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ANO IX
2ª QUINZENA
JUNHO DE 2018

CHARGE DE CARLOS LATUFF


P4 E P5

“Não basta não ser racista,


é preciso ser anti-racista”.
O que a educação escolar tem a ver com isso?
Poeta Danilo Lumiano Mais um ano de JAZZ
lança livro em Irará P2 Petrolatividade P6 P6

Festival HYPE tem primeira Prêmio Braskem de Teatro


edição no fim de semana P3 chega à 25ª edição P7
EDITORIAL Poeta Danilo Lumiano
É com muito prazer que volto a escrever este editorial. Vi-
vemos tempos difíceis e nestes momentos é sempre bom que
tenhamos referências editoriais na imprensa alternativa que
lança livro em Irará
combata o fascismo tão disseminado em nossa sociedade atu-
almente. O Expresso 18 sempre buscou em seus colaborado-
res o pensamento reflexivo sobre os novos tempos, e, neste
momento, um jornal impresso que reflita anseios de uma
grande parte de nossa sociedade se faz necessário. Pensando
assim, o Expresso 18 está firmando uma parceria com o Gru-
po de Estudos e Pesquisa Sobre Alagoinhas – GEPEA para que
possamos trazer reflexões acerca deste momento não somen-
te sobre a cidade de Alagoinhas, mas também sobre atualida-
des da história, da literatura e cultura no mundo.
Nesta edição, a doutoranda em História, membro do GE-
PEA, Iraceli Alves, traz uma reflexão sobre o racismo em
nossa sociedade tendo como inspiração os últimos aconte-
cimentos registrados em redes sociais, a exemplo do ator
Soteropolitano baleado pela polícia em Salvador, nos apon-
tando a necessidade, nesta sociedade que vivemos, de atitu-
des anti-racistas para combater o racismo. Também temos
A CIDADE de Irará tem se mostrado uma poesia sensível e atenta ao mundo
a colaboração com texto do trompetista e gentleman Joa- reveladora de grandes talentos. Na terra e aos acontecimentos, como era a poesia
tan Nascimento, nos contando um pouco sobre jazz, gênero do performático músico Tom Zé será lan- concreta, a poesia marginal de Danilo
çado o mais novo livro do poeta Danilo ganhará as ruas nas páginas de “O Nas-
afeiçoado e desenvolvido pelo músico e professor da Escola
Lumiano. Após dez anos de participação cedouro” no dia 11 de agosto. O poeta,
de Música da Universidade Federal da Bahia. Além de Joatan em saraus, organização de eventos cul- um permacultor convicto, construiu uma
falando de Jazz, temos texto da socióloga Mariana Carvalho, turais pelo Brasil e vídeos e declamações morada orgânica na periferia de Irará,
em redes sociais, finalmente Danilo re- de onde saem os poemas inspirados na
temos um pouco sobre o projeto Petrolatividade e também o
solveu reunir seu trabalho e lançar em observação do cotidiano e do interior
lançamento do livro do poeta Danilo Lumiano. Boa leitura!! um livro intitulado “O Nascedouro”. Com do poeta.

Davi Soares
Zé de Irará

Eu sou mais um Zé de Irará


Nascido nas mãos de mãe Melânia
Ao cuidados de doutor Deraldo
Regido pelo mestre Aniceto

Por favor!

Por favor!
Tirem a poesia do livro
Tirem o livro do sufoco
De uma estante
Nem que seja por um instante
Tirem a poesia do livro

EXPEDIENTE EXPRESSO 18 PRODUÇÕES - CNPJ: 10.850.114/0001-84 - Rua Marechal Floriano, 348-A, centro, Alagoinhas-BA - CONTATOS: (75) 99968-4614 | 99102-6927 E-MAIL: cadernocultural.expresso18@hotmail.com
DIRETOR/EDITOR: Davi Soares 75.99968-4614 | 99102-6927 DIAGRAMAÇÃO E PROJETO GRÁFICO: Germano Ybyaram 75.99977.4350 REDAÇÃO: Ede Soares, Eliana Brandão, Davi Soares, Aline Gonçalves, Iraceli Alves
COLABORADORES: Joatan Nascimento e Mariana Carvalho IMPRESSÃO: Impactgraf

CADERNO CULTURAL ANO IX 2 Nº 97 2ª QUINZENA JUNHO DE 2018


Mais um ano de

SECULT/BA
Petrolatividade

FOTOS: DIVULGAÇÃO FACEBOOK PETROLATIVIDADE


Festival HYPE tem primeira
edição no fim de semana
OCUPANDO praças, ruas via curadoria no Mapa Musi- e das ruas, o Festival Hype
e avenidas; celebrando a cal da Bahia - iniciativa da nasce da experiência vivida
criação artística e a multi- Fundação Cultural do Estado pelo Coreto Hype - reconhe-
plicidade de ritmos baianos; da Bahia/SecultBA que ob- cida por reunir o melhor da
reconhecendo a vocação da jetiva mapear, reconhecer gastronomia, moda, música,
rua viva e do seu povo cria- e difundir a diversidade da arte e sustentabilidade desde
tivo, nasce em Salvador o música produzida no esta- 2016, contando com mais de
Festival HYPE. Um grande do - e uma atração infantil 100 empreendedores cria-
encontro entre iguais e di- a se apresentarem no Palco tivos por edição e extensa
ferentes. Diferentes sono- Sounds. programação artística e de
ridades que se conectam Neste primeiro fim de lazer para crianças, jovens,
para criar um novo cenário semana, a programação adultos e idosos.
na cultura urbana da cidade, acontece Praça Flora- Pituba Trabalhando sempre com
impulsionada pela eferves- (Rua Guillard Muniz). Além os eixos da economia cria-
cência da música baiana, dos artistas inscritos e se- tiva, música, kids, sustenta- ENCERRA neste mês de junho Coletivo Petrolatividade tem re-
que faz ecoar por todos os lecionados por curadoria, o bilidade e ocupação, a Feira o primeiro Ciclo Petrolatividade sistido em tempos difíceis e se
cantos a sua potência, swing Festival Hype conta também Coreto Hype se consolidou 2018 em Alagoinhas. O Coletivo mantido constante através de
e versatilidade. com a presença de músicos como uma iniciativa trans- Petrolatividade venceu um edital editais do Governo do Estado, e,
Programado para aconte- e bandas reconhecidos na- formadora, estimulando na de Circulação de Apoio a Grupos principalmente, tem se tornado
cer em oito edições (entre cionalmente como Márcia população soteropolitana ao de Coletivos Culturais em 2016 mais maduro na realização e exe-
junho/2018 e janeiro/2019), Castro e Gerônimo, promo- capitalismo consciente, a pela Fundação Cultural do Governo cução de seus projetos. O Coleti-
o Festival Hype é uma expe- vendo assim um intercâmbio economia criativa e ao re- do Estado da Bahia e pela Secre- vo Petrolatividade é um evento
riência de resgate e cone- entre artistas consagrados conhecimento dos peque- taria de Cultura da Bahia e está que iniciou com comunidades do
xão com a cultura de rua, e talentos locais. nos produtores, reforçando executando o projeto, que prevê bairro Jardim Petrolar, mas hoje
transformada em um grande Valorizando a cultura co- a atitude construtiva e o 3 ciclos de 3 meses envolvendo 3 já envolve vários bairros de Ala-
espaço de celebração, como laborativa e estimulando a cooperativismo do grupo. linguagens transversais da arte: goinhas e cidades circunvizinhas,
forma de melhorar a relação representatividade artística FONTE: SECULT BA música, dança e audiovisual. O contando com jovens de todas
da população com os espaços primeiro Ciclo encerra no dia 31 as idades. Neste ano, o evento
públicos. A edição 2018 do de junho e em julho já deve iniciar está sendo realizado no Centro de
Festival acontece nos dias o segundo, e até o final do ano a Cultura de Alagoinhas (CCA), no
16 e 17/06, 07 e 08/07, 11 conclusão dos três Ciclos. Segundo Centro Social Urbano do Jardim
e 12/07, 06 e 07/10 e 10 e Mc Osmar, idealizador do projeto, Petrolar e no Estádio Carneirão.
11/11. “A gente vinha concorrendo há O evento tem função social e in-
Consciente da sua missão alguns anos, mas só depois de dez clusiva, possibilitando o acesso
de dar vez a quem tem voz e anos chegamos a este formato, à arte por jovens da periferia,
revelar o que as ruas falam, quando entrou a colaboração de a inclusão e a reflexão sobre as
o Festival fomentará encon- Aline Lucena e Rick Caldas, e aí foi comunidades em que atua com a
tros musicais inesquecíveis, quando conseguimos transformar realização, desde sua fundação, de
percorrendo oito diferentes esse projeto em Ciclo de Ações oficinas, saraus, shows musicais,
bairros de Salvador – da Artístico-culturais Petrolativida- dança, assessoria jurídica, feira
Ribeira a Stella Maris – e de”. O projeto deve encerrar com de saúde, almoço beneficente,
apresentando artistas que um clipe gravado com música dos reunião de discussões sobre o
representam a cena musical músicos participantes do proje- bairro, contribuindo assim não
contemporânea. to, e orientação e mediação de somente com o acesso à arte, mas
A cada edição, serão se- Rick Caldas na gravação do clip principalmente tornando jovens
lecionados quatro artistas/ à partir do desenvolvimento de mais reflexivos, combatendo a
bandas/grupos via curadoria, uma oficina sobre audiovisual. criminalidade e a marginalidade
dois artistas/bandas/grupos Criado há mais de 12 anos, o com arte e educação.

CADERNO CULTURAL ANO IX 3 Nº 97 2ª QUINZENA JUNHO DE 2018


“Não basta não ser racista, é preciso ser anti-racista”.
O que a educação escolar tem a ver com isso?
IRACELI ALVES - Doutoranda em História

Em
março deste e no último dia 13 de junho o Não nos perguntamos por
ano um epi- ator negro Leno Sacramento, que quase todos os garis ou
sódio gerou sem ter praticado nenhum empregadas domésticas são
polêmica nas redes sociais. O crime, foi baleado em uma pessoas negras. As pessoas
caso da empresária de Belém ação policial em Salvador. também não se surpreendem
do Pará que publicou fotos Felizmente ele sobreviveu, ao perceberem que a maio-
do ensaio para a festa de mas como o próprio relatou ria dos moradores das áreas
aniversário de 15 anos de em entrevista, a ferida física periféricas e pobres é negra.
sua filha. Nas imagens a de- é a menos dolorida. A dor da Também não se questionam
butante aparece fantasiada alma, provocada pelo racismo o porquê de profissões como
de sinhá, sendo servida por institucional, é mais difícil medicina, engenharia, advo-
pessoas negras simulando de ser curada. Guardadas cacia, entre outras, serem
a escravidão. A cena gerou as devidas proporções, as espaços de maioria branca.
reação na Web além de com- três tragédias nos remetem Ao contrário, o que gera
por as páginas da imprensa a uma frase emblemática comentário é quando um
nacional. A OAB do Pará en- do historiador Alberto da médico ou médica tem a
trou com ação no Ministério Costa e Silva: “a gente tem pela escura. Sem falar dos
Público. A mãe da jovem se que imaginar como os nossos espaços de sociabilidade; ou
defendeu, alegando que em antepassados foram porque ninguém nunca ouviu relatos
nenhum momento teve a in- parte do que eles eram con- de mulheres ou homens ne-
tenção de “menosprezar a tinua em nós naquilo que gros que são perseguidos ou
raça”. Aqui não nos interes- nós somos. A história nos observados insistentemen-
sa atestar se a família e os ensina a descobrir o homem te por seguranças de lojas e
envolvidos na festa agiram (e a mulher) que se foi e que restaurantes frequentados
ou não de forma deliberada, ainda fala em nosso ouvido”. por pessoas de alto poder
mas chamar a atenção para A história de violência e aquisitivo? mais da metade dos 52.198 a sociedade brasileira pode
a validade e importância da exclusão das pessoas negras Se não achamos estranho mortos por homicídios, que ser caracterizada como es-
luta anti-racista. O racismo (pretas e pardas) ainda grita que os lugares de prestígio foram contabilizados pelo cravista e latifundiária. Essa
mata! em nossos ouvidos, em um sejam ocupados majorita- Ministério da Saúde, eram estrutura social era extrema-
Não por acaso, por infeliz país de racismo estrutural riamente por brancos, fica jovens (15-24 anos), dos mente desigual em termos
coincidência, na mesma se- como o nosso. Aqui as rela- evidente como o racismo faz quais 71,44% negros (pretos raciais e de distribuição de
mana do lamentável ensaio ções raciais desiguais operam parte do funcionamento nor- e pardos) e 93,03% do sexo terra e renda. Havia uma
que encenava os tempos da em um padrão de normali- mal da vida cotidiana e tem, masculino. Esses números profunda marginalização de
escravidão houve o assassi- dade. Nós não costumamos em sua forma mais violenta demonstram que mais do largas parcelas da popula-
nato real de Marielle Franco, estranhar que os lugares pou- e perversa, assassinado os que impedir a ascensão social ção pobre. Nesse período, o
mulher negra, feminista e co valorizados socialmente jovens negros do país. Como dos negros, as hierarquias trabalho escravo foi a base
militante contra as desigual- sejam ocupados majoritaria- atesta o mapa da violência raciais matam. fundamental da economia
dades raciais e a LGBTIfobia; mente por pessoas negras. (2013), no Brasil, em 2011, Para entendermos essa re- nacional. Mais do que isso,
alidade precisamos, entre havia um profundo enraiza-
Atualmente convivemos com o enraizamento social do outras coisas, compreender mento social da escravidão.
o nosso passado escravis- Como lembra o historiador
racismo. Embora relacionados, o passado escravista, ta. Aqui a escravidão durou João Reis, a escravidão esta-
quase quatrocentos anos. Os va amplamente disseminada
por si só, não explica o racismo que atualmente números não são precisos, por amplos setores sociais.
mas estima-se que entre o Embora esse trabalho esti-
estrutura a sociedade Brasileira. É preciso, também, século XVI e meados do XIX, vesse concentrado na agri-
mais de 11 milhões de ho- cultura de exportação, ele
entender o período de transição do trabalho escravo mens, mulheres e crianças invadia todo o território
foram transportados para nacional e todas as cama-
para o livre que instituiu um padrão de desigualdade. as Américas. Esses núme- das da sociedade. Todos os
ros não incluem os que não brasileiros, uns mais outros
sobreviveram ao processo menos, podiam possuir escra-
violento de captura na África vos, inclusive os libertos e os
e às condições subumanas da próprios escravos. Mas, ainda
grande travessia atlântica. A que qualquer um pudesse ter
maioria dos cativos – cerca escravos, o país se constituiu
de 4 milhões – desembarcou como uma sociedade racista,
em portos do Brasil. na medida em que negros e
Durante todo o século XIX mestiços, libertos e livres,

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para pôr fim aos desatinos e que nada daquilo era um
dos ex-senhores. sonho encantado para ne-
Para a historiadora, vários nhum deles?”
comportamentos e ações dos Parece que não. Ela não
libertos foram marcados pelo se tocou e, provavelmente,
desafio à autoridade senho- não foi repreendida. É neste
rial, no sentido de destruir sentido que a educação esco-
qualquer autoridade real ou lar assume uma importância
simbólica que o ex-senhor crucial na formação dos su-
tentasse ainda dispor. Tanto jeitos e na desestruturação
é assim que em algumas cida- do racismo; e não pode ser
des do interior os fazendeiros precarizada e vilipendiada,
pediam providencias, pois como vem ocorrendo, inclu-
suas terras estavam sendo in- sive no Estado da Bahia. É
vadidas e/ou incendiadas por necessário garantir que mais
alguns de seus ex-escravos. É do que aprender conteúdos,
preciso considerar a hipóte- os alunos e alunas aprendam
se de que muitos dos recém pela comunidade escolar e é alarmante. Mas debatere- sentidos de humanidade, em-
libertos consideraram legí- pela sociedade em geral. O mos isso com acuidade na patia e respeito. É preciso
timo apropriar-se dos bens grupo político defende que próxima edição. investir em uma educação
e produtos senhoriais. Suas a escola não é espaço de Por ora, cabe-nos retomar efetivamente anti-racista.
ações podem ser interpreta- aprender e ensinar valores, o triste episódio do sonho O argumento de que valores
das como movidas por um tarefa que caberia única e de debutante que reedita a não se aprendem na escola
eram percebidos e tratados, necessidade de embranque- sentimento de “reparação” exclusivamente a família. E escravidão no campo da fan- não tem nenhum respaldo
com o aval da ciência e da cer o país, torná-lo menos pelas perdas que tiveram quando a família não ensina tasia, que deve ser repudiado e não deveria ser levado a
Igreja, como inferiores aos mestiço. Este foi um dos com o trabalho gratuito no a respeitar e não hierarqui- e submetido a ações judiciais sério. É uma falácia!
brancos europeus ou nasci- motivos, talvez o mais im- tempo da escravidão e pelas zar as diferenças? Quando a cabíveis. No entanto, medi- A escola é um espaço de
dos no Brasil. portante, para a política de exclusões que permaneceram unidade familiar reproduz das punitivas não resolvem sociabilidade que agrega – ou
Se antes havia o enraiza- imigração implementada. após a abolição. Além disso, e naturaliza o racismo? Ao o problema. Em texto pu- deveria agregar – sujeitos
mento social da escravidão, Para cá vieram especialmen- representaram uma reação contrário da ideologia au- blicado em uma rede social, diversos em termos raciais,
por analogia, atualmente te europeus, destinados a à tentativa dos ex-proprie- toritária pregada pelo ESP, em seu perfil particular, o de gênero, étnicos, religiosos,
convivemos com o enrai- trabalhar nas lavouras e nas tários de recolocá-los na po- a escola deve ser o lugar – historiador Alberto Herácli- etário etc. Por isso, a educa-
zamento social do racismo. indústrias ainda incipientes. sição que ocupavam antes embora nem sempre o seja to Ferreira levanta algumas ção escolar deve ir além dos
Embora relacionados, o O fim institucional da es- da abolição. Os ex-senhores – que oportuniza aos sujeitos questões interessantes para conteúdos das disciplinas
passado escravista, por si cravidão, portanto, embora esperavam que os libertos entenderem e respeitarem o refletirmos sobre o caso: “que que compõem o currículo.
só, não explica o racismo garantisse uma liberdade permanecessem fiéis, obe- outro, percebendo-o como tipo de compreensão da es- A escola não é espaço para
que atualmente estrutura jurídica, não ofereceu con- dientes e “respeitosos”, cati- diferente, não como inferior. cravidão no Brasil ela (a ado- aprender somente a juntar
a sociedade Brasileira. É dições práticas para que as vos da dependência pessoal; A ação dos ideólogos do lescente) aprendeu em suas palavras, fazer contas, de-
preciso, também, entender negras e negros pudessem mas suas esperanças foram ESP, que tem ganhado cada aulas de História? E os pais, corar fatos e olhar para os
o período de transição do usufruir de uma liberdade frustradas. vez mais adeptos, torna-se em nenhum momento ques- espaços geográficos como
trabalho escravo para o li- de fato, já que continuaram Provavelmente, se a ado- ainda mais preocupante tionaram ou repreenderam a dados. Na escola a gente deve
vre que instituiu um padrão presos a um sistema que os lescente tivesse o mínimo quando consideramos a atual forma como ela idealizava e aprender a ler criticamente
de desigualdade. Após uma excluía e ainda os exclui. de conhecimento sobre essa Reforma do Ensino Médio (Lei legitimava o nosso passado a realidade, perceber como o
longa história de exploração Apesar de tamanha per- longa história dos negros nº 13.415) que, entre outras escravista? E os seus colegas conhecimento se constrói e
e exclusão, a abolição não versidade, houve – e há – escravizados no Brasil, do coisas, estabelece que ape- de colégio, os amigos próxi- reconstrói, bem como apren-
garantiu os direitos políticos resistências, muitas vezes período de transição e das nas Português e Matemáti- mos, ninguém deu um toque der a conviver em sociedade,
e sociais dos negros e negras. incompreendidas. A título de ausências de políticas públi- ca deverão ser cursadas nos sobre o lado perverso de tal respeitando as diferenças. É
A saída do trabalho cativo exemplo, a historiadora Iacy cas, que ao longo da história três anos do ensino médio. É brincadeira? (...) Qual o senso neste sentido que a comu-
não veio acompanhada de Maia Mata evidenciou que, contribuíram para dificultar previsível o prejuízo de não ético e humano dessa menina nidade escolar deve tomar
uma inserção social e pro- na Bahia, após o “Treze de a ascensão social dos ne- garantir o acesso integral que tinha como sonho de partido na luta contra o ra-
dutiva. Não houve reforma Maio” de 1888 (assinatura da gros; história marcada por a disciplinas fundamentais debutante voltar no tempo cismo, o racismo, a LGBTIfo-
agrária, tampouco foi garan- Lei Áurea) os conflitos envol- dor, exclusão e, sobretudo, para o desenvolvimento de para ser dona de pessoas e bia e toda e qualquer forma
tido o acesso à educação e vendo libertos e questões de resistências várias – aqui uma leitura crítica da rea- tratá-las como coisas? Ela de inferiorização do outro;
ao crédito. liberdade foram frequentes. apresentada de forma bem lidade. Além disso, a nova não se tocou que aqueles além de tomar as rédeas de
Além disso, o momento Para alguns ex-escravos, a resumida – ela não nutriria lei permite que parte dessa atores negros perversamente seu funcionamento, lutando
de transição foi atravessado liberdade não veio com a sim- um sonho de debutante que fase escolar seja cumprida encenavam o passado exe- também contra as ofensivas
ainda pelo fortalecimento do ples aprovação da lei, já que desrespeita a história e a à distância, o que também crável dos seus antepassados do poder público.
chamado racismo científico, muitos deles foram obrigados memória dos negros e negras
que contribuiu ainda mais a permanecer nas fazendas no Brasil, desumanizando
para a exclusão dos negros trabalhando gratuitamente, as pessoas que construíram Marielle, presente!
do mundo do trabalho for- submetidos a castigos corpo- a riqueza desse país e, no
mal, da vida política e da rais. Mas eles reagiram: re- entanto, tiveram negados os Marielle vive porque a luta continua!
cidadania. O discurso cien- correram à justiça, contaram direitos de usufruir de sua
tífico pregava que os negros com aliados que fizeram com própria produção. Mais do “Ideias são à prova de bala”!
e mestiços eram intelectual- que as notícias de violências que isso, tiveram que por
mente inferiores aos bran- dos ex-senhores ecoassem muitos anos lutar contra um
cos, por isso naturalmente nos jornais; recorreram ao projeto de desumanização
propensos à degeneração, ao auxílio da força policial; recu- da raça.
delito e à incapacidade para saram-se terminantemente a É por isso que projetos
o trabalho. Partindo desse trabalhar sem remuneração. como o Escola Sem Partido
entendimento, defendiam a As suas ações foram decisivas (ESP) devem ser repudiados

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Longa LGBT ganha
lançamento exclusivo
na Sala Walter
Com a presença do diretor Mauro
Carvalho e do ator Thiago Ca-
zado, o longa metragem brasileiro ''Sobre
Nós'', inédito em Salvador, é atração na Sala
Walter da Silveira. O lançamento prevê um
bate-papo com os convidados, logo após
a exibição, no dia 16 de junho. O evento
começa às 16h e a entrada é gratuita.
A história gira em torno de Matheus e
Diego, que vivem uma história de amor em
um tempo remoto. Ao tornar-se cineasta,
JOATAN NASCIMENTO Diego roteiriza as lembranças do relacio-
namento. A dupla de diretores classifica
a obra como um divertido e emocionante
SEMPRE me intrigava o fato romance.
de que eu invariavelmente Thiago Cazado, roteirista e ator principal
tocava bem e melhor depois da produção, destaca a facilidade e o gosto
de um dia super cansativo por escrever sobre o tema que lhe é muito
ou difícil. O dia se arrastava próximo. ''Fizemos aquilo que gostaríamos
pesado, cansativo, o sono de assistir. Tenho escrito filmes ao redor Crítica Internacional – O Portal Francês
beirando o irresistível, a dessa atmosfera entre pessoas do mesmo Popandfilms, classificou a obra como ''hi-
exaustão batendo à porta sexo, por um motivo muito natural: Sou per tocante, feito com poucos meios, mas
etc, mas quando havia um gay. Consigo escrever melhor sobre aquilo com qualidades enormes e inestimáveis:
trabalho com jazz ao fim que eu sou.'' explica Thiago. dois atores que transbordam frescor e
do dia, tudo fluía bem, as O cineasta Mauro Carvalho ressalta a naturalidade, por meio de diálogos que
ideias conectavam, os lábios importância de fazer um filme com total sempre soam verdadeiros; uma encenação
reagiam positivamente e o liberdade para expressar os sentimentos. ao mesmo tempo discreta e poética''.
humor, melhorava. Eu não existia o conceito de arte, dizer lá em cima. Na verdade, ''É um privilégio poder apresentar uma De acordo com o site, a sinceridade do
entendia. A performance ou uma palavra que signi- inconscientemente, ao subir obra de qualidade e sem restrições. O que trabalho é palpável e também toda sua
acontecia bem como se es- ficasse arte como objeto de no palco, encaro o momento, o público vai ver na tela, é exatamente generosidade. "É um verdadeiro pequeno
tivesse nas melhores condi- apreciação ou de consumo. a oportunidade como uma aquilo que queríamos expressar'', revela milagre se desdobrando diante de nossos
ções possíveis. O contrário Para nós, ocidentais, este é forma de transformar todo Carvalho. olhos", afirma o veículo internacional.
também acontecia! Nos dias um conceito que está na raiz aquele peso em algo bom,
em que eu havia descansado da nossa cultura, mas para em algo que realmente valha
bastante, passado por um as culturas africanas, essas à pena a existência. Seria
dia super tranquilo era de expressões, a que chamamos como se eu dissesse a mim
se supor que à noite, tudo de arte - dança, música, can- mesmo: "cara, não pode haver
corresse às maravilhas. Não, to, esculpir, pintar etc - são nada pior do que o que você
não era isso o que acontecia. atividades e necessidades da está sentindo. A situação não
Parecia que tudo estava len- vida, do cotidiano, do pró- pode piorar. Você só tem uma
to, o corpo não reagia depois prio viver. O Jazz herdou esse alternativa, 'ir pra frente e
ao impulso, as ideias, quando elemento de forma evidente. subir'". É assim, de forma
chegavam, eram sem brilho O jazzista entende que esta inconsciente, faço!
e sem inventividade. Enfim, música, esta expressão, dá
uma performance apenas ra- vazão à sua necessidade de
zoável, no limite do mais ou dizer de si, de se comuni-
menos. O que era, o que é car, de trans-
isto? O que acontece com a formar suas Jazz é um estilo de vida, uma
nossa cabeça, com o nosso dores, ansie-
corpo, com o nosso discurso dades, frus- maneira de viver e encarar o
em meio às adversidades que trações, ale- FICHA TÉCNICA
geralmente se apresentam grias, júbilos, mundo e sobreviver nele.
na vida? felicidade etc, Sobre Nós (Brasil, 2017)
No livro O VELHO JAZZ, do em música, em arte - aqui, já Direção: Mauro Carvalho e Thiago Cazado
escritor Gunther Schuller, há em consonância com o con- Elenco: Thiago Cazado, Rodrigo Bittes, Marina Falcão, Renan Mendes, Andressa Lee,
uma pista que pode abrir o ceito ocidental de arte. Eles Rodrigo Bezerra, Leandro Menezes e Carmem Moretzsohn
caminho para uma possível dizem que jazz é um estilo de Duração: 80 minutos
resposta ou um mínimo en- vida, uma maneira de viver e Classificação: 14 anos
tendimento sobre o assunto. encarar o mundo e sobreviver Sinopse: O relacionamento de Matheus e Diego é retratada no roteiro cinematográfico
Ele diz lá, que para a maioria nele. Isto fechou a minha re- que Diego escreve ao se tornar um cineasta.
das culturas africanas não flexão sobre o que acabei de FONTE: SECULT-BA

CADERNO CULTURAL ANO IX 6 Nº 97 2ª QUINZENA JUNHO DE 2018


Prêmio Braskem de Teatro
A VIDA SECRETA DAS
chega à 25ª edição destacando
os melhores da Bahia ENCOMENDAS PERDIDAS
MARIANA CARVALHO - Socióloga
O 25º PRÊMIO Braskem de
Teatro, Oscar baiano para os
melhores das artes cênicas PRIMEIRO compramos
locais, revelou os vencedores, algo pela internet. É se-
nesta quarta-feira (13), no guro. Pelo menos é o que
Teatro Castro Alves (TCA), em dizem. Depois, recebemos
Salvador. Com patrocínio da um código postal para
Braskem e do Governo do Es- acompanhar o envio da
tado, por meio do Fazcultura encomenda pelo site dos
e das secretarias da Fazenda Correios. Então somos in-
e de Cultura, os ganhadores formados de que o prazo
das categorias Espetáculo de entrega é de cinco dias
Adulto e Espetáculo Infanto- úteis e isso nos deixa con-
-juvenil receberam, além do fiantes: prazos estipulados
troféu, um prêmio no valor já nascem com a esperança do banheiro quando estamos livros tristes de Charles Di-
bruto de R$ 30 mil cada, en- esse celeiro de histórias de anos do teatro, para provocar de que serão cumpridos. E no banho, nunca o façamos ckens. E enquanto aguar-
quanto os demais vencedores resistência e quando a gente a reflexão sobre a natureza queremos que se cumpra, durante os dias do código. dava minha encomenda
foram contemplados com um dá visibilidade a essas narra- livre da criação artística, con- que a encomenda chegue Corremos o risco de algo ser localizada mediante
prêmio no valor bruto de R$ tivas, a gente está chamando siderando as manifestações logo porque precisamos inesperado acontecer. De, o código (ainda ele) ob-
5 mil cada. atenção para um jeito de se e o cerceamento artístico dela, por algum motivo por exemplo, alguém forçar servava com um pouco de
Gil Vicente Tavares con- fazer cultura, um jeito que vividos nos últimos tempos. que não vem ao caso. a porta, entrar e nos atacar, melancolia todo aquele
quistou o troféu de Direção nos identifica e que nos faz Os atores baianos Antonio Mas quero dizer que é como em uma cena de um mar de pacotes em papel
pelos espetáculos Os Pás- ter esse lugar tão especial Pitanga, Ivana Chastinet bem difícil viver os dias filme de suspense em preto madeira esperando outras
saros de Copacabana e Um no cenário brasileiro". e Frieda Gutmann e o ma- do código. Hoje é um des- e branco. De modo que te- criaturas ansiosas como eu.
Vânia, de Tchekhov; já Luiz O ator Djalma Thuler foi um quiador e cabeleireiro, Deo ses dias, porque de ma- mos que continuar a fazer Pois tudo o que aquelas
Marfuz venceu na categoria dos concorrentes da noite. "A Carvalho, foram os homena- drugada acessei o site e a tudo igual como se o código coisas querem é pertencer
Texto pela peça Traga-me gente concorreu com uma geados da noite. A cerimônia encomenda ainda estava não existisse, logo, fora da a alguém, fazer parte da
a Cabeça de Lima Barreto. peça adulta chamada 'Uma prestou, ainda, homenagens em trânsito, quem sabe ansiedade imposta por essa história comum de alguém,
Marcelo Praddo levou a es- mulher impossível", encena- póstumas à atriz e diretora nesse momento dentro terrível condição. já que depois que o preço
tatueta na categoria Ator, da pela companhia de teatro teatral Ivana Chastinet, fa- de um avião que sobre- Então voltei a olhar o site as abandona, nada resta
pelo desempenho nas peças Ateliê Voador. É a primeira vez lecida em agosto de 2017, voa o oceano, acima às coisas além de nas-
Os Pássaros de Copacabana que eu sou indicado e a sensa- aos 54 anos de idade; e à da maré que ameaça
HOJE, O CÓDIGO UNE TODOS cerem para a domesti-
e Um Vânia, de Tchekhov; e ção é muito interessante. Eu atriz Frieda Gutmann, que agigantar-se. Isso se cação que guardamos
Mariana Moreno foi escolhida tenho uma carreira longa de morreu em janeiro de 2018, já não estiver próxima AQUELES QUE ESPERAM para elas.
melhor atriz por Uma Mulher mais de 20 anos de teatro e de aos 67 anos. daqui, andando em ENCOMENDAS EM UMA SÓ Fiquei contente de
Impossível. Ela agradeceu o repente esse prêmio projeto círculos, como alguém encontrar minha en-
IRMANDADE DE ANSIOSOS
olhar sensível da comissão artista para um lugar muito Confira os vencedores do 25º que acaba de sofrer comenda lá, sã e sal-
julgadora pela avaliação do especial. Eu recebi inúmeras Prêmio Braskem de Teatro: um acidente de carro. va, mas enquanto saía
espetáculo. “Ter um trabalho ligações, mensagens. Além de Espetáculo Adulto: Um Vâ- O fato é que, hoje, o có- novamente, uma vez que, já da agência não cruzei com
reconhecido é sempre bom, ser um prêmio que mobiliza nia, de Tchekhov digo une todos aqueles que que não acreditamos mais ninguém em sentido con-
e por esse espetáculo que a classe, é um lugar onde a Espetáculo Infantojuvenil: esperam encomendas em em Deus, devemos ao menos trário, indo procurar seus
dá voz a muitas mulheres, gente se encontra é o lugar Virgulino Menino, Futuro uma só irmandade de an- continuar a crer nos Correios, órfãos, suas encomendas.
em especial. Viva o teatro”, a gente confraterniza". Lampião siosos, e eu ainda nem bem sob pena de nossas vidas Fiquei pensando que de-
destacou Mariana. O gerente de relações Direção: Gil Vicente Tavares, entendi o porquê. Talvez perderem completamente o terminadas coisas se per-
Para a diretora-geral da institucionais da Braskem pelos espetáculos Os Pás- entenda só depois de sair sentido. Foi quando vi que dem justamente para não
Fundação Cultural do Estado na Bahia, Milton Pradines, saros de Copacabana e Um desse estado, para voltar algo havia acontecido. Dis- serem encontradas. Para
da Bahia (Funceb), Renata afirma que a parceria com o Vânia, de Tchekhov a um tempo normal onde seram que o carteiro esteve que aqueles que aguardam
Dias, o prêmio Braskem é Governo do Estado é funda- Ator: Marcelo Praddo pelos nada mais será espera- aqui por três vezes e não sigam com o código con-
emblemático para o seg- mental não só para a celebra- espetáculos: Os Pássaros de do. Será que esse tempo foi atendido, e que por isso duzindo suas vidas para
mento do teatro. "Porque ção dos 25 anos do prêmio, Copacabana e Um Vânia, de existe? O fato é que já se a encomenda estava agora sempre. Conduzindo. Para
dá visibilidade não só para mas para a manutenção da Tchekhov passaram os cinco dias à minha espera na agência aonde? Isso não saberemos.
as pessoas que trabalham premiação ao longo da sua Atriz: Mariana Moreno pelo do prazo e o pessimismo central.
no teatro, mas também para história. "Essa parceria é rea- espetáculo Uma Mulher Im- começa a tomar conta. O Escapou a
as narrativas que vão contar lizada através do Fazcultura, possível código se estendeu sobre Georges Pe-
o que a gente está preten- um mecanismo superinte- Texto: Luiz Marfuz por Traga- o prazo, sobreviveu a ele rec escrever
dendo fazer. É um prêmio ressante de captação de -me a Cabeça de Lima Barreto e se mantém como uma um romance sobre
que chama a atenção para recursos através de uma lei Revelação: Letícia Bianchi incógnita sobre a veloci- esses objetos ex-
toda uma cadeia produtiva de incentivo à cultura, e a pela Direção do espetáculo dade das coisas. traviados, joga-
da cultura". gente tem a oportunidade de, Eudemonia Pior é que durante os dos no depó-
Segundo Renata, "o prêmio junto com o governo, fazer Categoria Especial: Gerôni- torturantes dias do códi- sito do correio
Braskem de teatro projeta eventos desse porte". mo Santana pela Composição go postal, nada deve ser central como
a nossa cultura, os atores e Musical do espetáculo De Um executado fora do que é órfãos defei-
o que se pensa na Bahia a HOMENAGENS Tudo. cotidiano. Se não nos ha- tuosos. Talvez como
respeito do mundo, a respeito A 25ª edição do evento abor- bituamos a fechar a porta as crianças órfãs dos
do próprio baiano. A Bahia é dou a rica história de 2,5 mil FONTE: SECULT BA

CADERNO CULTURAL ANO IX 7 Nº 97 2ª QUINZENA JUNHO DE 2018


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CADERNO CULTURAL ANO IX 8 Nº 97 2ª QUINZENA JUNHO DE 2018

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