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NÚCLEO DE COMPLEMENTAÇÃO

PEDAGÓGICA
CURSO DE COMPLEMENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Coordenação Pedagógica – IBRA

APOSTILA

INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL:

CONCEITOS INICIAIS

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Inteligência e emoção são dois temas tradicionalmente polêmicos que,

mesmo após várias décadas de estudos, ainda despertam interesse e

fomentam debates dentro e fora do ambiente acadêmico, existindo, para cada

um deles, um vasto campo de teorização e pesquisa. Desde o século XIX a

inteligência humana tornou-se objeto de estudo de cientistas em todo o mundo,

quando Herbert Spencer e Francis Galton apontaram para uma capacidade

humana geral, distinta de todas as outras (Butcher, 1968/1972).

Nessa época, movidos pelo interesse em compreender os processos

mentais, neurologistas, psiquiatras psicólogos e outros estudiosos se


envolveram na investigação científica da inteligência, compreendida, então,

como uma capacidade geneticamente determinada.

Entretanto, as provas relacionadas a esta proposição teórica eram

muito frágeis, pois desprezavam as influências do meio e não efetuavam o

correto controle de variáveis, como idade e tempo de aplicação dos testes,

para avaliar a inteligência. Os estudos sobre a inteligência orientaram-se,

segundo a visão de Almeida (1996), por dois eixos básicos de definição: um

concebendo-a como um fator geral com função integradora das diversas

habilidades intelectuais (Binet & Simon, 1905; Wechsler, 1950) e outro tendo-a

como um conjunto de aptidões independentes (Guilford, 1959).

Dentro do primeiro enfoque de inteligência, surgiu em 1905 a primeira

escala satisfatória para avaliar diferenças intelectuais desenvolvida por Binet e

Simon, tendo sido significativamente alterada nos anos subsequentes. Em

1909, Burt publicou os primeiros testes padronizados para crianças tidas como

mentalmente deficientes (Butcher, 1968/ 1972).

A revisão das escalas Binet-Simon deu origem aos testes de Quociente

Intelectual Stanford-Binet, que passaram a levar em consideração, pela

primeira vez, a idade cronológica como uma variável importante para se

compreender o significado de idade mental (Telford & Sawrey, 1968/ 1977). O

modelo de inteligência que se constituiu com estes primeiros testes de

quociente intelectual (Q.I.) estimulou a visão da inteligência como a capacidade

de processamento de informações ligadas às habilidades necessárias para o

sucesso acadêmico. Isto ocorreu em função de se buscar avaliar os aspectos

relacionados às capacidades lógico-matemática e lingüística dos indivíduos, o

que proporcionou aos testes de inteligência ampla aceitação nos mais diversos
contextos e, em especial, no ambiente escolar, como forma de avaliar os

alunos e separá-los de acordo com o nível intelectual que apresentavam.

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O segundo eixo de concepção da inteligência orientou-se pelo

entendimento de que ela seria formada por conjuntos de aptidões

independentes. Guilford (1959) elaborou um modelo tridimensional de formato

cúbico para representar as categorias de funcionamento intelectual. As três

faces do intelecto, segundo o modelo de Guilford, dizem respeito à capacidade

de realizar operações, dar origem a produtos e manifestar conteúdos a nível

intelectual. As aptidões independentes apontadas por Guilford referem-se à

compreensão verbal, fluência verbal, aptidão numérica, rapidez perceptiva,

aptidão espacial, memória e raciocínio (Almeida, 1996).

Este modelo deu origem a uma bateria de testes multifatoriais muito

úteis para escolas e empresas, usados em situações de orientação vocacional

e avaliações psicológicas nos mais diversos contextos. Paralelamente a estes

estudos surgiram, nas primeiras décadas do século, as proposições iniciais


sobre inteligência social (Broom, 1928, 1930; McClatehy, 1929; Thorndike,

1936) cujo âmbito de interesse eram as habilidades para decodificar

informações do contexto social. Em 1966, O’Sullivan e Guilford elaboraram um

teste de seis fatores de inteligência social com vistas a representar, através

desta medida, a face comportamental do modelo de Guilford (1959; 1967)

sobre a estrutura do intelecto. Essa nova modalidade de inteligência foi,

posteriormente, revisada por Ford e Tisak (1983) e redefinida como um critério

comportamental, representado por habilidades para atingir objetivos relevantes

em ambientes sociais específicos. Essas proposições sobre a inteligência

social atribuíram maior ênfase ao processamento de informações produzidas

pelo meio social do que àquelas de cunho lógico-matemático e lingüístico tão

amplamente ressaltadas dentro do contexto acadêmico. Inicia-se, com a

inteligência social, uma tentativa de compreender a inteligência como um

fenômeno mais amplo. Dentro deste enfoque, as informações presentes no

meio social seriam os elementos principais que alimentariam o processo

intelectual. Redireciona-se, desse modo, o eixo central de teorização sobre

essas habilidades, saindo-se de um foco que priorizava o processamento de

estímulos lógico-matemáticos e linguísticos para uma ênfase nos sinais

produzidos pela vida social.


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A inteligência social, portanto, aparece como uma proposta de

compreender as capacidades intelectuais humanas tornando como área de

teorização o processo cognitivo de captar e decodificar, com habilidade,

informações providas pelo meio social e de apresentar estratégias

comportamentais eficazes para atingir objetivos sociais, dentro de um contexto

particular. Tal postura teórica é defendida pelos seus proponentes (Keating,

1978; Ford & Tisak, 1983) como uma complementação ao campo abarcado

pela visão tradicional de inteligência, a qual não contempla outras áreas de

habilidades relevantes para o processo educacional. Em 1995, Gardner

introduz, no meio cientifico, uma outra abordagem sobre a inteligência,

entendida como “capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos que

são importantes em um determinado ambiente ou comunidade cultural”

(Gardner, 1993/1995, p. 21). O autor argumenta que vários conjuntos de

habilidades humanas possuem as características necessárias para serem


classificadas como inteligências distintas. Configura-se, desta maneira, uma

inovadora leitura do intelecto humano denominada teoria das inteligências

múltiplas, constituindo uma visão pluralista do intelecto humano,

assemelhando-se àquela posição já anteriormente apresentada por Guilford.

Na proposição de Gardner, entretanto, a multidimensionalidade da inteligência

humana não seria constituída por um conjunto de aptidões independentes

como defendia Guilford mas, sim, por inteligências específicas que iriam se

manifestar na medida em que existisse a necessidade de criar um produto

cultural.

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Assim sendo, a abordagem das inteligências múltiplas, reconhecendo

as capacidades universais da espécie humana, baseia-se num sistema

computacional com base neurológica, tendo cada uma das inteligências

determinados tipos de informações internas e externas que as

desencadeariam. Em sua formulação teórica, Gardner identifica sete tipos de

inteligência. Mantendo em sua lista as já tradicionais inteligências lógico-

matemática e lingüística, ele inclui as inteligências musical, espacial e corporal-

cinestésica, ressaltando possíveis influências socioculturais sobre o potencial


humano e postula duas outras inteligências de cunho predominantemente

sócio-emocional, denominadas inteligência intrapessoal e interpessoal.

Esta teorização mescla a visão clássica com as recentes descobertas

neurofisiológicas sobre o funcionamento do intelecto. Assim, a grande

contribuição de Gardner para o estudo da inteligência é justamente a

sedimentação das mais diversas teorias que, há décadas, buscavam ampliar a

concepção de inteligência para além das habilidades acadêmicas. Em um outro

âmbito de produção científica, encontram-se os estudos relacionados ao tema

emoção. No século passado, em 1884, James foi o primeiro a sugerir que as

alterações fisiológicas que ocorrem no corpo são a base da experiência

emocional e que a percepção destas alterações no organismo é que

constituiriam a emoção (Cofer, 1972/1980).

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Essas primeiras formulações e as recentes descobertas no campo da

neurologia, como as relatadas por Damásio (1994/1996), tornaram-se

fundamentais para ampliar a compreensão das experiências emocionais. Este

autor descreve a emoção como alterações orgânicas de nível neural e quí-

mico, desencadeadas por estímulos externos ou internos, relacionados a


imagens mentais e pensamentos que sofrem influência do contexto social e

cultural onde se encontra o indivíduo. O autor afirma que este processo ocorre

sob o controle de estruturas subcorticais e também neocorticais, introduzindo

uma relação mais próxima entre emoção e as funções intelectivas do

neocortex.

Damásio (1994/1996) também propõe uma classificação dos

sentimentos divididos entre os de cunho emocional e os de fundo. Os primeiros

são relacionados à leitura de estados emocionais como alegria e tristeza e, os

segundos, à leitura da imagem do corpo quando o mesmo não se encontra

agitado pelos estados emocionais.

Assim, os sentimentos seriam os responsáveis pela cognição do

estado visceral, muscular e esquelético do corpo, o que permitiria ao indivíduo

efetuar uma leitura do que acontece durante os estados emocionais e de fundo.

Desta maneira, a justaposição das imagens do corpo, produzidas pelas

emoções, com outras imagens presentes ou despertadas na memória

estimulariam atribuição positiva ou negativa a uma determinada situação como

sendo, por exemplo, de prazer ou dor.

Damásio (1994/1996) supõe que os estados emocionais necessitam de

uma ligação neocortical para serem decodificados e compreendidos pelo

indivíduo. Suposições como essas talvez sejam os grandes influenciadores da

noção de que existam capacidades intelectivas específicas para a

decodificação dos estados emocionais e de todas as informações por eles

produzidas. Isto posto, é possível perceber, tanto na história da inteligência

como da emoção, um percurso teórico que gradativamente as aproxima.


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Observam-se que as proposições teóricas sobre a inteligência

paulatinamente passaram a levar em consideração as influências dos

estímulos sociais e dos aspectos emocionais, enquanto que a emoção teve sua

compreensão teórica cada vez mais relacionada às descobertas sobre os

centros neocorticais, responsáveis pelas funções intelectivas.

Os estudos realizados até então apontavam não para uma

superposição entre inteligência e emoção, mas, sim, para a compreensão da

influência do intelecto na leitura dos estados emocionais e, por outro lado, para

a influência das emoções sobre as funções neocorticais.

É notório que os conceitos de inteligência e emoção foram estudados

em dois blocos separados, mas o aprofundamento científico aproximou-os de

tal maneira que se tornou evidente a necessidade de uma nova teorização de

interdependência entre ambos. Proposições mais atuais, apresentadas por

diversos estudiosos (Damásio, 1994/1996; Goleman, 1995/1996; Lane,

Quinlan, Schwartz, Walker & Zeitlin, 1990; Mayer, DiPaolo & Salovey, 1990;

Mayer & Geher, 1996; Mayer & Salovey 1997; Salovey & Mayer, 1990), têm

apontado uma estreita relação entre intelecto e emoção.


Esta proposta de interdependência tornou-se teoricamente mais

organizada quando nos Estados Unidos, no início da década de noventa,

Salovey e Mayer apresentaram a concepção de inteligência emocional,

definindo-a como a “habilidade de monitorar sentimentos e emoções pessoais

e alheias, realizar discriminações entre elas e usar essas informações para

guiar os próprios pensamentos e ações” (p. 189). As proposições de Salovey e

Mayer (1990) descrevem os processos mentais relativos à informação

emocional, incluindo avaliação e expressão das emoções, sua regulação e

utilização. Estes processos, subjacentes à inteligência emocional, teriam início

quando informações de natureza afetiva fossem captadas pelo sistema

perceptivo.

O primeiro processo mental diz respeito a avaliação e expressão das

emoções pessoais e dos outros. Em relação a si mesmo, o indivíduo baseia-se

na observação de informações verbais e não verbais para realizar sua auto-

avaliação e escolher a melhor maneira de expressar suas próprias emoções.


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Em relação ao outro, o indivíduo utilizaria manifestações não verbais

de comportamento e de sua empatia pessoal para efetuar a avaliação da

expressão de estados emocionais alheios.

O segundo processo mental inclui a regulação das emoções, ou o

controle delas, em si mesmo e nos outros. Em si mesmo, permitiria ao

indivíduo regular e direcionar seus humores e, na relação com o outro,

favoreceria a regulação das relações alheias, ou seja, facilitaria avaliar

respostas afetivas externas e escolher o melhor comportamento social a ser

emitido durante a interação social.

O terceiro processo constitui a utilização das emoções durante a

resolução de problemas cotidianos, ou que requeiram complexidade de

raciocínio. Nessas situações, segundo Salovey e Mayer (1990), o uso correto

das emoções possibilitaria ao indivíduo elaborar com maior habilidade planos

para o futuro, ter pensamentos criativos, ser capaz de dosar e direcionar sua

atenção e seu bom humor e, ao mesmo tempo, motivar-se, persistindo, mesmo

diante de dificuldades, em seus propósitos anteriormente estabelecidos.


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Com o surgimento do conceito de inteligência emocional, criou-se um

eixo específico de teorização sobre processamento de informações de

natureza emocional, tornando mais amplas as ideias elaboradas por Gardner

(1993/1995) quando apresentou as inteligências intrapessoal e interpessoal

como duas modalidades de habilidades cognitivas para lidar com conteúdo

emocionais. Por outro lado firmou-se, definitivamente, um campo de pesquisa

em que as habilidades intelectivas tornaram-se associadas às experiências

emocionais.

Em 1996, também nos Estados Unidos, dando sequência à discussão

sobre inteligência emocional, Goleman supõe que ela reja a maior parte das

relações e experiências cotidianas e, diferentemente das aptidões acadêmicas,

permitiria que as pessoas se saíssem bem em suas atividades cotidianas. Para

Goleman (1995/1996), o conceito de inteligência emocional pauta-se em cinco

habilidades básicas e interdependentes denominadas por autoconsciência,

automotivação, autocontrole, empatia e sociabilidade.

As três primeiras referem-se a exames de reações do eu e ao que o

indivíduo faz com seus próprios sentimentos, enquanto que as duas últimas

voltam-se para fora, em direção aos sentimentos dos outros e às interações

sociais. Dentre as habilidades citadas por Goleman (1995/1996), a

autoconsciência pode ser considerada a mais importante, uma vez que ela

abre caminho às demais habilidades.

A autoconsciência permitiria ao indivíduo perceber, observar, distinguir

e nomear seus próprios sentimentos, de modo a se reconhecer e aceitar-se em

seus mais diversos estados emocionais. Há na literatura alguns conceitos que

fazem fronteira conceitual ou se sobrepõem à definição de autoconsciência. A


autoimagem (Advinícula, 1991; Erthal, 1986) refere-se à percepção do eu e à

representação que o indivíduo faz de si mesmo.

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O autoconceito (Diniz & Mettel, 1986; Farias & Carvalho, 1987;

Mendonça, 1989; Novaes, 1985; Rodrigues, 1985; Tamayo, 1981) diz respeito

à elaboração de um juízo a respeito do eu e à capacidade de fazer distinções a

respeito das ocorrências internas. A inteligência intrapessoal, definida por

Gardner (1993/1995) como acesso e discriminação entre os sentimentos

pessoais constitui também um correlato à habilidade denominada

autoconsciência.

A automotivação, segunda habilidade da inteligência emocional, seria a

capacidade de elaborar metas para si mesmo, persistindo e entusiasmando-se

com os objetivos pessoais. É a capacidade de resistir a quaisquer obstáculos

que impeçam a concretização de metas pessoais, envolvendo, no indivíduo

que a retém em alto nível, elevado grau de esperan- ça e otimismo.


A automotivação assemelha-se aos conceitos de crescimento pessoal

e propósitos na vida apresentados por Ryff (1989), que referem-se à

elaboração de metas, ao seu avanço, à crença em sua concretização e

confiança nos próprios objetivos, bem como abertura a novas experiências. O

autocontrole, por sua vez, refere-se à capacidade de administrar sentimentos e

desenvolver habilidades pessoais para atingir metas anteriormente estipuladas.

Um nível elevado de autocontrole levaria o indivíduo a reinterpretar a

situação ocorrida e dar-lhe um significado mais positivo, além de possibilitar o

adiamento de um impulso momentâneo em prol de uma meta futura. Conceitos

como autocontrole e autonomia (Ryff, 1989), percepção de controle pessoal

(Barroso, 1975) e locus de controle (Levenson, 1981; Tamayo, 1989)

promovem uma compreensão completível a esta habilidade, uma vez que

definem-se pelo entendimento dos indivíduos a respeito do que acontece em

suas reações e atuações pessoais, bem como de que forma percebem a

ocorrência dos fatos que permeiam suas vidas.

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Como quarta habilidade da inteligência emocional, a empatia encontra-

se como um conceito vastamente estudado (Chlopan, McCain, Carbonell &


Hager, 1985; Santana, 1989). Constitui-se na habilidade de perceber os

sentimentos dos outros, através da leitura e compreensão de comportamentos

não verbais de comunicação, tais como expressões faciais, tom de voz e

postura corporal. Santana, Alta e Bastos (1993) elucida que a empatia possui

um componente cognitivo (se o indivíduo sente da mesma maneira como a

outra pessoa) e um componente motivacional (se a empatia, quando

experienciada, leva o indivíduo a fazer algo).

A inteligência interpessoal, proposta por Gardner (1993/1995), abarca o

conceito de empatia, pois é definida como “a capacidade de observar e fazer

distinções entre os indivíduos e, em particular, entre seus humores,

temperamentos, motiva- ções e intenções” (p. 185). Dessa forma, a habilidade

denominada por empatia permite que um indivíduo hábil leia as intenções e

desejos das pessoas que o cercam, além de possibilitar a este mesmo

indivíduo percepção mais acurada dos sentimentos do outro.

Define-se como sociabilidade, quinta habilidade da inteligência

emocional, a capacidade de iniciar, aprofundar e manter relações sociais. Ter

alta sociabilidade significa ser capaz de substituir sentimentos negativos por

outros positivos e disseminá-los naqueles que estão ao redor, tornando os

relacionamentos extensos, profundos e verdadeiros. Os conceitos de

inteligência social (Ford & Tisak, 1983), domínio do ambiente (Ryff, 1989),

competência social (Del Prette, Del Prette & Correia, 1992), competência

interpessoal (Buhrmester & Furman, 1988) e habilidades sociais (Hidalgo &

Melo, 1991; Gresham, 1992; Del Prette, Del Prette, Torres & Pontes, 1998),

descritos na literatura, guardam rela- ções conceituais estreitas com a noção

de sociabilidade.
Assim como a inteligência social definida por Ford e Tisak (1983), as

outras definições tratam de comportamentos que um indivíduo emite em um

contexto social de modo a aplicar estratégias adequadas e satisfatórias para

seus relacionamentos.

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As diversas suposições, atuais ou mais antigas, que dão suporte

conceitual e teórico à estrutura do recente conceito de inteligência emocional,

têm em comum a importância atribuída aos fenômenos psíquicos que se

relacionam com a configuração interna do indivíduo como também àqueles que

fortalecem uma interdependência equilibrada entre ele e seu meio social.

Desse modo, entende-se que as três habilidades denominadas

autoconsciência, automotivação e autocontrole seriam as bases de natureza

psicológica responsáveis pelo fortalecimento das estruturas internas do

indivíduo, enquanto as outras duas, empatia e sociabilidade, constituiriam os

componentes psicossociais que assegurariam a sua competência no mundo

social.

Assimilando as diversas concepções sobre a inteligência humana aqui

apresentadas, entende-se que a inteligência emocional configura-se como um


constructo de natureza cognitiva, cujo elemento primordial de sua constituição

seriam as informações de cunho emocional produzidas pelo próprio indivíduo

quando experiência emoções e as organiza em forma de sentimentos, bem

como informações oriundas do meio social fornecidas pela expressão de

emoções e sentimentos dos outros.

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DEFINIÇÕES DAS CINCO HABILIDADES

INTEGRANTES DA INTELIGÊNCIA

EMOCIONAL
Autoconsciência:

Conotação positiva: facilidade de lidar com os próprios sentimentos no que se

refere a identificação, nomeação, avaliação, reconhecimento e atenção a estes

sentimentos.
Conotação negativa: dificuldade de lidar com os próprios sentimentos no que

se refere a identificação, nomeação, avaliação, reconhecimento e atenção a

estes sentimentos.

Automotivação:

Conotação positiva: facilidade de elaborar planos para a própria vida, de

modo a criar, acreditar, planejar, persistir e manter situações propícias para a

concretização das metas futuras. Manter-se esperançoso e otimista nas

diversas fases da vida.

Conotação negativa: dificuldade de elaborar projetos para a vida. Duvidar dos

projetos e ser pessimista e desesperançoso.

Autocontrole:

Conotação positiva: facilidade de administrar os próprios sentimentos,

impulsos, pensamentos e comportamentos.

Conotação negativa: dificuldade de administrar os próprios sentimentos,

impulsos, pensamentos e comportamentos.

Empatia:

Conotação positiva: facilidade de identificar os sentimentos, desejos,

intenções, problemas, motivos e interesses dos outros, através da leitura e

compreensão de comportamentos não verbais de comunicação, tais como,

expressões faciais, tom de voz e postura corporal.

Conotação negativa: dificuldade de identificar os sentimentos, desejos,

intenções, problemas, motivos e interesses dos outros, através da leitura e

compreensão de comportamentos não verbais de comunicação, tais como,

expressões faciais, tom de voz e postura corporal.

Sociabilidade:
Conotação positiva: facilidade de iniciar e preservar as amizades, ser aceito

pelas pessoas, valorizar as relações sociais, adaptar–se a situações novas,

liderar, coordenar e orientar as ações das outras pessoas.

Conotação negativa: dificuldade de iniciar e preservar amizades, ser pouco

aceito pelas pessoas, evitar reuniões sociais, não adaptar-se a situações

novas, bem como possuir dificuldades em liderar e coordenar grupos ou ações

de outras pessoas.

O conceito de Inteligência Emocional (IE) surgiu no âmbito acadêmico,

em 1990, formalizado pelos pesquisadores Peter Salovey (Yale University) e

John Mayer (University of New Hampshire), que introduziram o termo na

literatura científica por meio de dois artigos (Mayer, DiPaolo & Salovey, 1990).

Na primeira publicação, de natureza teórica, os autores propuseram uma

definição inicial de inteligência emocional como sendo “a habilidade para

controlar os sentimentos e emoções em si mesmo e nos demais, discriminar

entre elas e usar essa informação para guiar as ações e os pensamentos”

(Mayer, DiPaolo, & Salovey, 1990, p. 189).

O segundo artigo ofereceu as primeiras demonstrações empíricas de

como a inteligência emocional poderia ser considerada como uma habilidade

mental. Apesar de ter se originado na comunidade acadêmica – ou talvez por

isso –, o novo conceito passou praticamente inadvertido, até que, em 1995, o

psicólogo e redator científico Goleman (1995) publicou o livro, que viria a ser

um bestseller mundial, intitulado Inteligência Emocional. Apoiando-se em

pesquisas sobre o cérebro, as emoções e a conduta, o autor explana, em

linguagem acessível e persuasiva, as concepções em torno da inteligência de

tipo emocional e, baseando-se no conceito inicialmente formulado por Mayer e


Salovey (1990), concebe uma perspectiva mais ampla de IE, acrescentando, às

habilidades cognitivas, vários atributos da personalidade.

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Para Goleman (1995), a IE inclui características como a capacidade de

motivar a si mesmo, de perseverar no empenho apesar das frustrações, de

controlar os impulsos, de adiar as gratificações, de regular os próprios estados

de ânimo, de evitar a interferência da angústia nas faculdades racionais, de

sentir empatia, de confiar nos demais, etc. Apesar do apanhado de concepções

teóricas bem comentadas ao longo da obra, das histórias ilustrativas usadas,

das abundantes referências científicas e das explicações sobre a IE, a nosso

ver, Goleman (1995), nessa ocasião, não oferece uma definição conceitual

clara de inteligência emocional.

Essa expansão do conceito, embora amplamente difundida

popularmente, tem recebido muitas críticas no âmbito científico. Nesse sentido,

Mayer, Salovey e Caruso (2002) criticam o uso do termo inteligência emocional

para fazer alusão a áreas amplas da personalidade, que vão além da

emocional e da cognitiva. Também julgam inadequado considerar a teoria de

Goleman como científica, posto que, segundo os pioneiros do conceito, ela “foi
inicialmente apresentada como uma narrativa jornalística de [sua] própria teoria

[de Salovey e Mayer]” (Mayer, Salovery & Caruso, 2002, p. 88), não

apresentando nenhuma contribuição ou formulação teórica própria.

Da mesma forma, Hedlund e Sternberg (2002) consideram que uma

das limitações do uso que Goleman faz do termo inteligência emocional

consiste no fato de ele incluir, dentro desse construto, tudo o que não seja o

Q.I. Igualmente, esses autores defendem que o trabalho de Goleman está

fundamentalmente embasado em “evidências anedóticas e extrapolações

questionáveis de pesquisas passadas” (Hedlund & Sternberg, 2002, p. 118).

Navas e Berrocal (2007) destacam duas consequências do trabalho de

Goleman: uma positiva e outra negativa. Por um lado, o êxito do best-seller

dinamizou e favoreceu o interesse pela IE, mas, por outro, tergiversou em certa

medida as ideias de Salovey & Mayer (1990), desviando o conceito para o

campo dos traços da personalidade. Segundo Mestre (2003), as habilidades

sociais e pessoais que Goleman (1995) inclui em sua proposta de IE são tantas

e tão abrangentes que configurariam a um ser humano perfeito, cujo perfil,

obviamente, seria garantia de êxito.

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Em defesa de sua proposta integradora da inteligência emocional,

Boyatzis, Goleman e Rhee (2002, p. 253) sustentam que “se for definido como

um conceito único, o termo inteligência emocional pode ser ilusório e sugerir

uma associação com a capacidade cognitiva tradicionalmente definida [fator

g].” Argumentam que um conceito integrador seria ideal para oferecer um

modelo teórico para a organização da personalidade e para a conexão entre a

inteligência emocional e uma teoria de ação e desempenho no trabalho.

O interesse deflagrado pela propagação do termo inteligência

emocional mobilizou também os criadores do construto que, preocupados com

a variedade de definições, reinvenções e reivindicações da importância do

conceito, tomaram algumas medidas cautelares no sentido de preservar o

cientificismo da IE. Assim sendo, revisaram e clarificaram o conceito primitivo e

estabeleceram uma nomenclatura para diferenciar os Modelos de Inteligência

Emocional centrados nas habilidades cognitivas (modelos de aptidões ou

habilidades) daqueles que incluíssem traços de personalidade, fatores

motivacionais ou outros (modelos mistos).

Os primeiros são, portanto, mais restritos e os segundos, mais

abrangentes. Na revisão conceitual, Mayer e Salovey (2007) procuraram

focalizar a IE como um conjunto de aptidões, capacidades ou habilidades

mentais, aproximando-a mais do campo de estudos da inteligência. A IE passa

a ser definida, mais precisamente, em termos de quatro grupos de habilidades

relacionadas:

A inteligência emocional implica a habilidade para perceber e

valorar com exatidão a emoção; a habilidade para acessar e ou

gerar sentimentos quando esses facilitam o pensamento; a


habilidade para compreender a emoção e o conhecimento

emocional, e a habilidade para regular as emoções que

promovem o crescimento emocional e intelectual (Mayer &

Salovey, 1997/2007, p. 32).

A percepção e identificação emocional se referem à habilidade para

perceber e identificar as emoções próprias e alheias, incluindo na voz das

pessoas, nas obras de arte, na música, nas histórias. O segundo componente,

a facilitação emocional, envolve a habilidade para usar as emoções para

facilitar os processos cognitivos (na solução de problemas, tomada de

decisões, relações interpessoais). Compreender a emoção implica conhecer os

termos relacionados com as emoções e as formas como estas se combinam,

progridem e mudam.

O último nível, o de regulação emocional, trata da habilidade de saber

usar estratégias para mudar os próprios sentimentos e saber avaliar se elas

são eficazes ou não. Mayer e Salovey (2007) creem que essa definição

atualizada consegue unir as ideias de que a emoção nos faz pensar mais

inteligentemente e, por outro lado, pensamos inteligentemente sobre as

emoções. O Modelo de Inteligência Emocional como Aptidão (Salovey &

Mayer, 1990; Mayer & Salovey, 2007) coexiste com o Modelo de Competências

Emocionais (Goleman, 1995), Modelo de Inteligência Social e Emocional

(BarOn, 1997) e, com menor expressividade, com o Modelo de Cooper e Sawaf

(1997).

Embora a proposta de Goleman seja a mais divulgada, no âmbito

acadêmico o Modelo de Aptidões tem sido considerado como autêntico modelo

explicativo da IE (Mestre, 2003) e tem se consolidado na Psicologia como


modelo de referência para as pesquisas na área devido ao rigor teórico e

empírico, tanto no que se refere à formalização conceitual, quanto aos

instrumentos de medida de auto informe e de execução, cujas

experimentações têm aumentado seu índice de fiabilidade; também tem sido

considerado como o mais factível para o desenvolvimento de programas de

intervenção (Pacheco & Berrocal, 2005). A elucidação do construto da IE tem

ocorrido de forma paulatina, porém constante. A aceitação do seu status de

inteligência ainda encontra muitas resistências, mas também tem recebido

muito apoio científico.

http://www.masquenegocio.com/wp-content/uploads/2015/02/inteligencia-emocional-

empresa.jpg

A esse respeito, Bechara, Trane e Damásio (2002, p. 163) prestam

uma inestimável contribuição à compreensão das evidências neurológicas da

IE, partindo dos resultados das pesquisas em pacientes com lesões bilaterais

do córtex pré-frontal ventro-mediano. Tais descobertas demonstram a

influência das emoções nas funções cognitivas e comportamentais do

indivíduo, incluindo a memória e a tomada de decisão, e dão um bom exemplo

de que possuir conhecimentos e um Q.I. elevado não bastam para que as


decisões tomadas pela pessoa representem escolhas vantajosas para sua vida

pessoal e social.

De acordo com esses pesquisadores, o prejuízo na capacidade de lidar

eficazmente com as exigências sociais e ambientais, observado na conduta

dos pacientes estudados, deve-se a um déficit na sua habilidade de

processamento de sinais emocionais. Para eles, “isso proporciona amplas

evidências para a noção de que as emoções são os ingredientes de uma forma

distinta de capacidade, que é crítica para a inteligência global na vida social”

Bechara et al. (2002, p. 162). Encerram sua colaboração com uma conclusão

afiançadora:

Nossos estudos de pacientes neurológicos não defendem um

modelo de inteligência emocional em detrimento de outro.

Entretanto, nossas pesquisas proporcionam fortes evidências

para o principal conceito de inteligência emocional, a qual pode

ser vista como um conjunto de aptidões emocionais que

constituem uma forma de inteligência diferente da inteligência

cognitiva ou do QI. Essa inteligência emocional faz com o

indivíduo seja socialmente mais eficaz em certos aspectos da

vida do que outros indivíduos.

Essa afirmação cobra especial relevância considerando-se a grande

contribuição que a Neurociência tem proporcionado à elucidação das emoções

e dos sentimentos na mente humana. O avanço das pesquisas de Damásio e

colaboradores evidenciaram que as emoções e os sentimentos não só podem

ser abordados, medidos, explicados e compreendidos cientificamente, como

também podem ser distinguidos neurobiologicamente.


Em função dessa descoberta, Damásio (1996, 2000, 2004) usa de

forma distinta os dois termos. O termo emoção fica reservado para referir-se ao

“conjunto de mudanças que ocorrem quer no corpo, quer no cérebro e que

normalmente é originado por um determinado conteúdo mental” (Damásio,

1996, p. 301), enquanto o termo sentimento é usado para referir-se à

percepção dessas mudanças. De acordo com essa teoria, “ao contrário da

opinião científica tradicional, [as emoções e os sentimentos] são tão cognitivos

como qualquer outra percepção” (Damásio, 1996, p. 15).

Outro aspecto da pesquisa de Damásio que precisa ser melhor

apreciado pelos estudiosos da IE é a relação entre as emoções e a

consciência. As emoções são componentes essenciais do kit de sobrevivência

com o qual nascemos equipados. Nós, humanos, além das emoções, podemos

ser capazes de ter sentimentos e de saber que os temos. Esse saber que

temos sentimentos só é possível porque temos consciência. Segundo Damásio

(2000, p. 80), “a consciência permite que os sentimentos sejam conhecidos e,

assim, promove internamente o impacto da emoção, permite que ela, por

intermédio do sentimento, permeie o processo do pensamento”. Para Damásio,

tanto a emoção como a consciência estão ligadas à sobrevivência do

organismo.

Em outras palavras, a consciência amplia a proteção proporcionada

pelo nosso kit de sobrevivência. Acreditamos que essa relação entre emoção e

consciência é especialmente importante para explicar a habilidade de

administrar ou regular as emoções. Todas essas contribuições da neurociência

têm proporcionado uma visão mais conciliadora e integradora às clássicas

dicotomias razão versus paixão, pensamento versus sentimento, cabeça


versus coração, cognição versus emoção... Termos como conciliar e integrar

merecem ser ressaltados nessa fase da pesquisa no campo da IE.

A constatação de que “a cognição não é tão lógica como se pensava

outrora, e nem sempre as emoções são tão irracionais” (LeDoux, 2001, p. 33)

não deve conduzir a outro antagonismo: inteligência emocional versus

inteligência cognitiva. Às vezes, as discussões sobre a natureza da inteligência,

incluída a emocional, tendem a sugerir uma substituição de inteligências ou

uma alternância de posição de supremacia. Essa advertência será mais bem

compreendida nos parágrafos seguintes, especialmente quando fazemos

referência à “metáfora do elefante”.

O construto da IE une dois complexos campos de estudo que têm uma

larga história na Psicologia. Apesar da abundante produção científica das duas

áreas de conhecimento, ambas têm questões cruciais a serem esclarecidas

acerca da natureza de seus respectivos objetos principais de estudo: a

inteligência e a emoção. Sobre a emoção já foram apresentadas algumas

relevantes e atuais considerações para justificar o uso do termo emocional na

configuração da inteligência em análise. Segundo LeDoux (2001, p. 22), “os

cientistas não estão conseguindo chegar a um acordo quanto ao que sejam as

emoções”; mas essa falta de consenso não impede o avanço da pesquisa em

IE. E quanto à inteligência?

Para situar a IE nesse campo, faremos uma digressão nos próximos

parágrafos para tratar da inteligência. Em dois históricos momentos, em 1921 e

em 1986, pesquisadores de reconhecido prestígio no âmbito da Psicologia

foram convidados a responderem à pergunta: O que é a inteligência?


Além de emitirem seu parecer acerca do conceito de inteligência e a

melhor forma de medi-la por testes coletivos, os psicólogos selecionados

deveriam indicar futuras direções para a pesquisa na área em debate.

Contrastando os dois simpósios, as conclusões são as seguintes:

a) o campo de estudo da inteligência evoluiu, passando de uma

atenção primordial aos aspectos psicométricos a um interesse maior pelo

processamento da informação, o contexto cultural e a interação entre ambos;

b) a compreensão da conduta inteligente passou a ser mais importante

do que a sua predição;

c) houve avanço quanto à compreensão das bases cognitivas e

culturais relacionadas com os resultados dos testes de Q.I.;

d) as definições de inteligência estão mais bem elaboradas, apesar de

não haver consenso na aceitação de uma delas;

e) o estudo da inteligência se situa num contexto social mais amplo; f)

houve pouco avanço, se é que realmente se avançou, quanto aos problemas

relativos à natureza da inteligência, e continua preocupando o dilema da

unicidade frente à multiplicidade (Sternberg & Berg, 2003; Detterman, 2003).

Duas décadas depois da realização do segundo simpósio, continuam

os esforços por conseguir definir “um construto escorregadio em um campo

escorregadio: o da inteligência” (Sternberg & Detterman, 2003, p. 16). Segundo

Horn (2003), em sua participação no segundo simpósio, a quase inutilidade das

tentativas de descrever a inteligência se deve à insistência em tratá-la como

uma “entidade unitária”, quando os conhecimentos disponíveis na atualidade

lhe sugeriam que o termo inteligência denota uma mistura de fenômenos


importantes. Segundo ele, para entender essa “mistura confusa”, a

investigação devia partir daquilo que já se conhece. E o que se conhece:

Aponta para uma idéia da capacidade intelectual humana como

algo integrado por diferentes “inteligências”, que têm diferentes

determinantes genéticos e ambientais, que estão a serviço de

diferentes funções da personalidade, que se baseiam em

histórias filogenéticas e ontogenéticas distintas e que se

relacionam de modo diferente com as predições dos resultados

profissionais, educativos, adaptativos e de ajuste. (Horn, 2003, p.

113).

Nesse sentido, a inteligência emocional surge como uma forma

alternativa de explicação à natureza da inteligência, integrando-se ao grupo

das habilidades mentais consideradas emergentes. Essas habilidades

emergem das teorias que têm reivindicado uma reformulação da compreensão

clássica da inteligência como uma capacidade geral, comumente designada

fator g, que pode ser medida em algumas horas, pelos testes de Q.I., aferindo

conhecimentos linguísticos, lógico-matemáticos e espaciais.

No entanto, as propostas alternativas de inteligência demonstram que o

Q.I. pode ser muito eficaz para predizer o sucesso acadêmico (mede a

inteligência acadêmica), mas não garante o êxito na vida real. Sternberg (1997,

p. 24-25), um dos mais reconhecidos representantes contemporâneos da

pesquisa em inteligência, diz que “a idéia de relacionar o coeficiente intelectual

com os logros na vida é uma idéia descabelada, pois o coeficiente intelectual é

um elemento pobríssimo de predição dos logros na vida”.


Partindo dessas constatações, os pesquisadores emergentes desse

movimento científico de reforma das concepções de inteligência humana têm

sugerido definições menos restritas, enfatizando a natureza multifacetada da

inteligência humana. Para marcar essa oposição à unicidade conceitual, os

teóricos têm adotado o uso de qualificativos que enfatizam o aspecto que se

prioriza em sua concepção de inteligência.

Nesse elenco de inteligências emergentes destacam-se a inteligência

prática, exitosa, plena (Sternberg, 1985, 1997), as inteligências múltiplas

(Gardner, 1983) e a inteligência emocional (Salovey & Mayer, 1990; Goleman,

1995; Bar-On, 1997).

http://blog.smconectados.com/wp-

content/uploads/2014/05/inteligencia_emocional_blog_educacion.jpg

Embora essas propostas representem abordagens diferentes,

compartem alguns pontos de vista: a) distanciam-se da visão unitária da

inteligência; b) discordam do conteúdo e/ou da forma de avaliação clássica das

capacidades intelectuais; c) postulam a existência de outros fatores na


configuração da inteligência humana; d) esses fatores (que variam segundo a

abordagem) seriam, em certa medida, os responsáveis pelo sucesso na vida.

Observando a multiplicidade de enfoques sobre a inteligência, parece

bastante oportuno relembrar a metáfora do elefante, resgatada por Humphreys

(2003) em sua contribuição no segundo simpósio, para ilustrar a complexidade

desse campo de estudos que cada pesquisador tenta abarcar desde sua

perspectiva teórica sem, contudo, conseguir fazê-lo de forma totalmente

aceitável, adequada e convincente. Para Humphreys (2003, p. 119):

É uma tentação comparar os psicólogos, que tratam da

inteligência, com os cegos que, situados ante diferentes partes

da anatomia de um elefante, tentavam descrever este animal.

Não somente os diferentes psicólogos descrevem a inteligência

de distintas maneiras, senão que, alguns deles, também se

comportam como cegos que, sem tocar a totalidade da

anatomia, especulam acerca do elefante ideal ou das qualidades

intrínsecas da “elefanticidade”. Iniciar a descrição da totalidade

do elefante é um objetivo científico que pode ser alcançado se

cada uma das partes interessadas aceita a limitação de sua

experiência e deseja colaborar entre si. É preciso ter consciência

de que estamos observando o [mesmo] elefante.

Qual é a parte do elefante que compete à Inteligência Emocional

analisar? Como a IE pode contribuir à compreensão da “elefanticidade”? Essas

respostas já começaram a surgir, mas, por enquanto, elas ainda são

aproximativas, incompletas, oscilantes.

Certamente, considerando o ritmo de produção na área, dentro de

alguns anos essas respostas serão menos hipotéticas e mais constatáveis.

Não obstante os escassos anos de existência (menos de duas décadas), o


construto da IE superou o interesse popular e tem se consolidado na esfera

científica.

Atualmente, o campo da IE conta com uma sólida base teórica

proporcionada por diferentes linhas de pesquisa, das quais se originaram os

modelos teóricos disponíveis, os instrumentos de avaliação, alguns deles

empiricamente corroborados.

http://www.22bebes.com/blog/wp-content/uploads/Sin-t%C3%ADtulo.jpg

Foi tema monográfico de conceituadas revistas de divulgação

científica, como, por exemplo: Emotion (2001, vol. 1), Psychological Inquiry

(2004, vol. 15), Journal of Organizacional Behavior (2005, vol. 26), Psicothema

(2006, vol. 18), Ansiedad y Estrés (2006, vol.12/ nº 2-3). Recentemente, o

construto foi debatido no I Congresso Internacional de Inteligência Emocional,

sediado pela Universidade de Málaga (Espanha), em setembro de 2007, do

qual participaram mais de duzentos pesquisadores, de diferentes partes do

mundo, com o objetivo de: revisar os modelos teóricos existentes, analisar os


avanços no que tange à avaliação da IE e mostrar o impacto da IE no campo

aplicado.

A publicação dos anais do evento dará uma idéia mais fidedigna dos

reais avanços na área. Em um interessante trabalho realizado com o intuito de

analisar a importância da IE como novo âmbito de estudos da Psicologia, os

pesquisadores Salgueiro, Iruarrizaga e Berrocal (2004) proporcionam uma

visão aproximada de como se desenvolveu e evoluiu o conceito desde sua

aparição, em 1990. Tomando como fonte de informação a maior base de dados

internacional de Psicologia (PsychoInfo), os autores revisaram todas as

publicações que se referiram à inteligência emocional, na forma de artigo e

livro/capítulo de livro. Os resultados indicaram a existência de um progressivo

interesse pelo construto, principalmente a partir de 1997, coincidindo com o

período em que começa a proliferar a elaboração de medidas de avaliação da

IE e a surgirem os primeiros estudos relacionando o conceito com diferentes

áreas.

http://www.qbconsultores.com/wp-content/uploads/2012/09/EI.png

Também se constatou que entre os três principais representantes dos

Modelos de IE (Mayer e Salovey, 2007; Bar-On, 1997; Goleman, 1995), os que


mais publicações realizaram no período analisado foram Mayer e Salovey,

tanto se consideradas as publicações individuais como conjuntas, somando um

total de 90 trabalhos de sua autoria, em contraste com a diminuta quantidade

de publicações de Bar-On (2 livros e ou capítulos) e Goleman (3 livros e ou

capítulos). Essa expressiva diferença quantitativa confirma a consolidação e

persistência das pesquisas dos autores do conceito de IE no âmbito

acadêmico.

Quanto à vinculação do conceito IE com outros âmbitos de estudo,

observa-se a predominância de quatro áreas aplicadas: Educação (118

publicações); Saúde (73 publicações); Liderança (70 publicações) e Ajuste

Social (44 publicações). Os autores concluem que o conceito de IE evoluiu

notavelmente nos seus primeiros catorze anos de existência e destacam, como

principais contribui- ções para alcançar esses resultados, as proporcionadas

por Mayer e Salovey, tanto no que tange à abordagem teórica, quanto no que

se refere aos instrumentos de avaliação de seu Modelo de Inteligência

Emocional.

http://magcoaching.es/wp-content/uploads/2014/07/Inteligencia-emocional.png

A análise desenvolvida neste artigo mostra que a inteligência constitui

um campo de pesquisa instigante, atrativo e fecundo. Há muito que desvendar


ainda sobre a sua natureza. Assim sendo, seria naturalmente esperável que

qualquer proposta teórica desenvolvida nessa área provocasse reações

científicas, sejam elas favoráveis ou contrárias ao que se propõe. Em linhas

gerais, a inteligência emocional tem mobilizado os estudiosos da inteligência.

Na Espanha, por exemplo, a Universidade de Málaga tem se

convertido no principal centro de referência da pesquisa em IE nesse país,

desenvolvendo uma profícua linha de pesquisa baseada no modelo de

aptidões. Além das numerosas contribuições em revistas científicas nacionais e

internacionais, da publicação do primeiro manual de inteligência emocional em

Espanhol (2007), entre outras obras (Berrocal & Díaz, 2002, 2004), o grupo de

pesquisa malaguenho encabeça um programa de Doutorado em Inteligência

Emocional.

No Brasil, estima-se que o best-seller de Goleman (1995) alcançou a

cifra de 360 mil exemplares vendidos, segundo informações divulgadas pela

revista Mente e Cérebro, em 2007, nº 179, Ano XV, no artigo intitulado

“Emoção: a outra inteligência”. No entanto, mais que o impacto popular,

interessava-nos conhecer o impacto científico da inteligência emocional no

ambiente científico brasileiro. No intuito de explorar o campo da pesquisa em

Inteligência Emocional no Brasil, analisamos a produção acadêmica

proveniente dos cursos de pós-graduação stricto sensu para averiguar em que

medida o construto da IE tem sido objeto de estudo nos programas de

Mestrado Profissionalizante (MP), Mestrado Acadêmico (MA) e Doutorado.

Os cursos na modalidade stricto sensu se caracterizam,

essencialmente, pela cientificidade, tendo, portanto, uma função dinamizadora

na pesquisa nacional. Há, conseqüentemente, um estreito vínculo entre a


produção científica e a universidade, determinado por fatores históricos e

medidas políticas de fomento ao desenvolvimento nacional, por meio da

qualificação docente. Por isso, optamos por explorar a produção científica

relacionada com o construto da IE mediante cursos de pós-graduação,2 âmbito

privilegiado e prioritário da pesquisa brasileira.

A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

A Inteligência Emocional tem como um dos pontos de suporte o estudo

de um grupo de pesquisa, que teve como objetivo principal demonstrar uma

visão pluralista da mente (Gardner, 1995:13).

Após analisar as diferentes capacidades em crianças normais e como

estas capacidades se manifestam sobre condições de dano cerebral,

investigadores envolvidos na pesquisa apontada pelo autor concluíram que as

facetas da inteligência caminham muito além do simples pensamento

cognitivista, para uma concepção pluralista de inteligência.

Os pesquisadores do grupo de pesquisa de Gardner (1995), admitem

ser possível uma infinidade de classificações para esta pluralidade de

inteligências, mas, por uma questão metodológica, e considerando como base

para outros tipos de inteligência, apresentaram inicialmente sete tipos: a


Inteligência Lingüística, a Lógico-Matemática, a Musical, a Espacial, a

Intrapessoal, a Interpessoal e a Corporal-Cinestésica. Mais recentemente,

esses autores acrescentaram a essas inteligências a naturalista e espiritual.

Partindo das inteligências Intrapessoal e Interpessoal, Goleman, a

partir da metade da década de 90, popularizou os estudos e o termo

Inteligência Emocional, para indicar que, nas ações do ser humano, os

aspectos emocionais são conjugados com a razão para a tomada de decisão.

Segundo Goleman (1995:46, 1999:32), o “sucesso” das pessoas, em estudos

mais otimistas, depende apenas 20% do nível de inteligência lógico-

matemática, o restante é devido a outros tipos de inteligência, entre elas a

inteligência emocional.

A afirmação anterior indica que é quase impossível preparar

adequadamente um indivíduo para os desafios da vida somente com uma

excelente formação cognitiva pura e simplesmente.

AS COMPETÊNCIAS E APTIDÕES

DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Embora a literatura sobre Inteligência Emocional (competências e

aptidões) seja recente, encontramos referências que apresentam visões e

concepções que nos parecem sólidas em relação a essa complexa e instigante

problemática. Destacamos, pois, Goleman (1995:55), que, com base nos

trabalhos de Sternberg e Salovey, indica que são cinco domínios principais ou

aptidões da Inteligência Emocional: conhecer as próprias emoções, lidar com


as emoções, motivar-se, reconhecer emoções nos outros e lidar com

relacionamentos.

Na sequência, são comentadas essas aptidões:

 Conhecer as próprias emoções refere-se à autoconsciência, ou

seja, o reconhecimento de quando uma emoção está ocorrendo.

 Lidar com as emoções refere-se ao desenvolvimento e gerência

das mesmas; por isso, essa aptidão é denominada também de

autocontrole.

 Motivar-se indica a relação entre o estado motivacional, ou seja,

os motivos pelos quais as pessoas agem, e o campo da

inteligência emocional. Os motivos pessoais que levam às mais

surpreendentes ações são características do estado

motivacional interno, denominado de intrínsecos pelos

psicólogos e são de grande relevância para o campo da

inteligência emocional.

 Reconhecer emoções nos outros é a capacidade de traduzir os

sinais verbais e não-verbais em interpretações do estado

emocional apresentado por uma pessoa. O termo utilizado para

o reconhecimento das emoções nas outras pessoas é dado pela

palavra empatia.

 Lidar com relacionamentos ou interações, também denominada

de “artes sociais”, é a capacidade de mobilizar, inspirar,

convencer e influenciar os outros e, em situações de encontros

sociais, é também a capacidade de deixar os outros à vontade

para se posicionarem.
Ainda sobre as aptidões, Märtin & Boeck (2004:100) referem que estas

são compostas pelo manejo de nossas emoções. As aptidões são compostas

por: reconhecer e aceitar as emoções; manejar as próprias emoções; tirar

proveito do potencial existente; colocar-se no lugar de outra pessoa e criar

relações sociais.

Nesse mesmo contexto, Bar-On & Parker (2000: 19), no instrumento

para mensurar o QE em crianças e adolescentes, avaliam cinco competências

emocionais: a Inteligência Intrapessoal, a Interpessoal, a Adaptabilidade, o

Gerenciamento do Estresse, o Humor Geral e a Impressão Positiva. A

Inteligência Intrapessoal está relacionada com a capacidade de entender as

próprias emoções, expressar e comunicar os sentimentos ou necessidades ao

próximo.

Já a Inteligência Interpessoal é caracterizada pela capacidade do

indivíduo de ouvir, entender e apreciar os sentimentos dos outros. A

Adaptabilidade indica a capacidade de o indivíduo ser flexível, realista, efetivo

gerenciador de mudança e capaz de encontrar caminhos positivos nas

negociações com problemas diários.

A competência de Gerenciamento do Estresse é característica de

indivíduos calmos que desenvolvem atividades sobre pressão com bons

resultados. O Humor Geral representa a positividade no sentido da perspectiva

positiva frente a situações desfavoráveis. A Impressão Positiva é caracterizada

pela capacidade excessiva de auto-impressão sobre as próprias boas

qualidades.
A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Nesta seção faremos a explanação pertinente no que diz respeito às

concepções vigentes no âmbito científico relacionadas à Inteligência

Emocional, as quais permitirão uma reflexão mais adequada sobre sua relação

e o possível desenvolvimento de suas competências e aptidões promovido pela

Inteligência Emocional.

Inteligências Múltiplas – Passos Iniciais

A formulação da teoria das inteligências múltiplas tem seu início

histórico em 1979, com a contribuição de um grupo de pesquisadores da

Harvard Graduate School of Education. Os estudos desenvolvidos por esse

grupo culminaram, em 1983, na publicação de Estruturas da Mente, de

responsabilidade de um dos membros da equipe, Howard Gardner (Gardner,

1995:3-5).

A partir de 1986, com o objetivo principal de demonstrar uma visão

pluralista da mente, que se contrapunha à visão piagetiana de inteligência

dominante – fator geral (G) –, ao significado conferido por senso comum e aos

meios científicos de então, o autor e seu grupo realizaram uma abrangente

pesquisa, analisando duas fontes principais.


Uma das fontes referia-se ao desenvolvimento das diferentes

capacidades em crianças consideradas normais, e a outra, às capacidades

manifestadas em condições de dano cerebral. Além destas duas fontes,

também foram pesquisadas populações especiais como superdotados,

crianças autistas (também chamados de” idiotas sábios”) e crianças com

dificuldades de aprendizagem.

Após diversas análises, estes pesquisadores concluíram que as

facetas da inteligência caminham, muito além do simples pensamento

cognitivista e do quociente de inteligência (QI), para uma concepção pluralista

e integrada – teoria dos módulos da mente. Assim, na perspectiva de Gardner

(1995:14-15), são apontados sete tipos de inteligências, como já mencionado

no primeiro capítulo desta investigação. Na sequência, detalhamos a que se

refere cada um desses tipos.

http://blogs.elcomercio.es/psicologo-de-cabecera/files/2011/10/INTELIGENCIAS-

MULTIOPLES.gif
A Inteligência Lingüística é representada pelo dom da linguagem.

Biologicamente é localizada em uma área no cérebro denominada centro de

Broca, região onde são produzidas as sentenças gramaticais. Esta inteligência

é ativada pela palavra falada, pela leitura e pela escrita dos próprios

pensamentos ou ideias.

Talvez, por esse motivo, seja atribuída aos poetas a apresentação pura

dessa capacidade. Essa inteligência nos possibilita realizar a comunicação com

outra pessoa ou grupos de indivíduos. Pessoas com grande desenvolvimento

nesta área são hábeis em realizar discursos e comunicar seus pensamentos

pela escrita. Esse tipo de inteligência pode ser desenvolvido, por exemplo, pela

exposição gradativa a prática de redações, leituras e interpretações de texto,

apresentações verbais para outras pessoas ou colegas de escola, debates e

discussões sobre um dado tema, montagem de um pequeno jornal, produção

de textos científicos ou poéticos e representação teatral.

A Inteligência Lógico-Matemática está relacionada ao processo de

resolução de problemas e pode ser ativada em situações de desafio, de

maneira não-verbal, pois a mesma pode ser construída antes de ser

apresentada. Pessoas hábeis nesta inteligência são capazes de realizar

cálculos matemáticos de forma rápida e precisa. Essa inteligência também está

associada à lógica de pensamento, podendo ser desenvolvida, por exemplo,

pelo estímulo ao uso de cálculos, jogos de memória, problemas de lógica,

resolução de problemas, elaboração de planilhas, manipulação de fórmulas.

Historicamente, esse tipo de inteligência é apontado pelos psicólogos,

juntamente com a inteligência lingüística, como a principal base para o

Scholastic Aptitude Test (SAT). O SAT é um teste de aptidão escolar exigido


para admissão em universidades americanas que representa a medida do

quociente de inteligência (QI), criada por Binet (s/d apud Gardner, 1995:12).

Binet iniciou a utilização desses testes de inteligências em Paris em 1905, a

pedido do Ministro da Educação, que tinha a intenção de separar crianças

“educáveis” dos “idiotas sábios”.

A Inteligência Musical está localizada biologicamente no hemisfério

direito do cérebro, embora não seja possível vir a localizar precisamente uma

zona cerebral específica responsável por essa inteligência. Esse tipo de

inteligência é responsável por identificar sons, notas musicais, etc., e é ativado

quando a pessoa utiliza música ou ritmos para lidar com sequências

harmoniosas de sons. Pode ser desenvolvida, por exemplo, com atividades de

diferenciação de sons e tons, manipulação de instrumentos musicais e cantos.

A Inteligência Espacial é, segundo Gardner (1995:26), a capacidade

de formar um modelo mental de um mundo espacial e de manobrar e operar

utilizando esse modelo. Biologicamente, o hemisfério direito é responsável pelo

processamento espacial. A solução de problemas espaciais pode estar

representada na leitura de um mapa, na orientação pelas estrelas, em um jogo

desportivo para analisar a altura e velocidade da bola em relação ao espaço,

etc. Esta inteligência é ativada, quando a pessoa usa sua imagem mental, para

realizar uma obra artística. Pode ser desenvolvida, por exemplo, na

manipulação de materiais como massas de modelar, pinturas, jogos pé-

desportivos e atividade de orientação.

A Inteligência Intrapessoal é uma forma de autoconhecimento com

implicação no modo de conduzir a vida, permitindo ao ser humano o

desenvolvimento pessoal pelo reconhecimento e gerenciamento de suas


particularidades e potencialidades. Gardner (1995:95) profere que esse tipo de

inteligência é

A capacidade de formar um modelo acurado e verídico de si

mesmo e utilizar esse modelo para operar efetivamente na vida.

O conhecimento de aspectos internos, o acesso aos sentimentos

próprios da vida, a gama das próprias emoções, a capacidade de

discriminar essas emoções e eventualmente rotulá-las e utilizá-

las como uma maneira de entender e orientar o próprio

comportamento.

Um ponto importante observado pelo mesmo autor é que esse tipo de

inteligência é o mais privado e difícil de analisar, sendo ativado quando a

pessoa utiliza a autorreflexão e o pensamento para realizar algo. Essa

inteligência caracteriza-se pelos debates internos, o que é inerente à vivência e

ao pensamento humano. Pode-se dizer também que é formada por um

conjunto de “paradigmas pessoais” ou entendida pela definição da autoimagem

e do auto relato sobre “virtudes” e “defeitos”.

O desenvolvimento dessa inteligência geralmente decorre de

atividades de imagem corporal, jogos individuais de superação de obstáculos e

autodescrição interna ou para um grupo.

A Inteligência Interpessoal é a capacidade de entender e interagir

com outras pessoas. Biologicamente, a área para esse tipo de inteligência está

localizada nos lóbulos frontais do cérebro. Outras duas evidências biológicas

se devem ao comportamento exclusivo dos seres humanos: o apego pela mãe

nos primeiros anos de vida e a interação social advinda de atividades em que

são exigidas coesão, liderança, organização e solidariedade.


Essa interação pode acontecer em qualquer ambiente, partindo do

familiar, passando pelos ambientes escolar ou acadêmico, pelos ambientes de

trabalho e pelos ambientes que definem o convívio social com amigos Esse

tipo de inteligência envolve a capacidade de perceber diferenças individuais,

contrastes em seus estados de ânimo, temperamentos, motivações e

intenções. Gardner (1995) sugere que a inteligência interpessoal não depende,

exclusivamente, da linguagem verbal.

Por consequência, se entende que saber reconhecer sentimentos nos

outros pela linguagem corporal parece ser um ponto chave da inteligência

interpessoal. Ainda sobre essa inteligência, cabe mencionar que é ativada

quando a pessoa interage com outros em diversos encontros sociais. Essa

inteligência pode, pois, ser desenvolvida pelo estímulo a atividades em grupo

como a proposição de resoluções de problemas e o estabelecimento e alcance

de metas que exijam o trabalho e o esforço de todos os membros do grupo.

A Inteligência Corporal-Cinestésica é a capacidade de utilizar o

próprio corpo ou parte dele para resolver um problema ou elaborar produtos.

Essa inteligência é ativada quando uma pessoa utiliza o corpo para realizar,

por exemplo, uma atividade física, sendo, assim, caracterizada, principalmente,

pela atividade desportiva. Afinal, as técnicas que são desenvolvidas nos

desportos nada mais são do que a resolução de um problema pela elaboração

de um produto, a própria técnica desportiva. O desenvolvimento desse tipo de

inteligência pode acontecer de forma individual ou coletiva nos desportos,

danças ou jogos e brincadeiras motoras.

É importante ressaltar que possui uma ligação íntima com o

desenvolvimento da Inteligência Espacial. Para agarrar uma bola que foi


lançada por um companheiro de equipe ou adversário, é necessária a noção

espacial e uma técnica adequada de recepção. Destarte, o desempenho do ser

humano é resultado das combinações de inteligências.

Os diferentes tipos de inteligência podem funcionar simultaneamente

para resolver um problema. Apesar de Gardner ter provado que as inteligências

são independentes entre si, ou seja, que é possível ser um excelente músico,

sem possuir um quociente de inteligência lógico-matemática elevada, elas

trabalham combinadas para atingir um desempenho, funcionam juntas para

resolver um problema. O resultado desta interação ou combinações define a

ação e o desempenho final.

As relações estabelecidas entre as diferentes inteligências, embora não

determinantes, corroboram para a formação do perfil do indivíduo, na maneira

como age e se comporta diante de diferentes circunstâncias e diferentes

ambientes, incluindo aí os demais indivíduos com os quais convive. Do ponto

de vista temporal, a Inteligência Interpessoal e as relações estabelecidas com

as demais inteligências parecem ser criadas ou adquiridas, principalmente,

durante os primeiros anos de vida.


http://4.bp.blogspot.com/-

B8IIB0XVuAg/VEgWv6zQboI/AAAAAAAACko/zjX4lzFC3hI/s1600/SALUD%2BEMOCIONAL2.jp

Muitos autores parecem concordar que esse desenvolvimento ocorre

na infância, principal e primeiramente, na interação com os pais e,

posteriormente, na interação com os professores e em outros ambientes. Desta

forma, grande parte deste perfil parece se desenvolver em uma idade que

compreende a infância. Muito do que se aprende nestas idades fica marcado

ou registrado para sempre, ainda que, até aproximadamente 20 anos, os

jovens não tenham atingido plena maturação cerebral – lobos/lóbulos pré-

frontais.

Além da constatação referida anteriormente, parece haver

concordância de que o indivíduo nasce com uma pré-disposição maior para

uma ou outra inteligência. Nem todos serão grandes atletas ou grandes

músicos. Ainda assim, a noção do constante aperfeiçoamento e aprendizado


necessários para a sobrevivência não é desconsiderada e pode ser exposta da

seguinte forma:

Acreditamos que os indivíduos podem diferir nos perfis particulares de

inteligência com os quais nascem e que certamente eles diferem nos perfis

com os quais acabam. (Gardner, 1995:15). Esse fato, provavelmente, é

resultado natural de um processo de aquisição de conhecimento, treino e

ensino, que envolve a mudança e retenção do comportamento.

http://filoeleutheria.files.wordpress.com/2011/01/emociones.jpg?w=647&h=690

Para que ocorra tal mudança, são necessários estímulos adequados e

direcionados aos objetivos que se pretende atingir. Gardner (1995) defende

que os estímulos devem ser dados já nos primeiros dias de vida e reconhece

que cada inteligência decorre de uma série de estímulos, que podem ser

produtos do meio exterior ou de combinação interna.


Desta forma, apesar de o indivíduo nascer com um perfil e com maior

facilidade para desenvolver determinadas inteligências, a característica

individual final ou o conjunto das características atuais do indivíduo é formada

pela prática da combinação destas inteligências desencadeadas pelos

estímulos que lhe são apresentados ao longo da vida. Isso se evidencia, como

já comentado, na dinâmica vivenciada pelo indivíduo, em primeiro lugar, na

família e, depois, no ambiente escolar, na interação com professores e colegas,

caracterizando seu perfil.

Seguindo o raciocínio apresentado anteriormente, com base nos

relacionamentos e dinâmicas expressas, parece que, de algum modo, uma

inteligência pode auxiliar ou influenciar outra.

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Por exemplo, o termo psicomotricidade indica a grande relação ou

ênfase existente entre os aspectos psicológicos do desenvolvimento humano e

as ações motoras. Muitas escolas utilizam como base essa relação para

justificar que a aprendizagem motora contribui para a aquisição da fala e da

escrita ou, nos termos da teoria de Gardner, a Inteligência Corporal-Cinestésica


serve de auxílio para o desenvolvimento da Inteligência Lingüística. Pode ser

dado outro exemplo: o aprendizado de um jogo desportivo envolve a

Inteligência Corporal-Cinestésica e, ao mesmo tempo, necessita da Inteligência

Espacial.

As combinações de diferentes tipos de inteligência apontam para a

relevância do entendimento e da investigação das diversas relações possíveis

entre as diferentes inteligências na formação e educação do ser humano. No

aspecto da educação formal, muitas instituições de ensino, em diferentes

países, buscam alternativas metodológicas para desenvolver o ser humano em

todas as suas potencialidades, priorizando, assim, uma formação global, no

sentido de estimular e desenvolver todas as inteligências simultaneamente.

No Brasil, apesar de ocorrer um discurso de formação global, em

muitas escolas, públicas ou privadas, muito tempo é destinado para a formação

acadêmica – entendida como o desenvolvimento e aperfeiçoamento das

inteligências Lingüística e Lógico-matemática. Comparativamente, pouquíssimo

tempo é destinado ao estímulo, formação, desenvolvimento e aperfeiçoamento

de outras inteligências.

Aplicando esse conhecimento à área do Desporto, constatamos que,

além da Inteligência Cinestésica e Espacial, para desenvolver uma atividade

em cooperação com outros, é necessária a Inteligência Interpessoal com

confiança em si mesmo ou a Inteligência Intrapessoal.

Certamente, essa constatação reflete bem os diferentes tipos de

relação que existem na dinâmica das inteligências. Assim sendo, ratifica-se aí a

importância dessa dimensão da vida humana (Desporto) para o seu pleno

desenvolvimento.
Inteligência Emocional – Outros Olhares

A teoria da Inteligência Emocional ganhou popularidade a partir dos

trabalhos publicados por Daniel Goleman, em 1995. Na verdade, o estudo das

emoções iniciou-se antes dos trabalhos publicados por Goleman. Bar-On &

Parker (2000:33) indicam obras anteriores sobre a Inteligência Emocional: Bar-

On (1988), Gardner (1983) e Mayer & Salovey (1989; 1990).

Essa posição é confirmada por Shapiro (2002:26), que expõe que os

estudos sobre Inteligência Emocional são numerosos e têm sido realizados há,

no mínimo, cinquenta anos. Portanto, é um tema de estudo relativamente novo

(mas amplamente debatido por outras terminologias) e obteve grande

popularidade na metade da década de noventa, estendendo-se as discussões

até aos dias atuais. Analisando a palavra emoção, seus dois derivados do latim

“e” - “movere”, “e-moção”, significam afastar-se, mover-se; observa-se que na

ação está implícita uma emoção (Goleman, 1995:20) ou, como apontam Märtin

& Boeck, (2004:79), mover-se para fora, no movimento e na mudança.

Neste sentido, podemos interpretar que não existem emoções sem que

ocorra um movimento, que pode ser entendido, literalmente, como uma ação

motora ou, em outra interpretação, como a oposição ao conformismo, à

estagnação, ao parar no tempo e no espaço. Partindo desta análise, são

muitas as definições do termo Inteligência Emocional. As definições são

pautadas por possuir argumentação e focos distintos para explicar os

fenômenos emocionais que ocorrem com o ser humano, e compartilham pontos

comuns em alguns aspectos e diferem em outros.


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A esse respeito, Greenberg & Snell (1999:126) argumentam que as

emoções possuem várias facetas, incluindo pelo menos quatro consideradas

básicas.

A primeira é um componente expressivo e motor; a segunda, um

componente sentimental; a terceira, um componente controlador e a quarta, um

componente de processamento de informação.

O componente expressivo e motor refere-se ao fato de o ser humano

expressar as suas emoções por meios motores, pela linguagem corporal.

O componente sentimental refere-se aos estados de espírito internos

ou sentimentos derivados de diferentes situações vivenciadas.

O componente controlador indica a capacidade de controlar os

sentimentos ou os estados de espírito internos desencadeados por diferentes

circunstâncias. E o processamento de informação é a capacidade de processar

as informações transmitidas pelos outros ou aquelas que fazem parte dos três

primeiros componentes.
A capacidade de processar informações, portanto, faz parte do

processo da inteligência emocional – Teoria cognitiva das emoções. A relação

estabelecida entre a capacidade de processamento da informação e as

medidas de inteligência emocional foi estudada por Austin (2005) e desse

estudo resultou o trabalho intitulado Emotional intelligence and emotional

information processing.

A autora buscou identificar o grau de relação entre testes para medir a

capacidade de processar informação emocional e testes de auto relato –

antigamente denominado de introspecção – para medir a Inteligência

Emocional. Na realização da pesquisa, a estudiosa aplicou vários instrumentos

em 95 estudantes.

Para identificar a capacidade de processar informação emocional,

utilizou os seguintes instrumentos: Facial emotion inspection time tasks,

Symbol inspection time task, Word inspection time tasks e Ekman-60 faces test.

Para mensurar a Inteligência Emocional aplicou o questionário de Bar-On EQ-i:

S e o EI scale versão curta de Schutte e colaboradores (1998, apud Austin

2005:407).

As principais conclusões do estudo suggest that performance on

emotionrelated tasks can be linked to the information-processing approach to

psychometric intelligence, ou seja, fornece um forte indício de que a

capacidade de processamento da informação emocional está relacionada com

a mensuração da Inteligência Emocional.

Em relação a esses aspectos apontados, Brenner & Salovey

(1999:216) conceituam as emoções em uma perspectiva funcionalista,

entendendo-as como respostas que orientam o comportamento do indivíduo e


servem como informação que ajuda este indivíduo a conquistar metas. Os

mesmos pesquisadores definem que as emoções possuem dois componentes,

o cognitivo-empírico, que expressa o comportamento, e o fisiológico-

bioquímico, que reflete os sinais corporais.

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Para Bridoux, Merlevede & Vandamme (2004:21-22), apesar de

contraargumentarem o uso de definições nos fenômenos humanos,

principalmente, na área de Psicologia, fazem uma distinção entre aquilo que

denominam inteligência clássica (ou QI) e inteligência emocional. A última é

definida pelos autores como o complexo conjunto de comportamentos,

capacidades (ou competências,) crenças e valores que permite que um

indivíduo realize de maneira bem-sucedida a sua visão e missão, dado o

contexto dessa escolha.

Ainda nesse envolvimento, Bridoux, Merlevede & Vandamme (2004)

afirmam que as emoções têm uma relação muito íntima com crenças e valores

e metas “pessoais”. Se os valores estão relacionados com a cultura, sofrem,

portanto, diferentes influências da cultura local e, por consequência, os

indivíduos membros desses grupos possuem diferentes visões e missões. Tal

definição de Inteligência Emocional pode, até certo ponto, ser considerada

como limitada à solução de um determinado problema ou à busca de uma


determinada meta dentro de uma rede pré-determinada de ações que ocorrem

em uma cultura.

Essa consideração se reafirma, principalmente, se a noção de

relacionamento entre indivíduo e sociedade estiver voltada à predominância da

influência da sociedade sobre o indivíduo. Pelas interpretações supracitadas,

verificamos que as competências do ser humano podem ser consideradas

como reproduções ou respostas pé- programadas pelos acertos sociais dentro

de uma cultura, durante muitos anos. Isto explica, por exemplo, o fato de as

reações emocionais nos países que celebram a morte serem de alegria e

festejos, ao passo que em países que desenharam seus valores e crenças

sobre a morte na perda, sofrimento e dor, as respostas emocionais produzidas

serem o choro e a resignação.

Ainda no que concerne a essa problemática, Shapiro (2002:24)

defende que a Inteligência Emocional está embasada nas características da

personalidade de uma pessoa ou de um grupo cultural. Em outros termos,

como conhecida até então, formação do caráter. Essa noção, de certa forma,

complementa o conceito anteriormente proposto por Bridoux, Merlevede e

Vandamme, o de que a personalidade de uma pessoa é formada ou moldada,

de acordo com o que é aceitável em uma determinada cultura.


INTELIGÊNCIA EMOCIONAL – MENTE

QUE SENTE, MENTE QUE PENSA

Goleman (1995:11) relata que as discussões sobre o tema da

Inteligência Emocional foram despertadas por duas tendências opostas. Uma

dessas tendências é a constatação da calamidade atual na sociedade,

representada por uma série de fatos que traduzem o afastamento das relações

interpessoais e o isolamento do ser humano.

A outra tendência pretendia mais que identificar ou remediar o

problema, oferecer medidas preventivas para essas situações apontadas.

Partindo da teoria de inteligências múltiplas, o autor apresenta o termo

inteligência emocional para indicar:

Que nossos sentimentos mais profundos, nossas paixões e

anseios são guias essenciais, e nossa espécie deve grande

parte de sua existência à força deles nos assuntos humanos...

Nossas emoções, dizem, nos guiam quando enfrentamos

provações e tarefas demasiado importantes para serem

deixadas apenas ao intelecto... Quanto mais intenso o

sentimento, mais dominante se torna a mente emocional e mais

intelectual a racional. É uma disposição que parece originar-se

de eras e eras da vantagem evolucionária de termos as emoções

e intuições como guias de nossa resposta instantânea nas

situações em que nossa vida está em perigo. (Goleman,

1995:17).
Segundo o mesmo autor, o ser humano possuiu dois tipos distintos de

mente, uma que pensa e a outra que se emociona. Esses dois tipos de mente

interagem para formar a vida ou para viver a vida. Goleman (1995) ainda afirma

que, quanto mais ocorre o envolvimento de sentimento em uma situação, maior

o controle da mente que sente, quanto mais ocorre o envolvimento da razão ou

raciocínio, maior o controle da mente que pensa.

O estudioso sugere, então, que o ser humano busque uma jornada

equilibrada entre estas duas mentes. O pesquisador aponta também que

nossas emoções foram e continuam a ser, desde os primórdios da evolução

humana, orientadores para a sobrevivência da raça, pois em situações de alto

risco, a reação ao problema é determinada pela memória emocional de

sobrevivência, acumulada ao longo da existência da espécie.

Na anatomia emocional, essa constatação é explicada pelo fato de os

estímulos recebidos serem processados, primeiramente, pela amídala. Esta é

uma estrutura do cérebro primitivo que processa a informação com base nas

experiências emocionais armazenadas e produz respostas rápidas,

dispensando um processamento elaborado e refinado, o que economiza tempo

para a produção da reação.

O que ocorre, muitas vezes, é que esta resposta no mundo social atual

nem sempre é a mais adequada. Portanto, a depender da situação, utilizar

somente a mente que sente pode acarretar um erro de julgamento e produzir

uma resposta inadequada. O oposto também é verdadeiro; em determinadas

situações, ao utilizar somente a mente que pensa também é possível que o

indivíduo subjugue sentimentos envolvidos com a situação, produzindo uma

resposta inadequada. Para reforçar o envolvimento desta dinâmica e também


para demonstrar que o ser humano não é, exclusivamente, produto dos

aspectos lógicos, Goleman (1995:46) e Märtin & Boeck (2004:13) advogam que

somente 20% do sucesso pessoal e profissional depende da cognição ou

razão.

O restante, aproximadamente 80%, é atribuído a outros fatores, entre

eles a emoção. Em outra abordagem sobre a relação entre cognição e emoção,

Salovey & Sluyter (1999:16) defendem que a cognição – cujos representantes

são memória, raciocínio, julgamento e elaboração de pensamento abstrato –

representa a inteligência. Isso aponta para um conceito de Inteligência

Emocional que preserve os dois sentidos originais dos termos que o compõem.

Nesse sentido, os autores entendem que as interinfluências entre

inteligência/cognição e emoção possuem uma correlação moderada entre si.

Dessa forma, as emoções podem contribuir, em muitos momentos,

para o pensamento adequado e não para sua desorganização. Com base

nesse conhecimento, os autores definem Inteligência Emocional da seguinte

maneira:

A capacidade de perceber acuradamente, avaliar e expressar

emoções; a capacidade de perceber e/ou gerar sentimentos

quando eles facilitam o pensamento; a capacidade de

compreender a emoção e o conhecimento emocional; e a

capacidade de controlar emoções para promover o crescimento

emocional e intelectual. (Mayer & Salovey, 1999:23).

Também Bar-On & Parker (2002:117-119), no manual do teste de

Inteligência Emocional, apresentam as contraposições que ocorrem nas

definições do termo. Nesse contraponto apresentado pelos autores, observam-


se, de um lado, as definições de Bar-On e Goleman, em que a Inteligência

Emocional pode ser entendida como tudo aquilo que não é quociente de

inteligência (QI), abolindo as possíveis relações entre razão e emoção.

Em oposição a essas definições, colocam os autores as ideias de

Salovey, Mayer e colaboradores, que compreendem a Inteligência Emocional

como uma habilidade cognitiva que envolve a capacidade de reconhecer as

emoções e utilizar tal conhecimento para solucionar problemas, por raciocínio

emocional ajustado.

Com base na análise dos conceitos anteriores, parece haver duas

interpretações distintas para Inteligência Emocional. Uma indica que as

emoções são guias essenciais para o ser humano (na evolução dos

hominídeos) e são desvinculadas dos processos de pensamento, relacionados

à razão.

A outra aborda que as emoções fazem parte da tomada de decisão,

nos processos de pensamento, visto que a emoção é organizadora e auxilia os

procedimentos de adaptação.
AS REPRESENTAÇÕES SOBRE

COMPETÊNCIAS E APTIDÕES DA

INTELIGÊNCIA EMOCIONAL – ABORDAGEM

PARADIGMÁTICA

O termo competência emocional tem como base conceitual o termo

competência, ou seja, ser capaz de executar algo com qualidade. Segundo

Goleman (1999:30), o termo competência pode ser entendido como uma

característica pessoal ou um conjunto de hábitos que leva a um desempenho

mais eficaz ou de nível mais elevado. Essas primeiras definições não envolvem

as emoções e uma série de fenômenos que a compõem. Uma definição

satisfatória sobre competência emocional que envolve os fenômenos

relacionados com a inteligência emocional foi apresentada por Saarni (apud

Salovey & Sluyter, 1999:57).

Para a autora, o termo competência emocional indica quais são as

capacidades relacionadas com a emoção de que as pessoas precisam para se

envolver com um ambiente em constante mudança, a fim de que cresçam mais

diferenciadas, mais bem adaptadas, eficazes e confiantes. A literatura

especializada no assunto associa ao termo competência, quase como

sinônimos, os termos capacidades, aptidões e habilidades. Em pesquisa

bibliográfica, não foi encontrada nenhuma definição hierárquica para tais

termos.
Na literatura, eles são utilizados para indicar, de modo geral, a

definição de competência. Nesse sentido, pode-se entender que os termos

capacidades, aptidões, habilidades ou competências emocionais, possuem o

mesmo sentido. O número ou definição de competências podem variar de autor

para autor. Entre diferentes autores, algumas competências são citadas com

mais freqüência do que outras.

A seguir podem ser observadas algumas destas classificações.

Goleman (1995:55), como já referido em nossa introdução, com base nos

trabalhos de Sternberg & Salovey, cita cinco domínios principais ou aptidões da

Inteligência Emocional: conhecer as próprias emoções, lidar com as próprias

emoções, motivar-se, reconhecer emoções nos outros e lidar com

relacionamentos. Cada uma dessas aptidões foi especificada nos comentários

iniciais deste estudo.

Na primeira parte do presente trabalho, foi ainda observado que Bar-

On & Parker (2000), no instrumento para avaliar o QE em crianças e

adolescentes, avaliam como competências emocionais, a Inteligência

Intrapessoal, a Interpessoal, a Adaptabilidade, o Gerenciamento do Estresse, o

Humor Geral e a Impressão Positiva. Tais dimensões serão especificadas nas

páginas que seguem, mais especificamente na seção 2.2.1.2, destinada à

explanação sobre as propostas de Bar-On & Parker. Dando continuidade às

interpretações das investigações anteriores no que diz respeito ao mesmo

tópico, Shapiro (2002:24-5) cita as qualidades emocionais que possuem

relação com o êxito, são elas: a empatia, a expressão e compreensão dos

sentimentos, o controle do estado de ânimo, a independência, a capacidade de


adaptação, a simpatia, a capacidade de resolver os problemas em forma

interpessoal, a persistência, a cordialidade, a amabilidade e, por fim, o respeito.

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Na sua obra A inteligência emocional das crianças, esse estudioso

enfatiza igualmente emoções morais, capacidades de pensamento, de resolver

problemas, sociais e de realização. No concernente aos elementos

fundamentais para a Inteligência Emocional, Märtin & Boeck (2004:73-100),

partindo das definições de Mayer & Salovey, distinguem cinco elementos:

reconhecer e aceitar as emoções; manejar as próprias emoções; tirar proveito

do potencial existente; colocar-se no lugar de outra pessoa – empatia; e criar

relações sociais.

Pode ser observado, nesse quadro, que algumas competências

aparecem com maior freqüência em todos os autores, recebem nomes

similares e têm base na mesma conceituação ou definição. Outras

nomenclaturas, apesar de distintas, possuem também em essência a mesma

base conceitual. Na primeira interpretação, de Goleman (1995), por exemplo,

lidar com relacionamentos, inteligência interpessoal, e capacidades sociais que


envolvem conceitualmente a empatia são competências utilizadas na interação

com outras pessoas. Na segunda, de Bar-On & Parker (2000), conhecer as

próprias emoções, Inteligência Intrapessoal, e reconhecer e aceitar as

emoções são competências que se referem ao próprio indivíduo. Esses

conceitos demonstram a forte influência de uma das bases conceituais da

concepção da Teoria da Inteligência Emocional, a Teoria das Inteligências

Múltiplas de Gardner, especificamente a Inteligência Interpessoal, que se refere

à interação com os outros e a Inteligência Intrapessoal que se refere ao

autoconhecimento.

A exemplo do anteriormente afirmado sobre as inteligências múltiplas,

verifica-se também que as competências da Inteligência Emocional interagem

umas com as outras para determinar o perfil do ser humano. A literatura

científica indica que o ser humano não necessariamente possuirá todas ao

mesmo tempo bem desenvolvidas, mas um nível mínimo em cada uma delas e

a soma da interação entre elas são os aspectos que produzem as

características pessoais do ser emocionalmente inteligente.


CONSIDERAÇÕES PARADIGMÁTICAS

SOBRE AS APTIDÕES E COMPETÊNCIAS

DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL – OS

VÁRIOS OLHARES

A partir desse momento, voltaremos a atenção para as várias

concepções, adotadas por diferentes estudiosos no tratamento das

Competências e Aptidões da Inteligência Emocional. Nas subseções

apresentadas na sequência, será feita a discussão referente ao tema referido,

oportunizando um olhar mais amplo a respeito desse sub tema do

desenvolvimento emocional.

Competências emocionais segundo Goleman

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er=1&id_com=1113
Conhecer as Próprias Emoções, também denominada de auto

percepção é a competência considerada a pedra fundamental do campo da

Inteligência Emocional sobre a qual se fundam todas as outras. Tal

competência refere-se à autoconsciência, ou seja, ao reconhecimento de

quando uma emoção está ocorrendo. É descrita também como um estado de

vigília constante dos estados emocionais; é um estado no qual o ser humano

se encontra durante o dia todo.

A autoconsciência é um modo neutro que está em constante vigilância,

mesmo quando o indivíduo se encontra em situações emocionalmente

perturbadoras. Segundo Goleman (1995:60), autoconsciência significa estar

consciente ao mesmo tempo de nosso estado de espírito e de nossos

pensamentos sobre esse estado de espírito.

A auto percepção é o caminho para assumir algum controle sobre as

emoções. Neste controle, o primeiro passo é a consciência dos sentimentos e o

segundo é a ação propriamente dita. Indivíduos que possuem uma consciência

apurada de seus estados interiores e que também conseguem percebê-los

pelos sinais corporais (por exemplo, ansiedade com o suor das mãos, ou

alterações de estados emocionais pela alteração da freqüência cardíaca e

ritmo respiratório) são pessoas que possuem melhor benefício na vida.

O grande segredo na autoconsciência é saber identificar que tipo de

emoção se está sentindo e em que medida ela está tomando conta da razão. É

com base nestes sentimentos e REVISÃO DE LITERATURA 41 constatações

que se pode agir da forma mais adequada, de acordo com a exigência da

situação. Goleman (1995:61) apresenta uma classificação, desenvolvida por

Mayer, para os estilos individuais de controlar e manejar as emoções. Os


indivíduos autoconscientes são claramente conscientes de seus estados de

espírito.

São indivíduos autônomos e seguros de seus limites, têm boa saúde

psicológica e são positivos perante a vida. Pessoas mergulhadas se deixam

dominar por suas emoções e não conseguem se livrar delas; são instáveis,

sentem-se esmagadas e emocionalmente descontroladas. Pessoas resignadas

percebem com clareza seus estados emocionais, mas aceitam de tal forma que

não tentam mudá-los; trata-se de um padrão que tem duas faces: pensamentos

positivos e pensamentos negativos.

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No que diz respeito à auto percepção, o primeiro tipo de pessoas,

classificadas por Mayer como autoconscientes, refere-se àquelas que possuem

um nível superior deste tipo de competência, em outras palavras àquelas que

possuem percepção das alterações dos indicadores corporais. Esses

indivíduos percebem, por exemplo, a vermelhidão de vergonha ou decorrente


de ira, a contração dos músculos da face, o aumento da pressão arterial ou

quando o tônus muscular da cintura escapular está contraído demais.

Dessa forma, em muitas situações que envolvem as emoções, os

autoconscientes podem tirar um proveito maior ou encontrar soluções melhores

para uma determinada situação. Uma segunda competência é denominada por

Goleman (1995) de competência de lidar com as emoções. Esta aptidão tem

relação com o controle das emoções, por isso é denominada também de

autocontrole.

O autocontrole não significa a supressão ou o desaparecimento das

emoções; significa, sobretudo, a busca do equilíbrio ou do bem-estar emocional

(subjetivo), ou seja, a superação dos estados emocionais negativos e o alcance

dos estados emocionais positivos. Outros autores podem denominar esta

competência ou capacidade de positividade, fluência ou “felicidade”. Para

controlar as emoções, é necessário, primeiramente, possuir a autoconsciência

do estado emocional para, então, identificar o estado emocional desencadeado

por uma determinada situação. Somente a partir dessa condição é possível

identificar que providências serão necessárias para amenizar ou apaziguar tais

estados.

Para pessoas com falta de consciência de seus estados interiores, o

não conhecimento dos próprios sentimentos pode gerar respostas opostas

àquela que a situação solicita e, assim, desenvolver uma forma incorreta de

lidar com as emoções. Por exemplo, em um exame de seleção para emprego

ou em uma prova acadêmica, é fácil perceber a manifestação da ansiedade em

muitos candidatos pelo suor das mãos ou pelos olhares de preocupação ou

esquiva.
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Em situações de pressão como estas, aqueles que conseguem

observar (vigiar) tal estado de espírito e, então, tomar providências simples

como respirar profundamente ou desviar o pensamento para outro foco,

provavelmente terão maiores chances de realizar operações cognitivas ou

mentais em prol do próprio rendimento, sem a interferência da ansiedade.

Ao contrário, aqueles que não o fazem, provavelmente serão

prejudicados em seus resultados finais. Controlar as emoções é um aspecto

favorável para os seres humanos, visto que são expostos constantemente a

diferentes tipos de pressões oriundas de diferentes situações. Esse controle

deve ser realizado por uma vigília constante, semelhante ao que acontece com

a amídala e a região cerebral do lóbulo frontal do córtex, ou seja, em qualquer

hora ou momento do dia.

A respeito disto, defende-se que controlar nossas emoções é meio

semelhante a uma atividade de tempo integral; muito do que fazemos –

sobretudo nos momentos livres – é uma tentativa de controlar o estado de


espírito... A arte de tranquilizarmos é um Dom fundamental da vida (Goleman,

1995:70).

A afirmação apontada pode indicar o “porquê” da busca de momentos

livres ou de atividades nestes momentos livres. Por exemplo, no meio da

agitação do cotidiano, fazer uma caminhada em um parque ou praticar

Desporto com os amigos pode ser uma tentativa, nesta atividade de tempo

integral do cérebro, da busca da tranquilidade e da paz interior.

As reações químicas e fisiológicas da atividade física, por exemplo, por

si, produzem estados e sensações de relaxamento no indivíduo e podem servir

para muitas pessoas como um fator de distração. Tice (s/d apud Goleman,

1995:86-7) constatou que a atividade física aeróbica é uma das estratégias

mais eficazes para suspender ou controlar os estados de depressão, o que

pode ser explicitado nas suas próprias afirmações: o exercício parece funcionar

bem porque muda a REVISÃO DE LITERATURA 43 fisiologia que o estado de

espírito traz; a depressão é um estado de baixo estímulo, e a ginástica põe o

corpo em alta estimulação.

A terceira competência da Inteligência Emocional, segundo Goleman

(1995), é a capacidade de motivar-se ou automotivação. A competência de

motivar-se indica a potencialidade de o indivíduo administrar motivos e

interesses que culminem em uma ação; para essa tomada de decisão ele

precisa utilizar-se de sua inteligência emocional.

O ser se ‘move’ ou age, partindo de metas ou objetivos pré-

estabelecidos internamente, pelos mecanismos da mente que pensa e que

sente. Goleman (1995:93) relaciona a motivação com o entusiasmo e prazer no

campo da Inteligência Emocional. Na medida em que somos motivados por


sentimentos de entusiasmo e prazer no que fazemos, esses sentimentos nos

levam às conquistas. Destarte, a motivação está relacionada com sentimentos

como euforia (emoção) e cuidado por aquilo que se faz (cognição).

Também está ligada com o sentimento de autoconfiança em se

alcançar um objetivo, com a persistência para alcançar estes objetivos

desejados e com a postura de positividade, otimismo e esperança, apesar de

reveses inevitáveis. Possuir positividade, segundo o autor, é uma poderosa

ferramenta que aumenta a capacidade de pensar com flexibilidade e com maior

complexidade (cognição ou sabedoria de nível superior), possibilitando,

portanto, encontrar melhores soluções para problemas ou situações.

Parece, então, haver uma relação entre automotivação e positividade,

o que faz com que se identifiquem as pessoas positivas como as mais

automotivadas, quando comparadas com as pessoas negativas. Isto também é

extensivo ao sentimento de esperança das pessoas motivadas. Elas acreditam

que é possível atingir os objetivos, apesar das dificuldades.

O Desporto é uma fonte rica e inesgotável de exemplos que

demonstram tal fenômeno. Além dos sentimentos supracitados, o mesmo autor

ainda indica uma relação entre a motivação, a capacidade de adiar o impulso

ou conter a emoção e a capacidade de trabalhar em fluxo, ou seja, estar

superconcentrado (“fluência”) no que se faz. Para as pessoas que possuem

tais aptidões, a tarefa flui perfeitamente, quase que em estado de graça,

provocando naqueles mais sensíveis o sentimento de admiração.

A quinta competência estabelecida por Goleman (1995) é a capacidade

de reconhecer emoções nos outros. Como observado anteriormente, o termo

utilizado para o reconhecimento das emoções que ocorrem nas outras pessoas
é identificado com a palavra empatia, derivada do grego empátheia, que

significa entrar no sentimento. Tal característica indica a capacidade de traduzir

os sinais verbais e não-verbais para interpretações do estado emocional de

uma pessoa. Goleman (1995:109) afirma que a raiz da empatia é a

autoconsciência, ou seja, antes de saber reconhecer as emoções nos outros, é

necessário, primeiramente, identificar estas emoções em si mesmo.

Quanto mais despertas as competências de reconhecer as emoções e

da autoconsciência, mais competente se é em termos de empatia. Goleman

comenta que a empatia envolve outros aspectos como faces do julgamento e

ações morais. De tal modo, a empatia também conduz as pessoas a

percorrerem os caminhos de certos princípios morais, pois, praticando a

empatia com outras pessoas, pode reconhecer as suas necessidades e

angústias e partilhar as emoções alheias. Esse comportamento impulsiona o

auxílio e a definição do que está “certo” e do que está “errado”. A empatia

também é considerada uma capacidade básica para lidar com

relacionamentos, sejam íntimos, de amizade ou profissionais.

A capacidade de saber entender os outros pela linguagem verbal e

não-verbal – representada principalmente pela linguagem corporal – concede

às pessoas uma vantagem para tomar decisões mais adequadas à dada

situação, pois permite identificar em que momento falar, em que momento agir

e de que forma agir. Sendo assim, a capacidade da empatia proporciona um

melhor ajustamento emocional, maior popularidade, maior abertura nas

relações e maior sensibilidade ao mundo.

A empatia se desenvolve principal e fundamentalmente na infância, por

meio da sintonia que as crianças encontram com os mais velhos. A sintonia


ocorre nas pequenas trocas de mensagens, que ocorrem entre pais e filhos

(olhares, gestos, sons, etc.), que definem desde o nascimento ao bebê, por

exemplo, que as pessoas mais velhas à sua volta estão entendendo os seus

sentimentos.

Apesar de esta capacidade ser essencialmente desenvolvida na

infância, um desequilíbrio nesta área pode ser corrigido posteriormente.

Seguindo a linha da aprendizagem humana, a empatia é um processo contínuo

que ocorre durante toda a vida. Na medida em que se fica mais velho, são

experimentados diferentes sentimentos e compartilhadas diversas

experiências, o indivíduo se torna mais empático com o acúmulo de vivências,

e a avaliação e aplicação dos padrões reconhecidos nas experiências

anteriores a situações novas.

A janela para a aprendizagem e para a aplicação da empatia não se

encontra aberta em momentos em que as emoções tomam conta do

comportamento ou quando ocorrem perturbações emocionais. Ao contrário,

para aprender e desenvolver a capacidade de empatia, deve-se estar no

estado de equilíbrio entre emoção e cognição, citado anteriormente.

A sexta competência da Inteligência Emocional é denominada por

Goleman (1995) de comportamentos sociais ou lidar com relacionamentos.

Lidar com relacionamentos, segundo o pesquisador, envolve reconhecer os

sentimentos de outra pessoa e, a partir deste reconhecimento, adotar atitudes

para moldar os sentimentos dos outros pelas próprias atitudes, tendo em vista

que o ser humano tem a tendência de imitar ou reproduzir os sentimentos

observados nos outros.


A capacidade de lidar com relacionamentos ainda envolve a

capacidade de controlar as emoções de outro. Esses comportamentos sociais

nos permitem moldar um encontro, mobilizar e inspirar outros, vicejar em

relações íntimas, convencer e influenciar, deixar os outros à vontade (Goleman,

1995:126). A capacidade agora comentada tem suas raízes em duas outras

capacidades: o autocontrole e a empatia. Sem poder controlar os sentimentos

e sem poder entender os sentimentos dos outros, nenhum relacionamento é

sustentável por um longo período de tempo. Deficiências nesta área

representam inépcia no mundo social e sucessivos fracassos. Seguindo esse

raciocínio, é que se entende que pessoas com elevado Q.I., muitas vezes, não

obtêm sucesso em suas vidas, seja ela pessoal ou profissional, porque são

incapazes de entender e sentir os sentimentos dos outros.

Ainda a respeito desta aptidão de artes sociais, Hatch & Gardner (s/d

apud Goleman, 1995:130), identificam alguns importantes componentes de

Inteligência Interpessoal neste campo: a capacidade de organizar grupos, de

negociar soluções, de realizar ligações pessoais e de realizar análise social.

O primeiro componente se refere à liderança que certos indivíduos

possuem e como exercem tal capacidade.

O segundo componente indica a capacidade de mediar diferentes tipos

de situações.

O terceiro componente refere-se à teia de ligação que um indivíduo

consegue formar para tirar proveito próprio e para o grupo. Finalmente, o último

componente refere-se à capacidade de empatia que um indivíduo possui em

relação a um grupo.
Dimensões da Inteligência Emocional segundo Bar-On &

Parker

A primeira dimensão da Inteligência Emocional, de acordo com Bar-On

& Parker (2000:19), é a Inteligência Intrapessoal, que é característica de

pessoas que entendem suas emoções e conseguem expressar e comunicar

seus sentimentos e necessidades. Conforme Bar-On & Parker (2002:267), tal

dimensão compreende auto-respeito, autoconsciência emocional,

assertividade, independência e auto realização. Ainda segundo os autores,

conhecer a si mesmo abrange, entre outras coisas, o conhecimento da

maneira como nos sentimos, pensamos e nos comportamos normalmente

em certas situações. Conhecer a si mesmo requer uma consciência geral

das emoções, a capacidade de distingui-las, descrevê-las e entendê-las.

Bar-On & Parker (2002:274) entendem ainda que o auto-respeito

possui uma conexão razoavelmente forte com a Inteligência Emocional, sendo

considerado um pré-requisito da autoconsciência emocional e empatia. O auto

respeito associa-se diretamente com a força interior, autoconfiança e

sentimentos de adequação e auto realização.

Em estudos de validade realizados pelos autores, o auto-respeito

aparece como um dos preditores mais poderosos do comportamento

competente. A autoconsciência emocional é a capacidade de ter consciência

das emoções e de identificá-las. Bar-On & Parker (2002:274) advertem que a

autoconsciência emocional representa um dos pilares dos modelos conceituais

da inteligência emocional propostos nos últimos 80 anos. É considerado um

critério mínimo para prever sucesso em (psico)terapia.


A assertividade é a capacidade de expressar as próprias emoções,

sendo afirmativo, capaz, inclusive, de dizer “não”. A segunda dimensão da

Inteligência Emocional, para Bar-On & Parker (2000:19), é a Inteligência

Interpessoal. Como descrito nas considerações iniciais da seção 2.2, os

autores definem que as pessoas que são bons ouvintes conseguem entender e

apreciar os sentimentos dos outros e possuem satisfatórios relacionamentos

interpessoais.

De acordo com Bar-On & Parker (2002:267), essa dimensão

compreende empatia, responsabilidade social e relacionamento interpessoal.

Se considerarmos a denominação de Goleman, esta competência é a mesma

denominada anteriormente como comportamentos sociais ou como a

capacidade em lidar com relacionamentos. A empatia, para Bar-On & Parker

(2002), é a capacidade de ter consciência dos sentimentos e necessidades dos

outros.

Para os autores, é lógico supor que nossa capacidade de ter

consciência de outras pessoas e de entendê-las depende de nossa capacidade

de termos consciência de nós mesmos (Bar-On & Parker, 2002:275). A

responsabilidade social é a capacidade de ter consideração com os outros e

seus sentimentos, ser cooperativo e estar disposto a contribuir com o grupo

(Bar-On & Parker, 2002:275).

O relacionamento interpessoal é a capacidade de criar e manter

relacionamentos, caracterizados pela capacidade de dar e receber intimidade

pessoal (Bar-On & Parker, 2002:275). Ainda segundo os autores,

O relacionamento interpessoal está relacionado com a

sensibilidade em relação aos outros, o desejo de estabelecer


relacionamentos, as expectativas positivas quanto ao

comportamento interpessoal e com sentir-se à vontade com os

relacionamentos em geral (Bar-On & Parker, 2002:276).

A adaptabilidade é característica de indivíduos que são flexíveis,

realistas, efetivos gerenciadores de mudanças e são bons em encontrar

caminhos positivos, nas negociações com problemas diários. Bar-On & Parker

(2002:267) referem que tal característica compreende teste de realismo,

flexibilidade e resolução de problemas.

O teste de realismo refere-se à capacidade de fazer a auto-avaliação

no confronto com a situação imediata de forma precisa e realista. A flexibilidade

refere-se à capacidade de se ajustar a um ambiente social diferente. A

resolução de problemas é a capacidade de resolver um problema com

conteúdo afetivo e emocional e envolve um comportamento persistente,

perseverante e disciplinado.

A terceira dimensão da Inteligência Emocional, segundo Bar-On &

Parker (2000), é o Gerenciamento do Estresse, ou, em outros termos,

regulação emocional. É uma competência que está ligada ao controle do

estresse, denominado por alguns como o “mal aterrorizante do último século”.

O estresse é entendido pela biologia como o processo interno que o organismo

humano possui para buscar o equilíbrio ou homeostase, após sofrer um

desequilíbrio provocado por um determinado estímulo.

Os grandes gerenciadores do estresse são indivíduos geralmente

calmos e trabalham bem sob pressão, raramente são impulsivos e podem,

casualmente, responder a um evento estressante com uma fria emoção.

Segundo Bar-On & Parker (2002), essa dimensão compreende tolerância ao


estresse e controle dos impulsos. A tolerância ao estresse é a capacidade de

lidar com as demandas do ambiente, de influenciar eventos estressantes e de

fazer algo ativamente para melhorar a situação imediata (Bar-On & Parker,

2002:276). O controle dos impulsos é a capacidade de controlar as emoções,

mais especificamente, de conter e controlar o comportamento agressivo.

A quarta dimensão o da Inteligência Emocional estabelecida por Bar-

On & Parker (2000) é a competência de Humor Geral. Tal dimensão é

característica de pessoas que, em geral, são otimistas, possuem uma

perspectiva positiva e são companhias prazerosas. Conforme Bar-On & Parker

(2002:267), o Humor Geral compreende otimismo e felicidade que pode ser

entendida como bem-estar subjetivo.

O otimismo não é considerado pelos autores como um componente

fatorial da Inteligência Emocional, mas é considerado um facilitador. A

felicidade é considerada como um medidor do bem-estar geral do indivíduo. De

acordo com os autores, de certo modo, ela nos ajuda a fazer o que desejamos,

além de nos dizer como estamos fazendo (Bar-On & Parker, 2002:280).

A quinta e última dimensão da Inteligência Emocional, segundo Bar-On

& Parker (2000), é a competência de Impressão Positiva que é identificada em

indivíduos que procuram criar uma excessiva auto-impressão positiva de seus

comportamentos, rendimentos, relacionamentos, etc. Essa dimensão parece

estar de um lado negativo de uma suposta escala. Por um lado, possuir bons

níveis, na suposta escala, nas outras quatros dimensões é uma das

características das pessoas com alta inteligência emocional, por outro lado,

uma pessoa com alta inteligência emocional precisa ter baixos níveis de auto-
impressão positiva, pois, se tiver níveis muito altos dessa competência pode

mascarar sua real condição.

Por consequência, tal característica parece ter uma relação direta com

a dimensão intrapessoal. Afinal, somente o indivíduo que não se conhece pode

sentir ou expressar uma excessiva impressão positiva de si mesmo.


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