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Este trabalho tem por objetivo elaborar uma resenha sobre o livro O Contrato
Social, escrito em 1762, pelo escritor, filósofo, pedagogo e músico genebrino Jean-
Jacques Rousseau (28/06/1.712 – 02/07/1.778).
Quando um bandido me ataca num recanto da floresta, não somente sou obrigado a dar-lhe
minha bolsa, mas, se pudera salvá-la, estaria obrigado em consciência a dá-la, visto que, enfim, a pistola
do bandido também é um poder?
Convenhamos, pois, em que a força não faz o direito e que só se é obrigado a obedecer aos
poderes legítimos. (Contrato Social, p. 60)
[...] os homens em absoluto não são naturalmente inimigos. É a relação entre as coisas e não a
relação entre os homens que gera a guerra, e, não podendo o estado de guerra originar-se de simples
relações pessoais, mas unicamente das relações reais, não pode existir a guerra particular ou de homem
para homem, nem no estado de natureza, no qual não há propriedade constante, nem no estado social, em
que tudo se encontra sob a autoridade das leis. (O Contrato Social, p. 63)
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Esse cuidado argumentativo em perceber que não se pode reputar existentes no indivíduo em estado de
natureza qualidades existentes somente no meio social é patentes no seguinte trecho do Discurso sobre a
origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens: Parece, a princípio, que os homens nesse
estado de natureza, não havendo entre eles espécie alguma de relação moral ou de deveres comuns, não
poderiam ser nem bons nem maus ou possuir vícios e virtudes, a menos que, tomando essas palavras num
sentido físico, se considerem vícios do indivíduo as qualidades capazes de prejudicar sua própria
conservação, e virtudes aquelas capazes de em seu favor contribuir, caso em que se poderiam chamar
mais virtuosos aqueles que menos resistissem aos impulsos simples da natureza. (Discurso da
Desigualdade, p. 75)
Ou seja, Rousseau ressalta que a propriedade só tem existência no meio social. É
a sociedade que regulamenta a distinção entre um bem particular e todos demais, de
modo que é tomado como ameaça e afronta direitos a realização de determinada ação
que lese direitos. No estado de natureza, ao contrário, tudo é exposto para que os
indivíduos alcancem sua finalidade precípua, a saber: a manutenção da existência, de
sorte que a guerra no estado de natureza se apresenta, para Rousseau, como contrário a
sua verdadeira essência.
“Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja a pessoa e os bens de cada associado
com toda a força comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedece contudo a si mesmo,
permanecendo assim tão livre quanto antes”. Esse, o problema fundamental cuja solução o contrato social
oferece.
As cláusulas desse contrato são de tal modo determinadas pela natureza do ato, que a menor
modificação as tornaria vãs e de nenhum efeito, de modo que, embora talvez jamais enunciadas de
maneira formal, são as mesmas em toda a parte, e tacitamente mantidas e reconhecidas em todos os
lugares, até quando, violando-se o pacto social, cada um volta a seus primeiros direitos e retoma sua
liberdade natural, perdendo a liberdade convencional pela qual renunciara àquela. (O Contrato Social, p.
70)
O escritor de O Contrato Social desvela aqui o que seria o pacto social na sua
perspectiva. Com efeito, Rousseau esclarece que, ao realizar o acordo comum
denominado pacto social, os indivíduos abrem mão de sua liberdade natural, isto é,
negam a possibilidade de utilizarem todas as coisas segundo os ditames de sua vontade,
e constroem a liberdade convencional ou liberdade civil. Como Rousseau acentua:
O que o homem perde pelo contrato social é a liberdade natural e um direito ilimitado a tudo
quanto aventura e pode alcançar. O que com ele ganha é a liberdade civil e a propriedade de tudo que
possui. (O Contrato Social, p. 77)
4. PODER SOBERANO
Em face do acima exposto, pode-se dizer que a liberdade civil traz à luz o caráter
imanente da vontade geral. Além disso, o acordo celebrado pela coletividade produz o
surgimento de um novo ente político, cuja vontade será caracteriza por essa mesma
vontade geral. Esse ente é definido por Rousseau como Estado, soberano e potência a
depender da perspectiva adotada, da seguinte forma:
“[...] esse ato de associação produz, em lugar da pessoa particular de cada contratante, um corpo
moral e coletivo composto de tantos membros quantos são os votos da assembleia, e que, por esse mesmo
ato, ganha sua unidade, seu eu comum, sua vida e sua vontade. Essa pessoa política, que se forma, desse
modo, pela união de todas as outras, tomava antigamente o nome de cidade e, hoje, o de república ou de
corpo político, o qual é chamado por seus membros de Estado quando passivo, soberano quando ativo, e
potência quando comparado a seus semelhantes. Quanto aos associados, recebem eles, coletivamente, o
nome de povo e se chamam, em particular, cidadãos, enquanto partícipes da autoridade soberana, e
súditos enquanto submetidos ás leis do Estado. “(O Contrato Social, p. 71)
Com efeito, a coletividade de indivíduos contratantes faz surgir uma nova pessoa
política, cujo corpo é composto pelos membros da coletividade e a vontade se cristaliza
pela vontade geral da coletividade. Além disso, o filósofo genebrino ressalta que essa
pessoa política surgida a partir do pacto social corporifica o Estado enquanto age
passivamente, isto é, enquanto se realiza a mera execução das normas coligidas pela
vontade pública, entretanto, ao se observar essa mesma pessoa política em sua
atividade, ela cristalizará o poder soberano, ou seja, o exercício da produção legislativa
traz a lume a soberania pertencente ao povo, e por fim, a pessoa política adquire a
qualidade de potência quando comparada às demais pessoas políticas surgidas a partir
de pactos semelhantes em outros povos.
Nesse sentido, Rousseau assevera que o soberano, o qual pode ser conceituado
como poder comum dotado de território específico e instituído para o bem comum de
um determinado povo, é indissociável do próprio povo, está imbricado
fundamentalmente a este. Compreensão inovadora que reverberou em inúmeras
produções do Poder Constituinte Originário de diferentes países, inclusive do Brasil,
como ressalta o teor do parágrafo único do artigo 1º da Constituição Federal da
República Federativa do Brasil de 1988:
Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente,
nos termos desta Constituição.
Ou seja, em que pese a pessoa política brasileira ser subdividida em três espécies
de poder distintos, quais sejam: o poder executivo, o poder legislativo e poder
judiciário, a fonte da qual emana esses poderes é o povo, único poder soberano
legalmente constituído em terras brasileiras. Por outro lado, em virtude de se constituir
como uma Constituição de traços mistos, o exercício desse poder soberano do povo será
realizado, indiretamente, por meio da eleição de representantes, ou diretamente, através
dos institutos do plebiscito, referente e ação popular.
Por fim, com vistas a coligir os diferentes aspectos da teoria política apresentada
por Jean-Jacques Rousseau em seu Contrato Social, far-se-á uso da seguinte passagem
retirada deste livro para evidenciar, uma vez mais, a liberdade civil surgida a partir do
contrato social rousseauniano:
“A fim de que o pacto social não represente, pois, um formulário vão, compreende ele
tacitamente este compromisso, o único que poderá dar força aos outros: aquele que recusar obedecer à
vontade geral a tanto será constrangido por todo um corpo, o que não significa senão que o forçarão a ser
livre, pois é essa a condição que, entregando cada cidadão à pátria, o garante contra qualquer dependência
pessoal.” (O Contrato Social, p. 75)
5. BIBLIOGRAFIA