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Volume 3  Número 2 (Agosto/2014)  p.

148-167 ISSN 2238-9377

Estrutura da cobertura da Arena Grêmio


Tiago Braga Abecasis1 e Tiago Pinto Ribeiro1*
1
SP Project – Estudos e Projectos LTDA,
Rua Tabapuã 821, Conj.64 Itaim Bibi, CEP 04533-013 São Paulo, Brasil,
tiago.ribeiro@talprojecto.pt

Arena Grêmio roof structure

Resumo
A cobertura da Arena Grêmio abrange uma área de 42400 m2, cobrindo os 60540 lugares
sentados deste moderno estádio. A sua estrutura é formada por 96 consolas treliçadas que,
em conjunto com a grelha do anel existente no plano das cordas superiores das consolas,
resistem às cargas verticais. Para conferir resistência e rigidez às ações no plano horizontal
existem ainda contraventamentos verticais no perímetro definido pelo topo das bancadas e
vários contraventamentos horizontais.
Nesta comunicação desenvolvem-se aspetos relacionados com a conceção geral e com a
constituição dos vários elementos estruturais, referem-se as metodologias de cálculo
utilizadas e menciona-se o processo de montagem seguido.
Palavras-chave: Arena Grêmio, Cobertura Metálica, Coberturas de Grande Vão

Abstract
Arena Grêmio roof structure covers an area of 42400 sqm above all the stadium’s 60540
seats. Its structure is composed by 96 trussed cantilevers that, together with the upper plan
ring, provide stiffness and resistance to the vertical loading. In order to resist to the
horizontal (mainly wind) loading, a series of bracing systems were designed along the stands
outer perimeter, as well as several horizontal braces.
This paper aims to discuss the structure’s conceptual design, to describe its composing
elements and to explain both the design techniques and erection sequence.
Keywords: Arena Grêmio, Steel Roof, Long Span Roofs

1 Introdução

A inauguração do Estádio Arena Grêmio, situado em Porto Alegre, Rio Grande do Sul,
ocorrida em Dezembro de 2012 marcou o arranque da finalização de um vasto
conjunto de estádios distribuídos por todo o Brasil.

Embora não esteja prevista a sua utilização como local de jogos da Copa 2014, ele
dispõe de todos os requisitos exigidos para a realização de jogos internacionais de

* autor correspondente 148


futebol e de outros eventos mobilizadores de grandes multidões. Tem 60540 lugares
sentados e a sua cobertura abrange uma área de 42400 m2 (Figura 1).

No momento em que se iniciou o desenvolvimento do projeto da cobertura já a


construção da bancada estava bastante avançada, razão pela qual a conceção e o
dimensionamento estruturais foram fortemente condicionados. Para além destas
limitações houve, também, que enfrentar as restrições orçamentais, resultantes de
se tratar de uma construção levada a cabo no âmbito de um contrato do tipo
conceção – construção – exploração.

Figura 1 – Vistas gerais da Arena Grêmio

Estas circunstâncias, aliadas ao reduzido período de tempo disponível para a


conclusão da construção e, consequentemente, para a execução do projeto,
orientaram a escolha da solução construtiva para a opção por grandes vigas
trianguladas em consola, com vãos livres de 47 metros, fixadas no topo da estrutura
de concreto da bancada.

Refira-se que o envolvimento da SP Project neste processo foi iniciado no princípio de


Dezembro de 2011. Nessa data a generalidade dos trabalhos de construção evoluía a
bom ritmo, tendo-se inclusivamente já selecionado o subempreiteiro para a estrutura
metálica e aprovisionado várias toneladas de tubos metálicos, de acordo com um
Projeto Básico existente.

Estabeleceram-se, em primeiro lugar, os condicionamentos que o projeto da


cobertura deveria respeitar e, seguidamente, iniciou-se o seu desenvolvimento, já em
meados de Dezembro.

O dimensionamento geral da estrutura ficou concluído e representado graficamente


no início de Fevereiro, prolongando-se a definição dos detalhes das ligações mais

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relevantes e representativas até meio do mês, data em que se emitiu para fabrico os
documentos referentes ao primeiro setor do estádio. Após essa data finalizou-se o
projeto dos restantes setores, com uma cadência quinzenal. Durante esse processo
foram realizados vários ajustamentos à constituição das peças da estrutura e,
também, à configuração dos detalhes de algumas ligações, tendo em vista, por um
lado propiciar o melhor aproveitamento dos materiais de que o fabricante dispunha
e, por outro, procurar integrar no fabrico as tarefas mais rentáveis, descartando
situações que impliquem o recurso a trabalhos mais onerosos.

2 Condicionamentos do projeto

A evidente, e já referida, obrigatoriedade de optimizar o custo de construção da


cobertura estava, à partida, condicionada por fatores inerentes à localização da
mesma, à existência da estrutura da arquibancada onde ela teria de ser fixada e às
limitações decorrentes do planeamento geral da obra.

Figura 2 – Planta da estrutura da cobertura

As dimensões, em planta, do espaço a abranger pela cobertura estavam definidas. Tal


como ilustrado na Figura 2, o contorno exterior é um retângulo com 256 metros de
comprimento (direção Norte-Sul) e 216 metros de largura, cujos cantos foram
arredondados por meio de figuras circulares com 74 metros de raio. Por dentro, os
limites são quatro linhas retas paralelas aos lados do retângulo periférico exterior,
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ligadas igualmente por quatro transições circulares. As dimensões máximas do
espaço limitado pela bordadura interior são 131 metros e 91 metros.

Com estas periferias obtêm-se áreas com cobertura plana, sobre as bancadas
principais e sobre as bancadas de topo e áreas em que a cobertura é tronco-cónica,
nos cantos.

Os apoios da cobertura sobre a bancada situam-se, na generalidade do perímetro,


sobre duas linhas, ambas coincidentes com eixos de pilares de concreto. A mais
interior percorre o contorno do Estádio no topo da arquibancada e a outra está
afastada dela, para o exterior, de uma distância que varia entre 9,30 metros e 1,17
metros. As maiores distâncias entre os dois eixos encontram-se a meio das bancadas
principais e dos topos. Eles aproximam-se, chegando a fundir-se os dois pilares de
concreto num único, nos cantos do estádio.

Figura 3 – Configuração das treliças. (a) bancadas Norte, Sul e de canto e (b)
bancadas Leste e Oeste

Nas bancadas centrais os apoios das treliças estão afastados de 7,70 metros na
direção longitudinal do campo e nas bancadas de topo esse afastamento passa a ser
de 6,78 metros.

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Sobre cada pórtico da estrutura da bancada existe um elemento resistente principal
da cobertura – treliça principal. As treliças são elementos com uma consola interior
de 47,5 metros e uma extensão adicional, para o exterior do Estádio, de 16,0 metros.
Esta última integra o intervalo entre os apoios no concreto, ou entre os pilares
tubulares metálicos, variável ao longo do perímetro, como já se mencionou, e um
balanço traseiro (Figura 3).

Há que referir, como sendo um fator condicionante para o comportamento mecânico


da cobertura, a circunstância de, em consequência da variação da distância entre os
pontos de fixação da estrutura metálica ao concreto, se verificar que algumas das
treliças são suportadas por dois pilares verticais, ou um vertical (o interior) e outro
quase vertical (o exterior), enquanto noutras, nomeadamente as que se situam nos
cantos e nas suas proximidades, os pilares exteriores fazerem um ângulo acentuado
com a vertical, enquanto os interiores se mantêm verticais. Nesses alinhamentos os
eixos dos pilares exteriores convergem, a partir da treliça para baixo, com o eixo do
pilar vertical interior. Têm-se, portanto, uma muito menor eficácia do sistema de
apoio, visto que, mesmo para equilibrar as forças verticais aplicadas, é necessário
mobilizar reações horizontais importantes (pois é o momento estabilizador criado por
estas que equilibra o momento derrubante das cargas verticais). Acresce que a
deformabilidade da treliça aumenta significativamente. Tal diferença de
deformabilidades entre as sucessivas treliças principais da cobertura foi a razão
primordial para se estudar cuidadosamente a disposição dos contraventamentos
complanares com a cobertura e dos anéis de compatibilização, pois são eles que,
compatibilizando os deslocamentos das treliças transferem as cargas de umas para as
outras.

O apertado prazo disponível para a construção do estádio introduziu algumas


condicionantes relevantes ao procedimento de montagem, condicionantes estas que
se revelaram limitativas para a escolha da disposição e para o dimensionamento dos
elementos que constituem a estrutura da cobertura. A limitação referida obrigou a
prever a instalação dos revestimentos de cada uma das parcelas da cobertura logo
após a conclusão de montagem da respetiva estrutura, não se podendo, portanto,
esperar pelo fecho total do anel da cobertura para sobre ele se exercerem as cargas
correspondentes ao peso dos revestimentos e, principalmente, a ação do vento

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incidindo sobre toda a superfície dos mesmos.

Embora a estrutura final funcione como uma peça única, pois contem elementos
circunferenciais (anéis) que percorrem todo o seu perímetro, cada uma das suas
parcelas – as coberturas situadas sobre as bancadas principais e sobre as bancadas de
topo - terá de, individualmente, resistir às ações ambientais regulamentares, para
além das cargas permanentes que nelas se exercem.

Houve também que atender à evolução da configuração da estrutura da cobertura e


do revestimento ao longo do processo executivo. Avaliaram-se, por isso, as condições
de segurança para a seguinte sucessão de formas da cobertura ilustradas na Figura 4:
i) setor Norte, isolado, ii) setor Leste, isolado, iii) setores Norte, Nordeste e Leste, iv)
setor Sul, isolado, v) setores Norte, Nordeste e Leste, Sudeste e Sul, vi) setor Oeste,
isolado, vii) setores Norte, Nordeste, Leste, Sudeste, Sul, Sudoeste e Oeste e viii)
cobertura total.

Figura 4 – Sequência construtiva

Tratou-se de uma condicionante não despicienda, principalmente porque os esforços


induzidos pela ação do vento são bastante mais elevados quando um setor se
encontra isolado do que quando ele já se encontra integrado no conjunto solidário de
toda a estrutura.

As condições de fabrico e transporte da estrutura também constituíram um


importante condicionamento ao seu projeto. Com efeito, à data do início do projeto

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já era sabido que o fabrico seria efetuado em Portugal e que, inerentemente, todos
os componentes da estrutura seriam transportados para o Brasil por via marítima.
Deste modo, limitou-se o comprimento das peças individuais da estrutura às
dimensões transportáveis, aumentando significativamente o número e a
complexidade das ligações entre elas. Esta circunstância deu origem a um aumento
não negligenciável quer do peso da estrutura quer da complexidade e morosidade do
projeto.

3 Conceção e arranjo estrutural

Já se encontrando em fase adiantada a construção da estrutura de concreto não foi


possível alterar várias das caraterísticas da cobertura. Entre estas as posições das
treliças principais e as locações das juntas de dilatação.

Figura 5 – Alçado de uma treliça tipo

Definidas as posições das treliças, procurou encontrar-se a geometria mais


econômica para a triangulação das almas das treliças (Figura 5). Convém aqui referir
que a altura final obtida para as treliças se revelou adequada face às cargas que as
solicitam e à dimensão da consola. Nem o peso das cordas é excessivo, nem a
triangulação representa uma parcela demasiado relevante do peso total. As
pesquisas incidiram também sobre a disposição mais favorável da triangulação. Esta
triangulação mantém-se constante em todas as extensões interiores das treliças da
estrutura e é constituída por elementos primários e por elementos secundários.

Nas zonas das treliças situadas para o exterior do pilar interior (eixo G), não foi
possível manter uma triangulação uniforme porque a posição da ligação do pilar

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traseiro à corda varia de treliça para treliça. Conseguiu-se, contudo, ter uma
disposição semelhante em todas as treliças.

Apesar das geometrias das treliças não apresentarem entre si diferenças marcantes
(Figura 6), as dimensões dos tubos que constituem as suas barras variam bastante
pois, como já se referiu, as deformabilidades têm oscilações significativas, fruto não
só das diversas configurações dos pilares de apoio mas também da casualidade de
algumas treliças terem as suas cordas inferiores fixadas diretamente à estrutura de
concreto (sem pilares metálicos) o que as torna mais rígidas do que as vizinhas.

Figura 6 – Conjunto das treliças

A respeito das diversas deformabilidades e da sua influência na análise e no


dimensionamento estrutural da cobertura importa ter presente que elas dependem
muito da deformabilidade da estrutura de concreto subjacente. As deformabilidades
em causa influenciam a forma como as cargas se repartem pelas treliças e,
consequentemente, também os esforços nos anéis e nos contraventamentos.

Outra opção que se tomou logo na primeira fase dos estudos foi a de procurar
utilizar, sempre que possível, terças que vencessem apenas um vão entre treliças.
Tratou-se, neste particular, de procurar simplificar o processo de montagem das
terças. Conseguiu-se esse desiderato em quase toda a área da cobertura,
aproveitando, em simultâneo, os tubos das terças que já tinham sido aprovisionados.
Nos cantos, onde os vãos de algumas terças são maiores, teve de se recorrer à
continuidade total dos tubos para lhes assegurar a resistência e a rigidez requeridas.
Importa ter presente que, embora as terças sejam principalmente peças lineares
sujeitas a esforços de flexão, nelas também surgem esforços axiais, causados pela sua
integração no diafragma formado por elas próprias, pelas cordas superiores das
treliças e pelo contraventamento da cobertura.

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Refere-se que se procurou minimizar os esforços axiais nas terças estabelecendo,
para isso, que as suas ligações parafusadas às treliças só fossem torqueadas quando
estivesse concluída a montagem de toda a estrutura de um setor e criando
ovalizações nos furos dessas ligações.

Os sistemas de contraventamento da cobertura e os anéis que percorrem o seu


perímetro constituem elementos fundamentais para a compatibilização dos
deslocamentos verticais e horizontais das consolas das treliças. Compatibilização essa
que implica transferência de cargas das treliças mais flexíveis para as mais rígidas.

Em virtude de os apoios interiores das treliças não se encontrarem todos ao mesmo


nível e de as rotações das treliças se fazerem em torno desses pontos, os
deslocamentos horizontais das treliças também são, tendencialmente, diferentes. As
treliças cujos centros de rotação se situam mais abaixo terão deslocamentos
horizontais maiores do que as outras.

São os contraventamentos situados no plano das cordas superiores que


compatibilizam esses deslocamentos à custa, naturalmente, de transferências de
cargas entre umas e outras.

Figura 7 – Arranjo dos contraventamentos horizontais

Tendo em conta a importância dos contraventamentos houve um cuidado especial


no estudo de disposição das suas diagonais. Entendeu-se que eles deveriam
constituir, em conjunto com as cordas superiores das treliças, grandes vigas de
rigidez da cobertura. Quanto maior fosse a “altura” destas vigas mais rigidez elas
teriam e, por essa razão, procurou-se que as triangulações abrangessem a maior área
possível da cobertura. Chegou-se aos arranjos representados na Figura 7, os quais,

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depois de testados se revelaram eficientes. Transferem as cargas entre as treliças,
estabilizam as suas cordas superiores e encaminham as forças horizontais para os
planos verticais dos apoios sem, para isto, ficarem excessivamente esforçados.

Complementou-se a atuação destes contraventamentos com a inclusão de dois anéis


verticais de contraventamento, um contínuo no perímetro interior e outro,
descontínuo, cerca de 14 metros para o exterior do primeiro, circunscrito aos setores
de canto e aos primeiros dois módulos dos setores adjacentes. Enquanto os
contraventamentos do plano da cobertura uniformizam os deslocamentos
horizontais os anéis minimizam as diferenças entre os deslocamentos verticais das
sucessivas treliças, com maior relevância para os deslocamentos das extremidades
das consolas.

Realça-se que o anel interior é contínuo ao longo de toda a cobertura. Tomou-se esta
opção porque ele se encontra já muito distante dos pilares de concreto e, portanto, a
flexibilidade própria da estrutura da cobertura amortece os eventuais efeitos dos
deslocamentos relativos entre as duas zonas de concreto separadas pela junta de
dilatação.

Figura 8 – Arranjo dos contraventamentos verticais

Fundamentais para a estabilidade da cobertura são, também, os contraventamentos


verticais situados entre os pilares interiores no eixo G (Figura 8). É por eles que são
transmitidas à estrutura de concreto subjacente as componentes perpendiculares ao
plano das treliças das forças horizontais. As locações destes contraventamentos
foram escolhidas tendo em consideração:

a) A existência de apoios mais elevados que, naturalmente, tornam o sistema de


contraventamento horizontal mais rígido por via da diminuição da altura na qual as

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diagonais se deformam e, portanto, canalizam para eles uma parcela maior das
forças horizontais.

b) Os condicionamentos arquitetônicos que impediram a instalação de


contraventamentos em certas posições.

Procurou-se dispor, em cada setor, de um quantitativo adequado de


contraventamentos verticais que permita o aproveitamento integral da capacidade
resistente dos tubos disponíveis mas, também, que não concentre a transmissão das
forças horizontais num número reduzido de apoios. Com o intuito de evitar o
cruzamento das diagonais, e as complicações executivas dele decorrente, decidiu-se
que eles não teriam a forma de “X” mas sim a de “V”.

Um outro aspeto que se revelou importante para assegurar as condições de


segurança da estrutura foi a necessidade de conferir travamento horizontal às cordas
inferiores das treliças. De uma forma geral esse travamento é assegurado por barras
horizontais que ligam os nós delas uns aos outros e por barras diagonais (mãos–
francesas) que, em locais estratégicos (Figura 9), unem os nós às terças ou a travessas
colocadas entre os nós de duas treliças adjacentes da corda superior.

Figura 9 – Arranjo do sistema de travamento das cordas inferiores

4 Constituição das peças da estrutura

Já se escreveu que foram usados tubos na grande maioria das peças que constituem
a estrutura. Individualizando para cada um dos elementos da estrutura temos, nas
treliças, tubos retangulares nas cordas e tubos retangulares e circulares nas diagonais
da triangulação da alma. Nos pilares metálicos e nos contraventamentos e
travamentos superiores da cobertura foram usados tubos retangulares e circulares,
nas terças tubos retangulares e nos travamentos inferiores e mãos-francesas tubos
circulares. Nos suportes das calhas exteriores usaram-se tubos retangulares,
circulares e perfis laminados IPE, estes últimos nas travessas.

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Para a materialização das ligações entre tubos, nos nós das treliças, recorreu-se a
chapas de reforço e de “gousset” quando foi necessário, da mesma forma que se
utilizaram chapas nas cobrejuntas das ligações parafusadas e nas ligações de topo.

5 Premissas de cálculo

A regulamentação empregue para dimensionar e verificar as condições de segurança


da estrutura da cobertura foi a brasileira, nomeadamente as normas NBR 8681-2003,
NBR 6120-1980 e NBR 6123-1988 quando se tratou de definir as ações e as suas
combinações e as normas NBR 8800-2008 e NBR 6118-2003, para a verificação das
condições de segurança.

Para além da regulamentação brasileira, foi utilizada em avaliações complementares


a regulamentação internacional que se entendeu relevante. Entre estas normas
contam-se a EN1991-1-4-2005, a EN1993-1-1-2005 e a EN1993-1-8-2005.

Quando a SP Project iniciou os seus estudos já estava adquirida uma grande


quantidade de tubos adequados à anterior versão do projeto. Procurou-se aproveitar
esse material e manter os parâmetros essenciais da produção fabril na nova
conceção estrutural. Temos, por isso, o uso generalizado de tubos, uns de seção
retangular e outros circulares, tanto para as treliças principais como para as terças, os
contraventamentos, os pilares e os travamentos.

As mesmas razões levaram à utilização generalizada do aço S355. O aço prescrito foi
o J0H, de acordo com a norma EN10219, para os tubos e JR, em conformidade com a
norma EN10025, para perfis, barras, chapas, varões e pinos.

É evidente que não foi possível aproveitar integralmente os materiais já adquiridos –


pois o peso total da estrutura é bastante inferior ao dos tubos comprados – mas
conseguiu-se integrar na estrutura a maioria deles.

Para além do peso próprio da estrutura metálica foram considerados os


carregamentos permanentes devidos:

i) Ao conjunto formado pelo revestimento, isolamento, manta e fixações –


perfazendo o valor de 0,20 kN/m2,

ii) Aos passadiços técnicos, incluindo iluminação e cablagem, cujo carregamento


linear ascende aos 2,50 kN/m,

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iii) Aos dois telões, cuja carga total, abrangendo o equipamento e as fixações, no
valor de 120 kN para cada um, se divide por dois apoios e;

iv) Por último, os carregamentos afetos às caixas de som, correspondendo a cargas


pontuais de 2,10 kN aplicadas nas treliças indicadas no projeto de sonorização.

Foi considerada uma carga variável de 0,25 kN/m2 sobre toda a área da cobertura, à
qual se associou um carregamento linear na calha exterior de 2,40 kN/m,
correspondente ao seu enchimento com água das chuvas. Nos passadiços técnicos
aplicou-se uma carga variável de 2 kN/m2.

Foram consideradas variações uniformes de temperatura em toda a estrutura


metálica correspondentes ao aumento e à diminuição de 20º C.

De acordo com o que é corrente para as grandes coberturas, incluindo naturalmente


as dos estádios de futebol, a definição das pressões dinâmicas é lograda recorrendo a
ensaios em túnel de vento. Para esta estrutura coube ao Laboratório de
Aerodinâmica das Construções (LAC), sito na UFRGS, em Porto Alegre, tal
incumbência.

As diligências levadas a cabo por esta entidade incluíram a simulação, em modelos


reduzidos, da Arena Grêmio, tendo sido analisados cenários com e sem o edificado
envolvente, existente e projetado.

Os resultados do trabalho desenvolvido foram apresentados sob a forma de pressões


a aplicar em cada um dos setores do estádio. Os valores máximos obtidos para os
coeficientes de pressão foram de 1,55, no sentido ascendente e 0,70, no sentido
descendente, valores estes que são consideravelmente mais altos do que os
respetivos valores médios (de cerca de 1,00 e 0,50, respetivamente).

Admitiram-se oito carregamentos distintos, para a fase definitiva e outros oito para
cada uma das sete fases de montagem da cobertura, cada um deles correspondente
a uma das direções do vento.

Aos coeficientes de pressão do vento referentes ao período em que a cobertura não


está completa (fases de montagem) atribuiram-se intensidades iguais aos
determinados pelo LAC para a estrutura completa, nos casos em que o vento
incidente se dirige do exterior para o interior do estádio. Eles traduzem pressões

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generalizadamente descendentes. Para o sentido inverso do escoamento do vento
alguns setores ainda não usufruem, durante a construção, da proteção que mais
tarde lhes será conferida pela restante estrutura, o que poderá levar ao
aparecimento de pressões ascendentes mais elevadas. Conservativamente,
considerou-se que em todos os setores, durante esse período, o vento incidente no
referido sentido causa uma distribuição de pressões ascendentes de forma triangular,
máxima na ponta da treliça mais afastada dos pontos de apoio, tal como indicado na
generalidade da regulamentação.

Os valores aventados para os coeficientes de pressão nos tubos componentes da


estrutura, bem como para a ação de arrastamento, são sustentados nas prescrições
das normas EN1991-1-4-2005 e NBR6123-1988.

Torna-se pertinente mencionar que a ação do vento descrita no relatório do LAC é


estática. Todavia, não houve necessidade de corrigir os valores obtidos de acordo
com as caraterísticas dinâmicas da estrutura, uma vez que as frequências naturais de
vibração da cobertura assumem valores superiores a 1,51 Hz. No articulado da norma
brasileira aplicável estabelece-se o valor de 1 Hz para a frequência fundamental da
edificação, como limite acima do qual a influência da resposta flutuante é
considerada pequena, estando os seus efeitos já incluídos na definição regulamentar
da pressão estática.

Para a determinação das pressões do vento foi considerada a norma NBR6123-1988.


De acordo com esta, a velocidade básica do vento para Porto Alegre é de 46 m/s,
correspondente ao valor da rajada em 3 segundos, a 10 metros de altura sobre o solo
e para um período médio de retorno da ação de 50 anos.

Após a aplicação das prescrições regulamentares, obteve-se:

a) Para o período de vida útil da construção, uma velocidade do vento de projeto de


51,5 m/s, média em 10 segundos e a 50 metros de altura, correspondendo a uma
pressão caraterística de 1,63 kN/m2;

b) Para a fase construtiva, uma velocidade do vento de projeto de 42,8 m/s, média
em 10 segundos e a 50 metros de altura, correspondendo a uma pressão caraterística
de 1,12 kN/m2.

161
Segundo o especificado pelo projetista da estrutura, em concreto, das arquibancadas
foi considerado um possível deslocamento relativo de 20 mm, em qualquer direção,
entre os dois corpos estruturais consecutivos separados por uma junta de dilatação.

De acordo com a norma NBR6123-1988 definiram-se combinações de ações para os


Estados Limites Últimos e para os Estados Limites de Serviço.

No que se refere aos Estados Limite Últimos utilizaram-se combinações Normais,


para a análise e a verificação da segurança da estrutura completa e combinações de
Construção, a ter em conta para o período de montagem da cobertura.

6 Modelos de cálculo e análise estrutural

O comportamento mecânico dos elementos que compõem a estrutura foi simulado


utilizando elementos finitos lineares, integrados em modelos de cálculo
computacionais.

Figura 10 – Perspectivas tridimensionais de alguns modelos de cálculo

Os modelos tridimensionais, construídos com recurso ao programa de cálculo


comercial Autodesk Robot Structural Analysis Pro 2011, foram usados para analisar os
diversos setores que constituem a cobertura, de forma isolada, integrados na
totalidade da estrutura (com todos os setores) e em parcelas dela (apenas com
alguns setores), consoante o período da vida da estrutura que se estava a analisar.
Entre o conjunto de modelos construídos, que ultrapassa os 170, contam-se modelos
com todos os elementos constituintes da estrutura, modelos sem os elementos que
se destinam apenas à estabilização dos restantes e à compatibilização dos
deslocamentos e modelos parciais diversos para análises locais. Todos os esforços e
deformações decorrentes de tais análises foram levados em conta para as
verificações de segurança ulteriores. Apresenta-se, na Figura 10, um conjunto de
imagens ilustrativas de alguns dos modelos completos concebidos.

162
Os carregamentos foram aplicados automaticamente pelo programa de cálculo –
caso do peso próprio dos elementos estruturais – ou inseridos como atributos dos
elementos lineares e nós da estrutura.

O processo de modelação, análise, dimensionamento e verificação da segurança


decorreu a par com a emissão dos desenhos, gerais e de detalhes, dos diferentes
setores da estrutura, em virtude dos condicionamentos de prazo e planejamento que
o avançado estágio da construção impôs. Desta forma justificou-se a elaboração, nas
primeiras fases de desenvolvimento do projeto, de modelos de cálculo dos setores
funcionando isoladamente, para os quais se estabeleceu que a análise e verificação
da segurança deveria ter em conta as ações mais conservativas e as mais restritivas
condições de contorno.

É de referir que os modelos parciais, quer computacionais quer analíticos,


desempenharam um papel importante na determinação dos sistemas de travamento
e estabilização da estrutura. Com efeito, conceberam-se sistemas compostos por
travamentos, mãos-francesas e anéis com o intuito de estabilizar as restantes barras
constituintes da estrutura. A sua análise foi inicialmente feita em separado,
atendendo aos esforços decorrentes das restrições à flambagem a impor às barras
comprimidas ou fletidas que se pretendia estabilizar, recorrendo a modelos simples
para evitar uma análise computacional morosa e de difícil interpretação.
Posteriormente estes modelos parciais foram integrados nos modelos globais,
quando se tratou de analisar os conjuntos de setores.

No decurso das diversas análises elaboradas também se enveredou pela realização


de análises de sensibilidade e robustez aos parâmetros considerados críticos. Com
efeito, entre outras análises:

i) Aferiu-se a possibilidade de as rigidezes horizontais nos apoios sobre a estrutura de


concreto poderem ter variações significativas face aos valores determinados
analiticamente e quantificaram-se os respetivos efeitos ao nível das transferências de
cargas entre treliças;

ii) Realizaram-se análises física e geometricamente não lineares com o propósito do


dimensionamento dos elementos cuja elevada esbelteza limita significativamente a
resistência à compressão;

163
iii) Analisou-se o funcionamento estrutural quando são suprimidos os elementos de
compatibilização de deslocamentos verticais (deixando-se apenas treliças e
contraventamentos).

Nas fases finais da análise conceberam-se modelos globais completamente


detalhados – com todos os elementos lineares constituintes da estrutura e seus
detalhes de ligação atualizados – voltou-se a inserir o conjunto dos carregamentos,
incluindo o do vento, de uma forma independente da anterior e mais detalhada.

Os resultados desta análise, que incidiu sobre a estrutura já completa e sobre as sete
fases intermédias da sua montagem, foram transportados para a verificação da
segurança. No cômputo geral, esta análise deixou transparecer que a estrutura foi
dimensionada com uma margem de segurança apreciável, tendo havido, contudo,
algumas situações em que se obtiveram esforços superiores aos anteriormente
calculados. Este facto deve-se à variabilidade espacial da ação do vento e aos
fenómenos de transferência de cargas entre setores. Em concordância com estas
conclusões foram feitas algumas correções às seções prescritas, para adequação aos
novos esforços.

Por último, obteve-se do empreiteiro da estrutura metálica as quantidades reais das


várias dimensões de perfis aprovisionadas. Com base nesta informação elaborou-se
um programa de substituições autorizadas de perfis, cujo resultado foi incorporado
nos modelos de cálculo elaborados para análise da estrutura e verificação da
segurança.

7 Critérios de verificação da segurança

Em conformidade com as disposições legais do Brasil, a verificação da segurança da


estrutura foi feita de acordo com a norma NBR 8800 de 2008.

Face à dimensão da estrutura em projeto – cujo modelo de cálculo completo conta


cerca de 17000 elementos lineares, e foi submetido a mais de 300 combinações de
ações multiplicadas por 8 configurações distintas – revelou-se necessário conceber
uma forma relativamente expedita de realizar a verificação da segurança. Sem esta
precaução seria de todo impossível lograr o cumprimento dos prazos do projeto. A
solução para fazer face a uma necessidade computacional desta dimensão, que

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ascende às centenas de milhões de verificações para um modelo completo com as
suas 8 fases – cada uma compreendendo o cálculo de vários parâmetros e a
verificação de várias expressões regulamentares – recorreu-se à verificação
automática do programa de cálculo Autodesk Robot Structural Analysis Pro 2011.

Todavia, ainda não está disponível, neste programa de cálculo, a avaliação da


segurança feita de acordo com a norma brasileira. Optou-se, por isso, por seguir o
articulado do Eurocódigo 3 – EN1993-1-1 de 2005 – cuja formulação é semelhante à
da norma NBR. De uma forma conservativa, decidiu-se aumentar o fator parcial de
segurança γM1 de 1,00 para 1,10, de forma a assemelhá-lo ao fator γa1 da norma
NBR8800.

Para além desta verificação da segurança automática, realizada para todos os


modelos de cálculo, foi igualmente verificada a segurança de todos os elementos da
estrutura de acordo com a norma NBR8800-2008, isto para cada um dos 8 setores
considerados isoladamente e, posteriormente, para o conjunto da cobertura como
um todo e para as respetivas fases intermédias de construção. De forma a tornar
exequível esta enorme quantidade de verificações utilizou-se um programa de pós-
processamento concebido pela SP Project que, carregando os resultados (esforços,
geometria e condições de contorno) das barras do modelo de cálculo computacional,
procede às avaliações das condições de segurança segundo as exigências da norma
brasileira. Esta multiplicidade e redundância de estratégias de verificação da
segurança constituiu um fator adicional de confiança no processo de
dimensionamento da estrutura.

Dado que os elementos se dispõem, na sua maioria, em arranjos treliçados, os


esforços relevantes para a verificação da segurança foram os axiais, limitando-se os
momentos fletores, torções e esforços de corte a valores pouco significativos. A única
excepção encontra-se nas terças, cuja integração no diafragma ao nível do plano
contraventado horizontal obrigou a que se somassem significativos esforços axiais
aos de flexão e corte, para os quais é, usualmente, dimensionado este tipo de peças.

De entre os diversos estados limites de serviço regulamentarmente definidos pode


ser condicionante, para o caso em apreço, a verificação do estado limite de
deslocamentos excessivos. De acordo com as prescrições regulamentares brasileiras

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estabeleceu-se que a comprovação deste estado limite deveria ser feita com base
nos deslocamentos obtidos para as combinações frequentes de ações. O valor
máximo do deslocamento admissível é igual a 2 x L / 250 nas treliças. O contributo da
deformação por ação das cargas permanentes foi suprimido, em virtude da
prescrição de contraflechas a dar na montagem das treliças, inscrita no projeto.

Optou-se, contudo, por não estabelecer contraflechas que consistissem na execução


das treliças segundo uma geometria deformada, quer porque tal procedimento
aumentaria a complexidade dum fabrico que já enfrentava dificuldades devido ao
curto prazo disponível, quer porque a preparação e fabrico da estrutura metálica dos
primeiros setores decorreu em paralelo com o projeto dos últimos setores,
inviabilizando a possibilidade de, no projeto dos primeiros ter já em consideração os
resultados de uma análise de conjunto, que incluísse a influência do processo de
montagem. Com efeito, é de realçar que o faseamento de montagem tem capital
influência no esquema de contraflechas a prescrever. A solução encontrada para
ultrapassar esta dificuldade e, simultaneamente, simplificar o processo produtivo, foi
a de substituir a pré-deformação das treliças pela imposição a elas de rotações de
corpo rígido a executar na montagem. A definição das rotações a impor às treliças foi
feita de modo a que, no seu conjunto, elas possibilitassem, primeiro, a montagem
dos elementos que ligam umas treliças às outras (contraventamentos, travamentos,
entre outros) com as treliças perfeitamente niveladas e, depois, após o carregamento
da estrutura com as restantes ações permanentes, o nivelamento das posições das
extremidades das treliças para que elas se situem nas posições teóricas previstas.

Relativamente à parcela dos deslocamentos devidos aos carregamentos acidentais,


obtiveram-se os valores máximos de 125 mm (2L/757) para a flecha máxima
ascendente e de 83 mm (2L/1140) para a flecha máxima descendente, qualquer um
deles referente à combinação frequente de ações.

Realizou-se uma análise modal, em programa de cálculo automático, de forma a


avaliar as caraterísticas dinâmicas da estrutura. Obtiveram-se as configurações
modais para os 20 primeiros modos de vibração, bem como as frequências de
vibração a eles associadas. Constataram-se frequências de 1,51 Hz, 1,55 Hz e 1,59 Hz
para os três primeiros modos de vibração, cuja configuração é ilustrada na Figura 11.

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Figura 11 – Configurações dos três primeiros modos de vibração

Tal como se referiu, as frequências fundamentais obtidas permitem dispensar a


consideração da interação aerodinâmica.

8 Ficha técnica

Dono de Obra: OAS Arena e Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense; Empreiteiro Geral:


Construtora OAS; Empreiteiro da Estrutura Metálica: Martifer; Projetista: SP Project;
Túnel de Vento: LAC da UFRGS; C.Q.P.: Suporte; Arquitetura: Plarq.

Área da cobertura: 42400 m2; Lugares sentados cobertos: 60540; Peso da estrutura
da cobertura: 2 602 000 kgf (≈61,4 kgf/m2); Peso dos telões e passarelas: 74 700 kgf.

9 Agradecimentos

Os autores pretendem agradecer à Construtora OAS, em particular aos senhores


engenheiros Marcos Benício dos Santos e Geraldo Correia Santos pelo convite para a
realização deste projeto. Também aos restantes intervinientes no projeto – Suporte,
LAC, Plarq, EGT e Martifer – estendemos o nosso agradecimento pela cooperação.

10 Referências bibliográficas

ABNT – Associação Brasleira de Normas Técnicas. NBR 6123 – Forças Devidas ao Vento em
Edificações, Rio de Janeiro, 1988.

ABNT – Associação Brasleira de Normas Técnicas. NBR 8681 – Ações e segurança nas
estruturas – Procedimento, Rio de Janeiro, 2003.

ABNT – Associação Brasleira de Normas Técnicas. NBR 8800 – Projeto de estruturas de aço e
de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios, Rio de Janeiro, 2008.

CEN – European Committee for Standardization. EN1991-1-4 – Eurocode 1 – Actions on


structures, Part 1-4: General actions – Wind actions, Brussels, 2005.

CEN – European Committee for Standardization. EN1993-1-1 – Eurocode 3 – Design of steel


structures, Part 1-1: General rules and rules for buildings, Brussels, 2005.

CEN – European Committee for Standardization. EN1993-1-8 – Eurocode 3 – Design of steel


structures, Part 1-8: Design of joints, Brussels, 2005.

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