15, 2015, 87.4% penetration, per IWS.

192,000,000 Facebook subscribers on Nov 15/15, 59.7% penetration rate.

Fonte: Internetworldstats, 2016

A exclusão digital representa mais uma forma de exclusão, pois leva à


desigualdade de oportunidades, já que o acesso a tecnologias de informação e
comunicação foi a base para a sociedade do conhecimento.

Outra forma de desigualdade de acesso à internet no Brasil está relacionada


à questão de cor. Os dados do IBGE apontam que, em 2003, a cor “branca”
representava 53,74% da população brasileira, seguida de pardos – 38,45%,
pretos – 6,21%, outras – 0,71%, amarela – 0,45% e indígena – 0,43%. Entre os
que têm mais acesso à internet estão os amarelos, com 41,66%, seguidos dos
brancos, com 15,14% de indivíduos conectados à rede; daí em diante estão os
pardos, com 4,06%; pretos, com 3,97%; indígenas, com 3,72%; e outros, com
7,25%. Com esses dados, podemos verificar que, no Brasil, um branco tem
168% a mais de chances do que um não branco de ter acesso à internet.

As implicações sociais da internet


Nesse momento de mudanças tecnológicas tão surpreendentes, ninguém sabe
ao certo o que o futuro reserva-nos. Alguns apontam os internautas como
integrantes do “ciberespaço”, isto é, espaço de interação formado pela rede
global de computadores que configura a internet.

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Estudos Socioculturais

Por vezes, parece que, no ciberespaço, a mensagem é mais importante que


as pessoas, pois, sem a identificação do usuário, não há como saber se nos
comunicamos com mulheres, homens, ou em qual lugar do mundo essa pessoa
está. Giddens (2006, p.382) fala de um famoso cartum, sobre a internet, no Reino
Unido. O cartum traz um cachorro sentado na frente de um computador e a
seguinte legenda: “O melhor da internet é que ninguém fica sabendo que você é
um cachorro.”

Figura 4.2 - Cartum de Peter Steiner

Fonte: Webmanario, 2009.

A internet trouxe novos desafios de interpretação para os sociólogos. Há


pesquisadores que a veem de forma entusiástica, apontando que no mundo
on-line há mais possibilidades de relacionamentos, pois o meio eletrônico
complementaria as interações face a face. Como não considerar o sucesso de
sites de relacionamento como o Facebook, o qual muitas vezes possibilita o
reencontro de colegas antigos, promove encontros e agrupa pessoas com os
mesmos interesses?

Há também os teóricos, menos otimistas, os quais apontam que à medida que as


pessoas dedicam mais tempo a comunicações on-line, elas estariam dedicando
menos tempo a interações no mundo físico.

Outro problema da internet seria a diminuição do limite entre trabalho e vida


doméstica, já que muitos trabalhadores continuam nas suas casas acessando
e-mails ou concluindo atividades pendentes, reduzindo, assim, o tempo para
contatos humanos. Quais dos grupos de teóricos estão com a razão?

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Capítulo 4

Possivelmente os dois e nenhum dos dois, ou seja, existem fundamentos de


verdade nas duas análises, mas nenhuma delas sozinha é capaz de interpretar
essa realidade. A internet não é boa nem ruim. Da mesma forma que ocorreu
anteriormente com o advento da TV, a internet provoca temores e esperanças. Até
o momento, temos indicadores que não seremos “tragados” do mundo real para
o mundo virtual.

O ciberespaço
A história está repleta de exemplos de tecnologias que favoreceram a
comunicação e a interação entre os humanos. As sociedades ocidentais
desenvolveram-se e transformaram-se com base nessas tecnologias, produzindo
novas formas de relacionamento social e, consequentemente, alterando desde a
formação da subjetividade coletiva até a produção cultural e a vida cotidiana.

O alfabeto, inventado na Grécia por volta do século VI a.C., constitui “a base para
o desenvolvimento da filosofia ocidental e da ciência como conhecemos hoje”
(CASTELLS, 2005). Isso proporcionou a estrutura mental para a comunicação
cumulativa baseada em conhecimento.

Na contemporaneidade, está em curso a integração de vários modos de


comunicação em uma rede interativa. O que se configura nas palavras de Castells
(2005, p. 413) é “a formação de um hipertexto e uma metalinguagem, que pela
primeira vez na história integra no mesmo sistema as modalidades escritas, oral,
e audiovisual da comunicação humana”. Algo que se evidencia nas mudanças
observadas no caráter da comunicação e na cultura.

Ainda, segundo o autor:

como a cultura é mediada e determinada pela comunicação, as


próprias culturas, isto é, nossos sistemas de crenças e códigos
historicamente produzidos são transformados de maneira
fundamental pelo novo sistema tecnológico e o serão ainda mais
com o passar do tempo (...) o surgimento de um novo sistema
eletrônico de comunicação caracterizado pelo alcance global,
integração de todos os meios de comunicação e interatividade
potencial está mudando e mudará para sempre nossa cultura.
(CASTELLS, 2005, p.414).

Mais do que nunca, o início do século XXI (como preconizado pela ficção
científica, porém, com diferenças pontuais) apresenta uma série de fenômenos
decorrentes das tecnologias de informação e seus impactos nas sociedades
contemporâneas.

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Estudos Socioculturais

Na atualidade, essas tecnologias, denominadas como TICs (tecnologias de


informação e comunicação), promovem o que Giddens (2005, p. 62) chama de
“Compressão” do tempo e do espaço. Esse fenômeno caracteriza-se por diminuir
as fronteiras espaço-temporais ao “encurtar” distâncias com a utilização de
ferramentas que promovem o fluxo de informação numa velocidade nunca antes
vista, como imagens em tempo real circulando pelo globo e, consequentemente,
alterando a forma como percebemos a sociedade e como nos inserimos nela.

Para Castells (1999, p.67-68), essas tecnologias consistem em um “(...)


conjunto convergente de tecnologias em microeletrônica, computação
(software e hardware), telecomunicações/radiodifusão, e optoeletrônica. (...)”,
desencadeando o processo atual de transformação tecnológica que “expande-
se exponencialmente em razão de sua capacidade de criar uma interface
entre campos tecnológicos mediante uma linguagem digital comum, na qual a
informação é gerada, armazenada, recuperada, processada e transmitida”.

Como todos os processos são mediados por máquinas ou interfaces 1, a


construção social agora se amplia para outro campo, o mundo virtual, ou como
também se denomina, o ciberespaço.

De acordo com Pereira e Bernard (2011), o ciberespaço,

pode ser compreendido como um ambiente tecnológico que


abarca múltiplos contextos de uso e significados culturais. Mais
de 2 bilhões de pessoas, segundo dados da União Internacional
de Telecomunicações (UIT) de 2011, alimentam com textos,
imagens, sons e outros códigos o turbilhão de informações que
circula pela rede mundial de computadores interconectados.

A etimologia da palavra remete-nos ao romance de ficção científica Neuromante,


de Willian Gibson, escrito em 1984, cujo título é um termo imediatamente
emprestado pelos usuários e criadores de redes digitais. Levy (1999, p. 92)
define o ciberespaço como “o espaço de comunicação aberto pela interconexão
mundial de computadores e de memórias dos computadores”.

Ainda, para o autor,

O ciberespaço é o novo meio de comunicação que surge da


interconexão mundial de computadores. O termo especifica não
apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas
também o universo oceânico de informações que ela abriga,
assim como os serres humanos que navegam e alimentam esse
universo.(LEVY, 1999, p. 17).

1 De acordo com Levy (1999, p.36), todos os aparatos materiais que permitem a interação entre o universo da
informação digital e o mundo ordinário.

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completo.indb 61 09/06/2016 09:00:16


Capítulo 4

Uma de suas principais funções é o acesso a distância aos diversos recursos


de um computador. “Esse novo meio tem a vocação de colocar em sinergia e
interfacear todos os dispositivos de criação de informação, de gravação, de
comunicação e de simulação”. (LEVY, 1999, p. 93).

Várias outras são as funções do ciberespaço, como a transferência de dados e


upload, troca de mensagens, conferências eletrônicas etc. Ou seja,

O ciberespaço permite a combinação de vários modos de


comunicação. Encontramos, em graus de complexidade
crescente: o correio eletrônico, as conferências eletrônicas,
o hiperdocumento compartilhado, os sistemas avançados de
aprendizagem ou de trabalho cooperativo e, enfim, os mundos
virtuais multiusuários. (LEVY, 1999, p. 104).

O surgimento do ciberespaço deve-se, principalmente, à criação da mais


avançada mídia da atualidade, a internet. Desenvolvida pela Agência de
Projetos de Pesquisa Avançada (ARPA), do Departamento de Defesa dos EUA,
inicialmente com finalidade militar, a internet hoje é resultado da convergência
de várias tecnologias eletrônicas no campo da comunicação. Nas palavras de
Castells (2005, p. 82), “talvez o mais revolucionário meio tecnológico da Era da
Informação”, a internet é o meio de comunicação com o mais veloz índice de
penetração entre as pessoas nos EUA. Em apenas três anos superou a marca de
sessenta milhões, algo só conseguido pela televisão após quinze anos e o rádio
em pelo menos trinta (CASTELLS, 2005). No entanto, extremamente desigual em
relação ao acesso entre todas as pessoas do globo.

Figura 4.3 – Globalização na cibercultura

Fonte: Blogrtvi110, 2016.

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Estudos Socioculturais

As redes sociais digitais


No ciberespaço, o fenômeno mais evidente é o das redes sociais. Objeto
que desperta o interesse de várias ciências sociais como a Antropologia, a
Sociologia, a economia etc., haja vista sua potencialidade em termos alteração no
comportamento dos indivíduos.

Nas redes sociais, novos atores sociais surgem representados por ferramentas
como weblog, fotolog, facebook, twitter etc.; ou seja, “espaços de interação,
lugares de fala construídos pelos atores de forma a expressar elementos de sua
personalidade ou individualidade”. (RECUERO, 2009).

Como cita Recuero, “Uma rede social é definida por um conjunto de dois
elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos) e suas conexões (interações
ou laços sociais)”. (WASSERMAN & FAUST, 1994 apud RECUERO, 2009, p. 82).

Assim como a Revolução Industrial do séc. XVIII, a Revolução Tecnológica, que


caracteriza o que se batizou como a “Era da Informação” (constituída pelas
tecnologias da informação, processamento e comunicação), impactou de forma
determinante na economia, nos modos de produção, na sociedade e na cultura.
A diferença de paradigma situa-se entre as novas fontes de energia emergentes
com primeira Revolução, em relação à tecnologia da informação na atualidade

As redes sociais são anteriores à internet, que apenas ampliou o “espaço” para
as interações. Isso só foi possível a partir da criação do aplicativo WWW (World
Wide Web) no início dos anos noventa do século passado. Essa ferramenta
possibilitou organizar os conteúdos da rede por sítios de informação, expandindo
a utilização dessas tecnologias para além dos ambientes militar e científico, que
as originaram.

Para Castells (1999, pp. 565-566),

Redes constituem a nova morfologia das nossas sociedades, e a


difusão da lógica da rede modifica substancialmente a operação
e os produtos nos processos de produção, experiência, poder
e cultura. Enquanto que a forma de rede de organização social
existiu noutros tempos e noutros espaços, o paradigma da nova
tecnologia de informação fornece o material de base para sua
expansão hegemônica por toda a estrutura social. (...) As redes
são estruturas abertas, com o potencial de se expandirem sem
limites, integrando novos nós desde que sejam capazes de
comunicar dentro da rede, nomeadamente desde que partilhem
os mesmos códigos de comunicação (por exemplo, valores ou
objetivos de desempenho). Uma estrutura social com base na
rede é um sistema altamente dinâmico e aberto, susceptível
de inovar sem ameaçar o seu próprio equilíbrio. Redes são
instrumentos apropriados para a economia capitalista baseada

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Capítulo 4

na inovação, globalização e concentração descentralizada


para o trabalho, trabalhadores e empresas voltadas para a
flexibilidade e adaptabilidade; para uma cultura de desconstrução
e reconstrução contínuas (...) e para uma organização social que
vise a suplantação do espaço e invalidação do tempo.

Numa visão um pouco mais simplificada, Recuero (2009, p. 102) define sítios de
redes sociais como “sistemas que permitem 1) a construção de uma persona
através de um perfil ou página pessoal; 2) a interação através de comentários e 3)
a exposição pública da rede social de cada autor”.

A partir desses pressupostos, tornam-se evidentes as implicações sociais das


redes sociais (principalmente a ocidental), que despertam temas relacionados a
novas formas de sociabilidade e de organização de movimentos sociais. Mais
especificamente, apresentam-se como passíveis de discussão e análise questões
como a privacidade no mundo virtual; a segurança nas transações comerciais, a
exposição pública de informações pessoais e o acesso irrestrito a todo tipo de
conteúdo. Ou seja, a discussão acerca das redes sociais digitais tem relação com
diversos temas. Entre os principais podemos destacar: questões relacionadas à
privacidade, à possibilidade da movimentação e organização política, à segurança
nas transações realizadas na Internet (bancos e sites de compras), ao uso
patológico das redes sociais digitais e suas implicações psicológicas (depressão
e ansiedade), à exposição de informações pessoais, ao acesso irrestrito a todo
tipo de conteúdo, e até mesmo o contato com pessoas desconhecidas .(PARADA,
2010).

São temas e questões que permeiam o debate sociológico acerca do ciberespaço


e que podem ser classificadas (assim como na análise anterior acerca das
implicações da internet) em duas linhas de análise: uma otimista, na qual se
elencam os benefícios que as novas tecnologias de informação e comunicação
promoveram nesta sociedade baseada na informação e no conhecimento; e outra
mais crítica. Nesta, Egler (2010, p. 210-211), aponta a possibilidade de as TICs e
a nova organização em rede configurarem um novo formato de dominação dos
países desenvolvidos sobre os países em desenvolvimento, haja vista o domínio
tecnológico e a posse do capital informacional dos primeiros.

O autor também pondera sobre essas duas linhas, expondo que:

Trata-se, portanto, de duas formas de interpretar a sociedade


da informação, uma primeira que faz a sua crítica associada ao
desvendamento de estratégias que definem as formas como
são utilizadas as redes, para ampliar o poder de dominação
econômica e política. Um segundo posicionamento mais otimista
que procura analisar seus efeitos sobre a vida cotidiana, a
formação de identidades, as possibilidades de estabelecer um
lugar-comum, e observam suas potencialidades na formação de
novos espaços de cooperação que busquem, na experiência das
redes, a formação de um novo espaço público de ação coletiva
que se forma em benefício da emancipação social. (EGLER, 2010,
p. 210-211).

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completo.indb 64 09/06/2016 09:00:19


Estudos Socioculturais

Pierre Levy, em seu livro Cibercultura, procura responder de forma positiva


algumas das questões que surgem a partir de uma análise mais crítica da
sociedade em rede. Para o fato de essas novas tecnologias tornarem-se fonte de
exclusão, o autor aponta caminhos como a necessidade de observar a tendência
de conexão e não seus números absolutos, considerando o fato de o número de
pessoas que participam da cibercultura haver aumentado de forma exponencial
desde o fim dos anos 80, sobretudo entre os jovens.

Outra questão é a possibilidade de tornar os avanços tecnológicos cada vez mais


baratos e acessíveis entre os estratos sociais menos favorecidos.

Em relação a possíveis ameaças à diversidade das línguas e das culturas pelo


ciberespaço, Levy pondera que:

certamente seria técnica e politicamente possível reproduzir


no ciberespaço o dispositivo de comunicação das mídias
de massa. Porém, parece-me mais importante registrar as
novas potencialidades abertas pela interconexão geral e pela
digitalização da informação. (LEVY, 1999, p. 239).

Nesse sentido, ele defende o fim dos monopólios da expressão pública, pois no
ciberespaço o indivíduo possui a liberdade e os meios para, por exemplo, “propor
suas sínteses e sua seleção de notícias sobre determinado assunto”. (LEVY,
1999, p. 240); existe uma crescente variedade de modos de expressão (vide as
novas formas de escrita); são progressivos a disponibilidade de instrumentos de
filtragem e de navegação e o desenvolvimento das comunidades virtuais e dos
contatos interpessoais a distância por afinidade, sendo que o “principal fato a
ser lembrado é que os freios políticos, econômicos ou tecnológicos à expressão
mundial da diversidade cultural jamais foram tão fracos quanto no ciberespaço”.
(LEVY, 1999, p. 240).

Um exemplo que corrobora a tese de Levy evidencia-se no que ficou conhecida


em 2011 como ”a primavera árabe”, denominação dada aos protestos populares
contra governos do mundo árabe, mais especificamente Egito, Tunísia, Líbia,
Iêmen e Barein, que teve na internet, em particular as redes sociais, um poderoso
suporte para o chamamento e organização da população civil. Para Muzammil
M. Hussain, professor do Centro de Comunicação e Engajamento Civil da
Universidade de Washington, “ao contornar as restrições de organização política
e social no mundo real em regimes autoritários, as mídias sociais fizeram com
que as pessoas nesses países se sentissem fortes e poderosas para promover
mudanças no mundo real”.

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completo.indb 65 09/06/2016 09:00:19


Capítulo 4

Em consonância com esse fenômeno, Machado (2007, p.268) afirma que:

A possibilidade de comunicação rápida, barata e de grande


alcance faz atualmente da Internet o principal instrumento de
articulação e comunicação das organizações da sociedade civil,
movimentos sociais e grupos de cidadãos. A rede se converteu
em um espaço público fundamental para o fortalecimento
das demandas dos atores sociais para ampliar o alcance de
suas ações e desenvolver estratégias de luta mais eficazes.(...)
Em suma, a rede é um espaço público que possibilita novos
caminhos para interação política, social e econômica.

Mas o tema não se esgota nestas poucas laudas. Longe disso, pelo fato de ser
um fenômeno em pleno desenvolvimento e ainda com pouca produção analítica,
as ciências sociais ainda tecem neste momento os possíveis instrumentos
teóricos e a delimitação de problemas e hipóteses mais precisas para abordar os
temas que surgem das novas relações sociais mediadas pelas interfaces digitais.

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completo.indb 66 09/06/2016 09:00:19


Considerações Finais

Parabéns pelos estudos desenvolvidos até aqui, pelas soluções propostas,


em conformidade com diversos problemas contextualizados pelas sociedades
e pelas culturas. Seu comprometimento, entusiasmo e dedicação foram
combustíveis para o seu êxito. Você deve ter percebido que não existem
respostas prontas para os problemas que vivenciamos nas nossas diferentes
realidades, na contemporaneidade, no nosso mundo globalizado, marcado pelas
transformações, pelos desafios e pela corresponsabilidade.

Por outro lado, também deve ter percebido que as habilidades de análise e
compreensão de contextos, de diálogo com as diferenças socioculturais, de
produção acadêmica são fundamentais para compreender a dinâmica e a
diversidade das sociedades humanas, visando a agir responsavelmente nos
contextos sociais. Estamos felizes por esse seu exercício, passível de contribuir
para um mundo cada vez melhor. Desejamos-lhes sucesso no curso e felicidade
na vida!

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completo.indb 68 09/06/2016 09:00:19
Referências

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Sobre o Professor Conteudista

Claudio Damaceno Paz

Mestre em Educação, professor nos cursos de Direito, Relações Internacionais e


de Licenciaturas na Unisul.

Elvis Dieni Bardini

Mestre em Ciências da Linguagem pela Universidade do Sul de Santa Catarina –


UNISUL.Especialista em Artes e Ciências Humanas pela Universidade do Estado
de Santa Catarina – UDESC. Licenciado em Música pela Escola de Música e
Belas Artes do Paraná – EMBAP. Experiência na docência de graduação e pós-
graduação desde 1999, ministrando disciplinas de Sociologia, História da Arte e
Estágios supervisionados em Sociologia I e II. Professor na UnisulVirtual desde
2004, também atua com pesquisa em projetos de PUIP e orientação de trabalhos
de TCC. Atualmente exerce a função de coordenador do curso de Sociologia
pelo PARFOR em Araranguá e participa como aluno especial do programa de
Doutorado em Sociologia Política na UFSC.

Jaci Rocha Gonçalves

Graduação em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais


(1975), Licenciatura plena em Filosofia - Faculdades Associadas do Ipiranga
(1973), mestrado em Jornalismo e Comunicação Social pelo Centro Internazionale
Studi Opinione Pubblica - Roma (1986), mestrado em Missiologia (Teologia e
culturas) pela Pontifícia Universidade Urbaniana (1986) e doutorado pela Pontifícia
Universidade Urbaniana (1997). É professor de Ética, Antropologia Cultural,
Ciências da Religião e Experiência do Sagrado, na Unisul desde 1998. Coordena
o Grupo de Pesquisa e Programa de Extensão Revitalizando Culturas/Unisul.
Palestrante nacional e internacional sobre direitos humanos. Presidente do Homo
Serviens, Instituto Bio-cultural. jaci.goncalves@unisul.br; jacirg49@gmail.com.
Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4709063H1

Tade-Ane de Amorim

Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa


Catarina (1999), mestrado em Sociologia Política pela Universidade Federal de
Santa Catarina (2001) e doutorado em Sociologia Política pela Universidade
Federal de Santa Catarina (2011). Tem experiência na área de Sociologia,
com ênfase em Tecnologia e Sociedade, Ciência e Sociedade e atuando
principalmente nos seguintes temas: riscos, nanotecnologia, educação a
distância.

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capa_roxa.pdf 1 07/06/2016 10:50:14

w w w. u n i s u l . b r

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