Sei sulla pagina 1di 23

Núcleo de Telessaúde/Teleodontologia

FOUSP, 2014

Políticas de
Saúde Bucal
no Brasil
2014

Douglas Augusto Schneider Filho


Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil – Douglas Schneider, 2014

Políticas de Saúde Bucal no Brasil


Douglas Schneider

Se muito vale o já feito,


Mais vale o que será
E o que foi feito é preciso conhecer
para melhor prosseguir
Milton Nascimento e Fernando Brandt

1. Introdução
A situação da saúde e das doenças bucais dos brasileiros tem sido objeto de
inúmeros estudos, especialmente a partir do advento da reforma sanitária e da
implantação do SUS. Graças a essas pesquisas, são muito conhecidos os números que
mostraram a alta prevalência da cárie nas crianças e nos adolescentes brasileiros até os
anos 80, assim como sua redução nas crianças e sua manutenção em altos níveis entre os
adolescentes nas décadas subsequentes. Também é notório o conhecimento sobre a alta
prevalência de edentulismo entre os adultos e idosos até os nossos dias, como
consequência do acúmulo de cáries e da incidência elevada da doença periodontal a
partir da adolescência. São igualmente conhecidas as incidências de outros problemas
importantes em nossa população, como as más oclusões, o câncer bucal, as fendas lábio-
palatinas e a fluorose, além de outros de menor relevância para a saúde coletiva.
Também são bem conhecidas as causas desses problemas. Entre elas, têm lugar
de destaque alguns aspectos da dieta dos brasileiros, especialmente o alto consumo de
carboidratos. A produção da cana de açúcar foi a primeira atividade econômica
estruturada no Brasil, o produto foi a base da economia no período de colonização do
país, e continuamos sendo o seu principal produtor mundial, o que faz do açúcar um
produto de baixo custo, sempre muito presente no cotidiano dos brasileiros.(1) Por outro
lado, o acesso às informações sobre aleitamento materno e alimentação saudável e sobre
a saúde e as doenças bucais, assim como aos recursos para higiene e cuidados bucais
sempre foram extremamente desiguais em nossa sociedade. Assim, os problemas cuja
prevenção depende essencialmente da adoção de hábitos alimentares saudáveis e de
cuidados com a higiene bucal foram se acumulando de forma dramática, conferindo ao
Brasil a alcunha nade edificante de país dos desdentados. Além dessa consequência, as
cáries e perdas dentárias contribuem para a elevada incidência das más oclusões,
decorrentes também de hábitos inadequados, como o uso prolongado de chupetas e
mamadeiras. O câncer bucal, por sua vez, tem sua ocorrência relacionada com outros
hábitos, como o tabagismo e o uso abusivo do álcool, além de fatores ambientais e
genéticos. Em todos esses casos, determinantes sociais e comportamentais provocam
distribuição desigual dos problemas e das suas consequências em nossa sociedade.

1
Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil – Douglas Schneider, 2014

Com tantos e tão importantes problemas, seria de se esperar que o Estado


brasileiro tivesse construído, ao longo da sua história, um amplo repertório de políticas
públicas na área da saúde bucal. Será que isso efetivamente ocorreu? Que políticas que o
Estado brasileiro estruturou e desenvolveu para enfrentar esses problemas? Como
caminhamos para chegar à atual Política Nacional de Saúde Bucal, conhecida pela
marca “Brasil Sorridente”? O presente texto tem como objetivo responder a essas
perguntas, situando o leitor, no tempo e no espaço, sobre como nosso país tem tratado
os problemas que afetam a saúde das bocas dos brasileiros.

2. O Período colonial e o Império (1500 – 1889)

2.1. Aspectos gerais e de saúde


As condições de vida e de saúde nas cidades brasileiras durante o período
colonial foram descritas por Cristina Gurgel, no livro "Doenças e Curas - O Brasil dos
Primeiros Séculos". Segundo ela, naqueles tempos o calor e a distância dos grandes centros
comerciais dificultavam a aquisição de bens de consumo, já que a produção local era incipiente e
o transporte marítimo era irregular e descontínuo. Mal as aglomerações urbanas começaram a
surgir, nossos habitantes tiveram que enfrentar os primeiros surtos de doenças contagiosas.
Diante do desconforto, da difícil adaptação ao clima e do aparecimento de epidemias que
arrasavam a população, a salubridade das paragens brasileiras, antes propagada pelos
viajantes e jesuítas, que recomendavam aos doentes de além-mar que atravessassem
o Atlântico para aqui se tratarem, foram desacreditadas. Doenças como a tuberculose, o
sarampo e a varíola, trazidas pelos próprios colonizadores, assolavam as pequenas vilas que se
formavam na nova terra, marcadas pelo pouco asseio nas ruas e quintais e por nenhum sistema
de esgoto ou água encanada. Frequentemente apareciam nos espaços urbanos casos
de leptospirose, hepatite e malária, provocando a morte de grande parte das suas vítimas. A
expectativa de vida destas populações era baixa, condenada tanto pelas condições adversas do
meio quanto por uma medicina ausente ou ineficaz.(2).
A fuga da família real portuguesa para o Brasil, decorrente do bloqueio
continental decretado por Napoleão Bonaparte após a Revolução Francesa, terminou
precipitando os acontecimentos que levaram à independência do Brasil, em 1822. Com
o retorno de Dom João VI a Portugal, seu filho Dom Pedro assumiu o poder como
Príncipe Regente. Pressionado pelos portugueses, que queriam seu retorno, e por
brasileiros, que desejavam o fim da colônia, D. Pedro decretou a Independência do
Brasil em 7 de setembro de 1822. O Brasil Imperial viu, antes de se tornar República, a
atuação de dois imperadores, em dois reinados. O Primeiro Reinado foi marcado pela
transição política em relação a Portugal. Em 1824 foi outorgada a primeira constituição.
A presença de portugueses nas altas camadas do poder não agradava os brasileiros, o que
gerava conflitos. Pressionado, Dom Pedro voltou a Portugal em 1831, deixando seu

2
Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil – Douglas Schneider, 2014

filho, Dom Pedro II, como novo Imperador. Como este tinha à época 5 anos de idade, o
governo foi exercido por regentes, num período que foi marcado por revoltas sociais -
Balaiada, Cabanagem, Sabinada, Guerra dos Malês, Cabanada e Revolução Farroupilha
- a maior parte delas em protesto contra as péssimas condições de vida, alta de impostos,
autoritarismo e abandono social das camadas mais populares da população. Em 1840,
foi decretada a maioridade de Dom Pedro II, iniciando-se assim o período chamado de
Segundo Reinado. Apesar da relativa tranquilidade obtida com a estabilidade econômica
propiciada pela economia cafeeira, em 1864, a intervenção do Brasil em assuntos
estrangeiros, culminou na Guerra do Paraguai, a maior da história da América Latina.
Os milhões de mortes e gastos extraordinários geraram revoltas e confrontos pelo fim da
monarquia. Na madrugada de 15 de novembro de 1889, o marechal das forças militares,
Deodoro da Fonseca, proclamou a República do Brasil.

2.2. Assistência médica no período colonial e no Império


A precariedade da assistência médica do período colonial também foi objeto do
relato de Cristina Gurgel. Segundo a historiadora, “os Senados das Câmaras continuamente
solicitavam ao poder central o envio de médicos, então denominados físicos. Mas, escassos
em Portugal e temerosos diante das dificuldades impostas pela vida colonial, poucos se
aventuraram no Brasil. Para conseguirem se manter, os médicos exerciam mais de uma
profissão, e suas atividades, devido à falta de moeda corrente, podiam ser pagas com panos,
açúcar, galinhas, milho ou algodão. Assim, entre os séculos XVI e XVIII, a medicina no Brasil
colonial foi praticada predominantemente pelos jesuítas. Era comum a instalação de boticas e
hospitais nos colégios da Companhia de Jesus, onde seus integrantes, mesclando os conhecimentos
médicos europeus com os dos indígenas sobre plantas, tornaram-se médicos e enfermeiros da
colônia”.(2)
Essa situação perdurou pelos primeiros três séculos da história do Brasil, com
mudanças mais significativas apenas a partir de 1808, com a chegada ao país da Família
Real Portuguesa. Nossas primeiras Faculdades de Medicina foram criadas logo depois
do desembarque, nas cidades de Salvador e do Rio de Janeiro.

2.3. Cuidados com as doenças bucais no período colonial e no


Império
Quanto às doenças da boca, nos primórdios do Brasil colonial, índios e negros
cuidavam dos seus problemas com seus próprios conhecimentos e recursos. Em práticas
ritualísticas, fazendo uso de ervas e rezas, tratavam suas dores e sofrimentos de forma
condizente com sua interpretação mágica do mundo. O professor E. Rosenthal, na sua
obra “A Odontologia do Brasil no século XX”, informa que “os primeiros Mestres de Ofício
chegaram de Portugal e obtiveram suas Cartas de Ofício junto ao Cirurgião-Mor da Corte

3
Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil – Douglas Schneider, 2014

Portuguesa nos idos de 1521, podendo então realizar suas atividades de cirurgia, sangramentos
e remoção de dentes”. Trata-se, por assim dizer, da primeira atitude do Estado na área
odontológica, adotada para normatizar o ofício de “Barbeiro”, ou “Tiradentes” no
Brasil.(3)
Com a chegada da família real portuguesa, também na área da saúde bucal as
primeiras mudanças começam a ocorrer. A primeira “Carta de Dentista” foi expedida
em 1811, tendo sido concedida pela primeira vez a um primeiro brasileiro no mesmo
ano. Os primeiros cursos de odontologia, naquelas mesmas Escolas, foram implantados
em 25 de outubro de 1884, data na qual até hoje é comemorado entre nós o “dia do
cirurgião-dentista”. A denominação de Cirurgião-Dentista foi adotada para nominar os
graduados nas primeiras escolas de odontologia brasileiras, no ano de 1893, já no
período Republicano.
O período tem fim, com o Estado limitando-se a, no âmbito da saúde bucal,
regulamentar a formação dos dentistas e o exercício das atividades profissionais na área
privada e para os militares, como relatam Amarante (4) e Cunha.(5) Como ocorria na área
médica, a assistência odontológica para a maioria da população ficava restrita às
entidades religiosas, de caráter filantrópico, como conta Calado.(6)

3. O início do período Republicano – República Velha (1889 –


1930)

3.1. Aspectos gerais e de saúde


Os primeiros anos da chamada República Velha foram marcados pela crescente
influência política das oligarquias dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas
Gerais, envolvidas com a produção e exportação de café, principal produto do país
naquele período da nossa história. A cidade do Rio de Janeiro apresentava um quadro
sanitário especialmente caótico, com epidemias de varíola, febre amarela e peste, o que
gerava sérias consequências para os interesses dominantes, já que os navios estrangeiros
não mais queriam atracar no porto da cidade, por onde saia o café e entravam os
imigrantes. As primeiras indústrias começavam a se instalar no país, trazendo para
nossas cidades as movimentações políticas dos novos trabalhadores e as primeiras greves
por melhores condições de trabalho e por legislações que garantissem direitos já
conquistados pelos operários europeus e norte-americanos.

3.2. A República velha e as primeiras ações da Saúde Pública


As epidemias e os prejuízos que sua ocorrência trazia para as exportações
brasileiras mobilizaram os interesses econômicos e políticos, que determinaram as

4
Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil – Douglas Schneider, 2014

primeiras medidas de impacto da saúde pública no país, voltadas para o saneamento dos
portos do Rio de Janeiro e de Santos. A Direção Nacional de Saúde, criada pelo
Presidente Rodrigues Alves (1902 – 1906) e dirigida por Oswaldo Cruz, comandou as
ações, adotando o modelo das “campanhas sanitárias”, de inspiração americana.(7)
Moradores dos cortiços eram removidos, colchões e pertences dos doentes eram
queimados e a vacinação contra a Varíola foi tornada obrigatória, medida esta que
terminou desencadeando, em 1904, um grande movimento de resistência popular
conhecido como “Revolta da Vacina”. Apesar do caráter autoritário e dos evidentes
excessos, as ações tiveram êxito em controlar as epidemias e sanear os portos daquelas
cidades, contribuindo para que o modelo campanhista perdurasse durante as décadas
seguintes, constituindo-se na matriz sobre a qual a saúde pública se desenvolveu nas
primeiras décadas do século XX. Também neste período foi iniciada a prática dos
registros demográficos, que possibilitaram conhecer a composição e os fatos vitais de
importância, os laboratórios foram incorporados como auxiliares do diagnóstico
etiológico e foi iniciada a fabricação organizada de produtos profiláticos para uso em
massa. Carlos Chagas sucedeu Oswaldo Cruz na Direção Nacional de Saúde, a partir de
1920, tendo sido responsável pela introdução da propaganda e da educação sanitária nas
ações de saúde pública, inovando o modelo campanhista de Oswaldo Cruz,
essencialmente fiscal e policial.
Nas décadas subsequentes, até os anos 1960, o modelo do sanitarismo
campanhista se consolidou e avançou para o interior do país, tendo papel importante no
controle de endemias como a Doença de Chagas e a Esquistossomose. Foi incorporado
pela SUCAM (Superintendência de Controle de Endemias) e pela FNS (Fundação
Nacional de Saúde), tendo atuado em diversas situações nas quais o saneamento foi
importante para dar sustentação ao modelo agro-exportador que dominou nossa
economia ao longo daquelas décadas.
Em 1923, no Governo de Artur Bernardes (1922-1926), foi adotada a primeira
medida do Estado para prover assistência médica aos trabalhadores brasileiros, por meio
da criação das CAPS – Caixas de Aposentadorias e Pensões. A Lei Elói Chaves
determinou sua implantação no âmbito de cada empresa, reunindo recursos dos
trabalhadores e dos empresários para financiar as aposentadorias e pensões e prover
assistência médica aos trabalhadores. Sob a tensão dos movimentos dos trabalhadores da
nascente indústria, o estado brasileiro institui, sem dispender recursos governamentais,
um sistema de seguro social exclusivo para os trabalhadores urbanos dos setores mais
fortes da economia – especialmente os bancários, ferroviários e portuários, envolvidos
mais diretamente com a produção de riquezas no modelo agro-exportador predominante
na economia brasileira nas primeiras décadas do século XX.

5
Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil – Douglas Schneider, 2014

3.3. A odontologia na República Velha – Os primeiros


serviços odontológicos em Escolas
Os primeiros registros da criação de serviços de assistência odontológica pelo
poder público no Brasil se referem à instalação de consultórios odontológicos em escolas
públicas dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia, na década dos
anos 1910. Como bem ressalta Soares(8), “as práticas de saúde bucal começaram a ser
introduzidas nos sistemas públicos com uma inserção reducionista, na linha do então
movimento de puericultura e higiene escolar, numa prática meio que caritativa de assistência às
crianças pobres, não se identificando como prática inserida na saúde pública”. Narvai e Frazão
(9)
enumeram os Decretos que criaram e regulamentaram o Serviço Dentário Escolar do
Estado de São Paulo, assim como os registros que marcaram a inauguração dos
primeiros Dispensários de Associação Dentária Escolar, ressaltando que os primeiros
serviços dessa natureza foram criados por iniciativa particular da Associação Paulista de
Assistência Dentária Escolar, que logo passou a receber auxilio financeiro do poder
público estadual. Ao analisarem a implantação desses serviços, Narvai e Frazão(10)
consideram que, embora eles “buscassem desenvolver algumas ações educativas, sua prática
clínica reproduzia, essencialmente, o que faziam os dentistas nos seus consultórios particulares.
A abordagem era individual e não lograva realizar, em bases epidemiológicas, um diagnóstico
de situação em termos populacionais e, menos ainda, se utilizava qualquer tecnologia de
programação resultante de processos de planejamento que considerassem a saúde bucal da
população como um todo”.

4. Anos 1930 e 1940

4.1. Aspectos gerais


Após a proclamação da República, as transformações mais importantes na
estruturação do estado Brasileiro ocorreram a partir dos anos 30, na chamada Era
Vargas (1930 – 1945). O período, que incluiu o ciclo ditatorial de Getúlio Vargas,
chamado de Estado Novo (1937-1945), foi marcado pela centralização administrativa,
mas também por iniciativas importantes para a institucionalização de direitos civis e
trabalhistas inéditos no país. Foram adotados o voto secreto e o voto pelas mulheres e
foram criados o Ministério do Trabalho e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Teve início nessa época uma importante intervenção do Estado na economia, que
começou a expandir seus horizontes. O ciclo do café permitiria a acumulação de capitais,
que serviria para impulsionar a ainda frágil indústria brasileira, através da instalação no
país das indústrias de base. Para viabilizar a produção no país de máquinas antes
importadas, são criadas a Fabrica Nacional de Motores (FNM), a Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN) e a Companhia Vale do Rio Doce, entre outras. O apoio
do Governo brasileiro aos aliados na 2ª Guerra Mundial aprofunda o alinhamento do

6
Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil – Douglas Schneider, 2014

Brasil aos interesses dos Estados Unidos da América, que contribuirão com recursos
importantes para impulsionar ainda mais o processo de industrialização. As dificuldades
causadas pela 2ª Guerra Mundial (1939-1945) ao comercio mundial favoreceriam a
estratégia de substituição de importações, abrindo espaço para o crescimento das
exportações brasileiras, principalmente com a venda de produtos metalúrgicos.

4.2. Políticas de Saúde na Era Vargas


Na área da saúde, o Governo Getúlio Vargas, em 1931, centralizou as CAPS em
Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAP), organizados para cada categoria
profissional e, agora, sob a gestão do Estado. Recursos dos IAPS foram utilizados por
Vargas para a construção das Indústrias de Base, numa prática de transferência de
recursos previdenciários para grandes obras que perdurou até os anos 1980. Vale
acrescentar que o modelo de Seguridade Social dos IAPS preservou o caráter excludente
das CAPS, garantindo aposentadoria e assistência médica apenas para os trabalhadores
urbanos.
Os IAPS, durante e depois da era Vargas, altamente capitalizados, tiveram papel
importante para a expansão do modelo de saúde dominante nos EUA, centrado em
hospitais e, posteriormente, na contratação de serviços privados para a prestação de
serviços de saúde na esfera previdenciária.
Em contraposição a esse processo, a Saúde Pública brasileira avançava em
direção ao desenvolvimento de práticas sanitárias com ênfase na Educação em Saúde.
Em 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, com a desintegração das
atividades do então Departamento Nacional de Saúde Pública (vinculado ao Ministério
da Justiça), e sua pulverização para outros setores, tais como a fiscalização de produtos
de origem animal, que passou para o Ministério da Agricultura (1934), e a higiene e
segurança do trabalho (1942), que ficou vinculada ao Ministério do Trabalho. A
escassez de recursos financeiros, a distribuição de recursos e de pessoal para diversos
órgãos e setores, aos conflitos de jurisdição e gestão e a superposição de funções e
atividades, fizeram com que a maioria das ações de saúde pública no período ficasse
reduzida a aspectos meramente normativos, sem efetivação, no campo prático, de
soluções para os grandes problemas sanitários existentes no país naquela época.
Outra ação importante naquele período foi a criação, em 1942, da Fundação
Serviços Especiais de Saúde Pública (SESP), com recursos da Fundação Rockfeller.
Inserida no alinhamento brasileiro aos interesses dos EUA, a iniciativa propiciou o
desenvolvimento de ações de saúde no interior da Amazônia, voltadas para o combate à
Malária e à Febre Amarela. As doenças, endêmicas na região, fragilizavam a saúde dos
seringueiros e comprometiam a produção da borracha, de grande interesse para a
produção norte-americana de componentes de armas e equipamentos bélicos. A saúde

7
Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil – Douglas Schneider, 2014

pública se expandia para além dos portos e das cidades, movida uma vez mais por
interesses econômicos e políticos.

4.3. A criação dos Serviços de Higiene Buco-Dentária


Em 1947, com a criação da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo, foi
instituída a recomendação para que os Centros de Saúde implantassem Serviços de
Higiene Buco Dentária, marcando assim o início da institucionalização da área
odontológica em serviços estatais da área da saúde. Movimentos semelhantes em outros
Estados da Federação propiciaram a implantação de novos serviços, mas sua atuação não
os distinguia da odontologia praticada nos consultórios particulares, quadro que
começaria a se alterar na década seguinte.

5. O período entre os anos 1950 e 1964

5.1. Aspectos gerais


Entre os anos de 1950 e 1964, o Brasil viveu um período democrático, iniciado
com o Governo constitucional de Getúlio Vargas, eleito em 1950, e encerrado com o
golpe Militar de 1964. Aqueles tempos foram marcados pela consolidação do processo
de industrialização e pelo avanço da urbanização do país. Ainda no Governo Vargas, em
1953, foi criada a Petrobrás, mas os maiores investimentos na área industrial vieram
posteriormente, do exterior. Medidas governamentais permitiram a importação de
máquinas e equipamentos sem cobertura cambial para o Brasil, na forma de
investimento direto, o que estimulou a internacionalização da economia brasileira e
favoreceu o capital estrangeiro, tornando a economia brasileira uma das mais atrativas da
América Latina. A Indústria de veículos foi a mais favorecida, assim como outras ligadas
ao setor, como a de fabricação de máquinas e equipamentos, a de artigos de borracha e
de material plástico e a de máquinas, aparelhos e materiais elétricos. Entre as principais
empresas que se instalaram no país estavam a General Motors, a Ford Motor, a
Volkswagen, a Bosch, a Krupp, a Caterpillar, a Pirelli, a Goodyear, a Firestone e a
General Electric. Sob o Governo Juscelino Kubitschek (1956-1961), a classe operária
teve sua composição fortemente alterada, com a migração maciça de trabalhadores
nordestinos para a indústria privada, prioritariamente paulista - em detrimento da busca
por empresas estatais e pelo epicentro econômico e social representado pelo Rio de
Janeiro nos tempos de Getúlio Vargas.
O enorme impulso à industrialização ampliou e consolidou o processo de
urbanização. Esse deslocamento caracterizou um autêntico êxodo rural, traduzindo, em
termos demográficos, a mudança de um modelo agrário-exportador para um modelo

8
Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil – Douglas Schneider, 2014

urbano-industrial. Além da industrialização, também estão associados a esse


deslocamento campo-cidade a concentração fundiária e a mecanização do campo.
Enquanto, em 1940, apenas 31% da população brasileira viviam em cidades, em 1970,
mais da metade dos brasileiros já se encontrava em áreas urbanas, nas quais a oferta de
emprego e de serviços, como saúde, educação e transporte, eram muito maiores. O
rápido e desordenado processo de urbanização ocorrido no Brasil irá trazer uma série de
consequências negativas, muitas das quais se fazem presentes até os tempos atuais. A
falta de planejamento urbano e de uma política econômica menos concentradora
contribuiu para a ocorrência de problemas como a favelização, a violência urbana, a
poluição ambiental e as enchentes.
No entanto, o movimento popular continuou se fortalecendo por meio do
movimento estudantil e da sindicalização, nas cidades e no campo, sem refletir ainda a
expansão da presença do capital estrangeiro no país, que se faria sentir fortemente
quando se intensificaram as articulações para o golpe militar. Com a renúncia de Jânio
Quadros (1961) e a posse de João Goulart (1961 – 1964), e com o movimento popular
atingindo seu auge em termos de mobilização, esboçava-se um processo de reformas
sociais, políticas e culturais, que incluía em seu bojo a reforma agrária, a limitação das
remessas de lucros para o exterior e movimentos culturais como o cinema novo, a bossa
nova e o teatro político do início dos anos 60.(11)

5.2. A saúde no período entre os anos 1950 e 1964


Em 1953 foi criado o Ministério da Saúde (MS), que na verdade limitou-se a
um mero desmembramento do antigo Ministério da Saúde e Educação, sem que isto
significasse uma nova postura do governo e uma efetiva preocupação em atender aos
importantes problemas de saúde pública de sua competência. Luz(7) salienta a dicotomia
institucional que caracterizava a situação brasileira, com a separação entre as ações
preventivas, sob responsabilidade do MS, e a assistência à saúde, estruturada pelos IAP.
O modelo campanhista, que chegara a um estágio burocrático rotineiro, ainda
predominava largamente nos órgãos de saúde pública do então Ministério da Educação
e Saúde. Opunha-se ao modelo curativista, dominante nos serviços previdenciários de
atenção médica, também burocratizados e ineficazes face aos problemas crescentes de
saúde das populações urbana e rural.
As forças sociais progressistas, alinhadas com o movimento social do início dos
anos 60, liderado e conduzido pelas elites progressistas, reivindicava “reformas de base”
imediatas, entre as quais uma reforma sanitária consistente e consequente. Mas a reação
política das forças conservadoras prevaleceu, levando o país ao golpe militar de 1964.

9
Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil – Douglas Schneider, 2014

5.3. O período entre os anos 1950 e 1964 - A Fundação SESP e


o Sistema Incremental
Em 1952, o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) iniciou a implantação do
que pode ser considerado o primeiro Programa de Odontologia Sanitária no Brasil, em
municípios das regiões sudeste, norte e nordeste. Esses programas eram voltados às
crianças em idade escolar, empregavam métodos e técnicas de planejamento e
programação e preconizavam a utilização de métodos preventivos com uso de produtos
fluoretados e o trabalho com pessoal auxiliar. O Sistema Incremental, definido por Vitor
Gomes Pinto(12) como “método de trabalho que visa o completo atendimento dental de uma
população dada, eliminando suas necessidades acumuladas e posteriormente mantendo-a sob
controle, segundo critérios de prioridades quanto a idades e problemas”, representou um
importante marco nas políticas públicas de saúde bucal, na medida em que expressava
uma política com objetivos claros de propiciar uma melhoria das condições de saúde
bucal de uma parcela importante dos brasileiros, articulando ações preventivas, de
assistência odontológica e de educação em saúde bucal. Essa teoria, que veio a ser
denominada como “Odontologia Sanitária”, teve entre seus expoentes os Professores
Paulo da Silva Freire e Mario Chaves, que a registraram em artigos e livros,
documentando assim as consagradas experiências desenvolvidas no Brasil dos anos 50 e
60.
São marcos importantes desse período, a publicação do Manual de Odontologia
Sanitária, do Professor Mario Chaves (1960) e a criação do Curso de Especialização em
Saúde Pública para Dentistas, na Faculdade de Saúde Pública da USP, implantado em
1928 exclusivamente para formar médicos especialistas na área.
O modelo do Sistema Incremental, no entanto, foi sendo replicado de forma
acrítica nas décadas seguintes, o que contribuiu para sua gradativa redução para
programas escolares verticais, centrados exclusivamente no componente curativo.
Contribuíram também para seu esvaziamento como política pública as mudanças pelas
quais o país passou nas décadas de 1960 e 1970, com a urbanização, a evasão escolar e o
avanço dos interesses privados nas áreas da saúde e da educação, notadamente após o
golpe militar de 1964.

6. A Ditadura militar – 1964 - 1985

6.1. Situação política


O golpe militar de 1964 representou uma ruptura histórica, de caráter
claramente regressivo, no processo em curso no país. O campo popular viu retrocederem
todas as suas conquistas dos anos anteriores. Nos sindicatos e universidades, nas escolas
e nos jornais, no teatro e no cinema, aonde floresciam os ideais das reformas, a

10
Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil – Douglas Schneider, 2014

brutalidade da ditadura acuou sindicalistas, estudantes e professores, juizes e editores de


livros, parlamentares progressistas e todos os militantes por reformas. Restava a eles
enfrentar o Estado ditatorial e seus propósitos, entre eles a submissão aos interesses
externos, o fortalecimento das oligarquias internas e o sufocamento da livre expressão
política e cultural.
Na área econômica o país crescia rapidamente. O período que vai de 1969 a 1973
ficou conhecido como “Milagre Econômico”. O PIB brasileiro crescia a uma taxa de
quase 12% ao ano. Com investimentos internos e empréstimos do exterior, o país
avançou e estruturou uma base de infra-estrutura, gerando milhões de empregos. Porém,
os empréstimos estrangeiros geraram uma dívida externa elevada para os padrões
econômicos do Brasil. Todo esse crescimento teve, assim, um custo altíssimo, cuja conta
seria paga no futuro.
Em 1974 assume a presidência o general Ernesto Geisel (1974-1979), que inicia
um lento processo de transição rumo à democracia. O país vivia o fim do milagre
econômico e a insatisfação popular crescia. A crise do petróleo e a recessão mundial
fizeram retroceder os créditos e empréstimos internacionais, mergulhando o país em
uma grave crise financeira. A oposição política começa a ganhar espaço, e, nas eleições
de 1974, conquista 59% dos votos para o Senado, 48% da Câmara dos Deputados e
ganha a prefeitura da maioria das grandes cidades.
Setores militares, descontentes com a abertura promovida por Geisel, passam a
promover ataques clandestinos aos membros da esquerda. Os assassinatos do jornalista
Vladimir Herzog e do operário Manuel Fiel Filho ganham repercussão nacional e
internacional, agravando a crise da ditadura brasileira e incitando a luta pela
democratização. Em 1978, Geisel acaba com o AI-5, restaura o habeas-corpus e abre
caminho para a volta da democracia no Brasil. Seu sucessor, João Batista Figueiredo
(1979-1985), decreta a Lei da Anistia, concedendo o direito de retorno ao Brasil para os
políticos, artistas e demais brasileiros exilados. A resistência dos militares “de linha dura”
continua, se manifestando em episódios como as cartas-bomba colocadas em órgãos da
imprensa e na sede da OAB (Ordem dos advogados do Brasil) e, em 1981, com a
explosão de uma bomba durante um show no centro de convenções do Rio Centro,
episódio até hoje sob investigação. Em 1979, o governo militar restabelece o
pluripartidarismo no país. Os partidos voltam a funcionar dentro da normalidade, com o
surgimento de novos partidos como o Partido dos Trabalhadores e o Partido
Democrático Trabalhista.
Em 1984, políticos de oposição, artistas, intelectuais e milhões de brasileiros
participam do movimento das Diretas Já. O movimento defendia a aprovação da
Emenda Dante de Oliveira, que garantiria eleições diretas para presidente naquele ano,
mas a nação assistiria, desencantada, à sua rejeição pelo Congresso Nacional.

11
Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil – Douglas Schneider, 2014

6.2. A Política de Saúde na ditadura militar


No âmbito da saúde, o modelo hegemônico foi o do privilégio aos interesses
privados. Os grandes problemas estruturais não foram resolvidos, mas aprofundados,
tornando-se mais complexos e com uma dimensão ampla e dramática. Na área social, o
Estado utilizou para sua intervenção o binômio repressão-assistência, sendo a política
assistencial ampliada, burocratizada e modernizada pela máquina estatal com a
finalidade de aumentar o poder de regulação sobre a sociedade, suavizar as tensões
sociais e conseguir legitimidade para o regime, como também servir de mecanismo de
acumulação do capital. (13)
Em 1966 o governo promoveu a unificação da Previdência Social, com a fusão
dos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP) e a criação do Instituto Nacional de
Previdência Social (INPS). Num só ato centralizou toda a previdência social e a
assistência médica previdenciária, afirmou seu papel intervencionista e alijou os
trabalhadores da gestão do sistema, restringindo-os ao papel de financiadores do
sistema.
Altamente capitalizado, o novo instituto serviria para o financiamento de obras
de grande porte e necessidade no mínimo duvidosa, entre elas a Rodovia
Transamazônica, a Usina Nuclear de Angra dos Reis e a Ponte Rio-Niterói. Financiaria
também a estruturação de um sistema de assistência médica centrado em hospitais
privados, com clientela garantida pelo sistema de prestação de serviços que redundaria,
anos depois, na imensa crise da previdência social dos anos 1980. Bravo(13) lembra ainda
que “a medicalização da vida social foi imposta, pois o setor saúde precisava assumir as
características capitalistas, com a incorporação das modificações tecnológicas ocorridas no
exterior". (13)

6.3. A saúde bucal no período ditatorial


Antes de tudo, é importante salientar que prevalecia amplamente no país a
chamada “Odontologia de Mercado”, cuja essência foi definida por Narvai(14) como
“de base biológica e individual, sobre a qual constrói seu fazer clínico, e em sua organicidade ao
modo de produção capitalista, com a transformação dos cuidados de saúde em mercadorias”.
Além da sua hegemonia no setor privado, a odontologia de mercado segue influenciando
os serviços públicos, que a reproduzem em escolas e centros de saúde.
As transformações pelas quais passou a sociedade brasileira desde os anos 30,
produziram importantes reflexos na “Odontologia de Mercado”. A prática odontológica
se tornou complexa e passou a concentrar, crescentemente, sofisticada tecnologia.
Narvai(14) ressalta que, “em consequência dessas transformações e em coerência com as
características gerais do capitalismo dependente que se consolidou no pais, observou-se grande
expansão no número de cursos de odontologia , sobretudo nas últimas décadas do século XX”.
Com o aumento do número de profissionais, avançou também sua organização

12
Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil – Douglas Schneider, 2014

corporativa, o que impulsionou a criação, em 1964, do Conselho Federal de


Odontologia, e a regulamentação do exercício da odontologia no Brasil, por meio da Lei
5.081, de 1966.
O Sistema incremental seguia hegemônico na prestação da assistência
odontológica pública em escolas, mas, com a unificação da previdência, os anos 70
marcariam uma expressiva ampliação da assistência na área. Moyses(15) destaca que esse
avanço se deu por meio de práticas pouco transformadoras, com oferta de ações de saúde
bucal para a população adulta, com práticas mutiladoras centradas nas urgências
provocadas por dor de origem dentária e na consecutiva extração de dentes.
Um fato importante na história das políticas de saúde bucal no Brasil ocorreu em
1974, com a aprovação, em 24 de maio de 1974, da Lei Federal 6.050, que determinou a
adição de flúor nos sistemas de abastecimento público de água. A medida decorreu de
iniciativas municipais e estaduais nesse mesmo sentido, assim como do avanço de
movimentos e iniciativas que procuravam estimular e desenvolver ações de promoção da
saúde bucal e prevenção das doenças bucais em municípios brasileiros. Programas de
bochechos fluorados e outros envolvendo a utilização de fluoretos também passaram a
ser desenvolvidos em grande escala, especialmente nos ambientes escolares.
No contexto internacional, o ano de 1978 foi marcado pela realização da
Conferência Internacional de Cuidados Primários em Saúde, em Alma Ata, evento de
grande importância que contribuiu fortemente com a construção de políticas para
ampliação do acesso de camadas menos favorecidas da população de inúmeros países às
ações básicas de saúde. Entre as estratégias utilizadas estavam as tecnologias ditas
“apropriadas”, com recursos simplificados e através de equipes de saúde compostas com
profissionais de nível auxiliar ou técnico. No Brasil, essa tendência impulsionou a
implementação de programas baseados na chamada “odontologia simplificada”, com
destaque para o PISE – programa Integrado de Saúde Escolar, desenvolvido pela
Fundação Educacional do Distrito Federal. Essa e outras iniciativas similares tiveram
papel importante para o desenvolvimento das profissões então chamadas de auxiliar de
consultório dentário e técnico de higiene dentaria e para o avanço da odontologia na
área pública, apesar de sua limitação ao campo de saúde bucal de escolares e falta de
ênfase sobre os determinantes sociais da saúde e das doenças bucais.(15)
Buscando ampliar os avanços proporcionados pela Odontologia Simplificada,
alguns serviços municipais técnicos e procedimentos decorrentes do avanço do
conhecimento sobre a cárie, especialmente com o desenvolvimento da “Cariologia”.
Iniciaram também experiências de implantação de serviços especializados, especialmente
nas áreas da endodontia e da prótese, o que contribuiu para o desenvolvimento de um
novo conceito, o da chamada “Odontologia Integral”.
A VII Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1980, produziu um
documento avassalador sobre o modelo de prática odontológica vigente no país,
caracterizando-o como ineficaz, ineficiente, descoordenado, mal distribuído, de baixa

13
Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil – Douglas Schneider, 2014

cobertura e alta complexidade, enfoque curativo, de caráter monopolista e inadequado


no preparo dos recursos humanos.

7. Democratização e período neo-liberal (1985 - 2002)

7.1. A democratização
A crise do chamado “milagre econômico” trouxe o aumento do desemprego e da
inflação, a redução dos investimentos e de produção e o aprofundamento dos
desequilíbrios macroeconômicos A precariedade das condições de vida na periferia das
grandes cidades e o ressurgimento dos movimentos sociais marcaram assim os últimos
anos do regime militar no Brasil, tendo papel importante no processo de
redemocratização política do país.
Os anos 80 foram marcados pelo processo de democratização política e pela
superação do regime ditatorial instaurado em 64. Por outro lado, naquela década e na
seguinte, o país viveu uma profunda e prolongada crise econômica. A transição
democrática não se traduziu em ganhos materiais para a maioria da população,
especialmente com a guinada conservadora ocorrida após 1988.
No dia 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral elegeria Tancredo Neves,
candidato da oposição, como novo presidente da República – o primeiro civil em 21
anos. Era o fim do regime militar. Tancredo, no entanto, adoece antes de assumir a
presidência, falecendo semanas depois. Cabe ao vice-presidente José Sarney o comando
do processo de democratização, então conhecido como “Nova República”. Em 1988 é
aprovada uma nova constituição para o Brasil, restabelecendo princípios democráticos
no país.

7.2. A Reforma sanitária e os primeiros anos de SUS


Nos últimos anos do período ditatorial, a crise da assistência médica
previdenciária e a precariedade dos serviços mantidos pelo Ministério da Saúde
evidenciaram a falência da saúde. Os fatos mais marcantes da década dos anos 80 foram
os relacionados com a participação de novos sujeitos sociais na discussão das condições
de vida e das políticas setoriais do campo social, notadamente na área da saúde. O amplo
debate sobre o tema fez com que a saúde deixasse de ser assunto restrito aos técnicos da
área para assumir uma dimensão política, diretamente vinculada à construção da
democracia no Brasil. Os movimentos sociais pela saúde, em particular os movimentos
de mulheres na periferia das grandes cidades, dos profissionais de saúde e das suas
entidades, o movimento sanitário e seus Centros de Estudos, além dos partidos políticos
de oposição, deram forma a essa participação, debatendo de forma mais abrangente a

14
Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil – Douglas Schneider, 2014

produção da saúde e das doenças e propondo, em seus âmbitos de atuação, novas


políticas para a área. As pautas desses movimentos envolviam propostas como a
universalização do acesso aos serviços, a concepção de saúde como direito social e dever
do Estado, a reestruturação do setor, com Unificação do Sistema e descentralização do
processo decisório para as esferas estadual e municipal, o financiamento efetivo e a
democratização do poder local através de Conselhos de Saúde.
Comprometido politicamente com a elaboração de uma nova Constituição, o
Governo da Nova República convocou a 8ª Conferência Nacional de Saúde (CNS), cuja
discussão e produção deveriam subsidiar o novo texto constitucional no campo da saúde.
Como estratégia de preparação e mobilização para o evento foram realizadas Pré-
Conferências em centenas de municípios e em praticamente todos os estados brasileiros.
O temário da “oitava” era composto dos temas “A Saúde como direito”, “A
Reformulação do Sistema Nacional de Saúde” e o “Financiamento setorial”, indicando
claramente a dimensão das aspirações nela depositadas.
A Conferência contou com a participação de mais de 4 mil pessoas, sendo mil
delas delegados eleitos pelos diversos setores com interesse na área. Ao introduzir a
sociedade e suas organizações no cenário da discussão da saúde, a CNS tratou seus
temas de forma ampla, propondo a estruturação de um novo sistema e acumulando
forças para interferir decisivamente no processo de eleição da Assembleia Constituinte e
na formulação do seu Capítulo de Saúde.
O processo constituinte e a promulgação da Constituição de 1988
representaram, no plano jurídico, a promessa de afirmação e extensão dos direitos sociais
em nosso país, fazendo frente à grave crise e às demandas de enfrentamento dos
enormes índices de desigualdade social. Com relação à Saúde, a Constituinte
transformou-se numa arena política, na qual os interesses empresariais e populares se
confrontaram de forma clara. As propostas emanadas da 8ª Conferência foram
transformadas em uma emenda popular, assinada por mais de cinquenta mil pessoas e
defendida pelo Deputado Sérgio Arouca. O texto constitucional, após vários acordos
políticos e muita pressão popular, atenderá, em grande parte, às reivindicações do
movimento sanitário, colocando em segundo plano os interesses empresariais do setor
hospitalar.
Os principais aspectos aprovados na nova Constituição foram: o direito universal
à saúde e o dever do Estado, acabando com discriminações existentes entre segurados e
não segurados, rurais e urbanos; as ações e serviços de saúde passaram a ser considerados
de relevância pública, cabendo ao poder público sua regulamentação, fiscalização e
controle; a constituição do Sistema Único de Saúde, integrando todos os serviços
públicos em uma rede hierarquizada, regionalizada, descentralizada e de atendimento
integral, com participação da comunidade; a participação do setor privado no sistema de
saúde seria complementar, preferencialmente com as entidades filantrópicas, sendo
vedada a destinação de recursos públicos para subvenção às instituições com fins
lucrativos; a definição de que os contratos com entidades privadas prestadoras de

15
Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil – Douglas Schneider, 2014

serviços far-se-ão mediante contrato de direito público, garantindo ao Estado o poder de


intervir nas entidades que não estiverem seguindo os termos contratuais e a proibição da
comercialização de sangue e seus derivados.
O texto constitucional inspira-se nas proposições defendidas durante vários anos
pelo movimento sanitário, embora não tenha sido possível atender todas as demandas
quando elas se confrontavam com interesses empresariais ou de setores do próprio
governo. As questões centrais sobre financiamento do novo sistema ficaram pouco
definidas, não tendo sido estabelecido um percentual sobre os orçamentos dos quais se
origina.
A mudança do arcabouço e das práticas institucionais passou a ser realizada de
forma paulatina, por meio de medidas que visaram o fortalecimento do setor público e a
universalização do atendimento, a redução do papel do setor privado na prestação de
serviços à Saúde, a descentralização política e administração do processo decisório da
política de saúde e a execução dos serviços ao nível local. Esse processo culminou com a
criação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS) em 1987 e depois,
em 1988, do SUS (Sistema Único de Saúde), passo mais avançado na reformulação
administrativa no setor.
No entanto, a partir de 1988, as forças progressistas comprometidas com a
Reforma Sanitária passaram a perder espaços na coalizão governante e,
consequentemente, no interior dos aparelhos institucionais. O retrocesso político do
governo da transição democrática repercute na saúde, tanto no aspecto econômico
quanto no político. Nos anos 90, assiste-se o redirecionamento do papel do Estado,
influenciado pela política de ajuste neoliberal promovida pelo Governo Fernando
Henrique Cardoso. Partindo do suposto de que o Estado desviou-se de suas funções
básicas ao ampliar sua presença no setor produtivo, a gestão FHC estimulou a criação de
uma esfera pública não estatal, que exerce funções públicas obedecendo às leis do
mercado. A afirmação da hegemonia neoliberal foi responsável pela redução dos direitos
sociais e trabalhistas, desemprego estrutural, precarização do trabalho, desmonte da
previdência pública e pelo sucateamento da saúde e da educação públicas.

7.3. A reforma sanitária e a Saúde Bucal


Já durante a 8ª Conferência Nacional de Saúde, o então nascente Movimento
Brasileiro de Renovação Odontológica marcou presença, alinhado com os movimentos
sociais na defesa de uma profunda transformação no sistema nacional de saúde e na
inserção da odontologia no processo de mudança. Como desdobramento da 8ª CNS,
realizou-se, no mesmo ano, a 1ª Conferência Nacional de Saúde Bucal, com a
participação de mais de mil pessoas, sendo 286 delegados eleitos em Conferências
Municipais e Estaduais. A Conferência denunciou a grave situação da saúde bucal dos
brasileiros e definiu os rumos para a inserção da área no futuro Sistema Único de Saúde.

16
Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil – Douglas Schneider, 2014

Em 1986 é realizado o 1º Levantamento Epidemiológico nacional, que estudou


a situação da cárie, das doenças periodontais e das necessidades de prótese nas capitais
brasileiras. Os resultados mostraram que as crianças de 12 anos apresentavam índice
CPOD médio de 6,65, e que cerca de 40% dos adultos e 72% dos idosos estavam
edêntulos, transformando em números as evidencias já divulgadas pelos técnicos da área.
Em 1987 é criada a Divisão Nacional de Saúde Bucal e, em dezembro de 1989 a
Port. 22 da Sec. Nac. de Vigilância Sanitária estabelece: “os dentifrícios com flúor
somente serão registrados com concentração inicial de flúor de no mínimo 1.000 ppm
(0,1%).
Em 1989, a Portaria 613/89 aprova a Política Nacional de Saúde Bucal,
declarando os objetivos de proporcionar melhores níveis de saúde bucal à população
brasileira e de ampliar o acesso aos serviços odontológicos disponíveis. Propõe reduzir
em 50% a prevalência da cárie dental em crianças e adolescentes no prazo de dez anos.
Em seu bojo, inclui o PRECAD, Programa Nacional de Prevenção da Cárie Dental que
fornece insumos preventivos para que os municípios expandam aplicações tópicas de
flúor e aplicações de selantes para 7 milhões de crianças. Advogava que a atenção
primária em saúde deveria atuar concentradamente em alguns objetivos como o “de
alcançar uma grande cobertura de crianças de 6 a 12 anos”; o “de enfatizar ações de
educação para a saúde bucal, em todos os níveis” e o “de expandir gradativamente a
prestação de serviços resolutivos aos grupos em segundo e terceiro graus de prioridade,
ou seja, 13 a 19 anos e 2 a 5 anos”. A política expressava assim a força ainda grande dos
conceitos do Sistema Incremental, atestando o atrazo das políticas na área. O projeto
expressava ainda uma forte contradição com o ideário da XVIII Conferência Nacional
de Saúde.
No âmbito dos municípios, por outro lado, a epidemiologia e a democracia
impulsionavam mudanças mais relevantes que as propugnadas pela Política Nacional.
Avançavam as iniciativas de ampliação dos serviços de saúde bucal nas Unidades Básicas
de Saúde, ao mesmo tempo em que recuavam os serviços escolares. As comunidades
passavam a ocupar espaço cada vez maior no planejamento das ações, com os conselhos
de saúde cobrando soluções para problemas crônicos e as equipes de saúde demandando
ações da área para outros grupos populacionais. Essas tensões fizeram avançar as ações
de saúde bucal para a bebes e pré-escolares, gestantes, adultos e idosos, notadamente nos
municípios sob gestões mais sensíveis às demandas sociais. Essas políticas, no entanto,
ainda eram limitadas pela pequena estrutura existente na área, resultante de anos de
descaso e omissão das políticas públicas.
Em 1992, o Governo Collor (1990-1992) criou os Procedimentos Coletivos de
Saúde Bucal (PC), com o objetivo de desestimular o modelo cirúrgico-restaurador
predominante e remunerar municípios pela realização de ações preventivas de acordo
com a necessidade dos diferentes grupos populacionais e com as possibilidades dos
serviços de desenvolvê-los. Carvalho etti alli(16) analisaram o significado dessa medida
para a política nacional de saúde bucal concluindo que “durante os anos 1990, os PC

17
Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil – Douglas Schneider, 2014

ocuparam lugar de destaque nas ações de saúde bucal no SUS, impulsionando, sob apoio
financeiro, as ações de promoção e prevenção em centenas de municípios. Mas a sua
vinculação com os mecanismos de transferência de recursos, tida inicialmente como um
avanço, foi tirando a sua característica de instrumento potente para mudar o modelo de
atenção”.(16) Os PC, foram extintos em 2006 e, apesar de suas limitações, representaram
um esforço para ampliar e qualificar a utilização de ações preventivas e de promoção da
saúde no SUS.
Em 1993, a 2ª CNSB pautou como tema central a “Saúde bucal como direito de
cidadania”, reiterando a gravidade do quadro das doenças bucais e da desassistência
odontológica e denunciando o retrocesso das políticas neoliberais em curso no país.
Já no ocaso do Governo Fernando Henrique Cardoso (1993-2000), a Portaria
1.444 de 28 de dezembro de 2000 estabeleceu incentivos financeiros para a implantação
de Equipes de Saúde Bucal na Estratégia de Saúde da Família, com o objetivo de
ampliar o acesso à saúde bucal nos serviços de atenção básica.

8. Governos Lula e Dilma Roussef

8.1. Aspectos gerais


O desenvolvimento econômico propiciado pelo Plano Real durante o Governo
FHC, apesar de ter propiciado a estabilização da economia do país, não propiciou
melhorias significativas para o conjunto da população brasileira. Ao contrário,
problemas como o aumento do desemprego, o endividamento dos Estados e as
desigualdades na distribuição de renda propiciaram condições para que Luiz Inácio da
Silva agregasse diversos setores políticos para empreender uma candidatura vitoriosa em
sua 4ª candidatura à presidência da Republica. O operário e retirante nordestino, líder
do Partido dos Trabalhadores, conseguia assim realizar um feito histórico na trajetória
política do país. Sua trajetória de vida fazia com que diversas expectativas cercassem o
seu governo, marcado pela estabilidade da economia, pelo controle da inflação, pelo
crescimento econômico e, especialmente, por políticas sociais que produziram
importante redução da pobreza e dos níveis de desigualdade social no país. Reeleito com
mais de 60% dos votos Foi sucedido na presidência por Dilma Roussef, que, mesmo
enfrentando grave crise econômica mundial, deu continuidade às políticas sociais
iniciadas por Lula.

18
Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil – Douglas Schneider, 2014

8.2. A Saúde nos Governo Lula e Dilma Roussef (2003 –


2014)
No Ministério da saúde, o Governo Lula criou a Secretaria de Gestão do
Trabalho e da Educação em Saúde, com o objetivo de promover mudanças na formação
de recursos humanos para a saúde e de atuar na regulamentação das profissões e no
mercado de trabalho na área, buscando enfrentar problemas centrais do SUS nessa área.
Outra mudança efetuada na estrutura do Ministério foi a criação da Secretaria de
Atenção à Saúde, que visou unificar as ações de atenção básica, ambulatorial e hospitalar
e integrar as atribuições das extintas secretarias de Política de Saúde e de Assistência à
Saúde. Foi criada também a Secretaria de Gestão Participativa, com a função de
fortalecer o controle social e estabelecer a comunicação do Ministério da Saúde com
outros níveis de governo e com a sociedade.
Destacaram-se no período a expansão da Estratégia de Saúde da Família, a
ampliação do Serviço de Atendimento Móvel às Urgências (SAMU), a ampliação do
acesso a medicamentos por meio do “Programa Farmácia Polular”, e a implementação
do “Programa Brasil Sorridente”. No entanto, apesar dos avanços nessas e em outras
áreas, permanece o impasse quanto ao financiamento da área da saúde, principal
problema da área segundo os técnicos da área e gestores do sistema.
O Governo Dilma Roussef vem dando prosseguimento às linhas de trabalho
implementadas pelo Governo Lula, incorporando como nova prioridade o “Programa
Mais Médicos”, desenvolvido com o objetivo de enfrentar o grave problema da falta
desses profissionais nos serviços do SUS. Além de medidas mais imediatas, que
incluíram o estímulo à vinda de profissionais de outros países, especialmente de Cuba, o
Programa prevê a abertura de novos Cursos de Medicina e outras medidas de estímulo à
vinculação desses profissionais ao Sistema Único de Saúde.

8.3. A saúde bucal nos Governos Lula e Dilma Roussef


Em março de 2004 o Governo Federal lançou a Política Nacional de Saúde
Bucal (PNSB) intitulada “Brasil Sorridente", com o objetivo de ampliar e organizar as
ações e serviços de saúde bucal no SUS. As principais linhas de ação do programa são a
reorganização da atenção básica em saúde bucal, principalmente com a implantação
das Equipes de Saúde Bucal na Estratégia Saúde da Família, a ampliação e qualificação
da atenção especializada, em especial com a implantação de Centros de Especialidades
Odontológicas e Laboratórios Regionais de Próteses Dentárias. O programa também
incentiva, no âmbito da atenção especializada, a estruturação de serviços de saúde bucal
na Assistência Hospitalar. O Brasil Sorridente apresenta interfaces com outras ações
desenvolvidas pelo Ministério da Saúde. A nova PNSB marca o compromisso do
Governo Federal com o redesenho dos serviços da área, em consonância com os
princípios do SUS e com as conclusões das Conferências Nacionais de Saúde Bucal.

19
Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil – Douglas Schneider, 2014

Em julho de 2004 ocorreu a 3ª CNSB, cujo tema central foi “Acesso e qualidade,
superando a exclusão social”. A Conferência, apesar de saudar a nova Política Nacional
de Saúde Bucal, avançava na crítica à exclusão social e reiterava a gravidade do quadro
epidemiológico de parcelas expressivas da população brasileira.
Em 2010 o Ministério da Saúde, através do seu componente de Vigilância em
Saúde Bucal, realizou novo levantamento epidemiológico nacional (SB BRASIL 2010).
Com dados coletados em todas as capitais e em 150 municípios, foi o maior estudo
realizado no país, com cerca de 38 mil brasileiros examinados. A pesquisa mostrou uma
queda de 26% no número de cáries dentárias entre crianças de doze anos desde 2003,
com o crescimento em 30% do número de crianças que nunca tiveram cárie. Entre os
adolescentes, a diminuição do índice CPOD foi de 30% entre 2003 e 2010, enquanto a
necessidade de prótese parcial nesse grupo etário caiu 50%. Nos adultos, a queda foi de
19% na faixa etária entre 35 e 44 anos, com aumento de 70% no número de dentes
tratados. Com esses dados, o Brasil passou a integrar o grupo de países com baixa
prevalência de cáries, classificação estabelecida pela Organização Mundial da Saúde para
os países com CPOD médio, aos 12 anos, entre 1,2 e 2,6. Entre os aspectos negativos
evidenciados pela pesquisa, destacam-se a não redução do CPOD na Região Norte do
país e a constatação de que, apesar de ter ocorrido uma redução de 17% no índice de
dentes temporários cariados, 80% deles não estavam devidamente tratados no momento
do exame. Além das desigualdades regionais e do descaso com a dentição temporária, o
levantamento mostrou o imenso desafio a enfrentar para a reabilitação dos brasileiros já
desdentados. Eram mais de 3 milhões os brasileiros com 65 anos ou mais anos com
necessidade de próteses completas e 4 milhões necessitando de próteses parciais.
Em março de 2014, ao completar 10 anos da nova política, o MS divulgou que o
Programa Brasil Sorridente já havia beneficiado quase 80 milhões de brasileiros, com a
implantação de 23.150 Equipes de Saúde Bucal (ESB) espalhadas em 4.971 municípios
e de mil Centros de Especialidades Odontológicas (CEO’S) em 808 cidades. Em 2013,
mais de 415 mil próteses dentárias foram entregues, por meio dos Laboratórios
Regionais de Próteses Dentárias, presentes em 1.465 municípios. Ainda segundo o MS,
em março de 2014 o SUS empregava 30% dos dentistas do País, com 63.584
profissionais atuando na rede pública.
Assim, entre problemas ainda muito relevantes como os evidenciados pelo SB
Brasil 2010, e os avanços inegáveis atestados pelos números do Programa Brasil
Sorridente, concluo o presente artigo com a reflexão de Samuel Moyses (15), que afirma
que “a PNSB não iniciou em 2003, embora tenha recebido impulso a partir desse ano. Essa
política, resultante de árduas conquistas históricas e de resistências contra as omissões estatais e
os ataques sistemáticos do setor odontológico privatista hegemônico, reflete um embate político.
A PNSB está sendo construída há muitas décadas, por diversos setores da sociedade. Setores
vinculados aos movimentos sociais da saúde e aos sindicatos progressistas, à militância
estudantil, aos professores e pesquisadores que atuam no entrecruzamento da odontologia com a
saúde coletiva, equipes de saúde pública, bem como o Conselho Nacional de Secretários da Saúde

20
Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil – Douglas Schneider, 2014

e o Conselho Nacional de Secretários Municipais da Saúde, o Conselho Nacional de Saúde, os


movimentos de profissionais de saúde e algumas gestões de entidades odontológicas”.

21
Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil – Douglas Schneider, 2014

Referências
1. LEVY, R. B.; Claro, RM; Bandoni, DH; Mondini, L; Monteiro, CA.
Disponibilidade de "açúcares de adição" no Brasil: distribuição, fontes
alimentares e tendência temporal. Rev. bras. epidemiol. vol.15 no.1 São
Paulo Mar. 2012

2. Gurgel, C. Doenças e curas: o Brasil nos primeiros séculos. Editora


Contexto, 2010

3. ROSENTHAL, E. A odontologia no Brasil no século XX: história ilustrada.


Santos Livraria Editora, 2001.

4. AMARANTE, L. M. A odontologia no contexto da Secretaria da Súde do Estado


do Paraná. Curitiba; SESA;2006

5. CUNHA, E. S. História da Odontologia no Brasil (1500-1900). Ea Ed. Rio de


Janeiro: Científica; 1952.

6. CALADO, G. S. A inserção da equipe de saúde bucal no programa de saúde


da família: principais avanços e desafios Disserttação de Mestrado. Rio de
Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundção Osvaldo Cruz; 2002.

7. LUZ, M. T. Notas sobre as políticas de saúde no Brasil da transição


democrática – Anos 80. Physis, 1991

8. SOARES, M. C. Panorama da atenção em saúde bucal no sistema único de


saúde do Estado de São Paulo de 1005 a 2003 [dissertação de mestrado]. São
Paulo: Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo; 2005.

9. NARVAI, P. C.; FRAZÃO, P. Políticas de saúde bucal no brasil. In Moysés ST,


Kriger L, Moysés SJ (org) Saúde bucal das famílias: trabalhando com
evidências. São Paulo: Editora Artes Médicas; 2008.

10. NARVAI, P. C.; FRAZÃO, P. Epidemiologia, política e saúde bucal coletiva. In:
Antunes, J.L.F., Perez MA (org). Epidemiologia da saúde bucal. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2006.

11. SADER, E. Brasil, de Getúlio a Lula in Brasil, entre o passado e o futuro. São
Paulo: Boitempo Editorial; 2010.

12. PINTO, V. G. Saúde bucal: odontologia social e preventiva. 1ª ed. São Paulo:
Ed. Santos; 1989.

13. BRAVO, MIS. Política de Saúde no Brasil. Capacitação para Conselheiros de


Saúde - textos de apoio. Rio de Janeiro: UERJ/DEPEXT/NAPE, 2001.

14. NARVAI, P. C. Odontologia e saúde bucal coletiva. 1ª ed. São Paulo: Hucitec;
1994.

15. MOYSES, S. Políticas de saúde bucal no Brasil. In Saúde coletiva: Políticas,


Epidemiologia da Saúde Bucal e Redes de Atenção. Ed. Artes Médicas. 2013.

16. CARVALHO, LAC, SACBAR, LF, SOUZA, DS, NARVAI, PC Procedimentos


Coletivos de Saúde Bucal: gênese, apogeu e ocaso. Saúde Soc. São Paulo,
v.18, n.3, p.490-499, 2009

22

Potrebbero piacerti anche