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ANO IX
2ª QUINZENA
JUNHO DE 2018
Davi Soares
Zé de Irará
Por favor!
Por favor!
Tirem a poesia do livro
Tirem o livro do sufoco
De uma estante
Nem que seja por um instante
Tirem a poesia do livro
EXPEDIENTE EXPRESSO 18 PRODUÇÕES - CNPJ: 10.850.114/0001-84 - Rua Marechal Floriano, 348-A, centro, Alagoinhas-BA - CONTATOS: (75) 99968-4614 | 99102-6927 E-MAIL: cadernocultural.expresso18@hotmail.com
DIRETOR/EDITOR: Davi Soares 75.99968-4614 | 99102-6927 DIAGRAMAÇÃO E PROJETO GRÁFICO: Germano Ybyaram 75.99977.4350 REDAÇÃO: Ede Soares, Eliana Brandão, Davi Soares, Aline Gonçalves, Iraceli Alves
COLABORADORES: Joatan Nascimento e Mariana Carvalho IMPRESSÃO: Impactgraf
SECULT/BA
Petrolatividade
Em
março deste e no último dia 13 de junho o Não nos perguntamos por
ano um epi- ator negro Leno Sacramento, que quase todos os garis ou
sódio gerou sem ter praticado nenhum empregadas domésticas são
polêmica nas redes sociais. O crime, foi baleado em uma pessoas negras. As pessoas
caso da empresária de Belém ação policial em Salvador. também não se surpreendem
do Pará que publicou fotos Felizmente ele sobreviveu, ao perceberem que a maio-
do ensaio para a festa de mas como o próprio relatou ria dos moradores das áreas
aniversário de 15 anos de em entrevista, a ferida física periféricas e pobres é negra.
sua filha. Nas imagens a de- é a menos dolorida. A dor da Também não se questionam
butante aparece fantasiada alma, provocada pelo racismo o porquê de profissões como
de sinhá, sendo servida por institucional, é mais difícil medicina, engenharia, advo-
pessoas negras simulando de ser curada. Guardadas cacia, entre outras, serem
a escravidão. A cena gerou as devidas proporções, as espaços de maioria branca.
reação na Web além de com- três tragédias nos remetem Ao contrário, o que gera
por as páginas da imprensa a uma frase emblemática comentário é quando um
nacional. A OAB do Pará en- do historiador Alberto da médico ou médica tem a
trou com ação no Ministério Costa e Silva: “a gente tem pela escura. Sem falar dos
Público. A mãe da jovem se que imaginar como os nossos espaços de sociabilidade; ou
defendeu, alegando que em antepassados foram porque ninguém nunca ouviu relatos
nenhum momento teve a in- parte do que eles eram con- de mulheres ou homens ne-
tenção de “menosprezar a tinua em nós naquilo que gros que são perseguidos ou
raça”. Aqui não nos interes- nós somos. A história nos observados insistentemen-
sa atestar se a família e os ensina a descobrir o homem te por seguranças de lojas e
envolvidos na festa agiram (e a mulher) que se foi e que restaurantes frequentados
ou não de forma deliberada, ainda fala em nosso ouvido”. por pessoas de alto poder
mas chamar a atenção para A história de violência e aquisitivo? mais da metade dos 52.198 a sociedade brasileira pode
a validade e importância da exclusão das pessoas negras Se não achamos estranho mortos por homicídios, que ser caracterizada como es-
luta anti-racista. O racismo (pretas e pardas) ainda grita que os lugares de prestígio foram contabilizados pelo cravista e latifundiária. Essa
mata! em nossos ouvidos, em um sejam ocupados majorita- Ministério da Saúde, eram estrutura social era extrema-
Não por acaso, por infeliz país de racismo estrutural riamente por brancos, fica jovens (15-24 anos), dos mente desigual em termos
coincidência, na mesma se- como o nosso. Aqui as rela- evidente como o racismo faz quais 71,44% negros (pretos raciais e de distribuição de
mana do lamentável ensaio ções raciais desiguais operam parte do funcionamento nor- e pardos) e 93,03% do sexo terra e renda. Havia uma
que encenava os tempos da em um padrão de normali- mal da vida cotidiana e tem, masculino. Esses números profunda marginalização de
escravidão houve o assassi- dade. Nós não costumamos em sua forma mais violenta demonstram que mais do largas parcelas da popula-
nato real de Marielle Franco, estranhar que os lugares pou- e perversa, assassinado os que impedir a ascensão social ção pobre. Nesse período, o
mulher negra, feminista e co valorizados socialmente jovens negros do país. Como dos negros, as hierarquias trabalho escravo foi a base
militante contra as desigual- sejam ocupados majoritaria- atesta o mapa da violência raciais matam. fundamental da economia
dades raciais e a LGBTIfobia; mente por pessoas negras. (2013), no Brasil, em 2011, Para entendermos essa re- nacional. Mais do que isso,
alidade precisamos, entre havia um profundo enraiza-
Atualmente convivemos com o enraizamento social do outras coisas, compreender mento social da escravidão.
o nosso passado escravis- Como lembra o historiador
racismo. Embora relacionados, o passado escravista, ta. Aqui a escravidão durou João Reis, a escravidão esta-
quase quatrocentos anos. Os va amplamente disseminada
por si só, não explica o racismo que atualmente números não são precisos, por amplos setores sociais.
mas estima-se que entre o Embora esse trabalho esti-
estrutura a sociedade Brasileira. É preciso, também, século XVI e meados do XIX, vesse concentrado na agri-
mais de 11 milhões de ho- cultura de exportação, ele
entender o período de transição do trabalho escravo mens, mulheres e crianças invadia todo o território
foram transportados para nacional e todas as cama-
para o livre que instituiu um padrão de desigualdade. as Américas. Esses núme- das da sociedade. Todos os
ros não incluem os que não brasileiros, uns mais outros
sobreviveram ao processo menos, podiam possuir escra-
violento de captura na África vos, inclusive os libertos e os
e às condições subumanas da próprios escravos. Mas, ainda
grande travessia atlântica. A que qualquer um pudesse ter
maioria dos cativos – cerca escravos, o país se constituiu
de 4 milhões – desembarcou como uma sociedade racista,
em portos do Brasil. na medida em que negros e
Durante todo o século XIX mestiços, libertos e livres,