Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
COORDENAÇÃO GERAL
Celso Fernandes Campilongo
Alvaro de Azevedo Gonzaga
Tomo de
COORDENAÇÃO DO TOMO
Celso Fernandes Campilongo
Alvaro de Azevedo Gonzaga
André Luiz Freire
ARISTÓTELES E O DIREITO
Gabriel Benedito Issaac Chalita
INTRODUÇÃO
SUMÁRIO
Introdução ......................................................................................................................... 1
1. Aristóteles, vida....................................................................................................... 2
3. Meio-termo .............................................................................................................. 4
1
ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUC-SP
TEORIA GERAL E FILOSOFIA DO DIREITO
Referências ..................................................................................................................... 11
1. ARISTÓTELES, VIDA
Aristóteles nasceu em 384 a.C. na cidade grega de Estagira. Aos 17 anos, mudou-
se para Atenas onde conheceu e frequentou, por vinte anos, a Academia de Platão.
Considerado um dos seus mais ilustres discípulos, Aristóteles deixa Atenas depois da
morte de seu mestre. Em 343 a.C., Filipe II convida Aristóteles para ser preceptor de seu
filho, Alexandre, que, na época, tinha por volta de 13 anos de idade e que, mais tarde,
será conhecido como Alexandre Magno. Em 335 a.C., Aristóteles volta a Atenas e funda
o Liceu.
Durante essa sua segunda estada, morreu Pítias, sua primeira mulher, passando
ele a viver com Herpilis. Tiveram um filho chamado Nicômaco.
Em 323 a.C, Aristóteles abandona Atenas e retira-se para Cálcis, depois da morte
de Alexandre e do recrudescimento em Atenas de sentimentos antimacedônicos. Pouco
tempo depois, ele morre aos 62 anos de idade.
Sua obra é extensa. Não é exagero afirmar que Aristóteles é o mais abrangente
teórico do mundo grego. Seu objeto de estudo vai dos textos lógicos (Órganon) -
instrumentos intelectuais - aos textos ético-políticos, passando pela física e pelas ciências
naturais.
Debruça-se ele, por exemplo, sobre a biologia e sobre a zoologia, sobre a
psicologia e a metafísica. A metafísica encontra local de destaque em seu pensamento. A
abstração requer um requinte maior de pensamento. Subtrair das coisas do mundo para se
atingir um pensamento puro. Essa sofisticação exige muito empenho. Mas é essencial
para o conhecimento do homem, ser pensante.
A presença de Aristóteles na academia de Platão explica muitos de seus
primeiros posicionamentos acerca da relação entre a polis e o bem comum.
Platão é um pensador que tende para as estruturas idealistas do pensamento. A
perfeição em Platão está fora do mundo real. O mundo real é cópia do mundo ideal.
2
ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUC-SP
TEORIA GERAL E FILOSOFIA DO DIREITO
Porém, imperfeito.
Já Aristóteles é mais concreto. Sua preocupação volta-se ao funcionamento das
coisas deste mundo. Apesar das diferenças entre Platão e Aristóteles, há muitos pontos
que os unem. Tanto Platão quanto Aristóteles acreditam que a filosofia conduz ao
discernimento do conceito de bem e que tudo tende a esse bem.
Têm eles um compromisso irrestrito com a verdade.
2. O HOMEM, ANIMAL-SOCIAL
Aristóteles acredita que a ética e a política são a ciência por excelência. Para ele
não há dissociação entre ambas. O homem é um animal político, fruto do
desenvolvimento social.
Aristóteles gasta tempo codificando animais e vegetais. Retira o homem da
esfera puramente natural e dá a ele uma força racional. O desenvolvimento da razão
depende, inclusive, das relações sociais, do meio em que vive, das influências que recebe.
A sociedade ou o Estado é um organismo moral, é um complemento da moral
individual. Não há desenvolvimento possível sem a presença do homem na sociedade.
O estudo da ciência política faz com que, ao analisarmos a busca do bem, o
façamos não em virtude de um único homem, mas de uma nação.
“Ainda que a finalidade seja a mesma para um homem isoladamente e para
uma cidade, a finalidade da cidade parece de qualquer modo algo maior e mais
completo, seja para atingirmos, seja para perseguirmos; embora seja desejável
atingir a finalidade apenas para um único homem, é mais nobilitante e mais
divino atingi-la para uma nação ou para as cidades”.1
Claramente, Aristóteles tende a valorizar o bem social em detrimento do bem
individual. A vida social possibilita virtudes, mas também vícios. A vida social colabora
com a construção da justiça, mas também faz surgir a indesejada injustiça.
Como fazer com que o homem perceba que sua felicidade não está restrita ao
sentimento de prazer, do prazer individual, do prazer dissociado da responsabilidade
1
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Livro I, p.18.
3
ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUC-SP
TEORIA GERAL E FILOSOFIA DO DIREITO
social?
O homem que almeja a felicidade precisa, entrementes, saber o seu significado.
Uma vida feliz só se estabelece na relação com outras pessoas. Uma vida feliz não é uma
vida baseada na busca exclusivamente pelo prazer carnal. Uma vida feliz compreende a
dimensão política, com seus valores éticos, e, inclusive, a vida contemplativa.
Aristóteles fala do hábito como um aprendizado à felicidade. Um aprendizado
engajado na prática ou na contemplação do que é, conforme a excelência. A excelência
moral, liberalidade e moderação; a excelência intelectual, sabedoria, inteligência e
discernimento.
O homem social compreende, inclusive, que não se pode ser ético consigo
mesmo sem ser ético com o outro. A vida humana é um fenômeno ativo, desde o momento
do nascimento, até todos os dias da vida.
Toda a ação humana deve ter em mente este fim para o qual o homem foi criado,
a felicidade. Desde as pessoas mais simples até os mais letrados há um consenso de que
se há uma verdade única, esta verdade é que todos almejam a felicidade.
Erram, ao não buscá-la, mais por ignorância do que por intento. Em tese, quem
conhece o que, de fato, realiza o ser humano a busca.
3. MEIO-TERMO
4
ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUC-SP
TEORIA GERAL E FILOSOFIA DO DIREITO
duas delas são deficiências morais e implicam em excesso e falta, e a outra é a excelência
moral, o meio-termo.
A excelência moral é, assim, uma disposição da alma determinada pela razão,
pelo discernimento.
“(...) determinar o meio de um círculo não é para qualquer pessoa, mas para as
que sabem; da mesma forma, todos podem encolerizar-se, pois isto é fácil, ou dar ou
gastar dinheiro; mas proceder assim em relação à pessoa certa, até o ponto certo, pelo
motivo certo e da maneira certa, não é para qualquer um, nem é fácil; portanto, agir bem
é raro, louvável e nobilitante”.2
2
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco, p.46.
5
ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUC-SP
TEORIA GERAL E FILOSOFIA DO DIREITO
A virtude é, em Aristóteles, potência e ato. É uma força que pode ou não agir. A
virtude de uma planta é ser um remédio, por exemplo. A virtude de um objeto cortante é
cortar. A virtude de um homem é ser humano. É ser racional. É distinguir-se dos animais
e vegetais por ser racional. A virtude do homem, em Aristóteles, é agir bem. É uma
disposição de fazer o bem. É perseguir a finalidade para a qual ele, homem, existe.
Um homem virtuoso persegue o que já tratamos, a excelência moral. Um homem
virtuoso evita os excessos e as faltas. Um homem virtuoso sabe a complexidade de se
desenvolver batalhas internas para que as escolhas nasçam do discernimento e sejam,
assim, corretas.
Antes mesmo de tratar da justiça, das leis, das formas de poder, Aristóteles gasta
tempo, em sua Ética a Nicômaco, tratando de temas que dizem respeito ao
desenvolvimento do homem. Afinal, de que adianta um sistema normativo perfeito, se os
homens responsáveis pela sua aplicação ou pela sua interpretação não forem virtuosos?
6
ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUC-SP
TEORIA GERAL E FILOSOFIA DO DIREITO
3
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Livro X, p. 201.
7
ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUC-SP
TEORIA GERAL E FILOSOFIA DO DIREITO
4
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Livro V, p. 93.
8
ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUC-SP
TEORIA GERAL E FILOSOFIA DO DIREITO
aprende a ser virtuoso sendo virtuoso. Aprende a ser justo, sendo justo. A justiça é assim
uma virtude concreta, fruto de uma ação voluntária. O homem, social por natureza,
depende da justiça para atingir os seus objetivos, o bem, a felicidade. Aristóteles compara
a justiça à amizade. Estão elas profundamente ligadas. A amizade não pode ser fruto do
interesse ou do prazer. A amizade como excelência moral é a que deve ser perseguida. A
amizade entre pessoas virtuosas é a amizade desinteressada. O amor que há na amizade
pode ser comparado ao amor pela cidade, pela comunidade, pela sociedade. Quem
governa deve fazê-lo sem interesses nem desejos de prazer, mas em prol do bem comum.
O injusto é o interesseiro, é o ambicioso, é o que mente para ter mais do que lhe é devido.
O justo é o correto. É o amigo da cidade, é o que compreende que a felicidade não se trata
apenas de um valor subjetivo, inalcançável. Ela é consequência das ações corretas, das
ações justas.
7. A JUSTIÇA E O DIREITO
5
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Livro I, p.18.
9
ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUC-SP
TEORIA GERAL E FILOSOFIA DO DIREITO
humanidade, mas não se debruça sobre o caso que haverá de julgar poderá cometer
injustiças. O direito, na visão aristotélica, constrói-se nessa preocupação de fazer com que
a justiça prevaleça. A justiça prevalecerá quando as cidades compreenderem a
importância de se educar os homens para que sejam virtuosos. A virtude vem do
aprendizado teórico e prático das comparações entre os injustos e os justos. Da
observação do comportamento social, do hábito; enfim, de gostar, desde sempre, do que
é correto e de desgostar do que é errado.
Se a justiça pode parecer um valor mais subjetivo, e o direito um sistema que
existe para garanti-la, ambos convalidam a tese de que as leis existem para melhorar as
sociedades. E as sociedades existem para garantir às pessoas o direito à felicidade. As
mais perfeitas leis sem a presença dos homens que buscam a perfeição serão inúteis. As
leis existem para as pessoas e das pessoas dependem para sua correta interpretação e
aplicação.
Aristóteles dedica apenas o livro V da Ética a Nicômaco a um tratado mais
específico sobre a justiça. Entretanto, nos dez livros da Ética a Nicômaco, ao tratar dos
elementos que compõem o homem e a sociedade, quer demonstrar que não haverá sistema
jurídico perfeito capaz de prevalecer sem a ação humana. O direito será sempre refém do
homem. Do homem que o formula, do homem que o interpreta, do homem que o aplica.
Por isso, para que o direito efetive a justiça é preciso formar o homem, formá-lo como
virtuoso, formá-lo como correto, formá-lo como justo. O direito visa a construir essa
justiça que garanta ao homem a liberdade. Ao suprir as necessidades da vida humana, a
cidade, o estado, visam a garantir a liberdade. Ser livre para governar e ser governado.
Ser livre para compreender que a ética é um código de conduta que visa a um bem. A um
bem comum. Não há bem individual onde não há bem comum. O bem individual depende
do bem comum. Isso porque é o homem um animal social que só se desenvolve na
sociedade e que, na sociedade, aprende a ser livre, virtuoso, justo.
10
ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUC-SP
TEORIA GERAL E FILOSOFIA DO DIREITO
REFERÊNCIAS
11