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18/08/2015 Simbolismo das Cores ­ Ateliê de Iconografia Theotokos Pantanassa

Simbolismo das Cores
 
Na  iconografia,  as  cores  têm  um  papel  fundamental.  Sua  função  não  é
apenas  estética,  mas  de  levar  um  simbolismo  atrelado  à  imagem  que  se  está
representando. Assim sendo, o iconógrafo tem uma liberdade muito limitada para
escolher  as  cores,  devendo  sempre  ser  fiel  aos  cânones  estabelecidos  e  à
Tradição.
Por exemplo, a Theotokos deve estar vestida com as cores azul e púrpura
e o Cristo, antes da crucificação, também, apenas invertendo a posição: A túnica
interna (chiton) do Cristo é púrpura, assim como o manto externo (maphorion) da
Virgem, enquanto que o manto externo (himation) do Cristo e a túnica interna da
Virgem serão da mesma cor, azul.
Isso  porque  o  púrpura  era  o  símbolo  da  realeza,  a  cor  utilizada  pelos
imperadores  bizantinos  e  o  azul,  a  cor  do  céu,  é  a  cor  de  tudo  que  vem  do
mundo  espiritual.  Como  o  Cristo  se  fez  homem,  sua  vestimenta  interna  será
púrpura, mas revestida do divino, que é o azul, por fora. E quanto à Virgem, ela
era humana e abrigou dentro de si o divino, gerando­o em seu ventre. Então, o
azul está no interior e o púrpura por fora.
Quando  vemos  as  Madonas  todas  de  azul,  aos  nossos  olhos  ocidentais
tão  belas,  famosas  desde  a  Renascença,  devemos  entender  que  houve  nesse
caso uma perda do simbolismo. Na verdade, o azul passou a ser cada vez mais
usado  para  demonstrar  poder,  pois  era  pintado  com  o  pigmento  mais  caro  da
época  –  o  lápis  lazuli  –  e  aquele  que  o  usava  mostrava  assim  seu  poder
econômico. Toda a arte ocidental, ainda que sacra, preocupa­se muito mais com
o  externo,  com  a  estética,  perdendo  o  simbolismo  da  arte  iconográfica.  Vale  a
pena  ressaltar  também  que,  infelizmente,  muitos  restauradores  alteraram  as
cores  originais  de  alguns  ícones  antigos,  e  por  isso  encontramos  algumas
Virgens antigas de azul.
 
1. Branco
 
No  mundo  pagão,  o  branco  já  era  visto  como  uma  cor  consagrada  ao
divino.  Pitágoras  ordenava  aos  discípulos  que  se  vestissem  de  branco  para
cantar os hinos sagrados. Mesmo para nós, o branco, por seu efeito óptico, sua
ausência  de  coloração,  nos  parece  próximo  da  própria  luz.  Sua  irradiação
transmite pureza e calma.
É  a  cor  do  reino  dos  céus,  da  luz  divina  de  Deus,  da  santidade  e  da
simplicidade.  As  pessoas  justas  –  aquelas  que  eram  boas,  honestas  e  viveram
pela Verdade ­ são representadas nos ícones com vestes brancas.
Mas  o  branco  também  é  a  cor  dos  lençóis  da  morte,  do  Cristo  na
deposição na tumba e de Lázaro. Segundo Dionísio Aeropagita, o branco é cor
da glória e da potência do divino, mas também da destruição do mundo terrestre.
Após a ressurreição, o Cristo é sempre representado de branco.
Diz Salomão: “A Sabedoria é mais móvel que qualquer movimento e, por
sua pureza, tudo atravessa e penetra. Ela é um eflúvio do poder de Deus, uma
emanação puríssima da glória do Onipotente, pelo que nada de impuro nela se
introduz. Pois ela é um reflexo da luz eterna, um espelho nítido da atividade de
Deus e uma imagem de sua bondade.” (Sabedoria, 7:24­26).
O  Profeta  Daniel  assim  vê  a  Divindade:  “Eu  continuava  contemplando,
quando  foram  preparados  alguns  tronos  e  um  Ancião  sentou­se.  Suas  vestes
eram brancas como a neve; e os cabelos de sua cabeça, alvos como a lã. Seu
trono eram chamas de fogo com rodas de fogo ardente.” (Daniel, 7:9).
Como o branco é a unidade de todas as cores, consequentemente, torna­
se,  simbolicamente,  o  emblema  da  Divindade,  da  Onipotência  de  Deus,  que
encerra  em  si  mesma  todas  as  virtudes.  O  branco,  atribuído  a  Deus  Pai,  é  o
símbolo  da  Verdade  absoluta  de  Deus,  unidade  de  tudo  que  procede,  verdade
por essência, verdade imutável.
Na  Transfiguração  no  Monte  Tabor,  os  apóstolos  vêem  que  o  rosto  de
Jesus  “resplandeceu  como  o  sol  e  as  suas  vestes  tornaram­se  alvas  como  a
luz.” (Mateus, 17:2). No Ícone da Paternidade, o Pai é representado vestido de
branco.  Os  anjos  que  anunciam  a  ressurreição  do  Cristo  também  são
representados  com  vestes  brancas,  fulgurantes.  (Mateus  28:3;  Marcos  16:5,
Lucas, 24:4, João 20:12) assim como o anjo da Ascensão (Atos 1:20).
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De  seu  principal  significado,  como  Verdade  absoluta,  derivam  outros


significados não menos importantes, como a fé e a pureza. O Papa veste­se de
branco  para  indicar  que  suas  virtudes  devem  ser  a  fé  e  a  pureza  de  coração,
uma vez que representa o Cristo sobre a terra e é o depositário da verdade.
No plano profano, o branco representa a virgindade, a inocência, a pureza
e a candura.
 
2. Vermelho
 
O  Aeropagita  caracteriza  a  cor  vermelha  com  as  palavras
“incandescência” e “atividade”. De todas as cores, o vermelho é a mais ativa: ela
avança na direção do espectador, se impõe, tem movimento.
O  vermelho  e  o  branco,  cores  que  traduzem  o  Amor  e  a  Sabedoria  de
Deus, são aquelas que encontramos no Cristo após a ressurreição. O vermelho
simboliza  também  a  realidade  celeste,  a  Ressurreição  e  a  segunda  vinda  de
Cristo.  Os  serafins,  que  ficam  ao  lado  do  trono  de  Deus,  também  são
representados em vermelho.
O  vermelho  indica  o  Espírito  Santo  intenso  como  Amor,  como  Fogo  que
purifica.  Ele  se  manifesta  como  sob  a  forma  de  uma  chama  na  testa  dos
apóstolos: “Apareceram­lhes, então,  línguas  como  de  fogo,  que  se  repartiam  e
que pousaram sobre cada um deles. E todos ficaram repletos do Espírito Santo e
começaram  a  falar  em  outras  línguas,  conforme  o  Espírito  lhes  concedia  se
exprimissem.” (Atos, 2:2­4).
O  vermelho  é  uma  das  cores  mais  usadas  nos  ícones.  È  a  cor  do  calor,
paixão, amor, e da energia doadora de vida,  e  por  isso  tornou­se  o  símbolo  da
ressurreição  –  da  vitória  sobre  a  morte.  Mas  ao  mesmo  tempo  é  a  cor  da
tormenta, do sangue, do martírio, do sacrifício de Cristo. Os mártires costumam
ser representados com vestes vermelhas.
Alguns  ícones,  sobretudo  nos  russos  entre  os  séculos  14  e  16,  tem  o
fundo vermelho, como símbolo da celebração eterna da vida.
 
3. Púrpura
 
A cor púrpura exprime, sobretudo, a idéia da riqueza, pois era um produto
de alto custo. Mas essa idéia de riqueza se mistura com elementos de magia e
religiosos: é essencialmente potência e, como tal, instrumento e testemunha de
consagração.  Os  sacerdotes  e  reis  vestiam  vestes  de  cor  púrpura  sendo,
portanto,  a  cor  das  mais  altas  dignidades.  Em  Bizâncio,  a  cor  era  de  uso
exclusivo dos imperadores.
È a cor do manto da Theotokos. Entretanto, na iconografia, raramente se
usa a tonalidade púrpura pura, mas uma cor que se aproxima mais do vermelho,
ficando mais luminosa.
 
4. Azul
 
Na cosmogonia, o Deus Criador é cor azul. O Cristo durante os três anos
de  seu  ministério  da  verdade  e  da  sabedoria,  também  é  representado  com  o
manto  externo  (himation)  azul.  De  azul  ele  inicia  os  homens  nas  verdades  da
vida eterna. Com sua profundidade infinita, o azul é símbolo do caminho na fé.
O  azul  é  o  infinito  do  céu  e  o  símbolo  de  outro  mundo  eterno.  O  azul
escuro  é  a  cor  da  túnica  de  Nossa  Senhora.  Muitos  afrescos  dedicados  à
Theotokos têm o fundo pintado de azul.
 
5. Verde
 
No  Cristianismo  o  verde  é  o  símbolo  da  regeneração  da  consciência.
Assim o azul da Virgem e do Cristo muitas vezes é substituído pelo verde. São
João Batista, o Precursor, é quase sempre representado de verde, simbolizando
sua qualidade de apóstolo da caridade e realização espiritual, e da nova vida que
anuncia através do batismo. É a cor dos profetas. Na Bíblia se diz que de Deus
emanaram  três  esferas  concêntricas  (Ezequiel,  1:26;  Êxodo,  24:9­10):  uma
vermelha (do amor), uma azul (da sabedoria) e outra verde (da criação).
O  verde  também  é  símbolo  da  juventude.  Na  infância,  Jesus  é

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representado  muitas  vezes  de  verde,  como  símbolo  da  esperança  de


regeneração da humanidade, de uma nova vida. E a Mãe de Deus, nas cenas da
anunciação e do nascimento de Cristo às vezes também usa o verde ao invés do
azul, como símbolo da nova vida que se inicia.
Nas escrituras o verde serve como atributo da natureza, exprimindo a vida
dada  vegetação,  simbolizando  também  o  crescimento  e  a  fertilidade.  Daí  ser
também o símbolo da esperança. Para o Aeropagita, o verde é a “a juventude e
a vitalidade”.
A  irradiação  do  verde  é  calma  e  neutra,  pois  fica  entre  o  movimento
profundo do azul e o movimento de avanço do vermelho. Em composições com
outras  cores,  o  verde  as  harmoniza.  Perto  do  vermelho  gera  um  efeito
complementar.
 
6. Preto
 
Tradicionalmente,  o  preto  se  opõe  ao  branco,  assim  como  as  trevas  se
opõem à luz, o mal ao bem e a noite se opõe ao dia. Mas o preto também é o
símbolo  da  luta  contra  o  mal.  Em  muitas  pinturas  da  Idade  Média  Jesus  é
representado de preto quando luta contra o demônio, nas tentações do deserto.
O  preto  também  é  usado  nas  vestes  dos  monges  como  símbolo  da  mais  alta
ascese, de sua morte para este mundo material.
O inferno no ícone da ressurreição é preto, assim como a tumba de onde
Lázaro  é  ressuscitado  e  a  gruta  embaixo  da  cruz  de  Cristo,  com  a  caveira,
símbolo da entrada da morte pelo pecado, da qual Cristo nos livra.
Também  a  gruta  da  natividade  de  Cristo  é  preta,  para  recordar  que  o
Cristo  aparece  “para  iluminar  com  cores  aqueles  que  estão  nas  trevas  e  na
sombra da morte, e dirigir nossos passos pelo caminho da paz.” (Lucas, 1, 79)
Mas  o  preto  também  significa  que  o  menino,  como  todos  os  homens,  passará
pela morte para nos doar a vida eterna.
O preto nunca é usado puro em iconografia, mas sempre misturado com
algum outro pigmento.
 
7. Violeta
 
O  violeta,  mistura  de  azul  e  vermelho,  é  desde  tempos  muito  antigos  o
símbolo do luto. Se pensarmos que o vermelho é o símbolo do fogo espiritual, do
amor divino, e o azul é a verdade terna, o violeta será o símbolo da ressurreição
eterna. Durante a semana santa, a cor da igreja é ao violeta, para simbolizar não
apenas  o  luto  pela  morte  do  Cristo,  mas  também  a  preparação  para  a  sua
ressurreição.
 
8. Marrom
 
Essa  cor  é  uma  composição  de  vermelho,  azul,  verde  e  contém  preto.
Quando comparado com o preto, parece uma cor viva, mas com as outras cores,
mostra­se uma cor morta. É o reflexo da densidade da matéria: falta o dinamismo
e  irradiação  de  outras  cores.  Assim  encontramos  o  marrom  em  tudo  que  é
terreno.  Também  é  a  cor  símbolo  da  humildade.  Nos  monges  e  ascetas,  é
símbolo da renúncia às alegrias da vida terrena e da pobreza.
O  marrom  também  é  usado  em  combinação  com  o  tom  púrpura  nas
vestes da Theotokos, para lembrar de sua natureza humana, mortal.
 
9. O Simbolismo do Ouro
 
O  amarelo,  o  ouro  e  o  sol  simbolizam  a  união  da  alma  a  Deus,  a  luz
revelada  aos  profanos,  sendo  o  amarelo,  o  ouro  e  o  sol  os  três  graus  dessa
revelação.
O ouro, sendo um metal, uma substância que não faz parte da pintura, é
difícil  de  harmonizar  com  o  sistema  de  cores  do  ícone.  Não  obstante,  está
firmemente  estabelecido  na  prática  iconográfica.  Se  as  cores  expressam­se
como a luz refletida, o ouro é própria luz, pura e genuína.
Visualmente,  diz  Florensky,  a  pintura  e  o  ouro  pertencem  a  esferas
diferentes  de  existência  e  é  exatamente  dessa  diferença  que  o  iconógrafo  faz

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uso.  As  linhas  de  ouro  (assist)  aplicadas  às  vestes,  não  correspondem  a
quaisquer  linhas  visíveis,  como  pregas  ou  no  caso  de  tronos,  às  diferenças  de
planos. Florensky está convencido de que elas representam o sistema de linhas
potenciais da estrutura energética do objeto, semelhantemente às linhas de força
de  um  campo  magnético.  Assim,  elas  nunca  podem  ser  aplicadas  a  todos  os
objetos representados no ícone. São em número limitado e, na maior parte dos
casos,  aplicadas  às  vestes  do  Salvador  (seja  criança  ou  adulto),  à  Bíblia,  ao
Trono  do  Salvador,  ao  assento  dos  anjos  no  ícone  da  Trindade  e  aos  próprios
anjos. De um modo geral, o ouro num ícone representa a luz divina.
 
Referências
 
Bychkov,  Victor  “The  Aesthetic  Face  of  Being”  St.  Vladimir´s  Seminary  Press,
Crestwood, NY, 1993
Cavarnos,  Constantine  “Guide  to  Byzantine  Iconography”  Volumes  1  e  2.  Holy
Transfiguration Monastery, Boston, MA, 1993.
Duarte, Adélio D. “Ícones” Belo Horizonte, FUMARC, 2003
Florensky,  Pavel  “Iconostasis”.  St.  Vladimir´s  Seminary  Press,  Crestwood,  NY,
2000.
Ilinskaya,  Y.  e  Volkov,  V.  “Color  in  Icons  of  the  Old  Russian  Tradition”
www.iconofile.com
Ovchinnikov, Adolf N. “Symbolism of the Color Red” Iconofile Journal, Vol. I, no.
1, p. 6­17, Spring 2003
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Prostov, Vladimir e Tatiana “Symbolism of Colors in Icons” www.iconofile.com
Sendler, Egon “L´Icona, Immagine dell´Invisibile”. Ed. San Paolo, Torino, 1995.
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