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Resumo Este trabalho sistematiza a experiência da “Feira Agroecológica, Popular e Solidária”, popularmente
Feira da UFMG, criada através da articulação entre o Departamento de Gestão Ambiental e os grupos Estudos
em Agricultura Urbana (AUÊ!) e Colmeia Solidária, articulando valores e práticas da Agroecologia e da
Economia Popular e Solidária. As feiras constituem espaços de grande importância sociocultural, para além das
transações comerciais, permitindo troca de saberes e preservação da diversidade cultural popular e alimentar
local. Ademais, a pesquisa-ensino-extensão focada na agroecologia é essencial para a formação das/os feirantes e
da comunidade universitária. Tem-se como metodologia estruturante a pesquisa-ação, considerando-se a
participação coletiva. Sua construção foi realizada em conjunto com as/os feirantes, em reuniões de avaliação e
monitoramento. Desde 2016 realizaram-se dezesseis feiras, mensalmente em 2017 e quinzenalmente em 2018. A
visibilidade e alcance dessa iniciativa permitiu consolidar um Projeto de Pesquisa e Extensão. Paralelamente,
iniciou-se a caracterização e mapeamento das/os produtoras/es e a construção do Sistema Participativo de
Garantia da RMBH, um dos critérios de participação, visando a Soberania e a Segurança Alimentar e
Nutricional. As redes sociais/acadêmicas têm papel formativo das/os produtoras/es e consumidoras/es, a partir de
atividades educativas realizadas durante a feira. A Feira da UFMG propicia a geração de trabalho e o aumento da
renda para as/os produtoras/es, comercializando grande diversidade de alimentos in natura e beneficiados,
criando circuitos curtos de produção e consumo e espaços para a construção do conhecimento e para a transição
agroecológica na RMBH.
Introdução
Essas duas primeiras edições da feira confirmaram a potencialidade do campus Pampulha não
apenas como ponto de comercialização dos produtos, mas também de fomento às discussões
sobre a Agroecologia e a Economia Popular Solidária. Logo, a Feira poderia ser um espaço de
confluência, integração da administração central e grupos de estudo e iniciativas semelhantes
dispersos pela Universidade. Ao mesmo tempo, atendendo ao interesse da comunidade
universitária em adquirir produtos sem agrotóxicos, agregando produtores interessados e
promovendo debates, oficinas e cursos com temas de todos esses segmentos. Nesse sentido,
baseados no interesse comum da construção de um espaço formativo e de comercialização
fundamentado nos princípios da Economia Popular Solidária e da Agroecologia, a partir de
2017 os grupos da UFMG AUÊ!, Colméia e o DGA iniciaram reuniões periódicas para
articulação e construção coletiva da feira.
Dessa maneira, foram convidadas outras instituições para se tornarem parceiras dessa
empreitada, como a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais -
EMATER-MG e a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte - PBH. Consequentemente, em
agosto de 2017, foi realizada uma reunião com a presença dos grupos, instituições públicas e
dos produtores que já participavam das edições anteriores da feira para decidir em comum
acordo a criação da feira mensal na UFMG, antes mesmo das/os produtoras/es realizarem a
transição agroecológica.
No segundo semestre de 2017, a feira voltou a ocorrer na praça de serviços, espaço de grande
circulação e visibilidade dentro do campus Pampulha da UFMG. A organização buscou
salientar o caráter educativo da feira, realizando em cada edição ao menos uma oficina, roda
de conversa ou seminário, gratuitos e abertos à todos os interessados. Essas atividades eram
preferencialmente conduzidas por algum das/os feirantes, dos grupos da organização ou por
parceiros, efetivando a troca de saberes dentre os segmentos envolvidos e sua democratização.
Alguns dos temas abordados nessas ações foram: agroecologia e construção social de
mercados, mercado justo e solidário, sementes nativas e crioulas, certificação de produtos
orgânicos, construção de horta caseira, construção de minhocário doméstico e preparo de
chás.
Durante todo o ano de 2017, foram realizadas cinco edições mensais da feira, nos meses de
junho e de setembro a dezembro. A adesão da comunidade universitária às atividades
propostas na programação, o interesse despertado pela feira dentro da universidade e
principalmente as vendas dos produtos, que excediam as expectativas das/os feirantes,
indicavam a consolidação da Feira no campus, motivando a sua realização de forma mais
frequente, e ao mesmo tempo com a fidelização do público. Assim, no final de 2017, decidiu-
se em assembleia com a organização e as/os feirantes a realização quinzenal da Feira no ano
seguinte. Já em 2018, a Feira, foi consolidada como um projeto de extensão na universidade,
com uma bolsista fomentada pela Pró-reitoria de Extensão da UFMG - PROEX. Assim,
voltou a ser realizada em março, seguindo o calendário acadêmico. Até o presente momento
(início de agosto de 2018) já foram realizadas nove edições. As atividades educativas
continuam constando da programação: cosméticos naturais, feminismo e agroecologia, troca
de sementes, vasos autoirrigáveis, produção de sabão a partir de óleo de cozinha usado,
economia popular solidária além da origem dos produtos da feira foram alguns dos temas.
Foi realizado um cadastro de participação com as/os feirantes, aplicado pessoalmente pela
equipe de organização da feira e posteriormente enviado um formulário de cadastramento
para todos os produtores para maior alcance e informações. Com tais dados foi possível fazer
a caracterização dos produtores da feira. Ao todo são 34 feirantes, com idade entre 27 e 66
anos, com média de 46 anos, sendo 50% mulheres. Dos produtores 100% deles residem na
RMBH e/ou no colar metropolitano, sendo os municípios Sabará, Confins, Santana do
Riacho, Ribeirão das Neves, Itabirito, Lagoa Santa, Contagem, Caeté, Rio Acima e Nova
União, dos 41% residentes de Belo Horizonte, dois são moradores do Aglomerado da Serra
em Belo Horizonte. Isso indica uma maior porcentagem de agricultoras/es urbanos, já que a
capital mineira não possui área rural. Segue abaixo na Figura 2 a porcentagem de produtores
por cidades da RMBH:
Além disso, foi observado que de 40% dos lares dos produtores são chefiados por mulheres e
35% não possuem casa própria. Ademais, a feira da UFMG é a principal fonte de renda para
40% dos produtores, sendo que 87% deles participam de outras feiras, dentre elas Terra Viva
(15%) e Raízes do campo (6%). Trinta e cinco por cento dos produtores já estão participando
de algum Fórum de Economia Solidária e 40% fazem parte de algum núcleo do SPG
Metropolitano.
Ainda, os produtos vendidos na feira atualmente são colares difusores feitos com
reaproveitamento de madeira e sementes com técnicas de mosaico e incrustação, óleos
essenciais cosméticos naturais, hortifrutigranjeiro nas suas mais variadas qualidades, pães de
fermentação natural, bolos, geleias, conservas, caponatas, doces caseiros, temperos naturais,
ervas medicinais, grãos em sua enorme variedade, cogumelos, produtos veganos e
vegetarianos, mel e seus subprodutos, Composteiras, composto, mudas entre outros produtos
agroecológico ou em transição agroecológica, sendo que 54% dos produtores produzindo sua
própria matéria-prima.
A infraestrutura das “barracas”, no início, era de mesas fornecidas pela universidade, porém
com receio do estrago do material e alto custo para as/os feirantes, foi sugerida a realização
do aluguel desses móveis. Assim, há o recolhimento de uma pequena contribuição de todos os
participantes, não só para esse fim, como também para manutenção, divulgação e futuros
gastos eventuais que sejam necessários. Nas Figuras 4 e 5 é possível verificar a infraestrutura
utilizada durante a montagem das “barracas” e a Oficina de Plantas medicinais e chás,
respectivamente:
Figura 4 - Montagem das barracas Oficina de Plantas Medicinais e chás
Figu
ra 5
-
Fonte: Marina Araújo, Grupo FotoGrafias
No decorrer do ano de 2017 o Grupo Colméia Solidária participou ativamente das reuniões de
articulação e consolidação da feira na UFMG, entretanto no decorrer do ano de 2018 sua
participação ocorreu de forma bem pontual devido a outras agendas. É necessário considerar
também a parceria ocorrida entre o Grupo FotoGrafias, organizado pela professora Valéria
Amorim do Instituto de Geociências da UFMG (IGC), que começou a registrar imagens de
vários momentos importantes da feira, como reuniões, montagem e funcionamento.
Por outro lado, foi através da Feira da UFMG que ocorreu a possibilidade de um primeiro
contato com o Sistema Participativo de Garantia - SPG - um dos mecanismos de garantia que
integram o Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SISORG), previsto
no Decreto no 6.323, de 27 de dezembro de 2007, que regulamenta a Lei no 10.831 sobre a
agricultura orgânica. No formato de roda de conversas na feira, a Universidade proporcionou
a vinda do professor Luizinho do IFSul de Minas. Nesse momento, o docente apresentou a
experiência de criação do SPG Sul de Minas, o processo de funcionamento e sua consolidação
como Organismo Participativo de Avaliação de Conformidade - OPAC. Por meio disso, os
produtores associados à OPAC Orgânicos Sul de Minas conseguiram o Selo do Sistema
Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica. Nesse sentido, foi-se amadurecendo o
diálogo entre os integrantes da feira da UFMG e outros produtores da RMBH, tornando viável
o início de debates, articulações e a consolidação do processo de criação de um futuro SPG na
RMBH. Assim, como um dos critérios de participação da Feira da UFMG é necessário o
envolvimento das/os feirantes no SPG Metropolitano e/ou a busca pela transição
agroecológica.
Após a criação do Regimento Interno foi enfatizado que todos os participantes da feira devem
possuir produtos com uma porcentagem de ingredientes orgânicos e/ou agroecológico, sendo
que o prazo para transição será definido em conjunto com cada feirante. A comissão gestora,
terá a função de auxiliá-los na instituição dessa mudança, bem como articular o contato com
outras entidades as quais tenham a capacidade de ajudar nesse processo, como a EMATER-
MG, PBH.
A comunidade universitária já abraçou a feira, elegendo-a como o local das compras semanais
de alimentos. Percebe-se que há clientes fiéis da feira e de cada produtor, individualmente.
As/os consumidoras/es frequentemente contatam a organização buscando informar-se sobre
as datas das edições seguintes, a fim de programarem as próximas compras. Observa-se,
também, a busca pelos produtos comercializados na feira fora dos dias de sua realização.
Considerações finais
A Feira da UFMG está possibilitando a geração de trabalho e o aumento da renda para as/os
produtoras/es, comercializando grande diversidade de tipos de alimentos in natura e
beneficiados. Além da criação de circuitos curtos de produção e consumo, a feira possibilita
criar espaços para a construção do conhecimento e para a transição agroecológica na RMBH.
Referências Bibliográficas
ABA. Associação Brasileira de Agroecologia. Aspectos Conceituais sobre a Agroecologia. 2017. Disponível
em: http://agroecologia2017.com/ASPECTOS_CONCEITUAIS_SOBRE_AGROECOLOGIA.pdf Acesso em:
01 de agosto de 2018.
ALMEIDA, Daniela Adil Oliveira de. Isto e Aquilo - agriculturas e produção do espaço na Região
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LUCAS, Davi Fantuzzi. A importância da feiras agroecológicas para as cidades. Carta Maior. 2016.
Disponível em: <https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Meio-Ambiente/A-importancia-da-feiras-
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ORNELAS, Gabriel Mattos. Agroecologia e Regiões Metropolitanas: desafios e possibilidades para a gestão
local e regional na RMBH. Monografia. Belo Horizonte; Universidade Federal de Minas Gerais, 2017.