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de
S. Vicente de Fora
Clemente Baeta
© Clemente Baeta
© Os Painéis de S. Vicente de Fora –
Novos Documentos, Novas Revelações
Design da capa: Clemente Baeta
1ª Edição: Agosto / 2014
Registo IGAC: 3196 / 2014
Editado por Bubok Publishing S.L.
Impresso em Portugal
A todos os Investigadores e Estudiosos dos Painéis:
- do passado
- do presente
- do futuro
Introdução ………………………………….……………….. 7
I Parte - Continuação
1. S. João Evangelista e a vara …………………………….. 13
2. O livro do painel do Infante …………………………….. 23
3. O embaixador Jean Jouffroy ……………………………. 29
4. O capacete do Infante Santo …………………………….. 39
5. Porquê só em 1464-1467? ………………………………. 41
1
BAETA, Clemente – Os Painéis em Memória do Infante D. Pedro (Um Estudo),
Lisboa, 2012
7
isso, estes assumem à partida que qualquer novo contributo não
passará de uma simples fantasia. Sabemos que é difícil ir contra a
posição defendida por uma grande parte dos historiadores de arte ou
académicos que se têm debruçado sobre esta pintura. Este sector da
crítica de arte coloca habitualmente reticências a estas análises e tem
tendência a fugir a qualquer debate que inclua os pormenores que,
sublinhamos, estão na pintura por alguma razão. Escusam-se a
examinar ou a emitir uma opinião sobre estes detalhes, e quando o
fazem é sempre de um modo muito evasivo.
Nas nossas investigações explorámos vias que ainda não tinham sido
abordadas e que, pensamos, na perspectiva de um ou outro
investigador, poderão abrir outros caminhos de análise, provavelmente
mais esclarecedores ou enriquecedores, de modo a desvendar um
pouco mais o enigma dos Painéis.
*****
Este segundo estudo deverá ser entendido não só como um
complemento às ideias expostas em Os Painéis em Memória do
Infante D. Pedro, mas também como a entrada em novos campos de
investigação, de certo modo afastados do tema principal já analisado
no trabalho anterior.
Dividimos este trabalho em três grandes partes.
8
A primeira, “Continuação”, reforça os argumentos que expusemos
nalguns capítulos do primeiro volume. Provamos que a vara dourada
que S. João Evangelista segura no painel do Arcebispo foi um atributo
muito utilizado na iconografia deste santo. Esquematizamos o texto
presente no livro aberto do painel do Infante, de um modo legível.
Salientamos que, apesar das severas críticas que teceu a D. Afonso V,
o embaixador e futuro cardeal, Jean Jouffroy, manteve cordiais
relações com o soberano português. Encontramos no capacete do
Infante Santo um pormenor associado à sua santidade. Explicamos a
razão do hiato temporal decorrido entre a morte do infante D. Pedro
(1449) e a homenagem que lhe foi feita nos Painéis (1464-1467).
*****
Finalmente uma palavra de reconhecimento e de agradecimento a
todos os investigadores e estudiosos, independentemente das teses que
têm defendido, que há mais de um século, têm analisado e debatido
este tema tão aliciante e viciante. Confessamos que, sem as suas
contribuições, não nos teria sido possível equacionar ou aprofundar
esta matéria da forma que se encontra expressa nos nossos dois
estudos.
10
I PARTE
CONTINUAÇÃO
2
BAETA, Clemente – Op. cit., Cap.13. A figura santificada
3
FONSECA, João Luís da Fonseca – in Magazine Bertrand, nºs 1, 10 e 11, 2ª série,
1927
13
João Luís da Fonseca salientou que o santo era venerado na corte,
particularmente pela rainha D. Isabel e pela infanta D. Catarina.
Destaca em especial os pormenores de a soberana ter deixado em
testamento instruções para mandar erigir um mosteiro em honra deste
santo, e por ter baptizado os seus três filhos com o nome de
João/Joana.
4
Idem - Op. cit., nº 11, pág. 50
5
Idem - Op. cit., nº 11, pág. 51
14
«1 – E deu-me uma cana semelhante a uma vara e foi-me dito:
levanta-te e mede o templo de Deus, e o altar, e os que nele fazem as
suas adorações.
2- Mas o átrio que está fora do templo, deixa-o de fora e não o meças:
porque êle foi dado aos gentios e eles hão-de pizar com os pés a
Cidade Santa por 42 meses.»6
Fig. 1 Fig. 2
6
Idem, Op. cit., nº 11, pág. 52
7
Idem, Op. cit., nº 11, pág. 51
8
VERGÓS, Oració a l'Hort de Getsemaní, (1495-1500), Museu Nacional d'Art de
Catalunya.
15
apóstolos (na metade esquerda da pintura). S. João, a figura situada ao
meio dos três apóstolos colocados no primeiro plano, não segura,
conforme se vê, qualquer vara.
Fig. 3 Fig. 4
E aquele que falava comigo tinha uma cana de ouro, para medir a
cidade, e as suas portas, e o seu muro.
9
The Cloisters Apocalypse, (manuscrito inglês do início do séc. XIV), The Cloisters,
Nova Iorque, E.U.A.
10
Integrada no conjunto de As Tapeçarias do Apocalipse, (1377-1382), Château
d’Angers, Angers, França.
16
E a cidade estava situada em quadrado; e o seu comprimento era
tanto como a sua largura. E mediu a cidade com a cana até doze mil
estádios: e o seu comprimento, largura e altura eram iguais.
Fig. 5 Fig. 6
11
Novo Testamento, tradução de João Ferreira de Almeida, pág.434, Lisboa, 1943
12
Bamberger Apokalypse, (c. ano 1000), f. 55r, Bamberg, Staatsbibliothek, MS A.
II. 42, Alemanha
13
Matthias Gerung, (c. 1530-32), f. 303v, Ottheinrich-Bibel, Bayerische
Staatsbibliothek, Alemanha
14
1ª edição publicada em 1470
17
também noutras línguas europeias, que atingiram a máxima
divulgação no final do século XV. Este livro foi uma grande fonte de
informação e de inspiração para os pintores deste período (1260-1530)
quando queriam compor uma cena com determinado santo. Ainda hoje
os historiadores de arte recorrem a ele para recolherem elementos
auxiliares à identificação de um santo sobre a qual têm dúvidas ou
dificuldades em perceberem as cenas ou os atributos expostos numa
determinada pintura ou escultura daquele período.
15
Refere-se a Santo Isidoro, arcebipo de Sevilha (c. 560-636)
16
Tradução livre do ingles, (sublinhado nosso), disponível em:
www.fordham.edu/halsall/basis/goldenlegend/GoldenLegend-Volume2.asp
17
Biblia (1373-França), f. 264v, Harvard University, Houghton Library, MS Typ
0555, E.U.A.
18
Idem, f. 267
18
Fig. 7 Fig. 8
19
Manuscrito com imagens do Apocalipse, (Turíngia - c.1425-50), f.13v, New York
Public Library, Manuscripts and Archives Division, NYPL MA 015, E.U.A.
20
Idem, f. 17v
19
A última figura (fig.12)21, que pertence a um breviário de meados do
século XV, ilustra precisamente o momento da concretização do
milagre da transformação do ramo num bordão ou vara dourada.
Repare-se como essa metamorfose está a acorrer na parte inferior do
ramo. A imagem inclui também um outro milagre associado a S. João
Evangelista e muito comum na sua iconografia: bebe uma taça/cálice
de veneno (simbolizado pela serpente ou dragão) da qual saiu
incólume.
Fig. 12
21
Brevário, (Baviera-1454), gravura da contracapa, New York Public Library,
Spencer Collection, NYPL Spencer 039, E.U.A.
20
Estão neste caso: o livro, a águia ou a taça/cálice que referimos atrás.
É comum a sua presença nas cenas do Calvário acompanhando a
Virgem e Maria Madalena. Nas pinturas da Europa Ocidental surge
sempre com um aspecto jovem.
22
“E que para isso lhe entregava alli mui livremente, e sem cautella, seu
Regimento. Metendo-lhe logo com rostro mui alegre a vara da justiça nas mãos, que
em giolhos e com muito acatamento lhe beijou.” Esta transcrição relata o momento
da entrega do poder do infante D. Pedro a D. Afonso V, quando este atingiu a idade
de 14 anos, in PINA, Rui de - Chronica de El Rei D. Affonso V, Vol II. Lisboa, 1902,
cap. LXXXVI, págs. 23-24
21
seja, à rainha D. Isabel (painel do Infante) e ao seu pai, o infante D.
Pedro (painel do Arcebispo), chegamos igualmente a S. João
Evangelista.
Sabemos que D. Isabel era muito devota deste apóstolo de tal modo
que escolheu para o dia do seu casamento a data que a Igreja
comemora o martírio do santo (6 de Maio). Teve três filhos aos quais
deu o nome próprio em sua honra: João (morreu muito jovem); Joana
(a futura santa) e João (futuro D. João II). Deixou dois testamentos
dando instruções para que fosse erigido um convento em honra de S.
João Evangelista. A posição ocupada pela rainha traduz, de acordo
com o hábito da época, o privilégio do doador da pintura de se fazer
retratar junto do santo da sua devoção. Recorde-se que o seu esposo
cedeu-lhe esse lugar, como sinal do amor que lhe tinha. 23
23
BAETA, Clemente – Op. cit., Cap.13: A figura santificada
24
Idem.
22
2. O livro do painel do Infante
25
BAETA, Clemente – Op. cit., Cap.10: O livro e a raínha
26
MARQUES, António Salvador - http://paineis.org. Recorremos a este site para a
transcrição latina das duas primeiras páginas e ao realce das letras visíveis no livro.
23
1ª página 2ª página 3ª página
Pater maior me est et nunc dixi vobis priusquam fiat ut cum factum
fuerit credatis iam non multa loquar vobiscum venit enim princeps
mundi huius et in me non habet quicquam sed ut cognoscat mundus
quia diligo Patrem et sicut mandatum
O Pai é maior do que eu. Eu vo-lo disse agora, antes que aconteça,
para que, quando acontecer, vós acrediteis. Já não falarei muito
convosco; porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em
mim; mas é para que o mundo saiba que eu amo o Pai, e que faço
como o Pai me mandou27
27
Novo Testamento - Op. cit. pág.187
24
O texto da segunda folha foi extraído do prefácio da missa do
domingo do Espirito Santo até ao sábado seguinte. Pensamos que não
deve ser interpretado neste contexto ou princípio. Basta ver como são
seleccionadas apenas algumas frases ou extractos desse texto, embora
mostrados na sua posição relativa.
Para além disso, as partes visíveis estão separadas pelos dois pontos
(:), sinal de fim de frase, que não existem no texto original. Isto
significa claramente que se quer transmitir algo com as quatro frases
que se podem construir utilizando este raciocínio. Se assim não fosse
aquela escolha de palavras e formação de frases não teria sido assim
arrumada:
28
“Pater omnipotens Dominum super omnes ad dexteram”
25
“concinunt sine dicentes santus”
Tu enim dixisti ore tuo sancto et benedicto: “Panis quem ego dabo,
caro mea est pro mundi vita. Ego sum panis vivus, qui de caelo
descendi. Si quis manducaverit ex hoc pane, vivet in aeternum.” Panis
dulcissime, sana palatum cordis mei ut sentiam suavitatem amoris tui.
Sana illud ab omni languore, ut nullam praeter te sentiam
dulcedinem. Panis candidissime, habens omne delectamentum et
omnem saporem, qui nos semper reficis et numquam in te deficis:
comedat te cor meum, et dulcedine saporis tui repleantur viscera
animae meae. Manducat te Angelus ore pleno: manducet te
peregrinus homo pro modulo suo, ne deficere possit in via, tali
recreatus viatico.
29
MARKL, Dagoberto – O Retábulo de S. Vicente da Sé de Lisboa e os
Documentos, Lisboa, págs. 273-274
30
Assinala-se a negrito o texto visível no livro.
26
Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão,
viverá para sempre: e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei
pela vida do mundo.31
A frase que se pode construir com o texto visível nesta última folha, é:
etc.
31
Novo Testamento – Op. cit., pág.168-169
27
3. O embaixador Jean Jouffroy
32
BAETA, Clemente – Op. cit., Cap.8: O livro e o orador
29
O tempo total despendido na exposição destas oratórias ter-se-á
aproximado das quatro horas. A mais curta terá durado cerca de meia
hora, enquanto a mais extensa ultrapassou a hora e meia. As
audiências tiveram lugar em Évora, local onde então se encontrava a
corte portuguesa.33
33
O relato dos quatro discursos baseou-se em: FIERVILLE, Charles - Le cardinal
Jean Jouffroy et son temps (1412-1473), Paris, 1874, págs. 149-185
30
Jean Jouffroy apelou depois à honradez, bondade, clemência e
humanidade do rei de modo a ultrapassar os ressentimentos que ainda
poderia guardar em relação ao duque de Coimbra. Questionou se
foram assim tão graves os crimes cometidos por dois dos filhos do
Infante para terem sofrido os castigos de que foram alvos: D. João era
apenas uma criança e D. Pedro estava muito longe do local da batalha
de Alfarrobeira.
Esta oração continuou neste tom agressivo até ao final, o que revela
não só coragem por parte de Jean Jouffroy mas também a forte
protecção que lhe estava a ser dada pelos duques da Borgonha.
34
Perante os teores destas quatro orações não é difícil imaginar Jean
Jouffroy, tal como o vemos no painel da Relíquia (fig. 13), a discursar
perante D. Afonso V e sua corte, com um ar carrancudo, zangado, de
sobrancelhas carregadas e a virar as folhas do livro em sentido
contrário.
Fig. 13
35
quem já se encontrava). Neste documento afirma que o rei português
lhe escrevia cartas e que, por já ter estado diante dele, lhe garantia que
o mesmo tinha um carácter agradável e era de boa e nobre linhagem:
“…Le roy de Portugal m’a escrit lectres que son ambassadeur m’a
envoyées; et croy, Sire, par ce que m’a escrit le dict ambassadeur, que
le roy désire moult fort avoir vostre begnivolence. J’ay autrefois esté
devers luy; mais je vous certifie, Sire, que c’est un gentil courage et de
bonne et noble affaire…”34
Como nota final diremos ainda que Jean Jouffroy se cruzaria no futuro
com elementos da casa real portuguesa quando, no final de 1470 e na
qualidade de embaixador de Luis XI e já com o título de Cardeal
d’Albi, esteve na corte castelhana para acertar o casamento do irmão
do rei francês com a filha dos soberanos castelhanos. Estes eram
Henrique IV e D. Joana (filha de D. Duarte e irmã de D. Afonso V) e a
princesa Joana, na altura apenas com oito anos de idade:
E logo ahi disse aquelle letrado, em nome del Rey, como por certos
respeitos, que cumpriaõ ao bem daquelles Reynos, sua vontade era
casar sua filha a Princeza Dona Joanna com Carlos Duque de
Guiana; e mostrando o Conde de Bolonha huma procuraçaõ do
34
FIERVILLE, Charles – Op. cit., págs. 184-185 (extracto em francês antigo)
35
BAETA, Clemente – Op. cit., Cap.14: A datação da pintura
36
Duque, em maõs do Cardeal recebeo a Princeza por molher do dito
Duque Carlos.36
36
LEÃO, Duarte Nunes de – Crónicas de D. Duarte e D. Affonso V, Tomo II,
Lisboa, 1780, pág. 290
37
Idem, pág. 289
37
4. O capacete do Infante Santo
38
BAETA, Clemente – Op. cit., Cap.11: O Infante Santo e Frei João Álvares
39
VOILLET-LE-DUC, E. – Dictionnaire Raisonné du Mobilier Français, Tome VI,
Paris, 1873, pág. 106
40
Elmo turco, Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque, E.U.A.
39
Acreditamos, assim, que o capacete seja um objecto imaginário criado
pelo pintor para incluir, de um modo disfarçado, um conjunto de
símbolos associados à personagem que o usa.
Fig. 17 Fig. 18
41
Termo utilizado por Rui de Pina na sua Crónica de Afonso V, sempre que se
referia à zona geográfica onde se situavam as praças norte-africanas.
40
5. Porquê só em 1464-1467?
42
BAETA, Clemente – Op. cit., Cap.14. A datação da pintura
41
A estes importantes detalhes podemos acrescentar mais um conjunto
de circunstâncias que levaram a que esta obra fosse executada mais
tarde sob o patrocínio do rei português e da duquesa da Borgonha
(irmã de D. Pedro).
43
Idem - Cap.6. Os apoiantes do regente
42
demonstrou grande estima. No momento da execução dos Painéis já
se encontravam todos mortos: D. Duarte44 (1438), D. Pedro (1449), D.
Henrique45 (1460), D. João (1442) e D. Fernando (1437). Se
acrescentarmos a figura da própria D. Isabel (1471), deparamos com
um documento único que regista as imagens autênticas de todos os
elementos da ínclita geração, que a duquesa terá querido não só
homenagear e mas também perpetuar.
Contudo, e talvez por ter uma idade mais madura, o rei sente que não
bastaram aquelas medidas para se exorcizar publicamente das culpas e
dos remorsos que o atormentaram, e que precisava de fazer algo mais
de modo a mostrar o seu arrependimento.
44
Aceitamos a proposta de identificação (o homem do chapeirão no painel do
Infante) feita por MARKL, Dagoberto L. – Op. cit.
45
Aceitamos a proposta de identificação (figura do 1ª plano do painel dos
Cavaleiros) feita por MARKL, Dagoberto L. – Op. cit.
46
BAETA, Clemente – Op. cit., Cap.4. O rei
47
Ver Cap.3 O embaixador Jean Jouffroy
43
vimos48, pelos actos que praticou durante o seu reinado, atribuindo
alguns à pouca idade que tinha quando assumiu o poder.
48
BAETA, Clemente – Op. cit., Cap.4. O rei
44
II PARTE
CONTINUAÇÃO E INOVAÇÃO
6. O traje da rainha
49
PINA, Rui de – Op. cit. Cap. CXXVIII, pág. 116 (sublinhado nosso)
45
simbolizar o sacrifício ou martírio (vermelho) e o luto ou a dor (roxo).
Existe no entanto, por baixo do vestido, uma cota (saiote) de cor verde
(da esperança e da dinastia de Avis) (fig.20).
50
BAETA, Clemente – Op. cit., Cap.1: Introdução
46
se prolonga até ao chão. Estes dois elementos formarão no vestido,
atrás da rainha, uma cauda igual à que se vê em primeiro plano.
Fig. 22 Fig. 23
51
Idem - Cap.10: O livro e a rainha
52
CHRISTUS, Petrus - Kniende Stifterin - pormenor (c. 1450-1460) - National
Gallery of Art, Washington, E.U.A..
53
VAN DER WEYDEN, Rogier - D. Isabel de Portugal – pormenor (c. 1445-1450)
- J. Paul Getty Museum, Malibu, Califórnia, E.U.A.
47
Podem-se observar hennins decorados com letras em pinturas
flamengas da segunda metade do século XV. Este tipo de decoração,
mais utilizado na corte ducal, pretendia ilustrar a ligação conjugal da
dama com o respectivo esposo, recorrendo-se para o efeito às iniciais
dos respectivos nomes. Assim, nas figs. 24 e 2554 são visíveis as
iniciais C e Y correspondentes a Carlos, o Temerário55 e Ysabella de
Bourbon, a sua segunda mulher. Nas imagens 26 e 2756 conseguem-se
reconhecer o T e o M relativos a Tommaso Portinari57 e à sua mulher,
Maria Baroncelli.
54
Autor desconhecido - Retrato duplo Isabel de Bourbon e Carlos, o Temerário –
pormenor, cópia do séc. XVI. Museum voor Schonen Kunsten, Gent, Bélgica.
55
Duque da Borgonha entre 1467-1477
56
VAN DER GOES, Hugo, Tríptico Portinari - pormenor (c.1475), Galleria degli
Uffizi, Florença.
57
Gestor italiano do banco dos Medici em Bruges, tendo-se colocado depois
(c.1470) ao serviço de Carlos, o Temerário
48
utilização deste tipo de decoração reforça a nossa convicção da
influência que a pintura flamenga teve na concepção dos Painéis.
Fig. 28
49
7. Letras dissimuladas
58
BAETA, Clemente - Op. cit.
51
que as forças do infante D. Pedro levaram quando partiram de
Coimbra rumo ao sul, cujo trajecto terminaria no desastre de
Alfarrobeira:
59
PINA, Rui de – Op. cit., cap. CXVII, pág. 90
60
Idem – Cap. CIX, págs. 74-75 (sublinhado nosso)
52
Podemos descobrir outras letras dissimuladas, que se encontram em
linha com as nossas propostas de identificação anteriormente
divulgadas. Deste modo, nas figs. 34 e 35 descobrem-se um A e um V
indicativos de D. Afonso V. Um pouco menos clara é encontrar o R
(figs. 36 a 38) e o P (figs. 39 e 40) associados ao Regente D. Pedro,
onde tivemos que considerar letras invertidas e efectuar algumas
rotações das imagens.
Fig. 34 Fig. 35
Fig. 39 Fig. 40
53
8. O frade de barbas e a tábua
61
CASTELLO BRANCO, Theresa Schedel de - Os Painéis de S. Vicente de Fora -
As Chaves do Mistério, Lisboa, 1994, págs. 71-78
62
Palavra utilizada com o significado de remissão, resgate, libertação, salvação.
63
Esta Ordem, fundada por S. João da Mata no século XII, estabeleceu-se em
Portugal no ínício do século XIII e efectuou missões de resgate até ao final do século
XVIII, salvo no intervalo de oitenta anos em que essas funções dependeram do
Tribunal da Redenção dos Cativos criado em 1460 por D. Afonso V.
55
objecto em forma de tronco onde se prendiam os cativos. «Diziam que
era um cárcere ou prisão, mas não se sabe de que natureza fosse, e
que também se dava esse nome a um cepo com olhais onde se prendia
o pé e o pescoço dos cativos». Nos Painéis aquilo que se vê – mal,
infelizmente – é um cepo com olhais simbolizando o cativeiro em
geral.”64
Fig. 41 Fig. 42
64
CASTELLO BRANCO, Theresa Schedel de - Op. cit., pág. 78
56
• Frade de barbas: Frei Pedro do Espirito Santo, provincial dos
trinitários ou Frei Pedro Nunes, pregador que angariou muitas
esmolas para a libertação dos cativos
• Abade de Alcobaça: Frei Nicolau Vieira
• Outro monge de Cister: Frei João de Santarém
• 4º frade: Frei João de Évora, pimeiro provedor do tribunal dos
cativos criado por D. Afonso V.
Em primeiro lugar não nos parece que o pequeno objecto, tanto pelo
seu formato e como pelo seu tamanho, tenha algo a ver com a recolha
de esmolas. A Arca da Piedade, como analisaremos mais adiante, está
representada noutro local.
57
madeyra cuberta de damasquim preto, com o forro preto, acayrelada
de retroz com fechadura, e pregadura dourada.65
Aquela figura será o padre Martim Lourenço que foi, com o mestre
João Vicente, co-fundador da congregação em Portugal no início do
século XV. Aquele religioso, para além de ter tido um papel
fundamental na consolidação desta instituição, foi um dos que mais
privou de perto com diversos elementos da casa real:
65
ÁLVARES, Frei João – Chronica dos Feytos, Vida e Morte do Infante Santo que
morreo em Fez, Lisboa, 1730, Cap. XLII, pág. 319-320 (sublinhado nosso)
66
SANTA MARIA, Padre Francisco de - Ceo Aberto na Terra, Lisboa, 1697, pág.
613 (sublinhado nosso)
58
Prégador, honra que todos julgàrão tão bem collocada, como
merecida.67
…
Sinco annos esteve o nosso Fundador Martim Lourenço em casa do
Infante D. Fernando, servindo no exercicio de Confessor, & Esmoler,
& proseguindo juntamente o de Prégador com universal frutto…
…porque já estava resoluto, em dar principio à desejada refórma do
Clero, retirando-se do mundo, & servindo a Deos em lugar solitario,
se deliberou Martim Lourenço ao seguir, para o que pedio licença ao
Infante, & alcançada, posto que difficultosamente, porque o amava, &
venerava muito, se retirou em companhia do P. M. João, para a
Igreja dos Olivaes, até parar em Villar de Frades: donde
acompanhando ao mesmo Infante, & a sua irmã D. Isabel, foi a
Borgonha, & dahi a Roma…68
…
Passados alguns meses, chegárão aos servos de Deos nóvas de
Portugal, acerca do estado da sua Congregação, pela quaes
entenderão, que era precisamente necessario, que hum delles se
pusesse logo a caminho, este foi por cõsentimento de ambos, o P.
Martim Lourenço, o qual veyo outravez por Borgonha, despedirse da
Duquesa, & trazer ao Duque seu marido as primeiras noticias do que
havião obrado nas cousas que lhe encõmendàra; & sendo deles
recebido, & despedido cõ singular estimação, & agrado, partio a toda
a pressa para Lisboa, trazendo cartas da Duquesa para os Reys, &
Infantes, & despedindo-se tambem destes, se poz a caminho para
Villar.69
…
Perservou o servo de Deos em Villar até o anno de 1440 no qual o
Infante D. Pedro, então Governador do Reyno, o mandou chamar
para Lisboa: porque fazia nella grande falta a sua doutrina. He
verdadeiramente digno de admiração o extraordinario apreço, em
que este venerável Padre era tido dos Principes, & principaes do
67
Idem, pág. 616 (sublinhado nosso)
68
Idem, pág. 634 (sublinhado nosso)
69
Idem, pág. 635 (sublinhado nosso)
59
Reyno; procurando todos a sua assistencia, como homem singular, &
utilissimo.70
74
BAETA, Clemente – Op. cit., Cap.11: O Infante Santo e Frei João Álvares
75
Idem - Cap.14: A datação da pintura
76
Este cepo era uma espécie de coluna feito a partir de um tronco de árvore. Ver no
Apêndice II como os valores de certas penas revertiam a favor do cepo de S.
Vicente.
61
dos cativos. O objecto de madeira que contém esses orifícios ilustra
simbolicamente a Arca da Piedade. O frade de barbas está a guardar
esse depósito ou cofre.
Senhor.
77
Vários - Portugaliae Monumenta Misericordiarum – Antes da Fundação das
Misericórdias, Vol. 2, Lisboa, 2003, págs.93-95 (sublinhado nosso)
62
pessoas quiserem fazer e seja pregado pelos pregadores e reitores das
egresas que as ditas arcas seom postas nos ditos lugares pera se
deitarem as ditas, os quaes pregadores e reitores promovam o poboo
a toda boa devaçom pera fazerem as ditas esmolas, e em cada hum
anno os ditos homeens-boons que das ditas arcas carrego teverem
venham dar conta com entrega ao dito esmoller pera se recadar o que
asy render e se mandar desprender com as outras rendas no dito
tiramento e rendiçom.
…
Item todos os dinheiros que se recadarem das ditas rendas e esmolas
todos devem seer entregues a hua boa fieel pessoa que este na cidade
de Cepta por thesoureiro e o dito ministro vaa fazer o dito resguate
aos lugares honde os ditos cativos jouverem e tragam certidam per
escripto das pessoas e preços por que forem resguatados e com a dita
recadaçom se vaa a dita cidade de Cepta e falle com o dito
thesoureiro e se acordem na maneria em que se ha-de levar o preço
com toda segurança e com conselho do governador da dita cidade
façam todo bem e fiellmente em tall guisa que recebam de Deus boom
galardom.
78
SÃO JOSÉ, Frei Jerónimo de – História Chronologica da Ordem da SS.
Trindade, Tomo I, Lisboa, 1789, págs. 584-588
63
Officiais Thesoureiro, e Escrivão outras, e o conduzião na companhia
de varios Religiosos, que os acompanhavão até a náo do resgate,…
…
Com a notícia se franqueava logo a entrada; porém aqui tinhão muita
cautela em não desembarcarem senão pela manhã, por conta do
cofre, e alguns inconvinientes que podião succeder. Conduzião o
mesmo cofre para a casa do Baxá ou Bey…
…
Daqui passavão a contar o dinheiro do cofre, e vendo 3, ou 4 sacos
todos a mil moedas em sima de hum couro de boi, que são naquelles
paizes os melhores bofetes, tirava o Gasnadar (Thesoureiro Mór da
Republica) tantos sacos, quantos importavão a conta de 3 por cento,
que são os seus direitos, e entregavão o mais…
79
Redentor geral dos cativos e activo nas primeiras décadas do século XVIII
80
SÃO JOSÉ, Frei Jerónimo de – Op. cit., Tomo II, Lisboa, 1794, pág. 417
(sublinhado nosso)
64
Tribunal da Redenção dos Cativos81, instituição criada por D. Afonso
V durante o ano de 1460. A vestimenta dos membros desta
organização seria assim de cor branco-amarelada, acrescido de um
barrete decorado com uma cruz de formato particular (fig. 43).
Evitava-se deste modo qualquer confusão com o hábito branco dos
trinitários que ostentavam, sobre o peito, a cruz da sua ordem (fig. 44).
Fig. 43 Fig. 44
81
Este tribunal foi criado na sequência do desvio de fundos e da má gestão efectuada
pelos monges trinitários.
82
SÃO JOSÉ, Frei Jerónimo de – Op. cit., Tomo I, pág. 292
65
Quis este inclito Rei (falamos de D. Affonso) quando veio a primeira
vez da Africa, que a elle só devessem seus vassallos, que se achavão
cativos, o grande benefício da Redempção, julgando com ardente zelo
que entrando elles no cativeiro por sua causa, devia o poder invicto, e
a fortaleza do seu braço ser o que, abrindo com Real piedade os
carceres da Barberia, restituisse a todos a antiga posse da sua
liberdade.83
83
Idem - pág. 292 (sublinhado nosso)
84
PINA, Rui de - Chronica de El Rei D. Affonso V, Vol III, Lisboa, 1902, Cap.
CLIII, págs. 41-42, (sublinhado nosso)
66
tempo e se nom abastarem ajamse donde forem milhor parados e
estes dinheiros se entreguem a quem então for meu esmoler que os
despenda per mandado de meus executores e testamenteiros.85
Neste contexto sustentamos que o rei tenha dado indicações, tal como
a duquesa D. Isabel o fez, para que o tema dos cativos, que lhe
merecia tanta atenção e dedicação, figurasse num painel desta
grandiosa pintura.
85
SOUSA, António Caetano de - Provas da História Genealógica da Casa Real
Portuguesa, Tomo II, Lisboa, 1742, pág. 9 (sublinhado nosso)
86
Este ponto poderia sinalizar as dioceses de Miranda do Douro ou de Bragança. No
entanto ambas foram instituídas já depois da execução dos Painéis: primeira em
1545 e a segunda só em 1770.
87
SECO, Álvaro, 1561, Biblioteca Nacional, Lisboa, http://purl.pt/5901
67
Fig. 45 Fig. 46 Fig. 47
68
disposição dos Painéis que propusemos no nosso estudo anterior88 e à
qual acrescentámos mais esta interacção. A Arca encontra-se
precisamente em frente ao Caixão (fig. 48). Ambos são objectos de
madeira e têm dimensões semelhantes. Um encontra-se fechado e o
outro aberto. Aquela recolhia esmolas para resgatar os cativos vivos,
enquanto este, que se mantém aberto, recorda a dificuldade que existiu
em resgatar, com dignidade, os restos mortais do Infante D. Pedro até
que descansassem em paz no seu túmulo no mosteiro da Batalha.
Fig. 48
88
BAETA, Clemente – Op. cit., Cap.12: A disposição dos Painéis
69
9. O rosto de um pintor flamengo
89
WEYDEN, Rogier van der - S. Lucas Desenhando a Virgem, (c.1435-1440),
Museum of Fine Arts, Boston, E.U.A..
71
Fig. 49 Fig. 50 Fig. 51
O autor do Políptico deve ter sido aluno de Rogier van der Weyden,
em cuja oficina recebeu formação e aperfeiçoou a sua técnica. A
influência que o mestre flamengo exerceu sobre o pintor dos Painéis
pode ser encontrada nos profundos retratos psicológicos visíveis
praticamente em todos os 60 rostos das personagens dos Painéis. É
reconhecido que um dos pontos mais fortes que distingue a pintura de
Rogier van der Weyden é sua capacidade de retratar magistralmente a
intensidade das emoções humanas. Esta atingiria o seu máximo nas
faces das figuras da obra-prima A Descida da Cruz, presente no
Museu do Prado em Madrid, nas quais perpassam, de uma forma
dramática, as suas angústias e sofrimentos.
O pintor dos Painéis presta com este retrato uma homenagem ao seu
mestre. Era comum neste período os artistas incluírem nas suas obras
a figura de outros pintores pelos quais nutriam uma grande admiração
ou reconhecimento. Estão neste caso os exemplos de Leonardo da
Vinci, na imagem do profeta Zacarias, pintado por Miguel Ângelo
(fig. 52)90 e de Miguel Ângelo, na figura de Moisés, da autoria de
Rafael (fig. 53)91.
90
BUONARROTI, Miguel Ângelo - tecto da Capela Sistina, (pormenor), (1508-
1512), Vaticano.
91
RAFAEL Sanzio – Escola de Atenas, (pormenor), (1509-1511), Palácio
Pontifício, Vaticano.
72
Fig. 52 Fig. 53
Fig. 54
92
Segundo uma tradição cristã S. Lucas tornou-se patrono dos pintores por ter
efectuado desenhos da Virgem e de discípulos de Jesus. Por esta razão era comum,
os pintores se fazerem auto-representar em obras nas quais estavam a executar um
retrato da Virgem.
93
Os copistas desta pintura estavam igualmente a homenagear Rogier van der
Weyden, ao reproduzirem o seu rosto,
73
Aliás os trabalhos de Van der Weyden foram, de um modo geral,
bastante reproduzidos conforme se pode constatar pela existência de
outros exemplos em diversas colecções museológicas. Estas
duplicações terão sido executadas por aprendizes ou auxiliares da
oficina do pintor flamengo, ou por outros pintores, que procuravam
assim desenvolver a sua técnica de modo a aproximá-la à do mestre.
94
BAETA, Clemente - Op. cit., Cap.6: Os apoiantes do regente
95
Novo Testamento - Op. cit., Mateus 4:18-22; Marcos 1:14-20; Lucas 5:1-11; João
1:35-51
74
É igualmente interessante a maneira como o pintor, inspirando-se
precisamente nas mesmas passagens bíblicas96, ilustrou os pescadores
“pescados” na rede:
E Jesus lhes disse: Vinde após mim, e eu farei que sejais pescadores
de homens (Marcos 1:17)
96
Idem.
75
10. O pintor dos Painéis
97
VAN DER WEYDEN, Rogier – António da Borgonha (c.1456), (pormenor),
Musée Oldmasters, Bruxelas.
98
VAN DER WEYDEN, Rogier – Francesco d’Este (c.1460), (pormenor),
Metropolitian Museum of Art, Nova Iorque.
77
Fig. 55 Fig. 56 Fig. 57 Fig. 58
99
Painéis de S. Vicente de Fora, MNAA, Lisboa, (pormenores dos painéis da
Relíquia e dos Frades, respectivamente).
100
VAN DER WEYDEN, Rogier – A Descida da Cruz (c.1435), (pormenores),
Museu do Prado, Madrid.
78
infravermelho.101 Naquela viagem o artista terá ainda recebido
instruções específicas da duquesa sobre algumas personagens, cenas e
mensagens que pretenderia que figurassem na pintura.
101
VÁRIOS – Nuno Gonçalves, Novos Documentos, Estudo da Pintura Portuguesa
do Século XV, Lisboa, 1994, págs. 144 e 185, respectivamente.
102
Ver o capítulo seguinte no qual expomos a nossa proposta de decifração para a
faixa presente no botim do jovem.
79
Curiosamente o ano de contratação deste pintor coincide com o de
uma viagem que Roger van der Weyden fez à Itália em 1450. Será
Nuno Gonçalves o pintor português que se formou na oficina do
mestre flamengo e que, apercebendo-se que já teria pouco a aprender,
aproveitou a partida de Van der Weyden para regressar a Portugal, e
entrar ao serviço de D. Afonso V, onde mais tarde iria executar os
famosos Painéis?
A retirada de funções a João Eanes terá sido por uma razão particular
ou pelo limite de idade? Cremos que haverá um motivo forte para este
afastamento. Basta ver a forma seca e ríspida utilizada nas palavras no
texto (Doc.7). Se fosse apenas por uma questão de idade o modelo
utilizado seria totalmente diferente, como se pode constatar na
seguinte carta de aposentação, datada de 10 de Janeiro de 1473, dada
ao pintor João Afonso, apesar de este não ter ainda atingido a idade
legal que era de 70 anos:
Doc. 9 (10-1-1473)
Dom Afomso etc. a quamtos esta carta virem fazemos saber que nos
queremdo fazer graça e merçe a Joham Afomso, pintor, nosso
vassallo, morador em a çidade de Lixboa por os seruyços que nos tem
fectos em as partes dafryca e em outros lugares, temos por bem e
apousentamollo com toda sua homrra, posto que nom aja ydade de
sateenta annos per que o deue seer. E porem mandamos ao veador
dos nossos vassallos da dita çydade, etc., carta em forma. Dada em
80
Euora a x dias de janeyro – elRey o mandou per Joham Galuom bispo
de Coimbra & Afomso Garçes a fez – de mill iiijc lxxiij.103
Será João Eanes, o artista que ocupava o posto mais elevado dos
pintores régios à data da conclusão dos Painéis, o autor desta obra?
Terá ultrapassado o seu papel na concepção da composição e foi, por
isso, afastado das suas funções quando D. Afonso V percebeu o
sentido de alguma das mensagens camufladas que a pintura continha e
de que não terá gostado?
Doc. 10 (12-4-1471)
Item. Queremos e mandamos que as obras da Cidade se façam por
empreitada, tendo os oficiaes tal maneira que no começo do anno,
103
VITERBO, Sousa – Notícias de Alguns Pintores Portuguezes, Lisboa, 1903, p. 6
104
Ver capítulo seguinte.
81
como entrarem, todos juntamente com o Veador e Escrivam delas vam
ver pela dita Cidade, e fora dela as obras que sam pera fazer asy de
muros, como calçadas, fontes, canos, e quaesquer outras que se
ouverem de fazer; e levem consyguo os mesteiraes, e talhem com eles
a dita empreitada, e as escrevam asy o Escrivam delas, declarando
em que lugares sam, e como se ham de fazer, e o que por elas ham
d’aver: e o Escrivam, e Vedor das ditas obras tenham carrego de as
ver, a andarem aly com os mesteiraes, vendo se as fazem bem, e como
devem; dando triguança que se acabem aos tempos que com eles for
talhado.105
105
SERRA, José Corrêa da – Colecção de Livros Inéditos de História Portugueza,
Tomo III, Lisboa, 1793, págs. 424-425 (sublinhado nosso)
106
No Cap. 17 A opinião de Francisco de Holanda, analisamos em particular, as
referências sobre o retábulo.
82
Senhor atado à coluna que dois homens estão açoitando em uma
capela do mosteiro da Trindade.107
107
HOLANDA, Francisco de - Da Pintura Antiga, Lisboa, 1984, págs. 37-38
(sublinhado nosso)
108
HOLANDA, Francisco de - Diálogos em Roma, Lisboa, 1984, pág. 137
83
E o que hoje se pinta, onde se sabe pintar, que é somente em Itália,
podemos-lhe chamar também antigo, sendo feito hoje em este dia.109
Fig. 63
109
HOLANDA, Francisco de - Da Pintura Antiga, Lisboa, 1984, pág. 37
110
RAFAEL Sanzio – Escola de Atenas, (1509-1511), Palácio Pontifício, Vaticano.
111
HOLANDA, Francisco de - Da Pintura Antiga, Lisboa, 1984, pág. 62
(sublinhado nosso)
84
Noutro extracto, Francisco de Holanda recomenda que as figuras da
pintura “não ocupassem confusamente toda a tábua” e que se deixasse
alguns espaços vazios. Mais uma vez não vemos estes princípios
aplicados nos Painéis, onde as personagens estão compactas e os
espaços vazios são diminutos:
…porque a pintura tanto há-de ser feita daquilo que nela se faz, como
do que se deixa de fazer. E se as figuras forem poucas ou se forem
muitas, a ordem que eu nelas encomendaria, seria que não ocupassem
confusamente toda a tábua ou lugar onde se põem, mas que deixem
alguns espaços vazios e dilatados para darem despejo e clareza à sua
obra…112
Fig. 64 Fig. 65
112
Idem - pág.61 (sublinhado nosso)
113
GONÇALVES, Nuno, (c. 1470), MNAA, Lisboa, (www.matriznet.ipmuseus.pt)
85
Se associarmos este facto, às cenas dos martírios do santo evocados
nestas tábua e meia, podemos afirmar, que estas pinturas poderão ter
pertencido ao retábulo que o humanista viu no altar de S. Vicente da
Sé de Lisboa (tese defendida por Adriano de Gusmão114) e que lhe
permitiu atribuir o título de “águia” a Nuno Gonçalves. Imagine-se a
grandiosidade desta composição completada com outros painéis, onde
se incluiriam também as cenas dos milagres e da vida de S. Vicente,
pintados com aquela beleza plástica do corpo humano e com escassos
elementos decorativos!
114
GUSMÃO, Adriano de - Nuno Gonçalves, Lisboa, 1957, pág. 113-116
86
permitem-nos defender que Nuno Gonçalves foi de facto um grande
pintor “que pintou na Sé de Lisboa o altar de S. Vicente “ conforme se
deduz pelas supostas amostras sobreviventes da pintura deste altar
(figs. 64 e 65). 115
115
Repare-se que a perspectiva dos ladrilhos desta tábua e meia, sugere a falta de
outros painéis que terão desaparecido.
116
Ver Apêndice I, Doc.6
87
11. A inscrição na bota do Príncipe
Por outro lado, para ser uma simples decoração, falta-lhe a repetição
dos motivos ou desenho, que é de todos os tempos e de todos os povos,
desde os egípcios e assírios aos gregos e romanos, dos maias e
astecas aos hindus e chineses, dos esquimós aos zulus, entre os
americanos, os europeus, os africanos e os asiáticos; o mesmo ornato
repete-se sempre em qualquer friso, na Arte dos brancos, dos
amarelos ou dos negros.
89
Nos monumentos, na cerâmica, nos bordados, nas jóias, nas
ferragens, nas tapeçarias, nos couros lavrados, etc., um friso
decorativo é uma repetição contínua de «motivo» da decoração.
Este autor acrescenta uma nota que nos remete para uma prova do que
está a afirmar:
Pedro Flor não publicou essa imagem, mas pela observação que se
pode fazer ao citado pormenor desta pintura (fig. 67), concluiu-se que
a decoração dourada que cobre os sapatos, de uma forma salpicada,
117
FONSECA, António Belard da - O Mistério dos Painéis - O Cardeal D. Jaime de
Portugal, Lisboa, 1963 (2ªed.), págs. 108-109 (sublinhados nossos)
118
FLOR, Pedro - A Arte do Retrato em Portugal nos Séculos XV e XVI, Lisboa,
2010, pág. 205
119
Idem - nota 198.
90
não é em nada semelhante à faixa localizada na ponta da bota do
jovem dos Painéis.
120
FONSECA, António Belard da - O Mistério dos Painéis - Os Pintores, Lisboa,
1963, págs. 111-134
91
Expomos sinteticamente, sem qualquer tipo de crítica, as propostas de
leituras apresentadas pelos estudiosos: António Belard da Fonseca121,
Theresa Schedel de Castelo Branco122, Jorge Filipe de Almeida123,
Rosa Marreiros124 e António Salvador Marques125.
121
O Mistério dos Painéis - O Cardeal D. Jaime de Portugal, Lisboa, 1957, (2ª
ed.,1963)
122
Os Painéis de S. Vicente de Fora - As Chaves do Mistério, Lisboa, 1994
123
Os Painéis de Nuno Gonçalves, Lisboa, 2003
124
A Faixa no Botim de D. Afonso V nos Painéis de Nuno Gonçalves: um
“calcanhar de Aquiles”, Coimbra, 2004
125
Painéis de S. Vicente de Fora – Modo de Utilização, http://paineis.org., 1998-
2010
92
Em ambos os casos o autor encontrou os nomes dos pintores que
defendeu como sendo os executantes dos Painéis.
Rosa Marreiros
Recorreu também à posição da inscrição dada pela fig. 69, onde leu:
93
António Salvador Marques
Este autor socorreu-se de um processo mais elaborado. Utilizou uma
imagem (fig. 71) que corresponde à posição inversa da inscrição da
fig. 69 reflectida num espelho. Ali decifra:
Deduz-se, pelos exemplos atrás expostos, que esta tarja tem dado
lugar às mais variadas leituras que estão alinhadas, evidentemente,
com o significado geral dos Painéis proposto por cada autor.
Fig. 72
Po J J No oY d A .S. Y s(?)
94
Para o efeito, recorremos principalmente às abreviaturas recolhidas e
publicadas por Borges Nunes no seu livro Abreviaturas Paleográficas
Portuguesas.126
127
128
129
> <>
No, abreviatura de Nuno. Eliminámos parte do símbolo seguinte de
modo a evidenciar o “o” sobrescrito. Este “o” foi pintado de modo a
ser comum com o da abreviatura seguinte.
126
NUNES, E. Borges – Abreviaturas Paleográficas Portuguesas, 1981, 3ª ed.
127
Idem - pág.110
128
Idem - pág.101
129
Idem - pág.108
95
130
131
130
Idem - pág. 116
131
Idem - pág. 74
96
Por outras palavras:
132
BAETA, Clemente – Op. cit.
133
Ver acima “.S. <> o mesmo é dizer”
97
Encontra-se aqui uma mensagem codificada dirigida ao portador da
bota: o príncipe João. Este é o único personagem que a pode ler de
uma maneira fácil. Trata-se de uma mnemónica destinada a recordar
as intrigas e os acontecimentos que culminaram na morte do seu avô
(o infante D. Pedro).
134
Ver Cap.3 O embaixador Jean Jouffroy
98
III PARTE
135
BAETA, Clemente – Op. cit., Cap. 1.Introdução
99
patrono e inspirador da expansão militar quatrocentista no
Magrebe…
136
http://www.museudearteantiga.pt/. Painéis de São Vicente, (sublinhado nosso).
137
FIGUEIREDO, José de - O Pintor Nuno Gonçalves, Lisboa, 1910
138
FLOR, Pedro – Op. cit., pág. 184
100
Baptista Pereira139 e Pedro Flor140 nos seus estudos publicados em
2010.
139
PEREIRA, Fernando António Baptista – Istoria e Retrato no Retábulo de S.
Vicente de Nuno Gonçalves, in Arte Teoria, nº12/13, Lisboa, 2010, págs. 161-183
140
FLOR, Pedro – Op. cit., págs. 183-218
101
uma tempestade ou a tábua lançada a Frei Sancho, monge cativo,
que o fez chegar a terra).
102
Ignorar e não abordar criticamente a documentação escrita,
iconográfica e técnica hoje disponível, … retira crédito de qualquer
tentativa de interpretação ou análise dos Painéis. Para os estudar
correctamente, é necessário explicar e justificar o seu percurso
histórico e as vicissitudes porque passaram. 141
143
Ver Cap.14 A cronologia dos documentos
144
PEREIRA, Fernando António Baptista – Op. cit., págs. 161-183
104
Este raciocínio tem no entanto um grande obstáculo porque, de acordo
com o Documento do Rio, a agora denominada série dos Milagres foi
retirada do altar no final do século XVI, o que significa que ela não
poderia continuar a ser referenciada nos documentos posteriores ao
final do século XVI, como por exemplo acontece no testemunho de D.
Rodrigo da Fonseca!
146
Ver Cap.17 A opinião de Francisco de Holanda
106
Fig. 73
147
BAETA, Clemente – Op. cit., Cap.13: A figura santificada
107
A figura santificada dos Painéis não pode ser S. Vicente porque não
segue os cânones que já estavam fixados para a sua representação, e
que continuaram a ser utilizados posteriormente. Se fosse S. Vicente
seria de esperar que, em pelo numa das suas imagens, concebidas
depois dos Painéis, se apresentasse de acordo a iconografia patente no
Políptico.
109
• Não atribuem qualquer valor à pretensa inscrição existente na
bota do jovem do painel do Infante.
Este ponto já foi objecto de análise no capítulo dedicado à inscrição
visível na bota do Príncipe.148
A Terça feira pella manhã que eraõ xxiiij dias daquelle mês
Doutubro, foi ElRey na sua Cidade de Cepta. E como elle havia alto e
grande coraçaõ, quando se alevantou pella menhã, e vio a Cidade de
Cepta, onde chegara de noite, começou de a olhar de todallas partes,
e quando vio sua grandeza entristeceo sua cara, como home que se
nom contentava tanto da victoria que recebera, como da primeira
postoque assaz grande fosse, porque vendosse Rey como seu avô, e de
mais alta linhagem que elle, nom se pode contentar, porque o nom
sobrepojava.149
148
Ver Cap.11 A inscrição na bota do Príncipe
149
ZURARA, Gomes Eanes de, - Crónica do Conde D. Duarte de Meneses, Cap.
XXXIV, in SERRA, José Corrêa da – Op. cit., pág. 93 (sublinhado nosso)
150
Ver Cap. 15 Os documentos das Visitações
110
componente da pintura já estaria concluída, e as obras do conjunto
retabular já se encontrariam na fase final (1473). 151
151
Idem
152
BAETA, Clemente – Op. cit., Cap. 6. Os apoiantes do regente
153
ESTEVES, Lilia - A Dendrocronologia Aplicada às Obras de Arte, D.E.M.,2003.
154
Ver Cap. 10 O pintor dos Painéis
111
13. A iconografia de S. Vicente
155
FIGUEIREDO, José de – Op. cit., págs. 24 e 47-48
156
S. Vicente, in Livro de Horas de D. Duarte, 34v, (pormenor), Bruges, c. 1401-
1433, Torre do Tombo online ref.: PT-TT-MSMB/A/L65
157
S. Vicente, in Livro de Horas, f.29, Bruges, séc XV, Cambridge, Harvard
University, Houghton Library, MS Lat 161, E.U.A.
113
Fig. 74 Fig. 75
158
SANTOS, Reynaldo dos - Nuno Gonçalves, Londres, 1955, pág. 6-7
159
POLLAIUOLO, António e Piero del, c.1467. O retábulo inclui as imagens de S.
Vicente, S. Tiago Maior e S. Eustáquio. O original encontra-se na Galleria Uffizzi,
Florença.
114
Um terceiro exemplo, também bastante citado, foi apresentado pelo
historiador de arte francês Charles Sterling160, e refere-se a um quadro
de S. Vicente, no qual o seu corpo dá à costa com uma mó atada ao
pescoço, depois de ter sido atirado ao mar. Seleccionámos o detalhe
desta cena (fig. 77)161 na qual o santo vem ainda acompanhado de uma
âncora e de uma corda enrolada colocada junto ao seu corpo. Os
partidários da teoria vicentina afirmam que a corda, colocada no chão
do painel do Arcebispo, tem o mesmo significado iconográfico, o que
lhes permite identificar o santo dos Painéis como S. Vicente.
Fig. 76 Fig. 77
160
STERLING, Charles – Os Painéis de S. Vicente e os seus Enigmas, in João
Couto - In Memoriam, Lisboa, 1971, pág. 197
161
VALL, Pere, 1º quartel do séc. XV. Museu Episcopal de Vic, Barcelona
115
Os três exemplos que acabámos de analisar têm em comum o facto da
imagem do santo ter sida concebida por artistas estrangeiros que não
conheciam a iconografia portuguesa de S. Vicente. Os atributos deste
santo variavam de país para país. Nos outros reinos peninsulares, por
exemplo, era normal estar representado junto a uma cruz em aspa ou
atado a uma mó. Já em França o santo encontrava-se ao lado de uma
videira podendo, nalguns casos, segurar um cacho de uvas, no seu
papel de padroeiro dos vinicultores.
162
SARAIVA, José - Os Painéis do Infante Santo, Leiria, 1925, págs. 40 e 59 e
estampas entre as págs. 60-61
163
SOUSA, António Caetano de - História Genealógica da Casa Real Portuguesa,
Tomo IV, Lisboa, 1738, pág. 28
116
Fig. 78 Fig. 79
Fig. 80 Fig. 81
117
numa iluminura (fig. 84)164 do início do seculo XVI e serviu de
inspiração para o actual brasão de Lisboa (fig. 85).
164
Brasão de Lisboa in Regimento dos Vereadores da Câmara de Lisboa, 1502,
Arquivo Histórico Municipal
165
S. Vicente, escultura, séc. XV-XVI, MNAA, Lisboa, www.matriznet.ipmuseus.pt
166
S. Vicente, Imagem de barro policromado, séc. XV-XVI, Museu da Cidade,
Lisboa
118
A mesma iconografia está também patente na estátua, actualmente
bastante deteriorada, existente na porta ocidental do mosteiro dos
Jerónimos (fig. 88)167. Se esta escultura, patrocinada pelo poder régio
de D. Manuel I, utilizou os atributos habituais de S. Vicente, então
seria de esperar que as imagens do santo dos Painéis, cuja execução
teve o apoio real de D. Afonso V, tivessem também os mesmos
elementos identificativos. Como não os tem…
Fig. 90
167
Início do séc. XVI
168
CONTREIRAS, Diogo de, 1ª metade do Sec. XVI, colecção particular
169
FREI CARLOS, c. 1525, Metropolitan Museum de Nova Iorque
119
Fig. 91 Fig. 92
120
14. A cronologia dos documentos
1467: “…e ajuda pelas obras mui grandes que se cada dia crescem na
capela do dito mártir…”
1467: “…e ajuda pelas obras mui grandes que se ainda cada dia
requerem na capela do dito mártir…”; “…ainda pelas obras
mui grandes que se cada dia fazem na capella do dito mártir…”
1473: “…ainda pelas obras mui grandes que se cada dia fazem na
capela do dito mártir…”
172
Ver texto completo no Apêndice II
173
CORTESÃO, Jaime - Os Descobrimento Portugueses, Vol. III, Lisboa [1960],
1990, pág. 513
174
Ver texto completo no Apêndice II
175
CORTESÃO, Jaime – Op. cit., pág. 514
122
Refere-se à recolha de esmolas incluída nas Visitações a
Santiago de Óbidos. Documento recuperado e publicado por
Isaías da Rosa Pereira em 1995, e introduzido no debate dos
Painéis pelo presente estudo.176
1534 (c.): “…que neste dia de S. Vicente, que agora vem vá ouvir
missa à Sé para ver aqueles famosos Reis armados tão formosos
e gentis-homens…”
176
Ver texto completo no Apêndice II
177
Idem
178
Idem
179
MARKL, Dagoberto – Op. cit., pág. 41-42
123
Conselho de Francisco Pereira Pestana enviado a D. João III,
publicado por Maria Leonor Garcia da Cruz em 1997 e
introduzido no debate dos Painéis pelo presente estudo.180
180
Ver Cap. 16. Os pareceres de Francisco Pereira Pestana
181
Ver Apêndice III
182
GUSMÃO, Adriano de – Op. cit., pág. 45
183
FIGUEIREDO, José de – Op. cit., pág. 71-74
184
SARAIVA, José – Op. cit., págs.19-20
124
1600 (c.): “…está retratado na capela-mor da Sé…, e em baixo ao pé
dela estavam dois painéis em que estava pintado S. Vicente em
figura de moço de 17 anos em cada retábulo e painel, que
estavam juntos um do outro, e a figura de S. Vicente estava
virada uma para outra de maneira que mostrava a si cada parte
do rosto…”;
185
ALVES, Artur da Motta - Os painéis de S. Vicente num códice da Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro, Lisboa, 1936, pág. 7
186
GUSMÃO, Adriano de - Nuno Gonçalves, Lisboa, 1958, págs. 14-15
125
Carta régia de Filipe II dirigida à vereação da cidade de Lisboa a
dar instruções para a execução de um altar e retábulo novo.
Documento publicado por Eduardo Freire de Oliveira187 em 1887
e introduzido na temática dos Painéis por Adriano de Gusmão.188
1618: “…se vos avisa da resolução que tomei sobre se tornar a pôr o
real d’água para as obras principais dessa cidade; e porque
depois do retábulo e capela do mártir S. Vicente, deve ser a
primeira trazer à cidade água…”
187
OLIVEIRA, Eduardo Freire de – Elementos para a História do Município de
Lisboa, Tomo II, Lisboa, 1887, págs. 358-360
188
GUSMÃO, Adriano de - Op. cit., 1957, pág. 159
189
OLIVEIRA, Eduardo Freire de – Op. cit.,, pág. 400
190
GUSMÃO, Adriano de – Op. cit., 1957, págs. 159
191
OLIVEIRA, Eduardo Freire de – Op. cit., pág. 410
192
GUSMÃO, Adriano de - Op. cit., 1957 pág.159
193
GUSMÃO, Adriano de - Op. cit., 1957, pág. 71
126
1631: “Por parte do cabido da Sé dessa cidade se me representou que
o retábulo do glorioso São Vicente de Valença, cujo corpo está
naquela Igreja, é muito antigo, e está mui velho…pedindo-me
mande que essa cidade, por conta do real d’água, faça essas
obras…”
194
OLIVEIRA, Eduardo Freire de – Elementos para a História do Município de
Lisboa, Tomo III, Lisboa, 1888, pág. 448
195
FIGUEIREDO, José de – Op. cit., pág. 36
196
OLIVEIRA, Eduardo Freire de – Op. cit., Tomo III, Lisboa, 1888, pág. 515
197
GUSMÃO, Adriano de – Op. cit., 1957, págs. 160
127
em 1887198 e introduzido na temática dos Painéis por Adriano de
Gusmão.199
198
OLIVEIRA, Eduardo Freire de - Op. cit., Tomo II, Lisboa, 1887, págs. 359-360
199
GUSMÃO, Adriano de – Op. cit., pág. 160
200
SARAIVA, José – Op. cit., págs. 69-74
201
GUSMÃO, Adriano de – Op. cit., pág. 14
202
VILAS BOAS, Frei Manuel do Cenáculo – Ciudados Literários do Prelado de
Beja, Lisboa, 1791, págs. 75-77
128
patriarca de Lisboa, o cardeal D. Tomás de Almeida, …
mandando limpar as ditas pinturas, e guarnecer os painéis com
correspondentes molduras…nos painéis se descobrem várias
imagens do mártir S. Vicente…que se acha[m] na casa do
jardim do palácio do sítio de Marvila…”
205
SALDANHA, Nuno – Transitoriedade e Permanência: a Pintura em S. Vicente
de Fora, in Mosteiro de S. Vicente de Fora, Arte e História, Lisboa, 2010, págs.
157-187
130
• O retábulo de S. Vicente integrou a capela-mor da Sé de
Lisboa durante 228 anos (1462-1690).
131
15. Os documentos das Visitações
“No ano de 1462 sendo Arcebispo dom Ao Nogueira mandou o Vor que
se tirasem esmollas pa as obras da Capa do martyr S. Viçente da see e
aos que as desem se lhe conçediã quorenta dias de perdão”. 208
206
CORTESÃO, Jaime – Op. cit., pág. 513
207
Idem - pág. 514
208
MARKL, Dagoberto – Op. cit., págs. 231-232
133
Temos assim conhecimento de que em 1462 e 1467 se recolhiam
esmolas para custear as obras que decorriam na capela de S. Vicente
da Sé de Lisboa e que em 1469 o rei contribuiu com uma verba para o
retábulo de S. Vicente.
209
Ver no Apêndice II as indicações das respectivas fontes.
134
135
O quadro da página anterior sintetiza as Visitações atrás referidas.
138
16. Os pareceres de Francisco Pereira Pestana
210
MARKL, Dagoberto L. – Op. cit., págs. 41-42
139
Afonso V, D. Duarte211 e o futuro D. João II no painel do Arcebispo, e
o regente infante D. Pedro no painel do Infante, acompanhados de
outros cavaleiros armados, enquanto os “gentis-homens” estão
bastante visíveis no painel do Infante. Se estas conclusões estiverem
correctas estaremos perante o registo mais antigo que nos descreve
figuras dos Painéis e que os coloca no altar de S. Vicente da Sé.
211
O homem do chapeirão, segundo alguns autores.
212
Presumimos que o autor, ao evocar o dia de S. Vicente, estava a encaminhar o rei
para a capela deste santo.
213
FARIA, Manoel Severim de – Noticias de Portugal, Lisboa, 1655, pág. 47
140
Discurso sobre o governo da India onde mostra os meyos por
onde se pode dilatar a sua Conquista.
Estas duas obras se conservavaõ na Livraria do Chantre de
Evora Manoel Severim de Faria. 214
214
MACHADO, Diogo Barbosa – Bibliotheca Lusitana, Tomo II, Lisboa, 1747, pág.
219
215
ALVES, Artur da Motta – Op. cit., pág. 15
216
Idem, págs. 15-16
141
qla. grande mesquita, q. ali seria ele verdadeiro pontifical onde pelo
Ifte. Dõ Luis voso irmão e vosso cõdestable V.A. fose armado
cavaleiro…»
Este Francisco Pereira, apesar de lhe faltar o apelido, 219 é sem dúvida
o mesmo autor dos pareceres atrás analisados. O que agora
divulgamos, é praticamente uma cópia daquele referido por Motta
Alves, a julgar pela descrição e pelos extractos que este autor
publicou. Ao longo dos primeiros 24 fólios deste seu conselho, de um
total de 44, Pereira Pestana destaca os ganhos e os motivos porque se
devia conquistar o reino de Fez. Nos restantes fólios enumera as
contribuições (militares ou pecuniárias) que cada bispo, fidalgo ou
província podia entregar para essa campanha.
217
Este fidalgo, antes de 1510, esteve sete anos nas praças africanas ao serviço de D.
Manuel I.
218
CRUZ, Maria Leonor Garcia da – As controvérsias ao tempo de D. João III sobre
a política portuguesa no Norte de África, in Mare Liberum nº 13, Junho 1997
219
No capítulo XCV da Crónica de D. Manuel, Damião de Gois referindo-se a
Francisco Pereira Pestana, denomina-o também por Francisco Pereira.
142
«eu dey a causa & razã a V.A. porq. diuia passar e͠ Africa»
versus
“Eu dei a cauza e rezões a Vossa Alteza por que devia passar em
Affrica”220
e
«seria ver celebrar h͠u pontifical cõ tanta gloria, alegria, e choros de
prazer na qla. grande mesquita, q. ali seria ele verdadeiro pontifical
onde pelo Ifte. Dõ Luis voso irmão e vosso cõdestable V.A. fose
armado cavaleiro…»
versus
“seria ver celebrar hun Pontefical com tanta alegria com choros de
prazer naquella tão grande mesquita que alli seria elle vardadeiro
Pontefical onde pello Infante D. Luís Vosso Irmão e vosso
Condestable Vossa Alteza fosse armado Cavaleiro…”221
Outra vez peço por merce a Vossa Alteza queria (sic) perdoar o
atrevimento que em tanto me atraver cometi, querendo (como já
disse) olhar a vontade com que se escrevo, protestando de assim
servir vendo-me na dita guerra que mereça perdão de minhas
ignorancias e porque acerca de aquesta Conquista, há outro parecer
em escripto em contrario deste, a este se deve perdoar.222
220
CRUZ, Maria Leonor Garcia da – As controvérsias ao tempo de D. João III sobre
a política portuguesa no Norte de África – Compilação de Documentos, in Mare
Liberum nº 14, Dezemdro 1997, pág. 151
221
Idem, pág. 157
222
Idem, pág. 149
143
contrária, serão de 1531-1532. Estas datas coincidem com dois
momentos em que D. João III pediu aos seus conselheiros que lhe
dessem as suas opiniões sobre as acções que deveriam ser tomadas
relativamente às praças norte-africanas.
Tudo indica, por esta descrição de Pereira Pestana, que os painéis dos
Cavaleiros e dos Frades se encontravam na capela-mor da Sé de
Lisboa, junto às sepulturas de D. Afonso IV e D. Beatriz, sua mulher.
Por aqui se pode concluir que estas tábuas não integravam o retábulo
existente na capela de S. Vicente.
223
Idem, pág. 148
144
de encontro com o expusemos anteriormente224 onde defendemos que
o tema principal do painel dos Frades se relacionava com estas acções
de resgate.
224
Ver Cap. 8. O frade de barbas e a tábua
225
http://www.museudearteantiga.pt/pt
145
Estes dois documentos associados ao relato de 1567,226 que descreve
“que as vestes, o calçado e a maneira de cobrir a cabeça nos dão
mostra da sua grande antiguidade” permitem induzir que os Painéis
marcaram presença na capela-mor da Sé, o que será depois
amplamente reforçado com o Documento do Rio, que analisaremos
adiante.
226
Ver Cap. 14. A cronologia dos documentos
227
RESENDE, Garcia de – Miscellanea, Évora, 1554, fols. xxij-xxiij
228
O rei entretanto já tinha fugido do seu paço de Benavente.
146
terra […] Em Almeirim o mesmo […] E na Azambuja não havia uma
única casa […] O mosteiro de Belém caiu na sua maior parte e a
torre de Belém com toda a sua artilharia ficou de tal maneira que se
abriu por todas as esquinas […].» Milhares de mortos, vítimas que
se juntam às mortes por doença, assinaladas entre os começos do
Verão e o final do ano na capital.” 229
229
MATTOSO, José - Direcção de – História de Portugal, 3º Volume, Lisboa, 1993,
pág. 216
230
BAETA, Clemente, Op. cit., Cap. 12. A disposição dos Painéis
231
Idem.
147
17. A opinião de Francisco de Holanda
232
FIGUEIREDO, José de – Op. cit.
233
HOLANDA, Francisco de - Da Pintura Antiga, Lisboa, 1984, págs. 37-38
(sublinhado nosso)
234
HOLANDA, Francisco de - Diálogos em Roma, Lisboa, 1984, pág. 137
(sublinhado nosso)
149
Aquele autor escreveu por duas vezes “que pintou o altar de S.
Vicente de Lisboa”, sem se referir ao tema que lá estava exposto. A
não alusão a outros pormenores significa que as pinturas objecto da
sua atenção só podiam dizer respeito a cenas relacionadas com este
santo, ainda mais quando se sabe que Francisco de Holanda conhecia
bem os atributos de S. Vicente conforme se vêem na moeda de ouro
Vicente (fig. 89) cujo cunho seria mais tarde desenhado por si e pelo
seu pai, António de Holanda, como já tínhamos feito referência.235
235
Ver Cap. 13 A tese vicentina.
236
No Cap.10 O pintor dos Painéis, debruçámos essencialmente sobre as referências
feitas a Nuno Gonçalves e ao ideário artístico defendido por Francisco de Holanda.
150
18. O documento da Biblioteca do Rio de Janeiro
O Príncipe Dom Afonso seu filho, que caiu do cavalo, está retratado
na capela-mor da Sé, soía estar na dita capela entrando por ela à
mão esquerda do altar em cima no alto uma sepultura dourada onde
diziam estar o corpo de S. Vicente, e em baixo ao pé dela estavam
dois painéis em que estava pintado S. Vicente em figura de moço de
17 anos em cada retábulo e painel, que estavam juntos um do outro, e
a figura de S. Vicente estava virada uma para outra de maneira que
mostrava a si cada parte do rosto em figura deste S. Vicente está
retratado o Príncipe Dom Afonso – um rosto muito formoso de moço,
e ele, e outras muitas figuras de homens que nos ditos painéis estavam
que eram Senhores e fidalgos daquele tempo que se mandaram
retratar com o príncipe Dom Afonso e tinham nas cabeças umas
caraminholas muito altas de veludo, umas de vermelho, outras de
verde e de cores que parece que eram os barretes daquele tempo, há
muito que não vi isto, disseram-me há poucos dias que não estavam já
aí estes painéis, dirão os cónegos onde estão, também me disseram
que estava este príncipe retratado em São Bento, em figura de São
237
ALVES, Artur da Motta – Op. cit.
151
Sebastião no pé de um retábulo nunca o vi, os da Sé retratou o Mota
que foi o que pintou El-Rei Dom João pai deste príncipe.238
238
CORTESÃO, Jaime – Op. cit., pág. 501, (sublinhados nossos). Ajustámos o texto
original à grafia actual.
152
e o d’el-rei Dom Duarte seu filho fez um grande pintor daquele tempo
e se chamava Diogo Gomes da Rosa.239
239
MARKL, Dagoberto – O Essencial sobre Nuno Gonçalves, Lisboa, 1987, pág.
13. Ajustámos o texto original à grafia actual.
153
de que aquele santo, há falta de melhor indicação, também seria S.
Vicente, embora os devotos não percebessem o significado subjacente
àquelas representações cénicas.
154
19. O testemunho de D. Rodrigo da Cunha
240
SARAIVA, José – Op. cit.
155
que se vem varias piramides, & castellos da mesma obra da
frontaleira, até que de todo vem a fenecer, junto da abobada com
remates de Anjos, q sustentam coroas, & outras insignias em ordem
ao sãto. Quem fosse o autor da obra, na perfeiçam em que hoje està,
não pudemos descubrir, foy pelo menos seu restaurador, quando não
autor, ou o cardeal D. Iorge da Costa, ou seu irmam D. Martinho da
Costa, no tempo que foram Arcebispos, como se vé do escudo de suas
armas, que tem pendurado do braço esquerdo, a gloriosa virgem, &
martyr S. Catherina, na coluna que fica do euangelho, em que remata
o retabolo, sam a roda de naualhas da mesma santa, como diremos
em seu lugar. Responde lhe na coluna da parte da epistola, outra do
Anjo do reyno, com as quinas reaes, já postas na form, em que as
mandou cõcertar el Rey dom Ioam o segundo deste nome. A deuaçam
que sempre tiuemos ao glorioso martyr, & as grandes merces, que por
seus merecimentos temos recebido da maõ diuina, nos obrigaram a de
nouo mandar renouar,& dourar esta obra, jà q cõ outros mayores
seruiços nos não he possivel mostrarmo nos agradecidos…241
241
CUNHA, Rodrigo da – História Ecclesiastica da Igreja de Lisboa, Lisboa, 1642,
págs. 96-97 (sublinhados nossos)
156
existe no seu extenso relato o mínimo detalhe que nos possa levar a
suspeitar dessa ocorrência, nem uma referência de que o retábulo
estaria incompleto por terem sido retirados uns painéis no início desse
século.242 Repare-se que este clérigo era então, nem mais nem menos,
o arcebispo de Lisboa. A sua narrativa foi, sem dúvida, escrita perante
o retábulo da Sé e o facto de esta ter sido publicada ainda em sua vida,
só pode autenticar o seu conteúdo, se é que ainda houvesse dúvidas
sobre a integridade moral do seu autor. Se os Painéis estivessem ali
presentes, seriam certamente objecto da atenção deste prelado. A tese
vicentina continua a defender, socorrendo-se também deste
documento, que os Painéis fizeram parte do retábulo de S. Vicente.
242
Referimo-nos à descrição dada pelo Documento do Rio. Se os Painéis tivessem
sido retirados do retábulo inicial, notar-se-ia a sua falta no espaço não ocupado do
retábulo e D. Rodrigo teria feito essa observação.
243
Ver Cap. 12 A tese vicentina.
157
20. O outro relato de D. Rodrigo da Cunha
Fig. 93 Fig. 94
Fig. 95 Fig. 96
160
tratos, açoites [fig. 96], vinhas,
Fig. 97 Fig. 98
& garfos de ferro [fig. 98], cruzes [fig. 97], fogueiras, crescendo
igualmente a paciencia, & soffrimento, no santo, que a malicia, &
fereza no tyrano.
163
Fig. 97: S. Vicente é martirizado na cruz em aspa.
246
Por exemplo: D. Sancho I com D. Dulce (1174) e D. Dinis com D. Isabel (1280),
que continuaria mais tarde através de D. Duarte com D. Leonor (1428) e Infante D.
Pedro com D. Isabel (1429)
247
A explicação para esta representação é idêntica àquela dada anteriormente para a
imagem da barca com os dois corvos.
164
Fig. 104: Esta cena aparentemente ilustra o primeiro enterro de S.
Vicente. Se assim for encontra-se deslocada da ordem cronológica
seguida, tanto na frontaleira, como na narrativa do arcebispo de
Lisboa.
248
Obra executada entre 1455-1492, iniciada pelo pintor aragonês Jaume Huguet
(1412-1492), encontra-se presentemente no Museu Nacional de Arte da Catalunha.
165
21. A contribuição do inventário de 1821
249
SALDANHA, Nuno - Op. cit., págs. 157-187
250
Ver Cap.14 A cronologia dos documentos, as referências aos anos de 1690, 1742
e 1767
251
SALDANHA, Nuno, Op. cit., (N.B.: Os numerais são apenas indicativos para
facilidade de exposição)
167
3. …Dois painéis de quatros palmos de largo e outro de alto
molduras douradas, com pintura em tábua da Vida de Santo
Vicente…;
4. …Dois painéis de oito palmos e mais de alto e quatro de largo
com molduras douradas e pintura em tábua da Vida de São
Vicente…;
5. …Dois painéis de quatro palmos de largo e mais de oito de alto
pintados em tábua em que trata de Milagres do Santo acima…;
6. …Dois painéis de cinco palmos de largo e oito de alto
molduras douradas pintados em tábua de um Milagre de São
Vicente Mártir…;
7. …Dois painéis de quase cinco palmos de largo e onze de alto
molduras douradas pintura em tábua que tratam dos Milagres
de São Vicente Mártir…;
8. …Um painel pouco mais pequeno [que o anterior] da mesma
pintura em pau de Milagres do mesmo Santo…
252
Ver o Cap. 14 A cronologia dos documentos.
253
MatrizNet, http://www.matriznet.dgpc.pt
168
No entanto teríamos que admitir um corte nas suas dimensões depois
de 1821, atendendo às suas medidas actuais (91x210 cm). Esta
redução, que aconteceu em época desconhecida, é notória quando as
duas tábuas são colocadas lado a lado e se vê a descontinuidade
existente nos frisos das paredes de fundo. Outro indício destes cortes é
a localização da mão e do pé do santo, da meia tábua, junto aos limites
do quadro.
Fig. 105
254
MatrizNet, http://www.matriznet.dgpc.pt
169
Segundo o descritivo dos itens 7) e 8), as cenas dos três painéis
“tratam dos Milagres de São Vicente Mártir”. Na nossa óptica
devemos interpretar este conceito de “milagre”, que o relator do
inventário utilizou, como significando igualmente “martírio” no
sentido de que ocorre um milagre sempre que alguém sobrevive a um
martírio. Repare-se que aquela relação é omissa relativamente a
qualquer referência aos “Martírios” de S. Vicente, quando estes
faziam parte da sua biografia e estavam presentes nos retábulos que
lhe eram dedicados.
170
Esta aceitação implicaria grandes reduções em cada unidade dos
Painéis, na ordem de 42x35 cm. É importante recordar que os
resultados do estudo laboratorial efectuado em 1994 confirmam que
estes sofreram cortes algures no tempo:
255
VÁRIOS – Nuno Gonçalves, Novos Documentos, Estudo da Pintura Portuguesa
do Século XV, Lisboa, 1994, pág. 62
256
FLOR, Pedro – Op. cit., pág. 187
171
com as tábuas de quatro santos atribuídos à escola de Nuno Gonçalves
(figs. 108 a 111)257 e pertencentes ao Museu Nacional de Arte Antiga:
257
MatrizNet, http://www.matriznet.dgpc.pt
258
Respectivamente (em cm): 89,3x115,5; 80,3x135,8; 84x137; 90,3x117,9. Fonte:
MatrizNet, http://www.matriznet.dgpc.pt.
259
Excluindo o primeiro painel, cuja dimensão está expressa em varas, obtivemos
para os outros as seguintes medidas para o palmo utilizado no inventário: 16,1x17,0;
16,8x17,1 e 17,0x19,7. A vara do primeiro item seria equivalente a 85-90 cm.
172
Fica porém uma interrogação final sobre qual terá sido o destino dado
aos restantes doze quadros com imagens de S. Vicente descritos no
inventário de 1821, de que restaram apenas a tábua e meia dos
Martírios, quando os quatro painéis da série dos Santos, colocados no
mesmo palácio de Marvila e incluídos no mesmo rol de bens,
sobreviveram. Porém o S. Pedro deste conjunto já se encontrava em
Londres quando foi adquirido pelo MNAA, enquanto os outros três
foram incorporados neste museu a partir do Mosteiro de S. Vicente de
Fora, onde se encontravam armazenados.260
260
MatrizNet, http://www.matriznet.dgpc.pt
173
22. A reconstituição do retábulo do altar de S. Vicente
Mais tarde, e sem lhes fazerem a menor limpeza, o que foi talvez a sua
salvação, pois os quadros certamente teriam sabido muito
maltratados d'esta perigosíssima prova, deram-lhes um verniz grosso,
ordinário, côr de alcatrão, e isto feito tão inconscientemente, que, por
baixo d'este verniz, se encontraram grandes pingos de cera, o que é
também prova de os quadros terem tido velas accesas, perto.262
262
FIGUEIREDO, José de – Op. cit., pág. 38 (sublinhado nosso)
177
Fig. 112
178
23. Conclusão
263
A nossa contribuição neste painel, ficou-se apenas pela confirmação da
identificação do Infante Santo e pela revelação do halo de santidade que a sua figura
contém
179
Não sabemos se voltaremos a publicar outro estudo sobre este tema,
apesar de reconhecermos a existência de muitos pormenores e
elementos cujos segredos ainda não foram revelados e que esperam
por uma outra leitura e interpretação.
*****
180
Apêndice I
Doc. 1 (20-7-1450)
Dom Afomso etc. A quantos esta carta virem fazemos saber que nos
querendo fazer graça e mercee a Nuno Gllz, teemos por bem e filhamollo
ora nouamente por nosso pintor e queremos que aja de nos de mantymento
en cada huu anno des primeiro dia de janeiro, que ora foy desta presente
era en diante doze mil reaes brancos em quanto nossa mercee for a rrazom
de mill reaes cada mes, os quaaes dinheiros lhe serom pagos en cada huu
ano em lugar honde delles aja bõo pagamento aos quartees do ano per
nossa carta que lhe en cada huu ano sera dada em a nossa fazenda. E por
ssua guarda e rrenenbrança dello lhe mãdamos dar esta carta synada per
nos e asseellada do nosso seello pendente. Dada em Lixbõa xx dias de julho
– G.º Eanes a fez – ano de nosso Senhor Ihesu Xpo de mill iiiic l.264
Doc. 2 (6-4-1452)
Dom Afomso etc. A quantos esta carta virem fazemos saber que nos
querendo fazer graça e merce a Nuno Goncaluez, nosso pintor, teemos por
bem e queremos que aja de nos, en cada ano, pera ajuda de seu mantimento
des primeiro dia de janeiro que ora foy desta presente era de iiijc lij en
diante, emquanto nossa mercee for, tres mil quatro centos e trinta e dous
reaes brancos, aalem dos dos mill rs que lhe ja tynhamos assentados pera o
dito seu mantymento, os quaees lhe serom todos pagos en cada huu ano no
nosso almazem da cidade de Lixbõa, aos quartees per carta que lhe en cada
huu ano sera dada en a nossa fazenda. Outro si nos praz que aja en cada
huu ano na nossa alfandega da dita cidade des o dito primeiro dia de
janeiro que ora foy en diante huua peça de pano de Bristoll pera sseu vestir,
per carta que lhe isso mesmo sera dada en a dita fazenda en cada huu ano
264
VITERBO, Sousa – Noticia de Alguns Pintores Portuguezes, Lisboa, 1903,
pág.89. (Chancelaria de D. Afonso V)
181
per a dita guissa. E por sua guarda e rrenenbrança dello lhe mandamos dar
esta carta asynada per nos e asseellada do nosso seello pendente. Dada en
Euora bj dias dabrill G.º de Lixbõa a fez ano de nosso Sñr Ihesu Xpo de mill
iiijc lij.265
Doc. 3 (17-7-1454)
Dom Afomso etc. A quantos esta carta virem fazemos saber que nos
querendo fazer graça e merçee a JohanEanes pintor morador em esta nossa
çidade de Lixboa teemos por bem e filhamo llo por nosso pintor pera
quando lhe da nossa parte for rrequerido nos auer de seruyr de sseu ofiçio
em o nosso almazen da dicta çidade. E queremos e mandamos que daqui en
diante elle seia escusado de pagar em nehuns nossos pedidos peitas fintas
nem talhas seruiços enprestidos nem em outros alguus encaregos que por
nos ou por os conçelhos sso meu forem lançados per quallquer guisa que
seia titor nem curador de nehuus orfõos nem haja nehun encarrego nosso
nem dos conçelhos contra ssaa vontade nem seia beesteiro do conto nem
posto em vintena de mar e sse o for que seja logo della tirado nem tenha
cauallo nem armas nem beesta de garrucha posto que tenha a conthia per o
que aja de teer. Outrossi nom poussem com elle em ssaas casas de moradia
nem adegas e cauallariças nem lhe tomem pam vinho rroupa palha lenha
galinhas gaados bestas de ssella nem dalbarda nem outra alguua cousa de
sseu contra ssua vontade nem sirua nem vaa serujr per mar nem per terra a
nehuuas partes que sejam saluo com o nosso corpo ou com jffante meu sobre
todos preçado e amado jrmãao e nom com outra alguua pessoa. E porem
mandamos a todollos nossos carregadores juizes justiças alcaides meirinhos
e ao nosso poussentador moor e ao da rrainha mjnha molher que sobre
todas amo e preço e aos dos jffantes meus jrmãaos e tios e a outros
quaeesquer offiçiaaes e pessoas que lhe compram e guardem e façam bem
comprir e guardar esta nossa carta em todo e per todo segundo em ella he
contheudo sse nom sejam çertos os que contra ella forem que lho
estranharemos grauemente como naquelles que nom conprem mandado de
seu rrey e senhor. Dada em Lixboa xbij dias de Julho,Gonçalo de Moura a
faz ano de nosso Senhor Jhesu Christo de mil iiij Liiij, Ruy Galuam a fez
escrepuer.266
265
Idem
266
FONSECA, António Belard da - O Mistério dos Painéis - Os Pintores, 1963,
pág. 17 (in Chancelaria de D. Afonso V)
182
Doc. 4 (18-3-1463)
…na camra da vereaçam da muy nobre e sempre leall cidade de Lixboa […]
perante elles pareceo Nuno Gomçalvez pintor del Rey nosso Snõr e disse aos
ditos oficiaes e ppores dos mesteres que he verdade que na cidade tem tres
pardieiros em Villa Noua della que som em a rrua da meetade, os qees
partem ao ponente com beco e com casa do dito Nuno Gllz …267
Doc. 5 (20-3-1463)
E que porquanto ho [um quintal] elle queria vender a Nuno Gonçalvez
pintor do dito Sor Rey por preço de …268
Doc. 6 (25-8-1470)
It. E Pagou mais dos ditos dinheiros a Nuno Gllz caualleiro de nossa casa, e
nosso Pymtor, dezaoito mill cemto y trimta rrs. em comprimento dos vymte
tres mill rrs. que de nos auia dauer de feitio, & custos do retabollo que fez
pera nossa capella de simtra.269
Doc. 7 (12-4-1471)
Item. Queremos e mandamos iso mesmo que Joane Anes Pintor nom aja
mais daquy em diante mantimento allguum, salvo Nuno Gonçalves averá o
que lhe he ordenado, e pimte por ele as obras da Cidade.[…]Feito em
Samtarem a doze dias do mês d’Abril. Pedr’Alvarez o fez anno de nosso
Senhor Jesuu Chrispto de mil quatrocentos setenta e huu.270
Doc. 8 (26-6-1492)
…o quall chãao e pardieiros parte com parede de olivall do mosteiro sã
francisco e cõ quintall da cidade que foi de Nuno Gllz pintor…271
267
Idem, pág. 58 (in Livro 1º Aforamentos)
268
Idem, pág. 58 (in Livro 1º Aforamentos)
269
Idem, pág. 58 (in Chancelaria de D. Afonso V)
270
SERRA, José Corrêa da - Colecção de Livros Inéditos de História Portugueza,
Tomo III, Lisboa, 1793, págs. 424-425 (in Livro Vermelho de D. Afonso V)
271
FONSECA, António Belard da – O Mistério dos Painéis - Os Pintores, 1963,
pág. 59 (in Livro 2º Aforamentos)
183
Apêndice II
272
N.B.: os sublinhados são nossos.
273
PEREIRA, Isaías da Rosa - Visitações de Santiago de Óbidos (1434-1481) in
Lusitânia Sacra, nº 8, 1970, pág. 147
274
Idem, págs. 148-149
185
Visitação a Santiago de Óbidos, 14 de Junho de 1458:
“7. Item achey que nom mandaram telhar o alpendere da dita egreja nem
mandaram correger o frontal do coro nem mandaram çarrar a buraca
dapar da pia do baptizar nem mandaram pintar sam Lourenço do Peral nem
Christo, Joham e Maria nem acassellaram a capeella da dita egreja, porem
mando ao prioste que agora for dc sam Joham por avante que rretenha em
ssy mil rreaes da rrenda da dita egreja e faça correger e comprir todas estas
cousas daqui ataa dia de todos os Santos so pena de cem rreaes pera o cepo
de sam Vicente.”275
275
Idem, págs. 151-152
276
Idem, pág. 150
277
Idem, pág. 156
278
Idem, pág. 156
186
jeeralmente em o dicto arçebispado a todollos priores, vigairos e
benefiçiados e capellãaes de cura e thesoureiros que quando quer que
ssouberem que algüus dos dictos clerigos nom rrezam as dietas oras
segundo ssam obrigados que lhes nom conssentam que diguam missa nem
lhes dem o corregimento pera a dizer. E qualquer dos ssobredictos que ho
contrairo fezer que pague por cada vez çem rreaes a meetade pera ssam
Viçente e a meetade pera quem hos acusar.”279
“30. Item conssiirando nós como em todallas igrejas deste arçebispado
ssam postos manposteiros pera pedirem esmollas pera algüus oragoos
rreçebendo as daquellas pessoas que per devaçam lhas dar quiserem ssem
costrangimento algüu e veendo como o corpo e rreliquias do gloriosíssimo
martir ssam Viçente ssam em a igreja matropolitana da muy nobre e senpre
leall çidade de Lixbooa com tanta umildade e rreverença e devaçam que
outras semelhantes se nom acham em Espanha por honrra e louvor de Deus
prinçipalmente e serviço seu e ajuda pollas obras muy grandes que se cada
dia rrecreçem em a capeella do dicto martir, mandamos a todollos priores,
vigairos e benefiçiados e pessoas eclesiasticas a que esto perteeçer que cada
hüu em sua igreja faça hüu manposteiro que peça aos fiees christãaos pera
as dictas obras, e aalem do que elles mereçerem ante Deus por taaes
esmollas fazerem nós lhes outorgamos dos thesouros que a nós outorgua a
ssanta madre Igreja Rta dias de perdam por cada vez que taaes esmollas
fezerem, as quaaes esmollas rreçeberá hüu dos abonados e bõos homëes que
ouver na dicta freeguisia das mãaos dos dictos manposteiros e screpvam
todo o que rrender o prior ou vigairo ou capellam que tever carrego da cura
da dicta igreja e sseram levadas estas esmollas tres vezes no anno aa ssee
da dieta çidade scilicet na oytava de Natall e de Pascoa e per dia de ssam
Joham e entregallos ham ao chantre perante o nosso vigairo e perante dous
scripvãaes quaaes nós pera ello hordenarmos pera todo viir a booa
rrecadaçam e sse despender como deve.”280
279
Idem, pág. 161
280
Idem, págs. 161-162
187
constrangimento alguum. E veendo como o corpo e relíquias do
gloriosíssimo martir ssam Vicente ssam em a Igreja matropolitana da muy
nobre e ssenpre leall cidade de Lixboa com tanta umildade e rreverença e
devaçam que outras semelhantes sse nom acham em Espanha por honrra e
louvor de Deus principalmente e serviço seu e ajuda pollas obras muy
grandes que se cada dia recrecem em a capeella do dicto martir, mandamos
a todollos priores, vigairos e beneficiados e pessoas eclesiásticas a que esto
perteece que cada huum em sua Igreja faça huum manposteiro que peça aos
fiees christãaos pera as dictas obras, e aallem do que elles merecerem ante
Deus por taaes esmollas fazerem nós lhes outorgamos dos thesouros que a
nós outorgua a ssancta Madre Igreja quareenta dias de perdam por cada
vez que taaes esmollas fezerem, as quaaes esmolas receberá huum dos
abonados e bõos homees que ouver na dicta freeguesia das mãaos dos dictos
manposteiros e escreverá todo o que receber o prior ou vigairo ou capellam
que tever carregado da cura da dicta Igreja e sserem levadas estas esmollas
tres vezes no anno aa See da dicta cidade, convém a ssaber na oytava de
Natall e de Pascoa e per dia de ssam Joham, e entregallas ham ao Chantre
perante o nosso vigairo e perante dous scripvãaes quaaes nós pera ello
hordenarmos pera todo viir a boa verdade e sse despender como deve.”281
281
PEREIRA, Isaías da Rosa - Visitações de São Miguel de Torres Vedras (1462-
1524) in Lusitânia Sacra, 2ª série, nº 7, 1995, pág. 202-203
282
PEREIRA, Isaías da Rosa - Visitações de Santiago de Óbidos (1434-1481) in
Lusitânia Sacra, nº 8, 1970, pág. 176
188
“23. [36] Item consirando nós em como todallas igrejas deste arçebispado
sam postos memposteyros pera pidirem esmollas pera algüus oragos
rreçebendo das persoas que per sua devaçam lhas querem dar ssem algüu
coostrangimento e veendo como ho corpo e rreliquias do gloriosimo martir
sam Vicente sam na igreja metropollitana da muy nobre e sempre lial çidade
de Lixboa com tanta solenidade rreverençia e devaçam que outros sse nam
acham semelhante nas Espanhas por honrra e lovor de Deus
prinçipallmente e por serviço e ajuda pollas obras muy grandes que sse
ainda cada dia rrequerem na Capella do dito martir, mandamos a todollos
priores, vigairos e benefiçiados e persoas ecclesiasticas a qual este
pertençer que cada hüu em sua igreja faça hüu momposteiro que peça aos
fiees christãos pera as ditas obras e alem daquelles mereçerem ante Deus
por taaes esmollas fazerem nós lhe outorgamos dos tehesouros que nos
outorga a santa madre Igreja quorenta dias de perdam por cada vez que
taaes esmollas fezerdes as quaaes esmollas rreçeberá hüu dos abonados e
bõos homens que ouver na dita freguesia das mãaos dos ditos momposteyros
e escrepveram todo o que rreçeberem e o prior e vigairo ou capellam que
seu carrego tever e sseram levados os ditos dinheiros das obras piadosas e
escrepvello am e emtregue no presente ho escripvam.”283
“24. [37] Item porque achamos que algüus por nom jejuarem às vesperas de
sam Viçente andavam muito tempo excumungados por nom poderem hir nos
buscar pera asolviçam, e provendo nós a ello cometemos aos priores e curas
das igrejas do nosso arçebispado que possam absolver os que nom
jejuaarem as ditas festas dandolhes por ello as pendenças acustumadas que
sam por cada hüa dous rreaaes pera o dito çepo as quaaes lhe mandamos
em virtude de obediençia e sob penna de excomunhom que rrecadem e as
mandem aos rrecadadores que possermos nas vigairias as quaes tenham
escripvãaes do que rreçeberem pera as causas piadosas pera sseerem
levadas ao dito çepo.”284
283
Idem, págs. 177-178
284
Idem, pág. 178
189
constrangimento, e ueendo como o corpo e relíquias do gloriosíssimo martir
sam Vicente sam na egreja metropolitana da mui nobre e senpre leal cidade
de Lixboa com tanta solenidade e deuaçam que outras semelhantes se nom
acham na Espanha por honrra e louuor de Deus primeiramente e seu
serviço e ainda pollas obras mui grandes que se cada dia recrecem na
capeela do dito martir, mandamos a todolos priores, vigairos e beneficiados
e persoas eclesiásticas a que esto perteecer que cada huum em sua egreja
faça hum mamposteiro que peça aos fiees christãaos pera as dictas obras e
aalem o que elles merecerem ante Deus por taaes esmolas fazerem nós lhes
o utorgamos dos thesouros que nos outorga a Sancta Madre Egreja Rta dias
de perdam por cada uez que taaes esmolas fezerem, as quaes receberá huum
dos abonados e bõos homes que ouuer na dicta freguisia das mãaos dos
dictos mamposteiros e escreuerá todo o que render o prior, vigairo ou
capellam que seu cargo teuer e seram leuadas estas esmolas dia de sam
Joham aos recebedores que ora poemos nas villas dos dinheiros das obras
piedosas e ser-lhe-am entregues perante o scriuam que pera ello
deputamos.”285
285
PEREIRA, Isaías da Rosa – - Visitações de São Miguel de Torres Vedras (1462-
1524) in Lusitânia Sacra, 2ª série, nº 7, 1995, pág. 216
190
que ouverem na dicta freeguisia das mãos dos dictos menposteiros e
escrepverá todo o que rrenderem o prioll, vigairo ou capellam que seu
carrego tever e seram levadas estas esmollas de sam Joham a sam Joham
aos rrecebedores que ora poemos nas villas dos dinheiros e das obras
piedosas e serlhe am emtregues perante ho escripvam que pera ello
deputarmos.”286
“29. Item porquanto achamos que algüus por nam jajunarem as vésperas de
sam Vicente andavam muito tenpo escomungados por nom poderem hir a
nós buscar absoluçam, e querendo nós proveer a ello cometemos aos priores
e curas das igrejas de todo nosso arçebispado que possam absolver os que
nom jajunarem a dieta festa dandoihes por ello as pendenças acustumadas
que sam de cada hüu dous rreaes pera o çepo, os quaaes lhe mandamos em
virtude de obediençia e sob pena dexcomunham que rrecadem e mandem
aos rreçebedores que posermos nas viigayrias os quaaes teeram escripvam
do que rreçeberem pera as cousas piedosas levadas ao dicto çepo.”287
286
PEREIRA, Isaías da Rosa - Visitações de Santiago de Óbidos (1434-1481) in
Lusitânia Sacra, nº 8, 1970, págs. 204-205
287
Idem, pág. 205
288
PEREIRA, Isaías da Rosa - Visitações de São Miguel de Sintra e de Santo André
de Mafra (1466-1523) in Lusitânia Sacra, nº 10, 1978, pág. 163
191
dictos capitollos a qual hé de mil reaes a metade pera o mártir Sam Vicente
e a outra metade pera a sua chancelaria.”289
289
Idem, pág. 225
290
Idem, - pág. 239
192
Apêndice III
291
Carta de Gonçalo Anes, cubiculário do papa, escrita de Bolonha a D. Gomes,
abade do mosteiro de Santa Maria de Florença, in DINIS, António Joaquim Dias -
Monumenta Henricina, Volume VI (1437-1439), págs. 217-219, Coimbra, 1964.
193
seguia o povo) passando contra elles hum Munitorio. A este vieraõ
com embargos; mas naõ sendo recebidos, mandou o dito Ministro
Apostólico com pena de excomunhaõ, ipso facto, e de duzentos
cruzados (ametade para as obras de Saõ Vicente, e outra ametade
para as obras do mesmo Convento de Santa Anna) que o caminho
novamente aberto na forma, em que fora abalizado, se conservasse a
beneficio dos Religiosos….”292
292
SANTA ANNA, Frei Joseph Pereira de – Chronica dos Carmelitas, Tomo II,
Lisboa, 1751, págs. 145-146. Possivelmente estas obras estariam relacionadas com
alguns estragos provocados pelo terramoto de 1531.
194
Blibliografia
196
OLIVEIRA, Eduardo Freire de – Elementos para a História do Município de
Lisboa, Tomo II, Lisboa, Typographia Universal, 1887
OLIVEIRA, Eduardo Freire de – Elementos para a História do Município de
Lisboa, Tomo III, Lisboa, Typographia Universal, 1888
OMEDES, António Garcia - http://www.romanicoaragones.com/3-
Somontano/990399-Liesa8-DPH.htm
PEREIRA, Fernando António Baptista – Istoria e Retrato no Retábulo de S.
Vicente de Nuno Gonçalves, in Arte Teoria, nº12/13, Lisboa, Faculdade
de Belas Artes da Universidade de Lisboa, 2010.
PEREIRA, Isaías da Rosa - Visitações da Igreja de São Miguel de Sintra e
de Santo André de Mafra (1466-1523) in Lusitânia Sacra, nº 10, 1978
PEREIRA, Isaías da Rosa - Visitações da Igreja de São Miguel de Torres
Vedras (1462-1524) in Lusitânia Sacra, 2ª série, nº 7, 1995
PEREIRA, Isaías da Rosa - Visitações de Santiago de Óbidos (1434-1481)
in Lusitânia Sacra, nº 8, 1970
PINA, Rui de - Chronica de El Rei D. Affonso V, Vol II, Lisboa, Escriptorio,
1902
PINA, Rui de - Chronica de El Rei D. Affonso V, Vol III. Lisboa,
Escriptorio, 1902
PINA, Rui de – Crónica de D. Duarte, Renascença Portuguesa, Porto, 1914,
pág. 74
RESENDE, Garcia de – Miscellanea, Évora, Andree de Burgos impressor,
1554.
SALDANHA, Nuno – Transitoriedade e Permanência: a Pintura em S.
Vicente de Fora, in Mosteiro de S. Vicente de Fora, Arte e História,
Centro Cultural do Patriarcado de Lisboa, 2010
SANTA ANNA, Frei Joseph Pereira de – Chronica dos Carmelitas, Tomo II,
Lisboa, Oficina dos Herdeiros de António Pedroso Galrão, 1751
SANTA MARIA, Padre Francisco de - Ceo Aberto na Terra, Livro, Lisboa,
Officina Manoel Lopes Ferreyra, 1697
SANTOS, Reynaldo dos - Nuno Gonçalves, Londres, Phaidon Press, 1955
SÃO JOSÉ, Frei Jerónimo de – História Chronologica da Ordem da SS.
Trindade, Tomo I, Lisboa, Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1789
SÃO JOSÉ, Frei Jerónimo de – História Chronologica da Ordem da SS.
Trindade, Tomo II, Lisboa, Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1794
SARAIVA, José - Os Painéis do Infante Santo, Leiria, Tipografia Central
Limitada, 1925
197
SERRA, José Corrêa da - Colecção de Livros Inéditos de História
Portugueza, Tomo III, Lisboa, Officina da Academia Real das
Sciencias, 1793
SOUSA, António Caetano de - História Genealógica da Casa Real
Portuguesa, Tomo IV, Lisboa, Officina Joseph Antonio da Sylva, 1738
SOUSA, António Caetano de - Provas da História Genealógica da Casa
Real Portuguesa, Tomo II, Lisboa, Regia Officina Sylvania, 1742
STERLING, Charles – Os Painéis de S. Vicente e os seus Enigmas, in João
Couto, In Memoriam, Neogravura, Lisboa, 1971
VÁRIOS - Novo Testamento, tradução de João Ferreira de Almeida, Lisboa,
Depósito das Escrituras Sagradas, 1943
VÁRIOS – Nuno Gonçalves, Novos Documentos, Estudo da Pintura
Portuguesa do Século XV, Lisboa, Instituto Português de Museus, 1994
VÁRIOS - Portugaliae Monumenta Misericordiarum – Antes da Fundação
das Misericórdias, Vol. 2, Lisboa, União das Misericórdias Portuguesas,
2003
VILAS BOAS, Frei Manuel do Cenáculo – Ciudados Literários do Prelado
de Beja, Lisboa, Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1791
VITERBO, Sousa – Noticia de Alguns Pintores Portuguezes, Lisboa,
Typographia da Academia Real das Sciencias, 1903
VOILLET-LE-DUC, E. – Dictionnaire Raisonné du Mobilier Français,
Tome VI, Paris, Librarie Centrale d’Architecture, 1873
ZURARA, Gomes Eanes de, - Crónica do Conde D. Duarte de Meneses, in
SERRA, José Corrêa da, - Colecção de Livros Inéditos de História
Portugueza, Tomo III, Lisboa, Officina da Academia Real das
Sciencias, 1793
198