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TESTE DE AVALIAÇÃO N.

o 4
GRUPO I
A
Lê atentamente o texto a seguir transcrito.

O aposento, a que as velhas estantes de pau-preto davam um ar severo, estava adormecido tepidamente, na
penumbra suave, com as cortinas bem fechadas, um resto de lume na chaminé, e o globo do candeeiro pondo a sua
claridade serena na mesa coberta de livros. Em baixo, os repuxos cantavam alto no silêncio da noite.

Enquanto o escudeiro rolava para o pé da poltrona de Afonso, numa mesa baixa, os cristais e as garrafas de
5 soda, Vilaça, com as mãos nos bolsos, de pé e pensativo, olhava a brasa da acha que morria na cinza branca. Depois
ergueu a cabeça, para murmurar, como ao acaso:

– Aquele rapazito é esperto...

– Quem? O Eusebiozinho? – disse Afonso, que se acomodava junto ao fogão, enchendo alegremente o
cachimbo. – Eu tremo de o ver cá, Vilaça! O Carlos não gosta dele, e tivemos aí um desgosto horroroso... Foi já
10 há meses. Havia uma procissão e o Eusebiozinho ia de anjo... As Silveiras, excelentes mulheres, coitadas, man-
daram-no cá para o mostrar à viscondessa, já vestido de anjo. Pois senhores, distraímo-nos, e o Carlos, que o
andava a rondar, apodera-se dele, leva-o para o sótão, e, meu caro Vilaça... Em primeiro lugar ia-o matando
porque embirra com anjos... Mas o pior não foi isso. Imagine você o nosso terror, quando nos aparece o
Eusebiozinho aos berros pela titi, todo desfrisado, sem uma asa, com a outra a bater-lhe os calcanhares
15 dependurada de um barbante, a coroa de rosas enterrada até ao pescoço, e os galões de ouro, os tules, as len-
tejoulas, toda a vestimenta celeste em frangalhos!... Enfim, um anjo depenado e sovado... Eu ia dando cabo do
Carlos.

Bebeu metade da sua soda e, passando a mão pelas barbas, acrescentou, com uma satisfação profunda:

– É levado do Diabo, Vilaça!

20 O administrador, sentado agora à borda de uma cadeira, esboçou uma risadinha muda; depois ficou calado,
olhando Afonso, com as mãos nos joelhos, como esquecido e vago. Ia abrir os lábios, hesitou ainda, tossiu de leve; e
continuou a seguir pensativamente as faíscas que erravam sobre as achas.

Afonso da Maia, no entanto, com as pernas estiradas para o lume, recomeçara a falar do Silveirinha. Tinha
três ou quatro meses mais que Carlos, mas estava enfezado, estiolado, por uma educação à portuguesa: daquela
25 idade ainda dormia no choco com as criadas, nunca o lavavam para o não constiparem, andava couraçado de
rolos de flanelas! Passava os dias nas saias da titi a decorar versos, páginas inteiras do Catecismo de
Perseverança. Ele por curiosidade um dia abrira este livreco e vira lá «que o Sol é que anda em volta da Terra
(como antes de Galileu), e que Nosso Senhor todas as manhãs dá as ordens ao Sol, para onde há de ir e onde há de
parar, etc., etc.» E assim lhe estavam arranjando uma armazinha de bacharel...

30 Vilaça teve outra risadinha silenciosa. Depois, como subitamente decidido, ergueu-se, fez estalar os dedos,
disse estas palavras:

– Vossa Excelência sabe que apareceu a Monforte?

Afonso, sem mover a cabeça, reclinado para as costas da poltrona, perguntou tranquilamente, envolvido no
fumo do cachimbo:
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35 – Em Lisboa?

– Não senhor, em Paris. Viu-a lá o Alencar, esse rapaz que escreve, e que era muito de Arroios... Esteve até em
casa dela.

E ficaram calados. Havia anos que entre eles se não pronunciava o nome de Maria Monforte. Ao princípio, quan-
do se retirara para Santa Olávia, a preocupação ardente de Afonso da Maia fora tirar-lhe a filha que ela levara. Mas
40 a esse tempo ninguém sabia onde Maria se refugiara com o seu príncipe: nem pela influência das legações, nem
pagando regiamente a polícia secreta de Paris, de Londres, de Madrid, se pôde descobrir a «toca da fera», como
dizia então o Vilaça.
Eça de Queirós (2004), Os Maias (prefácio e cronologia de Maria Filomena Mónica),
Lisboa, Texto Editores, páginas 64-65

Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.

1. Esclarece a reação (ou reações) que as palavras iniciais de Vilaça provocam em Afonso da Maia.

2. Expõe sucintamente o episódio humorístico protagonizado por Carlos e Eusebiozinho.

3. Explicita o efeito expressivo da personificação na expressão «os repuxos cantavam alto no silêncio da noite»
(linha 3)

4. Eusebiozinho «tinha três ou quatro meses mais que Carlos, mas estava enfezado, estiolado, por uma educação
à portuguesa» (linhas 23-24). Explica as características da tradicional educação portuguesa oitocentista pre-
sentes no texto.

Tido como obra-prima do romance português, Gaspar Simões considerou-o (...) «a mais perfeita obra de arte
literária que ainda se escreveu em Portugal depois d’Os Lusíadas».
A. Campos Matos (1988), Dicionário de Eça de Queirós, Lisboa, Editorial Caminho, página 389

Fazendo apelo à tua experiência de leitura de Os Maias, comenta, num texto de oitenta a cento e trinta
palavras, a relação que existe entre a personagem Alencar e a família Maia.

Observações relativas ao item B


1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco,
mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única
palavra, inde- pendentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2011/).

2. Um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até cinco pontos) do texto produzido.

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GRUPO II

1. Relê o excerto d’Os Maias transcrito no Grupo I. Para cada um dos itens que se seguem, escreve, na tua
folha de respostas, a letra correspondente à alternativa correta, de acordo com o sentido do texto.

1. O primeiro parágrafo do texto é uma sequência textual...


a) expositiva.
b) descritiva.
c) narrativa.
d) preditiva.

2. O segmento «Bebeu metade da sua soda e, passando a mão pelas barbas, acrescentou» (linha 18) atualiza o
protótipo textual...
a) argumentativo.
b) conversacional.
c) instrucional.
d) narrativo.

3. No segmento textual «Quem? O Eusebiozinho? – disse Afonso» (linha 8), está presente um verbo...
a) de sentimento.
b) de dimensão interativa.
c) dicendi.
d) de opinião.

4. No segmento textual «Eu tremo de o ver cá, Vilaça!» (linha 9), o constituinte «Vilaça» desempenha a função
sintática de...
a) sujeito.
b) complemento direto.
c) complemento indireto.
d) vocativo.

5. Na expressão «uma risadinha muda» (linha 20), identificamos uma...


a) personificação.
b) hipálage.
c) sinestesia.
d) antítese.

6. O processo de formação da palavra «Eusebiozinho» designa-se...


a) derivação por sufixação.
b) derivação por prefixação.
c) composição morfológica.
d) composição morfossintática.

7. A forma verbal «recomeçara» (linha 23) encontra-se...


a) no pretérito imperfeito do indicativo.
b) no futuro do indicativo.
c) no pretérito mais-que-perfeito do indicativo.
d) no pretérito perfeito do indicativo.
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2. Faz corresponder a cada segmento textual da coluna A um único segmento textual da coluna B, de modo
a obteres uma afirmação adequada ao sentido do texto. Escreve, na folha de respostas, as letras e os
números correspondentes. Utiliza cada letra e cada número apenas uma vez.

Coluna A Coluna B

1. Ao usar o nome Eusebiozinho (linha 8), a) o enunciador recorre a um mecanismo de coesão


2. Com o pronome pessoal «o», em «Eu tremo de o ver cá» inter- frásica.
(linha 9), b) o enunciador contrói o campo lexical de
3. Com as palavras «asa», «barbante», «coroa de rosas», «vestimenta celeste».
«galões de ouro», «tules», «lentejoulas» (linhas 14-16), c) o enunciador traduz subjetividade.
4. Ao usar o adjetivo em posição pré-nominal, em «velhas d) o enunciador recorre a um mecanismo de coesão
estantes» (linha 1), refe- rencial gramatical.
5. Ao usar o verbo haver no singular, em «Havia anos» e) o enunciador põe em evidência que se trata de
(linha 38), uma exceção à regra de concordância.
f) o enunciador contrói o campo semântico de
«vestimen- ta celeste».
g) o enunciador recorre a um mecanismo de
coesão frásica.
h) o enunciador retoma o referente «Aquele
rapazito» (linha 7)

GRUPO III

Faz uma síntese do texto a seguir transcrito, constituído por quinhentas e vinte e duas palavras, num
texto de cento e vinte a cento e quarenta palavras.

Whisky duplo, por favor!

Luís Afonso é um exemplo de humor minimalista: tudo começa pela mudança de uma letra (diríamos melhor
de «um fonema») que nos faz saltar do «cartoon» para o «bartoon», de um «p» para um «b», e assim cria um cenário
conhecido, o da «conversa de bar». É uma pausa no dia, um lugar de confidências ou invenções pessoais, um
comentário dos acontecimentos, e é nesta aceção que surge como personagem central «o leitor de jornais». Para
5 Luís Afonso, a atualidade não se obtém através de uma participação nos factos, mas, sim, através dessa forma de
distanciamento e envolvimento que é da ordem do que oscila entre o jornal e a televisão, a «conversa fiada» e a
«conversa afiada».

Uma das características que distinguem os desenhos (...) é o de terem todos o mesmo cenário, o de um balcão
de um bar, três bancos em que quase sempre apenas um está ocupado, uma máquina de cervejas, um dono ou
10 empregado desse mesmo bar, às vezes acompanhado pela mulher, e um interlocutor. Alguns dos interlocutores
reincidem, embora o mais frequente seja aquele que duplica o próprio dono do bar, se bem que com uma pequena

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diferença de cabelos. Mas há a mulher de calças e longa cabeleira negra e frisada (mas de tempos a tempos muda
de roupa e põe uma saia), há o jovem de camisola e calças às riscas, há o intelectual de gravata com flores e óculos,
há o jovem robusto e mal barbeado com um gorro na cabeça, representante estudantil da chamada «geração
15 rasca», há o marialva endividado e o homem de negócios de óculos escuros. (...) E temos ainda uma longa teoria de
personagens que simbolizam os grandes protagonistas da atualidade política, desde o homem das cavernas que
faz as gravuras de Foz Côa até às mulheres de burka, e o próprio Deus em pessoa numa versão de Pai Natal. É a
este, aliás, que cabe a frase decisiva, quando vê o estado do mundo que criou: «um whisky duplo, por favor!» (...)

O leitor poderá nem reparar, mas estes desenhos conseguem criar a sua própria banda sonora através dos ges-
20 tos e dos movimentos dos olhos. Por vezes o olhar é frontal, por vezes volta-se para dentro como quem fica perplexo
e reflete, por vezes há pálpebras que descem sobre o olhar, ou os olhos ficam mais próximos de espanto ou emo-
ção, ou o olhar ganha uma espécie de lateralidade como quem insinua o que está a dizer. Por vezes o espanto confi-
gura-se na mão segurando o queixo.

O prazer que resulta destes «cartoons» vem, como se disse, da sua matriz extremamente reduzida.
25 Reencontramos um cenário idêntico, as mesmas situações, as mesmas personagens anónimas ou representativas
de determinados grupos sociais (militares americanos, talibans, padres) – e nunca nos surge uma pessoa concreta
(não há caricaturas, há apenas amostras de uma realidade complexa). O código comunicacional é extremamente
escasso e feito de discretas marcas quase subliminares. A realidade é concentrada e depurada através da sua
medição discursiva: existe na medida em que é dita, comentada, transformada em lugar-comum. O trabalho de
30 Luís Afonso é um trabalho sobre lugares-comuns da vida coletiva.

Eduardo Prado Coelho (prefácio) in Luís Afonso, 10 anos de Bartoon,


Lisboa, Publicações Dom Quixote

Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo
quan- do esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra,
independen- temente dos algarismos que o constituam (ex.: /2011/).

2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas
palavras –, há que atender ao seguinte:
– A um texto com extensão inferior a oitenta palavras é atribuída a classificação de zero pontos.
– Nos outros casos, um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até cinco
pontos) do texto produzido.

FIM

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