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FOUSP, 2014
Políticas de
Saúde Bucal
no Brasil
2014
1. Introdução
A situação da saúde e das doenças bucais dos brasileiros tem sido objeto de
inúmeros estudos, especialmente a partir do advento da reforma sanitária e da
implantação do SUS. Graças a essas pesquisas, são muito conhecidos os números que
mostraram a alta prevalência da cárie nas crianças e nos adolescentes brasileiros até os
anos 80, assim como sua redução nas crianças e sua manutenção em altos níveis entre os
adolescentes nas décadas subsequentes. Também é notório o conhecimento sobre a alta
prevalência de edentulismo entre os adultos e idosos até os nossos dias, como
consequência do acúmulo de cáries e da incidência elevada da doença periodontal a
partir da adolescência. São igualmente conhecidas as incidências de outros problemas
importantes em nossa população, como as más oclusões, o câncer bucal, as fendas lábio-
palatinas e a fluorose, além de outros de menor relevância para a saúde coletiva.
Também são bem conhecidas as causas desses problemas. Entre elas, têm lugar
de destaque alguns aspectos da dieta dos brasileiros, especialmente o alto consumo de
carboidratos. A produção da cana de açúcar foi a primeira atividade econômica
estruturada no Brasil, o produto foi a base da economia no período de colonização do
país, e continuamos sendo o seu principal produtor mundial, o que faz do açúcar um
produto de baixo custo, sempre muito presente no cotidiano dos brasileiros.(1) Por outro
lado, o acesso às informações sobre aleitamento materno e alimentação saudável e sobre
a saúde e as doenças bucais, assim como aos recursos para higiene e cuidados bucais
sempre foram extremamente desiguais em nossa sociedade. Assim, os problemas cuja
prevenção depende essencialmente da adoção de hábitos alimentares saudáveis e de
cuidados com a higiene bucal foram se acumulando de forma dramática, conferindo ao
Brasil a alcunha nade edificante de país dos desdentados. Além dessa consequência, as
cáries e perdas dentárias contribuem para a elevada incidência das más oclusões,
decorrentes também de hábitos inadequados, como o uso prolongado de chupetas e
mamadeiras. O câncer bucal, por sua vez, tem sua ocorrência relacionada com outros
hábitos, como o tabagismo e o uso abusivo do álcool, além de fatores ambientais e
genéticos. Em todos esses casos, determinantes sociais e comportamentais provocam
distribuição desigual dos problemas e das suas consequências em nossa sociedade.
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filho, Dom Pedro II, como novo Imperador. Como este tinha à época 5 anos de idade, o
governo foi exercido por regentes, num período que foi marcado por revoltas sociais -
Balaiada, Cabanagem, Sabinada, Guerra dos Malês, Cabanada e Revolução Farroupilha
- a maior parte delas em protesto contra as péssimas condições de vida, alta de impostos,
autoritarismo e abandono social das camadas mais populares da população. Em 1840,
foi decretada a maioridade de Dom Pedro II, iniciando-se assim o período chamado de
Segundo Reinado. Apesar da relativa tranquilidade obtida com a estabilidade econômica
propiciada pela economia cafeeira, em 1864, a intervenção do Brasil em assuntos
estrangeiros, culminou na Guerra do Paraguai, a maior da história da América Latina.
Os milhões de mortes e gastos extraordinários geraram revoltas e confrontos pelo fim da
monarquia. Na madrugada de 15 de novembro de 1889, o marechal das forças militares,
Deodoro da Fonseca, proclamou a República do Brasil.
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Portuguesa nos idos de 1521, podendo então realizar suas atividades de cirurgia, sangramentos
e remoção de dentes”. Trata-se, por assim dizer, da primeira atitude do Estado na área
odontológica, adotada para normatizar o ofício de “Barbeiro”, ou “Tiradentes” no
Brasil.(3)
Com a chegada da família real portuguesa, também na área da saúde bucal as
primeiras mudanças começam a ocorrer. A primeira “Carta de Dentista” foi expedida
em 1811, tendo sido concedida pela primeira vez a um primeiro brasileiro no mesmo
ano. Os primeiros cursos de odontologia, naquelas mesmas Escolas, foram implantados
em 25 de outubro de 1884, data na qual até hoje é comemorado entre nós o “dia do
cirurgião-dentista”. A denominação de Cirurgião-Dentista foi adotada para nominar os
graduados nas primeiras escolas de odontologia brasileiras, no ano de 1893, já no
período Republicano.
O período tem fim, com o Estado limitando-se a, no âmbito da saúde bucal,
regulamentar a formação dos dentistas e o exercício das atividades profissionais na área
privada e para os militares, como relatam Amarante (4) e Cunha.(5) Como ocorria na área
médica, a assistência odontológica para a maioria da população ficava restrita às
entidades religiosas, de caráter filantrópico, como conta Calado.(6)
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primeiras medidas de impacto da saúde pública no país, voltadas para o saneamento dos
portos do Rio de Janeiro e de Santos. A Direção Nacional de Saúde, criada pelo
Presidente Rodrigues Alves (1902 – 1906) e dirigida por Oswaldo Cruz, comandou as
ações, adotando o modelo das “campanhas sanitárias”, de inspiração americana.(7)
Moradores dos cortiços eram removidos, colchões e pertences dos doentes eram
queimados e a vacinação contra a Varíola foi tornada obrigatória, medida esta que
terminou desencadeando, em 1904, um grande movimento de resistência popular
conhecido como “Revolta da Vacina”. Apesar do caráter autoritário e dos evidentes
excessos, as ações tiveram êxito em controlar as epidemias e sanear os portos daquelas
cidades, contribuindo para que o modelo campanhista perdurasse durante as décadas
seguintes, constituindo-se na matriz sobre a qual a saúde pública se desenvolveu nas
primeiras décadas do século XX. Também neste período foi iniciada a prática dos
registros demográficos, que possibilitaram conhecer a composição e os fatos vitais de
importância, os laboratórios foram incorporados como auxiliares do diagnóstico
etiológico e foi iniciada a fabricação organizada de produtos profiláticos para uso em
massa. Carlos Chagas sucedeu Oswaldo Cruz na Direção Nacional de Saúde, a partir de
1920, tendo sido responsável pela introdução da propaganda e da educação sanitária nas
ações de saúde pública, inovando o modelo campanhista de Oswaldo Cruz,
essencialmente fiscal e policial.
Nas décadas subsequentes, até os anos 1960, o modelo do sanitarismo
campanhista se consolidou e avançou para o interior do país, tendo papel importante no
controle de endemias como a Doença de Chagas e a Esquistossomose. Foi incorporado
pela SUCAM (Superintendência de Controle de Endemias) e pela FNS (Fundação
Nacional de Saúde), tendo atuado em diversas situações nas quais o saneamento foi
importante para dar sustentação ao modelo agro-exportador que dominou nossa
economia ao longo daquelas décadas.
Em 1923, no Governo de Artur Bernardes (1922-1926), foi adotada a primeira
medida do Estado para prover assistência médica aos trabalhadores brasileiros, por meio
da criação das CAPS – Caixas de Aposentadorias e Pensões. A Lei Elói Chaves
determinou sua implantação no âmbito de cada empresa, reunindo recursos dos
trabalhadores e dos empresários para financiar as aposentadorias e pensões e prover
assistência médica aos trabalhadores. Sob a tensão dos movimentos dos trabalhadores da
nascente indústria, o estado brasileiro institui, sem dispender recursos governamentais,
um sistema de seguro social exclusivo para os trabalhadores urbanos dos setores mais
fortes da economia – especialmente os bancários, ferroviários e portuários, envolvidos
mais diretamente com a produção de riquezas no modelo agro-exportador predominante
na economia brasileira nas primeiras décadas do século XX.
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Brasil aos interesses dos Estados Unidos da América, que contribuirão com recursos
importantes para impulsionar ainda mais o processo de industrialização. As dificuldades
causadas pela 2ª Guerra Mundial (1939-1945) ao comercio mundial favoreceriam a
estratégia de substituição de importações, abrindo espaço para o crescimento das
exportações brasileiras, principalmente com a venda de produtos metalúrgicos.
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pública se expandia para além dos portos e das cidades, movida uma vez mais por
interesses econômicos e políticos.
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7.1. A democratização
A crise do chamado “milagre econômico” trouxe o aumento do desemprego e da
inflação, a redução dos investimentos e de produção e o aprofundamento dos
desequilíbrios macroeconômicos A precariedade das condições de vida na periferia das
grandes cidades e o ressurgimento dos movimentos sociais marcaram assim os últimos
anos do regime militar no Brasil, tendo papel importante no processo de
redemocratização política do país.
Os anos 80 foram marcados pelo processo de democratização política e pela
superação do regime ditatorial instaurado em 64. Por outro lado, naquela década e na
seguinte, o país viveu uma profunda e prolongada crise econômica. A transição
democrática não se traduziu em ganhos materiais para a maioria da população,
especialmente com a guinada conservadora ocorrida após 1988.
No dia 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral elegeria Tancredo Neves,
candidato da oposição, como novo presidente da República – o primeiro civil em 21
anos. Era o fim do regime militar. Tancredo, no entanto, adoece antes de assumir a
presidência, falecendo semanas depois. Cabe ao vice-presidente José Sarney o comando
do processo de democratização, então conhecido como “Nova República”. Em 1988 é
aprovada uma nova constituição para o Brasil, restabelecendo princípios democráticos
no país.
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ocuparam lugar de destaque nas ações de saúde bucal no SUS, impulsionando, sob apoio
financeiro, as ações de promoção e prevenção em centenas de municípios. Mas a sua
vinculação com os mecanismos de transferência de recursos, tida inicialmente como um
avanço, foi tirando a sua característica de instrumento potente para mudar o modelo de
atenção”.(16) Os PC, foram extintos em 2006 e, apesar de suas limitações, representaram
um esforço para ampliar e qualificar a utilização de ações preventivas e de promoção da
saúde no SUS.
Em 1993, a 2ª CNSB pautou como tema central a “Saúde bucal como direito de
cidadania”, reiterando a gravidade do quadro das doenças bucais e da desassistência
odontológica e denunciando o retrocesso das políticas neoliberais em curso no país.
Já no ocaso do Governo Fernando Henrique Cardoso (1993-2000), a Portaria
1.444 de 28 de dezembro de 2000 estabeleceu incentivos financeiros para a implantação
de Equipes de Saúde Bucal na Estratégia de Saúde da Família, com o objetivo de
ampliar o acesso à saúde bucal nos serviços de atenção básica.
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Em julho de 2004 ocorreu a 3ª CNSB, cujo tema central foi “Acesso e qualidade,
superando a exclusão social”. A Conferência, apesar de saudar a nova Política Nacional
de Saúde Bucal, avançava na crítica à exclusão social e reiterava a gravidade do quadro
epidemiológico de parcelas expressivas da população brasileira.
Em 2010 o Ministério da Saúde, através do seu componente de Vigilância em
Saúde Bucal, realizou novo levantamento epidemiológico nacional (SB BRASIL 2010).
Com dados coletados em todas as capitais e em 150 municípios, foi o maior estudo
realizado no país, com cerca de 38 mil brasileiros examinados. A pesquisa mostrou uma
queda de 26% no número de cáries dentárias entre crianças de doze anos desde 2003,
com o crescimento em 30% do número de crianças que nunca tiveram cárie. Entre os
adolescentes, a diminuição do índice CPOD foi de 30% entre 2003 e 2010, enquanto a
necessidade de prótese parcial nesse grupo etário caiu 50%. Nos adultos, a queda foi de
19% na faixa etária entre 35 e 44 anos, com aumento de 70% no número de dentes
tratados. Com esses dados, o Brasil passou a integrar o grupo de países com baixa
prevalência de cáries, classificação estabelecida pela Organização Mundial da Saúde para
os países com CPOD médio, aos 12 anos, entre 1,2 e 2,6. Entre os aspectos negativos
evidenciados pela pesquisa, destacam-se a não redução do CPOD na Região Norte do
país e a constatação de que, apesar de ter ocorrido uma redução de 17% no índice de
dentes temporários cariados, 80% deles não estavam devidamente tratados no momento
do exame. Além das desigualdades regionais e do descaso com a dentição temporária, o
levantamento mostrou o imenso desafio a enfrentar para a reabilitação dos brasileiros já
desdentados. Eram mais de 3 milhões os brasileiros com 65 anos ou mais anos com
necessidade de próteses completas e 4 milhões necessitando de próteses parciais.
Em março de 2014, ao completar 10 anos da nova política, o MS divulgou que o
Programa Brasil Sorridente já havia beneficiado quase 80 milhões de brasileiros, com a
implantação de 23.150 Equipes de Saúde Bucal (ESB) espalhadas em 4.971 municípios
e de mil Centros de Especialidades Odontológicas (CEO’S) em 808 cidades. Em 2013,
mais de 415 mil próteses dentárias foram entregues, por meio dos Laboratórios
Regionais de Próteses Dentárias, presentes em 1.465 municípios. Ainda segundo o MS,
em março de 2014 o SUS empregava 30% dos dentistas do País, com 63.584
profissionais atuando na rede pública.
Assim, entre problemas ainda muito relevantes como os evidenciados pelo SB
Brasil 2010, e os avanços inegáveis atestados pelos números do Programa Brasil
Sorridente, concluo o presente artigo com a reflexão de Samuel Moyses (15), que afirma
que “a PNSB não iniciou em 2003, embora tenha recebido impulso a partir desse ano. Essa
política, resultante de árduas conquistas históricas e de resistências contra as omissões estatais e
os ataques sistemáticos do setor odontológico privatista hegemônico, reflete um embate político.
A PNSB está sendo construída há muitas décadas, por diversos setores da sociedade. Setores
vinculados aos movimentos sociais da saúde e aos sindicatos progressistas, à militância
estudantil, aos professores e pesquisadores que atuam no entrecruzamento da odontologia com a
saúde coletiva, equipes de saúde pública, bem como o Conselho Nacional de Secretários da Saúde
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Referências
1. LEVY, R. B.; Claro, RM; Bandoni, DH; Mondini, L; Monteiro, CA.
Disponibilidade de "açúcares de adição" no Brasil: distribuição, fontes
alimentares e tendência temporal. Rev. bras. epidemiol. vol.15 no.1 São
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10. NARVAI, P. C.; FRAZÃO, P. Epidemiologia, política e saúde bucal coletiva. In:
Antunes, J.L.F., Perez MA (org). Epidemiologia da saúde bucal. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2006.
11. SADER, E. Brasil, de Getúlio a Lula in Brasil, entre o passado e o futuro. São
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12. PINTO, V. G. Saúde bucal: odontologia social e preventiva. 1ª ed. São Paulo:
Ed. Santos; 1989.
14. NARVAI, P. C. Odontologia e saúde bucal coletiva. 1ª ed. São Paulo: Hucitec;
1994.
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