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WILHELM DILTHEY
Z
A ''COLECÇÃO STVDIVM''
é já constituída pof mais de 50 volumes
publicados,tratando dos mais varia-
dos assuntos, todos de alto interesse.
r
Ver, no fim do presentevolume,a lista
completa das obras já publicadas. A SUA EPOCA
Doutor A. E. BEAU
LEITOR DA FACULDADE DE LETRAS DB COIB[BBA
PREFÁCIO DO
24027\
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manCA DE FILOSOFA
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.EO'REGAnE~'FIL
(il i'jóIAS $UCIA J ) H
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LivKAtiiÃ'ÃcAnÉwicA SeD/FFLCH
SARAIVA & C.A--EDITORES--S. PAULI
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fawtdade de Filosofia
(iÉ)n(:üse Letras
Bibliotea (entrai
PREFÁCIO
i\l\\tWl@$1
\iiiwlw 1tl sobre as ideias do lógico, do metafísico e. do
$11wtixtt
w\il teólogo como sôbre o ponto de partida e,o desi-
derato supremo, nunca claramente confessado,'
da meditação do autor da .ZWotzízdoZogja.
. .
Não é, pois, como repositório deinformações
nem como guia no labirinto das ideias de um
lxapreasa Portuguesa/ R,ua 3'0rnoea. 108 ./ POR'rO V
Comparem-se, superficialmente que sela, as
homem prodigiosamente enciclopédico e genial-
mente inventivo e fecundo que este livro se assi- páginas deste r+ivro 'com quaisquer. outras de
ressal-
nala. Para isso há outros, de ontem e de hoje, e qualquer hístoliador de Leibniz, e. logo \-
sem dúvida de amanhã,porqueainda se nãa tara a originalidade do método .e da concepÇ?o
filosofe-
que as ditou. Em vez da exposição .de
dissipou o véu de dúvidas que.vela o.ser íntimo mas decorrendo abstractamente pelas regiões
de Leibníz e o sentido profundo de algumasdas
suas concepções,1-- nem nunca se dissiparlt, por' intemporais da lógica ou da..metafísica, a. inser-
ventura, mesmo que se leve a cabo a publicação
ção do filósofo na individualidade irredutível da
pessoade Leibniz e na plenitudedo tempo que
integral'. dos, ao parecer inesgotáveis, inéditos~ da ele realmente viveu, em conexão com as demais
biblioteca de Hanover.
manifestações da. cultura coetânea, assim ctcntl-
O que estes livros.disseram é, por vezes, de
íicas, como institucionais, literárias e musicais,
consulta imprescindível, mas como que o. disse-
designadamente Bach e Haendel.
ram quotizada e longitudinalmente, cindindo a Ter visto Leibniz na concreçãoreal do indi-
individualidade do filósofo, de Gula mente o pen'
víduo e do meio que Ihe íoi dado viver, e ter
samento jorrava com pujante vigor e assombrosa
ensinado, nestas páginas como em. todas .que
largueza de vista, e desligando o fundamento
escreveu, que há essencialmente uma só história,
lógico, metafísico ou religioso (coisa .controver-
que é a do homem vivente .na conjuntura do seu
tida), que Ihe estruturou o sistema, do impulso
c(59- tempo, a qual podo especi6car-se num sentido
ssoal, dos estímulos epocais e.do sentido
predominante, como o' cientíâco, o político, o
mÍdo que deram alento e densidade à sua medi-
ÍilosóÊco, o artístico, o social, etc., mas sem
tação.
vll
vl
influência actual, aliás mais subjacente.que.osten-
nunca perder a perspectiva dos demais sentidos siva. A sua obra corre mundo em traduções,nas
que bor igual irrompem da vida e configuram castelhana, suce-
quais sobressaemas de língua B - nana .1An
a época, constitui o mérito deste .livro, .que, dem-se em toda a parte os ensaios e.estudos
coco todos os livros que o são de verdade,
sobre o pensador,e não Ihe falta a glória..dos
brota de dotes pessoais e se nutre de ideias gerais. verdadeiros Mestres --, a continuidade de discí-
Os dotes dão pelo nome de dom de penetra-
ção histórica, isto é, a capacidadede reviver o pulos da estatura de Bernard Groethuysen,que,
dos
,lém do ingente esforço na compilação
passado com a intimidade e introrsão com. que GésammeZÍeScZ71We?z, submeteu à prova uma das
se vive o presente; e as ideias gerais radicam 1lomem
ría do conhecimento histórico. Os dotes concepções diltheyadas, mostrando que o
'chamamos burguês viveu primeiramente
podem ser admirados, mas são intransferíveis
como tudo o que é subjectivamenteindividual,
como emoção,no séculoxvn, o que sc)mais
tarde se haveria de teorizar e exprimir como
mormente quando exprimem, como no caso do ideário e mundividência.
autor deste livro, o raro privilégio de captarefn
Martin Heideggere Nicolai Hartmann não
todas as formas de pensamento e de sensibili-
escondem o que Ihe devem, notadamente.na
dade com imediata pureza; as ideias gerais, com
especi6cidadeda gnoseologia histórica, e todos,
serem do pensador 'que as descobriu.e lhes deu âlósofos e historiadores, o consideram criador,
relevo, tornaram-se, porém, património comum.
Património comum e, mais do que isso, seiva teórico e prático, da «história do espírito», .a
recém-vindadisciplina na qual vieram a conBuir
do nosso tempo, porque Guilherme Dilthey é,
algumas exigências do pensamento âlosófico con-
porventura, o âlósofo de mais profunda e vasta
lx
Vlll
como sucessorde Lotze (i882), onde nos derra-
temporâneo com a maturidade atingida pela his- deiros anos, na cátedra do .dzldiforjHm zaxzmum,
toriografia. sentiu à sua volta o fervor que outrora congre-
Justifica-se: ninguém como Dilthey sondou aara os entusiásticos auditores de Fichte e de
tão ' profundamente' o « mundo-cultural.),. nas
activas raízes psico1(5gicas,epistemológicas e
Hegel tiu a incansável actividade pela histó-
propriamente históricas, de concreção temporal. ria da filosofa e pela da sensibilidade .artística
#
(poética e musical), pela psicologia e pela teoria
do conhecimento-- , ou mais exactamente a sua
investigação de historiador e a sua. reflexão de
âlósofo obedeceram ao objectivo de esclarece-
Este é o mérito supremo do autor deste livro,
rem por vias diversas o mesmo problema.fun-
cujas concepções podem ser seguidas, podem .ser
damental: a compreensãodo mundo da cultura
repelidas, podem ser modificadas ou superadas,
mas não podem ser ignoradas por quem quer
que o homem cria e acrescentaao mundo da
natureza. . ..
que defronte os mesmos problemas que ele Encontrara o tema no legado imenso do idea:
defrontou. Dai a perenidade de Dilthey.
!esmo alemão, mas a sua inteligência admirável
Tipo acabado de universitário germânico,
deu-lhe nova consistência e rasgou-lhenovasvias
de acesso. ! ':
Inerme Dilthey 'consagrou a existência (1833'
;l Hegel situará-seno interior do mundo cul-
-lgll) ao estudo e ao ensino nas Universidades tural, construindo-o dialécticamente ; Dilthey,
de Basileia, Kiel, Breslau e, de novo em Berlim,
xl
X
pensamento incessantemente {n /izr{, que jamais
pelo contrário, obediente ao sentido da posi
se deixou aprisionar por conceitos terminais e
tívidade, ou mais rigorosamente de empina, que
definitivos.
era .o signo da época, e em cuja mente pulsa-
Deixou, assim, uma íilosoâa de inquirição e
vam as experiências da sua existência pessoal
não a desenvoluçãológica de um sistema,isto
e, por genial dom de assimilação, as da .vida
é. uma filosofia que deslinda, 'elaciona e põe a
humana na diversidade da sua fenomenologia
claro mediante á elucidação de problemas .que
espiritual;l quis apreende-lo e. com.pre.endê-lg
irrompem da factualidade e não, como na .Embica,
na multiplicidade cambiante da pró;proa reali-
dade concreta. de Espinosa, para escolher o exemplo mais per-
«A vida vivida pelos homens» foi, com efeito, feito, 'pela resolução de quesitos que aparecem
zidos pela correlaçãode implicaçõesque se
o ponto de partida e o objecto constante da sua
:ncadeiaú a partir de um princípio universal e
meditação.
virtualmente naturante. '
Partir deste ponto é partir do concreto e não
O seu peíâl de pensador e a sua obra de
de um princípio universal e .abstracto; e porque }
Xlll
Xll
E
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lamente metafísica e empolgado pela realidade
Ü:âglHFflili
século xix, mormente. na Alemanha, onde atin-
gira um desenvolvimento gigantesco, o autor da
/nfrodz4ç;ão
ãs ciéncí(zs
do espr fo (1883) e da Zeorü
date em basescientíficas, Dilthey, a investtgaçao
da concepçãodo mundo, procurou saber em que
a natureza das ciências do espírito, êm ordem consistia a consciência histórica e sobre que gno-
à fundamentação
de uma «crítica da razãohis- seologia assentava a compreensão do passado.
tórica )). A «crítica da razão histórica» surgia-lhe, assim,
Perante a existência da explicação óewtoniana,
comia problema característico da consciência filo-
isto é, o saber físico-matemático do mundo natu- sóâca dó nosso tempo e em directa conexão com
ral, e diante da realidadedo.mundo moral,.irre-
na o facto da constituição científica da História.
dutível ao mundo físico, gane in'wstigara É transparente a inâuêncía kantiana -- e quem
Critica da fa ão para as condições que possibili-
pode furtar-se ao génio de Konigsberga?--quer
tam o conhecimento cientíâco e .submeteu à no estabelecimentodeste problema, quer no res-
«-ánw, ';=''Fu«da«..«t« da «-.ta#.ica do' c''-
xv
Xlv
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-.:l .e..!,feição temporal e parcelar da sucessão das
filosoâas ; mas contrariamente a Comte,cuja
concepção do mundo e da vida .se apresentava
xvlll
xlx
como deânitiva e terminal, o seu. pensamento {
histórica , da fenomenolggi4 esWiritual* pelo con- l lidade das expressões a vivência que lhes deu
trário, na gama variada e poliexpressiva das suas ser, ou, por outras palavras, surpreenderna letra
concreções, ensina incomparavelmente mais, e ou no documento cousificado o espírito que o
quando levada a cabo em extensão e profundi- animou.
dade constitui verdadeira azzfog#osõdo espírito. O acontecer histórico-cultural -- nesta expres-
S(5a história nos pode dar, assim,a totali- são se abrangem os produtos ideais e os tangí-
dade da natureza humana, mediante a W.oríologia veis da actividadehumana--e a vida espiritual
do comportamento da consciência e a.diversi- donde ele arranca, possuem como características
dade estriãiitãl:iiã$:êóiiêepçõesJo mundo, mas peculiares, que os separam irredutivelmente dos
o acessoao mundo histórico-cultural não é fácil. objectos físicos, a temporalidade irreversível e a
nem o respectivoconhecimento
se opefalde concreção mais ou menos densa de uma activi-
maneira idêntica ao conhecimento do mundo dade vital, de um sentido ou significação. A ver-
físico. dadeira substância da Hist(ária reside mesmo no
O mundo natural, expZiczz-sê;o mundo his- sentido ou iigniâcação dos acontecimentos;e,
tórico, compfeetzde-se:naquele, a razão explica, consequentemente, o saber histórico-cultural não
e logra alcançar, por vezes, a ciência; neste,
t
é mero saber de objectos, como no mundo da
a razão, que Jamais pode fazer comparecer l natureza, mas um saber que vai da expressãoao
perante o seu tribunal judicatório a totalidade expressado, dos materiais inertes à vida que os
da vida, compreende, porque o..:objectivo do alentou, da letra ao espírito.
seu saber,.quq.nãg.é em rigor, a ciémcia mas a Como é possível ressuscitar a vida pretérita e
óa'menézlf!eg,consiste em'desentrãnhaidã factua- passardos documentos, dos sinais e dos teste-
XXll xxlll
l
+
}
r
munhos, cousiâcadose inertes, para o espírito
. deu ser e para a significação
que Ihe$ ' '''"'''ou
mais apear-se ao ritmo do seu pensamento, sempre
!
menos intencional que encerram líntrinsecamente ? guiado pelo alento que dá vida à concreçãoãas
A resposta de Dilthey não íoi metodológica, concepções e do acontecer humano.'Esclarece.
nem consistiu em dizer como deveser o conhe- rasga horizontes e, sobretudo, ensina a ser
cimento histórico. É essencialmente epistemoló- modesto. Mostra, sem o sorriso desanimadodo
gica, isto é, diz como é possÍue! o compreender histó- céptico, que a âlosofia é uma tentativa que parte
+
rico, e a resposta, original e clarividente, consistiu de dados particulares, pessoais e vividos, para
em mostrar que as coordenadasou categoriasdo conceber e cingir o universal ou para desvendar
conhecimentodo mundo humano são a u/zêhia. o que estálatenteno ser dascoisas,ideaisou
dado originário e fundamental, que não é idên- reais É sempre uma construção pessoal, e s(1)
tico ã intuição, mormente entendida no sentido pessoal, de certo estilo e ritmo mental,--havendo.
bergsoniano, a stg#@cação, a exP estão e a com- como é (5bvío, tantas construções, isto é, formas
preensão.
de conceber o mundo, quantas as maneiras possí-
#
veis de pensar o todo com alguma coerêncialógica
e alguma consistência científica, e tantos proble-
mas quantas as incidências da dúvida ou da inquie-
j. tude. Não há, pois, uma só 61osoâa verdadeira
- ."
A obra de Dilthey é imensa,--não propna- nem uma só concepçãodo mundo, emboratodas
mente na extensão,com ser vastíssima, mas no tenham por denominador comum a ideia de uni-
que desperta e na maneira como incita o leitor a dade mais ou menos sistemática,--e não há por-
xxlv que o mundo como objecto pensávelnão pode
xxv
l
separar-sedo pensamento que o pensa. Quer quei- rável, por enfadonhasa teimosia no jogo bar-
ramos quer não, somos, individualmente, deter- rento da Hist(ária e da Contra-Hist(5ría, ou seja
minações limitadas da natureza humana --donde o desatino das apologias e das diatribes em torno
o ensinamento profundo de que cada pensador de. uns indivíduos que tiveram de viver o seu
apenas encarna uma das várias possibilidades do tempo, qué já não é o nosso.
sentir e do pensar, e Ihe cumpre procurar nas Todos pretendemos uma maneira de historiar
demais maneiras e possibilidades o que Ihe falta que compreenda o acontecido sem o desvitalizar
para corrigir a feição fragmentária da sua existên- nem o desvirtuar, embora diverjamos, mais ou
cia pessoal. menos, no caminho a seguir e nos respectivos
Este é o Valor do pensamentode Dilthey, para fundamentos teóricos.
quem quer que medite e sinta ínquietudes filosó- Solicitam-nos critérios 'diversos e começam
âcas. Para nós Portugüeges,porém, ele possui mesmo a opor-se concepções antagónicas de
ainda outro valor, acentuadamentetópico e actual: c(ROVOS» e de «velhos», ou por outras palavras,
o de arrancar a investigação histórica ao trato de a explicação do acontecer histórico mediante a
alguns barbarismos. redução a determinantes diversas, para uns de
Estou longe de pensarque se façam gravitar índole idealista, para outros, materialista.No
os acontecimentossó em torno do homem, e que fundo, divergência sobre os factorese coincidên-
se abandonem os métodos objectivos, como os cia na estruturalógica, que vem a ser a subordi-
concebeu e praticou Herculano. Há temas e assun- nação do transcurso histórico a um factor que
tos que de algum modo transcendemo homem, não é histórico; porém, nenhum historiador pode
--e que os não houvesse, já se torna intole- alhear-se do grande debate, que põe em jogo a
xxVI xxVll
b
l
concepção
da vida e o rumo da cultura,pelo pensarem os pensamentos com austeridade e auto-
nomia. Trata-se de pensar com índole nativa, e
menos para uma geração. A opção impõe-se,
isenta como todos os actos de sinceridade, mas essahora só soará ao cabo de esforços poríiados
e escrupulosos, sem mistificação nem vassalagem,
creio que a decisão consciente não é possível
sem vozes de milícia nem engodos de suborno;
sem que a razão serena se haja defrontado com
o pensamento
de Dilthey,isto é, com o rumo e enquantoela não soa, há que repensarcom o
suor do nosso rosto os problemas de hoje e de
problemático e temático que imprimiu à teórica
sempreí para que se quebrante a velha balda mili-
da História, compaginando-a,por demais, com
tante, se desentorpeçaa sonolência que nos âcou
os recentesrumos da epistemologiae da onco-
logia. da indigestãopositivistae, acimade tudo, se
alcance a temperatura que esterilize à nascença os
Sei de sobra que se faz só caricaturaquando
se adapta o espírito nativo a estruturas e ritmos germes da simulação pedantescae da ignorância
atrevida.
intelectuais forasteiros ou se transplantam siste-
Coisas difíceis e delicadamente frágeis, com
mas de ideias nascidos noutro clima--e que o
não soubesse pela razão que . discorre sabe-lo-ia cuidadosde todas as horas, como tudo o que é
pela intuição do sentimentoterrantês.O que pessoal;mas não haja dúvida que seforem ampa-
importa é o filosofar e não a adopçãode uma radas com ascesee dignidade, longe.da vileza da
simulação e sem o desvio pelotiqueiro da diâcul-
filosofia, ou por outras palavras que se não con-
tinue a viver sob a sensaçãode desterrode um dadeintrínseca dos problemas para a obscuridade
rebuscadadas palavras, tempos virão a Portugal
quimérico reino da inteligência, por se haver
empreendido a difícil e arriscada tentativa de se em que os íilosofemasque.dormitam no âmago
xxVlll XXlx
T' ':1
Nota do Tradutor
seu passado e as suas tarefas actuais (i). .d major .par/f Senhor P?af. Dr. Luas Cabrasde Marcada pela grütde
do .prime/ o caP/f Zo A ciência europeia do século.xvn amabilidadee o muito trabalho que teve ebt arcar com
e os seus órgãos, f o.ç dais es/a /ei (A nova cultura a, revisão escrupulasü e dedicadccdüs pro'uas, e ao Senhor
moderna, e As últimas grandes criações da religiosidade Prof. Dr. lyociqlLim de Car'uaLlto que lnttito nos obsequiott
ç)xaXegçnnkeà
tinham lfücd,o inéditos, formtündo l)arte dum. apadrinhatüo o liurànho cobt o Pref(leio que Í)arü ete
Livro comPle9co qzce Ditthey empreendera escoe'uer sobre ü esc7eDe' .
História do génio atemlão, cuja lmbticaçãa, l)orém, acüboa
por stLsPender.
A composição do estudo sobre Leibniz e CL suü él)oca,
e a sucoredacção delinitiucc de'oem-seaos chia(üos de Paul A. E. B
Ritter, amaltueltse de Diltlwy qtce as supêrintevldetc e
a,'>'ro'uQ'ü.
xxxll xxxlll
Inclice
l
PÁa. l
Prefácio V l
Nota do Tradutor xxXI
A ciência nâ Europa do século XVll e os seus órgãos l l
1. As âlosofias dos povos antigos l
2.. As nações germânicas e românicas. Da Idade-Média
até aos tempos modernos. As ciências matemá t
ricas. O direito natural. Os sistemasfilosóficos. 7 l
3.' Associações cientíâcas. As Academias modernas. 19
4. Humanismo alemão. As sociedades dos filósofos
alemães da natureza. Galileu .e Descartcs na
Alemanha. Skytte e Becher 26
Leibniz e a fundação da Academia de Berlim. 35
1 1. Leibniz:A personalidade
e o pensamento.
A tra-
l gédia da sua vida ®
\ 2. Leibniz: O organizador. Mogúncia, Paras,Hano-
ver. A Academia de Berlim. Final 47
A nova cultura profana @
61
1. Condiçõespolíticase sociais
2. O Homem novo. 67
3. Literaturae Poesia.Martin Opitz, a lírica de Fle-.
ming. Gryphius . 73
4 O romanceartístico. SímpZiclssímus . 82
5 O drama: Gryphius. A ópera 87
6 A nova ideologia: Leibniz. A 7'eodlcea.Teologia
7.
nova e antiga
A filosofia de Leibniz: fontes, metodologia,cons-
®
trução do mundo 107
As últimas grandes criações da religiosidade pro
testante ®
117
1. 0 pietismo
2. A cançãoreligiosa 120
3. A grande música sacra 125
Índice onomástico dos contemporâneosde Leibniz 129
'q
2
LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA LEIBNIZ E A SUA BROCA 3
dou, impondo:lhe ao mesmo tempo determinados experiência alguma. Os dois mais importantes e com-
limites. preensivos destes conceitos estavam, porém, destinados
Outro íoi o mundo de conceitosque surgiu quando a solucionar o problema religioso, reunindo num pen'
o povo romano adoptou a cultura grega Neste,domi- lamentoúnico a infinita perfeiçãodivina e o mundo
nava agora a vontade jurídica e militar. O romano viveu
+
como é sabido, no mais completo estagnamentointe- meiro, em demonstraçõeslógicas, para depois se libertar
lectual. Como um membro morto, este mundo grego, delas; e como ela surgia das profundidadesda expe-
outrora tão poderoso no espírito, separou-se do corpo riência religiosa, todas as justificações lógicas acabaram
vivo da cultura ocidental. Sobre as ruínas do Império )
forçosamentepor se sumir nas emoçõesda alma solitária.
romano-ocidental, porém, os reis, à frente dos povos li Perante estas, todas as relações de .domínio da Igreja
germânicos, começaram a criar novas formações polí- como todas as conclusões dos grandes mestres da âlo-
ticas, misturando-se vencedores e vencidos. Assim se sofia acabaram por perder o seu valor, na medida em que
formou a cristandadeocidental,produto da cultura das pertencemao mundo natural. Acaba aqui o domínio da
nações germânicas e românicas. A oposição ao mundo religião doutrinária medieval e começao da «liberdade
maometano, em que se encontraram durante a Idade- cristã».
-Média, fez ainda revigorar mais nelas a consciência A partir do século xiv, a longa Idade-Média dos
da sua solidariedade. povos modernosvai-se aproximandodo seu fãm.Na
Estes povos achavam-se,çom efeito, unidos pela labuta do pensamento, o indivíduo alcançara enfim a
mesmafé, a mesmalgrda e a mesmametafísicareligiosa. sua liberdade. Simultâneamente, porém, realizaram:se
Nesta metafísica se fundiram todas as grandes concepções nesse momento modificações decisivas na vida econó-
da vida .das nações que formaram a cultura mediterrânea. mica e na organização
social da Europa,que,por sua
A visão grega do Cosmos, a ideia romana de domínio vez, tiveram como consequênciaum completodesvio
e o supranaturalismodas religiões orientais encontra- dos interessesespirituais. O trabalho das classesbur-
ram-se assim entrelaçadosformando a trama subtil guesas na indústria .e no comércio afirmou-se como
desta âlosofia teológica do Cristianismo medieval, como .verdadeira potência autónoma no meio das organiza-
os três motivos duma composiçãopolifónica.Deusé ções da Vida feudal e eclesiástica. Esta potência impôs
considerado ao mesmo tempo a razão perfeita, o Senhor ao espírito uma orientação diferente. O pensamento
mais poderoso e, na sua santidade e subranaturalidade, penetrou a natureza e o homem. Sentiram:ge e reco-
o objecto duma devoção submissa. Abaixo da divindade, nheceram-se então o sentido da realidade e o valor'
está o mundo com o seu reino de substâncias materiais autónomo da família. do trabalho e do Estado.
e outro de substânciasespirituais. A história é a reali- A primeira obra do espírito novo era a organização
zação do domínio de Deus na comunidade destas subs- das cidades e dos grandes Estados nacionais. Em Flo-
tâncias espirituais. O supremo ideal de vida está na rença, em Veneza, como na Franca de Richelieu, a
renúncia ao mundo. Subtraindo-se aos laços que a razão de Estado tornou-se o tema central de todas as
prendem ao mundo, a pessoa humana consegue a força' acçõespolíticas. Esta transformaçãopolítica foi. acom-
necessáriapara ajudar a realizar aquele domínio de Deus. panhadapor uma literatura política e moral que não
A nova. metafísica religiosa começa por se basear, pri- só diminuiu a influência dos motivos religiosos nas
10 LEIBN]Z E A SUA ÉPOCA LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA 11
acçõesdos indivíduos e dos Estados,como veio abrir ciência sucumbiram. Surgiu então, vindo de baixo, o
a porta para uma nova concepçãoprofana da vida. movimento popular da Reforma.Lutero e Zwínglio, as
E o maior representantedesta nova orientaçãofoi, duas personalidades germânicas mais poderosas do
como se sabe. Machiavelli. século xvr,'viram em toda a disciplina hierárquica um
mecanismo demoníaco vedando à alma o acesso livre
Uma outra realizaçãodestestrês séculose meio
pode ver-se ainda, se se quiser, na compreensãodestas ao seu Deus. Quebraram estas barreiras e remontaram
realidades profanas pela arte renascentista. Em regra, ao direito indelével. do homem de, por suas próprias
é,.como se sabe, na visão plásticados artistasque a forças, discutir o conjunto invisível das coisas de que
essência duma nova época começa sempre a aârmar-se. faz parte. Nisto, ambos voltavam a aproximar-se do Cris-
Assim,a nova compreensão
da vida, do homeme da tianismo primitivo. Mas inspiraramulhe também um san-
natureza, e a afirmação dos valores da vida terrestre
gue novo no modo optimista com que afirmarama
manifestam-setambém naquela mesma época com um vida, a família, a profissão e o Estado. Caem, por outro
poder sem igual em numerosascriaçõesartísticas que lado, as barreiras que separavam a comunidade cristã, o
até aos nossosdias estão aí ainda a dizer-noso que é povo e a língua popular, da ciência progressiva. A relação
a realidade. viva destas forças, que assim nasceu, constitui o ponto
Finalmente, a última das modificações foi a que se de partida para toda a evolução ulterior das naçõesger-
mânicas.
realizou no seio da religião cristã e da Igreja. Esta
começou por impor-se à aristocracia eclesiástica, ao alto Nesta mesma luta surgida com a Reforma, porém,
clero e aos dirigentesdas Universidades.Surgira um aquelas mesmas tendências mais liberais de que falá-
conceito universal. da divindade e da revelação. Com [nos, foram expulsas da Igreja católica; as novas
a generosidade própria da Renascença, este. teísmo colectividadesviram-se também obrigadas a defender-se
universal tolerou todas as forças históricas e todas por detrás de sólidas formas dogmáticas e eclesiásticas;
as formas de Deus, filosóficas e religiosas. Era a mais de ambos os lados se intensiãcaram os mais extremos
alta forma a que a metafísica religiosa conseguira até exclusivismos.E assim, todos os valores espirituais
então chegar..Daí que se passassetambém a tomar uma adquiridos desde a Renascençapareceram de novo em
atitude crítica perante os dogmas eclesiásticos originados perigo de se perderem no começo do século xvn, com os
em concepções mais estreitas. Erasmo marca aqui o conflitos religiosos que rebentaram.em todas as grandes
auge brilhante desta crítica teológica. E como não devia nações. Um dilúvio de ódios e guerras religiosas, de
esta aristocracia eclesiástica opor ao Papado o seu direito sangrentas perseguições e ferozes dogmatismos, invadiu
autónomo e o valor das lgrqjas nacionais? lias esta a Europa.
mesma
deu origema um conflitocomo Papado,
no Foi uma daê maiores crises na história dos povos
qual tantos dignitários da Igreja como os dirigentes da modernos.E a única força que a venceu e que tornou
12 l,EIBNIZ E A SUA ÉPOCA LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA 13
possívelo progressodo espíritoeuropeu,foi, afinalde ainda mais vigoroso na compreensão da natureza. Nas
contas, apenas a da ciência e do pensamento filosófico. cidades livres. industriais e comerciais dos povos moder-
A cultura dos povos mediterrâneos também tinha L nos deu-se uma união mais íntima entre o trabalho físico
alcançado outrora, a partir da época de Alexandre, a e o espíritoinventivo, entre o útil e o pensamentocien-
fase em que as ciências empíricas .se desligaram da tífico, do que fora possível sob o domínio da escravatura
especulação,proclamando a sua autonomia. Os merce- ;i
entre os gregos e romanos. Estas naçõesmodernas, de
nários, a arte da guerra e dos cercas, a técnica financeira f índole inteiramente diferente, não se deixaram conter
pelas barreiras formais do pensamento grego. As expe-
e administrativa de monarquias em formação, as grandes
cidades e a sua indústria, as cortes faustosas e as suas }' riências acabaram finalmente por tomar a posição que
luxuosas necessidades científicas--todos estes elementos lhes cabia. Começou aí a verdadeira análise da natureza.
.influenciaram naquela época o desenvolvimento autó- Entre todos os progressos do géni.ohumano, o mais
nomo das ciências empíricas e o seu aproveitamento pela difícil e porventura o maior foi o realizado, nestas novas
vida. da mesmaforma como aconteceuno séculoxvn. condições, pelo século de Kepler, Galileu, Descartese
Na cultura helénica, tanto como na Inglaterra, Franca e Leibniz. O génio humano compreendeuenfim a sua
Alemanha do século xvn, com efeito, por toda a parte L autonomia. O progresso que, partindo do mundo ima-
os recursos de príncipes poderososlevaram à fundação ginário dos magos, profetas e sacerdotes passou depois
de associações e instituições .científicas em larga escala. através do arco dourado da fantasia artística, levou enfim
Todavia só agora foi atingido o alvo que aos antigos os homens à terra da verdade. Os povos antigos tinham
não foi permitidoatingir:--o domínioda naturezae a feito repetidastentativaspara o iniciar. Mas só agora,
direcção da sociedade por meio das ciências apostadas nesta fase de colaboração dos povos modernos, é que a
no estudo da lei que rege todo o universo. dinâmica de Galileu conseguiu servir de fundamento
i' Há como que uma continuidadeno desenvolvimento a uma verdadeira inteligência da natureza, ao mesmo
da cultura intelectual, segundo a qual todo o grau, uma l tempo que as aplicações e consequências que daí resul-
{rcz alcançado, impõe sempre ulteriores progressos. Assim, l taram não tardaramem se produzir em todos os sen-
por exemplo, ao renascimento da linguagem formal e tidos, como o processode cristalização
dum líquido
artística dos antigos e das suas ideias filosóficas. segue-se em movimento. Em todas as disciplinas, os rigorosos
a restauração das suas ciências empíricas. O estudo da processoscontidos no método de Galileu passarama
astronomia e mecânica,das ciê.nciasdescritivas,da teo-. impor-se em todas as criações científicas do homem.
ria do Direito e do Estado.foi retomado e continuadoa Estes métodos consistiaill> na união entre o pensament(i
l
partir dos mesmospontos até onde a antiguidadetinha matemático, a observação ..e a experiência. As possibi-
já progredido. Mas as naçõesque ingressaram agora no lidades que residiam no pensamentomatemático foram
património do mundo antigo, mostraram um realismo sujeitas à prova dos factos. Assim, Galileu pôde exami-
LEIBNIZ E A SUA ÉpoCA 15
14 LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA
nar nos factos e mediante a experiência as possibilidades leis que regem todo o mundo real. Não é assimpara
do aumento contínuo de velocidade no movimento. Por estranhar.
que o homemno princípiodo séculoxvn
nos apareçaanimado pela ideia dun) progressoda espécie
um processo semelhante, Kepler pôde deduzir as suas
humana. O sentimento duma instabilidade dos actos
leis dos dados que Ihe proporcionaram as observações
humanos, que inicialmente parece dar-se..em todos os
de Tycho Brahé. A partir de então, o método que orígi:
indivíduos, períodos e povos, o sentimento do ciclo
nou todos os progressosdo pensamento
humano na fatal do nascer, crescer e declinar de indivíduos e
Hisica e na astronomia, consistiu na subordinação da
povos,era o que inspiravatodaa poesiae todoo
experiência ao controlo de critérios quantitativos.Tor-
pensamento do mundo antigo; no auge da cultura
nou-se possível aos investigadores colaborarem em boa
harmonia na penetraçãodos segredosda natureza,visto grega, nas cidades repletas de templos, estátuas e
todos trabalharem sobre a mesma base das suas visuali- música dos coros, o homem nunca soube vendei' este
sentimento trágico da inconstância e desorientação d&
zações mecânicas e segundo os mesmos métodos. Este
labor comum dos investigadores nos diferentes países
sua própria vida. Pelo contrário,agora, nos princípios
t resultou num progresso constante e regular dos nossos do séculoxvm, um.novo fito surgeno progresso
da
conhecimentos da natureza. {:A razão humana actuou,' humanidade em direcção ao bem supremo do mundo.
por assim dizer, como força homogénea nas diferentes.
que está situado não já nas inspirações proféticas, mis-
l naçõescivilizadas. Servia-se da inteligência para subme- sões divinas ou visões poéticas,mas sim na força da
ter a realidade, e, progredindo constantemente, satisfeita própria inteligência. Eia como uma nova religião que
despontava.
com os seus êxitos, de conhecimento em conhecimento,.
Com efeito, dominam o novo século as ciências
pareceu acabar por ter definido o verdadeiro fim da.
naturais e as suas aplicações à vida. O horizonte
humanidade: a autonomia do pensamento,a domina-
humano ampliou-se extraordinàriamente.O nosso sis-
ção do planeta pelo homem que o habita, por meich
tema solar passos a ser apenas um dos inumeráveis
da ciência, da solidariedade de todos que colaboram
sistemas que constituem o universo. O universo físico
nela para alcançar esse fim, num progresso contínuo,
ininterrupto, constante, em direcção ao bem supremo tornou-se homogéneo por toda a parte, quantitativa-
do mundo.' mente invariável, e em todos os pontos do espaço
dominado pelas mesmas leis. As qualidades sensíveis
Com isto o sentimento da própria vida da humani-
dade atingiu um grau superior. Pouco a pouco, surgiu que se dão nos corpos, como a luz e a cor, a tempe-
a consciência de que a razão 'humana é una, podendo ratura e o som, são. meros fenómenos produzidos nos
realizar a sua obra com a cooperação dos investi- nossos -órgãos sensitivos ; na realidade, outras diferen-
ças não. há neste mundo físico. senão as da extensão.
gadoresde todos os países e atingir assim, um dia, o
domínio da terra pelo.:conhecimento progressivo das configuração, densidade, imobilidade e movimento, e
LEIBNIZ E A SUA BROCA LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA
posição dos corpos Por isso, a inteligência das leis cura afinnar-seno conflito dos interesses.Semdúvida,
dinâmicas rasga perante o século. a perspectiva de se os imateriaispara uma teoria das emoçõesencontravam-se
conseguir esclarecer toda a espécie de modificação no já nos autores clássicos. Porém, só agora com ele se
mundo físico. Os processosfísicos formam um todo elabora uma teoria científica. Hobbes e Spinoza foram
homogéneo que gradualmente se vai tornando aces- os primeiros a tentar demonsti'ar as leis que regem
sível ao cálculo e à medição,à observação
e à expe- as emoções. Combateram a ascese cristã com uma
riência. Com a inteligência da verdadeira estrutura do energiaque nada ficaria a dever a Feuerbachou
sistema solar fica aberto o caminho para as teorias que Nietzsche; condenaram a humildade, a piedade e o
o explicam. As concepções fundamentais da mecânica arrependimento como diminuições da força humana;
vão-se tornando aptas para a compreensão dos fenó' viram na vontade de domínio do indivíduo a suprema
menos acústicos e ópticos, assim como dos processos perfeição do humano. E as suas fórmulas não pas-
da circulação do sangue e das sensaçõesno corpo saram afinal de uma expressão mais dura daquele
animal. Tais progressos da ciência dão igualmente ori- culto da força e da natureza que inspirava as maiores
gem a um poder sempre crescente do homem sobre a inteligências da época.
natureza,pois a inteligênciadas leis que regulamos Assim nasceu no direito natural a tendênciapara a
movimentos do mundo físico, permite também pro- protecção dos interessesda vontade individual Daí que
duzir, impedir, ou, pelo menos, prever os seus efeitos. a ordem jurídica e política das sociedades devesse com-
A outra tarefa, porém, que a ciência do século a si preender-se como um meio racional de asseguram' a pazda
mesmase tinha imposto,não a conseguiuela ainda sociedade e o poder soberano do Estado, mantendo ao
realizar desta vez, pelo menos definitivamente, nesta mesmo tempo tantas liberdades individuais quanto este
primeira fase dos seus conhecimentos experimentais. objectivo permitisse. Decerto, um impulso de máxima
Empreendeu também deduzir, como é sabido, dos prin- importância histórica residia nestas doutrinas do direito
cípios da razão uma organizaçãoracional do Direito e natural assim construídas. Mas desprovidas, como eram,
do Estado. A concepçãojunaturalista que se decidira a do senso histórico, ignorantes das engrenagens econó-
esta tarefa, alcançara também, indiscutivelmente, extraor- micas e sociais entre os indivíduos e as ordensjurídicas
dinários progressosno seu início. Também aqui o pen- e políticas, não reconhecendo. as diferenças naturais
samento procurara remontar para além da forma e da entre as nações,estas doutrinas só foram úteis como
estrutura, pretendendo compreender as forças que geram arma ou instrumento pal'a destruir as grandes insti-
a ordem jurídica das sociedades.Essas forças eram as tuições do passado.Auxilaram a formaçãodas grandes
emoçõesdos indivíduos, os seus instintos e paixões. monarquias e a afirmação do poder central do Estado,
Com efeito, segundoo sentir geral da época,todo o preparando ao mesmo tempo o Estado de Direito como
pensamento está apenas ao serviço da vontade que pro- ideal humanitário do século xvni. A sua função foi,
18 LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA
foram-se também logo criando, com a filologia, os tado dos processos físicos. Esta concepção continha igual-
meios e instrumentos da crítica histórica que deviam !
mente dificuldades que impunham uma transformação.
tornar possíveluma nova fase das ciênciasmorais.
E embora depois da destruição da metaHisicateoló-
gica pela ciência poderosossistemasâlosóíicosvol-
t Partindo do mesmo problema, Spinozadeu depois ao
panteísmo antigo uma forma nova : todos os processos
espirituais correspondem a processos físicos, e a exten-
tassem a surgir, estes não deixaram de procurar são e o pensamsntosão apenasas qualidadesfunda-
o seu fundamento científico numa inteligência da ordem mentais da mesma substância divina. O último destes
mecânica do universo. E por íim, o último e maior meta- grandespensadores-- sem dúvida, ao lado de Descartes
físico do século, Leibniz, imprimiu-lhes, atravésdo Ilu- o mais engenhoso -- solucionou o mesmo problema
minismo, um como que novo objectivo de alcanceuni- com o conceito inteiramente novo do puro fenome-
versal. com o conceito da solidariedadee do progresso nismo de todo o mundo físico. Para Descartes,o uni-
da espécie humana. verso compunha-se de duas classes de substâncias;
A velha ideia dos princípios vitais da natureza para Spinoza,constituía-ouma única substânciade
e as concepções duma harmonia universal, que a dupla face. Hobbes consideravaos factos espirituais
cultura antiga desenvolvera,
tinham desaparecidodo produto do mundo físico. Finalmente, Leibníz acabou
horizonte da. inteligência científica e tinham continuado por abraçar a última das grandes possibilidades,vendo
a viver apenas nas baixas regiões duma cultura atrasada. em todo este conjunto físico um fenómenobaseadoem
O objecto dos filósofos era o próprio universo. O valor unidades vitais, psíquicas e inextensas. E assim, a
autónomo das duas diferentespartes, em vez do íntimo metafísica, este fantasma de mil formas, refugiado nos
relacionamentode todos os fenómenoscomo o pnn' f. confins da imaginação sentimental e da ciência uni-
cipal dos problemas a cuja solução se aspirava, pusera'o versal, chegavaoutra vez a conquistar um âmbito ilimi-
também a ciência empírica; o seu objecto era a própria tado de possibilidades.
ordem do universo. .Mas se o universo físico é um meca-
nismo fechado,no qual não podem ter lugar diminui-
t
3
l ções nem aumentos quantitativos ou dinâmicos, qual
E
então a relação entre estes e os factos espirituais?
l Descartes afirmara o antigo idealismo da liberdade, Em todos os tempos,da história-da cultura humana,
l
e mantivera
a substância
espiritual
independente,
cuja de que sabemos alguma coisa, deparamos com comuni-
acção livre estava relacionada com a acção dinâmica da dades de homens colaborando no trabalho científico.
matéria,-- opinião esta que implicava dificuldades inso- A mais antiga das ciências, a astronomia, não podia
T
l
20 LE[BNIZ ]] .{ SU.\ ÉPOCA [.EIBNÍZ -]] A SUA ÉPOCA 21
passar sem essacolaboração. Os claros do oriente tinham tempos da Renascençaacontecera com os humanistas
constituído, como se sabe, associações que tornavam pos' e artistas. As línguas latina e francesa proporcionaram
cível o trabalho comum. Nestas associaçõescultivou-se um mais fácil entendimento mútuo e tornaram-se o ins-
l trumento duma literatura científica universal.'Já em
a matemática, e nos observatórios egípcios e babilónicos,
estes claros estudaram a astrononüa. Entre os pitagó- meados do século xvn, Paria era o centro dos pensado-
ricos o trabalho em cotnum no estudo dos problemas
da matemática, astronomia e especulaçãocontinuou
Y l
res e cientistas. Ali foi que Gassendi, Mersénne e Hobbes
trocaram as suas primeiras ideias e que Descartes,
o orgulhoso ermitão, ingressou também no grupo.
ainda. A Academia fundada por Platão inclinava-se
A estadia de Hobbes ein Paria, bem como a de Leibniz,
principalmente para estas mesmas ciências, e foi ela a
primeira a tornar-se independentede todas os pressu' âzeramépoca nas suas vidas, tendo sido aí que ambos
postos religiosos e práticosÍ dela também é que deriva se voltaram para as ciências matemáticas.Àlais tarde
Londres foi outro centro. As Universidades ficaram à
a designação de academia. Mais tarde, a Renascença,
começou por instituir também na ltália numerosas margem, vivendo na tradição da sua cultura aristatélico-
associaçõesde eruditos, a mais famosa das quais foi a -escolástica, sob a coacção corporativa dos seus estatutos
A.cademia platónica de Florença, seguindo-se fundações e sob o dotnínio quer dos jesuítas quer das organizações
l
semelhantes em outros países. das Igrejas protestantes O facto de Galileu p.oderviver
Estas sociedades antigas. desaparecem'amtodas, porém. entregue às suas grandes descobertas,como professor
A.s tarefas que se impuseram relacionaram-se sempre universitárioem Pisa, sob a protecçãodos Médias, e
ou caiu certas comunidades religiosas, ou com os. inte- depois em Pádua, sob a da república de Veneza, cons-
resses de uma determinada metafísica, ou ainda com titui uma excepção,
certos fins passageirosao serviço duma cidade ou dum O extenso movimento das ciências naturais devia
l fa2ier nascer a necessidade de organizar e garantir
pais
SÓ o século xvn criou as condições para as acade- J
Ç
a cooperação em benefício do progresso científico.
mias morte!'nas. Este século, com a sua compreensão A cooperação de muitas pessoas para os mesmos fins
mecânica;
da natureza,
foi o primeiroa produzir
uma é sempreo impulso que leva a instituir uma organi-
ciência de valor univel'sal, baseada nas proposições da zação externa que depois imprime a essa cooperação
matemática,e capazde ser explorada para fins técnicos, ul-na particular forma jurídica. Assim aconteceutam-
garantindo o progresso contínuo da cultura. bém aqui. Os cientistas desdaram participar uns aos
outros as suas descobertas e invenções. Muitas vezes
As poucas pessoas que dedicaram a sua vida a esta
nova ciência estavam em ligaçãoumas com as outras, pretendia-se também assegurar, através de tais comuni-
para além de todos os limites idiomáticas e nacionais. cações,o direito de prioridade; pois em épocasem que
Constituíram uma nova aristocracia, como outrora nos por toda a parte se tiravam consequências dos mesmos
22 LEIBXIZ E A SUA EPOOA
1! LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA 23
quias à frente, .se sentirem intimamente solidários com Desta forma nasceu, em primeiro lugar, a ,Rapa/
estes homens, e de lhes oferecerem um apoio que faltou Sac/e/Ude Londres. Esta nasceu duma associaçãopar-
aos herpesda Idade-Média. Decerto,não foi o mero 4
ticular de cientistas, que se formara cerca de i645,
desejo.do brilho literário o único motivo desteapoio. +'
tes ciências naturais ofereciam-lhes o instrumento mais r rais e matemáticasquando Leibniz começoua elaborar
eficiente. O Estado moderno e a ciência moderna sen- projectos idênticos. Os seus primeiros planos foram
tiram-se solidários, e as Academias foram naturalmente L
esboçadosno mesmo decénio em que Carlos 1l e Col-
os órgãos por .intermédio dos quais esta aliança se aüirü bert instituíram, respectivamente, a .Rapa/ Sacz2'/7 e a
maça e actuava. Nisto reside o significado histórico Acadéutie ,(ies Sciences.
destas instituições no século que se estende da Paz da
Vestefália até à ascensão de Frederico-o-Grande ao trono.
e qüe Voltaire foi o primeiro a reconhecere a descre-
ver Ba seu Siêcte de l,Quis XiV.
27
26 LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA LBIBNIZ E A SUA ÉPOCA
até ser que, muitas vezes, se relacionassem directa- moral, o profundo sentimento de uma Criação,expres-
mente: com essas confrarias precursoras. Estavam espa- são em todas as suas partes da vontadedivina, ani-
lhadas por toda a Alemanha e mantinham múltiplas )
mada por esta, e de que o Homem tudo conseguiria
relações com as numerosas Academias que a Renas- ]
abismando-se no seu universo e cumprindo religiosa-
Ê cença produzira na ]tá]ia. Por outro lado, as suas rela- mente os seus deveres profanos: poder e sapiência,
felicidade e virtude, inteligência de Deus e beatitude
ções estenderam-seaté aos Países-Baixos e à Ingla-
terra. Os seus sócios encontravam-se nos mais diver- divina. . As especulações filosófico-naturais e teosóficas
sos ambientes e âliavam-se aparentemente nas mais fundiam-êe numa 'actividade optimista, numa orgulhosa
diversas confissões. Mas, obrigados a ocultar cuidadosa- consciência nacional e num infinito amor dos homens.
mente as suas tendências extremas perante a vigilância resultando assim numa vitalidade em que se sentiam
dos poderes oficiais, âzeram salientar por toda a parte muito superiores às estreitezas e brutalidades do mundo
nas suas aspirações a ideia da tolerância religiosa. Isto que as rodeava, alimentando a esperançade um futuro
atraía para elas a multidão cada vez maior de todos melhor. Entre as tarefas especiais de que se incumbiram,
aquelesque tiveram de sofrer pela sua íé. O rumo triste pra'alecia para algumas o culto da língua e literatura
e repleto de culpas que a história eclesiásticada Alema- alemãs--aspirações estas que em toda a parte eram
nha tomara, explica o facto de se tratar, na maioria dos próprias do humanismo. Outras dedicaram-secom mais
casos, de correligionários da doutrina reformada. Assim intensidade à matemática, física e técnica, como as afa-
se explica a franca superioridade do elementoreformado madas sociedades alquimistas muito em voga nomea-
que frequentementese verifica nas listas reconstituíveis damente nas grandes cidades imperiais e intimamente
dos sócios, até mesmo entre os dirigentes. Com os pri- relacionadas com as artes industriais que nelas se esta-
l meiros acontecimentos da Guerra dos Trinta Anos. os belecem'am. Contaram, entre os seus sócios, pessoas
H
emigrantes da Boémia, Morávia e Silécia tornaram-se muito respeitáveis, não obstante o inevitável contin-
outro elemento característico destas sociedades. A maior gente dos impostores e ludibriados. Na sua juventude,
entre elas, o Ea/móazz (Palmeira), dispunha, além disso, Leibniz serviu de secretário de uma destas sociedades
.Ç
desde os primeiros dias da sua existência, de certasrela- alquimistas, que funcionava em Nuremberga, e da qual
ções com a dinastia reformada dos Hohenzollern. dois sócios acabarammais tarde por ser recebidosna
Os nomes da aristocraciabrandeburguesatêm repre- Academiade Berlim.Pondoas suasesperanças
no
sentação particularmente. extensa nas suas listas, e futuro. todos esses homens canalizarem o seu interesse
ainda em 1644 o Grande Eleitor se aliou nela. Daí para os problemas dos objectivos e métodosda educação
que ela não admitisse nenhuma família 'ãa Saxónia da mocidade,segundo os seus ideais. Jogo Valentim
luterana. Andreae desempenhou um papel-importante nestas socie-
Em todas estas Sociedades reinava o mesmo clima dades. Coménio desenvolveu aí os seus pensamentos
30 LEIBNIZ E A SUA'BROCA LE[BNIZ E A SUA ÉPOCA 31
pedagógicos, esperando que uma união geral destas certezademonstrativa; continua-las através duma ins-
sociedades os realizasse um dia; o seu trabalho Cami- trução certa. e, finalmente, aumenta-las por invenções
2z,êoda /wz, divulgado a princípio apenascomo manus- J. bem sucedidas ».. Matthias Bernegger, contemporâneo de
crito entre os correligionários, preconizou a necessidade t Jungius, traduziu depois os escritos de Galileu, e parece
duma tal organizaçãouniversal e dos meios de a realizar. T que, atravésdas suas múltiplas.relaçõescom os filó-
Estas associações foram, porém, desapal'acendo desde sofos naturalistas alemães e suas associações, actuou
l
meados do século xvn. muitas vezes sem deixar ves- ainda no sentido de impor cada vez mais a estes cír-
tígios da sua existência.A fase de exactidãoem que culos o espírito científico.
as ciências empíricas agora ingressavam, produziu Só;na segundametadedo século,porém,é que o
organizações diferentes, com exigências muito maio- espírito moderno começa a triunfar em terra alemã.
res.- Algumas, poucas, sobreviveram, limitando-se às Principiou-se pelo Cartesianismo. Em regra, a sua
suas aspiraçõesgermanizantes.Continua a ser a bela divulgaçãopartiu da Holanda, seu berço. Aqui, um prê'
glória destas sociedadesna evolução intelectual do povo gador reformado de Amesterdão, Baltasar Bekker, foi
alemão terem conservado sempre vivo o interesse pelo um dos seus primeiros apóstolos e mártires. O seu
estudo da realidade e a fé numa cultura nele baseada !ivro sobre o Ma da e#d?á/cada
que iniciou a longa cam-
e liberta de toda a escolásticaclerical, até transferirem panha contra a crença nos demónios exerceu profunda
a sua missão para as Academias modernas. Há, com influência na Alemanha. Thomasius confessadever-lhe
efeito,relaçõesmuito visíveis entre umas e outras. o mais .vigoroso dos estímulos,e ainda em i78i Semler
As primeiras influências da nova ciência do século xvn considerou actual uma tradução e refundição deste livro,
na vida intelectual do povo alemãosão ainda dos tem- que foi uma das armas mais .eficientes do racionalismo
pos da Guerrados Trinta Anos. Joaquim Jungius adop- protestante. As viagens científicas que nesta época cons-
tou as teorias de Bacon, e o espírito penetrante do erudito tituíam a conclusão regular dos estudos universitários
matemático e lógico procurou já corrigir pelos métodos e que de preferênciaeram para os Países-Baixos,leva-
de KISÊere Galileu o exclusivismoque era um defeito ram a ulteriores contactos. Assim, o novo método
da obra do grande inglês. Professor em Rostock,insti- .germe'Zricoinfiltrou-se também nas Universidades ale-
tuiu também em l62z uma sociedade infelizmente de mãs-- naturalmente contra a oposição violenta das facul-
breve existência, de cujo programa irradia pela primeira dades que continuavam a seguir Aristóteles,Tomas e
vez a frescura dos tempos modernos. «O objectivo da Melanchthon-- mil vezesrefutado, perseguido e, contudo,
nossa associação será ùnicamente procurai' a verdade nunca suprimido. A pequena Universidade de Herborn,
na razão e na experiência; prova-la depois de des- já esquecida desde há muito tempo, podia naqueles
coberta;* libertar da sofística todas as ciências e artes dias reivindicarpara si a glória de ter sido o centro
que se. baseiam na razão e na experiência; reduzi-las à mais importante de tudo quanto fosse moderno e radi-
l
faculdade de filosofia
32 LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA LE[BXIZ.E A.SUA ÉPOCA (lendas' e3êctras
Bibliotea(entrai
cal, desde a sua instituição pelos condes de Nassau= Escrito em francêse numa forma que.faziatriunfar a
-Dillenburgo que tinham aderido à Reforma. Aqui
livre reflexão, não tardou em conquistar quantos se
Althusius . desenvolveu o seu revolucionário direito interessavampela literatura. A única das suas obras
natural. Foi aqui que já em i65i se começou a rece- maioresque Leibniz publicou em vida, foi uma crítica
bem'o novo sistemafi'ancês.De Herborn veio também o deste espírito céptico, pessimista, dilacerado. Finalmente,
mais independente dos cartesianos alemães, Clauberg, e quase ao mesmo tempo, Locke e os livre-pensadores
que introduziu depois estasideiasna jovem Universi- ingleses foram também divulgados na Alemanha.
dade brandeburguesa de Duisburgo. Em .cena, Erhard A força criadora duma tal ordem de ideias, consciente
Weigel era o terror constante dos seus colegas,seguindo da sua certezalógica e do seu valor cultural, fez então
o método de Descartesnão sòmente nas ciências natutaisl brotar por toda a parte na própria Alemanha.ospro''
como ainda na Moral, no Direito e na Teologia. Pufen- jactos e as tentativas duma organização do trabalho
dorf e Leibniz foram seus discípulos. Pelo fim do científico. Enquanto procurai'am os meios para a sua
século, os huguenotes, com os seus pregadores à frente, actuação apenas na república ideal dos eruditos,não
foram também importantes pioneiros do Cartesianismo. ultrapassaram esses projectos os mais modestos princí-
Em Berlim, onde se estabeleceram em gi'andequanti- pios. Com efeito, apenasuma destas sociedadesparti'
dade, sob a protecção do Grande Eleitor e seu filho. culares da segunda metade do século xvn conseguiu
Chauvin, professor do colégio francês e autor dum sobreviver até ao presente, o 6oZZrgzzóm
Na/xra? CÜrjo-
.foram, dum médico de Schweinfurt--depois .dcadem/íz
dicionário filosófico, actuou igualmente no mesmo seno
tido; o seu nome encontra-se ainda na lista dos primei- ,Cbfiarea .[eopaZ2/zza-Coro//#a. Significado especial para
ros sócios da Academia de Berlim. a vida intelectual da nação, nunca esta sociedade o teve,
Seguiu-se Spinoza, cuja doutrina teve também os seus por certo. Mas como era a época em que a ciência de
adeptos nà Alemanha, logo nos seus princípios. Sob o Galileu e Descartesconquistava a Alemanha e em que
seu signo, MlatiasKunzen percorreuas cada.des
ale- os príncipes alemãeslançavam os fundamentos para os
mãs, eloquente e afecto às disputas, conseguindo, não primeiros Estados modernos, não se tardou em com-
obstanteisso, fundar uma seita espinozistaprópria em preender e aproveitar, também aí, a relação íntima que
existia entre ambas estas potências.
Jena.'Mais sério e mais profundo, Johann Wilhelm
Stosch abraçou os pensamentos do filósofo judeu, e não É este o lugar de recordar o plano grandioso para
deixa de ser uma prova do espírito liberal do primeiro um institutouniversal,apresentado
em i667 por um
rei da Prússia o facto de este homem ter sido tole- emigrado sueco ao Príncipe Eleitor Frederico Guilherma
rado em Berlim. de Brandeburgo, que com ele concordou. O programa
desta instituição compreendia as ciências e as artes,
Pouco depois, já em vésperas do século novo, o
dicionário de Bayle conseguiu também passai o Rena. puras e técnicas. Nela, a investigaçãoe o ensino deve-
3
\
L
34 LEIBNIZ E A SÜA ÉPOCA
LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA 35
continuando-as no sentido do futuro. Independente de pensamentos nunca deixou de ]he estar presente no
Newton na invenção do cálculo diferencial, uln dos espírito.
principais a fundamentar a compreensãodo princípio O sistema no qual procurava apresentaresta totali-
da conservação
da energia,o primeiroa reconhecer
no dade, tinha de ter uma estrutura inteiramente diferente
jogo das representaçõesdo nosso subconsciente o prin- dos de Hobbes ou Spinoza. Leibniz foi o primeiro a consi-
cípio da explicação psicológica, precursor ainda como derar a metaHisicauma hipótese; pois para este espírito
historiador e filólogo, Leibniz estavarelacionadocom tão positivo a metafísica nasce dum processo combina-
Í todos os conhecimentoscientíficos da sua épocacomo tória que pretende como que ligar as conclusões.
das
nenhum outro homem dos tempos modernos.Mais: diversas ciências singulares por uma ordem de princí-
Leibniz vivia preocupado com o maior problema da cul- pios comuns. Nestes termos, Leibniz foi sempre apenas
tura de então : .realizar .o acordo entre.a interpretação
um curioso em metaãsica. Na sua mente existia a
mecanista da natureza e.a religiosidade cristã. Sob este constante.asphaçã(l..pela.unidade..da-sabercuja funda-
aspecto, afigurar-se-lhe-iam insignificantes e indiferentes mentação sistemática nunca deixou de ponderar. Esta
os dogmas das diferentes religiões, proporcionando-se- sua constituição mental que estava de acordo.com tudo
-lhe aí um campo de actividade incessante para tentar quanto na sua época parecia prometedor de futuro, .eraa
a reunião das diferentes confissões.E. tudo isto, o tra- fonteviva de todo o seu pensamento
e de.todaa sua
balho cieátíâco, a união das Igrejas e sua recon- actividade. Está também aí a origem da sua metaHisica:
ciliação, subordinava-se no seu espírito ao grande indo atrás das reflexões de Bruno, Galileu, Kepler e
objectivo duma cultura humana que abrangesse
todas Descarnes, p! etendjâ.estabgleçer um sé .universQb homo-
as nações e cuja rede devia estender-se,segundo o seu 0 gégeg..gmJoda$-as-suas-partes não sé ligadas.sob o íl.ü.
P
/
espírito universal, até ao Egipto e à.China. E .preciso domínio duma lei universal, mas também intimamente
notar, porém, que esta unidade do seu espírito nem unidas.poUurEâenÇido.Xyg.as..jntegrpsse numa.oompjeta
sempre se revela nos seus escritos. São na sua maior harmonia. Em oposição a toda a teologia anterior. que,
parte produtos momentâneos e ocasionais. Algumas num judaizante egoísmo, fizera do homem o centro do
vezes,.pareceaté êxcltisivamente preocupado com uma universo, Leibniz, de acordo?.com todos os grandes pen-
só destas tarefas. Sobretudo nas suas aspiraçõesunio- sadores desde. Jol'dano. .Bruno, via a.significado .do uni-
nistas é frequente vê-lo perder-seem compromissosteo'/ verso.no facto dg ele je!.Â..!ealjzaçãg.gelados .os graus
lógi(Õs, aliás muito afastados do centro dos seus outros gg.JçF@a,d!=.lida,..çla ..pe11@jçêg..tda.JJÊlicjdade.Com isto,
pensamentosl Noutros casos as suas ideias parecem intei- o universo .torna-separa ele.:expressãoda infinidade do
ramente condicionadas pela crítica de qualquer corrente ser perfeito e divino. A alegria na simpatia universal que
contemporânea ou pela discussão com um ':adversário. liga o nosso espírito.com todas as partesdesteuniverso
Mas sda como for,''de facto, a totalidade dos Seus eminentementevivo, .e. a aspiração que assim em nós
l
LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA 39
38 LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA
nasce de nos tornarmos nós-próprios na pura objecti- fenómenos. o sistema desses puros factos permanecer-
vidade das nossas atitudes, como expressãoe espelho -lhe-á estranho, incompreensível, inexplicável. A estra-
da própria divindade, na clarezado pensamento,no pra' nhezado mundo e da mera facticidadedaquilo .quenos
zer da harmonia do mundo e na actuação em prol do rodeia, jamais a venceremos com a nossa visualização
supremobem--eis aí a alma de todo o pe.nsamento
e causalista ou com raciocínios matemáticos : teremos de
de toda a actividade de Leibniz. abandonar o prisma causal e de passar para uma espécie
E seria isto uma religião nova, uma nova maneira inteiramente diferente de razões explicativass se quiser-
poéticade encararo universo, ou seriaum novo sistema mos vencer essa estranheza. Sentidos, valores, evolução,
filosófico que surgia? Era ambas as coisas simultânea- vida, toda uma hierarquia de impulsos tendendo para a
mente. Se nas ciências se remontava assim até um ponto sua realização,com uma finalidade imanente--: eis aí os
onde a harmonia preestabelecidadas mónadas-- a mais únicos conceitos que permitirão ao espírito humano
viva ideia que jamais alguém teve da realidade-- parecia apropriar-se do universo, deixando de estabelecerentre
o movimento e a consciência uma relação puramente
satisfazer todas as exigências de cada uma delas, isto
era já o nascimento duma metafísica nova, e certamente externa, mas, pelo contrário, pensando-oscomo uma
' a mais rica de alma que se poderia imaginar. Nela, alcan- viva unidade.
çava-se enfim a conciliação daquelas grandes forças ou. E se o mesmo homem, que aqui nos fala coMOmeta-
potências espirituais que constituíam a cultura da época; físico, procura depois penetrar as profundidadesmis-
o mecanismo revelava-se ao mesmo tempo como expres- teriosas do Cristianismo, logo o vemos também substituir
são duma teleologia imanente; o sistema do movimento aquela divindade irritada e demente, proclamadapelo
como expressão de puras relações entre forças (não sendo dogma da justificação e redenção,pelo Deus que, sob
cada uma destas mais do que representaçãoe vontade a condição de certas verdades imprescindíveis, mas em
ao mesmo tempo) conseguia fundamentar de uma maneira plena liberdade, criou este mundo como a realização
completa o direito do espírito humano de remontar do mais perfeita de todos os graus de energia,vida e feli-
mundo dos fenómenos até este universo de unidades cidade possíveis. Nascia assim a religiosidade cristã do
energéticas sem extensão, no qual estão realizados todos Iluminismo. e só assim a dura fisionomia do velho Deus
os graus ae'energia, tida, perfeição e felicidade possí- do Antigo Testamento viria a aparecer enfim atenuada
veis. As verdades imprescindíveis que o matemático ou e suavizado.
o lógico desenvolvem, são apenas'a condição de uma Quando mais.tarde alguns dos traços lógicos mais
ordem pata qualquer mundo possível: mas o mundo severos,com que o espírita do séculoxvn edificou esta
em que vivemos compõe-sede facticidadesque não concepção do mundo, vieram a perder algo do seu.rigor,
podem fazer-se -derivar daquelas verdades. Enquanto o a sua substância havia de continuar ainda viva em Les-
nosso espírito for- atrás das relações causais entre os $ing, perder e Goethe, como urna.: sua .maior interioriza-
Í
:40 LEIBNIZ E l SÜA ÉPOCA LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA 41
l
l
ção a inspirar a libel'dadoliteráriae o estropoéticode paciênciadum jogador de xadrez que, sempreque o
muitos escritores. jogo do adversário o contraria, imperturbável e pondera-
Nenhum homem moderno anterior a Leibniz sentiu damente inventa logo outros jogos. A relação entre todos
tanto como ele a api'oximação
e a afinidadede todos os planos e o conceito profundamente interiorizado da
os fenómenos do mundo e sua identidade. Ninguém cultura que os-prende a todos está semprepresenteao
l
l antes dele compreendeutão bem como Leibniz que o seu espírito.
l -resultado a esperar deste grande século xvn de't'ia ser ó No auge da vida, sob a influência da dupla posição
aparecimento dum género humano melhor e mais feliz,. oficial que ocupa em Hanover e Berlim, encontramosjá
depois de ilustrada a consciênciapela ciência. Nunca, concluído o plano das suas ideias práticas em cuja rea-
até ele, alguém dedicou com tanta clarezae fervor toda lização daí por diante sempre trabalhou. A partir daque:
il a sua existênciaà ilustração e à aspiraçãopelo supremo les dias em que Johan Cristianvon Boineburg,o
bem da humanidade.Com efeito.foi a fé de Leibniz estadista do Eleitorado de Mogúncia, o descobrira,
l em que no universo tudo é vida e poder cl'dadore em estas ideias práticas sofreram, sem dúvida, numerosas
que o seu íim supremo está na ilustração do espírito transfoln)ações. Cedo abraçou a ideia duma cultura da
e no acordo feliz entre ele e esseuniverso, que libertou humanidade, representada pelas nações. dirigentes da
os homens cultos de todos os dogmas obscuros que até Europa e estendendo-se a toda o orbe terráqueo, bem
então os oprimiam: Foi ele o primeiro a revelar-lhes como duma união entre o domínioda naturezapela
um objectivo novo e superior'da espéciehumana colo- ciência e a ilustração pela fé racional numa unidade
l cado num seu progresso em demandade uma cultura final do mundo em Deus e num progresso da espé-
total. Em ninguém, como nesta grande figura, á mais cie humana projectando-separa o .Além,numa evo-
profunda interioridade se associou num tão alto grau lução indefinida.Porém, depois de ter chegadoa
a um sentido tão vivo para os interessesdestemundo conhecer as verdadeiras tendências do Estado de
e a um maior entusiasmona acção. Luas XIV, deste Ma /f crês//a#/s8íüa,Leibniz não tar-
Alegre, participa em todas as mascaradase cortdos dou tambémem ver na hegemoniada Francae no
que as joviais l5rincesas organizam em Chai'lottenburgo, poderio do Catolicismo o:maior dos perigos para uma
!
Berlim e Hanover. Numa destas festas coube-lhe o papel cultura calma e progressiva. Desde então defendeu com
de astrólogo que, de telescópio em punho, teria de pre- o mais caloroso patriotismo não só a posição autónoma
.}
dizer ao Príncipe Eleitor de Brandeburgoo grande futuro da Alemanha, com a constituição da nobre língua alemã
da sala dinastia. e a participação do povo alemão na obra da ciência.
Em nenhum momento, porém, deixa de pensar hos Na pequenaCorte de Hanoverencontrou:uma
pátria
seus grandes projectos, procurando interessar essaspes- para a sua actividade. Foi daí que as suas ideias práti- ]
soas ha::$ua réali2àção.Segue estes prqeêtos com:a cas se divulgaram. Quis ver os príncipes protestantes
)'
l
42 LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA 43
alemãesaliados às potênciaspredominantesdo protes- para estar sempre pronto a. deixa-la em qualquer altura,
tantismo, à Inglaterra e aos Países-Baixos:-Para isso quando a modificação dos seus planos o exigisse.
trabalhou pela união das confissões protestantes, por A biblioteca que administrava, .tinha-a para seu uso
uma aliançaentreo Hanovere o Brandeburgo
e pela {
pessoal; não gostavamuito de que estranhosaí entras-
l instituição duma Academia em Berlim. sem. Durante dias inteiros não saía de .casa.Viajando
Foi vivendo para esta ordem de ideias e de planos de carro, andava sempre preocupado com os seus estu-
H
que se formou também um dos traços mais particulares i dos matemáticos.Fugia a todos os exercíciosfísicos; e,
Z .do génio de Leibniz, que o Çplpou-uJPcontinuadg=qas como comia muito, sobreveio-lhea gota Não admi-
l alpiragões ..gç.-Pes.kart!!. pala..3:gonsÇituição.ge.um tindo que as doreso impedissem
.de trabalhar,man
m:étggQuniversal. Os resultados isolados, ou sequer dou fazer tornos de madeira para as sentir menos. Este
as concepçõesmetafísicascomo tais, não foram coisa regime violento imposto ao corpo, porém, acabou por
que. o interessasse em primeiro lugar. Leibniz procurou, Ihe abreviar a vida.
antes de tudo, instrumentos que contivessemem si uma Os seus trabalhos científicos, a sua ânsia de põr a
possibilidade ilimitada de realizações.Para isso deviam ciência ao serviço da vida, os planos culturais que tra-
servir a sua linguagem filosófico-simbólica, cálculo dife- çou e seguiu, 4serviam de obstáculo uns aos outros.
rencial e os seus princípios de inteligibilidade do mundo, Goethe viveu também uma existência multiforme, em
entre os quais se destacavamos da continuidade e de Weimar, sofrendo com as complicadastarefas que
conservação de energia. Este aspecto das coisas deter- tomara sobre si. Mas o seu realismo sugeriu-lhea
minou também a sua noçã(i da Academia. Esta devia ser tempo abandonar uma tal situação, fugindo para.a
para ele igualmente um dessesinstrumentos que, postos ltália. Regressado,
não voltou a retomartodas as fun-
a actuar, prometiam promover a cultura em todos os sen- ções anteriores, dedicando-se daí por diante apenas às
tidos e direcções. Será preciso lembrarmo-nos disso mais suas ideias e poesias. Leibniz sentiu como Goethe a
tarde para compreendermoscomo o seu fecundo espírito superioridade das grandes realizações espirituais em com-
traçou, em sucessivosplanos,as linhas de todas as paração com tudo o que conseguisse fazer no campo
tarefas,que a ideia duma Academia implica. dos negócios políticos. Dirigindo-se pela última vez ao
Mas nem sequer a força do homemmais genial che- rei da Prússia, para tratar da sua .Academia. teve o
garia para se desempenharda quantidadede trabalhos {
muito mais íntima e complexadó que em Goethe. Não algutn,as realidadesà sua volta. Era um homemde
soube libertar-se nem desistir dos seus objectivos prá- vistas largas, sem dúvida. Pensador espiritualizada,
E ticos. Assim, a maior parte das suas descobertasnão nunca chegou, porém, a compreenderaquelesque pas-
chegou a publicar-se.Mesmoaquilo que ainda em vida !.
savam a vida sepultados em negócios profanos, entre-
publicou, só tarde viu a luz pública, nunca se libertando gues ao seu egoísmo, às vezescom as mãostintas de
da sensação desagradável de outros se Ihe poderem sangue, embora semelhantes aos deuses e fortemente
antecipar. A grande maioria dos seus trabalhos ficou convencidos de representarem o Estado. E esta falta
{
incompleta. Qual teria sido o efeito dos seus .Nodos de compreensão era mútua. No Hanover, Leibniz não
r#súías .çoóe o e íe dámr /o áwma#a, se tivessem apare' voltou a gozar de qualquer confiança depois da morte
cêdo mais cedo?-Quando se publicaram, muito tempo do príncipe que o chamara. Melhor apreço encontrou
depois da sua corte, Hume já tinha aparecido,e, apesar depois por parte das duas princesas que serviu. As
de obra genial,esta não deixava de estarjá um tanto mulheres têm um sentimento natural de admiração por
antiquada. E o mesmo se diga dos seus gi'andes estu- tudo o que é grande, sobretudo quando lhes aparece
1: dos históricos e:jurídicos. Com que sentimentos teria o Sob uma forma pessoal. Do mesmo modo que o õrgu-
}1
sábio olhado para a riqueza dos seus manuscritos, à Ihoso eremita dos Países-Baixos, Descartes, teve por
lj
proporçãoque ia envelhecendo?Era a primeira e talvez discípulas lsabel do Palatinato e Cristina da Suécia,
a maior de todas as tragédiasda sua vida. Não Ihe foi assim Leibniz encontrou também em ambas as prin-
l permitido, como a Spinoza e a Kant, resumir numa cesas suas amigas uma perfeita compreensãopara
forma positiva e como que eterna & obra da sua aquilo que mais o preocupava,mais do que em qual-
vida. quer outra personalidade das Cortes de Hanover e Ber-
Os seus trabalhos científicos, por sua vez, eram lim. Sem Soba Carlota nunca a Academiade Berlim
muitas vezes contrários aós seus planos, à sua interven- teria sido instituída.Apesarda sua alegriade viver e
l ção na vida contemporânea. Todos aqueles planos do Mal encanto que experimentava na aparência bri-
U
tinham nascidoda mais genial compreensãodas tarefas lhante das coisas, profundamente envolvida em intrigas
da cultura humana. Pouquíssimos havia entre eles que políticas pela mãe, a verdadeé que a sua educaçãonão
não chegariammais tarde a ser realizados,pelo menos }
iam muito além; do :século, não compreendeu de modo tambémna rede das suas próprias intrigas po;Ítioase, Ç
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46 LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA LEIBNIZ.E A SÜA ÉPOCA 4'7
tendo morrido antes dele, deixaram-no só e rodeado de não os tinha. Que contraste entre estavida e, por exem-
suspeiçoes. pto, as de Kant e Goethe os quais, distantes dos conflitos
Mas havia ainda pior: os planos mais diversos do mtmdo,num trabalhoextensoe em profundacon-
tinham chegadoa atropelar-see a complicar-senele de templação,atingiram os seus últimos anos de vida rodei.:
tal maneira que se tornava difícil distinguir o que em dos de uma universal admiraçãol
determinado momento era para ele meio ou fim. Algu-
mas vezes pareceu servir-se da sua Academia para fins
políticos, em Berlim ; outras vezes, serve-se de persona: 2
Bens e. negócios políticos para conseguir a sua Acade-
mia. Umas vezes, serve-se da sua filosofa para explicar }
comércio extenso e sede duma actividade .industrial científico, aproveitando=paraisso todo o imensotesouro
muito desenvolvida
que continuoua mantera sua dos seus estudose da sua experiência.
posição no mundo,. sem desconhecer, aliás, os perigos O seu mais antigo projecto tinha em mira uma
que o poderoso progresso das nações estrangeiras cons- sociedade alemã das ciências em Franckfort, sob a
tituíram também para esta prosperidade.Ente'andona dil'ecção do Príncipe Eleitor de Mogúncia. Serviram-lhe
sociedade alquimista que aí existia inspira-se no espírito de inspiração e de modelo as Academias já existentes
específico que animava estas primeiras sociedadesale- na Inglaterrae na Franca,cujo fito principalera,ao
mãs, misturando a especulaçãofantástica com a ciência tempo, de harmonia com a situação actual das ciên-
e motivos éticos e religiosos com a outros francamente cias, o conhecimento matemático da natureza. Leibniz.
práticos. Convive aqui com pessoasde todas as classes porém, insistia mais na relação prática. que era preciso
e proHlssões,sacerdotes de S. Lourenço e S. Trago, pro- estabelecer entre as ciências, a indústria e o comércio.
fessoresda escola latina, patrícios, comerciantes, artífices. Sobretudo, o jovem polígrafo tendia a tornar esta socie-
Leibniz relacionou-se intimamente com este ambiente. dade num como que arquivo de todos os conhecimentos
Ainda em anos posteriores, muito mais tarde, continuou então existentes. Reunir-se-ia aí uma biblioteca univer-
a cultivar estas relações. As tendências que ai reinaram sal; elaborar-se-ia uma enciclopédia real de todas as
deixam-se reconhecer inclusivamente nos seus próprios ciências; entrar-se-ia em correspondência com os erudi-
planos académicos.Mundo muito diferente, porém, é tos de todos os países. ÀTais: exigia que esta socie-
aquele que se Ihe patenteia em Mogúncia. Johann Philipp dade cooperasse com as Academias congéneres da
von Schõnborn e Johann Christian von Boineburg viviam Franca, Inglaterra e ltália; e o seu irrequieto génio
na esfera das ideias dos seus grandes precursores, Wer- financeiro, que mais tarde viria a manifestar-seainda
l
ner von Epetein, Diether von lsenburg e Berthold von em outros projectos, preconizava já o lançamento de
r
Henneberg. Procurava-se satisfazer as aspirações nacio- um imposto sobre o papel, para a manutençãodesta
nais do povo alemão, que cada vez mais alto se procla- Academia.
mavam, com a instituição duma Liga de príncipes alemães Mas há ainda um outro plano das coisasa conside-
e a fusão das confissões divergentes numa Igreja nacio- rar, onde vamos agora encontrar a expressãomani-
nal. O Príncipe Eleitor de Mogúncia, como Arquichan- festa da noção de cultura que o século criou e de que
celer e Arcebispogovernariaa nova Alemanha.Leibnii, Leibniz ei'a o representante. Tratava-se também duma
que era para os seus novos amigosuma espéciede sociedadedestinadaa dirigir a cultura total do povo
secretário e publicista oficial, perfilha também estas alemão, segundo os mais altos princípios científicos.
ideias. O trabalho científico devia produzir nesta sociedadeo
Aqui, em Mogúncia, esboçou Leibniz, -cola efeito, os progresso dos conhecimentos da natureza, animar e orien-
seus primeiros projectos duma organização do trabalho tar um culto de Deus metanlsicamente fundamentado, e
4
l
50 LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA
LEIBN[Z'E A SUA ÉPOCA 51
a relacionar-se, também para ele, com a impressão directa levaram-no a englobar no âmbito dos seus estudos
que Ihe causa, por então, a ciência europeia. Tinha também a História e as ciências suas auxiliares. Leibniz
z6 anos quando foi pela primeira vez a Paras,para em não chegou--é certo--a tentar integrar o mundo da
pessoa defender junto de Luas XIV e dos seus ministros História no seu sistema âlosóíico. Mas a História não
o plano, tão notável pela visão penetrantedo futuro tardou em ingressartambém no seu iiieal prático de
como pelo completo desconhecimentoda situaçãopolí- cultura, e nos seus projectos ulteriores duma Academia,
tica coeva, de fazer desviam' para o Egipto o iminente quer em Berlim, quer em Dresda,a investigaçãohis-
ataque francês contra a Holanda. Certamente,fracassou tórica, no mais amplo sentido da palavra, não deixará
no objectivo desta viagem, mas foi ela que Ihe permitiu de ocupardoravanteo lugar que Ihe compete.Com
conhecer na capital da Franca e depois em Londres e Pedra-o-Grande e com os seus novos amigos romanos,
nos Países-Baixos a nova ciência matemática através os jesuítas,
a Rússiae o velhopaísmaravilhoso
do
das relaçõespessoaisque então travou com os grandes Oriente, a China, entram também agora no âmbito dos
espíritos que a representavam.Tornou-se, ele próprio, seus interesses e preocupações científicas. Aqui, adivi-
um matemático e um técnico de primeira ordem. A partir nhou perspectivas imensas para o comércio, a missão
de então a tarefa primordial a que se dedicou foi a cristã e científica e o próprio aprofundamento do Crise
criação duma associação alemã para criar na Alemanha tianismo e da ciência; e estas esperançasnão tardaram
um centro dos novos métodos de estudo da natureza, em se condensarno seu espírito sob a forma de nume-
integrando a sua pátria nas relações internacionais den- rosos planos de organização.
tro das quais havia de efectuar-seo progressodo traba- Este homem tmiversal procurou uma nova pátria
lho científico e de uma cultura nelas baseada. para si e para a Academia com que sonhava, como se
Não pede então ainda cria-la desdelogo, tendo de fosse um reflexo.do seu próprio ser.
se resignar. Entretanto vai ao Hanover, entrando aí ao Depois do casamento do filho do Grande Eleitor
serviço dum dos mais fortes dos pequenos Estados com a princesa Soíia Carlota de Hanover, Leibniz vol-
alemães de formação moderna. A esperança de encon' ta-se para o Brandeburgo.Porém, tendo aí subido
trai ali um terreno propício às suas aspirações, leva-o a ao trono o príncipeherdeiro,as condiçõesde vida do
desconhecer a constituição moral desta Corte e a sua Brandeburgo levaram Eberhard von Danckelmann, o
próprio posição dentro dela. No Hanover nunca eQCon- ministro que dirigia os negóciosdo Governo,a consi-
trou verdadeira compreensão ou protecção, nem para o derar o Hanover um rival perigoso. SÓcom muita cau-
plano da sua Academia, nem para as suas restantes tela Sofra Carlota podia mover-senó novo terreno,não
ideias. Não obstante isto, a mudança para o Hanover foi podendo pensar em atrair para Berlim um servidor da
de imensaimportânciapara Leibniz; o seu lugar de casa dos Guelras. Foi então que na própria Berlim sur-
bibliotecário e a incumbência especial dos seus príncipes giu o plano da criação dum observatório astronómico:
E
54 LEIBNIZ n A SUA É?OCA LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA 55
Logo que Leibniz souberadele,não tardou em !he querer Recebidoo convite formal para vir a Berlim, esbo-
dar uma orientação decisiva, propondo que em continua- çou então os documentos fundamentais para a realização
ção deste instituto se fundasse também uma academia da sua ideia: a Carta da Fundação, a Instrução Geral
de ciências.A reviravolta política que nestemesmo ano da Associação,de xi de Julho de l7oo, bem como a
!1 de i697 se produziu na Alemanha e, portanto, no Bran- sua própria nomeação para presidente, de lz de Julho.
$ deburgo, fez com que esta esperançanão voltasse mais Constituiu-se uma Academia que no seu universalismo
a desfazer-se.A paz de Ryswick com a sua famosa c/á#- iria ultrapassar tudo quanto o mundo até então tinha
szó/aque legalizava a conâssão católica, imposta à força conhecido em matéria de instituições congéneres.A asso-
nos territórios reintegradosna Alemanha,voltou a agitar ciação abrangeria todo o âmbito das ciências matemáticas
mais uma vez o mundo protestante. O perigo parecia e físicas e das suas aplicações técnicas, propondo-se ao
tanto maior quanto era certo que o Príncipe Eleitor da mesmo tempo cultivar as Letras, nomeadamentea lín-
Saxónia acabava de converter-se ao catolicismo. A ideia gua alemã e a história da Alehanha, profana e reli-
}Í duma união das confissões protestantes ressurgiu, apro- giosa.Determinou-se
que isso se fizessecom toda a
ximando uin do outro os dois adversáriosda Alemanha seriedade e todo o aparato crítico próprio do espírito
} do Norte, o Brandeburgo e o Hanover, que então enta- genuinamente científico da época, não por amor da
bularam negociações sobre a questão. E como a derrota ciência em si mesma, mas sim por causa do seu valor
política do Brandeburgo em Ryswick se atribuía a cultural. Pretendia-semelhorar a existênciahumana
Danckelmann, a esposa do Príncipe Eleitor conseguiu em todas as suas manifestações e actividades; promo-
l
derrubar o homem poderoso. O caminho estava livre ver a agricultura e a indústria, as fábricas e o comér-
também para Leibniz e os seus planos. Participou. cio, as consciências
políticae nacional,
e por fim a
muito activamentenas negociações.
Foi à sua sombra moral e a religião; pois na vida moral e religiosatodo l
@ que se iniciou uma viva correspondência entre ele o progresso estava dependente da razão e da inteli-
e Sofra Carlota, ousarão ele próprio dirigir-se já a Ber- l gência. Este trabalho geral de cultura, considerava-o
@ lím. Não deixou de continuar a lembrar constantemente Leibniz como o objectivo do Estado moderno então
1.
o observatório e a associação, até Êcar solucionado nascente;era já o ideal político do Iluminismo alemão.
o último problema que era o dos meios pecuniários. Pretendia-se que este Estado criasse numa Academia o
Efectivamente, desde que os Estados protestantes do órgão supremo para Ihe fornecer os meios necessários
Estava enfim instituída a Academiae marcadaa sua tituía ainda uma certa garantia de a instituição não cair
missão..Durante ii anos, porém, esta Academialevou poi' completo na inactividade e na indignidade. Na ver-
uma existência muito precária, antes de ser solenemente dade, foi só à fama europeia de Leibniz que a sociedade
inaugurada. A sua verdadeira existência só viria a devê-la deveu a sua primeira existência. Este foi incansável no
ao seu segundo fundador, o grande Rei. Pois o Estado 11 zelo que dedicou à sua obra. Cuidou dela quanto podia,
que o Príncipe Eleitor, Frederico Guilherme, criara, apesar V
com as suas viagens e correspondência,
com as suas
do seu governo extremamenteeconómico,não dispunha constantes representações junto do rei, da rainha, do
dos meiosnecessáriospara as realizaçõesque Ihe im- príncipe herdeiro e de todas as pessoasinfluentes.
pusera.Com efeito, no reinado do seu sucessor,a vai- Conseguiu que a Academia publicasse o primeiro volume
da sua Mzsce/.ídmea
.BerZÍ eKiáa, que durante muito tempo
dade dum príncipe fraco, aliada à falta de escrúpulos
dum favorito egoísta,acabou por levar as finançasa foi o'único publicado. O presidente que entra as 6o con-
um estado desastroso.Como então dispor de meios tribuições aí contidas escreverasó à sua conta i2, podia
especiais para uma sociedade científica? Esta teve de estar orgulhoso com a sua obra; cheio de optimistno
sustentar-se a si mesma com as receitas do calendário escreveuele próprio também o prefácio para ela.
que aliás apenaschegavampara não agonizar.É ao Nem por isso a Academia Ihe ficou, porém, agrade-
mesmo tempo penoso e divertido ler os pl'ivilégios que cida. Os seus directores acabaram por fazer aprovar, às
l escondidas dele, um estatuto que o privou, de facto, da
a fantasia inesgotávelde Leibniz imaginou para a sua
fundação e os impostos futuros que premeditava; ver direcção, e não descansaram enquanto até a modesta
como estas memórias passaram para o arquivo antes remuneração que recebia, fosse, primeiro reduzida a
de terem sido estudadas,e como se aprovou, mas metade, e depois inteiramente suspensa, incluindo todas
não se realizou, por exemplo, o seu plano predilecto da as quantias atrasadas. Os discursos solenes da inau-
cultura da seda.Uma tal sociedade,
na verdade,nem guraçãojamais falaram no nome de Leibniz enquanto
podia permitir-se fazer despesasde envel'gadurapara esteainda vivia, e depois da sua morte foi a Academia
l
fins científicos, nem remunerar os seus sócios. Por das Ciênciasde Paria, e não a que ele próprio fundara,
conseguinte,também não podia convidar eruditos estran- que Ihe dedicou um necrológio! Em vida, Leibniz soa'eu
geiros afamados.Te\rc de contentar-secom os prega- muitos insucessose insultos. Nunca Ihe custou esquecê-
.}
dores, professores e funcionários duma cidade que -los. A ingratidão da Academia prussiana, porém, essa
ainda não tinha uma Universidade, nem qualquer magoou-o profundamente. Lutou ainda, a princípio, a
outra instituição cientíâca. Por isso, entraram nela, favor dela em Berlim, defendendofranca e nobremente
ã além de muitos eruditos laboriosos, pessoassuperfi- a causaque servia, mais do que a sua pessoa,plena-
mentedigno de si mesmoainda nos assuntosmais
,ti
ciais, preguiçosase nem sempre honradas. Enquanto
Leibniz esteve à sua frente, a sua personalidade cons- pessoais. E finalmente, só depois de perdidas todas as
]
LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA 59
58 LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA
esperanças,é que se retirou, abandonandoa Sociedade mais uma vez, estando a obra quase concluída, tudo
ao seu destino. voltou a estragar-se, desde que se tratou de conseguir
Sofrida essadesilusão, Leibniz voltou-se para outras os meios financeiros indispensáveis para a levar a cabo,
perspectivas. Com a Corte saxónica de Dresda já não t porque Leibniz não condescendeu ein aceitar a condição
contava, desde que a guerra da Polónia viera perturbar pessoalque aí se Ihe exigiu: a conversãoao catolicismo.
a vida dos seus centros científicos. Mas o grande Czar, Tal conversão, porém, pareceria um facto tão natural que
l
pelo contrário, esseé que não perderade vista, no meio causou admiração em Hanover e Berlim o desmentido
de tantas atribulações, o objectivo pacínlcoda europeiza- dado por ele aos boatos a esterespeito.A sua saída
ção do seu império. Leibniã olhou logo para esta empresa repentina de Viena ao recebera notícia da sucessãoda
com uma atenção especial. Esperava poder dar assim dinastia de Hanover ao trono inglês, depois da morte
realização, por esse lado, à sua ideia de uma difusão da Rainha Ana, foi o pretexto para se suspenderem as
da cultura num terreno inteiramente novo. De facto, o negociações até ele regressar. Leibniz estava decidido a
Czar aceitou de bom grado os memoriaisdum homem voltar. Mas quis ver o que conseguiria primeiro em
da categoria de Leibniz, e não é sem razão que já se Londres. Quando chegou ao Hanover, a Corte tinha já
afirmou terem tais sugestõesdado origem,.em parte, partido para a Inglaterra, deixando ordem rigorosa
às reformas depois realizadas na Rússia. E um desses para que ele não a seguisse e para que acabasse a
frutos foi, sem dúvida, a Academia que se fundou em .2Zzsfár;cz
das G echo.ç
de que estavaincumbido.Obe-
Sampetersburgo em i7z5 Mas também não tardou muito diente, meteu-se ao trabalho que absorveu todas as suas
que a Rússiapassassepara um segundoplano, logo que energias. A sua única distracção era a correspondência.
Leibniz viu Hnalmentepoder realizar-seo maior desejo As vezes, gostava de se abandonar por instantes aos
da sua vida: estabelecer-se
em Viena.Julgavaele que seus sonhos com a pena na mão. Era imenso aquilo
fosse para sempre e nisso se enganou. A amizadedo que ainda pretendia organizar e realizar. Via então a
Príncipe Eugénio e a protecção de duas imperatrizes da R Terra literalmente coberta por uma rede de institutos
+
casa dos Guelfos foram-lhe altamente proveitosas. Em científicos. Todos estes institutos estavam virados para
Viena, recebeu a categoria e o ordenado dum conselheiro o mesmoobjectivo da conciliaçãodos povos e da reali-
da Corte imperial e foi incumbido de importantes mis- }
zação'do reino de Deus. Passadosdois anos, tinha já
sões literárias e diplomáticas. Parecia ter conseguido
+
de quem sabe que os seus.dias estãocontados.Porém, esperanças. A Sociedade berlinense, que ele conseguira
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um século ainda até ele triunfar e para se poderem a evolução que a Alemanha então sofreu. De 'facto,
notar também os seus efeitos sobre a cultura científica esta evolução era uma continuação orgânica das formas
alemã. !
a autoridade. Nesta posição ambígua, coube ao clero, pendência da nobreza e das cidades,. -limitar a partici-
arrastado na corrente do pietismo, e apesar da sua pação da Igreja no ensino e nas instituições sociais.
profunda submissão às autoridades, uma grande tarefa imprimir ao património das casasreinantes,constituído
na história da cultura alemã. Pouco a pouco, foram-se por heranças, dotes matrimoniais. e conquistas, a forma
também destacando, como classe particular, os pro- dum organismoadministrativo e económicohomogéneo
fessores e os eruditos saídos dos estabelecimentos e aproveitar enfim todos os progressostécnicose inte-
de ensino secundário, embora, ein regra, recrutados lectuais, para conseguir dar um maior rendimento militar
só nas escolas de teologia. A estes juntaram-se os e ânanceiro à nação. Os êxitos obtidos e os beneHicios
professoresuniversitários. Mas mesmo quanto a estes, que para a cultura económica e moral daí resultam foram
a sua dependência foi também sempre em aumento, à diferentes nos diversos tenítórios. As únicas coisas que
medida que o Estado foi chamando a si a educa- se tornavam evidentes por toda a parte, eram a tendência
ção e oprimindo as corporações. E foi precisamente dos príncipes para reivindicarem para si uma plenitude
neste ambiente social que o novo ideal religioso se de poder que até aí nunca se tinha visto na Alemanha.
transformou no duma harmonia entre o Cristianismo, a renúncia a toda a resistência por parte da nobreza.
a antiguidade e a ciência moderna, evolução esta que passava a empregar-se nos serviços cortesãosadmi-
que não podia deixar de implicar lutas violentas entre nistrativos e militares, e ainda o advento dum funcio-
a ortodoxiae o progresso
intelectual
que não era nalismo educadonas .concepçõesdo direito natural e
possível deter. inteiramente à disposição dos príncipes. Foram estes
Deste modo, pode dizer-seque todas as transfor- elementosque proporcionaram ao absolutismodos prín-
mações sociais alemãs foram determinadas pelo desen- cipeso instrumento com que ele, mais ou menos,triun-
volvimento do poder dos príncipes.Porém, enquanto fou por toda a parte.
que entre os outros povos esse poder contribuiu para Na maioria dos casos, porém, criaram-se apenas
a sua unidade e prestígio nacional, na Alemanha e na
ltália só serviu para promover a desagregaçãoe a impo- blema só a Conseguiu dar a energia daqueles que soube-
tência gerais. A .paz de Vestefálià coníirinou, como se ram fundar o Estado dos Hohenzollern. O maior perigo
sabe, a vitória dos príncipes alemães sobre o Imperador estava sempre no exemplo aliciante da Franca: AÍ, como
e o Império. Daí por diante, quem pretendesse conser- se sabe, tinha-se inventado um sistema ânanceiro de
var-se de pé no meio das lutas e confusão gerais, só exploração dos súbditos pelo arrendamento dos impostos
consigo próprio podia contar. Assim, os territórios, e aos grandes banqueiros due, não obstante o aumento
nomeadamente os maiores entre os seculares, torna- constante do ú?í@czf,tornava sempre possíveis despesas
ram-se naturalmente nos centros de formação política cada vez maiores para fins militares e palacianos.até
de outros tantos Estados. Foi preciso quebrar a inde- se acabar na Revolução francesa. Desde que Luas XIV,
5
7
depois da morte de Mazarino, tomara para si às rédeas tura alemã. :Os destinos dos reis e homens.poderosos e
do Governo, o' brilho dessa grande Monarquia e da as vidas heróicas das pessoas. da: Corte constituíram.
sua aristocrática cultura tinha-se convertido no modelo comiüefeito, os assuntos da nova .tragédia de Gryphius,
a imitar por todos os senhoresreinantesna Alema- do novo romancedo duque Anton Ulrich de Brunswick.
nha, desde o primeiro rei da Prússia até ao mais de Lohenstein, e dos poetas seus companheiros. Desen-
modesto dos príncipes.O novo idea] da existênciaape- volveu-se assim . um novo estilo . artístico. Esta. poesia
lava, antes de tudo, para uma nobilitação das formas aristocrática sobrepôs-se à arte popular que até então
externas da vida. Tinha a sua mais elevada expressão se inspiravana vida da burguesiadas cidadese na
na vida social das Cortes.nas suas festas e na sua arte harmoniadas relaçõesentre a religião e o clero na vida
profana. Perante o .Olimpo dos quadros dos pintores de todas as classes.
franceses expostos nas sumptuosas salas dos seus palá-
cios, estes autócratas fàcilmente ée sentiam uma nova 2
espéciede deuseshoméricos, isentos da labuta e con-
dição dos míseros mortais situados muito abaixo deles. A concorrência destas diferentes forças que ajudaram
Nada do que fosse susceptível de aumentar esta distân- a estruturar a sociedadealemã deste.século e a sua vida
cia deixou de ser utilizado. intelectual, deu origem a um novo tipo de homem que
Era esta a atmosfera em que uma nova maneira foi o chamadoa levar entãoa .culturaespiritualalemã
de encarar as coisas e novos objectivos da vida se a um grau mais elevado. As proporções em que nele se
foram formando, de modo que aos súbditos oprimidos combinaram os elementos antigos e modernos foram,
nada mais restava do que habituarem-seà obediência porém, muito ..diferentes, sendo dessa combinação..que
submissa e silenciosa, apreendendo nela a arte de, para veio . a depender afinal a sua individualidade definitiva.
conseguirem alguma coisa das 3oo Cortesalemãs,terem Nos grandesmestresda música sacrapredominou o
de lhes dirigir a cada passo toda a espécie de pedidos elemento eclesiástico e religioso. Moscherosch e Grim-
de protecção,recursos e representações. Mas ainda um melshausen continuaram relacionados com a literatura
outro aspecto desta situação merece ser focado. Além popular, . embora estes escritores se tenham .já inspirado
das grandes questões religiosas que até então domina- também na cultura profano-erudita..Opitz, Fleming,
Gryphius revelam um melhor equilíbrio entre a orienta-
\
As personalidades
de que acabamosde falar come-
realiza, pois, neles um progresso considerável. A Reforma
çaram por se propor na literatura e na poesiaum objec-
tinha regressado,como se sabe,à simplicidade da emo-
tivo bem determinado. Dentro da poesia renascentista
ção religiosa. Esmagara o sistema objectivo dó'pensa'
mento eclesiástico.mas tornando o indivíduo de novo europeia foram elas quem procurou conquistar para o
indiferente perante o mundo e até inclusive (por culpa
povo alemãoum lugar, que ele no seu atraso não tinha
ainda obtido, com obrar de imorredouro valor artístico.
dos reformadores) . indiferente às mais justificadas exi-
Nisto deviam, porém, deparar com dificuldades extraor-
\
nas tradições do ambiente. E a tendência do primeiro da Espinha, da Franca e da Inglaterra. Havia em volta.
rei da Prússia para reunir em torno de si uma socie- delas, a -alimenta-las, uma reflexão fortemente desen-
dade de artistas, filósofos e historiadores, logo teve de volvida sobreas coisas do mundo e da vida. Os seus
ceder o passo no reinado do filho, a outras necessida- fundamentos estavam numa prosa nacional. Na sua
des práticas e mais urgentes,bem como a um espírito linguagem poética, exprimia-se uma diferenciaçãosubtil
gemi-bárbaro, meio-pietista. Eram estas as razões por dos sentimentose das concepçõesobjectivasdas classes
que naquela época não podia aparecer na Alemanha dominantes. Na Alemanha, nenhuma .sociedade culta
uma duradouraforça de criaçãopoética.Espíritossubtis dispunha do vocabulário necessário para a conversa-
como Opitz, personalidadesimportantes como Fleming ção e exposição elevada de quaisquer assuntos,para
e Gryphius, um elevadoestro poético como o de Grim+ a expressão de quaisquer paixões sublimes, para a
melshausen, lograram, é certo, alcançar fama e atrair.o graça do estilo poético, selecto e elevado,acima da
interesse dos contemporâneos. Mas existia em volta linguagem popular e corrente. Para satisfazer as exigên-
deles uma barreira oculta, que nenhuma vontade nem cias do verso e da rima, as palavrasabreviar'am-se
ou
nenhum talento eram capazes de derrubar. Mesmo às ampliaram-se sem escrúpulos. Assim, mesmo na leitura
mais altas personalidades faltava aquela mobilidade de . Fleming e Gryphius, é mister eliminar constante-
fácil do sentimentoque só pode ser um produto da mente as imperfeições da expressão linguística, estando
vida e da sociedade, das fundas emoções e da profunda por isso estes autores hoje quase totalmente perdidos
compreensãodas grandes existências, tanto na história para nós. Na prosa, a imitação dos antigos originou
como na actualidade.A sua imaginaçãocriadoraestava os períodos extensos, enquanto que a influência dos
como que coagulado, presa em esquemas, e era por isso modernoslevou às mais extravagantes
misturasidio-
l incapaz de se elevar até à complexa totalidade da exis- máticas.
t Por isso era natural que o movimentoliterário que
tência humana. As suas criações, envolvidas na atmos-
fera dos gabinetesde estudo e das Igrejas, cheiravam durante a Guerra dos Trinta Anos se iniciou, nomeada-
K a mofo.
O que mais saltava à vista era o lamentável estado
da língua alemã. Esta tinha uma incomparável capaci-
mente entre os funcionários letrados, eruditos e clérigos,
começasse
por se esforçarpor uma reformada língua
e da arte da versificação estreitamenteligada com ela.
dade de expressãopara a intimidade da vida religiosa. Para esse fim, teve de recorrer à imitação das literaturas
Mas que atraso na prosa filosófica, na discussãoe estrangeirasjá formadas. Weckherlin que foi buscar ao
reflexão livre e fluente. e em todos os outros recursos estrangeiroa nova lírica artística, foi o primeiro a intro-
que exigem as formas da vida sociall As literaturas duzir na literatura alemã a linguagem forte,.repleta de
europeias modernas estavam condicionadas pela exis- vigor, a estrutura dos versos e das estrofese o aparato
tência de distintas d//e.ç nas capitais e Cortes da ltália, mitológico da poesia renascentista.Em Heidelberg, sob a
l
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LEIBNIZE A SUAÉpoCA 75
iões fortes e múltiplas que tendem naturalmente a Mit dem jrühen Tag entsteltt,
encontrar a sua expressão na melodia dos versos. b Mlit ihm waclat.
Apreciou a música, mais afim do seu talento, e numa Mit ihm scheinet, mit ihm cachet,
das suas odescelebrou o maior músico seu contempo- '!
So auch mit ihm untergeht.
râneo, Heinrich Schütz. A ânsia de aventuras levou-o f
a países longínquos. Abria a alma a todos os aspectos KLeine Tochter, sei nun selig,
do mundo. Levou uma vida rápida, quaseimpetuosa, l U7ã zewchans azch stets attmãhtich
que cedo o consumiu. Os sentimentos expressos nas Naco dir auft ?ü himmelan,
l
suas canções já não são classificáveis pot categorias;
acham-se antes compenetrados e amalgamados dentro Diesel Korb volt Anemowen,
de uma concepção , coerente e grandiosa do signi- Der der Frost stets solauerschonen.
ficado da vida. Resigna-se como Walther von der Streuen i aufdeine Glmjt.
Vogelweide : Schlaje rithsam in dem KÜ,hlenl
Um diclt her solaewig spielen
üV'ett, gute Nacltt, mit aLlem deiael+t 'Wesen Die gesutüeMaiezluft.
Gehab ãich wohl!
/on jetzt an schming ich mica, O sentimento estóico da vida, porém, tem a sua
Frei, ledig, los, }toch {Lbermica wnd diclt.
expressão suprema no poema Zl# i/ me.fmo(H Sü41
cujo título já por si lembra a obra imortal de Marco
A vida afigura-se-lhe mais fugitiva do que os relâm- A.urélio. Num grande gesto poético, desfaz-seaí de todas
]1
pagos: tudo é o mesmo que nada, e o homem é a som- as vaidades e de todo o efémero, sendo desse esfumado
ll
bra deste nada. A única coisa que perdura é a inspiração nevoeiro que depois tiram a sua origem todas as coisas:
do bem supremo, para além da alma: só esta eleva e t
enriquece a vida. A maia profunda expressão poética Sei denzoch unnerzagt, gib deznoch anuerLoren,
deste sentimento da vida, constitui-a talvez a sua poesia Weich keinem Glücke nicho, stelt hõhr ats der Nela,
sobre a morte duma criança, ocorrida pouco depois de \rergnügedica ün dir, K?ü achaesfür hein Leia,
nascer :
Hat sich gteich widerdich Glück, Ort und Zeituerscllmoren.
Was dica betrãlbt u,nd tabu, Itatt ütles fila erkoren.
yst's denn sclzon 'lieder uertoren }
Nimm hein Verltàzgnisün, masselles uzbereut.
X'ar es doer küu,m erst geboren, Tu, wüs getas mass seio, wnd eh man dias gebewt.
Das geliebte schõne Kiltd.
Wüs du, noch}toJJenkannst, das witd wochstets geboren.
Es .mar wie dcts Blllmclwn Tauselüschõn, dcts l
Wctsktagt, was tobt maz doch} Sem Unglãlcku?üsein Glilcke
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lst ihmt ein feder selbst. Scltau alce Sachenan. A mesma cosmovisão se manifesta ainda na lírica de
Dias ares ist in dir. Lass deinew eitlen Wahn.
Gryphius. A vida deste é, porém, ainda mais afectada
:J+tdeh du jõrder gehst, se geh in dica zurücke.
pela guerra, pelas devastações e epidemias, pela falta de
Per seàn selbst Meister ist und sich beherrschelt kann.
interesse nacional na poesia, e mais sinistra é a cor
Dem ist die uleite WeLt u.td ares untertan.
dos seus sentimentos. Mas mais complexa, concen-
trada e poderosa é, por outro lado, a sua personalidade.
Desta soberania da personalidade bem segura de si A expressão
da lírica de Gryphiusé umaenergiacon-
mesma é que decon'e o seu estilo grandioso que, com densada, sublime, transbordante de imagens, só compa-
todo o vigor, se manifestano epitáfio por ele feito para rável ao estilo baroco. A sua forma é duma perfeiçãc>
o rei Gustavo Adolfo da Suécia, bem como naquele singular. -Também não se abandona, como Fleming,
que para si mesmo escreveu no leito da .morte. Daí
às múltiplas impressões da vida, e os seus versos care-
promana também aquela liberdade de alma que ale- cem da fluência musical.
gremente se entrega a todos os momentos vigorosos da Num soneto .dirige-se às estrelas, exclamando que
existência terrestre: à pátria, à natureza,à amizade,à perdeu muitas noites acordado, contemplando-as:
glória e ao amor. Para ele como para todos os grandes
líricos, em geral, o amor é o grande foco da poesia. Herotden diesel Zeit, wann uird es doer gesckehen,
E aqui são igualmenterealidadesbem vividas que nos mass ich euch.
apresenta;aí, o vigor são e sensualconfunde-secom a Von avderlt Sorgen frei, mera enter mir besehen}
nobreza e a lealdade moral. É esta, aliás, a forma própria
da sua lírica. Como em Gryphius, Paul Gerhardt e outros As quatro poesiasnas quais nos descreveas tonali-
poetas menos importantes da época, a sua expressão é dades característicasda manhã, do meio-dia, da tarde e
sincera e realista. Não se limita, como a poesia do classi-
{
Calam-se as aves; por toda a parte reina uma orgia da mas muito desenvolvidas. No gi'upo de Kõnigsberg, des-
luz. Que descriçãoda hora em que o poder inexorável taca-seo talento lírico de Simon Dach que liga à poesia
da luz faz parar o mundo, emudecertodos os sons, artística opitziana um elemento popular de simplicidade
e intimidade. A música e a lírica estãointeiramente conl-
paralisar todos os movimentos ! T--A tarde l
penetradasuma na outra. Como em Fleming,que é
Der schneLle Tag ist hin \ die Nacht scttmingt ihre Fcthn quem mais se aproxima dele, há ao lado da serenidade
uma profunda melancolia:
Und jührt die Sternen auf. Der Mezschen 'mildpe Scharew
V'erlassen Fetal un(l Werk; 'wo Tier und Võgel mares,
T?aurt itzt die Einsamkeit.Wie ist die Zeit 'oertün\ Wie ein Schaumt aufwitder FLat.
Die die Witü erlteben.
Gleich wie pies Licht 'uer$tet, se 'wird in 'wenig yahren
Wie der RciwchuoTZenter Glut.
lch, da, und 'was man tmt ulÜ wüs man sieht, hinfahren.
So uergeltt mean Lebelt.
)
S2 l,EIBNJZ E A SUA ÉPOCA
LEIBN]Z E A SUA ÉPOCA 83
l
l
84 LEIBN[Z E A SUA ÉPOCA [,EIBN]Z E A SUA ÉPOCA 85
prezar a sua importância. As suas ficções desenvolveram seriedade alemã, religiosa e moral. O poeta viveu como
.il
l
a fantasia. Neles ia tomando forma a poesia narrativa. outros, igualmente filhos da Guerra dos Trinta Anos.
l Ensinaram a tornar a narração mais interessante com os sucessoshorrorosos, em que todos os destinos indi- l
enredos e desfechos. Ligavam grupos separados numa viduais se .acharam dependentes dos da nação. A sua
acção comum; contínua. Tornaram-se um elo importante posiçãoincomparávelna literatura alemã do séculoxvn l
l na cadeia entre. Fischart e Wieland.
está determinada pelo facto de ele próprio ter sido sol-
Este romance artístico, porém, desapareceupara dado, de ter assistido a todos os acontecimentos e vivido
sempre. O S/mzp//çlsizmwi, de Griinmelshausen, pelo todos os sofhmentos àue descreve. O seu génio narrativo
contrário, continuará vivo até aos nossos dias. E o pri- pi'oduziu o quadro mais verdadeiro e ompi'essionante
meiro romance alemão de costumes. Continua a arte
que se podia desejar daquela vida da soldadesca selva-
narrativa popular que já prosperava com Hans Sacha e gem, da sua brutalidade e imoralidade, dos seus prazeres
Fischart, e cujo ambiente foi ainda o de Lauremberg, violentos na luta quotidiana pela existência,da suafuti-
Moscherosch e Schupp. Todos estesautores encaram o lidade e desesperos bem como dos sofHmentos indes-
mundo com sinceridade e realismo, repletos dum prazer critíveis da população e da ansiedade destes homens
humano e livre; O seu nacionalismo leva-os a ambicio-
pela solidão e pela paz. Esta vida e as suas emoções
narem exercer uma influência sobre .avida do seu povo. flzeranl nascer nele uma concepção exclusivamente 'sua
Assim, o seu teor é, pode dizer-se,didáctico. O escâmio, do significadoda vida, nisto se elevandoacima de todos
o humorismo e a fê indelével no povo imprimiram ele- os seus modelos estrangeiros. Embalado pelo acaso,
vada harmonia ao seu estilo realista,vigoroso e muitas tornado um .joguete da fortuna, ora malfeitor, ora ben-
vezesberrante. A linguagem era mais pura, o sentido
feitor, perdendo ou desperdiçandologo aquilo que uma
da composiçãomais afinado. Mas o S//nP/fc;/s.ç/mx.ç foi vez adquiria, disposto sempre a novos feitos e novas l
l o único que chegou a criar nestasbasesa nova forma dores, o seu protagonista evolui da ingenuidadejuvenil
do romance de costumes, não tendo antes de Wieland
do simplório inocente (como já o próprio nome"o diz)
sucessor
queo igualasse.
O seumodelofoi aindaa até chegar a uma filosofia que acabapor Ihe conferir
arte narrativados espanhóis,que produziu o romance uma posição característicaentre estesdois extremos: o
picaresco e aventureiro. Como este, a sua imitação alemã gosto de vivei' e a renúncia à vida. Talvez que estasín.
compõe-seigualmente de aventuras sigulares. Assim, o l
tese de gozo profano e grosseiro duma geração impetuosa
mundo apresenta-secomo domínio do acaso. O poeta e nostálgica
da paze da solidãono protagonista
do
contemplaas ladroíces,tanto entre as altas persona- ]'omance,exprima de facto a mais genuína característica
genscomo entre os vagabundosà sua volta, com fere, da mentalidade da época. E o própl'io poeta assume uma
nidade e até cheio de uma irónica e risonha satisfação. atitude igual à do seu prQtagonistq:: uma atitude de herói.
Mas esta diFposiçãamental alia-se a uma profunda Leva-nosa vivermos com ele o carácterproblemáticodo l
l
86 LE[BNIZ',E A SUA'ÉPOCA LEIBNIZ,'E A SUA ÉPOCA 87
mundo. Toda'uiaparece que o contraste:entre a relógio: satíricos .do excelente pedagogo Christian \Veise dão-nos
cidade cristã e a,nova consciência profana não se resolw uma moral trivial. Nos seus -Dré'/ãrgs/e#.Erz7zae
l nele numa unidade tão harmoniosa,como aconteceem rOS frêç .?zoreJarg z/o/os), porém, encontra-se uma dis-
Gryphius, ou, embora duma maneira diferente, em Ange- posição alegre, imaginação sã e linguagem natural e
lus Silesius. O seu coração divide-se entre o homem do fluente. Aqui manifestam-sejá os elementos para uma
l mundo e o asceta.A sua imaginação oscila entre pro- continuação do romance de aventuras e. viagens, em
fundas visões da vida dum alemão, que às vezes lem- que se dá o encontro com homens curiosos,já em estu-
bram o Parxzuzz/, e a poesia mais genuinamente alemã das, já em diligências e estalagens.Os PzZ,êa,Ü.ê
/)aperJ
da paz florestal (a canção popular do ermitão: -Kbm#z de Dickenssão a supremarealizaçãodestegénero.
7}asf der l)}'e/f,o NacZz/zka//)e, por outro lado, um caso
de sensualismo. e brutalidade selvagem. Quanto à forma,
também a linha ârme duma evolução se acha constan- 5
temente perturbada não só pela leviandade com que se
abandona a qualquer sugestão da sua ardente fantasia, Na literaturaeuropeiados séculosxvi e xvn o'drama
como pela inclinação,.própria da época,por tudo o que foi, como é sabido, o herdeiro da epopei%na sua apre-
é estranho, colorido, informe e baroco. Assim, este sentaçãomais concisa, conscientee profunda, tanto do
romance é, pode afirmar-se, o imoredouro monumento grande mistério da vida humana, como das relações
poético daquela época brava.e confusa da qual o povo que se dão entre o carácter, a acção e o destino.
alemão, embora muito a custo, teve de sair. Na Inglaterra, na Espanha, depois nos Países-Baixos.e
A poesia narrativa no estilo do Sz/m@/üzsszz#wi
con- por fim na Franca, o drama acompanhou a época da
tudo continuou a acompanhar o romance cortesão, grandeza nacional e da elevação de nível da existência
Grimmelshausen acabou por contar as viagens aven, social nesses países. Em cada um deles, o drama foi, com
turosas do seu protagonista,que desembarcanuma ilha efeito, a expressãosuprema da cultura nacional. É muito
paradisíaca,onde se instala, qual primeiro Robinson característicoque os italianos e os alemães--as duas
alemão. Daí por diante, os romances de viagens e estas nações que precisamente não possuíam ainda nem
robinsonadas estiveram muito em voga, até acabarem um Estado.unitário e progressivo,nem uma capital
U por provocar uma paródia feita por Cristiano Rentera centralizadorada vida nacional--também não tenham
todo esse género literário (as viagens do valente ScZze/- conseguidonaquela época desenvolver a arte do grande
;#ze,(X=ê7)
na qual, sentado estenum canto do seu quarto, drama em criações definitivas. Nestes dois países, toda
inventa as maiores mentiras a propósito das suas aven- a energiada arte que actua atravésdo tempo, da acção,
turas em países estrangeiros, qual um génio da.mentira, do som e da palavra, concentrou-se, por assim dizer, no
só comparável ao Barão de A'lünchhausen.Os romances drama musical, ou seja, na ópera.
88 LEIBN]Z E A SUA É?OCA
LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA 89
própria vida.
influência permanente.Dele pode dizer-seque surgiu e Esta sua posição perante o problema da vida basea-
desapareceu como um meteoro.
va-se na relação íntima das suas emoções espontâneas
Andreas Gryphius nascera em i6i6, ano em que com a influência da literatura neerlandesa.Gíyphius
Shakespeare faleceu. Filho dum pastor protestante da chegou cedo a conhecer, em Leyden, a vida intelectual
90 LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA
Lxinxrz'E A suA Época
realistas e em parte cómicos, a contrastar com a nobreza alemão transitou para o estilo natural. Pela acção que
das personagensprincipais. A comédiaque dela mais se sobrepõe às palavras, pela vivacidade realista e
se aproxima é O Ja /asma a/zor.zda. Nesta, inteira- pela engrenagem espontânea.do diálogo em prosa, no
mente à maneira do drama da Renascença,faz-se a l jogo ligeiro de palavras e pensamentos, na dialéctica
paródia das aventuras e divertidas complicaçõesda vida lacónica, W'esse foi um precursor da linguagem drama.-
da gente importante, utilizando um enredo semelhante teca de -Lessing. Mesmo aqui, porém, o objectivo didác-
de cenas passadas com a criadagem, ao mesmo tempo tico e o $eu satisfazer-se com a áurea mediocridade para
que aos enganosamorososdas altas esferassociaisse efeitos pedagógicos, são pouco compatíveis com o pra-
contrapõeuma peça de vilãos que faz justiça a uma zer estético.
concepção natural das coisas amorosas, ou que inclusi- A decadênciado drama alemão está intimamente
vamente a despreza. Na 6e//fó/e .Oarmro.fé, (Ra.ça a#?r/da,} relacionada com a ascensão do drama musical. Nunca
qüe segueum modelo neerlandês,revela-seum aspecto foi capazde se afirmar ao-lado do seu irmão musi-
inteiramente novo do génio do poeta. O estilo neer- cal. O. drama musical foi a criação mais original da
landês, o realismo dos caracteres, o humorismo e par- Renascença,
tendo a sua origem na grandee nunca
ticularmente a graciosa serenidade que tudo invade. satisfeita aspiração de fazer ressurgir o drama grego.
ainda hoje garantiriam a estapeça um êxito seguro no mesmo tempo, satisfazia também a aspiração da arte
teatro. O Har ió//ürzónÍ#az, que é uma autêntica comédia do Renascimento
já adiantado,no sentidode explorar
i'enascentista, é de invenção inteiramente original. Dois esteticamente, até os esgotar, todas as paixões e afectos
fanfarrões guerreiros, concebidos no estilo do teatro humanos, chegando a criar' os tipos mais claros e impres-
i'omano, um meticuloso mestre de escola e unia velha. sionantes de certos estados mentais. A ópera italiana que
alcoviteiro. aparecem aí, e entre eles há ou perpassam correspondia a esta exigência, vinha ainda, ao mesmo
tatnbém. pares de namorados de feições vagamente tempo, ao encontro também das preocupações mais vivas
ideais. E a mesma composição dum mundo confuso. das novas Cortes, satisfazendo a sua ânsia de festividades
H como na comédia shakespeareana.. Mas, em geral, õs e espectáculos faustosos, de representações e bailados.
gracejos não deixam de ser frios, monótonos e duros. :'
O homem cortesão descobriu aí um reflexo da sua pro:
Depois.de Gryphius, o drama alemão decaiu cona.: pria vida Eram os galanteios,a conveniência,a discri-
tantemente. É verdade que Lohenstein continuou a ção, e sobretudo o prazer da posse,a volúpia dó gozode
U
seguir a orientação de Gryphius, no sentido do drama si mesmo ao sentir o seu poder vital e a sua importância,
histórico, como imagem da vida contemporânea dos. nos grandes gestos dos reis, dos generais e das grandes
príncipes e dos cortesãos ; idas nestas acções políticas, damas.Ora esta ópera italiana não podia deixar de
i'omanas e turcas, o estilo histórico-dramático ficou
causarviva itnpressãona Alemanha,ondea língua,a
submerso em sangue e volúpia. Com Weise, o drama, arte de versiâcar e o estilo ainda não eram capazesde
#
l
T
96 LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA
LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA 97
l
l exprimir esse mundo requintado dos sentimentos das kiramade Gryphiuse do despertarda música,por um
classesprivilegiadas. Por isso a revelação desta menta- lado, e a filosofia de Leibniz pelo outro. O novo sellti-
lidade profana, através das novas formas musicais de mento do significado da vida e a hipostasiaçãodo senti-
uma absoluta beleza sonora, provocou aí entusiasmo e .#
mento místico duma determinada ordem de' fenómenos.
até êxtase. Em Viena, Munique, Dresda e finalmente bem como :a tendência para ver na música uma expieé-
em Berlim, so6 o grande Rei, e ainda em muitas resi- são das.mais altas revelaçõesda vida, tudo isto foi
dências mais modestas, construíram-se teatros.de ópera. levado por Leibniz à consciência filosóâca e posto em
Gastaram-se quantias fabulosas com cantores, cant(i- relação com os supremos momentos do passado religioso
ras, bailados, decorações e máquinas. A música pro- e filosófico do povo alemão.Daí.partiu uma nova visão
fana de câmara desenvolveu-se igualmente nas Cortes. metafísica do universo que irradiou luz sobre todos
Naquele tempo, a música tornou-se mesmo o alimento os sectores da vida intelectual alemã. E tão penetrante
espiritual de Viena, suprindo o alimento intelectual e transcendente era esta visão, que foi preciso quase
recusado pelo Catolicismo. O brilhante teatro de Ham- um século para ela ser inteiramentecompreendidae
burgo, acabou por se abrir igualmente aos músicos aceite. Da mesma maneira que Descartes imprimiu à
sua
alemães. Aqui, o drama musical alemão atingiu o seu õtientação ao génio francês, e Loclçe ao inglês,
auge com Reinhard Kaiser. A sua força residia na Leibniz foi na sua época, pode dizer-se, o verdadeiro
expressão directa, verdadeira, do sentimento. Desse dirigente da cultura intelectual alemã.
génio despreocupado,
que só para o momentovivia. A crença numa ordem baseada num sistema de
dimanou toda uma inesgotável torrente de melodias do 6ns da divindade:ligando todas as partesdo universo
mais âno ouro. Abundaram os talentos musicais na físico num' sistema mecânico, é, sabe-se,comum aos
Alemanha. Estes compositores alemães tentaram afir- pensadores mais influentes da época, tanto a Descartes
mar-seem concorrênciacom a ópera italiana que entre- como a Locke, a Newton como a Leibnizl Nestes espíri-
tanto degenerava no ambiente de sensualismo das tos Superiores, cuja actividade e optimismo visava o
Cortes, e foi um alemão, Hândel, quem acabou por supremo bem do mundo, a cone(;pçao mécanista do
ser aqui o herdeiro dos antigos e mais severos mes- universo estava intimamente relacionada com a crença
tres italianos.
num ser supremo que consta'urraesta máquina po}
forma a ela produzir o máximo bem. Esta nova con.
6 cepção teleológica distinguia-se? porém, por completo,
dos conceitos de finalidade e da teleologia reinantes
desde a Idade-Média.NÕ lugar dos'pequenos actos
É indiscutível a existência de uma relação entre a intencioila.is, isolados e caprichosos, de Deus, aparecia
lírica dos Fleming, Gryphius e Angelus Silesius,do ago.ra a ideia de uma ordem única do universo. de
7
/
'T
l
:)8 LEIBNIZ B. & gVÁ ÉPOCA
LE]BNIZ E A SUA ÉPOCA 99
l
l
significação teleológica e estrutura lógica, e determi-
nada por leis. Assim, o conceito dum Deus antropo- Cxliação e .o .ÇÊntro eH volta do qual tudo .mais gravita.
mórâca era substituído por uma ideia mais elevadada Pçntro'deste :ijmensoTodo' todas as partes têm um }im
acção divina, deduzida da inova concepg?g..yê.ordêh l próprio .,e-espééíHco.' A pÉistêiGia'gu u ma força 'que obe-
ce'F lei (jüe ltG é :imanente, a .da !'!olução, sendo no
l do universo. lata implicava uma revolução...completa
de todas as ideias religiosas. A. fórmula que agora próprio desenvolvimento que reside a .felicidade deütoáos
o$ seres vivos. O presente não ,tem a {pnção de éeriliÉ;o
melhÕi='"traduzia "êste relação entre Deus :e o muódó,
já a encontrara Desêartes;.. Leibniz apenas a desen-
l futuro; um ier não v'ive' para:''jservil'
.z\- '"...'''ás
.' :: :Todas
outros.
volveu. Entre..og.jnúmerós mundos possíveis, Deus existências :contêm uma possibilidade de chegar' g gozar
escolheu'àquele qug.et'a melh or.. Orientando-se, poi'ém, do .seuvalor próprio plenamente.Assim, a l)eríeiçãodo li
Deus, nesta escolha, pela ideia do bela supremo,Lei- mundo consiste no facto de nele :se poderem realizar
bniz não considera tal 'escolha :lide, mas determinada todas as existências in:dividuais e. .todos os graus de
por uma espécie.de matemáticadivina, e portanto pór valor e felicidade possíveis em qualquer mundo. O mundo
existe porque nele existe .e se :dá a' .!nãxima plenitude
':''' ê
uma necessidademora/, que não física. Deste nodo,
riquezade.Vidapossíveis. ' ' " .: ' 'l
l as grandes leis da Natureza,'nomeadamenteas da con-
t.
servação da energia e sua permanência, baseiam'se Mas ,esta . filosofia evoluíra, desde a Renascença,
numa vontade intencional, na sabedoria e bondade de partindo de dois momentos bistóricQS Capitais ' ::'':'
A arte e :8i poesia ti ham ' Contribuído
' ''.; para tornar
Deus. Nesta ordem de .ideias, Leibniz desenvolvia já,
l
embora: iqpidentalmente, o 'princípio das «acções míõi-
mas>> que Maupertuis, mais tarde, 'tão ruidosamente
mais consciente a beleza..da realidade. .Com.efeito, duêin
não sentia.naspinturas da primeira.Renascença
o nova ! 3
havia de proclamar. E fossem quais fossem as modiâ- amor ..por .:todas as .existênci?s individuais," pór florbli';e
caçõesque depois os conceitos leibnizianos vieram'a arvore.s,jardins e paisagens, pela .vida da luz, o"ehÍlanto
11 sofrer, o certo..éque a-ideia de um Deus que intervém no da primavera e .o perfume das djstâncias? .E mais fundo
mundo é na vida humanapor meio de actos isolados e
vibravaaindaasensi
)ilidade
'; ' ":' ''""
da arte alemã perante: Ós
l res ;estéticos de toda a espécie. de existência indivG
arbitrários desapareceu, por completo, de todas as cabeças
com alguma formação científica. Essa ideia foi suplantada Esta orientação:não tinha por base, note.se, um
pela de uma sabedoria divina que, orientando-se por leis, simples esteticismo. '0 sentido do pitoresco estendia=se
se manifesta na própria ordem do universo. às novas esferas de tudo aquilo que .eii susceptível de
ser :representado.
Esta nova concepção do mundo trouxe consigo '1
também a ideia de uma posição 'inteiramente diversa No mesmo sentido actuava a transformação operada
do homem perante .o üniterso ej:a gua causa divina. na imagem do mundo pela interpretação científica.Bruno
Nega-sea doutrina que afirmava ser o homem o fim da já :extraírade Copérnicoa idda .de inúmeiiÕ;fundos
espalhados pela : imensidade do éter, para 41ém .do
100 LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA LTCIBNIZ E A SUA ÉPOCA 101
nosso sistema solar. O telescópio acabavade explicar de centro do mundo, à visão da inteligênciae do amor
de Deus que imprime em todos os estados do nosso
a via-láctea como a luz conjunta de infinitas estrelas. E na
Eu o selo da eternidade.
época de Leibníz, o microscópio descobriaenfim inú--
meros seres vivos que se movem na mais pequena
!
t
Pois bem: Leibniz foi quem deu a mais universal e ao
parcela da matéria, aos nossos olhos insignificante e mesmo tempo a mais reflectida expressão a esta mesma
morta. O universo deixou.de .tet' um centro; parecia mentalidade. O seu penetrante espírito germânico con=1;''1 }
que iniciaram o esplendorda nova filosofia. Kepler,g tanto para a evoluçãonlterjQr.da religiosidade ocidental,
Galileu e Descartes,os condutores do moderno espírito g depois da (los autores ga Reforma e do Iluminismo-O pro-
científico, eram os contemporâneos de Velasques,Rem- = blema deste livro preocupara-o através de toda a sua
brandt e Murillo, de Calderon e Corneille..A vida estaval= vida. Sabe-seque ainda quando rapaz tivera já a curio-
como que repassada do subtil perfume que a Renas- Ê: sidade de ler os melhores escritos polémicos sobre a
vença italiana exalava. Assim, a mentalidade filosóâca q liberdadehumana, o Ma] físico e o moral. ]SierreBayle, tf'
famoso
'-. -- - pela sua neg '
ão..de-toda a fé Bt.!azão. : :
pro-
de Bruno, Kepler e Galileu é igualmentedominada pelo.b
número e pela medida, em íntima ligação com a ideias. l porcionou-lhe para o seu tema todos os pontos de onde
de uma harmoniainefável do mundo. ParaBruno, oS a discussão devia partir. Com a sua amiga, a tainha
universoera a razãodivina desenvolvidae era comoj= Sofra Carlota, discutiu em cartas e durante a sua estadia
e[a infinito. Na desva]orização da aparência sensível, naÊ; no castelo de Liezenburg, as principais afirmações deste
astronomia coperniciana, via ele um símbolo do pro-ê grande céptico. Foi esta a origem dos estudos que cons-
cesso religioso-moral pelo qual o centro das nossas tituem a base da sua Zrodzcezz. A rainha exortou-o a
percepções e finalidades se desloca também .da nossa concluir o livro. A morte desta e outras circunstâncias
própria personalidade para o universo. Galileu disse retardaram a conclusão do trabalho. Quando Leibniz H
um dia que o julgar-se o homem o alvo de todas as acaboupor o. publicar, Bayle tambémjá não existia.
atenções divinas na natureza só seria comparável ao Ele próprio tinha já 64 anos.rO livro era o resultadcÍ]
pensamento de uma espiga de trigo madura que ima- 'iíiããüiõ das 'investigações-ae toda a sua vida; a jus'j\ l
ginasseterem sido criados.apara
ela os raios do sol. tiâçaçãojilã''fé" racionalilt©cóTíil.a
E tambéma obra principalde Spinozaa outra coisa .yam\-nomeadamehté éonti'a-B:iyli"que"apresentara
não visava senão a elevar o homem da sua posição
1. a~Jlazão e a religião cabo inimigas'-entro-sí'Assumi
102
LBIBNIZ E A SUÂ ÉPOCA
LEIBNIZ E Â SUA ÉPOCA !03
l porque entre todos eles é o que:;contém o máximo estético. Leibniz 'absolve e justifica, portanto, a imper-
feição-nb .universo, como o esteta ã absolve e juitínba,
lle perfeição.Todos .os argumentoscom que Léibniz chamando-lhe .g..feio, na obra de arte. A beleza e o
fiéfehdê' ééta afirmação contra o céptico--Bay!% redu- brilho realçam-se perante estes contrastes, como a luz
zem-se a poucos e simples postulados. Seria pdr parte em presençadas trevas. As..diêsonâncj4ssão o meio
da divindade prova .de grande fraquezarepetir moaê)-
tonamente a lesma perfeição nümá só espécie de seres. -'t.#:gge89--g.wdÜÉ.b,-«ãü..Á'$iÜ®;'R
A perfeição infinita do ser supremo
' ' exprimir-se l variedade,que é a lei dg:mundo, é ao mesmotempo
; só pode
o princíoio fundamental dg...belo. E este poder da sen-
o..conjunto de todos os graus é todas as espéciesde /sibilidade estética de Leibníz manifesta-se 'a cada passo,
#, eras do universo.:.A todas aé.l)riatui'as Deus ímprimé embora sempre com aquela comedida reserva que a
uma perfeiçãoprópria que Ifies confereum incohfuii-
dível valor' individual ; existeih sd para realiza-la. Como sua posição perante as ciências naturais do tempo Ihe.l
impunha. .Assim é ele quem, uma vez, nos diz: «a
efeito $ingulai::gaDitQ.da:caugd :iupr!!wa, porém, a per-
feição que lhes é inerente tem necessàriamente' dé ser beleza .da natureza é tão grande, e a sua.gontçlnplação
ou qualquoi''outra pessoa. O importante é que.neste Mas, esforçando-se por integrar nesta sua nova íilo-
ponto..,go.universo.. alguém..!uportQ.determinadas-des- soíia religiosa certas ideias cristãs de uma ordem inteira-
vantagens, imperfeições e males, nãcLjglpQrt4ndQ.. o )'
mente diferente de noções, Leibniz afinal pagava também
indivíduo que os suporta. Assim, a inteligêncialeva X
da tradicional ideologia cristã. Tal tendência apoiava-se, e ã Bíblia. O supremo fim da Criaçãodo munidoao se'f-
l de resto, no forte interesse prático que Leibniz e outros
viço .dol homem estava,em seu modo de ver, precisa-
filósofos do século xvn tinham na tlênsform4çãodo mente no reconhecimento e adoração de Deus por parto
dogma Dele.siástico. Nã o se tl'atava de nenhuma '' espécie
' ' +
9
do mesmo homem. Nesta crença religiosa-racionalista se
de interesse intelectual ou do sentimento religioso, e Inspiraram os grandes teólogos da época, como Baum-
contudo as suas preocupações coO .a trênsubstancia-
ção, a Trindaãê''ê"lõi"castigos infernais também não garten.emHalle.SÓsob a influênciado deísmoé que
,}.
Antes de mais :nada, abordou o problema metodoló- pi'ios, oê sinais dos géneros combinatórios podem depois
gico e imprimiu-lhe uma .orientação importante. Ampliou representara própria ligação dos conceitos.Nestalingua-
4 lógica aristotélico-silogística, generalizando e integi'ando gem universal a combinação dos símbolos :correspon-
na lógica os métodos matemáticos mais transcendentes. deria precisamente às relações objectivas dos conceitos.
a princípio limitados só a relações quantitativas. Deste f Ela poriaâm à indeterminação
e arbitrariedade.
da ter---x
modo, surgiram assim as linhas fundamentais:
.duma minologia filosófica e seria,igual à linguagemSimbólica \
lógica qlp abrange todas as relações gerais .do pensa- da matemática,
tornando-secomuma todasas nações. l
mento, Subordinando-lhes as do número p :do ..espaço. Nenhum outro pensador da época deu, como .Leibniz, J
.o ;passomais importante dado pela lógica:desde realizaçãotão consequente
e genial ao ideal de remo-
Aristóteles. S.ó agora a ,categoria da relação chegava a delara ciênciasegundoo tipo da matemática. Na arte
alcançar o seu verdadeiro;.significadopara a teoria mo- combinatória, na característica, na ciência geral,.na matei
derna. Um primeiro.limite, porém, faz-selogo aqui notam: inática universal e no cálculo lógico, em todos estes
a .jimpossibilidade de *Leibniz :vencer por .completo a planos;'ele procurou valorizar a matemáticapara os
estreitezada silogística aristotélica. Nesta lógica geral se fins desta lógica geral e ch'egar assim, inversamente,a
funda depois a sua teoria qas combinações.quedá o inúmeras consequênciasque, por seu lado, seriam fecun-
método para resolver com mais perfeição o velho tema das também para aquela. Não conseguiu-o seu objec-
da silogísticà No cálculo .combinatória e.labç)rado por tivo. Já o primeiro:âm em vista, a apresentação
e
Tartaglia, .Cardano e .Pascal,.encontra o. tipo matemático definição dos .conceitos fundamentais do pensamento
l
dum processo que Ihe permitiria depois derivar 'com- científico em número limitado e com ;ivalidade !iuni-
pletamente
. todas:as
. . c )mbinações conceituais possíveis, versal,: era irrealizável. Estas ideias ; tiveram a sua .con-
segundo as regras :.gerais .da . combinação dos conceitos tinuaçãoona moderna lógica matemática e nas tentativas
simples..Parecia . assim ter-se conseguido,.
' ; esta
com : arte
l
para f elaborar uma linguagem universal. Mas . Leibniz il
combinatórias o . método . inventivo, ,em lvão procurado não pede chegar ao Him que se propôs e)lesta:aí a l
por Raimunqo Lulio e .Jordano .Bruno. .Prosseguindo razão pela ;qual ele Hão conseguiu sequer dar uma
nesta ordem :.de ideias, .concebeu também. .o plano duma exposição sistemática da sua filosofia.
linguagem . simbólica .universal. 6c,êarízcí? ü/üa. w?zzuezlsa-
Torna-ge-nos, contudo, possível, :,em : compensação,
/zs9. ,.«Cazacfez?.ç» chlmav& }beibniz ' '' ''--:a ';'« certas
. .' ..=''''"
coisas
)
ceitos simples, : e . expressos estes :.em : caracteres plÓ- dade e-:de diferença,' de todo e parte,l até à de função..
l
l
1.
112 LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA
LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA 113
gliU MÜã#81
relação desta sua descobertacom a sua tendênciapara
construir uma linguagem simbólica de sinais, e Gerhardt
114 LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA
LlaJBN]Z E A SUA ÉPOCA 115
mentos dos corpos no espaço,determinadopor leis. encontra o último fundamento numa exigência de inte- LJ
ligibilidade de todo o dado. Apenas com esta suposição l
As qualidades deste sistema só se nos tornam claras
se nos podem tornar compreensíveis tanto a natureza
quando ele se basear numa multiplicidade de unidades l
energéticas. «Tudo o que é activo é substância singular, da unidade enegética como a origem da sensaçãoe l
e todas as substâncias singulares são ininterruptamente da' consciência.Uma valiosa confirmaçãodestefacto.
activas». Cada unidade energética traz em si a mesma para Leíbniz, estava precisamente na circunstância de o
microscópio ter vindo revelar então todo um mundo
lei de sequência das suas modificações. A soma destas
de seres infinitamente pequenos.
unidades energéticas na ordem da natureza acha-se deter-
minada duma vez .para sempre.Eis assim, nos princípios Desta maneira, o universo deve pensar-se como cons-
geraisde Leibniz, outro ponto de partida para uma sua tituído pol' -'#zó#ada.f.ou unidades energéticasindividuais
notável contribuição para o progressodas ciênciasexac- de carácter anímico, trazendo cada qual em si a lei do
seu próprio desenvó].vimento, sem poder ser influenciada
tas. Trata-se da caminho que, partindo de Galileu e Huy-
gens,leva à descobertada }ei da ca ieruczfãada e z'fria nem destruída do exterior..A relação entre elas não é a
duma I'eal acção e reacção recíprocas: no decurso das
T
suas representaçõese afãs, as « manadas » pl'ocedem ape- elaboramos os dados dos sentidos têm a sua origem na
,nas como se entre elas existisse esta relação. O pro: pl'opria energia psíquica e estão já contidas no .mundo
fundo conceitocrítico dutna relaçãoentre os diversos das. nossas representações confusas. Tudo, porém --
elementos do universo dentro duma ordem sistemática, numa palavra -- vem a cifrar-se na posição .já descrita
e não em ligações casuais, é assim transformado pot' da. vontade perante à vida e que culmina naquela ten-
l Leibniz no dogma da «êz / a ia .prêei/aóe/eczaa».
Cada' dência para considerar enfim a alegria como a cons-
mónada reflecte o universo, como no seu lugar compe- ciência do próprio progresso.
tentemente Ihe pertence reflectir. A ordem destas móna- j'
das é determinada por certos princípios. A tendência de
Leibniz para uma extremageneralizaçãoacha a sua ex-'
pressão suprema nas fórmulas destesprincípios, nas leis
da diferença individual de todas as unidades simples, da As últimas grandes criações
continuidade, da constância da energia e da economia. da religiosidade protestante
O fenómeno, assim bem fundamentado, desta ordem
das mónadas, porém, dá-no-lo o mundo sensível e o
seu mecanismo que a ciência matemática nele acusa.
Em nenhum outro país o dogmatismo cristão se
E assim, depois de todas as aspiraçõesmonacais e manteveainda de pé nesta época como na Alemanha.
místicas e de todas as pretensõesda Renascençae dos Mas o novo espírito, cuja influência na literatura. na
autores franceses, Leibniz consegue, finalmente, achar poesia, na ciência e na filosofia acabamosde descre-
também, partindo desta penetração na alma humana, bs
ver, foi estendendo também, cada vez mais, a sua
fundamentos duma psicologia explicativa. Descobre a
influência inclusivamente aos representantesda Igreja,
sededas representações
que mal se notam no fundo entre os quais, do mesmo modo; não deixaram de
da vida psíquica. A evolução da alma é o progresso
surgir poderosos impulsos eminentemente favoráveis
que conduz deste estado das representações obscuras ao desenvolvimento da vida intelectual alemã.
e confusas ao pensamento racional e à determinação
por ele da vontade. Este progresso realiza-se através da
percepção que eleva os conteúdos da alma à clareza da l
evidência da própria consciência. Com isto, vencera-se
a distinção entre sensaçãoe razão,e o princípio da evo-
Nos países protestantes desenvolveu-se neste período,
lução passou a poder aplicar-se também à vida psíquica. ainda dentro dos confins do dogma, uma atitude reli-
Para a Teoria do Conhecimento alemã foi este axioma
giosa assazlivre. A pura vivência religiosa, a experiên-
dum largo alcance: as formas de relacionaçãocom que
cia interna, eis aí o novo método para os homens
118 LEÍBNIZ'E A:SUA ÉPOCA LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA 119
l
l
120 ].EIBXiZ ]B A SUÂ ÉPOCA LE[BNIZ H A SUA ÉPOCA 121
se não quisesseser refutado por ela. Além disso, reve- e ge projectaram no terreno da acção prática dos crer
lou-se incapaz de intervir na grande luta das forças tesa a canção religiosa mudou. também de carácter.
históricas, visto uma tal intervenção ser di6lcilmente O antigo cântico confessional transformou-se num cân-
compatívelcom os critérios dum tão miúdo e estreito 1' tico''Vde edificação. Esta evolução culmina em Paul
moralismo. O seu lado mais respeitável está na delica- Gerhardt e Johann Heennann. Era o momento ein que
deza da sua sensibilidadeética que submetiaas mais a consciênciada vida comum da freguesia,a dependên-
E
leves emoções ao tribunal da própria consciência e que cia do canto da vida eclesiástica, o culto e as festas
convidava os espíritos a um pensamentocomum e a religiosas se equilibravam ainda com as novas tendên-
um livre convívio religioso entre os correligionários cias dum maior aprofundamento religioso da personali-
dentro duma pequenacomunidade.;Assim, o pietismo dade. Ao carácter popular tradicional e à simplicidade
conseguiu -- não há nega-lo -- intensificar consideràvel- de expressãoda consciênciareligiosa em geral,.vieram
mente a honestidade burguesa e fomentar uma salutar juntei'-se no novo cântico uma linguagemmais pura e
oposição ao afrancesamento dos costumes da nobreza. uma expressãomais poética, inauguradas por Weckher-
Mas o pietismo cedo revelou a sua total incapacidade lin, Opitz e Fleming. Desse momento em diante, o subjec-
pal'a se adaptar à riqueza da vida moderna quando a tivismo religioso impôs-se cada vez mais. A canção
arte profanaalemãe o seu novo ideal de vida se religiosa tornou-se, cada vez mais, a expressão da inti-
afirmaram.
naidadereligiosa individual.- Esta abriu-se cadL vez mais
ao :misticismo. à união da al.ma com Deus. e ao amor
de Jesus.
2
Desdeos primeiros tempos que um elementomístico
vivia oculto na crença de Lutero. Este vivera sempre
O cântico sacro foi sempre, sabe-se, a suprema encera'ado dentro de uma profunda união entre a sua.fê
expressão da religiosidade protestante na literatura. e a Igreja cristã, e a sua intimidade com Cristo que, pelo
Reside aí a razão por que ele, assim como toda a restante lado do sofrimento humano. é um irmão da alma crente,
literatut'a protestante de edificação religiosa, tiveram o era a porta aberta por onde o misticismo amplamente
privilégio de, através de um ininterrupto desenvolvi- penetrava na alma protestante. Nos impressionantes can-
mento, se conservarem fiéis à língua de Lutero, no meio tos religiosos do próprio Lutero este elemento ainda não
aliás da mais completa barbarização da nossa lingua- se acentua muito. Mas esta mesma catolicidade da inspi-
gem e do fatal divórcio que se estabeleceu
ente'ea ração levou já Heermanh a explorar, para a poesia dos
nossa poesia e o sentimento popular. seus cânticos, o misticismo de S: Agostinho, S. Bernardo
Na medida, porém, em que, a partir dum certo e Tauler. E deve notar-se que foi precisamente na segunda
momento, os valores religiosos ultrapassaram o dogma metade do século xvn que surgiu também aquele viga,
122 LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA LEIBNIZ E A SUA BROCA 123
1'
7'
l
124 LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA L'EIBNIZ E A SUA ÉF'OCA 123 l
l
126 LEIBNIZ:E Á SUA ÉPOCA
y' LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA 127
fluída a paz, o ancião publicou,ainda,na sua mais crentes .,estão subordinados à consciência triunfal da
avançada idade e no momento da mais diHicil situação comunidade, à consciência dum reino de Deus que tudo
económica da Alemanha, as suas três grandes Paàrókr tem nas suas mãos: tanto a redençãoe o destino dos
lira/s que constituema bbasedos Ora/óráo.ç
de Bach bem-aventurados, como o futuro dos crentes e da Igreja.
e Haendel. As obras mais impressionantes deste luterano baseiam-se
Nenhuma influência exercida por qualquer povo civi- na concepção heróica da vida dos grandes vultos 'bíbli-
lizado moderno sobre outro, no domínio da arte, foi tão cos, que se desenvolvera na religiosidade reformada e
fecunda como esta transmissão das formas e meios de no puritanismo. Mias Bach também não é um compor
expressão da música italiana pal'a a música do protes- sitor religioso no sentido rigoroso da palavra. Também
tantismo alemão.Por toda a parte, na Alemanha,a a ele o cei'ca o brilho da ópera italiana e da música
mesma íntima relação entre a ascensão da música sacra instrumental profana. Nada de humano Ihe era estranho.
e a evolução das restantes afirmações da cultura espiritual E precisonão deixarmosde ter presentesaqui a sua
se deixa notar. Partidário dos ortodoxos nas discussões rica personalidade humana, o seu optimismo, o seu
entre estese os pietistas,pol' julgar a ortodoxiamais humorismo, a sua melancolia, aquela espontaneidade
favorável ao desenvolvimento do culto pela música saca'a, com que se abandonava aos seus sentimentos, o manejo
Bach não deixou de sofrer também fo?tementea influên- despreocupado dos instrumentos e das formas de expres-
cia do pietismo e do misticismo. A música das suas são musical. Estes grandes músicos são, sem dúvida.
BaixõPsconstitui a expressãomais emocional da nova na forte consciência de si mesmos, os verdadeiros repre-
religiosidade subjectiva. A modulação mais rica da vida sentantestípicos daquele homem novo que já se nos
sentimental e os seus tons mais suaves fazem-se sentir revelouser o grande obreiro da cultura alemãnaquele
ainda no tratamento musical dos coros nos quais se século. Bach e Haendel estão cheios da altiva consciên-
manifesta a consciência da comunidade cristã que acom- cia da sua missão artística--aspecto este de máxima
panha a acção. E como chegariaHaendela arquitectar importância, pois ainda aqui é o carácter que está na
o seu Ora/ár/o na base das formas da nova ópera,con- base deste espírito espontâneo, natural e sublime da arte.
vertendo-o no drama religioso musical (a princípio s6 A grandeza incomparável da música de Bach e
destinado para o palco), se não fosse capaz de apreciar Haendel só é, afinal, compreensível pela íntima relação
também a existência e a arte profanas que conheceu que existe entre ela e o espírito.da Reforma, entre ela e a
com a mesma perfeição ? Como conseguiria ele alcançar religiosidade protestante. Se a lgrqa católica tinha encon-
K aquele grau de concentração da mentalidade religiosa.
aqui atingido,se não fossea existênciade uma con-
trado a suprema expressão do seu culto numa colabora-
ção entre todas as artes, o invencível poder protestante
cepção mais livre .do Cristianismo? No seu Mesiim, da .pa/aura encontrou antes o seu órgão mais adequado
toda a acçãohistóricae todo o estadode alma doa na poesia e na música.
128 LE]BNIZ E A SUA ÉPOCA
B
9
130 LEIBNIZ E A.SUA ÉPICA
LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA 131
BAUMGARTnN,
Sigismund Jakob (1706-57),teólogo protestante,
Cantos n, roi da Restauraçãoom Inglatorra, onda reinou da
autor do livro -EuaPzgeZi$cÀe
GZawbensZeÀre(Doutrinaevan- 1660 até 1685.
gélica, 1759-60).
OOPÉRNICOpNicolau (1473-1543), astrónomo alemão, autor do
BATI.n, Pierro (1647-1706), 61ósofo franoêB do Ooptioiomo, autor
novo sistema holiocêntrico do universo.
do oélob3'0 .Dic amar o pZ08ó#co.
Bnannn, Johann Joaohim (1635-82), médico alemão, autor da DAcn, Simon (1605-1659), poeta lírico alemão do tendências
livros sobro a química, o d& oração O saHcfamaior natura. humanistas, professor da Universidade de IKoonigsberga.
aefernererum ardo, que Loíbniz discuto na 3.a pal'tot $ 350, D.hKCKiüi.nAxn,
Ebarhard Christ. Balthasar, Barão do (1649-1722),
da sua T%eodicéa. ministro o estadista brandeburguês.
BHKKnn,Baltha8ar (1634-98),teólogo reformado, precursor do DinTnnn von loenburg (1412-1482),
Príncipe Eleitor do ilogún-
lluminiamo, adversário da8crençassupersticiosas8m fan- Cia, do 1459 até 1463, o do 1475 até 1482.
tasmas, bruxas o feitiços. EIJaÉNlo, Príncipe do Sabóía (1663-1736),vencedor dos Turcos
BBRTHOLO vox liEnKKnnnKa, Príncipe ]Cloitor do Mogunoía
(Zontn, 1697, Peterwardein, 1716, Bolgrado, 1717).
(1484-1504); deve-se a elo prinoipalmonto a eleição do
Fna Anp, Johann (1545-90),jurista alemão o autor do obras
Maximiliano para Roi Romano,o a instituição dum Su-
religiosas o satíricas, inspirando-se em Rabelais o polemi-
premo Tribunal do Império, aom cedo 6xa.
zandocontra o luteranismoo o jesuitismo;a suaobra
Bn88nR,Johann von (1654-1729),poeta alemão o mostro de ceri-
principal é .DasaZüc#ÀafZe
ScÀiff(O barco da boa 80rte).
mónias na Corte real de 3'rodorico l da Prús8ía.
Fi.Ruina, Paul (1609-1646)) poeta lírico alemão do orientação
BoHRnAVD, lElormann (1668-1738), médico holandês. humanista.
BolnnAu-DusPnÉAux) Nioolas (1636-1711), poeta o crítico fran-
cês, autor de Z'.4rf poéfiqwe. F'KANaxn, August 1Eermann (1663-1727))teólogo proteotanta
alemão, pedagogo piotista, instituiu em 1695 a Fundação
BolNHBuna, Johann Ohriatian (1622-72), ministro do Prínaipo Franckoüna om líallo, constituída por várias 08colaa.
Eleitor, Jogo Filipo do Mogúnoia, até 1664. ])emendou o
orfanato, tipografia, caga editora, oto.
entendimentopolítico entro a Áustria e a Trançao a reu-
FRnYUNaHAusHN, Johann Anastasiua (1670-1739), genro do Au-
nião das oon6osõoocristãs, convertendo-se ao Catolíciomo
8m 1656. gust llermann Franoko,editor dum oancionoiroreligioso
l protestante.
BRAnn, [Pyoho do (1546-1601),astrónomo dinamarquês, constru-
tor do observatórios. FnnDnnico 11, o Grande,terceiro rei da Prússia, ralhou do 1740
Bucnoi,vz, AndreaB Hoinrich (1607-71), teólogo o romancista até 1786, vonaodor d& Áustria nas guerras Bilesianas, o da
alemão, autor do romano08 amorosos o heróicos no estilo coligação lustro-frango-russa, na Guerra dos Bato Anos :
{
bacoco. ÊlóSofo,post% compositor o historiógrafo, protector daa
R
l bolas-aftas o ciências, amigo do Voltairo.
''v'
132 LEIBNIZ E A SUA ÉPOCA
LEIBN]Z © À SUA ÉPOCA 133
FK D Rico 111(1)(1687-1713),
primeiro rei da Prússia,olovou o
canções religiosas populares, durante a Guerra dos Trinta
eleitorado de Brandoburgo a Reino da Prüssia, procla- Anos.
mando-se roi em 1701.
1' ljloBnns, Thomas (1588-1679),Elóaofo inglês, autor do Zeuiafãa»,
FnnnnKioo GUZLxnKna [, o Grande ]ê?eitor,Prínoipo do IBrando- representante da teoria matemático-mooânioa da natureza
burgo,reinou do 1640 até 1688. a nomina]ístioo-matemática da lógica.
Fnnnnnlao GuiLnnnun 1, segundoroi da Prüssia, reinou do IIOFMANN VON IIOFMANNSWALDAU, Chr. (1617-79), poeta BRIGO
1713até 1740,o Rei-saldado,
criou o organizouo exército alemão
prussiano. liunYaEms, Christian (1629-95), físico holandês.
GnRHARDT) Paul (1607-76), poeta protestante alemão, de 6enú laAnnl oo P.LL.LnKATO (1652-1722), esposa de Filipe 1, Duque
dênoias para o misticismo, autor do numerosas canções de Orleães, irmão do Luas XIV, do Franca.
religiosas evangélicas. Jogo FRHDnRIColDuque de Brunsviquo (1665-79),
protector do
Laibniz.
GKluuni.snAusnK, lllans Jakob Christoffol von (1610-76),roman-
cista o poeta alemão, autor de Z)er abentetóe7'Zãcãe
SilMpZi- Joio Fimpn, de Sohoenborn(1605-73),Príncipe 3]1oitordo Mo-
cissi#nós (Simplicíssimo, o avonturoiro), inspirado nos gúncia, desde1647,defensor das tentativas irénioa6,o da
acontecimentosa que o escritor assistiu, o no ambiente paz franco-alemã ; desempenhou importante papol naBnego-
om que vivos, durante a Guerra dos Trinta Anos. ciações da paz da Vostofália (1648).
GRYPnnJ%
Androas (1616-64),poeta lírico Qdramático alemão, JuNaius, Joaohim (1587-1657),
erudito alemão,íãlósofo,mate-
autor do poesias I'oligiosas, dos dramas Zeo .4rmenáz&8, mático, físico, botânico, médico, autor d& bgica móz4r-
(safari a uon Gearyien, Gorda áws w%d aez pôde,.Die geZiebZe gz+ePzsis o da teoria corpuscular.
Z)or-P&ro$e, o das comédias Pelar SgzóeHZ, Hbr2'ábáZÍcribi$üa, KArsuK, Roinhard (1674-1739), compositor alemão, regente-mor
.Das uerZiebfe (;espeHsf, oto. da ópera alemã, om IH.amburgo,autor de 77 óperaso do
HAnNnnl, Goorg Friodrioh (1685-1759'), compositor alemão, oratórios, cantatas o mais música sagra.
!
KOLBn voN 'WxnpnKBlona, Conde Johann ](asimír (1643-1712), Nnwvox, lsaao (1643-1727), matomático, físico e astrónomo
estadista prussiano, favorito do Fredorioo l.
inglês, famoso pela descoberta do princípio da gravitação
lümBnnv, Johann llleinrich (1728-77),íilósofa, matemático, fieico e do oapoctro,do movimento planetário, ütc.
8 astrónomo alemão, autor dos livros /'yrometrid, .Pãofo- Onvz, Martin (1597-1639),
poetaalemãoo autor dumateoria da
mefr a 8 KasmoZagia.
ano poética (:BÍócÀZei ua der de f8cÀen Paefereg9.
LAURnMBnRa, Johann (1590-1658), poeta satírico alemão. PAscAL, Blaiso (1623-62),âlósofo o mabomátioonancês, autor
LooKn, John (1632-1704),61ósofoinglês do idealismo o ompi- \
da sua queda, ponitênoía, santidade, tributação, ânsia d& TgCnIRNnAuslEhronfried. Waltor, Conde de (1651-1708), mate-
otornidado o preparação para a morto. mático o 61ósofo alemão.
SEMLnR,J ohann Salomon (1725-91),teólogo protestante alemão, VONDIDL,
Joost van don (1587-1679),poeta neerlandês, autor do
precursor da crítica histórica dos Escritos Sagrados o dos drama Zzaifet'.
dogmas. WncKEinKUN, Rudolf (1584-1653), poeta anaareõntioo alemão,
SnAFrESBURY, Anthony Ash]oy Cooper, Conde da (167]-1713), W íanl, Erhard (1625-99), matemático alemão o prof08sor do
filósofo inglês, famoso pela sua teoria da beleza o pela sua Leibníz; autor da SpÃ.dera
moraZi8,
que o Êlósofodiscuta
âlosofia do eudomonismo. em .4»imaduersiones ad WedgeZiwm.
coPiA, Princesa do Hanover (1630-1714), filha do rei do {Buer%a, Wnisn, Chriatian (1642-1708),poeta alemão, autor de dramas a
FrodericoV do Palatinato,osposndo PríncipeErnesto romances.
Augusto de .Elanovor. Wirr, Cornolítls de (1623-73), político holandês, irmão..de:
copia CAnhOTA (1668-1705), esposa do primeiro rei d& Prússia, WivT, Jan do (1625-72),estadista neorlandêa, defensor do podar
Frodorico l. marítimo holandês contra a Inglaterra; adversáriodo
Sopé LuíaA, terceira 08posa do roi Froderico l da Prússia. Luas XIV.
Spiün,Friodrich von (1591-1635),
jesuíta alemão,contrário aos WoLpp, Ohristian (1679-1754),âlósofo alemão do racionalismo,
prooeosos do bruxas; poeta religioso, autor do canções o primeiro a osoj'favoras suas obrasno idioma nacional;
devotas.
autor cla moderna terminologia 61osó6oa.
SPnNER, Philipp Jakob (1635-1705), teólogo evangélico, fundador ZnsnK, Philipp von (1619-89), escritor alemão, autor do romanos
do pietismo. Ádr al ache RosamHWHd.
TER8TnlüGEN, .Gorhard (1697-1769), místico oalvinista, autor do Zi aLnn, .Hloinrioh Anshelm von (1663-96), escritor alomao,
canções religiosas. autor do romance .4siafÍscÀe Banise, odor das ÓZwtige, doca
TnnTAamA, Niccoló (1500-57),matomábico italiano, estudou oe mwfige -Pega.
problemasdo cálculo das probabilidad08,da detorminaçEo
dos pesos eõpooífiooo, o d& balística; autor do OepzeraZe
fraffafo deá ?zumeri e mi8w}.e.
Aquisição por.--...
ó2 ,.
TnOUASiU$ Christian (1655-1728),filósofo o jurista alemão ; de-
fendeu & doutrina do direito natural o insurgiu-se Contra á$#,nz ::;&''""uh
a intolorânoia e a tortura ; o primeiro professoruniversi-
tário alemão a fazer as suas preloaçõosno idioma nacio-
a8g....Z....:kg#lH....9:.$.,gÇ':":
/ ..
nal (1688).
COLECÇÃO STVDIVM
VOLUMES PUBLICADOS
+,
8--Haas Ze/seH,
Teoria Geral do Estado.Tradução
do
Dr. Fernando de ciranda (2.a edição).
9 --- ZI. .Donpzediewde Vabre6, A Justiça Penal de Hoje. Tr'adu-
ção do Dr. Fernando de Mirando (esgotado).
10 -- nênlv T.-.F'. .R#ode8, O Génio e o Crime. 0 homem do génio
e o criminoso, na sua revolta contra a sociedade. Tradução do
Dr. Fernando de Mirando (em reimpressão).
11-- 17alzsKê/sea,Teoria Pura do Direito. Traduçãodo Dr.'rei- 27 -- ZwÍs .4. .DtearfeSanfo$,Bíotipologia Humana (esgotado)
nando de Mirando. (Nova edição). 28 -- ]Uawreaio .HàZbwczcÀs, Morfologia Social. Tradução do
12-- .n .4cÀ{ZZe--Dezenas
e .@arceZ
BoZZ,
A Personalidade Humana. Dr. Fernando de Miranda.
Tradução dos Drs. David Augusto Júlio e Fernando de 29-- W{ZZeam Mc -DougaZ,A Psicologia (Estudodo Comporta-
Miranda (esgotado). mento).Traduçãodo Dr. Enio Ramalho.
13 -- Zenriqz+e Eerri, Discursos Forenses CDefesas Penais). Tra- 30 -- -EKrico Oo tieri, O estado de necessidade. Tradução do
dução do Dr. Fernando de Míranda (2.a edição). Dr. Ferrando de ciranda
14-- -ZZeMriqzóe
ZETH,Ao Lado das Vitimas (Discursosde Acusa 31 -- fieira de .4Zmeida, Filosofia da Arte.
ção). Tradução do Dr. Fernando de ciranda. 32 -- X-8pe?zZé,
O Pensamento Alemão. Tradução do Dr.xMário
15-- Zdmo d Zocard, A Investigação Criminal e os Métodos Ramos.
Científicos. Tradução do Dr. Ferrando de Mirando. 33 -- .E. .PZa»c;zard. Introdução à Psicologia das Crianças.
16 -- Berframd R seZ, Os Problemas da Filosofia. Tradução e Tradução do Dr. Fernando de Mirando.
prefáciodo Dr. António Sérgio (2.' edição). 34 -- -Enrico.4Zfaui/Za,
Psicologia Judiciária (l.o vo1.)(0 processo
17--ZwÍs de Zat4Hagr,O fim dum mundo e o mundo novo. psicológicoe a verdadejudicial). Traduçãodo Dr. Fernando
Traduçãode Jorre Barbosa. de Miranda.
18 -- .liberta .BorciaHi, As ofensas à honra COs ci'ime8 de injúria 35 --Z. .BaffisfeZJI ,
A Mentira nos normais, nos criminosos
e difamação).Traduçãodo Dr. Fernandode ciranda. e nos loucos. Traduçãodo Dr. Fernandode Miranda.
19-- .4beZSaZazar,O que é a Arte? (esgotado). 36 -- Z. -Bati sfeZZI, A vaidade (Ensaio Psicológico). Tradução do
20 -- ..{.-D. SertiZZa7zges,.
A Vida Intelectual (Espírito-Condições- Dr.' Ferrando de Miranda.
Métodos).Tradução e prefácio do Prof. A. Pinto de'Carvalho 37 -- T'leira de .4Zmeida, Introdução à Filosofia
(2.' edição). 38 -- .E. .4/fauiZZa,Psicologia Judiciária (2.o vol.) (O acusado,
21 -- liberto Riuawd, As grandes correntes do pensamento o$ofendidos e os denunciantes).Tradução do Dr. Fernando
antigo. Traduçãodo Prof. A. Pinto de Carvalho. de Miranda.
22--.4. awuiZZÍer,
Introduçãoà Sociologia.Tradução
do 39 -- fieira de .4Zmeida, Lógica Elementar.
Dr. Ferrando de Mjranda (esgotado).
40 --JoÀa7tHes MessePZ,Filosofia dos Valores. Tradução do
23--Z;. OabraZ
de Mo?zcada,
Um «Iluminista» portuguêsdo Prof. L. Cabral de Moncada.
século XVlll: Luas Antónío Verney. 41 --SÍZuio .L{»ia, Ensaio sobre a essência do ensaio.
24-- PazóZo7{gnawa', O pensar da Idade-Média. Tradução do 42 -- .4?&lónão
.Mira?zda, Teoria Fotónlca -- Uma nova física (ao
Prof. A. Pinto de Carvalho. alcance de todos).
l 25 - ZêHr{ .Batemcz»,
O Regime Matrimonial no Direito Inter- 43--S. ]lleóaZ
#ou,A Luta contra a Morte.Tradução
do
nacional Privado. Tradução do Dr. Fernando de Miranda Dr. David A. Júlio.
(esgotado). 44 ---E. .4ZtauiZZa,
Psicologia Judiciária (3.o vol.) (A testemunhar
#
26-- J. .4rtàz&r Thomso», Introdução à Ciência. Tradução do -- o documento--o perito e o intérprete). Tradução do
D.r. António Sérvio. Dr. Ferrando de Miranda.
45 --.E. .4ZfauiZZa,Psicologia Judiciária (4.' vol.) CO advogado
--o Ministério Público e o Juiz). Tradução do Dr. Fer
mandode Mirando.
46-- J. .Hüizinga,Nas Sombras do amanhã (Diagnóstico
da
enfermidade espiritual do n08sotempo). Tradução de Manuel
Vieira.
47 -- a. RadbrwcÀ, Filosofia do Direito CParto Geral). Tradução
Prof. Cabra! de Montada
48 -- G. RadbrucÀ, Filosofia do Direito (Pai'te especial). Tra-
dução do Prof. Cabral de Moncada.
49 -- OüZuet
deafagam/}ãe8,A Responsabilidade Penal do Médico.
50 -- .EmZe PZancÃ.ard,
A Investigação Pedagógica (Objecto--
Métodos
-- Resultados).Tradução do Dr. Fernando de Mi-
randa.
5i -- .Hêl'#â»iCidade,O conceito de poesia cl)mo expressão
da cultura.
52--.4. .aZa/olaria, A Teoria da eloquência (l.o volume de
A Arte do falar em público). Tradução do Dr. Fcrnando de
Miranda.
53 -- A. ]UaloraJza, As Formas Práticas da Eloquência. Tra-
dução do Dr. Fernando de ciranda.
54-- O. F. Bo/üzow,Filosofia Exjstencíal. Traduçãoe Prefácio
do Prof. Cabras de Montada.