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~BLADE RUNNERll (O CAÇADOR DE ANDRóIDES) DE RIDLEY SCOTT
, EXIBIÇÃO COMENTADA '

ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO - RICARDO RIZEK


LIVRE ENSAIO - 17/07/88
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UBlade Runneru é um filme que tem uma fluincia que nÓs


podemos chamar musicalmente de ~luincia melódica. E essa
fluincia intr{nseca, ao mesmo tempo que desvela - por que é
.1()C f ~ o'0,:.;.., n'I ()C'~. (:.'c: ( ()11c" :" \:
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incomuns atualmente numa psico-musicologia, a compara~io da
melodia com a super~{cie e da harmonia com a pro~undidade.
~ntf:{c), qu<~ndc) nÓ~ p(~~r'gunti':\mC)~;; ".~eIC)di <:\Nmostr'<:~,
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podemos dJzer~ ela mostra a harmonIa. lIa expoe a nlvel da
superf{cie a harmonia0

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temPD em ~ue se
porque expae e mostra - esconde.

Vejam por exemplo o quarto movimento da nona sinfonia de


Beethoven, que é tio conhecido, tio popularizado~ se aquele ~

tema que tem um poema que fala da paz e da amizade nio


fosse importante. Beethoven Jamais teria escrito. Ele teria
feito apenas aquele fundo harm8nico que nÓs podemos lembrar
por causa da orquestra.

Ao mEsmo tempo em que a melodia mostra - coloca a n{vel da


superf{cie e evidencia a harmonia uma idéia profunda - nio
é verdade que uma pessoa POdE caminhar pEla rua assobiando
isso, e portanto, tendo isso como um instrumento de
esquecimento, de velamEnto?

Esse é o caso desse filme. Ele é um ~ilme melódico, nio é


um filme harm8nico. E ele é nEsse sentido um filmE sut il .E
dif{ciI. A an~Iise d~SSE filme é portanto muito mais
complexa. E essa complexidade tem de ser respeitada
Enquanto an~lise 1 imitada.

A prÓpria expressio dessE deus Hermes (um harm8nico dE


Zeus, um filho de Zeus)~ '~ermeticamente ~echadau j~ nos
mostra um lado desse Hermes. E, no entanto, a prÓpria
palavra gera a palavra uhermen~uticaU qUE significa ucomo
ir abrindou.

No Fédon (SE nio me engano) qUE PIatSo, atravé~ daqueles ~


seus di~logos ficcionais, comenta a entrega da escrita para
os Homens através dE um dEUS chamado Thot (eg{picio, qUE é
correspondente a Hermes, helinico). E nesse momento entio.
na narra~io dessa estÓria da doa~So da escrita, aonde um
dos interlocutores diz~ uele entregou a Escrita para os

-1-
Homens. para ajudar a memdria dos Homensu, mas o outro
interlocutor responde~ ue assim fazendo. liquidou com a
mEmdria dos Homens porque agora está registrado. agora est~
escritou. Entio. nio existe mais aquela ocupa~~o para o
memorar. na medida em que a escrita foi dada.

Respeitar a obscuridade intr{nseca desse filme (porque esse


filme é obscuro) é da maior importância para que a anál iSE
consiga se manter nos seus 1 imites. E ocupando apenas um
espa~o pertinente a anál ise, pautar a distância entre a
an~lise e a prdpria mensagem da obra como a presen~a da
mensagem da obra. ~ isso que nds precisamos fazer.

~ como o pensamento e a intui~ffo. O pensamento nio pode


deter o seu trilhar; porque se detim. detim for~osamentE
uma pseudo-verdade. Se ele conseguisse caminhar em direçio
ao seu prdprio exaurimento, a sua prdpria exaustio. elE
poderia capturar a intui~io pela ausincia, ou pela
distância que seria a prdpria medida dessa intui~io.

A mesma coisa uma an~l ise tem que fazer. Se nds tentarmos
expl icar tudo desse filme nds feriremos a prdpria obra. a
prdpria s{ntese. e mais. o lugar aonde essa s{ntese iria
acontecer.

Existe uma srntese a priori. Nds somos capazes de ouvir uma


m~sica e conhecer estando ouvindo pela primeira vez. DE
onde vem esse fenBmeno? Nds somos capazes de reconhEcer um
filme que nunca assist imos estando assist indo pela primeira
vez. Esse fenBmeno nds poder {amos chamar de srntese a
priori. Significa que qualquer obra no que tange a sua
autent icidade, de verdadeira obra art{st ica. sempre esteve
escrita, registrada. musicada no nosso cora~ffo. Coraçio é
um s{mbolo.

Porém essa s{ntese a prior i nio nos interessa. Nds queremos


uma srntese a posteriori. Nds queremos compreender e
part icipar lucidamente deste filme. O lugar dessa outra
s{ntese. nio é mais o cora~io. mas é uma ent idade chamada
ucora~ffo-menteu. é um,:\ E'nt id,HIf.'ch,:\m,Hla Uquadratura do
crrculou, que é a mente ~eita disponrvel pela luz do
cora~io. Isso é uma coisa diferente. Nio é um a prior i
dado. Significa que nds corrErEmos um risco~ o risco da
an~lise. Analisar é forcosamente correr o risco de na
dissecaçio nio conseguir manter o organismo vivo.

Um Justo PErigo como este - a anál ise capaz de dissecar e


matar aquilo que voci quer entender - nio pode ser a fontE
dE um imobil ismo que acabaria por redundar em chafurdar
neste medo~ uNio vamos analisar por que senio nds
estragaremos a obrau. Correr o risco pode ser também
percorri-Io. E percorri-l o significa também correr o risco
de se at ingir a s{ntese e real izar a prdpria missio para a
-2"~
qual a obra estava destinada.

Portanto nds vamos andar firmes, resolutamente e


cautelosamente, simultaneamente em dire~~o a esse filmE.

o aspecto melddico dEsse filme é a sutileza de imagem. Na


verdade o texto diz muito menos do que a imagem. N~o no
sent ido pl~st ico, abandonado a si mesmo de obra de arte
assim, estet icista. N~o é aquela coisa HbonitaH. Nio tem
grandEs efeitos especiais, é sdbrio. Mas é uma sut ileza de
imagem que consegue narrar o filme, contar a estdria. Essa
que é a questio. E muitas vezes - e a{ é que est~ o
paradoxo curioso - ~ revel ia do texto. ~ isso que nos chama
aten~io brutalmente.

Nds vamos tentar mostrar o que nos atrai aqui" E eu


proponho que a gente tente fazer isso Juntos. Com uma certa
sobriedade. Vocês vieram aqui e est~o pagando mais caro que
uma sessâo de cinema porque vocês vieram aqui - nio para
assistir HBlade RunnerH - mas assistir uma an~lise de
HBlade RunnerH. Esse filme, se eu nio me engano est~ em
cartaz; e se saiu, saiu agora.

Entio eu digo Juntos com sobriedade porque eu quero que


vocês me deem o direito da gente arriscar Juntos esta
tarefa, mas ao mesmo tempo a palavra estar~ comigo. Eu
quero que vocês falem mas a palavra estar~ comigo.
~ ~ '.' '--' '---"---" "'"

A primeira imagem que se d~ neste filme sio cenas que se


dio dentro de um olho. Isto é da maior importincia, porque
este filme, de certa forma conta a parddia do Homem. A
parddia é todo o mecanismo de inversio. Ele usa elementos
superiores para mostrar o que est~ acontecendo abaixo do
Homem. Ele usa elementos angél icos, t itinicos, ol{mpicos
para mostrar o que est~ acontecendo infra-humanamente. O
que é muito curioso.

Vocês
mais
como

Este olho aonde tudo se d~, que nio consegue mais


distinguir o que o olho I e o que o olho v~, é da maior
importincia. Alguém J~ pensou nisso? Simbol icamente o olho
sempre foi aquilo que ele vê. O problema é a parddia. um
estado de I iteral iza~io tal que assume a forma perigosa de
você nâo poder mais dist inguir Homem e natureza. real e
art ificial. real e natural. art ificial e natural. Vocês que
assistiram o filme sabem que tem corujas e cobras, etc.
Esses animais sâo considerados m~quinas. Cada célula desses
animais tem um n~mero. que é uma ordem de série de

-3-
fabricaçio, de engenharia genét ica. E no entanto nds
poder {amos perguntar: estio esses animais vivos?
Desl ig~-los nio é, aqui, no que tange a engenharia
genét ica, mat~-los?

Mas acima de tudo o que é insuport~vel, nesse olho que nio


consegue mais distinguir o que é e o que vê, é a sua obra
m~xima: Ele mesmo. E nio d~ para aguent~r ver-se a si mesmo
reproduzido na forma de coisa criada. Coisa criada que foi
criada por uma coisa criada, por uma criatura.

A palavra criatura merece nossa atençio. Por que que


criatura, que é como nds - os Homens - nas designamos, nio
é o part ic{pio passado do verbo criar? Par que que nio é
criada? Porque criatura é particípio ~uturo da verbo criar.
Criatura é a coisa criada capaz de criar. E o Homem, quando
reproduz a si mesma nas suas abras, é capaz de perceber uma
falha. Ao perceber uma falha ele reproduz, espelha essa
falha ~ falha que h~ entre ele e aquilo que a criou. E isto
pode ser insuport~vel. Agora, se o homem, na parddia
I iteral da sua criatividade, cria a si mesmo dE forma
desvelada, dar ele nio pode suportar.

Eu nio vou deixar vocês assist irem EstE filme Em paz. Esse
é um alerta que EU sou obrigado a dar. Nds vamos parar,
voltar, comentar, discutir e o mais importantE: calar.
~---~'~~~~ '--""~ "'-"-'-' "'~--""' "'-'---"'-"-"---'-'-----

(0:00.00 a 0:04.15 - do início até o momEnto em que Leon


entra no escritdrio)

Eu nio sei se vocês concordam, mas nio precisaria de mais


nada. Isto d o filmE, nio sei se deu para notar.

Importante, ao meu ver, é a data e a local: Los Angeles,


2019, Novembro. No hEmisfério nortE a que quer dizer
novembro? Fria, pr~-entrada do inverno: 11. Se a gEnte
somar 2019, quanta d~? 12, o ~echamento do ciclo" O final.

A pré-entrada do inverno e o fechamento do ciclo"

Mas a filme fez questio de deixar clara, logo depois disso,


esta indist inçio qUE sempre houve a nível simbcilico - mas
agora parodiada - entre a que a olho é o que a olha vê. Nio
h~ mais essa dist in~io. Nâo h~ mais distin~io entrE o HomEm
e a natureza, entre exterior E interior no qUE tangE a
microcosmos e macrocosmos. Muito importante é sempre
recordarmos que Essa dist in~io sempre foi quest ion~vEl, mas
a sua litEral izaçio brutal é tudo aquilo que aponta a
tecnologia: na articula~~o da pendria do HomemH (coma diz
Martin Heidegger)"

-4-
o filme mostra também imgens contraditdrias entre dentro e
fora do escritdrio. Esta é uma contradi~io que acompanhar~
o filme inteiro. Nio sei se vocis sent iram, mas existe uma
mençio meta-lingu{stica ~ UMetrdpolisu este grande filme do
Fritz Lans.

Fora, aquela maravilha da Tyrrel Corpo - este prédio que


nds est~vamos vendo aqui - e dentro, um escritdrio
esfumaçado, com ventilador de mais de dois séculos. Isto
significa, de cara, a idéia de uma contradiçio entre um
f.n.:t er or e um
i i nt f.,'F i (;)1\..;) Um i ntE:~'r' j (;))" .:'mb i(~nb", 1 Ó' qUf~' é ql.H:\!:;f~'
arqueizado, sob o ponto de vista tecnoldgico ~ e um
exteFioF bem aFFumadinho.

E mais, justaposi~ffo de ~ases tecno16gicas comprimidas de


forma a compor uma enorme pressio. A montanha é um grande
s{mbol0 pela sua escalada (escala é um termo musical), pelo
seu pico (que quer dizer ponto~ atopos, atomos) e POF sua
base. E a sua base significa aonde as camadas estio sobFe
pressio. Esta pressio cria aquilo que poder{amos chamaF de
con~us~o de planos, ou Justaposi~io pressional entre, aqui,
fases tecnol6gicas~ Justaposiçio de tempos. i o fim. Aonde
acontece isso na montanha? Na sua parte inferior. Dar a
eXPFessio~ in~erno.

Coment~rio: Na primeira cena em que aparece o vent il idor,


ele aparece girando no sent ido hor~Fio e nesta segunda cena
ele est~ girando no sent ido ant i-hor~Fio.

RicaFdo: Visto de fora, visto de dentFo...


Os detalhes sio enormes.

Coment~rio~ Eu nio estou entendendo a luz, porque parece


uma luz de uma Janela isso dar. L~ fOFa estava escuro, era
de noite...

-~ , '.' ' '---".

Primeiro, nesta estdria (da taFtaFuga) nds temos a srntese


do filme. Basta lembrarmos das cenas finais~ voei est~
andando no deserto, encontra uma taFtaruga virada de cabeça
paFa baixo -. ela nio pode
""" sair daI i (significa sua morte)
:1 A
sem a sua aJuda - e voce nao aJUla. . Fespos'a
t: (;es:e
t I

andrdide é muito curiosa~ ucomo assim, eu nio aJudo?U


Porque nds sabemos que assim que aquele assassino for cair,
ele seF~ salvo por quem o peFseguia, nio é verdade? Entio,
esta estdFia invertida é o final do filme. Quando aquele
que tinha toda a razio do mundo para deixar o seu
I

perseguidor morrer o salva, ele inverte esta estorinha da


tartaruga. E todas as outras estorinhas serio coment~rios
disso.

Mas tem mais coisas. Este é um teste que precisaria


discernir a criatura que cria e a criatura que foi criada.
Sendo que a criatura que foi criada é u~ espelho perfeito
da criatura que cria. Este teste visa discernir quem é
andrdide de quem é homem, numa época em que os andr6ides
carregam a questio humana e os homens se esqueceram. Este é
um teste psicol6gico que visa produzir uma rea~io
emocional, vai decidir sobre a vida de alguém e é
totalmente subj~tivo.

A hist6ria deste teste ser~ explicitada no decorrer do


f i I mE~ .

--,, , ' "-' '." ' '_'_0'__'_' '-' '---'--'

(de 0=06.50 a 0=08.55 - Deckard na barraca comendo macarrio)

Esta cena, onde ele se define como usushiu, peixe morto, é


exatamente aquela que precede a entrada de um personagem
muito importante e muito pouco notado= um pol icial chamado
Gaff. Ele tem uma fun~io de hermeniutica em rela~io ao
filme que é nobre, com pequenas mensagens, quase como um
fio condutor entre o filme e nds, o pdbl ico.

Peixe morto. Gue ser~ que quer dizer peixe morto? N6s
sabemos da célebre divisio das U~guas de cimau e das U~guas
de baixou e que as U~guas de cimau sio pautadas por aves,
as U~guas de baixou sio pautadas por peixes. Peixe morto
significa um dejeto. Um d~-jectum nio é nem um ob-jectum
nem um sub-jectum. Alguém que est~ ~ margem de um processo=
assassino, ex-t ira, ex-ca~ador de andrdides. E ninguém faz
andncios para este tipo de profissio.

Exatamente quem est~ ~ margem de um processo pode ingressar


centralmente num outro. porque a periferia de um mundo é o
centro de outro. Vocis devem lembrar-se deste famoso
desenho=

-6-
- --- .

o o o o

A periferia de um mundo o centro de outro; a periferia


ci de
um mundo o centro de outro; e assim sucessivamente.
ci

Sd quem está ~ margem de um processo de esquecimento


institucional, escatologicamente e portanto ciclicamente
determinado, pode engendrar um projeto que cio projeto do
conhecer-se a si mesmo. E ele está ~ margem, ele ci um peixe
morto. Neste momento, quando ele se define assim, nesta
primeira escalada UbestialdgicaU (porque nds sabemos que
virá gal inha, etc.) o Gaff interv~m e lhe dá um recado.
"'-~~" '--~--' '----------------------------------------.----

(de 0~08.55 a 0~11.00 - quando eles sobem na nave e chegam


no prcidio da polícia)

Um prcidio gigantesco, cuja escalada foi feita dentro de uma


pequena nave, um Udisquuinho voadoru. Mas em meio a um
comentário curioso~ A gíria pol icial ci a fusio de diversas
línguas. Tudo isso enquanto eles estio subindo numa torre
enorme.

Esse mundo pol icial funciona como uma parddia de um mundo


intermediário. Socialmente ele ci um mundo intermediário~
entre a Tyrrel Corpo e a humanidade abandonada lá em baixo,
na justaposiçio tecnoldgica acelerad{ssima (a televisio
numa velocidade assombrosa, chuva, chuva, chuva...). Mas de
repente a nave sai e sobe uma torre gigantesca ~ qual nds
podemos observar de cima; e no meio, esse comentário da
fusio de diversas I {nguas.

ESSE mundo intermediário,


a nívEl social deste fim de -
mundo, deste fim de ciclo - nio ci a parddia perfeita do
mundo intermediário tal como nds entender {amos Babi1Bnia?
Bab-il is= a porta de Deus, as diversas I {nguas na torre que
tem qUE subir.

-7-
Ora, nio é um caçador de andrdides, talvez, aquele que
possa compreender a questio humana agora reservada aos
andrdides?

Eu nio sei se vocis assist iram esse filme do John Boorman,


que ele fez antes do "Exca]ibur" chamado "Zardoz". Mas, o
centro do Zardoz é uma citaçio do Nietz~che onde= "de tanto
ca~ar o dragiop o ca~ador virou o drag~o".

Um assassino, um caçador de andrdides é uma pessoa que se


aproxima daquilo que vai matar. Como andrdide é o s{mbo]o
da questio do Homem - transfigurada sobre uma forma= tempo
- ele está se aproximando da questio Humana, da presença
humana neste cosmos e do seu lugar nesta hierarquia.

E]e entio sobe numa torre, parddia de Babe], onde se fala


diversas I{nguas - uma g{ria policia] - par6dia de um mundo
intermediário.

"---'.'---" ".' "' ".0_'."_-_'N'_-

Eu nio sei se todos prestaram atençio= este papel estava


aI i amassado, como um ] ixo. A cimera faz questio de mostrar
que este papel lá estava e mostra a mio do Gaff lentamente
indo pegar. Durante tudo isso, essa conversa está
acontecendo. E o nosso personagem central - Deckard, Blade
Runner - está perante uma situa~io que todos nds - que
estamos atrás desse conhecimento de nds mesmos - somos
obrigados a nos deparar numa certa altura do campeonato=
Que nio há decisio. nio há contato. E nio existe essa coisa
de decidir isso. decidir aquilo. Nds nio temos op~ffo.

Existe uma por~io de cont iguidade simbdl ica. A primeira é o


material do qual foi feita a galinha= o papel, papel
amassado (os materiais variario). Segundo. evidentemente= a
Galinha. O que é uma gal inha? A ga] inha é uma ave rasteira,
que nio voa. que vive neste plano. neste chio. E que nia
tem opçio a nio ser ser deglutida...

Comentário= Ou botar ovos...

Ricardo= Ou botar ovos. Mas é muito pouco. Botar ovos é


passar a vida inteira tentando descobrir o que nds estamos
fazendo aqui. Isto é insuficiente. Precisa alguma coisa
mais.

-8-
Gal inha ~ exatamente aquilo que tem rea~io autom~t ica enio
tem nenhuma op~io. E todos nds. nessa ins-pec~fio(estou
usando um termo pol icia]) a respeito de nds mesmos. nos
damos conta - neste confronto entre periferia e
central idade em nds - de que nds nio temos opçio.

o mundo ~ uma força de coercit ividade inapel~vel e recusar


esta for~a nio ~ a melhor forma de se livrar dela. Entio~
ou voci ~ t ira. ou voci ~ gentalha. Ou voci ingressa a
parddia desse mundo intermedi~rio. ou voci ~ mais uma
v(tima abandonada l~ em baixo. Por mais que essa missio
seja uma missio que nio te interessa (perifericamente) mas
poder~ contraditoriamente te levar ao conhecimento de si
mesmo.

Coment~rio= Interessante i que teve um outro t ira antes que


por nio estar na periferia. nio real izou o contato com a
questio do Homem.

R icardo= Esse personagem central ~ tio assassino quanto o


outro. O obJet ivo ~ matar repI icantes mesmo. Sd que esse ~
super-eficiente. Essa sua eficiincia upara baixou - matar
aquilo que ~ a questio Humana - pode aproxim~-]o da questio
Humana. Enquanto o outro fica mais ou menos nessa esfera de
metade de um profissional ismo que vai lhe custar a vida.
M

(de 0=12.45 a 0=13.20 - Deckard e Capitio Bryan assistindo


a entrevista gravada do Leon)

I Eles eram 6.
~ / 6 d ire~ies. implicitamente eram 7.
~/ Nds veremos o porqui.
_0______----.---- Norte. Sul. Leste. Oeste. Zenit e
/~ Nadir
/ =
/ ~

Porém. eles vio se fixar num plano. Esta parddia também ~


invertida= descendo ~ Terra. eles serio 4. Normalmente esse
6 - que é o 7 da realidade espa~o-temporal ex-orbitante -
deveria estar aqui (espa~o-tempo). No entanto. na inversio
disso. quando - eles se fixam num plano. num planeta chamado
Terra. eles 580 4.
-.--------....------------.......----.--..---------.-.------.---.-------------.-----

(de 0~13.20 a 0=13.51 - Ficha do RepIicante Leon)

-9-
Vejam. nds temos ati a data de nascimento. Poder {amos fazer
um mapa astroldgico. Temos um nome importante~ Leon. muito
significat ivo. Temos a detençio de um ginero chamado "Nexus
6". Nexus tem uma porçio de significados. Um deles i o
significado de elo.

E agora segue-se uma descriçio exaustiva dos quatro que se


cristal izaram. se fixaram neste plano, neste nosso planeta.
'--_' 0..'__'--------

(de 0:13.51 a 0:14"25 - ficha do Roy Betty)

H~ um certo paradoxo. Por um lado, todos sio definidos com


uma tipologia chamada Nexus 6, mas sempre que o Roy aparece
- como nds vimos aparecer a{ no computador - ele i chamado
de Nexus 6.

Quando se chama a definiçio particular de Nexus 6, i sempre


o Roy. E no entanto, os outros todos - se vocis observarem
no computador - sio Nexus 6. t muito curioso. O Roy i Nexus
6 por excelincia, fazendo de todos os outros harm3nicos (ou
filhos) dele. Ele i particularmente chamado de Nexus 6, nio
s6 agora, mas sistemat icamente durante o filme, como vocis
notario.
0 ' ' ' ' '------

(de 0~14.25 a 0~15.10 - foram apresentadas todas as 4


fichas e a duraçio de 4 anos)

Roy o Leon aparece antes.


.
. Na ordem cronoldgica do filme,
ele i anterior.
Pris Zhora Porim, na ordem de importincia, h~
uma inversio~ O Roy i quase o ~ltimo
personagem a aparecer
Leon (cronoldgicamente).

Esse quaternário ~ realmente da maior importincia, com


várias funç3es simbdl icas que se desnudar~ sem que a gente
precise de palavras.

Existe uma dica da maior importincia para nds~ 4 anos de


vida. A mençio a esse quaternário será ostensiva durante o
filme e esta ostensividade tem uma funçio de inflexio
simbdlica muito forte.

-10-
Nds sabemos da importincia da tetrictide (4 + 3 + 2 + 1),
ou seja, 10. Esse 4 f simbdl ico e significa todo o tempo de
vida. Esse 4 significa a questio da vida colocada nos
termos de uma de suas formula~3es fundamentais~ o Tempo. 4
anos de vida, na parddia f s6 4 anos; e no s{mbolo f a vida
inteira.

N~o sei se vocis notaram mas atf para pedir macarrio ele
fala 4, dar o outro fala 2; ele fala 4, o outro 2; 2 ...
Esse 4 será uma persegui~io. Quando esse 4 for vencido, nds
já entramos na regrinha= a vida. u4, 5, como manter-se
vivo, eis a questioU (em inglis f mais bonito porque rima).
-~ ' '-' '-'-""'---'---'-'--"'-

E s(.;~ c\ máquina n~o funcionar? Ele está se referindo ao


t(.:.~
s; t
f:'~ . Vamos guardar isto.

o teste está sendo colocado em questio. Um teste que nds


sabemos que f totalmente subjet ivo, psicoldgico, cujo
objet ivo f determinar rea~3es, respostas emocionais. E que
aponta para fatores como flutua~io da pupila ou ruborizaçio
da face para discernir quem f homem e quem f andrdide.
Sendo que andrdide f Homem, e homem f andrdide. Essa f a
questio do filme. Um teste colocado em marcos tio
subjet ivos para decidir coisas tio importantes, traduz um
pouquinho dessa unenhuma op~~ou. E mais, o seu maior
aplicador quest iona a sua eficiincia. Ele nunca falhou, mas
questiona a sua eficiincia.

Outro dado importante f que ele está levando a informaçio


do capitio Bryan= uhá um nexus 6 lá na Tyrrel Corpo para
voci testaru. Entio, ele vai apl icar o teste em algufm que
ele já sabe que f um andrdide. Isso f muito sintomático
porque de certa ,forma ele já está levando a resposta do
teste antes do teste.

Eu pergunto: Nio f este um dos diagn6st icos do que está


acontecendo hoje com a nossa civil iza~~o? Nio f isto que
está acontecendo com a Ciincia, com a Cultura Humana e com
a Civil izaçio? Particularmente com a Tecnologia? Nio f esse
estado da Civil iza~io que nos marcos da ciincia significa
só atingir aquilo qU2 estava pré-determinado a priori na
própria metodologia?

Vocis imaginem - s6 at ingir como resultado aquilo que já


estava estipulado na prdpria metodologia. Nio f esta marca
- traduzida da ciincia enquanto pauta final da civiliza~io
- um sintoma do que está acontecendo com o Homem? Será que
o Homem nio faz isso? Será que a expectat iva ps{quica dos

-11-
nossos desejos e medos n~o fazem isto com a nossa vida~
antecipar formalmente fracassos, vitdrias e resultados,
deslocando fracassos e vitdrias dos seus reais momentos?

Entio vejam vocis que curioso: ele est~ levando o resultado


do teste antes do teste; quest iona a validade do teste e
esse teste vai cont inuar agora a ser quest ionado de forma
violentan
-" '---"--'."--"---'---'--"---"' '--------.--------.--.-.---....------.----.--

(de 0~ a 0~ - 0

o que nds comentamos no in(cio: as imagens estio narrando


uma estdria as vezes ~ revel ia do texto. Quem anuncia a
entrada da RacheI ci uma coruja. Bestialogicamente ci da
maior importância. A coruja ci uma ave noturna e que nio tem
nada o que fazer perante uma luz. Da(, RacheI entra toda de
negro. Se vocis prestarem aten~~o no arranjo do cabelo, na
cor dos olhos, vocis poder~o pensar numa coisa muito
curiosa chamada noite.

Enquanto mulher, isto bastaria. Mas nds poder (amos pensar


enquanto reflexibilidade~ Lua. Porque preto ci um s(mbolo do
branco. Esse preto d~ a impress~o que nio h~ passagem. A
roupa dela mudar~, nds prestaremos aten~io nisso. Mas esse
nio dar passagem significa nio conhecer a pr6pria origem.
Todos 05 outros andrdides conhecem a prdpria origem.
RacheI, por nio conhecer a origem, nio conhece o dest ino.
Todos 05 outros tim uma chance de conhecer o dest ino porque
conhecem a origem. Inclusive porque destino e origem sie
duas facetas da mesma coisa. A questie que o filme propie
ci~ como conhecer estas macro-referincias destino e origem -
- sem ter aqui referincias, lembran~as e mem6riasn

Entio entra essa noite, essa lua, para falar com esse
aspirante a Sol. cem esse aspirante a Homem, que ci o
Deckard. E o di~logo ci muite interessanten

-12-
~ ' ' "".--'.....-.---.--..--..-.

EI'.,,\m 6? Não, eram 7, por causa da RacheI. Eram 4? Não,


5, por' c,:\u~;<:\ da RacheI. Como mostra esses dois pontos:
»
: / .

~/
..0 ..o o.. ".'0"" .". .... 0----
.
j:: .

j :

A RacheI tem uma posi~ão central. A sua posição central


(por vezes quase mais central do que a do prdprio Deckard,
Blade Runner) significa que toda a hierarquia simbdl ica ~
invers{vel; e que a Lua ~ principial em relação ao Sol sob
o ponto de vista da Lua. E i justo que seja. Mas o bacana ~
que se o Sol est~ em cima de Lua, ou se Lua est~ em cima de
Sol, o que subsiste ~ a hierarquia, ~ a subordina~ão
tensional, a Harmonia.

RacheI ~ o grande contraste que reval ida o ritmo.


que o nosso uherdiu ter~ uma enorme crise.
-...----.-.--..------.---.--..--.----.----.----.-..---..------------.-..--....-.----.--.-.------..---

(de 0= a 0:: j~ removeu humanos por engano?)

Ele prdprio colocou o teste - a noção de prova - em

Se h~ alguma gldria neste final de ciclo i o cansaço dos


paradigmas. Esta ~ a nossa gldria. t um previl~gio termos
nascido num final de ciclo, porque os paradigmas - e
part icularmente os falsos - estio cansados. Uma das gldrias
e grandes conquistas da ci~nci~, que podem at~ nos ensejar
alguma esperança, ~ que a prova ci~nt{~ica est~ sendo
colocada em questão finalmente. A no~ão de prova est~ sendo
colocada em questão.

Esse teste que j~ foi quest ionado por ele recebe uma
pergunta, uma outra formulação: uvoc~ j~ removeu humanos por
engano?u Esta ~ a grande questão. Ou seja, at~ que ponto
voc~ não tem removido humanos, mesmo sendo andrdides?

-13-
ComEnt~rio: ~ por isso qUE o filmE chama-sE uBladE RunnErU?
ElE Esti corrEndo sobrE uma lâmina muito fina entrE uma
vErdadE suposta E uma vErdadE, vamos dizEr, cErta?

Ricardo= ~ a vida...

Comentirio= Exato. risco qUE ElE Est~ corrEndo o


filmei': int0:irc)..

R ic ar do: ~').. P f.,:r'


'H'Ccw r ("-'n
do.. E o f ina 1 n ãc) p I"(~:ci f:;a !'.>E'r' l.J.m,;"\

SI '1 d Ir a
i y n ~\C).. 13 ,:\~:;t: ,;"\ (.')1 h ,:\I" a~:> (~:~:;t i:\t: í s t i c: a~:>. .. ..

Comentiric: ElE mergulha na noite, no final..

Ric:ardo= Isso!

-14-
Quando ela pergunta se afinal hi esse risco, entra o
Tyrrel. Ele é o determinador de todo o comportamento
social. O Tyrrel é a marca-mor dessa par6dia de uma
criatura que foi feita literalmente Criador. O Tyrrel é
aquilo que tem que ser rendido e resumido. Esta curiosa
reuniio, nesta s~la que tem um 501 atris, é a reuniio de
Saturno (Tyrrel), Sol (Deckard) e Lua (RacheI). E ele entra
exatamente anunciado pelo tal Nrisco".

Comentirio: Caberia colocar que o Sol s6 brilha a{ em cima


para eles, enquanto os outros li em baixo estio sempre do
lado daquela chuva?

Ricardo= Sem d~vida.


".' '_' 0 "--' "--

Ele recebe uma contra-informaçio do Tyrrel que disse qUE


gostaria que testasse um NhumanoN, dar ele jura que est~
testando um humano. Quantas perguntas ele faz normalmente?
De vinte a trinta para concluir. Mas foram mais de cem para
ela. Por que? Porque ele trazia a resposta consigo: estava
indo testar uma replicante.
N~o hi outra resposta. E quando ele apresenta b resultado
para o Tyrrel, ele apresenta sob a forma de pergunta: "ela é
uma replicante, n~o é mesmo?N.

Ou seja, pretensa objetividade, apoiada sob mera


subjet ividade. Eu me pergunto: quando a ci~ncia, atingE
resultados ji previstos na metodologia empregada, n6s
podemos chamar isso de objetividade? Ou isto é totalmente
subjetivo? Isto é totalmente subjetivo, outra pergunta.

(~u.:\nd o <:-\
1 9 uém en t ~~n d e a ~lb j (7~ti v id adfó' h uman a como .:\
central idade exclusiva da verdade, nio é isso totalmente
objet ivo? N~o é portanto o extremo do subjetivismo. a
objet ividade? E nio é portanto, o extremo do objet ivismo,
meramente subjet ivo? Este é o estado de confus~o que nos
abandonaram. Nos abandonaram nesse estado de confusio.
Impedidos de dar-nos conta de que o extremo da
subjet ividade é a objet ividade e vice-versa.

-15-
H~ uma Objetividade com nO" mai~sculo. que significa a
perfeita coincidência entre o objetivo e o subjet ivo (com
no" e "5" min~sculos).

Mas isto aqui ~ a parddia cuja tendência j~ est~ totalmente


dada - convenhamos - pela nossa civil iz~~io h~ muito tempo.

Nio ~ esta uma das grandes novidades deste filme? Fazer uma
fic~io absolutamente ant i-ficcional? Nio ~ esta uma fic~io
que agrega um sinal de menos a um sinal de menos (que ~ o
mundo) para tentar conseguir um diagndstico sobre inclusive
,itquilCJ que nds ~~!:>tamr.)!:>
vivend~u,:\ndO CJS socidlc)gDS
assistem esse filme. eles acham maravilhoso. porque eles
acham que niD h~ Dutra coisa dD que uma simples prDje~iD de
tudo o que j~ est~ aCDntecendD aqui~ justaposi~io
tecnoldgica. fracassD tecnDldgicD.

Algu~m j~ se deu cDnta de que tDdo D pandem8niD sobre


usinas nucleares ~ medD de uma "chaleira"? Algu~m j~ se deu
conta de que uma usina nuclear ~ uma "chaleira" de urSnio
enriquecidD feito plut8nio. niD faz outra cDisa seniD
aquecer ~gua? Para que o vapor fa~a exatamente aquilo que
era feitD h~ um s~culD e pouco atr~s? ISSD niD ~ um
fracasso tecnoldgicD absoluto? E essa justaposi~io de
tecnologias nio ~ D fracassD final da humanidade? E este
fracasso enquantD riscD. amea~a. nio est~ sendo
diagnost icadD aqui e agora PDr nds. j~. neste momentD que
nds estamos vivendo?

Nds seguimos entiD reduzidos a um imDbil ismo total perante


este diagndstico? Nio. A prova ~ este filme. A possibil idade
de reversiD corret iva feita por uma Arte.

Coment~rio~ De que ano ~ este filme?

1981.

Coment~rio~ Eu queria fazer uma pergunta que parece meiD


idiota. Como ~ que ele fez mais de cem perguntas para ela.
se ele fez quatrD?

R icardo~ Um Dutro temPD. nD tempo da narrat iva. As imagens


se fundem. o !:;om...

~ ~ '-'--" '-'--'------------

, . o 0- '0 o N
E mUI:o t In t:"'"":I'°~:~!:;!:;<:\n
t:€-~. 1
1::0 <:, i:;;:\:)~::
I que (~ I'o€-~p1 Ican t:~:~ (~ 1
("~.;:\ nao
sabe que ~ repl icante. E como algu~m pode nio saber que ~
uma cria~io. que ~ uma fic~io? E nds. nio ~ o nosso caso? A
nossa subjet ividade vulgar. parcial. egdtica,de teto de
estrutura ps(quica de desejos e medos de conte~dos

-16-
emocionais aI ien{genas, caucados em nds, nio ~ uma fic~io?
Uma pessoa n~o pode viver uma fic~~o durante toda a sua
vida? Como que ela pode n~o saber que ~ replicante? Ora,
como nds podemos nos n~o dar conta de que somos seres
humanos. Simples.

HCom~rcio. Nosso lema ~ quanto humano, melhorH.


-'--'."'--"' ' ' ' "-'-"------------------.--.--...-------....

Mem6rias~ significa a possibilidade de adicionar a um


conte~do emocional - que ser~ desenvolvido enquanto rea~~o
prdpria - uma fixidez, um v{nculo, um envolvimento, uma
identifica~io.

Se nds fassemos capazes de um sent imento sem v{nculo, sem


envolvimento, sem ident ifica~io, sem fixaç~o, sem obsessio,
sem circularidade viciosa, nds ser {amos realmente livres.
Mas c:ontl"a G~~:;~;a 1 ibG~r'dad(,-~ ..u c:ontl",":\ num Cf.'~I,.tO ~:>(~~nt ido, i~:>!:>o

por outro lado, enquanto inexor~vel


'"
dessa. prdpria liberdade
f' ", t e a
a T Ixa~ao, a o]sessao, o envo lvlmen.o
.
.

- eXls:e t I

i dG~nt: i f i C<:H;:~{O..

Tedes nds amamos, mas amamos com v{nculo. Significa que


estamos envolvidos, ident ificados, capturados pela nossa
prdpria emo~~o; e que comr8e, tijolo por tijolo, esse nosse
inferno.

Vocis notaram que a infla~~o n~o ~ um grande problema? Em


todas as formas. O problema chama-se~ emo~ies. Este é o
nosso inferno, agregado a essas emoç8esr e mais, a partir
das emoç8es e sensaç8es do nosso prdprio pensamento.

o nosso pensamento é sof{st ico..Todo o nesso pensar est~


pautado por um conte~do psic:oldgico inconfess~vel que sio
as nossas segundas e enésimas intenç8es.. Vocis J~ notaram?
Dando aula, em casa, etc.. Qual'é o professor que nio tem o
seu grupinho de alunos? Qual é a m~e que n~o tem o seu filho
PI"edi 1 (;:tC)? E <:\~:>simvai.

~ uma patologia vazia, sob o ponto de vista da ldgica,


porque existe um fundo psicC}logicamente inconfess~vel e mal
dissimulado para quem tem olhos para ver. Se trata de um
inferno mesmo.

Vocis querem ver uma cadeia de argumentos irrefut~veis?

-17-
Vou dar um exemplo. Nesses dias muito frios. algu~m
paquerando algu~m poderia chegar para esse outro e
argumentar da seguinte forma~

1. - UEst~ friou. Ao que o outro responderia~


- uSim. est~ friou. .

2. uRoupas pesadas
- (consequ~ncia do frio) incomodam
muitou.
- uVerdade. Roupas pesadas incomodam muitou.
3. - uNa cama ~ mais quentinhou.
- uNa cama ~ mais quentinhou.
4. - uDois na cama ~ muito mais quentinhou.
- uDois na cama ~ muito mais quentinhou.
5. - uSem as roupas pesadasu.
- uSem as roupas pesadasu.

Esses argumentos sio irrefut~veis. No entanto. nio sei


porque. as moças costumam dizer nio. (risos)

Porque existe a{. de uma forma dissimulativa e escandalosa.


simultaneamente. um fundo psico16gico inconfess~vel.

Este exemplo ~ uma caricatura. Esqueçam a caricatura e


pensem que 99% dos casos. todos n6s s6 pensamos assim. E
nos consideramos seres racionais. Ment ira. N6s somos
sub-racionais. A fam{l ia funciona sub-racionalmente; a
escola funciona sub-racionalmente. E como se nio bastasse
tudo isso. na hora uHu. n6s culpamos a Razio - ua Razio ~
um enorme problema...; ele ~ muito racionalista...u Tudo
isso ~ uma baleIa! BaleIa total. O que existe ~ Sofisma.
E
a definiçio de sofisma ~~ argumentos ldgicos e
retoricamente perfeitos com um fundo emocional nio
confessado e mal dissimulado para quem tem olhos para ver.

Quando alguém começa a ver essas coisas, ou fica louco. ou


N
e'AN(ao organlco
n. .
- ou seja. A'
es(a t.ao preparaco para ver essas
I

coisas que nio enlouquece (porque isso s6 pode pintar em


alguém quando isso ~ org§nico) - ou esquece. porque
inclusive era inorg§nico e ficar louco é muito mal.

S6 tem esssas 3 alternat ivas. Mas esse tipo de visio pinta


orginicamente porque senio ninguém suportaria; é loucura.
Agora. nio tem d~vida. funciona assim em 99% dos casos.
Salvo em pequenos flashes e pequenas intuiç~es descont {nuas
que é missio nossa tentar costurar~ Missio de um filme como

Passado~ Quantas formas de passado pode haver? Quantas


formas de mem6ria poderia haver? Vamos pegar um pequeno
texto do Elliot~

-18-
."."Tr&s condiç~es existem. que ami~de iguais parece.
embora difiram por completo. na mesma sebe floresce~ Apego
a si prÓprio. ~s coisas e ~s pessoas~ desapego de si
prÓprio. das coisas e das pessoas. E entre ambas germinando
a indi~eren~a. que ~s outras duas se assemelha - tal a
morte se assemelha ~ vida e entre duas ~idas se enraizam em
florescincia entre a urtiga viva e a morta urtiga.
Esta é a fun~io da memdria~ liberta~ffo" Nio menos amor. mas
expansio de amor para além do desejo. como também como
apego ~ nossa prÓpria esfera de a~io e acaba por julgar que
tal amor seja de pouca importância conquanto nunca
indiferença".

Para concluir. ele diz~ "a HistÓria pode ser escravid~o" A


HistÓria pode ser liberdade. vi. tudo agora se dissolve~ as
p~trias. os lugares. como eu que tal como pode os amou para
se renovarem transfigurados em outros modelos".

Ora. a HistÓria pode ser escravidio e a HistÓria pode ser


1 ibelrdad(~" E a fun<;:f:io d,:\ memÓria.
diz ele: 1 ibertaç:io.

Ma~; ,:\qu i C~: e fi 1 mt-~). ,:\ pa 1 aVI'",,\ mE:mÓI'" i <:\ f(J i u!,;ada E:m
outro sent ido: memÓria é o mecanismo através do qual se
poderia fixar. através da ident ifica~io e envolvimento. um
conte~do emocional para controlá-los melhor.

Por que a memÓria permite duas formulaç~es tio antag6nicas?

Um filme desse grande cineasta Robert Altman chamado "O


Quinteto" - que eu acredito que vocis j~ viram - tem a
coragem. criando contexto prop{cio. de oferecer essas duas
formulaç~es de chofre. Num certo momento. um personagem
feito pela atriz Bibi Anderson. diz: _"Nio podemos confiar
na memÓria". E a resposta imediata e contextualmente
diversificada do outro personagem. o Ecex. feito pelo Paul
Newman. é: -"SÓ podemos confiar na memÓria".

E o engra<;:adoneste filme é que voci concorda com as duas


formulaç~es: Quem é que discorda de que ter passado pode
ser uma prisio? E quem é que discorda de que ter passado
pode ser o intrumento decisivo da liberdade? Ninguém
poderia discordar em si consciincia.

Portanto existe um passado libertador . nio h~ d~vidas


disso.

Quando um relacionamento. por exemplo. em vez de aprofundar


suas cristal iza<;:~es.seus problemas. aprofunda seu real
sent imento. aquilo que nÓs poder {amos chamar de amor. um
contato cada vez mais promissor. dar entio nÓs podemos
tratar aquele amigo com toda a 1 iberdade de quem est~ num
projeto de conhecimento m~tuo. Isso é uma idéia de passado

-19-
libertador, num relacionamento humano.

Mas existe o passado aprisionador. Exemplo~ Quando eu me


encontro com aquela pessoa que eu Ji conhe~o e sei que ele
nio gosta disso e nem daquilo; e sei que se eu falar aquilo
ele vai ficar muito irritado e certas coisas nele me
irritam. E de repente, eu sei que ele sabe que certas coisas
dele me irritam e ele esti fazendo...

Percebe? Entio aqui, eu vou nessa escalada da trama de


condicionamentos fechando essa rela~io, enforcando-a.
Porque um outro tipo de passado entrou em cogita~io. Como
as duas formula~3e5 do Ell iot.

o resultado disso t que existem dois tipos de presente.


Existe o presente libertado. O Ell iot mesmo disse que se o
tempo fosse s6 tempo presente ele seria irredim{vel;
exatamente como um desaguadouro de um passado, como um
di::":saguadoul"o di!:~um fut UI"D. P"'j;;s",do f:~ fut UI"D ~It. "'~-"qU(':'~
,:,lcanç:am o Sf~r'~ pres-entar. Ef:;j;;f.'
pr'(:'~sf~ntf~<6]9jpodE~ Sf?lr
livre. PDde ser a presen~a 10cida e libertadDra do ser
hum.,ln().

E portantD existe um presente aprisionado, que eu vou


chamar de suspeito. Vocis sabem que esse ususu quer dizer
sub e spectro quer dizer espelho~ espelha abaixD. Presente
suspeito é exatamente a idéia de sofisma que eu dei para
~
voces.

.
.
"M______-....---..-.....-.-.

.
.
.
.

EstiD aqui, quatro funç:3es da mem6ria~ uma


uma mem6ria que aprisiona e as suas cDnsequincias.

Esses dDis mundos comp3e uma cDisa muitD bonita, um mistD,


um cDmPDsitu~ entre pro~undidade e leveza.
Da mesma forma que este eixo abandonado a si mesmo compBe a
leviandade. Mas aqui nio~ temos a subjetividade e leveza, a
possibil idade mesmD de amor.

-20-
,.,.- "..,

No filme isto ~ evidente porque nds acabamos de ver a


formula~io que diz~ Memdria ~ o recurso de controlar melhor
esses replicantes. Traduzam~ 05 Homens.

o que eles fazem conosco? Nos dio uma p~tria. nos dio uma
bandeira. nos dio uma famrl ia - conte~dos emocionais
estrangeiros a nds mesmos. Reconhecer Esse estranhamento
significa que algu~m est~ come~ando a trilhar esta
persPEct iva de conhEcimento de si mesmos. E no Entanto. o
prdprio filme mostrar~ que sem memdria nds nio chegaremos
l~.

Eu j~ vi determinadas Escolas qUE prop8e a desenvolver o


homem. formular a 1 iberdade em termos de~ NI ivrar-se da sua
memdriaN. E eu j~ vi outras escolas definirem a memdria como
instrumento da liberdade.

o filme vai mostrar exatamente isso. E uma das coisas que o


filme vai mostrar ~ que o problema nio sio 05 conte~dos
emocionais. o problema ~ aquilo que a gente vai fazer com
eles.
""'--' ' '-'--'--""-'-'-""' '--"-'-"---------.-----....-...--.-.-.--..-.-.-....-------.-.

Como ~ que ela pode nio saber o que ela ~?

Imagine qualquer um de nds rEcEbendo esse tipo de


indaga~io~ quem ~ voci? Parece que o ser humano foi feito
&' &'
para se 1em braro mas es,e
0
o
e seu camln10. es,e e o seu I

perigo~ esquecimento.
'-" '---'-"""-"---'--

Ingenuidade.

ESSE Leon ~ bastante inginuo. A part ir dar. nds vamos


come~ar a entender este Leon como um Ndeixador de pistasN.
Isto vai ficar claro daqui a pouco...
----------.-.-....-----..----.....--...--.-...----...-----------.---.---.--.----.-.---.--.-----..-

A eSmera vai pegar o paI ito dE fdsforo na mio do Gaff. f


muito importante porque - da mesma forma que aquele
papelzinho estava aI i solto ao lado de um cinzeiro E a
câmera faz questio de deixar isso claro - aqui. num
entre-cenas. a gente vi o Gaff. quase que como fora do

-21-
'ilme para nds, mostrando um nbvo material papel)
~ i madeira - paI ito de fdsforo.
--.----.--.------.-----------.---------.------..--.-.-----------------.......-..-

~ um detalhe que imageticamente esti posto a( para ficar


escandalosamente cla~o para todos nds: ~rata-s~ de uma
escama, nds sabemos.

Uma escama que i definida como algo n~o humano. E algo que i
definido como n~o humano i a at ividade da ins-pec~~o desse
homem que i feito detetive.

E eu pergunto: Um homem na busca do conhecimento de si


mesmo, n~o i um detetive? Nio i um ~dipo?

Um ~dipo que busca olhar para si mesmo através do olhar


para fora, suspeitamente sempre para fora. Entio isto
acabari se redundando num confronto consigo mesmo. Esta
atividade de inspec~io i a busca de uma Razio.

E (~~:'~c\tamente d(~~Pl1 i ~> i ma~J(;'~m7


d(.::~:;~:;(':\~~ va i apalr(~C!::~I"o Gaf-(-'
com a sua nova esculturinha pronta.

",,22-,

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