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economia
Robert P. Murphy
Meu intuito aqui é outro: quero chamar a atenção para o estupefaciente ódio
à propriedade privada e aos básicos direitos à privacidade financeira que
permeia todo o livro. A maneira mais rápida de fazer isso é simplesmente
reproduzindo algumas das mais aterradoras frases contidas no livro, as quais
vão logo abaixo.
À medida que você for lendo as frases abaixo, lembre-se de que o livro de
Piketty vem sendo celebrado por toda uma gama de intelectuais
progressistas, os quais, mesmo quando eventualmente o criticam
pontualmente — como fez Larry Summers, ex-secretário do Tesouro de Bill
Clinton —, fazem questão de ressaltar que o livro é simplesmente
maravilhoso.
"Impostos não são uma questão técnica. Impostos são, isso sim, uma questão
proeminentemente política e filosófica, talvez a mais importante de todas as
questões políticas. Sem impostos, a sociedade fica destituída de um destino
comum, e a ação coletiva se torna impossível." (p. 493)
"Um imposto de 0,1% sobre o capital não seria apenas mais um imposto; ele
teria, acima de tudo, o intuito de ser uma lei que obriga o relato compulsório de
informações pessoais. Todos seriam obrigados a divulgar informações sobre a
natureza de seus ativos para as autoridades financeiras mundiais. Só assim
poderão ser reconhecidos como os proprietários legais daquilo que possuem..."
(p. 519)
"Se, amanhã, alguém descobrir em seu quintal um tesouro maior do que toda a
riqueza existente em seu país, seria correto aprovar uma emenda constitucional
para que esta riqueza seja redistribuída de uma maneira mais sensata (é o que
devemos desejar)." (p. 537)
Essas frases revelam que Piketty na realidade não tem nenhum interesse em
apenas aumentar as receitas dos governos com seus esquemas tributários; o
que ele realmente quer é acabar de uma vez por todas com a formação de
fortunas.
economia
Hunter Lewis
sexta-feira, 28 nov 2014
(Se essa tese lhe soa familiar, é porque ela realmente é: a teoria de Piketty é
apenas uma repetição mais atualizada do que Marx e Keynes já haviam dito,
embora seja válido lembrar que Keynes zombou da maioria das coisas ditas
por Marx, classificando-as como "embuste").
Mas qual seria então a prova de que a riqueza cresceu mais rápido do que a
economia?
Analisemos o gráfico abaixo, que foi adaptado do livro de Piketty. A linha roxa
é o retorno sobre o capital e a linha amarela é a taxa de crescimento da
economia mundial. A linha roxa supostamente mostra como os ricos estão se
saindo e a linha amarela, como o cidadão médio está progredindo. Observe
que as partes de ambas as linhas localizadas na extrema direita do gráfico são
meramente uma projeção de Piketty, e não dados históricos.
Este gráfico é espantoso por várias razões. Em primeiro lugar, ele sugere que
o capital apresentou um retorno de 4,5% ou mais, por ano, no período que vai
do ano 0 ao ano 1800. Este valor é insano. Por exemplo, se toda a raça
humana houvesse começado o ano 1 com uma riqueza total de apenas US$10,
um crescimento composto de 4,5% ao ano durante 1.800 anos faria com que,
atualmente, fossemos mais de um trilhão de vezes mais ricos do que
realmente somos — lembrando que a riqueza total do mundo foi estimada
pelo Credit Suisse em US$241 trilhões de dólares.
Por fim, se analisarmos mais atentamente a parte mais atual do gráfico (1913
a 2012) e ignorarmos a projeção feita para o futuro, veremos que as linhas
também não dão sustentação à tese de Piketty. A ideia de que, no capitalismo,
os ricos sempre necessariamente se tornam mais ricos em relação a todos os
outros simplesmente não é corroborada pelos dados que ele apresenta.
Já o gráfico seguinte mostra a fatia da riqueza nas mãos dos 10% mais ricos
da Europa ao longo do tempo (linha azul-escura), a fatia de riqueza nas mãos
dos 10% mais ricos dos EUA (a linha verde clara), a fatia da riqueza nas mãos
do 1% mais rico da Europa (linha azul-clara) e a fatia da riqueza nas mãos do
1% mais rico dos EUA (a linha verde-escuro).
Este gráfico também não corrobora a tese de Piketty. Sim, a fatia dos ricos
cresceu desde 1970, mas só depois de ter caído acentuadamente antes.
Finalmente, o próximo gráfico mostra a renda dos 10% mais ricos dos EUA ao
longo do tempo em termos da porcentagem da renda total do país.
O que realmente vemos no gráfico acima são dois picos para as pessoas de
maior renda: um imediatamente antes da crise de 1929 e o outro
imediatamente antes da crise de 2008. Ambos os picos ocorreram justamente
durante as duas maiores bolhas econômicas da história americana, nas quais
o Banco Central americano, em conluio com o sistema bancário, estimulou a
expansão do crédito e criou muito dinheiro, o que gerou uma falsa e
insustentável prosperidade. Ambas também foram eras que representaram
o ápice do capitalismo corporativista — também chamado de "capitalismo de
compadrio" —, no qual aquelas pessoas ricas que tinham conexões com os
governos utilizaram o dinheiro criado pelo sistema bancário para se tornar
ainda mais ricas ou simplesmente se beneficiaram de outras políticas
governamentais que as favoreciam.
Ludwig von Mises demonstrou, há quase 100 anos, que uma economia
gerenciada pelo estado simplesmente não tem como funcionar, pois, entre
outros problemas, ela não é capaz de estabelecer preços racionais. Só uma
economia guiada pelos consumidores pode fazer isso. Os socialistas têm
tentado refutar a tese de Mises desde então, mas nunca conseguiram. Piketty
deveria ao menos ler Mises.
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Para ver outro artigo que refuta, com fatos e dados empíricos, a tese central
de Piketty, leia este:
economia
Theodore Dalrymple
Como se costuma dizer nos romances russos, chega de filosofia. Vamos agora
descer da atmosfera rarefeita da abstração e nos deslocar para a realidade
sórdida de um fenômeno real — neste caso, o fenomenal sucesso de um livro
chamado Capital no Século XXI, do francês Thomas Piketty. Ele está vendendo
tão rápido que as impressoras não conseguem acompanhar a demanda. Não
se encontra a obra nas livrarias, mesmo (nas palavras de Lane, o mordomo do
personagem Algernon em The Importance of Being Earnest, de Oscar Wilde)
com dinheiro vivo.
Isso é realmente impressionante, uma vez que Thomas Piketty não é Dan
Brown, o qual vende tolices abertamente supersticiosas escritas em prosa
abominável para os crédulos pós-religião. Não: o livro de Piketty é grande,
com centenas de páginas, e está recheado de dados misteriosos, que agora
temos de chamar de fatos. Felizmente, eu comprara uma cópia desse livro
quando ele apareceu pela primeira vez na França; e, em razão da sua rápida
ascensão ao status de ícone internacional, eu tenho a esperança de que a
minha edição original seja, no momento oportuno, considerada uma preciosa
relíquia sagrada com propriedades curativas.
Obviamente, ter comprado um livro e tê-lo lido não são a mesma coisa.
Infelizmente, apesar do seu tamanho e do seu peso, eu o perdi. Mas eu o
carregava comigo por um tempo, assim como, há muitos anos, quando era um
estudante de medicina, eu carregava comigo um livro de patologia, na
esperança de que eu aprenderia o seu conteúdo por meio de um processo de
osmose através das capas. No entanto, concluí que tinha de abri-lo e aprender
apenas o suficiente para passar nos exames. Desnecessário dizer, eu esqueci
tudo desde então.
Eu não costumo escrever sobre livros que não li; e eu suponho que, em minha
vida, devo ter analisado pelo menos uns 500 livros. Seria falsa modéstia negar
que eu li todos eles, incluindo muitas vezes as notas de rodapé, bem como
negar a minha solidariedade e a minha empatia com os autores, até mesmo
com os autores de livros tão ruins que eu considerava apenas ético fazê-lo —
e isso apesar do fato de que não é preciso comer o pote inteiro de manteiga
para saber que ela está estragada.
Todavia, duas ideias da obra de Piketty parecem ter sido discutidas com
maior vigor em todas as análises que li sobre o seu livro; assim, eu suponho
que elas devem representar o cerne daquilo que ele escreveu.
Quanto ao imposto sobre o capital, Piketty está certo ao dizer que ele tem de
ser global, pois, caso contrário, haveria fugas de capitais ou restrições locais
muito severas sobre os movimentos de capitais — e isso não seria
economicamente produtivo ou propício à igualdade. Um imposto global sobre
o capital, porém, exigiria uma autoridade mundial para estabelecê-lo,
arrecadá-lo e impingi-lo — com efeito, uma espécie de União Europeia
gigante. Sinto-me feliz porque não estarei vivo para ver isso ocorrer, mas eu
duvido que alguém, nascido ou não nascido, chegará a ver isso acontecer, pelo
simples motivo de que os chefes supremos desse governo mundial
precisariam de um paraíso fiscal no qual colocar o seu próprio dinheiro.
George Reisman
Logo, dado que o capital acumulado não gera nenhuma produção adicional, o
efeito de uma mudança nestas duas fatias é uma correspondente mudança em
termos absolutos — ou seja, um aumento nos lucros reais dos capitalistas e
uma diminuição nos salários reais dos trabalhadores.
Para evitar esta infindável e destrutiva acumulação de capital, bem como sua
consequente "espiral de desigualdade", Piketty defende um imposto de renda
progressivo, cuja alíquota pode chegar a 80% "sobre rendas acima de
US$500.000 ou US$1 milhão por ano", acompanhado por um imposto
progressivo que incide diretamente sobre o próprio capital acumulado, cuja
alíquota pode chegar a 10% ao ano.
Muito bem. Qualquer fatia destes 100 que seja usada para pagamentos de
salários irá necessariamente aumentar o total de salários pagos no sistema
econômico. Ao mesmo tempo, o gasto adicional de 100 com bens capitais e
com mão-de-obra representa um acréscimo de 100 aos custos agregados do
sistema produtivo, custos esses que, por uma mera questão de contabilidade,
terão de ser deduzidos das receitas, desta forma reduzindo de maneira
equivalente os lucros agregados.
No que mais, essa maior oferta de bens de capital — resultante de uma maior
acumulação de capital, possibilitada por mais poupança e mais investimentos
— faz aumentar a produtividade da mão-de-obra e aumentar o total de bens
e serviços que podem ser produzidos, incluindo uma oferta ainda maior de
bens de capital.
Por outro lado, a tributação desta poupança e deste capital acumulado — que
é o que defende Piketty — irá gerar efeitos exatamente opostos: menos
investimentos, menos salários, menos produção, mais escassez de bens e
serviços, mais carestia.
Um amigo, ao me flagrar com o tal livro, não vacilou em fazer piada: "Lendo a
nova bíblia da esquerda?!". "Pois é... Sou liberal exatamente por saber o que
os marxistas pensam", respondi.
Seu livro tem um único objetivo: julgar moralmente o direito de uma pessoa
guardar para si o fruto de seu próprio trabalho e decidir, por si mesma, qual
o destino desse fruto. A "moralidade" de Piketty chega ao nível de condenar
os herdeiros pelo sucesso dos pais!
Seu raciocínio é muito simples: quanto mais rico, mais imoral. Exercendo a
arrogância típica dos socialistas, Piketty ignora completamente a história, os
esforços e os talentos de indivíduos, enlatando-os como se formassem uma
única e homogênea massa de pessoas de caráter condenável pelo simples fato
de terem enriquecido.
Piketty tenta inúmeras vezes nos fazer crer que questiona Marx, aquele que
"...escreveu tomado por grande fervor político, o que muitas vezes o levou a
se precipitar e a defender argumentos mal embasados", em suas palavras,
mas em seguida enaltece a coerência de algumas ideias do pai do comunismo.
Em seu esforço para distorcer a realidade, Piketty chega a citar o caso chinês
do que seria um exemplo de desenvolvimento social promovido pelo
estado. Cita os investimentos em educação e em infraestrutura, mas se
"esquece" de que nenhuma escola ou ponte é construída sem dinheiro, e que
esse dinheiro vem da arrecadação de impostos, e que a quantidade de
impostos arrecadada depende do poder e da liberdade econômica da
sociedade como um todo.
Ou seja: ignora que centenas de milhões de chineses se livraram da extrema
pobreza simplesmente porque o estado deu um passo para trás, lhes dando a
liberdade para empreender negócios visando o lucro, com direito de
propriedade e com a possibilidade de ficarem ricos.
Pelo que sei, quem defende a "magia" nas soluções dos problemas do mundo
são os socialistas, com seus planos sempre muito poéticos no púlpito e muito
trágicos na realidade. Economistas liberais afirmam que todo e qualquer
desenvolvimento depende de um longo período de liberdade econômica, o
que possibilita o aperfeiçoamento espontâneo das interações entre mercado
e sociedade, sem milagres.
Como todo "bom socialista", Piketty não deixaria de mirar seu furor
ideológico na cultura norte-americana, citando meia dúzia de séries de TV
como exemplos do culto à "desigualdade justa". O francês se empolga:
"A sociedade meritocrática moderna, sobretudo nos Estados Unidos, é muito
mais dura com os perdedores, pois baseia a dominação sobre eles na justiça, na
virtude e no mérito, e, portanto, na insuficiência de sua propriedade".
Todavia, nada me provocou mais espasmos do que ele confessando que não
gosta do termo "ciência econômica" por lhe parecer "terrivelmente
arrogante". Ele prefere a expressão "economia política". Acredito!
"Impostos não são uma questão técnica", afirma Piketty; "Impostos são, isso
sim, uma questão proeminentemente política e filosófica, talvez a mais
importante de todas as questões políticas." Piketty ignora completamente o
que diz a história política da galáxia: taxações e confiscos beneficiam
principalmente os burocratas que vivem de arbitrar essas mesmas taxações e
esses mesmos confiscos. Piketty ignora também o resultado de todas as
experiências socialistas: quanto mais se arbitra sobre a riqueza privada, mais
se intimida o indivíduo comum a tentar enriquecer, provocando, assim, uma
desmotivação coletiva. A produtividade cai.
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economia
Primeiro problema
O fato é que, quanto mais capital você possui, menor é a sua capacidade de
torná-lo rentável: a capacidade de investi-lo bem, de evitar erros e de
encontrar oportunidades lucrativas de investimento que ninguém mais
conseguiu encontrar é tanto menor quanto maior a quantidade de fundos que
você tem de gerenciar.
Segundo problema
Em terceiro lugar, Pikkety não inclui no seu cômputo aquele outro grande
investimento feito pelas classes médias: o investimento em educação (capital
humano). Se ele houvesse feito isso, a desigualdade na propriedade do capital
seria ainda menor.
Terceiro problema
Ao sugerir isso, Piketty demonstra ignorar que a única forma de fazer com
que cada vez mais pessoas vivam melhor não é punindo a geração de riqueza,
mas sim permitindo que todos sejam livres para enriquecer. Se os últimos 40
anos podem ser caracterizados como o período mais igualitário em termos de
distribuição do capital em toda a história da humanidade não foi porque os
ricos foram arruinados, mas sim porque as classes médias começaram a
acumular algum patrimônio.
[Nota do IMB: acesso "gratuito" à educação é algo que o Brasil tem desde há
muito, do ensino básico à universidade. Portanto, assim como os nórdicos,
temos "educação gratuita"; mas ao contrário dos nórdicos, não temos uma
economia livre e desburocratizada.
Conclusão
Louis Rouanet
Sem dúvida, existe um mecanismo econômico bem simples que permite equilibrar o
processo: o mecanismo da oferta e da demanda. Se a oferta de qualquer bem for
insuficiente e o preço estiver exageradamente elevado, a procura por esse bem deve baixar,
o que permitirá uma redução do preço. Em outras palavras, se os preços dos imóveis nas
grandes cidades ficarem muito altos e o custo do petróleo aumentar, as pessoas podem
decidir morar em áreas mais afastadas ou até andar de bicicleta (ou, quem sabe, os dois
ao mesmo tempo). No entanto, além de desagradáveis e complicados, tais ajustes podem
levar várias décadas para ocorrer; nesse ínterim, os proprietários de imóveis e os donos
dos poços de petróleo podem acumular créditos tão volumosos em relação ao restante da
população que poderão facilmente vir a possuir tudo o que houver para possuir, inclusive
as terras no interior e as bicicletas. (Piketty 2013)
Deixemos de lado o tolo exemplo envolvendo uma bicicleta como resposta de mercado
para a escassez (tal exemplo implica um choque tecnológico negativo, sendo que
vivemos hoje em um mundo extremamente inovador). O fato é que Piketty realmente
acredita que uma única pessoa ou entidade se tornando proprietária de "tudo" é algo
possível de ocorrer em um capitalismo de livre mercado. De acordo com Piketty, se r >
g (ou seja, se a taxa de retorno sobre o capital investido é maior do que a taxa de
crescimento econômico), haverá uma "infinita espiral de desigualdade".
O livre mercado impõe limites definidos sobre o tamanho da empresa, isto é, determina os
limites da possibilidade de cálculo no mercado. Para calcular os lucros e os prejuízos de
cada departamento, uma empresa tem de ser capaz de comparar suas operações internas
aos mercados externos para cada um dos vários fatores de produção e produtos
intermediários. Se qualquer um desses mercados externos desaparecer, pois todos foram
absorvidos e se tornaram parte de uma única empresa, a capacidade de cálculo econômico
desaparece, e não mais há nenhuma maneira de uma empresa racionalmente alocar
fatores para aquela área específica. Quanto mais esses limites são transgredidos, maior
se torna a esfera da irracionalidade econômica, e mais difícil será evitar prejuízos. Um
grande e único cartel não seria capaz de alocar racionalmente fatores de produção, e isso
faria com que fosse impossível evitar prejuízo severos. Consequentemente, tal arranjo
jamais poderia realmente ser estabelecido; e, ainda que fosse, jamais poderia ser
mantido. Rapidamente ele se desintegraria.
Frédéric Bastiat, em seu leito de morte em Roma, e não obstante estar severamente
doente, deixou muito claro para o seu amigo Prosper Paillottet que os economistas
deveriam se concentrar majoritariamente no consumidor. O consumidor, disse ele, é a
fonte primária de quaisquer fenômenos econômicos. A principal falha do livro de
Piketty é que ele explica a desigualdade começando não pelas escolhas dos
consumidores, mas sim pela propriedade do capital. Os proprietários do capital, diz
Piketty, se beneficiam de uma taxa de retorno sobre o capital e, quando esta taxa é maior
que a taxa de crescimento econômico, ela intensifica as desigualdades de renda.
Para Piketty, a taxa de retorno sobre o capital é como se fosse um mítico fluxo de renda
que depende não da capacidade dos proprietários do capital, mas sim de quanto capital
você detém. Só que a distribuição de riqueza não é tão arbitrária quanto Piketty gosta
de imaginar. O consumidor detém a palavra final na decisão sobre quem deve ser o
proprietário dos fatores de produção. Como explicou Mises em Ação Humana, os ricos
"não são livres para gastar um dinheiro que os consumidores não estão dispostos a lhes
fornecer continuamente ao pagarem mais pelos produtos".
Dado que a teoria econômica que fundamenta a tese de Piketty é fraca, suas explicações
não batem com as evidências empíricas. Com efeito, o próprio Piketty teve de admitir
que "não vejo r > g como a única, ou mesmo a principal, ferramenta para se considerar
alterações na renda e na riqueza no século XX, ou para prever o caminho da
desigualdade no século XXI". E, de fato, r > g não é um ferramenta útil para a discussão
sobre a crescente desigualdade na renda do trabalho. Surpreendentemente, o próprio
Piketty admitiu a debilidade de seu modelo perante o fato de que o aumento da da renda
dos mais ricos nos EUA durante o período 1980—2010 deveu-se majoritariamente a
uma crescente desigualdade nos salários, e não à taxa de retorno do capital.
economia
O economista francês Thomas Piketty foi a revelação de 2014 no âmbito das ciências
sociais. Seu aclamado livro O Capital no Século XXI se converteu em uma obra de
referência para a esquerda e para a direita, chegando ao ponto de se transformar em
um livro que é comprado mas não é lido. E, quando é lido, raramente é lido de maneira
crítica.
Isso explica por que os incondicionais seguidores de Piketty se limitam apenas a utilizar
trechos de suas entrevistas e não de seu livro. E explica também por que os
entrevistadores de Piketty se rebaixam ao papel de apenas lhe estender um tapete
vermelho para que ele lhes desfile suas platitudes em vez de fazerem qualquer pergunta
desafiadora a respeito dos problemas básicos encontrados em seu livro.
Em outras palavras, os ricos se tornam cada vez mais ricos porque os capitalistas são
capazes de obter, automaticamente, uma taxa de retorno sobre seu capital investido
maior que a taxa de crescimento de todo o conjunto da economia (sua famosa
desigualdade r > g). Isso significa, portanto, que os ricos vão abocanhando uma fatia
cada vez maior do bolo.
Nas palavras do próprio Piketty: "A desigualdade r > g implica, em certo sentido, que o
passado tende a devorar o futuro: a riqueza originada no passado cresce
automaticamente mais rápido do que a riqueza derivada do trabalho, mesmo quando o
rentista opte por não trabalhar".
Ou seja, uma pessoa é rica hoje não em função da riqueza que gerou hoje, mas sim da
riqueza que tinha ontem graças à capitalização rentista dos juros.
Ao contrário do que afirma Piketty, nenhum ativo — real ou financeiro — possui uma
rentabilidade automática ou garantida. Ser rico hoje não é garantia de continuar sendo
rico no futuro. Mais ainda: ser rico hoje não é garantia nenhuma de que você será ainda
mais rico no futuro. Que o digam os ricaços da década de 1980: todos eles perderam
mais de 50% do seu patrimônio desde então.
O fato é que, quanto mais capital você possui, menor é a sua capacidade de torná-lo
rentável: a capacidade de investi-lo bem, de evitar erros e de encontrar oportunidades
lucrativas de investimento que ninguém mais conseguiu encontrar é tanto menor
quanto maior a quantidade de fundos que você tem de gerenciar.
Surge o Pokémon Go
O êxito deste aplicativo gratuito tem sido estrondoso: em poucos dias, superou os
usuários ativos do Twitter e apresentou mais minutos de uso diário do que o
WhatsApp. Isso permitiu ao aplicativo veicular uma potencialmente lucrativa
publicidade dentro do jogo (como fazem todos os aplicativos gratuitos de smartphone).
O resultado econômico mais imediato foi uma explosão na valorização das ações da
Nintendo, que mais do que duplicaram em poucos dias.
Alguns dias mais tarde, quando a própria Nintendo divulgou um comunicado alertando
que o impacto financeiro gerado pelo Pokemón Go nas receitas da empresa seria menor
do que o precificado pelos investidores, as ações desabaram (vide gráfico acima).
Hoje, no entanto, ainda são 33% maiores do que eram antes do lançamento do jogo.
Tracemos agora um paralelo entre este súbito aumento na riqueza da Nintendo com a
teoria de Piketty. Em que sentido a riqueza originada no passado
cresce automaticamente sem necessitar de engenho, criatividade, dedicação, satisfação
dos consumidores e criação de valor? Em nenhum.
Se a Nintendo não houvesse investido e criado, junto com a empresa Niantic, o aplicativo
Pokémon Go, sua capitalização na bolsa não teria explodido e a empresa não estaria hoje
33% mais rica. Ou se, por sua vez, a Nintendo houvesse criado um aplicativo desastroso
que ninguém quisesse usar, seu valor de mercado não teria aumentado em nada — com
efeito, poderia até desabar, pois a empresa teria gasto dinheiro no desenvolvimento,
mas não teria obtido receita nenhuma, o que significa que ela queimou capital.
Como é possível dizer, então, que a riqueza passada gera automaticamente a riqueza
futura? Por acaso aplicativos como Pokémon Go (ou ferramentas de busca como Google,
ou redes sociais como Facebook, ou aparelhos de celular como o iPhone) são criados
automaticamente?
Não, o que cria a riqueza futura é o uso sábio dos fatores de produção atuais. O que cria
riqueza futura é saber utilizar corretamente os fatores de produção existentes (mão-de-
obra, cérebros humanos, recursos físicos e tecnológicos, inteligência, ideias) e
direcioná-los a projetos empreendedoriais que maximizam a criação de valor para os
consumidores.
E esses projetos empreendedoriais não são nem conhecidos a priori e nem são fáceis de
ser descobertos.
E, como bem mostra aquela recente queda nas ações da Nintendo, que ninguém pense
que esta enorme riqueza gerada pelo lançamento de um aplicativo de celular seja algo
permanente e irreversível (como também afirma Piketty). A valorização de 33% da
Nintendo reflete, pura e simplesmente, o valor presente de todos os lucros que se espera
que o Pokémon Go gere no futuro. Esse aumento da riqueza da Nintendo não decorre
dos ganhos passados que ela acumulou até hoje, mas sim os ganhos que são esperados
no futuro em decorrência de um bom desempenho da empresa.
Por isso, se nos próximos dias, meses ou anos o Pokemón Go não se mostrar à altura das
expectativas que se formaram hoje a seu respeito — se seus usuários não mais o
utilizarem por tanto tempo como o fazem hoje, se surgirem outros aplicativos mais
interesses para os consumidores, se as receitas de publicidade não se mostrarem
suficientes etc. —, então o valor das ações da Nintendo desabarão. Ou seja, esse
crescimento de 33% em sua riqueza serão inteiramente revertidos.
Em suma, a riqueza que a Nintendo acumulou estes dias não dependeu em quase nada
da riqueza que ela acumulou no passado (o Pokemón Go teve um custo de
desenvolvimento inferior a 30 milhões de dólares, os quais foram captados de diversas
fontes), mas sim de como a empresa foi sábia em investir esse capital no presente e do
como o seguirá investindo no futuro.
A riqueza não olha para o passado, mas sim para o futuro: aqueles que não sabem
utilizar produtivamente seu capital em prol dos consumidores ficarão, na melhor das
hipóteses, estagnados e com um patrimônio volúvel (a menos, é claro, que o estado os
proteja mediante o esbulho do resto da população). De novo, que o digam os ricaços da
década de 1980: todos eles perderam mais de 50% do seu patrimônio desde então.
Quanto a Piketty, como já dito, em seu livro ele desconsidera o papel do empreendedor
e nem sequer menciona o papel da divisão do trabalho na criação de riqueza. Mas a
divisão do trabalho é uma característica crucial (e necessária) da economia de
mercado. Com efeito, a própria existência de capitalistas ricos não é uma questão de
herança ou de sorte imerecida, mas sim o resultado da "lei das vantagens
comparativas". Um capitalista bem sucedido é alguém que possui uma vantagem
comparativa em alocar capital — ou seja, ele tem uma capacidade superior aos outros
neste quesito — e, consequentemente, é especialista nesta tarefa.
Em um mercado livre e desimpedido, aqueles que tendem a ser os mais ricos também
tendem a ser os mais eficientes na alocação do capital. Se sua capacidade de alocação
for ruim, então os consumidores irão puni-los. Se sua capacidade de alocação for boa,
os consumidores irão recompensá-los.
É realmente
impressionante como acadêmicos marxistas conseguem sempre — sempre! —
enganar a mídia e os incautos: eles são vistos como possuidores de um alto
padrão moral ao mesmo tempo em que defendem a ideologia responsável que
prega a chacina e a obliteração da civilização humana, e que foiresponsável direta
pela morte de centenas de milhões de pessoas ao longo do último século.
3) por isso, precisamos de ainda mais socialismo, pois o socialismo que foi tentado
não foi o correto.
Piketty diz que o “problema” do capitalismo é que o capital investido gera retornos
mais altos do que os ganhos do trabalho. Se esse é o problema, eis então uma
solução libertária para esse “problema”: corte radical de impostos, desestatização,
abolição de tarifas protecionistas e desregulamentação de todos os setores da
economia. Essas quatro medidas imediatamente criariam mais liberdade
econômica, mais liberdade de entrada, mais concorrência e, por conseguinte,
menores lucros e uma menor taxa de retorno sobre o capital investido.
Quando isso ocorrer, pode contar com o futuro surgimento de um novo Thomas
Piketty, que agora escreverá um livro de mil páginas sobre como os malefícios do
capitalismo levaram a uma diminuição da taxa de retorno dos empreendedores,
que agora estão com dificuldades para ter lucro. E como o governo deve intervir
para aumentar a taxa de retorno dos empreendedores.
Nota do IMB: o governo francês recuou e aboliu a recém-implementada alíquota de
75% do imposto de renda após as receitas adicionais — contrariamente ao que foi
previsto por Piketty — terem se revelado ínfimas. Não prenda a respiração na
expectativa de que isso abalará a credibilidade de Piketty.
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E é claro que isso é verdade. Escolas de pensamento não devem ser rígidas ou
dogmáticas ou muito estreitamente definidas. Mas, classificar vários economistas e
teorias em grupos ou árvores genealógicas realmente nos ajuda a ter uma noção
da economia. Isso nos ajuda a entender como chegamos em um momento e lugar
em que Ben Bernanke, Paul Krugman, Thomas Piketty e Christine Lagarde são
vistos como pensadores mainstream modernos ao invés de radicais como o são
quando comparados a toda a história da área.
Nós fornecemos algumas fotocópias que traçam rudemente a história do
pensamento econômico. Note a divisão na década de 1930, não coincidentemente
durante a Grande Depressão, entre Mises e John Maynard Keynes. Até então,
desde 1850 em diante, a economia Austríaca eraa economia mainstream. Mas,
como você pode ver, a maioria dos economistas mainstream de hoje está debaixo
da sombra de Keynes e eles tendem a focar em variações das ideias de Keynes
sobre a demanda agregada.
O que me leva ao meu assunto de hoje: “Por que qualquer assunto de economia
importa?”. Eu digo “qualquer” porque neste momento o assunto inteiro parece
estar perdido para o americano médio. Economia não é um tópico popular entre a
população em geral, é o que aparenta. De qualquer modo, quando a economia é
discutida, é no contexto da política – e a política nos dá somente os chavões mais
suaves, seguros e insignificantes sobre assuntos econômicos.
O Bernie Sanders ou a Hillary Clinton simplesmente não vão falar muito em termos
econômicos ou apresentar “planos” econômicos detalhados. Pelo contrário, eles
vão assumir certamente que a maioria dos americanos apenas não tem qualquer
interesse além dos slogans como “1%”, “justiça social”, “ganância”, “pagando a sua
parcela justa”, e coisas semelhantes.
Candidatos à direita não serão muito melhores. Eles vão preferir falar sobre outros
assuntos, mas quando eles abordam economia, eles são aparentemente
protecionistas como o Donald Trump ou terrivelmente estúpidos. Quem se importa
com propostas de corte de taxas?
Então não vamos ser muito duros com as pessoas por não gastarem o seu tempo
livre lendo economia. O lazer em si é uma atividade muito importante e representa
uma forma de escolha econômica.
Mas a economia importa muito e nós ignoramos isso a nosso próprio risco.
Economia é como a gravidade, a matemática ou a política – talvez não
entendamos, ou nem pensemos muito a respeito, mas nos afeta profundamente
gostemos ou não.
No entanto, uma vez que entendemos que todas as ações humanas são ações
econômicas, nós entendemos que não podemos escapar ou abrir mão da nossa
responsabilidade de entender ao menos o básico de economia. Pensar de outra
forma é evitar a responsabilidade pelas nossas próprias vidas.
Mas, de alguma forma, nós fomos levados a acreditar que economia deve ser
deixada para os acadêmicos e os políticos. E, ainda pior, nós nem reclamamos
quando as crianças crescem e se tornam adultos com pouco ou nenhum
conhecimento em economia, ainda que possuam fortes opiniões sobre questões
econômicas.
Estou certo de que estamos todos familiarizados com o fenômeno nas mídias
sociais, que parece perfeitamente adequada para as opiniões vociferantes
infundadas.
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Isso fica claro num exercício de imaginação. Suponha que, de repente, todo o
dinheiro do Brasil seja dividido igualmente entre todos os brasileiros. De um dia
para o outro, nos tornamos um país mais igualitário que a Noruega; o coeficiente
de Gini cai a zero.[1] O banqueiro Joseph Safra e o cobrador de ônibus acordam
com o mesmo patrimônio.
Agora imagine que, no dia seguinte a essa revolução igualitária, surge na internet
um canal de humor chamadoPorta dos Fundos. Os humoristas do Porta dos
Fundosescrevem roteiros geniais; os vídeos que eles lançam logo geram
comentários e milhões de visualizações. Ao clicar tantas vezes em links do Porta
dos Fundos, os brasileiros dão mais dinheiro a esse grupo de humoristas que a
outros, criando a desigualdade no mercado de humor pela internet. O Porta dos
Fundos ficaria com a maior parte da verba destinada a canais de comédia do
YouTube, sem falar nos anunciantes que, por vontade própria, decidirão usar sua
parte da renda dividida igualmente entre os brasileiros para contratá-los como
garotos-propaganda.
Do mesmo modo, o mais comunista dos fãs de Música Popular Brasileira está
disposto a pagar um bom punhado de reais para assistir a um show do Chico
Buarque. Mas não iria ao show “Leandro Narloch canta os grandes sucessos de
Kelly Key” nem que lhe pagassem dez reais para isso. Ao escolher pagar a uns
artistas mais que a outros, o mais comunista dos apreciadores de MPB está
aumentando a desigualdade no mercado da música. Deveríamos proibi-lo de
tomar essa decisão?
A livre-iniciativa torna o Brasil e todos os países do mundo desiguais, mas ela não
é suficiente para explicar por que somos campeões mundiais nessa modalidade. A
concentração de renda tem causas além das forças do mercado.
AS
CIDADES
MAIS
IGUALITÁR
IAS DO
BRASIL
1. São José
do
Hortêncio
(RS) 0,28
2. Botuverá
(SC) 0,28
3. Alto Feliz
(RS) 0,29
4. São
Vendelino
(RS) 0,29
5. Vale Real
(RS) 0,29
6. Santa
Maria do
Herval (RS)
0,30
7. Tupandi
(RS) 0,31
8.
Campestre
da Serra
(RS) 0,31
9. Nova
Pádua (RS)
0,32
10. Córrego
Fundo (MG)
0,32
11. Santa
Rosa de
Lima (SC)
0,32
12. Picada
Café (RS)
0,32
13.
Presidente
Lucena (RS)
0,32
14. Vila
Flores (RS)
0,32
15. Morro
Reuter (RS)
0,32
A cidade com a renda mais distribuída do país, São José do Hortêncio, tem um
índice de Gini de 0,28, abaixo dos 0,29 da Dinamarca. Não houve nessas cidades
nenhuma política pública de redução de desigualdade, nenhum imposto sobre
fortunas ou coisa parecida. O que explica a igualdade por lá é simplesmente a
semelhança entre os cidadãos. Asemelhança entre os moradores explica a
igualdade escandinava. Assim como os dinamarqueses, quase todos ali têm a
mesma origem cultural, o mesmo nível de educação. E muitos têm origem
luterana, como os dinamarqueses, o que historicamente contribuiu para a
igualdade.
O economista Erzo Luttmer mostrou, em 2001, que, nos Estados Unidos, o valor
dos programas de redistribuição de renda é menor nos estados onde a população
é mais diversa. “Se indivíduos preferem contribuir para sua própria raça, etnia ou
grupo religioso, eles optam por menos redistribuição quando membros de seu
grupo constituem uma parte menor dos beneficiários”, diz Luttmer. “Com o
aumento da diversidade, a porção de beneficiários que pertencem a um grupo
diminui em média. Então o apoio médio para redistribuição cai se a diversidade
aumenta.”
Isso leva a uma conclusão impressionante. Não foi o estado de bem-estar social
que possibilitou a igualdade da Dinamarca, mas o contrário: a semelhança entre os
cidadãos escandinavos possibilitou o estado de bem-estar social.
Quem quer um Brasil com um índice escandinavo de igualdade precisa torcer para
que algum fenômeno a la Saramago divida o país em diversos territórios. Uma
alternativa é deixar de ligar tanto para a estatística de desigualdade — e desfrutar
a diversidade e a miscigenação que definem o Brasil.
3. O Brasil é desigual porque as famílias pobres tinham muito mais filhos que
as ricas
“Os pobres não apenas têm menores salários que os ricos, mas também dividem
esse salário entre mais indivíduos, resultando em maior desigualdade de renda per
capita”, dizem os economistas Ricardo Hausmann e Miguel Székely em um estudo
sobre fecundidade e desigualdade na América Latina.
Trata-se de simples aritmética. A renda per capita, como diz o nome, é calculada
pelo número de cabeças. Um casal que ganha 1.400 reais e tem três filhos resulta
numa renda per capita de 280 reais. Se o mesmo casal tivesse cinco filhos, a
renda per capita cairia para 200 reais.
Além disso, mais filhos significam mais gastos — e menos dinheiro para investir na
educação de cada um. “O número de filhos que um casal decide ter possui forte
relação com o nível de educação que os pais conseguirão fornecer aos filhos”,
dizem Hausmann e Szekely. Cada criança começará a vida com uma parte menor
da renda dos pais e com menor escolaridade. Um estudo de 2014 mostra que até
40% da queda da desigualdade de renda são explicados pela queda na
desigualdade de escolaridade.
Fica ainda pior. Crianças com pouca escolaridade, quando crescerem, vão
concorrer no mercado por vagas de pouca qualificação, aumentando a oferta de
trabalhadores não qualificados. Uma vez que salários, assim como qualquer
preço, são definidos pela oferta e procura, o salário de pessoas não qualificadas
vai cair, aumentando a diferença de renda entre pouco e muito qualificadas. O
maior número de filhos ainda resulta em uma poupança menor — e um país com
menos economias tem menos capacidade de investimento.
Por outro lado, se você tem menos filhos, pode investir mais na educação de cada
um deles, quem sabe pagar um intercâmbio para a Inglaterra quando o rapaz
chegar à adolescência. Se menos jovens bem qualificados aparecem no mercado,
cai a oferta de empregados para vagas mais qualificadas; devido à oferta e à
procura, o salário nessas áreas sobe. Em 1973, o economista Carlos Langoni
mostrou que, se a economia cresce muito rápido, a baixa educação dos cidadãos
se torna um motor potente de desigualdade. Com muitas empresas à procura de
funcionários, os poucos candidatos qualificados viram uma mercadoria tão
escassa quanto casa de praia durante a temporada. O salário deles sobe muito
mais que o dos menos educados, aumentando a desigualdade.
Resumindo: pobres, em geral, dividem a renda com mais indivíduos e educam
menos os filhos, contribuindo para oferta maior (e menores salários) de
trabalhadores pouco qualificados; ricos dividem a renda com menos filhos e
conseguem dar uma melhor educação a eles, contribuindo para não aumentar a
oferta (e garantindo maiores salários) de pessoas bem qualificadas.
Uma opinião comum nas discussões sobre economia é que, se o governo deixar,
as grandes corporações vão avançar sobre os pequenos empresários e os ricos
concentrarão toda a renda do país.
Não, é o contrário.
Quem diz isso é um cara de esquerda, o economista Joseph Stiglitz, prêmio Nobel
de 2001. No livro O Preço da Desigualdade, Stiglitz dedica todo um capítulo sobre
ações do governo que deixam os pobres mais pobres e os ricos mais ricos. Seu
principal alvo é o rent-seeking — a arte de conseguir benefícios e privilégios não
pelo mercado, mas pela política.
Outros motores estatais de desigualdade não são tão fáceis de perceber. As leis
urbanísticas, por exemplo. Em muitas cidades brasileiras, a prefeitura impõe um
limite de área construída em relação à área do terreno. É por isso que o Brasil não
tem prédios com mais de cem andares, como em qualquer lugar civilizado. A
regulação urbanística cria uma escassez artificial de espaço urbano, empurrando o
preço para cima.
A principal tese do francês Thomas Piketty, autor de O Capital no Século 21, é que
o retorno sobre o capital vem crescendo em relação ao retorno sobre o trabalho.
Está valendo mais a pena viver de renda que do trabalho. Por que isso acontece?
Para o norte-americano Matthew Rognlie, estudante de economia de 26 anos que
virou o anti-Piketty, as leis de zoneamento são um dos motivos. “Quem está
preocupado com a distribuição de renda precisa ficar atento aos custos de
moradia”, escreveu ele. Com a escassez artificial de espaço, quem tem imóveis
fica ainda mais rico, enquanto os que estão lutando para comprar um imóvel
precisam contrair uma dívida maior para realizar o sonho da casa própria. O de
cima sobe e o de baixo desce, como dizia aquele axé da banda As Meninas.
“A pobreza urbana não deveria ser comparada à riqueza urbana”, diz o economista
Edward Glaeser, professor de Harvard e o mais celebrado especialista em
economia das cidades. “As favelas do Rio de Janeiro parecem terríveis se
comparadas a bairros prósperos de Chicago, mas os índices de pobreza no Rio
são bem menores que no interior do Nordeste brasileiro.”
________________________
[1] Índice mais usado para medir a desigualdade, o coeficiente de Gini vai de 0
(igualdade total) a 1 (desigualdade total).
[2] Não estou, aqui, defendendo que as famílias tenham menos filhos. Bom mesmo
seria se o crescimento de economia e da produtividade fosse maior que o da
população brasileira. Como isso não aconteceu, a natalidade se tornou uma
máquina de pobreza e desigualdade no país.
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A Escola
Austríaca de economia surgiu em oposição à Escola Historicista Alemã; e Carl
Menger desenvolveu suas posições metodológicas em combate ao grupo rival.
Assim, eu desejo primeiro discutir os ensinamentos filosóficos da Escola
Historicista, uma vez que isso irá aprofundar nossa compreensão da contrastante
posição austríaca.
Ludwig von Mises, o maior economista austríaco do século XX, se viu alvo de um
ataque filosófico. O movimento do positivismo lógico colocou seu método dedutivo
ou praxeológico sob severa análise. Os filósofos do Círculo de Viena
argumentavam que a ciência é empírica. A dedução não pode nos dar novo
conhecimento sobre o mundo sem o uso de premissas não-dedutivas. Nós
examinaremos a força da crítica positivista.
A Escola Historicista Alemã incluiu, entre outros, Adolf Wagener, Karl Knies e
Gustav Schmoller. Apesar de a maioria das pessoas pensar nesse grupo como
confinado ao século XIX, ele durou por muito mais tempo. Werner Sombart, o
membro mais importante da Escola Historicista mais recente, morreu em 1939.
Sombart, incidentalmente, era um conhecido de Mises e professor de Ludwig
Lachmann. Outro economista, Othmar Spann, que era bastante simpático à Escola
Historicista, viveu até 1951. Por um curto período, Spann foi professor de Friedrich
Hayek, mas Hayek foi expulso do seminário de Spann.
De acordo com esse princípio, tudo que existe está ligado em uma íntima unidade.
Sendo mais preciso, se duas substâncias são relacionadas, nenhuma delas seria a
mesma substância se a relação fosse alterada. A relação gera uma propriedade
relacional que é parte da essência de seu possuidor.[3]
Um exemplo talvez tornará isso mais claro. Suponha que eu não conheço o
presidente Bill Clinton. Se eu fosse conhecê-lo, eu continuaria a mesma pessoa.
Ser conhecido de Bill Clinton não é parte da minha essência. Pelo menos é o que
diz o senso comum.
O adepto das relações internas nega isso. Ele acha que todas as propriedades de
uma entidade são essenciais a ela. Meu encontro com o presidente Clinton afeta
cada uma das minhas outras propriedades. A pessoa que conheceu o presidente é
uma pessoa diferente daquela que não o conheceu, independente do quão
parecidos possam ser.
A doutrina das relações internas tem drásticas consequências para a ciência. Uma
vez que todas as coisas estão conectadas, conhecimento total de algo requer
conhecimento de tudo. O método característico da economia procede pelo uso de
teorias e modelos. Estes consideram um grupo particular de fatores em isolamento
do resto do mundo.
De forma mais geral, Hegel via o estado como o diretor da economia. A “sociedade
civil”, apesar de não ser parte do estado, estava sob a sua autoridade. Permitir
escopo irrestrito das supostas leis da economia clássica era subordinar uma
entidade mais elevada, o estado, a uma mais baixa, a economia. Ao invés disso, a
economia deveria ser manipulada para reforçar o poder do estado.
Não é acidente, sugiro eu, que a Escola Historicista era exatamente a favor das
mesmas ideias. Mises, em Omnipotent Government, descreveu em detalhe a
forma como os economistas alemães antes da Primeira Guerra Mundial
advogavam o uso da economia como meio de avançar o poder do estado. O
comércio não deve ser livre, mas controlado pelo estado para seus próprios
propósitos.[6]
Franz Brentano
A Escola Austríaca colocava-se diametralmente oposta à Escola Historicista
Alemã.[7] Em vista da vasta divergência em economia entre as duas escolas,
pode-se esperar diferenças substanciais em suas bases filosóficas. Isto é
exatamente o que se encontra. O principal filósofo que influenciou Carl Menger foi
Franz Brentano. Ele resolutamente rejeitava a doutrina das relações internas,
juntamente com o restante do sistema hegeliano.
Ele não acreditava que tudo era tão internamente ligado com todo o resto que
nada poderia ser estudado de forma separada. Muito pelo contrário, a mente era
claramente separada do mundo externo. Ademais, Brentano estendeu sua
abordagem analítica e separada à própria mente. Ele distinguia entre atos da
consciência e seus objetos.
Filósofos como John Locke e David Hume pregavam que, de forma simples, ideias
são imagens impressas na mente pelos objetos externos. Pelo menos enquanto
recebe as impressões, a mente é passiva. Os empiricistas reconheciam poderes
ativos da mente até certo ponto. Mas a fim de que os poderes ativos pudessem
funcionar, a mente tinha que primeiro ter ideais impressas em si. (Ideias inatas são
uma complicação que, para os nossos propósitos, podem ser ignoradas.)
Menger e Böhm-Bawerk
Obviamente, Menger não foi o único austríaco a ser influenciado pela filosofia. Seu
discípulo Eugen von Böhm-Bawerk também mostrava temáticas filosóficas em seu
trabalho. Assim como Menger, ele rejeitava a alegação da Escola Historicista de
que não existiam leis da economia universalmente válidas. Em um ensaio incisivo,
“Control or Economic Law”, ele critica a afirmação de que o estado tem a
habilidade de assegurar uma economia próspera em soberano desprezo às leis
econômicas. Ao tomar essa posição, ele implicitamente rejeitou a posição de que
todas as relações são internas; como já havíamos enfatizado, essa visão exclui a
possibilidade de leis científicas.
A posição em questão era que conceitos precisam ser seguidos às suas origens
na percepção, sua fonte final. Se, e.g., Hegel se refere ao Espírito Absoluto, um
analista na tradição de Böhm-Bawerk perguntaria: de onde vem essa noção?
Poderia-se mostrar como se chegaria a ela através da abstração da experiência?
Se não se pode, o conceito deve ser rejeitado como não tendo significado.
Até então nós descrevemos a forma pela qual ideias filosóficas afetaram o
tratamento de várias questões dentro da teoria econômica por Menger e Böhm-
Bawerk. Mas a filosofia também os influenciou em questões mais abrangentes. A
visão austríaca do método em economia manifesta doutrinas filosóficas distintas.
Por um lado, tanto Menger quanto Böhm-Bawerk enfatizaram muito que apenas
indivíduos agem, uma posição que novamente os colocou em oposição à Escola
Historicista, com suas raízes hegelianas. De acordo com o princípio do
individualismo metodológico, estados, classes e outras entidades coletivas são
reduzidos a indivíduos em relações entre si. Declarações tais como “a França
declarou guerra contra a Alemanha em 1870” é uma forma abreviada para
declarações sobre pessoas particulares. Essa posição pode parecer óbvia: parece
estranho pensar no estado agindo de uma forma não-redutível às ações das
pessoas que o compõe.
Mesmo assim, durante o século XIX esse ponto não era de forma alguma dado
como verdadeiro. A Escola Historicista rejeitava o individualismo metodológico e,
nessa rejeição, a eles se uniu o principal historiador legal alemão do período, Otto
von Gierke. Mesmo muito depois disso, o economista austríaco Othmar Spann
sustentava posições holísticas similares.
Spann, o qual nos referimos anteriormente de forma breve, achava que considerar
indivíduos como agentes separados era o cúmulo da tolice. Indivíduos existem nas
relações que formam seus caráteres. Deve-se tomar essas relações como
completas, incapazes de subsequente análise. Poucos economistas hoje
sustentam tais posições, mas o fato de que elas nos parecem bobas se origina, em
parte, da campanha bem sucedida dos austríacos pelo individualismo.
Ciência Dedutiva
A ciência empírica existe como um substituto para a verdadeira ciência, que deve
funcionar através da dedução. Quando Brentano e outros reviveram o estudo de
Aristóteles, essa visão de método se tornou disponível para estudos em
universidades austríacas.
Um erro comum precisa ser notado aqui. Não segue do argumento do regresso
sobre a justificação que argumentos têm que sempre ser rastreados a apenas um
axioma. Tudo o que o argumento mostra é que pelo menos um princípio auto-
evidente é necessário para iniciar uma cadeia de justificação. Mas nada no
argumento limita o número desses princípios.
Quando se argumenta que uma proposição é auto-evidente, isso não significa que
se esteja apelando para uma experiência psicológica de certeza em apoio à
proposição. Fazer isso seria precisamente argumentar que a proposição não é
auto-evidente, uma vez que sua evidência aqui depende de outra coisa – a
experiência psicológica. Se alguém tem uma experiência “Aha” no estilo da
psicologia Gestalt em vir a perceber a auto-evidência de uma proposição é
irrelevante.
Tendo levantado essa objeção, não devo perder muito tempo com ela. Apesar de
Mises de fato fazer uso da linguagem kantiana, nada em seu argumento depende
do sistema kantiano. Quando Mises emprega a expressão “proposição sintética a
priori”, por exemplo, ela simplesmente designa que seja necessariamente
verdadeira e não uma tautologia. Aqueles que preferem uma abordagem
aristotélica podem facilmente traduzir os termos de Mises para o seu uso preferido.
A grande importância de Mises para os nossos propósitos não está na sua fachada
kantiana. Pelo contrário, está em um grupo de filófosos, os positivistas lógicos, que
surgiram nos anos 1920, e desenvolveram doutrinas que ameaçaram abalar o
sistema austríaco. Suas posições, até o ponto em que colidiam com o sistema de
Mises, não desafiavam a sua economia; ao invés disso, era seu método dedutivo
que levou os positivistas a protestar. Para Mises, então, nosso foco não é os
filósofos que o influenciaram, mas aqueles que o atacaram. Em sua resposta a
esses ataques, Mises desenvolveu e esclareceu ainda mais a posição austríaca.
O grupo não era muito influente em seu início. Eric Voegelin, que estava em Viena
nos anos 1920 e 1930, uma vez me falou em uma conversa que os positivistas
lógicos eram normalmente vistos como excêntricos e loucos. A visão negativa de
Voegelin sobre o grupo talvez tenha dado mais cor às suas memórias, mas seu
testemunho é significante apesar disso. O Círculo se tornou muito mais influente
após a ascensão de Adolf Hitler ao poder em 1933. A situação política européia,
culminando na anexação da Áustria pela Alemanha em março de 1938 forçou a
maioria dos positivistas lógicos ao exílio. Muitos deles acabaram nos Estados
Unidos e garantiram posições em grandes universidades. É amplamente devido à
influência dos positivistas lógicos na filosofia americana que a maioria dos
economistas americanos rejeitam a praxeologia. Eles vêem o método de Mises
como fora de moda e escolástico, que supostamente não seguia as direções da
filosofia científica.
Pode-se ver imediatamente que a estrutura da economia austríaca está com sérios
problemas se o critério de verificabilidade é aceito. De acordo com Mises, as
proposições da economia são necessariamente verdadeiras. Mas verdades
necessárias não podem fornecer informação sobre o mundo, na visão positivista
lógica. Apenas proposições que podem ser tanto verdadeiras quanto falsas,
dependendo das circunstâncias, fornecem informação. Proposições que devem
sempre ser verdadeiras ou sempre ser falsas não fornecem informação. A
conclusão então parece inevitável: a economia austríaca não fornece nenhuma
informação sobre o mundo.
Os positivistas lógicos não negavam que algumas proposições tem que ser
verdadeiras. Mas, como sugerido acima, isso não ajuda em nada a economia
austríaca. Verdades logicamente necessárias são apenas tautologias, i.e.,
enunciados que não fornecem nenhuma nova informação sobre o mundo.[12] Um
exemplo fundamental de tautologia é uma definição. No exemplo clássico banal, o
enunciado “um solteiro é um homem que nunca casou e já tem uma certa idade”
não fornece nenhuma informação sobre o mundo. Ele meramente oferece uma
definição. Uma definição nos diz que duas expressões podem ser substituídas
uma pela outra em uma frase enquanto o valor verdade é preservado. De forma
semelhante, uma proposição necessariamente falsa é a negação de uma
tautologia. Se eu fosse afirmar que alguns solteiros são casados, eu não estaria
fazendo uma falsa asserção sobre a realidade. Eu estaria usando a expressão
“solteiro” de forma inadequada.
Eu acho que não. De fato, o critério é inútil, uma vez que todo enunciado se torna
verificável sob ele. Suponha que “p” seja um enunciado verificável livre de
controvérsia, e.g., “há uma cadeira nessa sala.” Tomemos “q” como um enunciado
que os positivistas lógicos rejeitam como desprovido de significado. Um bom
exemplo seria um que Rudolf Carnap tomou para ridicularizar quando ele clamou
pelo fim da metafísica. Ele citou o seguinte trecho de Ser e Tempo (1927) de
Martin Heidegger: “O nada nega a si mesmo”. Eu não vou tentar explicar isso:
pode-se ver por que Carnap o apresentou como um exemplo de paradigma de um
enunciado desprovido de significado.
p ou q
não-p
q
Esse argumento é válido e cada uma das suas premissas é verificável. Então, q é
uma consequência lógica de proposições verificáveis, e ela é, também, verificável.
Claramente, se o critério de verificação não pode eliminar “o nada nega a si
mesmo”, ele não tem muito valor.
Pode-se pensar que isso é um mero truque, prontamente evitável através de uma
pequena modificação do princípio. Tem havido muitas tentativas de formular um
critério que produz os resultados “corretos”, mas até agora todos falharam em
resistir a críticas.
Popper tem tido algum efeito na economia austríaca, em grande parte devido ao
fato de Friedrich Hayek, seu amigo próximo, ter, em parte, abandonado a
praxeologia e adotado o falsificacionismo. Ao fazer isso, Hayek reenfatizou uma
força positivista em seu pensamento que tem estado presente desde os seus dias
de universidade. Ele ficou profundamente impressionado pelo físico e filósofo Ernst
Mach, cujas posições, em muitos aspectos, lembram o positivismo lógico. Mach
rejeitava conceitos em física que não podiam ser derivados dos sentidos. Por
exemplo, ele se recusava a aceitar a doutrina do movimento absoluto de Newton,
pois, em sua opinião, ela carecia de referência empírica. Ele rejeitava também o
atomismo: átomos não existem e são uma mera hipótese.
Falar que uma proposição deve ser “falseável” ao invés de “verificável” parece
trivial a princípio. Se uma proposição é verificada, sua negação é falsificada; se
uma proposição é falsificada, sua negação é verificada. Considere, e.g., “A curva
de demanda tem inclinação negativa e para a direita.” Sempre que isso for
verificado, sua negação, “a curva de demanda falha em ter inclinação negativa e
para a direita” é falseável.
Ademais, uma vez que qualquer proposição é verificável (como mostrado acima), a
negação de qualquer proposição é falseável. Uma vez que a negação é idêntica à
proposição da qual nós começamos, concluímos que qualquer proposição é
verificável e falseável.
Ensaio Bibliográfico
Sobre Werner Sombart, veja a discussão por Mortin J. Plotnick, Werner Sombart
and His Type of Economics (New York: EcoPress, 1937). A abordagem de
Sombart pode ser avaliada nos seus The Jews and Modern Capitalism (New York:
EcoPress, 1962) e The Quintessence of Capitalism (London: T. F. Unwin, Ltd.,
1915). Estes combinam uma vasta quantidade de dados históricos com
pouquíssima análise. Sombart acabou se tornando um apoiador de Hitler: veja A
New Social Philosophy (Princeton: Princeton University Press, 1937).
Muito pouco de Othmar Spann está disponível em inglês; mas o seu History of
Economics (New York: Norton 1930) deixa claro o quanto ele foi influenciado pelo
pensamento romântico alemão, especialmente por Adam Mueller. A relação de
Hegel com o Romantismo é uma questão complicada não discutida nesse ensaio.
Para um tratamento importante, o capítulo “Expressionism” em Charles Taylor,
Hegel (Cambridge: Cambridge University Press, 1975) deve ser consultado. Lewis
Hinchman, Hegel’s Critique of the Enlightenment (Gainesville: University Presses
of Florida, 1984) também é excelente.
Apesar de no texto eu não poder fazer mais do que mencionar “sociedade civil,” o
leitor deve estar ciente que esse se tornou um “assunto da moda” em filosofia
política contemporânea. Um trabalho gigantesco sobre esse assunto é Andrew
Arato e Jean Cohen, Civil Society and Political Theory(Cambridge, Mass.: MIT
Press, 1992). Outro amplo trabalho, como Cohen e Arato escrito de um ponto de
vista socialista, é John Keane, Democracy and Civil Society (London: Verso, 1988).
Z.A. Pelczynski, ed., The State and Civil Society: Studies in Hegel’s Political
Philosophy(Cambridge: Cambridge University Press, 1984) defende Hegel de
forma geral contra a crítica de apoiar um estado todo-poderoso. Norbert
Waszek, The Scottish Enlightenment and Hegel’s Account of ‘Civil
Society’ (Boston: Kluwer, 1988) é valioso não apenas para o tópico anunciado em
seu título, mas também para o estudo de Hegel dos economistas clássicos.
Quando vamos de Hegel para Brentano, a atmosfera filosófica muda para melhor,
na minha opinião. Os trabalhos principais de Brentano estão disponíveis em
tradução para o inglês: Franz Brentano, Psychology from an Empirical Standpoint,
trans. A.C. Rancurello et al., (London: Routledge, 1973). A discussão de Brentano
de julgamentos de valor “corretos” e “incorretos” está em Franz Brentano, The
Origin of Our Knowledge of Right and Wrong, R.M. Chisholm and Elizabeth
Schneewind, trans., (Atlantic Highlands, N. J.: Humanities Press, 1969). G.E.
Moore escreveu uma resenha da teoria do valor de Brentano em International
Journal of Ethics Vol. 14 (1903), pp. 115-123. A crença de Brentano na
objetividade de valores influenciou fortemente Moore e, por um tempo, Bertrand
Russell. Thomas L. Carson, The Status of Morality (Dordrecht: D. Reidel, 1984)
defende uma teoria do valor brentanista. Ludwig von Mises tinha uma opinião
diferente nesse tópico: em Theory and History (Washington, D.C.: Ludwig von
Mises Institute, 1985) p. 36, n.1, ele rejeita a teoria de Brentano. Infelizmente,
Mises não discutiu os argumentos de Brentano. A doutrina da intencionalidade de
Brentano, provavelmente a sua principal contribuição à filosofia, é discutida em
detalhe em David Bell, Husserl (London: Routledge, 1990).
Eu não estou ciente de nenhum relato abrangente da filosofia de W.S. Jevons. Seu
trabalho mais importante em teoria do conhecimento é The Principles of Science 2
vols. (London: MacMillan, 1874). Suas posições sobre utilidade estão em The
Theory of Political Economy (London: MacMillan, 1871). Um trabalho vital para
entender o empiricismo britânico do século XIX é John Skorupski, John Stuart
Mill(London: Routledge, 1989). Skorupski defende muitas das teorias
características dos empiricistas. Um livro muito útil que contrapõe os empiricistas
britânicos com os alemãs românticos em teoria do conhecimento é Hans
Aarsleff, From Locke to Saussure (Minneapolis: University of Minnesota Press,
1982).
Minha afirmação de que Mises não rejeitou o determinismo (p. 23) pode parecer
surpreendente, mas é na verdade um eufemismo. Mises era um determinista,
contudo, ele pensava que a ciência não estava, naquele momento, numa posição
de descobrir as leis pelas quais o pensamento humano opera. Assim, existe
espaço para a praxeologia, uma disciplina que toma os seres humanos como
agentes racionais. Ver Theory and History, op. cit. Para um relato excelente da
filosofia de Kant, ver Paul Guyer, Kant and the Claims of Knowledge(Cambridge:
Cambridge University Press, 1987). As observações de Mises sobre as categorias
do pensamento humano não o envolvem nos complexos argumentos de Kant.
—————————————————————————————
Notas
[1] Richard Dien Winfield, The Just Economy(New York: Routledge, 1988) discute
e defende as doutrinas econômicas hegelianas.
[2] Jeremy Waldron, The Right to Private Property (Oxford: Oxford University
Press, 1988) analisa de forma elaborada o argumento de Hegel para a propriedade
privada.
[3] Brand Blanshard, Reason and Analysis(La Salle, Ill.: Open Court, 1973, p. 475.
[4] Para uma defesa da unidade orgânica por um hegeliano contemporâneo, ver
Errol Harris, The Foundations of Metaphysics in Science (New York: Humanities
Press, 1965), pp. 279-84.
[5] Karl Popper, The Open Society and Its Enemies, vol. II (New York: Harper,
1967), pp. 27-80.
[6] Ludwig von Mises, Omnipotent Government (New Haven: Yale University Press,
1944).
[7] O tratamento da Escola Historicista Alemã dado acima foi influenciado por
Ludwig von Mises, The Historical Setting of the Austrian School of
Economics (Auburn: Ludwig von Mises Institute, 1984). Eu não lidei com as
diferenças entre as Escolas Historicistas do período inicial e final. Meus
comentários se aplicam principalmente à última.
[8] As posições de Brentano são muito bem analisadas em David
Bell, Husserl(London: Routledge, 1990).
[9] Para uma excelente introdução a Aristóteles, ver Henry Veatch, Aristotle: A
Contemporary Appreciation (Bloomington: University of Indiana, 1974).
[12] J. Albert Coffa, The Semantic Tradition From Kant to Carnap: To the Vienna
Station(Cambridge: Cambridge University Press, 1991) fornece um relato
abrangente da filosofia do positivismo lógico.
[13] Ludwig von Mises, The Ultimate Foundation of Economic Science. (Kansas
City: Sheed Andrews and McMeel, 1977), p. 70.
[14] A crítica pressupõe que o primeiro argumento dado acima pode ser esquivado.
De outra forma, o critério é verificável, uma vez que todos os enunciados são
verificáveis. O positivista não irá achar essa “defesa” do seu gosto.
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