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Ao introduzir o propósito da obra, Freire indica que abordará aspectos em torno da relação
docência-discência a partir de uma perspectiva progressista, defendendo a importância do
exercício da autonomia pelos discentes no processo de aprendizagem através do
desenvolvimento contínuo da curiosidade epistemológica em detrimento do dito
“bancarismo”, método autoritário, cujos alunos submetidos a tal são tratados como
receptáculos inertes do conhecimento depositado pelo educador. Dessa forma, o papel do
docente é fundamental para que esse potencial crítico seja instigado nos educando,
reconhecendo que ambos são sujeitos; ao não tratar os conteúdos de forma externa a ele,
mas apresentá-los como ferramenta para que construa seu próprio conhecimento de modo
ativo – processo denominado como o ato de pensar certo. O autor aprofunda sua crítica
ao ensino bancário, detalhando o perfil do educador adepto a esse como “mecanicamente
memorizador”, passivo às idéias concebidas em seus estudos, não analisadas por um viés
de aprofundamento que visa as relacionar e questionar; que por conseqüência, acabam
sendo apenas reproduzidas automaticamente aos alunos, desconexas da realidade desses
indivíduos. Por fim, enfatiza a problemática disto, pois em seu ponto de vista todos os
seres são aptos a produzir novos saberes a partir dos já existentes, e o “bancarismo”
ignora tal potencial inerente à do-discência freiriana.
É apontado que a construção desses saberes deve provir da pesquisa, partindo da transição
da curiosidade ingênua; pautada no senso comum e nas experiências práticas, para a
curiosidade epistemológica; marcada pela constante pesquisa e criticidade. Apesar das
diferenças pautadas, ambas são curiosidades válidas, mesmo a primeira não possuindo o
rigor metodológico da segunda. Compete ao educador acompanhar a progressão de uma
para a outra, porém não cabe a ele dissociá-la da formação ética proveniente do aluno, ou
vê-la como inferior em comparação à sua. Logo, também argumenta que os saberes das
camadas populares devem ser respeitados, e que se deve demonstrar ligação entre os
conteúdos ministrados com a realidade, iniciando a discussão sobre o porquê dela se
configurar de tal maneira, assim como o motivo desses conhecimentos populares
existirem. Para que isto ocorra, é imprescindível que o docente se desprenda de qualquer
prepotência que crie um descompasso na comunicação com os discentes, e então, com
sensatez e tato, tornar o processo de aprendizagem mais didático por meio de exemplos
contíguos a eles, afinal o pensar certo é um ato comunicante e de constante renovação,
por isto, o próprio educador deve refletir sobre a prática executada, cauteloso que esta
não vá propender à mera transferência de teorias, mas ao despertar no interlocutor a
capacidade de inteligir as informações com as quais tem contato. É vital que, dessa forma,
o educando se reconheça, enfim, como sujeito histórico ativo ao efetivar a assunção, e
que isto não obrigatoriamente culmina num apagamento do “outro” em suas dimensões
identitárias e culturais.