Sei sulla pagina 1di 8

Ciência da administração associada diretamente ao positivismo e ao fenomenológico, uma vez

que a filosofia positivista foi afirmada em meados do século XIX, fundamentando o


desenvolvimento de pesquisas quantitativas e experimentais, e a filosofia fenomenológica
desenvolvida como novo método nas ciências sociais nos últimos cinquenta anos, gerando
grande volume de pesquisas qualitativas. Também pode-se afirmar que ideologias, teorias
mais duradouras e paradigmas se associam a obras clássicas (Marx, Weber, Durkhein, Burrel e
Morgan). (p. 17)

Os objetivos do capítulo são: (seção 1.1) apontar traços histórico-filosóficos mais antigos e
ambivalentes da concepção dominante de ciência na modernidade e seus reflexos na escola
clássica e das relações humanas, recorrendo ao Grande Paradigma do Ocidente (GPO – Edgar
Morin); (seção 1.2) reexaminar o conceito de paradigma proposto por Kuhn e desaconselhar
sua utilização no campo dos estudos organizacionais; (seção 1.3) explorar influências do
debate sobre a complexidade sistêmica no desenvolvimento dos estudos organizacionais. (p.
18)

1.1 Revolução científica e seus reflexos nas teorias das organizações

Esboço da trajetória evolutiva da concepção dominante de ciência, do século XVI ao século XX,
destacando aspectos das correntes da ciência das organizações, a escola clássica e a escola das
relações humanas, introduzindo a noção de Grande Paradigma do Ocidente (GPO).

Parte-se da constatação: teocentrismo versus antropocentrismo, dilema entre a tradição e a


emergência de uma era centrada na ecologia dos saberes e das temporalidades (Santos, 2004)
(p. 19)

A ciência torna-se mais complexa, emancipando-se da filosofia, surge a percepção dualista


objetivo-subjetivo. Sugere-se, antes dos estudos de Newton, Galileu e Descartes, que a
natureza e o universo já haviam sido transformados em objetos descritos e elaborados
matematicamente. (p. 19)

As “artes matemáticas” constituíam, na realidade, instrumentos de compreensão de uma


natureza e de um universo qualitativo. Essa representação remonta a época do Renascimento
(matematização do mundo – Copérnico e Kepler). No século XVII a elite europeia abandona
gradualmente o latim para dispor da linguagem lógica, na busca de revelação da essência
perene do “mundo”. (p. 20)

Doxa (opinião) – denominado por Platão como se o homem fosse dominado pelos sentidos,
aspirando conhecimento imperfeito do mundo real, aparente. Já a episteme (ciência) é o
verdadeiro conhecimento, sendo o mundo das ideias (essências imutáveis) alcançado por meio
da razão. O conhecimento sensível fundamenta-se no conhecimento matemático (etapa
intermediária – dianoia) na construção do conhecimento verdadeiro, que deveria promover a
conjugação do intelecto e das emoções (razões e qualidades morais). A episteme seria fruto da
combinação da inteligência e amor (Platão, 1996, p. 24, 26) (p.20).

Mentalidade quantitativista (dois fatores): a construção progressiva do Estado moderno e o


desenvolvimento da economia de mercado. Emerge a estatística. (p.20)
Transição da percepção qualitativa para a quantitativa da realidade, em função de fatores
socioculturais e socioeconômicos (construção do primeiro relógio mecânico, novo tipo de carta
marítima, novo tipo de carta marítima, etc).

No desenvolvimento da ciência moderna, foram identificados muitas divergências. No debate,


destaca-se a divergência entre Newton e Descartes quanto à experimentação entendida como
método científico. Os cartesianos reconhecem a superioridade da perspectiva newtoniana e
procuram incorporar a experimentação em sua visão dedutivista do processo de construção do
conhecimento. Newton e Galileu são considerados neoplatônicos, tal como Descartes, mas
eles são indutivistas, contrários ao dedutivismo essencialista de corte cartesiano. (p.21)

O indutivista Bacon praticamente ignora os princípios da mecanização e da matematização da


natureza, além de assumir uma representação muito mais qualitativa do que quantitativa
daquilo que constitui a “experiência”. Para Soares (2001, p. 46), Bacon constitui-se, de fato, no
último grande nome do racionalismo crítico-experimental. (p. 21-22)

Reyer Hooykaas (1986, p. 167) sintetiza as características gerais da ciência moderna: ela não
reconhece autoridades, excetuando a da própria natureza (em caso de conflito, o investigador
se adapta aos dados fornecidos pela natureza). O empirismo (indutivismo) racional e crítico
predomina sobre o racionalismo; a ciência moderna não se baseia apenas na observação –
direta ou indireta – da natureza, sendo valorizada a realização de experiência controlada; a
ciência moderna estaria associada à formação de uma imagem mecanicista do mundo,
explicando os fenômenos naturais por analogia com a dinâmica de funcionamento de sistemas
artificiais; e a versão dominante da ciência procura descrever fenômenos observáveis através
da matemática. (p. 22)

A concepção organicista de natureza, predominante na pré-modernidade, cede espaço a uma


concepção mecanicista, atomístico-individualista. (p. 22)

A chamada “revolução científica” provocou também o nascimento das ciências particulares,


que lidam com fenômenos “naturais”, desligadas da filosofia e da metafísica medieval,
assumindo um papel relativamente funcional ao desenvolvimento das sociedades centradas
no mercado.

Na gênese da episteme, a matemática e a lógica são entendidas como ciências formais, onde
seus objetos viabilizam a construção de raciocínios válidos. Por sua vez, a física, a química, a
biologia, a economia e suas ramificações são chamadas ciências factuais, adequando-se ao
postulado da objetividade. Quando os fatos investigados são relacionados à estrutura e à
dinâmica do mundo natural, constituem o objeto das ciências naturais ou físicas; quando
envolvem o ser humano/sociedade, constituem objeto das ciências humanas ou sociais. Física,
química e biologia são tidas como ciências naturais, enquanto história, antropologia, a
sociologia e o direito fazem parte do campo das ciências humanas e sociais. A psicologia tem
abordagens experimental (natural) e social (fenomenológica). A Administração: ciência factual
derivada das ciências humanas e sociais mais antigas, e mais clássica sendo fortemente
influenciada pela engenharia, incorporando métodos utilizados nas ciências físicas. (p. 23)

Administração e Psicologia compartilham duas premissas: existe uma realidade única a ser
apreendida, considerada externa a todos os pesquisadores; e a segunda estipula que o
conhecimento científico transcende o nível da simples observação dos fatos. Os conceitos não
são observáveis fisicamente; antes, sua existência é inferida a partir de fatos experimentais. (p.
23-24).
A modernidade encontra na filosofia de Descartes e no positivismo de Auguste Comte
(trajetória linear do conhecimento) seus principais pontos de referência.

1.1.1 Aspectos da escola clássica da administração

Início do século XX – “escola clássica”. Taylor publica “Administração de oficinas” (1903) e


“Princípios de administração científica” (1911), esta última desenvolvendo experimentos
visando aumentar a produtividade do trabalho, com pensamento indutivista e mecanicista,
onde sua concepção foi marcada pela premissa do homo economicus. (p. 24)

Segundo Gabor (2001, p. 60), as oposições ao pensamento de Taylor são temporárias. O


taylorismo tem sido um raro fenômeno que não conhece fronteira geográfica nem ideológica.
Em grande medida, “a reengenharia é o mais recente legado do taylorismo causador de
discórdia”.

Fayol publica “Administração industrial e geral” em 1916, focalizando a racionalização da


estrutura administrativa por meio de uma análise lógico-dedutiva, identificando as cinco
funções básicas do administrador, deduzindo a partir delas os princípios da administração.

A chamada ciência da gestão (management Science – MS) pode ser definida como a aplicação
do método científico e do raciocínio analítico ao processo de tomada de decisões dos
executivos no controle de sistemas comerciais e industriais. Atribui-se ao MS o surgimento da
pesquisa operacional (operational research – OR).

Organizações como a Operational Research Society (ORS), a Operations Research Society of


América (ORSA) e o Institute of Management Sciences (TIMS), são exemplos de grupos
dominantes operando no âmbito da comunidade científica envolvida com a ciência da
administração, em escala mundial. (p. 25)

1.1.2 Aspectos da escola das relações humanas

Enquanto a escola clássica concebe a organização como máquina e como instrumento de


dominação, a escola (ou movimento) das relações humanas adota a metáfora do organismo e
do sistema político (Morgan, 1996). A primeira pressupõe a ideologia do homo economicus e a
segunda valoriza a noção de homo socialis.

Os principais representantes dessa escola são George Elton Mayo, Mary Parker Follet, Douglas
McGregor, Kurt Lewin, Eric Berne, Isabel Briggs-Myers, Robert Blake e Jane Moutin,
Roethlisberger e Dickson, Abraham Chester Barnard, entre outros. Em contraste com a escola
clássica, aqui a contribuição das ciências humanas e sociais – e mais especificamente da
psicologia e da sociologia – assume um papel decisivo. No estudo de grupos informais nas
organizações passaram a ser utilizados uma série de métodos e técnicas que vão desde a
simples observação até a sociometria e as diversas versões da dinâmica de grupo.

Enquanto os behavioristas aprofundaram a crítica endereçada pela escola de relações


humanas à escola clássica, com base em estudos laboratoriais sobre o comportamento
humano, os estruturalistas, divergindo do movimento das relações humanas, propuseram que
o mesmo fosse integrado ao enfoque da administração científica inspirado em Weber e Marx.

1.1.3 O Grande Paradigma do Ocidente (GPO)


Os aspectos destacados anteriormente das duas escolas são úteis para evidenciar reflexos
ambivalentes ou dualistas da revolução científica nas teorias organizacionais, à luz do Grande
Paradigma do Ocidente (GPO).

Na noite de 10 de novembro de 1619, Descartes, na época com apenas vinte anos, teve uma
série de sonhos que, em grande medida, mudaram o curso de sua vida e, por implicação, do
conjunto do pensamento moderno. Segundo suas próprias palavras, em seu sonho um “anjo
de verdade” teria revelado um segredo que iria “assentar os fundamentos de um novo método
de compreensão e de uma nova e maravilhosa ciência” (Roszak, 1998, p. 314).

Não obstante, todos omitem o “anjo de verdade”, como fez o próprio, que não voltou a
reconhecer em seus escritos o papel dos sonhos e da intuição como fontes do pensamento.
Pelo contrário, Descartes prestou mais atenção aos procedimentos lógicos e formais que,
supostamente, partem de uma atitude de dúvida metódica radical.

O dualismo cartesiano é apontado por Edgar Morin como fundamento de uma visão disjuntiva-
redutora – O chamado Grande Paradigma do Ocidente (GPO). O GPO é “imposto pelos
desenvolvimentos da história europeia desde o século XVII” (Morin, 1991, p. 194). Separa não
só o sujeito do objeto investigado, cada um com sua esfera própria, mas também a filosofia
(investigação reflexiva) da ciência (investigação objetiva).

Segundo Morin, o GPO pode ser considerado, de fato, um paradigma, na medida em que
determina os conceitos soberanos e prescreve a disjunção como sendo a relação lógica
fundamental. Para o GPO, a não obediência a esta disjunção só pode ser clandestina, marginal,
desviante. O GPO determina uma dupla visão do mundo: por um lado, há um conjunto de
objetos submetidos a observações, experimentação, manipulações. Por outro, há um conjunto
de sujeitos que colocam a si próprios problemas existenciais, de comunicação, de consciência,
de destino.

Há dois universos que disputam entre si a sociedade, a vida, o espírito; partilham o terreno,
mas excluem-se mutuamente; um só pode ser considerado positivo quando o outro se torna
negativo; um só pode ser considerado real se remete o outro para a esfera das ilusões. Num
deles, o espírito não é mais do que uma eflorescência, um fantasma, uma superestrutura,
enquanto no outro a matéria não é mais do que uma aparência, um peso, uma cera moldada
pelo espírito.

Assim, por serem considerados disjuntos, o sujeito e o objeto jogam às escondidas, ocultam-se
e manipulam-se mutuamente. Pelo que se percebe, os conflitos entre a escola clássica e a
escola das relações humanas são compreensíveis como tendências epistemológicas parciais
entre as polaridades do GPO. Predominam na primeira os valores vinculados a objeto, corpo,
matéria, quantidade, causalidade, razão, determinismo e essência. Na segunda predominam
os valores vinculados a sujeito, alma, espírito, qualidade, finalidade, sentimento, liberdade e
existência, ainda que de forma subordinada à primeira. Como estas duas escolas repercutem
em várias outras, incluindo as atuais, entende-se que a abordagem da noção de paradigma
deveria ser bem examinada.

1.2 Paradigma: da ciência normal à matriz disciplinar

De acordo com Thomas Kuhn (1970), a consulta à literatura disponível poderia sugerir, à
primeira vista, que o conhecimento do mundo adquirido por meio da pesquisa científica evolui
no tempo de forma cumulativa, gradual e linear. Cada período da história das ideias e dos
métodos científicos é reconhecido como um passo necessário no sentido de uma aproximação
cada vez mais apurada de uma descrição do universo considerada como a última verdade a
respeito dele. Trata-se, neste caso, da imagem da “ciência normal”.

Um paradigma, diz Grof (1987, p. 2), pode ser definido como uma constelação de crenças,
valores e técnicas compartilhadas pelos membros de uma determinada comunidade científica.
Alguns conservam um viés filosófico, permanecendo genéricos e abrangentes; outros
governam o pensamento científico em áreas de pesquisa mais restritas e específicas.

O resgate da história das práticas de pesquisa em astronomia, física, química ou biologia “não
evoca as controvérsias sobre fundamentos que atualmente parecem endêmicas entre, por
exemplo, psicólogos ou sociólogos” (Kuhn, 1970, p. 13). Por não obterem consensos
paradigmáticos, as ciências sociais seriam imaturas ou “pré-paradigmáticas”. No entanto, a
própria pesquisa do autor é claramente transdisciplinar, incluindo, além da história da física e
da biologia, entre outras ciências naturais, também a psicologia da percepção (Gestalt), a
filosofia da ciência e da linguagem.

Refletindo sobre esta noção de matriz disciplinas, Gerard Fourez (1995), doutor em física
teórica com formação em filosofia, observa que, no início do século XIX, a física trabalha em
sintonia com o paradigma newtoniano. A forma de agir da comunidade dos físicos
corresponde ao conceito de ciência normal. Todavia, a partir do final do século XIX o conceito
de espaço na teoria newtoniana torna-se cada vez mais questionado, em meio a um intenso
debate intelectual, inaugurando assim uma fase de revolução paradigmática na física.

Ainda na opinião de Fourez, quando ocorre uma revolução paradigmática numa dada disciplina
científica, ela redefine seu objeto e suas práticas. O processo é antecedido por uma fase pré-
paradigmática e sucedido por uma fase pós-paradigmática. Na fase pré-paradigmática, as
regras que norteiam as práticas de pesquisa são relativamente flexíveis, integrando o fator
existencial e as demandas sociais como dimensões mais importantes do que a obediência aos
cânones disciplinares. Além disso, nesta fase não existiriam ofertas consolidadas de formação
acadêmica especializada para futuros pesquisadores.

Por sua vez, na fase paradigmática, o objeto da disciplina é construído de maneira


relativamente estável, e as técnicas de construção do conhecimento são formuladas de forma
cada vez mais rigorosa. Além disso, a definição de prioridades de pesquisa deixa de ser
condicionada decisivamente por demandas extensas, de origem social. A comunidade
científica ganha identidade enquanto traduz as questões da vida cotidiana em termos
paradigmáticos, ou seja, técnicos, e vice-versa.

O terceiro período – pós-paradigmático – emerge quando a disciplina perde contato com as


demandas que a sociedade apresenta às comunidades científicas. Nesse caso, duas
possibilidades se abrem. Ou a disciplina se torna crescentemente inadequada e se vê
confrontada com problemas “recalcitrantes” e “anomalias” – é possível que os pressupostos
estejam sendo revolucionados por um novo paradigma; a outra possibilidade é que a disciplina
responda de forma convincente às questões apresentadas, abrindo-se a um ciclo pós-
paradigmático. Neste caso, ela se torna tecnologia intelectual acabada, e não há mais interesse
em fazer avançar as pesquisas, restando apenas a sua reprodução por meio do ensino ou das
aplicações práticas.
1.3 Fenomenologia, paradigma disjuntor-redutor e complexidade

1.3.1 Fenomenologia e ambivalência

Boaventura Santos (2000) aponta duas vertentes principais nas ciências sociais em relação ao
paradigma disjuntor-redutor – a positivista e a fenomenológica. A primeira está claramente
compromissada com o paradigma dominante, que se condensou no positivismo. A vertente
positivista em ciências sociais norteia-se pelo ideal regulativo da física social – o ponto de vista
segundo o qual a experiência de construção e complexificação das ciências naturais constitui
um modelo que deveria ser seguido pelos pesquisadores vinculados ao campo das ciências
humanas e sociais. Predomina aqui a diretriz de unidade metodológica das ciências.

A segunda vertente, fenomenológica ou interpretacionista, apresenta-se, em suas variantes


mais moderadas ou mais extremistas, como alternativa ao tuto metodológico próprio (Santos,
2000, p. 67). O argumento central é o de que o entendimento das ações humanas pressupõe,
de forma inescapável, uma referência à dimensão subjetiva ou auto-reflexiva, ao contrário dos
fenômenos naturais. Neste sentido, a vida em sociedade não pode ser descrita, e muito menos
explicada, apenas levando-se em conta as características exteriores e objetiváveis do
comportamento humano. A ciência social só pode compreender realmente as relações sociais
ao incorporar em seus enfoques analíticos o universo interior dos indivíduos – e, sobretudo, a
dimensão do sentido que os mesmos conferem às suas ações. Os métodos qualitativos e
interpretativos seriam, assim, preferíveis aos quantitativos, visando-se obter conhecimento
intersubjetivo, descritivo e compreensivo, em vez de um padrão de conhecimento
supostamente “objetivo” e formulável em termos quantitativos.

O conflito entre estas duas vertentes confirmaria o caráter “pré-paradigmático” das ciências
sociais, por inviabilizar a formação de consensos paradigmáticos típicos das ciências da
natureza. Santos (2000, p. 68) reconhece, entretanto, que a segunda vertente representa, no
âmbito do paradigma dominante (que segundo ele, tal como para Morin, inclui todas as
formas de ciência), um “sinal de crise”, contendo “alguns dos componentes da transição para
um outro paradigma científico”.

1.3.2 Paradigma disjuntor-redutor

Morin critica e revisa o conceito de paradigma proposto por Thomas Kuhn, embora conserve
dele alguns aspectos, inclusive a distinção entre grandes e pequenos paradigmas. Como pode
ser constatado na leitura de sua principal obra, La Méthode, Morin desenvolveu (ao longo de
três décadas) a hipótese de que poderia ser construída uma alternativa ao paradigma
disjuntor-redutor.

No quarto volume, ele define a noção de paradigma afirmando que esta contém, para todos os
discursos que se efetuam sob seu domínio, os conceitos fundamentais ou as categorias
mestras da inteligibilidade, e também o tipo de relações lógicas de atração/repulsão
(conjunção, disjunção, implicação ou outras) entre esses conceitos ou categorias. Portanto, os
indivíduos conhecem, pensam e agem segundo os paradigmas internalizados em suas culturas.
“Os sistemas de ideias são radicalmente organizados em virtude dos paradigmas” (Morin,
1991, p. 188).
1.3.3 Paradigma da complexidade

O conjunto da obra de Morin, na qual se destaca La Méthode, constitui uma das mais extensas
e profundas contribuições à construção progressiva e coordenada de um pensamento e de um
paradigma complexos. Sua concepção de paradigma dispõe de um substrato filosófico que
pode ser encontrado na história da filosofia tanto ocidental quanto oriental.

Interpretando de forma abrangente a relação entre essas duas linhas de pensamento, pode-se
dizer que a racionalidade científica (Kuhn) é concebida como racionalização (Morin) na
chamada ciência normal (Kuhn), que expressa, à medida que avança no sentido da
tecnociência (Morin) a esquizofrenia do GPO, tornando-se excludente e contribuindo para uma
concepção de mundo simplificadora, ética e politicamente irresponsável.

A abordagem de Morin beneficia-se de uma longa história de pesquisas sobre múltiplos


autores, vinculados a diversas áreas de conhecimento especializado (física quântica, teoria dos
sistemas, química, biologia, astrofísica, cibernética, teoria da comunicação, antropossociologia
e outras). Esse extraordinário acervo de conhecimentos sobre a natureza humana tem sido
integrado-analisado por meio de macroconceitos, como o de auto-eco-organização – que
sintetiza o de auto-geno-feno-eco-ego-re-organização (Morin, 1977; 1980; 1986; 1991; 2002).

Esses princípios fundamentam o chamado pensamento complexo. Não se trata aqui de


expulsar a certeza com a incerteza, a separação com o princípio holista-especulativo, a lógica
com a abertura para todas as transgressões. Trata-se, antes, de um ir e vir constantes entre
certezas e incertezas, entre o elementar e o global, entre o separável e o inseparável. A
intenção, portanto, não seria abandonar os princípios de ordem, de separabilidade e de lógica
– mas integrá-los numa concepção mais rica e abrangente, segundo a qual o paradigma da
complexidade “pode ser enunciado não menos simplesmente que o da simplificação: este
impõe separar e reduzir, aquele une enquanto distingue” (Morin, 2000).

1.4 Teorias organizacionais e complexidade: abertura interdisciplinar

Em seu clássico estudo A nova ciência das organizações, datado de 1981, Guerreiro Ramos
considera que a teoria organizacional dominante não desenvolveu a capacidade analítica
necessária ao exame crítico de seus alicerces epistemológicos e teóricos (Ramos, 1981, p. 118).
Na sua opinião, as organizações são ao mesmo tempo sistemas cognitivos, sistemas
epistemológicos e cenários sociais.

Diante disso, o autor desenvolve uma abordagem sistemática da teoria organizacional com
base na racionalidade substantiva, que inclui duas missões distintas: (a) o desenvolvimento de
um tipo de análise capaz de detectar os fundamentos epistemológicos dos vários cenários
organizacionais; (b) o desenvolvimento de um tipo de análise organizacional expurgado de
padrões distorcidos de linguagem e conceptualização (Ramos, 1981, p. 118).

O autor atribui, ao que ele denominou “síndrome comportamentalista”, a incapacidade de


análise da teoria organizacional frente à complexidade dos sistemas sociais organizados.

Guerreiro Ramos propõe um novo paradigma, que ele denomina de paraeconômico – ou


teoria da delimitação dos sistemas sociais. O cerne desse modelo multidimensional é a noção
de delimitação organizacional, que envolve: (a) uma visão da sociedade como uma variedade
de enclaves (dos quais o mercado é apenas um), na qual o homem se empenha em tipos
diferentes de atividades substantivas; (b) um sistema de governo social capaz de formular e
implementar as políticas e decisões distributivas requeridas para a promoção do tipo ótimo de
transações entre tais enclave sociais (Ramos, 1981, p. 14).

Torna-se plausível esboçar a complementaridade entre as ideias deste ilustre e pouco


conhecido sociólogo brasileiro com as de Morin, com o objetivo de vincular mais claramente a
teoria da organização à problemática epistemológica. Para este último, à razão instrumental
corresponde a racionalização ou falsa racionalidade (produto do paradigma disjuntor-redutor),
enquanto que à razão substantiva de que trata Guerreiro Ramos corresponde o pensamento
complexo.

Estes autores, em suma, buscam compreender a unidade na diversidade, bem como a


diversidade na unidade como dois aspectos nucleares dos fenômenos que examinam.

A abordagem que busca a complementaridade entre a teoria da delimitação de sistemas


sociais e o paradigma da complexidade, aqui apenas esboçada, guarda sintonia (em termos
gerais, aproximativos) com a clássica obra Imagens da organização, de Morgan (1986; 1996),
na medida em que este autor faz uma crítica multifacetada às ideias predominantes nos
estudos organizacionais.

Para este autor, as imagens ou metáforas são “teorias” ou “arcabouços conceituais”, e “a


prática não está nunca livre da teoria, uma vez que se encontra sempre orientada por uma
imagem ou por aquilo que se está tentando fazer” (Morgan, 1996, p. 343) Ele sustenta uma
posição que “tenta reconhecer o paradoxo de que a realidade é, ao mesmo tempo, subjetiva e
objetiva” (Morgan, 1996, p. 388; Morgan e Smircich, 1980).

Uma diferença significativa entre Morgan, por um lado, e Morin, por outro, é que o primeiro
busca compreender a complexidade das organizações produtivas como unidades nucleares das
sociedades, ainda que paradoxais e multidimensionais, enquanto o último busca compreender
as formas organizacionais constituídas pelas sociedades humanas em seu conjunto e contexto
(sociedade, indivíduo, espécie). Guerreiro Ramos, por sua vez, ocupa-se tanto das
organizações econômicas, fenonômicas e isonômicas quanto das formas organizacionais das
sociedades e da natureza humana em seu conjunto.

Apesar de publicadas na década de 1980, as citadas obras de Guerreiro Ramos (Paes de Paula,
2004) e Mogan permanecem atuais e desafiadoras. Quanto à obra de Morin, só recentemente
passou a ser incorporada ao campo dos estudos organizacionais (Silva e Rebelo, 2003; Bauer,
1999; Etkin, 2003) e à literatura especializada em metodologia científica inter e transdisciplinar
(Vasconcelos, 2002).

Potrebbero piacerti anche