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AULA 11
APRESENTAÇÃO
O livro originalmente publicado pela Editori Riuniti de Roma, em 1986.
198 Foi
traduzido e editado pela primeira vez, no Brasil, em 1991. A
parte central da obra se fundamenta numa pesquisa de caráter
filológico2 que o autor realizou nos primeiros anos de 1960.
É importante ressaltar que
que, mesmo depois de dois séculos
do nascimento de Marx, seu legado para o campo filosófico não
pode ser circunscrito em um espaço fechado, com arames
farpados, no sentido de nada mais de novo poder ser
interpretado. Marx não tem dono. E isso é muito bem exposto
nesta obra.
O livro se inscreve na
tradição cultural do marxismo
investigativo, que se livrou do
velho ranço determinista e
doutrinário, reflexo do
Mario Alighiero Manacorda evolucionismo e positivismo do século XIX. Para
Manacorda, Marx foi mestre de método e não de doutrina; mais ainda, foi um teórico
da liberdade e não do poder
poder.
O livro utiliza-se
se de um rigor filológico, inclusive para os muitos equívocos que
encontramos em algumas traduções e divulgações em língua nacional promovidas pelo
marxismo institucional do antigo socialismo real.
1
A análise da obra Marx e a pedagogia moderna será realizada em oito aulas. Para cada aula, será
disponibilizado um resumo da parte do livro contemplada na aula. As notas de rodapé presentes nos
materiais a serem disponibilizados não fazem parte da obra or original,
iginal, sendo utilizadas com o objetivo de
explicitar termos ou ideias que possam gerar dificuldades por parte do cursista.
2
O dicionário Houaiss da Língua Portuguesa define filologia como “o estudo científico do
desenvolvimento de uma língua ou de famíli famílias
as de línguas, em especial a pesquisa de sua história
morfológica e fonológica baseada em documentos escritos e na crítica dos textos redigidos nessas línguas
(p.ex., filologia latina, filologia germânica etc.); gramática histórica”. No caso da presente ob
obra, temos
que um dos objetivos centrais é estudar conceitos presentes em documentos escritos seja por Marx ou
mesmo por seus intérpretes e identificar possíveis equívocos no tocante ao estabelecimento de
significados diferentes aos que foram originalmente pensados por seus criadores.
1
Nesta obra, Manacorda polemiza as posições da Igreja
Católica e das principais escolas pedagógicas nnão marxistas sobre
educação. Critica o liberalismo de Giovanni Gentile, o
autoritarismo jesuítico, o espontaneísmo rousseniano e a educação
profissionalizante
te precoce, útil somente aos intere
interesses do capital.
Na análise e na crítica desse conjunto de tendências, Manacorda se Antonio Gramsci
fundamenta nas elaborações de Gramsci sobre trabalho, intelectuais, educação e escola.
2
Não se trata de tomar as con
contribuições
tribuições de Marx como verdades acabadas e
incontestes, isto é, como do
dogmas. O próprio Marx, assim como seu colaborador
olaborador Engels,
tinha consciência dos limites de suas análises.
O que está em causa é verificar em que medida as transformações políticas em
curso neste início da década de noventa do século 20 autoriza a con
conclusão
clusão de que Marx
foi ultrapassado não fazendo mais sentido tomá
tomá-lo como referência para o estudo dos
problemas contemporâneos.
Se nos reportarmos ao próprio pensamento de Marx, vamos verificar que seu
empenho se dirigiu no sentido de compreender cientif
cientificamente
icamente as leis de transformação
trans
e desenvolvimento do processo histórico.
Na pesquisa levada a cabo por Marx, o organismo social
referido no texto se materializa na sociedade capitalista. É esta
que Marx estuda e cujas leis de nascimento, existência,
desenvolvimento, morte e substituição por outra de mais alto
Karl Marx nível, ele revela. O socialismo é apenas o nome dessa forma
social de mais alto nível que se gesta no interior do próprio
capitalismo a partir de suas contradições internas. Mas Marx não estudou a sociedade
socialista e, como cientista, nem poderia fazê
fazê-lo; e isso pela simples
les razão de que esse
novo tipo de sociedade não estava – e não está ainda – constituída. Para Marx, essa nova
forma social só se constituiria após o esgotamento pleno de todas as possibilidades
contidas no próprio capitalismo.
Ora, se ainda hoje não se eesgotaram todas as possibilidades
ades do capitalismo,
compreendem-se
se as dificuldades do chamado “socialismo real” cuja origem data do
início deste século.
PREFÁCIO
Este livro se configura numa perspectiva da pedagogia marxiana.
marxiana Daí, surge
primeiramente um esclarecimento.
arecimento. Qual a diferença entre os termos marxiana e
marxista? Por marxiano entendo tudo aquilo que é inerente ao pensamento de Marx,
excluindo os discursos elaborados por seus intérpretes. Em outras palavras, para que
algo se configure como marxiano, é necessário ir diretamente nos textos originais de
Marx, de preferência os que foram escritos na língua mãe do filósofo. Por marxista,
entendo os discursos gerados pelos intérpretes de Marx, sendo, muitas vezes, vítimas de
traduções equivocadas ou mesmo de interpretações que se desviam daquilo que fora
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pensado por Marx. Dessa forma, o estudo marxiano se encaixa melhor em uma proposta
de análise filológica.
O homem não nasce homem: isto o sabem hoje tanto a filosofia quanto a
psicologia. Grande parte do que transforma o homem em homem forma-se durante a sua
vida, ou melhor, durante o seu longo treinamento por tornar-se ele mesmo, em que se
acumulam sensações, experiências e noções, formam-se habilidades, constroem-se
estruturas.
“O homem nasce, de fato, na sociedade, mas não nasce social; assim se torna
pela educação que o faz assumir, pouco a pouco, aquela situação de fato e originária.”
(Luporini)
Como os espaços específicos da educação têm-se configurado no transcorrer da
história, como tendem a reconfigurar-se, são, hoje, objetos imprescindíveis da pesquisa
propriamente pedagógica. A escola é uma superestrutura, não apenas porque brota com
e de uma estrutura originária de base, sobre produção e a propriedade e é, em última
instância, condicionada por suas relações, mas, sobretudo, porque, apresentando-se
inicialmente como “inessencial”, um luxo e não uma necessidade primária quanto à
produção, ela tende a descolar-se, a separar-se da sociedade e a viver na estratosfera de
suas tradições fossilizadas.
Quanto mais a sociedade se distancia de suas origens naturais e se torna histórica,
tanto mais se torna imprescindível nela o momento educativo; quanto mais a sociedade
se torna dinâmica – e é assim ao máximo grau, uma sociedade tecnológica que,
rapidamente, muda os processos produtivos e aumenta os próprios conteúdos científicos
– tanto mais se torna necessária uma estrutura educativa que adapte a este processo não
apenas as novas gerações, mas também as gerações futuras.
A ciência está articulada a modos de produção ilimitados. De ciência para
conhecer, agora temos a ciência para atuar; de ciência para classificar, temos a ciência
para modificar e criar. Há agora uma necessidade de especializações, mudando,
consequentemente, a escola, ou seja, o processo de formação de novos homens. A
escola ainda educa, ou melhor, está indecisa sobre se deve educar o produtor
especializado ou o consumidor desinteressado da cultura.
Diante do exposto, é sem dúvida estimulante considerar uma releitura dos textos
marxianos, em que a temática pedagógica é, de fato, tratada de maneira ocasional em
seus aspectos específicos, mas que, acima de tudo, está colocada organicamente no
contexto de uma crítica rigorosa das relações sociais.