Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Não se chega à vida mística, enquanto não se toma verdadeiramente de assalto a vida
espiritual, com o propósito de se fazer, pelo menos, 2h de oração por dia. É o que Santa
Teresa comenta, de relance, em uma de suas obras (cf. Livro da Vida, VIII, 6) e é o mínimo
que todos os grandes autores místicos propõem para quem quer começar a ter uma vida
espiritual séria. A quem ama pouco [1] e costuma tudo antepor a Cristo (cf. Lc 14, 15-24),
parece muito. Mas esse preceito está intimamente ligado ao terceiro mandamento do
Decálogo, da observância do repouso sabático. Como explica o Doutor Angélico (cf. Summa
Theologiae, II, II, q. 35, a. 3, ad 1), esse descanso é apenas um símbolo daquele repouso
espiritual que toda alma deve buscar em Deus, através da vida de oração.
Por isso, este curso não trata sobre a vida mística; concentra-se tão somente nas orações
dos principiantes, já que é nas primeiras moradas que se encontra a maior parte das
pessoas em graça habitual. Ao invés de falar sobre os fenômenos extraordinários que
experimentam os adiantados – alimentando a imaginação e a curiosidade das pessoas –, é
preciso cumprir a tarefa inicial e perseverar nela, com determinada determinação, até que
se atinja o termo pretendido.
Um auxílio extraordinário que Cristo instituiu para isso foi a Comunhão sacramental, e é
esse o instrumento que se quer apresentar nesta aula como método prático para o
crescimento espiritual, pois, a quem quer que se proponha a progredir, tendo aprendido a
bem comungar, basta que estenda aquele fervor e aquela devoção com que recebe a Santa
Comunhão para todas as atividades do seu dia, cumprindo o preceito do Senhor, que
mandava que se orasse sempre (cf. Lc 18, 1), e estando constantemente unido a Ele,
ininterruptamente.
São duas, portanto, as intenções desta aula: ensinar (i) a comungar bem e (ii) a reproduzir
essa união/comunhão com Deus na vida de oração.
Antes de qualquer coisa, é preciso entender que o sacramento da Eucaristia age, na alma de
quem o recebe, ex opere operato, ou seja, por virtude da própria humanidade de Cristo, de
onde brota a força de todos os Sacramentos. Na Comunhão, "enquanto o calor natural não
consumir os acidentes do pão, o bom Jesus está conosco" (C. de Perf., XXXIV, 8); a única
coisa que quem comunga deve fazer é dispor-se interiormente para receber esse tão
elevado hóspede.
Ninguém se espante com essa afirmação. De fato, mesmo estando no Céu, a carne do
Redentor é sempre o instrumento de que a Santíssima Trindade Se serve para tocar as
almas humanas e cumulá-las com as graças celestes. É o que Santa Teresa atesta quando
afirma que absolutamente ninguém deve afastar-se da humanidade de Cristo, mesmo que
esteja em moradas superiores (cf. Livro da Vida, XXII; Moradas VI, 7, 5-6), e também o que
Santo Tomás de Aquino desenvolve de modo magistral em sua Suma de Teologia (cf. III, q.
43, a. 2; q. 48, a. 6), ao chamar a humanidade de Cristo de "divinitatis instrumentum".
Será tanto maior a união da alma a essa santíssima carne, quanto maior e mais intenso for
o seu desejo de Deus, diz Santa Teresa:
"Sua Majestade age com muita misericórdia diante de todos os que Ele deseja que
entendam que está presente no Santíssimo Sacramento. Mas deixar que O vejam
às claras, comunicar Suas grandezas e dar dos Seus tesouros Ele reserva àqueles
que percebe que O desejam muito, porque esses são os seus verdadeiros amigos"
(C. de Perf., XXXIV, 13).
Como se manifestam ditos desejos, é matéria a que responde o Pe. Reginald Garrigou-
Lagrange, ao explicar quais as "condições para fazer uma comunhão fervorosa" [2]:
Se alguma vez sentimos que nosso corpo se debilita, sem demora lhe
proporcionamos manjares substanciosos que o reconfortam. O manjar por
excelência que restitui as forças espirituais é a Eucaristia. Nossa sensibilidade, tão
inclinada à sensualidade e à preguiça, tem grande necessidade de ser vivificada
pelo contato com o corpo virginal de Cristo, que por amor nosso sofreu os mais
terríveis tormentos. Nosso espírito sempre inclinado à soberba, ao desleixo, ao
esquecimento das verdades fundamentais, à idiotice espiritual, tem grande
necessidade de ser esclarecido pelo contato com a inteligência soberanamente
luminosa do Salvador, que é "o caminho, a verdade e a vida". Também nossa
vontade tem suas falhas; está sem energias e fria porque não tem amor. E esse é o
princípio de todas as suas debilidades. Quem será capaz de devolver-lhe esse
ardor, essa chama essencial, para que sempre vá ascendendo, ao invés de
diminuir? O contato com o Coração Eucarístico de Jesus, fornalha ardente de
caridade, e com sua vontade, incomovivelmente fixa no bem e fonte de mérito de
infinito valor. De sua plenitude todos haveremos de receber, graça sobre graça. Tal
é a necessidade em que nos encontramos desta união com o Salvador, que é o
principal efeito da comunhão.
Referências
1. Cf. São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 529: "A Missa é comprida, dizes, e eu
acrescento: porque o teu amor é curto."
Bibliogra a
SESÉ, Bernard.