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vol 37 | no 112 | septiembre 2011 | pp.

145-148 | reseñas | ©EURE 145

Desigualdades urbanas,
Desigualdades escolares

Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro,


Mariane C. Koslinski, Fatima
Alves, Cristiane Lasmar
(Organizadores)

Letra Capital: Observatório das Metrópoles |


Rio de Janeiro (2010).

Os efeitos dos processos de segmentação nea apresentam resultados de quatro anos


territorial e segregação residencial sobre as de pesquisas no tema. Pode-se definir como
oportunidades de escolarização de crian- proposta principal dos artigos a investigação
ças e jovens do sistema público de ensino é empírica da hipótese de que os resultados
o tema do livro Desigualdades Urbanas, escolares são afetados não só pelos capitais
Desigualdades Escolares, organizado por culturais e sociais baseados na família, mas
pesquisadores da rede do Observatório das também baseados na escola e na comunidade
Metrópoles. mais ampla (vizinhança).

Conjugando as vertentes da sociologia e an- O livro está disposto em duas partes: a pri-
tropologia urbana e da sociologia da educa- meira denominada Da cidade à escola,
ção, o livro se insere em uma nova geração composta por seis artigos que utilizam me-
de estudos que partem com o argumento todologia quantitativa, mapeando o terri-
de que a distribuição desigual da população tório e tomando-o como expressão de uma
no espaço urbano gera efeitos sobre as con- distribuição desigual de recursos sociais e
dições objetivas e subjetivas dos indivíduos, de equipamentos urbanos, especialmente
influenciando os resultados escolares. os escolares. A segunda parte, denominada
Da escola à cidade está composta por três
Esses estudos procuram demonstrar que artigos que trazem resultados de estudos de
além da escola e da família, o espaço social casos de viés etnográfico, em bairros de clas-
conformado pela divisão socioterritorial das se popular da metrópole do Rio de Janeiro,
cidades é importante para as reflexões acerca com o propósito de iluminar mecanismos
das chances de escolarização, especialmente que geram padrões locais de relacionamento
de crianças e adolescentes de segmentos so- com a instituição escolar.
ciais vulneráveis, residentes das regiões se-
gregadas das cidades. Em A Metropolização da questão social e
as desigualdades de oportunidades edu-
Tendo a metrópole do Rio de Janeiro como cacionais no Brasil, Luiz Cesar Ribeiro e
cenário, os artigos que compõem a coletâ- Mariane Koslinski abordam os efeitos e ten-

issn impreso 0250-7161 | issn digital 0717-6236


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dências à metropolização da questão social Wolfran Lange e Alicia Bonamino fornecem


no Brasil, sobre as desigualdades de acesso às a compreensão da dinâmica entre oferta e
oportunidades educacionais. As análises dos demanda escolar no território carioca. Utili-
dados oficiais de avaliações das escolas no zando como metodologia as ferramentas de
Brasil permitiram observar as diferenças de geoprocessamento – SIG, os autores busca-
resultados escolares entre municípios metro- ram operacionalizar o conceito de geografia
politanos e não metropolitanos. Os autores objetiva de oportunidades educacionais, de-
sugerem uma tendência de desempenho es- senvolvido por FLORES (2008). Ao cons-
colar mais baixo nos municípios integrados à truirem um índice de oportunidade educa-
dinâmica metropolitana, sobretudo nas regi- cional, combinando demanda de crianças de
ões Sudeste, Sul e Centro-oeste. As possíveis 6 a 14 anos e ofertas de escolas, Alves, Lange
causas do que denominam efeito metrópole & Bonamino apontam no artigo Geografia
está na relação entre o processo de desorga- objetiva de oportunidades educacionais
nização e desestabilização da vida social nes- na cidade do Rio de Janeiro que existe bai-
ses locais, especialmente em territórios que xa oferta de escolas públicas em comparação
concentram as camadas populares. às privadas. Os dados mostram a tendência
das áreas localizadas em favelas com o perfil
Nesta mesma direção, Ribeiro & Koslinski de alta demanda e baixa oferta, ao passo que
buscam compreender em seu segundo ar- a relação estável entre demanda e oferta está
tigo na coletânea, as oportunidades educa- em áreas mais consolidadas da cidade.
cionais frente à geografia da cidade do Rio
de Janeiro, cuja organização social é muito A distribuição das oportunidades escolares,
particular. Esta particularidade se dá pelo assim como de oportunidades de emprego
modelo centro-periferia e pelo modelo de aos jovens de classes populares, é a base da
aparente heterogeneidade vivido em certos investigação de Andre Salata e Maria Josefi-
espaços em que há presença de favelas em na Sant’Anna no artigo Entre o mercado de
regiões abastadas da cidade. As análises dos trabalho e a escola: jovens no Rio de Ja-
dados na macro-escala apontam que escolas neiro. Os autores partem da hipótese de que
situadas em entornos menos privilegiados e variáveis relacionadas ao local de moradia dos
que concentram domicílio de clima educa- indivíduos ajudam a explicar as escolhas de
tivo baixo, apresentam, em média, menor jovens entre a escola e o mercado de trabalho.
proficiência. Os resultados na micro-escala Os dados sugerem que as chances de jovens
revelam que a localização de escola até 100 entrarem no mercado de trabalho e abando-
metros de favelas também apresentam me- narem a escola aumentam significativamente
nor proficiência. Com isto, os autores ob- quando estes são residentes de localidades
servam que as desigualdades escolares estão marcadas por moradias de baixo nível socio-
em maior medida nos bairros mais afasta- econômico, distantes do centro da cidade e
dos do centro, porém esta tendência não é com o fato de serem regiões favelizadas.
acompanhada por uma equidade entre as
escolas. Isto porque escolas em regiões cen- Além das desigualdades de ofertas escolares e
trais, porém próximas ou dentro de favelas, de empregos no território carioca, Sibele Ca-
também apresentam baixo desempenho. zelli chama a atenção para a distribuição dos
Neste sentido, o artigo mostra que a organi- equipamentos culturais, em Jovens, escolas
zação do território, além de promover maior e museus: os efeitos dos diferentes capi-
desigualdade das chances de escolarização, tais. Na pesquisa feita por Cazelli os jovens
promove a segmentação entre as escolas. de escolas públicas parecem ter mais acesso
aos bens culturais da cidade através da esco-
Ainda no tema da geografia da cidade do la e menos através da família, no sentido de
Rio de Janeiro, os autores Fátima Alves, que a escola é capaz de mobilizar recursos e
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meios para o deslocamento espacial necessá- residentes em regiões segregadas da cidade


rio. Desta forma, a autora afirma a importân- de São João de Meriti, na Baixada Fluminen-
cia do capital social baseado na escola para se, o autor mostra que as trajetórias revelam
as crianças e jovens das camadas populares constantes flutuações entre a formação e a
no que concerne ao acesso a bens culturais, perda dos vínculos institucionais, ou mais
como por exemplo, os museus. A distribui- especificamente, entre a filiação e a desfilia-
ção desigual dos equipamentos culturais é, ção das instituições escola e trabalho. Cabe
portanto, parte de um quadro mais amplo de ao território um papel importante neste pro-
distribuição hierarquizada das oportunida- cesso, na medida em que apresenta carências
des educacionais no território. de infra-estrutura urbana e de políticas de
fomento à educação, à cultura e ao trabalho.
Para tratar a relação família e escola, o arti- Somado a isso, o artigo trata da dissociação
go As classes populares e a valorização da normativa vinculada a distancia simbólica
educação no Brasil, de Maria Ligia Barbosa entre a instituição escolar e o universo local
e Maria Josefina Sant’Anna, aborda a questão no qual esses indivíduos foram socializados.
entre o valor conferido pelas famílias à esco-
larização de seus filhos e os contextos sociais Os dois últimos artigos da coletânea trazem
produtores desses sentidos. As autoras cons- pesquisas em escolas cujos estudantes são,
troem alguns indicadores para o que chamam basicamente, moradores de regiões faveli-
de valor da educação, tais como: distância en- zadas. As pesquisas apontam que o fato da
tre o lugar de moradia e a escola dos filhos, escola estar localizada em regiões pobres ou
interesse da criança em atividades escolares e em regiões abastadas da cidade, mesmo rece-
a realização dos trabalhos escolares em casa. bendo alunos com baixo capital cultural, in-
terfere no funcionamento da escola e, como
Os resultados apresentados baseados nestes conseqüência, na escolarização das crianças.
indicadores sugerem, entre outras questões,
que a distância entre o lugar de moradia e as Sobre a relação entre família, escola e territó-
escolas escolhidas pelas famílias é significa- rio, os autores Carolina Zuccarelli e Gabriel
tiva. Os pais que apresentam maior investi- Cid abordam no artigo Oportunidades
mento e valorização da escolarização dos educacionais e escolhas familiares no Rio
filhos são os que buscam a melhor qualidade de Janeiro, as estratégias e escolhas de escola-
de ensino em escolas que são distantes de sua rização de famílias moradoras de duas regiões
moradia. De outro modo, os pais que optam no bairro de Jacarepaguá que sofreram inten-
por escolas de menor qualidade situadas no so processo de favelização. Os autores analisa-
bairro, tendem a apresentar menor valoriza- ram os discursos e as práticas de escolarização
ção da educação escolar. das famílias que escolheram deixar os filhos
em escolas localizadas no bairro em que resi-
Na segunda parte da coletânea, André Ran- dem e famílias que escolheram uma escola na
gel discute em Escola, Jovens e mercado Barra da Tijuca, bairro próximo a essas duas
de trabalho: desfiliação institucional na regiões favelizadas, porém de classe média
baixada Fluminense os mecanismos que -alta. A primeira escola apresenta, de acordo
geram o processo de enfraquecimento e fra- com dados do Ministério da Educação, índi-
gilidade dos vínculos dos indivíduos com ces muito baixos de qualidade, ao passo que a
instituições que exercem papel importante segunda escola apresenta alto índice de quali-
no processo de integração social, tais como dade, sendo uma das melhores da cidade.
a escola, a família e o trabalho. Este processo
é denominado pelo autor de desfiliação ins- Os resultados sugerem que as escolhas dessas
titucional. Através das análises tanto das tra- famílias por uma ou outra escola não se dão
jetórias quanto dos discursos de três jovens pelos conhecimentos dos índices de qualida-
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de, mas pelo grau de relação estabelecido com nos estudos da sociologia da educação, mas
o território em que habitam. Nesse sentido, as principalmente para pensar a relevância do
famílias que possuem fortes laços com as co- território na compreensão dos padrões e
munidades em que vivem optam por escolari- mecanismos das desigualdades sociais nas
zar seus filhos nestes locais, em contraposição metrópoles urbanas.
àquelas cujos laços são frágeis com a comuni-
Patricia Ramos Novaes
dade. Estas últimas buscam sair do território,
Assistente Social, mestre em Planejamento
na medida em escolhem e traçam estratégias
Urbano-IPPUR/UFRJ
de escolarizar seus filhos em escolas mais dis-
tantes, porém de melhor qualidade.

Além disso, a pesquisa etnográfica feita na


escola da Barra da Tijuca aponta para o fato
da sua qualidade estar muito atrelada à sua lo-
calização em um bairro abastado. Na mesma
linha de análise, no artigo A escola na favela
ou a favela na escola? de Ana Carolina Chris-
tóvão e Mariana Santos, discute-se a qualidade
de ensino oferecido aos alunos matriculados
em escolas situadas em regiões marcadas pela
segregação e o isolamento social.

As autoras apresentam suas pesquisas reali-


zadas em três escolas, duas na Zona Norte e
uma na Zona Sul da cidade do Rio de Janei-
ro, duas situadas nas proximidades de favelas
e uma situada dento de uma favela. Os resul-
tados apontaram para um efeito negativo do
território na escolarização das crianças. As
autoras utilizam o conceito de encapsula-
mento para afirmar que essas escolas situadas
próximo ou dentro de áreas favelizadas aca-
bam sendo envolvidas pela institucionalida-
de da favela, sofrendo a violência, o estigma e
o baixo clima educativo do território.

Vale ressaltar que além desses nove artigos,


há dois boxes que fecham cada parte da co-
letânea. O primeiro box explora o potencial
analítico da PNAD - Pesquisa Nacional por
Amostragem de Domicílio em pesquisas so-
ciais e o segundo box descreve o processo de
construção da variável Clima Educativo, uti-
lizada em alguns dos artigos do livro.

Por fim, é necessário apontar que os resul-


tados propostos neste livro são de grande
valia não só para inserir o tema do território

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