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pois ao lidar com respostas particulares a

RACIONALIDADE, RACIONALIDADE DE problemas epocais particulares, a história


ESTADO E RACIONALIDADE APLICADA À das ideias e das teorias políticas o faria
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – OS PADRÕES de tal modo que o significado dos
BUROCRÁTICO E GERENCIAL DE conceitos formulados no passado não
1
RACIONALIDADE teria vida independente fora do contexto
em que foi produzido, não poderia ser
transportado para o presente senão
2 ilegitimamente (BRANDÃO, 2007, p. 31).
Autor: Giorgio Forgiarini

As diferentes linhagens ideológicas


Difundido é o jargão segundo o qual “nada
pousam seus argumentos em diferentes padrões
se dá por acaso”. Tal brocardo, apesar de breve e
de racionalidade, os quais só se explicam pelo
aparentemente simplório, não é absolutamente
contexto no qual estão inseridos. Racionalidade,
desprovido de conteúdo e se aplica com alguma
como veremos, é conceito intrinsecamente ligado
pertinência ao Estado, à máquina pública e aos
à consciência. Assim, agir de maneira racional
mecanismos de administração. Todas as
significa agir com consciência. Consciência em
instituições públicas, sejam elas políticas ou
relação aos recursos de que se dispõe para agir,
meramente administrativas; todos os adventos
aos limites de atuação e aos fins a que se
políticos, golpistas ou revolucionários; todos os
pretende atingir. Os diferentes períodos históricos,
instrumentos criados para gerir a coisa pública, em
conquanto diferentes quanto a essas variáveis,
verdade, carregam consigo uma densa carga
sofrem a influência de diferentes padrões de
simbólica a expressar uma ideologia temporal,
racionalidade, ora mais intervencionista, ora mais
uma forma de pensar e definir o Estado, seus
abstencionista, condizentes, no entanto, com o
desafios e seus meios de atuação.
contexto histórico, político e econômico respectivo.
No Brasil, o “liberalismo autoritário” dos
tempos de Império, a profunda descentralização
político-administrativa da Primeira República e a 2.1 Conceitos e definições
ruptura verificada durante a década de 1930, com
o evidente crescimento da máquina burocrática,
são fatos que denunciam um Estado caracterizado De maneira enganosamente simples,
pela alternância de diferentes linhagens podemos sintetizar, pelo menos para início de
ideológicas no Poder. Tal alternância se dá, não explanação, o conceito de escolha racional como
por acaso, por coincidências ou por simples sendo a opção feita por um determinado agente
exercício de imaginação, mas por complexas pela alternativa, dentre outras que lhe são
questões conjunturais, fáticas e materiais. Não nos oferecidas, que julga ser capaz de lhe
é legítimo fazer juízo de mérito quanto a cada uma proporcionar o melhor resultado global. O cerne do
das linhagens ideológicas. Não nos cabe julgar conceito de escolha racional diz respeito, então,
quanto à validade das instituições políticas aos meios ou instrumentos de que se vale o
desenvolvidas no Brasil, tampouco apontar suas agente para atingir da maneira mais eficiente
virtudes e defeitos. possível os objetivos de sua pretensão. A teoria da
escolha racional a que nos referimos e nos
dispomos a discorrer num primeiro momento é,
Aceitemos por um momento, para efeito pois, instrumental, visto que a ação é praticada
de argumentação, as premissas consciente e especificamente em função de um
skinnerianas segundo as quais o resultado pretendido, não por causa dela mesma,
historiador intelectual não deve
como ocorre com uma ação praticada por instinto,
preocupar-se com a validade ou o
significado presente das ideias passadas, por emoção ou com fundamento em normas
sociais, preestabelecidas.
1
Este texto é parte integrante da dissertação intitulada Nos âmbitos da sociologia e da política, a
“Continuidade e/ou Ruptura: A Reforma Gerencial da teoria da escolha racional recebeu denominações
Administração Pública Brasileira na Era Lula”, elaborada diferentes, conforme trabalhado por diferentes
como requisito parcial para a aquisição do título de autores, muito embora o núcleo ontológico seja o
Mestre em Ciências Sociais/Pensamento Político mesmo. Para evitar digressões desnecessárias,
Brasileiro pela UFSM. mencionemos apenas as definições trazidas por
2
Bacharel em Direito pelo Centro Universitário Weber (1994) e Pareto (1984). Segundo o
Franciscano – UNIFRA, Mestre em Ciências Sociais primeiro, a escolha racional se traduz no conceito
pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, de racionalidade instrumental, comumente descrito
advogado e professor das Faculdades Palotinas – pela literatura brasileira a partir da própria
FAPAS. expressão germânica zweckrational(intencional),

1
usada por Weber (1994) para definir a ação como pode até mesmo ser racional fazê-lo. É o
praticada com o objetivo de atingir um que ocorre quando todos os indícios de que
determinado fim. Na lição de Vilfredo Pareto dispõe o agente para tomar sua decisão apontam
(1984), por sua vez, a ideia de ação racional para a direção errada. Se todas as previsões
corresponde ao seu conceito de ação lógica, de meteorológicas indicam um índice de chuvas
modo que, para o autor franco-italiano, só é lógica propício para o plantio, é racional ao agricultor
a ação que tenha por objetivo atender a um fim investir no aumento da lavoura, mesmo que as
específico. previsões não se concretizem e venha ele a sofrer
prejuízo. A racionalidade, como a própria
Porém, o estabelecimento de uma simples
expressão sinaliza, está no raciocínio consciente
relação de causalidade entre uma determinada
realizado pelo agente para antever as
ação e um eventual objetivo preestabelecido é
consequências de suas ações e planejá-las de
argumento superficial demais para definir com
maneira a melhor atingir objetivos
fidedignidade o que, afinal, seja uma escolha
predeterminados. Por isso, quanto maior a
racional. A noção de racionalidade, por certo,
quantidade de indícios de que dispõe o agente
apresenta numerosos problemas de definição e
para decidir e quanto mais tempo dispor para
uma infinidade de variantes. De maneira geral, se
deliberar, não necessariamente mais racional será
existe uma quantidade “n” de alternativas para se
sua ação, mas certamente mais eficiente será o
chegar a um fim e se tais alternativas podem ser
raciocínio e maior será a precisão de sua decisão.
totalmente ordenadas em relação a diferentes
critérios objetivamente postos, tais como custo A escolha racional vai depender, também,
financeiro, custo político, tempo de da situação fática em que se encontra o agente.
implementação, taxa de retorno ou riscos, a ação Num determinado momento, por exemplo, é
racional é aquela conscientemente escolhida por racional tentar diminuir as possibilidades de
ser a melhor alternativa em relação às demais em arrependimentos, como quando o agricultor
qualquer um desses critérios, para atender diminui os investimentos em sua cultura por
especificamente ao que se pretende. Ou seja, a acreditar que se avizinha um período de estiagem.
escolha racional depende das prioridades do Noutra dada circunstância, é racional a busca por
agente. maximizar os ganhos possíveis, como quando, ao
contrário, o agricultor expande sua área cultivada
Todavia, não se pode entender a escolha
por crer num clima futuro favorável. Nessas duas
racional como um mecanismo infalível, uma vez
situações, a racionalidade decorre da estrutura da
que, num processo racional, o agente pode
situação de incerteza. Em outras palavras, na
escolher não necessariamente aquilo que
primeira situação se verifica grande probabilidade
realmente seja a melhor alternativa para atingir
de um prejuízo considerável, sendo racional
seu objetivo, mas o que ele acredita ser a melhor
minimizá-lo, ao passo que na segunda hipótese há
alternativa. Isso porque o processo de tomada de
real possibilidade de ganhos substanciais, sendo
decisão pode ser racional, mas, mesmo assim,
racional maximizá-los. A noção de racionalidade
deixar de alcançar o objetivo almejado. Uma
deve, portanto, ser concebida como subjetiva, isto
escolha racional é caracterizada por se destinar
é, como dependente de muitas variáveis presentes
conscientemente ao atingimento de objetivos
na própria estrutura das situações.
predefinidos, mesmo que tais objetivos não
venham a ser posteriormente alcançados. Como Em certas situações, a clareza das
diz o brocardo popular, “o que vale é a intenção” e variáveis impõe um critério de racionalidade
eventual equívoco não retira da ação seu caráter específico, quaisquer que sejam as características
racional. psicológicas do agente, suas crenças, ou o
montante de recursos de que disponha. No
De mesma forma, como leciona Pareto
entanto, é absolutamente corriqueiro nos
(1984), as ações não lógicas não estão
depararmos com ocasiões em que as variáveis
necessariamente fadadas ao fracasso absoluto,
não são tão claras e a estrutura da situação de
visto não serem sinônimo de ações ilógicas. Ações
incerteza não impõe nem uma, nem outra opção -
não lógicas são aquelas que não contaram com
como quando a ambiguidade ou a vagueza das
um raciocínio lógico para sua implementação, mas
previsões meteorológicas não forem suficientes
que foram praticadas com base no instinto, na
para recomendar um comportamento ou outro.
paixão ou em fatores outros que podem, mesmo
Nesses casos, a escolha a ser racionalmente feita
que não conscientemente, levar ao sucesso.
dependerá, em essência, de outras variáveis,
Ações ilógicas, por sua vez são aquelas contrárias
ínsitas ao agente e não à situação propriamente
à lógica, deliberadamente contrárias a qualquer
dita, tais como sua psicologia, sua perspicácia,
raciocínio consciente.
suas crenças e os recursos de que dispõe para
Aliás, é possível dizer, como faz Elster agir. São essas variáveis que dizem respeito mais
(1994, p. 41) que não apenas errar é humano, ao agente do que à situação de incerteza em si,

2
ou seja, são estranhas à própria estrutura da modelo “y”, ou que o Luis é mais confiável que o
situação da incerteza e não definem José.
probabilidades, mas formas de pensar.
Referimo-nos até aqui à dimensão
A título de exemplo, considerem-se as instrumental (zweckrational) do que seja
seguintes hipóteses: para um grande agricultor, racionalidade: convencionalmente um ato racional
dono de posses e investimentos variados que lhe é um ato que foi escolhido porque está entre os
permitam suportar prejuízos substanciais, pode melhores atos disponíveis para o agente,
ser racional investir “x” em suas plantações, adequadas às suas crenças e os seus desejos. No
mesmo que os riscos sejam consideráveis, entanto, não se trata da única forma de
enquanto que para outro agricultor menos racionalidade, sendo também pertinente fazer
abastado, pode ser racional poupar seus recursos, alusão à racionalidade quanto aos valores, ou,
3
abrir mão de eventuais lucros e evitar prejuízos como definido pelo próprio Max Weber (1984) ,
que o levariam à falência. Ou ainda, para um wertrational (valor-racional). No que toca à
jovem recém-egresso de uma faculdade e sem o racionalidade quanto a valores, as ações são
peso do sustento de uma família, pode ser praticadas e as escolhas são feitas não com
racional investir suas economias e energia num atenção aos fins ou objetivos almejados, mas com
empreendimento próprio, mesmo correndo o risco olhos nos princípios e valores que conduzem o
de não ter lucros durante algum tempo. Por outro agente a praticá-lo, independentemente do
lado, para um profissional com família já resultado. Não os confundamos, no entanto, com
constituída, pode ser racional atuar como aqueles comportamentos estritamente tradicionais,
empregado de outra empresa, ter rendimentos que não passam de uma reação a estímulos
limitados, mas a garantia de um salário ao fim do habituais tendentes a repetir uma atitude
mês. Tais exemplos nos conduzem à conclusão arraigada, ou com as ações afetivas, movidas
da impertinência de um observador projetar seus pelos sentimentos de raiva, piedade, vaidade,
próprios dados característicos ou os dados de sua paixão, etc. O que caracteriza a racionalidade,
situação sobre outro agente observado ou sobre a portanto, seja ela instrumental ou quanto a
situação desse outro agente observado para valores, é o fator "consciência". Um ato racional
determinar a racionalidade ou não de seus atos. será sempre um ato consciente.
Ou seja, é perfeitamente aceitável que diferentes
As duas formas de racionalidade –
agentes em situações semelhantes façam opções
zweckrational, quanto aos fins, ou wertrational,
diferenciadas, conforme suas características
quanto aos valores –, são incompatíveis entre si.
psicológicas, suas crenças e seus recursos, sem
Isso não significa que uma determinada ação só
que isso retire de qualquer das escolhas feitas seu
possa ser praticada com base numa ou noutra
caráter racional.
forma de racionalidade. Aliás, é muito raro
Por sua vez, a crença, exatamente por ser acontecer de uma ação ser pautada
uma variável de caráter bastante subjetivo, requer exclusivamente por uma ou outra forma de
uma discussão muito cuidadosa na teoria da racionalidade, como refere o próprio Weber (1994,
escolha racional. Primeiro porque atos racionais pág. 16). Porém, é possível afirmar que, quanto
maximizam preferências ou desejos, dadas mais impregnada uma ação de uma das formas de
determinadas crenças. Colocada dessa forma, a racionalidade, mais desprovida da outra forma de
racionalidade pressupõe a existência de desejos e racionalidade estará. Conforme sentencia Weber
crenças, afinal serão tais desejos e crenças que (1994, p. 17):
estabelecerão os objetivos a serem perseguidos.
A interpretação psicológica tradicional dessa
definição é de que os agentes têm estados
mentais – crenças e desejos – e escolhem as 3
De acordo com Max Weber (1984, p. 15), “A ação
melhores ações que estejam de acordo com eles. social, como toda ação, pode ser determinada: 1) de
Os desejos são considerados de alguma forma modo racional referente a fins: por expectativas quanto
como dados ou definidos previamente às ações. ao comportamento de objetos do mundo exterior e de
São objetivamente colocados. Segundo porque as outras pessoas, utilizando essas expectativas como
crenças, ao contrário dos desejos, não são ‘condições’ ou ‘meios’ para alcançar fins próprios,
absolutas ou objetivamente colocadas, como se ponderados e perseguidos racionalmente, como
fossem simplesmente uma questão de sim ou não, sucesso; 2) de modo racional referente a valores: pela
crença consciente no valor – ético, estético, religioso ou
preto ou branco, tudo ou nada, subir ou descer.
qualquer que seja sua interpretação – absoluto, inerente
Como regra, as crenças são questão de a determinado comportamento como tal,
probabilidades. O agente, na maior parte das independentemente do resultado; 3) de modo afetivo,
vezes, acredita que isto é mais provável que especialmente emocional: por afetos ou estados
aquilo, que o modelo “x” dá mais certo que o emocionais atuais; 4) de modo tradicional: por costume
arraigado”.

3
Do ponto de vista da racionalidade praticada não de acordo com os resultados, mas
referente a fins, entretanto, a apesar dos resultados, os quais podem, inclusive,
racionalidade referente a valores terá ser opostos aos objetivos do agente.
sempre caráter irracional, e tanto mais
quanto mais eleve o valor pelo qual se Pode-se fazer uso do argumento de que
orienta a um valor absoluto; pois quanto existe um fim, um objetivo posterior e maior ao se
mais considere o valor próprio da ação editar uma regra que obrigue a realização de
(atitude moral pura, beleza, bondade concurso público para selecionar servidores da
absoluta, cumprimento absoluto dos
Administração Pública. Em verdade, toda regra,
deveres) tanto menos refletirá as
consequências dessa ação.
lei, princípio ou norma possui seus objetivos
(coordenar, moralizar, orientar, uniformizar, etc.). A
ação praticada no sentido de obedecê-la assume
Afinal, como vimos anteriormente, age de como objetivos seus aqueles previstos pela
maneira racional quanto aos fins aquele que própria regra, não lhe cabendo falar em
orienta sua ação em função dos objetivos, atendimento a objetivos individualizados.
ponderando conscientemente os meios em Sendo assim, imperioso é que se distinga
relação às consequências. Por outro lado, age de a ação correspondente à fixação de um princípio,
maneira puramente racional quanto a valores de um valor ou de uma regra, da ação
quem, sem considerar as consequências correspondente à sua obediência. A fixação de
possíveis, age a serviço de sua convicção sobre o uma regra de conduta pode ser um meio apto a
que parecem ordenar-lhe o dever, os regramentos, atingir a um fim ou a um objetivo. Porém, sua
ou as convicções religiosas éticas ou religiosas. A obediência estrita visa tão somente cumprir com o
ação racional quanto a valores é uma ação que foi previamente instituído, independentemente
segundo “mandamentos” ou de acordo com do resultado imediato.
“exigências” que o agente crê dirigidos a ele.
Para fins ilustrativos, imaginemos a
situação do prefeito de um hipotético pequeno 2.2 O Estado moderno e a racionalidade estatal
município que pretenda preencher um importante
cargo de planejamento dentro da administração
É patente o fato de que durante meio
municipal, supondo que seu intento seja realmente
milênio, na Idade Média, não existiu o
de qualificar a gestão pública. Para tanto, Estado no sentido de uma unidade de
recomenda-se-lhe o uso de uma de duas dominação, independentemente no
racionalidades: a zweckrational e a wertrational. exterior e interior que atuara de modo
Pela primeira, nosso prefeito imaginário deverá contínuo com meios de poder próprios, e
imediata e livremente proceder à contratação do claramente delimitada pessoal e
profissional considerado competente para o cargo, territorialmente. (HELLER, 1979, p. 80).
que notoriamente possua conhecimentos técnicos
e científicos necessários para o exercício de suas
atribuições e que sabidamente esteja apto a atingir O trecho acima declara sem dar muita
com eficiência os objetivos de sua nomeação. Por chance a dúvidas: a figura do Estado moderno, tal
outro lado, pela wertrational, deverá o prefeito como o conhecemos hoje, é relativamente
abrir rígido procedimento de concurso público, recente, não tendo existido durante o período do
conduzido com base em critérios objetivos, que medievo. A associação política medieval, que não
garantam impessoalidade e isenção na escolha do pode (ou talvez até possa, mas não deva) ser
cidadão a ocupar o cargo público, mesmo que isso confundida com a figura do “Estado”, não
faça surgir o risco de ter de nomear não conheceu várias das características que hoje são
necessariamente aquele considerado mais atribuídas ao ente político moderno. Segundo
competente, mas aquele que, por razões Heller (1979), o ente político medieval,
aleatórias, possa ter sido mais feliz na prova de caracterizado pelo feudalismo, não conheceu uma
seleção. relação direta e unitária para com os súditos, nem
uma ordem escrita uniforme, tampouco um poder
Assim, o estrito cumprimento de uma estatal unitário, no sentido atualmente
norma, enquanto princípio preestabelecido, considerado. Muitas das funções,
mesmo que em detrimento do interesse imediato responsabilidades e prerrogativas que hoje o
da Administração, é racional quanto a valores, não Estado reclama para si, tais como a manutenção
quanto a fins. Tal ação – de tão somente cumprir o da ordem pública, a jurisdição e a prestação de
que veio a ser previamente definido como princípio serviços públicos, eram distribuídas a diversos
legal – atende à racionalidade no que diz respeito depositários particulares: a Igreja, o proprietário de
aos valores cristalizados pela lei, não aos seus terras, os cavalheiros, dentre outros.
objetivos propriamente ditos. Aqui a ação é

4
O poder de dominação era exercido por exemplo por Weber (1994). Inexiste, então, uma
aqueles detentores dos meios necessários para racionalidade ou uma consciência que se aplique
tanto, o que faziam com a aquiescência e respaldo de maneira uniforme, que se possa, pois, dizer “de
do príncipe. A delegação de atribuições e Estado”.
responsabilidades a particulares decorria
O estabelecimento de uma racionalidade
justamente da incapacidade material de a
para o Estado, no entanto, é tarefa a ser realizada
associação política cumprir com tais atribuições a
com devida cautela, principalmente pelo fato de
partir de seus próprios recursos, uma vez que não
não se poder atribuir à figura estatal um fim
possuía maquinário ou pessoal suficiente para
específico. Podem as associações políticas surgir
tanto. Então, pouco direito de domínio cabia ao
imbuídas dos mais diversos objetivos, não
príncipe sobre seus súditos nas associações
havendo, em verdade, fim que algum grupo
políticas medievais, visto que, para o exercício do
político já não tenha se proposto em algum
poder de dominação, dependia ele de inúmeros
momento de sua história - desde a garantia das
intermediários, fosse para intervir de maneira
liberdades individuais, até a asseguração da
positiva, a partir da prestação de algum serviço de
igualdade entre os trabalhadores, passando pela
utilidade pública, fosse para intervir de maneira
proteção à propriedade privada e até mesmo a
negativa, por meio de atividades restritivas, de
4 preservação da pureza de uma raça já foram
polícia e de controle .
objetivos de Estados conhecidos. De acordo com
Preponderava o modelo patrimonialista de Max Weber (1994), o Estado moderno se
administração, em que os detentores do poder caracteriza precipuamente pelo uso exclusivo do
6
político, mais do que o poder de dominação e poder de coação física , o que implica a
administração, detinham também os meios impossibilidade de o ente estatal sofrer qualquer
materiais necessários a essa dominação e tipo de concorrência interna por parte de oligarcas,
administração, de modo que podiam fazê-lo sem senhores feudais, autoridades religiosas ou
qualquer tipo de controle ou constrangimento quaisquer outros particulares.
superior. A base do poder político estava
Por esse motivo, Weber credita a
justamente na propriedade material, que
racionalização do Estado à concentração dos
possibilitava àqueles que a possuíam dominar e
meios de autoridade, dominação e administração
gerir, coisas que o príncipe, por insuficiência de
nas mãos do príncipe, que avoca a si funções
recursos próprios, não poderia fazer por si só. A
antes delegadas a inúmeros agentes privados. O
descentralização da autoridade e do poder de
Estado começa a assumir a responsabilidade,
mando e o consentimento a que o nobre a
então, por uma série de incumbências que antes
exercesse em nome do príncipe, muitas vezes ao
não lhe cabiam. O que antes era delegado a
seu bel prazer, impunham-se, então, como
agentes particulares, possuidores de seus próprios
maneira viável de manter uma relativa unidade
meios e instrumentos de ação, passa
harmônica, ante a absoluta inexistência de
gradualmente para os cuidados de um ente
estrutura estatal robusta o suficiente para tamanho
publico unitário e onipotente, de onde emanam
empreendimento.
ordens e diretrizes universais a serem obedecidas
Com a descentralização do poder de por todos os súditos indistintamente. O surgimento
dominação e dos recursos necessários para tanto, da figura do Estado moderno se confunde, então,
a falta de uniformidade surge como decorrência com o surgimento de uma racionalidade de
lógica. Durante o período de desagregação Estado.
política medieval, as magistraturas territoriais,
O ato específico pelo qual se explicita a
clericais ou não, ditam suas sentenças com
racionalidade de Estado é a lei, entendida como
independência quase absoluta uns de outros,
norma geral e abstrata, produzida com o objetivo
segundo suas próprias representações jurídicas,
de atender a um fim em específico. Em outras
seus critérios e princípios individuais, e sem o
palavras, a normatização é uma das
risco de constrangimentos, à semelhança do que
5
ocorria com o “mandarim” chinês usado como
um calígrafo que sabe fazer poesias, conhece literatura
chinesa milenar e sabe interpretá-la. Os mandarins não
4
“Por meio da enfeudação, da hipoteca ou da governam, mas somente interferem em tumultos e
concessão de imunidades o poder central viu-se incidentes desagradáveis (WEBER, 1994).
6
privado, a pouco e pouco, de quase todos os direitos de “É evidente que, para as associações políticas, a
superioridade, sendo transferidos a outros depositários coação física não constitui o único meio administrativo,
que, segundo nosso ponto de vista, tinham caráter tampouco o normal. Na verdade, seus dirigentes
privado”. (HERMANN, 1979, p. 80). servem-se de todos os meios possíveis para alcançar
5
O mandarim é, em primeiro lugar, um literato de seus fins. Entretanto, a ameaça e, eventualmente, a
formação humanística que possui uma prebenda, mas aplicação desta coação são o meio específico e
não está nada preparado para funções administrativas e constituem a última ratio sempre que falhem os demais
nada entende de jurisprudência. Trata-se, sobretudo, de meios” (WEBER, 1994, p. 16).

5
manifestações através das quais se pode ação, no âmbito da política. De mesmo modo, não
identificar o processo de racionalização próprio do se pode descartar a influência recíproca exercida
Estado moderno, que transforma o poder pelo mundo político sobre a atividade de
tradicional em racional legal. Percebe-se, então, administração.
que a racionalidade incorporada ao Estado
moderno, conforme enunciado por Max Weber
(1994), diz respeito muito mais a valores, 2.3 O Padrão Burocrático de Racionalidade
princípios e regras preestabelecidas do que a fins.
Percebe-se, então, quando da formação
A reforma do serviço público, o processo
dos Estados modernos, uma ênfase na utilização de burocratização ou racionalização, é um
do que Weber definiu como racionalidade quanto a fenômeno histórico derivado da natureza
valores (wertrational), baseados na fixação de superior da administração pública
normas e princípios rígidos e na exigência de que burocrática em relação à administração
os indivíduos, cidadãos e munícipes os atendam e patrimonial. Na época, era a melhor
lhes obedeçam uniformemente. maneira de aumentar a eficiência, eliminar
o nepotismo e reduzir a corrupção.
Um simples raciocínio silogístico nos (BRESSER-PEREIRA, 2009, p. 208)
conduz à conclusão de que o surgimento de uma
estrutura burocrática anda de mãos dadas com a
concentração dos meios materiais de A implementação do modelo burocrático
administração e de autoridade e, portanto, com a deu-se porque o modo de administração
própria ideia de Estado racional. Na medida em patrimonial mostrou-se incompatível com os
que se dá a expropriação dos meios de autoridade modernos conceitos de concentração dos meios
e administração por parte do Estado e que os de autoridade, típicos do Estado moderno, e
serviços antes delegados à igreja, às associações também do capitalismo industrial emergente. Na
particulares, às oligarquias, ou a outras figuras administração patrimonial, as propriedades
privadas quaisquer foram sendo avocadas, públicas e privadas confundiam-se entre si. Os
observou-se a necessidade óbvia da constituição instrumentos utilizados para o exercício do poder
de um corpo de agentes profissionais aptos e de dominação eram concebidos como bens do
capacitados para absorver e atender à demanda próprio agente político, do intermediário, do
surgida. Sendo assim, o desenvolvimento de uma administrador local ou das autoridades
burocracia administrativa é pressuposto básico eclesiásticas, que podiam deles fazer uso sem
para a criação dos Estados modernos. maiores restrições. Nesse cenário, o nepotismo, a
Interessa-nos analisar a partir daqui, corrupção, o abuso de poder e a primazia a
então, a racionalidade aplicada à Administração interesses particulares em detrimento de
7
Pública, ou seja, ao modelo administrativo, o que, interesses públicos conformavam regra geral .
como veremos, não se confunde propriamente E é nesse contexto que se verifica o sopro
com a racionalidade do Estado, muito embora seja de racionalidade trazido pelo modelo burocrático à
difícil, em muitos momentos, traçar linhas precisas forma como gerida a coisa pública. O
e definitivas que estabeleçam as fronteiras entre aparecimento da administração burocrática,
as dimensões administrativa e política, no que baseada na centralização do poder decisório, no
tange ao Estado moderno. A palavra estabelecimento de um escalonamento vertical
“administração” deriva da contração de dois claro de subordinação e hierarquia, na fixação de
termos latinos: ad (direção, tendência, para) e rotinas rígidas de trabalho, na criação de órgãos
minister (subordinação, obediência). Sendo assim, especializados para o exercício de atividades
“administrar” significa realizar uma função sob o específicas, no controle criterioso de
comando de outrem. procedimentos e na imposição do requisito de
Depreende-se, então, que a administração
7
pública subordina-se aos mandamentos do Poder “A chamada administração pública burocrática teria
Político, estando, portanto, um nível a baixo em sido concebida na segunda metade do século XIX, na
relação ao poder de mando. Toda organização, época do Estado liberal, como forma de combater a
seja ela política ou empresarial, precisa ser corrupção e o nepotismo patrimonialista. Ela se baseia
administrada para alcançar seus objetivos com nos princípios da profissionalização, organização em
carreira, hierarquia funcional, impessoalidade,
maior eficiência e economia de ações e recursos,
formalismo. Os controles são formais e a priori. Como
de maneira que administrar se consubstancia na ideia inspiradora desse tipo de organização é combater
atividade de buscar a otimização de resultados a corrupção e o nepotismo, parte-se de uma
com os recursos disponíveis. É certo, no entanto, desconfiança prévia em relação aos administradores
que não se pode desconsiderar a influência do públicos. Daí a necessidade de procedimentos rígidos
plano administrativo, enquanto meio ou modo de para seleção de pessoal, para a celebração de contratos
e o exercício do controle” (DI PIETRO, 2002, p. 42).

6
impessoalidade como limitador das ações do conceitos distintos em relação àqueles que
agente público, representou um nível diferenciado moviam o modelo patrimonialista. Corresponde a
de racionalidade e, consequentemente, de uma nova forma de pensar o Poder Público e a
eficiência, no que diz respeito ao trato do bem maneira como presta seus serviços públicos, que
público. surge concomitantemente ao surgimento do
estado racional. São quatro os pressupostos,
Weber (1982) ponderou que a adoção do
sobre os quais passamos agora a discorrer.
modelo burocrático era inevitável. Tratava-se,
segundo ele, do único meio capaz de coordenar O primeiro pressuposto do padrão
efetivamente o trabalho de uma organização tão burocrático de racionalidade é o da centralização
ampla e complexa quanto se mostrava o Estado administrativa e tem sua gênese justamente com a
moderno, além de trazer previsibilidade e construção do Estado moderno, a partir da
diminuição da incerteza quanto à tomada de concentração dos meios de administração, os
decisões pelos agentes públicos, importando, quais antes eram distribuídos a terceiros
assim, em acréscimo no que diz respeito à particulares. No dizer de Max Weber (1979, p.
segurança jurídica. Completa Weber (1982) 257), “a estrutura burocrática vai de mãos dadas
dizendo que o processo de burocratização ou com a concentração dos meios materiais de
racionalização do Estado decorre da natureza administração nas mãos do senhor”. Baseia-se
tecnicamente superior da administração pública esse pressuposto na necessidade de ser o
burocrática em relação ao modelo patrimonialista. aparelho estatal forte, robusto, capaz de exercer
Aliás, segundo Weber (1982), a razão decisiva de maneira satisfatória as novas atribuições
para a superioridade da organização burocrática cometidas ao Estado e, ao mesmo tempo, tolher
sobre quaisquer outras foi sempre seu caráter quaisquer iniciativas individualistas não
puramente técnico. O mecanismo burocrático coadunadas com o interesse coletivo. A adoção do
plenamente desenvolvido compara-se às outras modelo burocrático, então, visa a fornecer um
organizações exatamente da mesma como a modelo de racionalidade único e dominante, apto
máquina se compara aos modos não mecânicos a regrar uniformemente as condutas de agentes
de produção. públicos e privados. Os processos de construção
do Estado moderno e de avocação das funções
Visível é a identidade conceitual existente
administrativas pelo ente estatal pressupõem,
entre o modelo burocrático exaltado por Max
então, a construção de uma burocracia
Weber para a administração pública e as teorias
8 centralizada.
da administração científica, de Friederick Taylor ,
e clássica da administração, de Henri Fayol, Dessa centralização administrativa decorre
aplicáveis às empresas privadas. Aliás, notória e um escalonamento vertical de atribuições,
explícita é a relação feita por Max Weber entre o responsabilidades e competências, interno à
Estado moderno e as empresas capitalistas, muito própria estrutura da máquina estatal, ou seja, uma
superiores, segundo ele, e mais eficientes que o divisão do aparelho burocrático em diferentes
modo de produção representado pelos artesãos níveis hierárquicos, de modo a serem uns
que operam individualmente. subordinados a outros. O poder de decisão cabe
exclusivamente àqueles situados no topo da
hierarquia (agentes políticos), restando aos
É errôneo supor que o trabalho intelectual subordinados (agentes administrativos) tão
na administração de uma empresa se somente a capacidade de executar as tarefas que
distinga, de alguma maneira, daquele na lhes foram determinadas, com limitada capacidade
administração pública. O Estado de decisão. Não lhes é facultado descumprir
moderno, do ponto de vista sociológico, é
qualquer ordem oriunda de instância superior,
uma ‘empresa’, do mesmo modo que uma
fábrica; precisamente esta é sua também questionar ou mesmo refletir quanto ao
qualidade historicamente específica. seu mérito.
(WEBER, 1994, p. 530)

Os princípios da hierarquia dos postos e


O modelo burocrático de administração é dos níveis de autoridades significam um
sistema firmemente ordenado de mando e
construído em cima de um novo padrão de
subordinação, no qual há uma supervisão
racionalidade, o qual parte de premissas e dos postos inferiores pelos superiores.
Esse sistema oferece aos governados a
possibilidade de recorrer de uma decisão
8
Friederick Taylor foi engenheiro norte americano de uma autoridade inferior para a sua
conhecido como “o pai da Administração Científica” por autoridade superior, de uma forma
propor a utilização de métodos científicos cartesianos na regulada com precisão. (WEBER, 1979. p.
administração de empresas. Seu foco era a eficiência e 230).
eficácia operacional na administração industrial.

7
burocrático é o processo de proteção do núcleo
técnico do Estado contra a interferência oriunda do
O sistema hierarquicamente organizado
público ou de outras organizações intermediárias.
garante, pois, segurança jurídica e agilidade à
A cada órgão técnico constituído é atribuída a
prestação de serviços públicos, uma vez que
competência para a realização de uma atividade
assegura a centralização do poder de decisão e
específica, predeterminada pelo corpo político,
oferece a possibilidade de o governante
especializando-se, então, cada órgão no
uniformizar as soluções adotadas para situações
atingimento de um único objetivo.
diversas. Em assim não sendo feito, faculta-se ao
indivíduo recorrer de uma decisão ou ato O modelo burocrático pressupõe a
praticado, que entenda ser contrário à orientação constituição de corpos administrativos
superior. A rígida submissão dos funcionários permanentes e especializados para o exercício
públicos aos ditames impostos por superiores reiterado de funções específicas. Assim, à medida
garante sua isenção e imparcialidade no trato com que as atividades antes exercidas por agentes são
o público, bem como uniformidade no exercício da avocadas pelo Estado, são criados órgãos
administração, dentro do que atualmente se especializados para o seu exercício. Ademais, o
conhece por princípio da impessoalidade. fenômeno do insulamento burocrático tem o
condão de separar o poder de decisão do poder
Por princípio da impessoalidade, entende-
de execução, consubstanciando-se, por
se a impossibilidade de o agente público valer-se
conseguinte, na estratégia por excelência das
de razões pessoais ou de motivos próprios para o
elites para driblar a arena controlada pelos
exercício da atividade administrativa. O dever é de
partidos políticos. Ademais, supõe-se que a
isonomia absoluta, sendo as respostas públicas
repetição no exercício das tarefas por um órgão
indistintamente aplicadas a todos os governados
específico conduz à especialização e a maiores
independentemente do indivíduo ou da
níveis de eficiência, dentro de uma perspectiva
circunstância, conforme predeterminado pelas
fortemente influenciada pelas contemporâneas
autoridades superiores. A vontade individual e
teorias científica e clássica da administração de
subjetiva do executor não é digna de
Taylor e Fayol.
consideração. Aliás, conforme leciona Maria Silvia
Di Pietro (2008), os atos e provimentos O terceiro pressuposto do padrão
administrativos são imputáveis não ao funcionário burocrático de racionalidade, corolário dos
que os pratica, mas ao órgão ou entidade pressupostos anteriores e, também, do preceito de
administrativa ao qual está vinculado, sendo este impessoalidade, é o do universalismo de
último o autor institucional do ato. O agente é procedimentos, ou, como reconhecido por Max
apenas aquele que manifesta uma vontade que Weber (1994), do “formalismo processual”. De
não é sua, mas do Estado. Tal despersonalização acordo com o autor alemão, o direito racional do
é, para Weber (1979), evidente avanço em relação Estado ocidental moderno, segundo o qual decide
aos modelos anteriores, já que o funcionalismo especializado, origina-se, em seus
aspectos formais, no direito romano, que prima
pela extirpação do direito material, comumente
“Sem relação com pessoas” é também a impregnado por subjetivismos e dogmas
palavra de ordem no “mercado” e, em teocráticos, em favor do direito jurídico-formal,
geral, de todos os empreendimentos onde 9
objetivo e racional .
há apenas interesses econômicos. [...]
Quanto mais complicada e especializada Procedimentos racionalmente
se torna a cultura moderna, tanto mais universalizados asseguram objetividade na
seu aparato de apoio externo exige o tomada de decisões, afastam as tentações
perito despersonalizado e rigorosamente individualistas e impedem discriminações
“objetivo”, em lugar o mestre das velhas benéficas ou detrimentosas, haja vista
estruturas sociais, que era movido pela
determinarem o tratamento de todos conforme
simpatia e preferência pessoais, pela
graça e gratidão. (WEBER, 1979. p. 250- premissas objetivamente postas em normativas
251). previamente estabelecidas. Como assevera Nunes
(2002, p. 35), o universalismo de procedimentos é
associado às garantias individuais, à noção de
O segundo pressuposto do padrão cidadania plena e de igualdade perante a lei,
burocrático de racionalidade é o insulamento exemplificada por países de avançada economia
burocrático. Tal fenômeno consiste na formação
de corpos técnicos, constituídos para assessorar
os líderes de Estado na formulação e na execução 9
Na lição de Max Weber (1979, p. 250), “a interpretação
de políticas públicas, isolados do corpo político e, racional da lei, à base de conceitos rigorosamente
consequentemente, das contendas eleitorais. formais, opõe-se ao tipo de adjudicação ligado
Segundo Nunes (2003, p. 34), insulamento primordialmente às tradições sagradas”.

8
de mercado, regidos por um governo profissionalizado e permanente, baseado em
representativo. Para Weber (1979, p. 256), contrato, salário, pensão, carreira, treinamento,
divisão fixa de competências, documentação e
ordem hierárquica, é critério que denota
A igualdade perante a lei e a exigência de univocamente o processo de modernização do
garantias legais contra a arbitrariedade Estado, sendo ele monárquico ou democrático. A
requerem uma objetividade de imposição de uma regulamentação rígida quanto à
administração formal e racional, em força de trabalho deve servir como escudo a
oposição à discrição pessoalmente livre,
tendências impregnadas por fatores outros, que
que vem da graça do velho domínio
patrimonial. não o interesse público. A estabilidade e
inamovibilidade do agente público se fazem
pertinentes, como forma de proteção dos
Além de aspectos referentes à segurança membros do núcleo técnico no tocante a intentos
jurídica, às garantias contra a arbitrariedade e à ou ambições de natureza política ou eleitoral, o
previsibilidade das decisões, o formalismo que assegura o caráter “permanente” do corpo
procedimental garante, ainda, maior agilidade na burocrático. Por isso, a posição do funcionário nas
execução de tarefas, na medida em que dispensa burocracias públicas, em regra, é vitalícia, o que
qualquer tipo de raciocínio individualizado ou ocorre cada vez mais em todas as organizações
particular por parte do executor, que se vale única semelhantes.
e tão somente de soluções estandardizadas,
predeterminadas para serem aplicadas repetidas
Quando há garantias jurídicas contra o
vezes em situações semelhantes, como num
afastamento ou a transferência arbitrária,
modelo de produção em série. O burocrata estas servem simplesmente para
individual, para Weber, não pode esquivar-se ao assegurar que eventual demissão se dê
aparato ao qual está atrelado. Na grande maioria por razões objetivamente postas, pelo
das vezes ele é apenas uma engrenagem num descumprimento de deveres específicos
mecanismo em movimento. O funcionário é ao cargo, livre de quaisquer
especializado no exercício de tarefas específicas e considerações pessoais (WEBER, 1979,
treinado para aplicar soluções prontas às p. 236).
demandas com que possa se deparar, não
perdendo muito tempo no exercício de direito de
escolha, decisão ou de criação. Segundo Weber Assim, o modelo burocrático se conformou
(1979, p. 250), a partir da racionalização dos em um novo padrão de racionalidade à
procedimentos, “tarefas são atribuídas a Administração Pública, ao modo como gerido o
funcionários que têm treinamento especializado e bem coletivo, talvez não melhor ou superior ao
que, pela prática constante, aprendem cada vez modelo patrimonialista, mas provavelmente mais
mais”. adequado ao novo contexto histórico.
O quarto pressuposto diz respeito à
profissionalização e rígida regulamentação das 2.4 O Padrão Gerencial de Racionalidade
relações de trabalho no serviço público. O modelo
moderno de administração burocrática - ínsito quer
a uma democracia, quer a um Estado absoluto - Ao resolver alguns problemas crônicos do
elimina a figura da autoridade honorífica, detentora Poder Público brasileiro inerentes ao antigo
própria dos meios de dominação, bem como o modelo patrimonialista, acabou a burocracia por
exercício de autoridade por notáveis feudais, criar, não intencionalmente, muitos outros.
patrimoniais, patrícios ou outros cargos cuja Centralizar a atuação administrativa e criar órgãos
investidura se dá em função de critérios para o atendimento das demandas sociais
hereditários. A ocupação de um cargo passa a ser surgidas acabou por robustecer e encarecer o
uma profissão, não uma prebenda, tendo, pois, a aparato público, elevando, consequentemente, o
natureza de um dever e não de um privilégio. O gasto corrente. Possibilitar um acurado controle
Estado moderno, centralizado, não admite formal quanto ao uso de recursos e mecanismos
concorrência interna, razão pela qual ficam os públicos acabou por dificultar sua utilização com
agentes públicos dissociados da propriedade dos autonomia e eficiência. Ao estabelecer rígidos
meios de administração e dominação. Nesse procedimentos para a seleção de servidores e
cenário, a relação profissional torna-se adequada para a contratação de produtos e serviços, por
para o exercício da atividade administrativa de exemplo, acabou por impor amarras à autoridade
forma impessoal e eficiente. pública, inibindo, assim, o empenho, a
No dizer de Weber (1994, p. 529), a competência e a criatividade do agente estatal.
formação de um funcionalismo burocrático,

9
Em outras linhas, ao tentar controlar tão laboratórios, bibliotecas, computadores, internet
minimamente todas as atividades administrativas, em banda larga, dispositivos de áudio e vídeo,
tornou-se a Administração Pública burocrática tão além de professores especializados em disciplinas
obsessiva em universalizar os procedimentos, que não eram sequer conhecidas em outros
prever condutas e estabelecer escalas de tempos.
hierarquia, que passou a ignorar absolutamente a
Com os aumentos de gastos decorrentes
eficiência na prestação de serviços à coletividade.
de tais fenômenos, surge a proposta por uma
Em suma: pensar tanto nos meios e nos
redefinição quanto ao papel do Estado perante a
procedimentos faz com que nos esqueçamos dos
sociedade e, consequentemente, quanto à
resultados. Percebe-se, então, no modelo
racionalidade aplicada à Administração Pública. O
burocrático, a primazia de uma racionalidade
modelo burocrático encontra, então, detratores e
ligada não a resultados, mas a meios, normas e
dentre estes justamente aqueles que advogam o
procedimentos, muitas vezes em prejuízo ao
dever de o Estado abandonar sua condição de
atingimento de metas. Nesse sentido, refere
executor ou prestador imediato de serviços
Bresser-Pereira que
públicos, para passar à condição de regulador,
promotor ou provedor dos mesmos, agindo, pois,
indiretamente como mero “catalizador” do
É impossível ser racional definindo em lei
os objetivos específicos a serem desenvolvimento social.
alcançados e os meios a serem seguidos: Por essa linha de raciocínio, o Poder
a lei pode definir de modo genérico os Público, então, se desincumbe da
objetivos e os meios, mas sua
especificação competente depende
responsabilidade pela prestação direta de serviços
necessariamente de uma tomada de que, quando da construção do modelo burocrático,
decisão caso a caso (2009, p. 209). foram sendo avocados pelo ente estatal,
encarregando-se, pois, de meramente promover,
incentivar, garantir que particulares o façam por
Mudanças nos contextos fáticos conta e risco próprios. Osborne e Gaebler (1995)
envolvendo os Estados e governos catalisam os ilustram essa ideia a partir do conceito de
argumentos dos que detratam o modelo “navegar em vez de remar”. Referem que “o barco
burocrático porquanto ineficiente. Desde a do Estado pode navegar mais eficazmente se
emergência da burocracia, pôde-se observar nos forem outros a remar, e não só o Governo”
países que se valeram desse modelo a ocorrência (OSBORNE; GAEBLER, 1995, p. 32). De acordo
de três fenômenos. O primeiro é a ampliação das com os autores estadunidenses, os governos que
áreas de atuação do Estado. Se quando da passam do remo para a navegação têm menos
redenção da burocracia, careciam as sociedades trabalhadores envolvidos na prestação direta de
do início do século apenas de educação, saúde, serviço, mas um número maior de gerentes,
segurança, previdência e alguns outros serviços catalisadores e corretores. Têm menos pessoas
prestados em níveis básicos e de maneira trabalhando com papéis e mais trabalhadores com
incipiente, o tempo viu surgir a necessidade de o conhecimento.
Estado desempenhar outras funções, mais amplas Decorre desse novo conceito a flagrante
e complexas, tais como proteção ao meio- ênfase ao que se convencionou chamar de
ambiente, vigilância sanitária, telecomunicações, 10
princípio da subsidiariedade , pautado na ideia de
transporte coletivo, planejamento urbano, fomento centralidade da pessoa humana, pelo qual deve o
a pesquisas científicas, etc. Estado atuar não como protagonista, mas como
Em segundo lugar, o aumento da subsidiário no trato das coisas envolvendo os
“clientela” atendida pelo Estado. Se no início do cidadãos e a sociedade. Conforme Maria Sylvia
século apenas uma pequena elite oligárquica era Zanella Di Pietro (2002), o princípio da
considerada cidadã e, portanto, titular de direitos subsidiariedade traz consigo algumas ideias que
aos olhos do Estado, a burocratização do serviço lhe são inerentes. A primeira refere-se ao respeito
público proporcionou uma crescente inclusão de dos direitos individuais e, consequentemente, ao
inúmeras outras classes no conceito de cidadania, reconhecimento de que a iniciativa privada, em
acarretando considerável ampliação da clientela
beneficiada pelos serviços estatais. 10
O princípio da subsidiariedade foi formulado em fins
O terceiro fenômeno corresponde ao do século XIX e início do século XX, dentro da Doutrina
aumento dos custos da atuação do Estado. Se Social da Igreja Católica, principalmente pelas
antes o processo educacional, por exemplo, exigia Encíclicas RerumNovarum (1891), de Leão XIII,
apenas salas de aula, mesas, cadeiras e QuadragesimoAnno (1931), de Pio XI, MateretMagistra
professores de disciplinas básicas, o progresso e (1961), de João XXIII e, mais recentemente, a
a modernidade trouxeram a necessidade de CentesimusAnnus (1991), de João Paulo II (DI PIETRO,
2002).

10
áreas cuja sua atuação seja possível e desejável, decisões próprias, tende a tomar o lugar das
tem primazia em relação à atuação do Estado. O rigorosas relações de hierarquia e subordinação,
princípio da subsidiariedade opera, então, como na medida em que concentra nas mesmas
limite à intervenção do Poder Central sobre as pessoas o poder de decidir e de executar
relações entre particulares ou até mesmo entre conforme entender pertinente ao caso concreto. O
entes coletivos locais ou periféricos. Como a figura temor à arbitrariedade e ao abuso de poder, que
do Estado deriva da evolução das exigências do antes justificava a absoluta vinculação do executor
indivíduo, só poderá ele ser invocado e vir em às ordens oriundas dos superiores, é deixado de
socorro do cidadão quando esse não puder lado em prol da busca por agilidade e dinamismo.
realizar-se por si, com suas próprias forças.
Todavia, a concessão de maior autonomia
Em segundo lugar, o Estado assume o e liberdade de ação a órgãos de execução exige
dever de fomentar, coordenar, regulamentar e profissionais qualificados e confiáveis, aptos a
fiscalizar a atuação dos indivíduos, de modo a tomar decisões precisas quando em situações
garantir a boa prestação de serviços, bem como específicas e satisfeitos o suficiente para não
facilitar aos particulares o sucesso na condução sucumbir às tentações do desvio ou do abuso de
de seus empreendimentos. A terceira ideia poder. A descentralização administrativa impõe,
compreende a necessidade de realização de então, capacitação e valorização dos servidores
parcerias entre o Poder Público e a iniciativa públicos, devendo eles perceber remuneração
privada, também dentro do objetivo de subsidiar o condizente com as responsabilidades a si
ente individual, quando este se mostrar deficiente atribuídas.
(DI PIETRO, 2002).
Osborne e Gaebler (1995) desfilam alguns
Dessa nova proposta para o Estado surge argumentos em prol da descentralização
um novo padrão de racionalidade aplicável à administrativa. Segundo os autores de
Administração Pública, o qual se convencionou “Reinventando o Governo”, instituições
chamar de “padrão gerencial”, Menos propenso ao descentralizadas são mais flexíveis que as
estadocentrismo, ao formalismo e ao oferecimento centralizadas, visto que podem responder com
de soluções estandardizadas a demandas mais rapidez a mudanças circunstanciais
específicas, características típicas do modelo referentes à prestação do serviço propriamente
burocrático, o padrão gerencial atenta mais no dito, sem depender de quaisquer ordens advindas
oferecimento de respostas individuais a questões de instâncias superiores. Em função disso, tendem
singulares e na obtenção de resultados. a ser também mais eficientes, precisas e ágeis,
haja vista poderem agir conforme suas próprias
O primeiro pressuposto do padrão
considerações, de acordo com suas próprias
gerencial de racionalidade é o da descentralização
subjetividades e ao tempo que julgarem
administrativa. Consiste a descentralização
necessário.
administrativa na delegação de poderes e
competências, antes centralizados na figura do De mesma forma, para Osborne e Gaebler
próprio Estado, a entidades autônomas públicas (1995), instituições descentralizadas costumam
ou privadas, não hierarquicamente subordinadas ser mais inovadoras que as centralizadas, na
e, portanto, dotadas de liberdade o suficiente para medida em que as boas ideias referentes à
agir e encontrar suas próprias soluções e prestação de serviços surgem, de modo geral,
alternativas às demandas diversas, de maneira daqueles que efetivamente atuam em contato com
mais articulada e ágil. Segundo Bresser-Pereira o público e, portanto, conhecem profundamente as
(2009, p. 297), é através da descentralização dificuldades e oportunidades do serviço prestado.
administrativa que as organizações buscam a Por fim, instituições descentralizadas tendem a ter
superação das deseconomias de escala inerentes moral mais elevado e, em função disso, a ser mais
ao seu próprio crescimento, sendo, por isso, um comprometidas e produtivas. Agentes e
movimento “crucial para a administração pública instituições autônomos, não submetidos aos
gerencial”. rigorismos da subordinação hierárquica, sentem-
se mais livres e respeitados e, portanto, mais
A descentralização administrativa
dedicados à entrega de resultados do que a
possibilita flexibilização do movimento de
meramente agradar os superiores.
insulamento burocrático, acabando com a rígida
divisão entre órgãos decisores e órgãos O segundo pressuposto do modelo
executores. Com a descentralização vem o gerencial, estreitamente vinculado à premissa de
arrefecimento do rígido escalonamento vertical de descentralização administrativa, porém com
competências no serviço público. A concessão de peculiaridades próprias, que justificam sua
maior autonomia e liberdade a agentes, órgãos e qualificação como um pressuposto à parte, é o da
entidades (estatais ou não), antes tidos como privatização, ou seja, a delegação de bens e
inferiores e incapacitados para a tomada de serviços antes de titularidade do Estado à

11
sociedade civil. Privatizar é medida que vem ao conseguinte, da população, mediante
encontro das mudanças conceituais por que passa contraprestação paga exclusivamente pelo erário
a figura do Estado, que se desloca da condição de público, como ocorre na contratação de serviços
prestador direto de serviços e provedor imediato de vigilância eletrônica, ou de serviços de coleta
de bens, para a de indutor, regulador e de lixo coletivo, ou de fornecimento de merenda
fomentador. As privatizações se relacionam com a escolar.
descentralização, na medida em que se
O terceiro pressuposto do modelo
constituem em hipóteses de delegação da
gerencial diz respeito à flexibilização dos regimes
prestação de serviços públicos a entes
de trabalho no serviço público, contrapondo-se à
autônomos, não inseridos dentro da máquina
premissa de profissionalização e rígida
pública, que o fazem com maior autonomia e livre
regulamentação da força de trabalho, inerente ao
de rigores inerentes à atividade governamental.
modelo burocrático. A ideia é de que sejam os
É pertinente, contudo, atentar para o fato ocupantes de diferentes cargos, empregos e
de que por privatização não se concebe apenas o funções públicos regidos por normas
processo de alienação de empresas públicas ou diversificadas e flexíveis, adequadas às
das ações de sociedades de economia mista, peculiaridades das atividades exercidas e das
como comumente abordado, mas toda e qualquer circunstâncias que as permeiam. Outrossim,
hipótese de retirada da presença do Estado de pugna o modelo gerencial por que tenham as
setores atribuíveis à iniciativa privada. Nesse instituições públicas flexibilidade suficiente para
sentido, torna-se conveniente atentar à definição reagir a condições complexas e dinâmicas,
jurídica de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, para variáveis com a variação da circunstância.
quem privatização, em sentido amplo Segundo Osborne e Gaebler (1995), os agentes
públicos acabam por se tornar escravos dos
próprios mecanismos instituídos para sua
abrange todas de medidas com o objetivo proteção.
de diminuir o tamanho do Estado e que
compreendem, fundamentalmente: a)
desregulação(diminuição da intervenção Muitos servidores de governos
do Estado no domínio econômico); b) burocráticos se consideram prisioneiros
desmonopolizaçãode atividades de normas e regulamentos, entediados
econômicas;c)avenda de ações de por tarefas monótonas, responsáveis por
empresas estatais ao setor serviços que, bem sabem, poderiam ser
privado(desnacionalização ou completados em metade do tempo, se
desestatização) d)aconcessão de pudessem usar a própria cabeça.
serviços públicos(com a devolução da (OSBORNE; GAEBLER, 1995. p. 40)
qualidade de concessionário à empresa
privada e não mais a empresas estatais,
como vinha ocorrendo); e) oscontracting
out(como forma pela qual a Saliente-se, por oportuno, que, muito
Administração Pública celebra acordos de embora essa flexibilização dos regimes jurídicos
variados tipos para buscar a colaboração de servidores implique, na prática, em
do setor privado, podendo-se mencionar, precarização das relações de trabalho no serviço
como exemplos, os convênios e os público, em maior ou menor medida, uma vez que
contratos de obras e prestação de restringe garantias como a da estabilidade, em
serviços); é nesta última formula que momento algum ela pode ser confundida com
entra o instituto da terceirização.(DI
desvalorização dos agentes burocráticos.
PIETRO, 2002, p. 17-18, grifos da autora).
Conforme vimos anteriormente, a descentralização
administrativa exige servidores virtuosos,
capacitados e responsivos, o que passa
Aproveitamos o ensejo para fazer a devida
necessariamente pela sua valorização, inclusive
diferenciação entre a concessão de serviços
no que diz respeito à remuneração.
públicos e a terceirização da prestação de um
serviço de utilidade pública. Por concessão se O pressuposto quarto consiste no
compreende a outorga da possibilidade de abandono do formalismo procedimental, com
exploração de um serviço público por empresas deslocamento da ênfase do controle administrativo
privadas, mediante remuneração paga pelos dos procedimentos em direção aos resultados. A
próprios usuários do serviço, como ocorre com o rigidez normativa preconizada pelo universalismo
transporte coletivo, distribuição de água, energia de procedimentos, uma das gramáticas políticas
elétrica e telefonia. Por terceirização se entende a incorporadas pelo modelo burocrático, muito
contratação pelo Estado de uma empresa privada embora tenha garantido uniformidade e
para a prestação de um serviço que atenda às impessoalidade à atuação administrativa e tenha
necessidades do próprio Estado e, por combatido decisivamente o personalismo

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dominante no modelo patrimonialista, tende a pessoal que administram, além de sua
engessar a atuação do Poder Público em hierarquia. Sendo assim, esses
detrimento do efetivo atingimento dos resultados funcionários tratam de manter seus
pretendidos. empregos de qualquer maneira,
construindo, assim, seus impérios,
O esclarecimento para tal situação é tentando conseguir orçamentos maiores,
oferecido por Osborne e Gaebler (1995). Segundo supervisionar mais funcionários e ter mais
eles, em sua batalha contra a corrupção e contra o autoridade (OSBORNE; GAEBLER, 1995,
p. 151).
personalismo no setor público, foram concebidos
mecanismos de controle diversos, sempre de
caráter formal, sobre a observância de regras
procedimentais rígidas, mas nunca sobre o
desempenho.
Com tão pouca informação sobre os
resultados, os governos burocratizados
recompensam seus funcionários com
base em outros critérios: o tempo de
serviço, o volume de recursos e de

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