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S/S ‘18

INDUSTRIAL
FEELINGS
queremos saber como as coisas são feitas, queremos fazer parte
do processo. para mostrar a nova coleção de verão, entramos na fábrica
da melissa, trazendo uma moda utilitária, mas superfeminina

FOTOS HICK DUARTE


MODA MAURÍCIO IANÊS
DIREÇÃO CRIATIVA ERIKA PALOMINO
DIREÇÃO DE ARTE KLEBER MATHEUS
BELEZA AMANDA SCHÖN
com produtos Lee Stafford e Kryolan

MELISSA SAUCE SANDAL 3


MELISSA KAZAKOVA
MELISSA DAIKANYAMA MELISSA DUBROVKA
MELISSA MELROSE
MELISSA DUBROVKA MELISSA SHIBUYA
MELISSA SOHO
MELISSA DAIKANYAMA
MELISSA LADYLESS MELISSA DUBROVKA

Macacão e boné GUSTAVO SILVESTRE para MELISSA Macacão GUSTAVO SILVESTRE para MELISSA
Biquíni NEON por LYGIA & NANNY

MELISSA SAUCE SANDAL 3 MELISSA DAIKANYAMA

Macacão CAROLINE FUNKE Macacão ANOTHER PLACE

MELISSA SHIBUYA MELISSA MELROSE

Macacão GUSTAVO SILVESTRE para MELISSA Blusa e calça VITORINO CAMPOS


Maiô LYGIA & NANNY Saia PHSD
Camisa GUSTAVO SILVESTRE para MELISSA

MELISSA KAZAKOVA MELISSA SOHO

Sobretudo BRECHÓ MINHA AVÓ TINHA Vestido HERCHCOVITCH;ALEXANDRE


Camiseta GUSTAVO SILVESTRE para MELISSA
Calça COCA-COLA JEANS

MELISSA DAIKANYAMA MELISSA DAIKANYAMA

Macacão ANOTHER PLACE Camiseta e macacão GUSTAVO SILVESTRE para MELISSA


Vestido HERCHCOVITCH;ALEXANDRE

TRATAMENTO DE IMAGEM BRUNO REZENDE


ASSIST. FOTOGRAFIA EDU MALTA E WESLEY ALLEN
ASSIST. ARTE RENATA TELES
ASSIST. BELEZA CAMILA DE ALEXANDRE E PAULA KADIJA
COORDENAÇÃO GERAL RODOLFO BELTRÃO
PRODUÇÃO EXECUTIVA NELBA CARDOSO
CASTING BILL MACINTYRE
MODELOS ANITA POZZO (JOY), BERNARDO BRANCO E DANIELE MOIRANÇA (ALLURE),
BRUNA GRANDINI (BRM), FELIPE ROCHA (PRIME)

SPECIAL THANKS
À La Garçonne; Alexandrine; Amapô; Another Place; Beira; Brechó
Minha Avó Tinha; Cacete Company; Carol Funke; Coca-Cola Jeans;
Gloria Coelho; Herchcovitch;Alexandre; João Pimenta; Ken-gá;
Alguns produtos podem sofrer distorção na cor ou não estarem disponíveis para venda. Lygia & Nanny; Natalia Pessoa; Också; Okan; PHSD; Vitorino Campos
VOCÊ

A PARTIR DA ESQUERDA, OBRAS DE HART BROUDY; STEVE MCCAFFERY; NATHAN CARTER E NICO VASSILAKIS / FOTOS DE HICK DUARTE E VIVI BACCO
E S TÁ A Q U I !
conheça os fundamentos do tema mapping, que conecta arquitetura, urbanismo
e moda, inventando uma cartografia das emoções em plena era digital

TEXTO ERIKA PALOMINO

PARA DESENVOLVER O TEMA MAPPING, a equipe


da Melissa tomou como ponto de partida o papel que as cidades exer-
cem em nosso dia a dia. Metrópoles, megalópoles, bairros, ruas e vielas
determinam não apenas nossas escolhas e modos, mas também a nossa
identidade e a forma como nos relacionamos. Impulsionadas pela cultura
jovem, queremos novas formas de ocupação do espaço urbano. Como
A coleção Mapping se divide então em três moods: Arquitetura,
reflexo dessa ação, e influenciados por paisagens pessoais, criadores de
Orgânico e Industrial, desdobrados nos três ensaios de moda desta
distintas mídias (do Instagram à performance), de todas as partes do glo-
edição da revista. Se antes a casa era o nosso porto seguro, agora
bo, registram esse olhar. Eles podem também transformar culturas locais
buscamos desesperadamente a rede de wi-fi mais próxima. Na
em linguagens universais: a tendência agora é o glocal (global + local).
supermodernidade, o não lugar já nos é familiar – aeroporto, metrô,
A moda, claro, é desenhada também por seus entornos, e as peculia-
hotel, mercado, shopping ou mesmo uma loja são tão físicos em
ridades de cada lugar proporcionam diferentes formatos de criação
nossas vidas quanto o quarto em que dormimos. Como diz a letra de
e também de uso de uma peça ou produto, por exemplo, reforçando
um velho samba: “Para se perder, tem que se achar” e, mais uma vez,
a importância do onde, nesse mundo complexo e interconectado, em
a tecnologia nos acode: Onde estou? Para onde vou? É o que nos
que transporte e mobilidade são vistos como questões sociais e até
respondem diariamente Googles, Wazes e aplicativos de geolocalização
mesmo culturais. Fala-se cada vez mais de fronteiras, com os cenários
em geral (o app Swap da Melissa também). Tudo pode ser mapeado.
políticos, suas crises e esperanças ocupando espaço na agenda do
Para colocar mais poesia na selva urbana, Melissa convidou a artista
planeta – do México à cracolândia paulistana.
visual Verena Smit para idealizar o logotipo da nova coleção, a partir
O sonho de uma cidade inclusiva passa pela arquitetura. A partir das
do mapa de endereços fictícios. No solado de todos os modelos apa-
pranchetas e maquetes se desenha uma partitura sobre a qual, sem que
rece a geolocalização de Farroupilha, no Rio Grande do Sul, onde
a gente perceba, se escrevem as emoções. Foi o filósofo Alain de Botton
fica o núcleo de criação da marca, e padrões que, juntos, formam o
quem cunhou o termo “arquitetura da felicidade”, em que a beleza,
mapa da cidade gaúcha. Oito dos principais produtos foram batiza-
a adequação e o conforto de um espaço nos afetam diretamente.
dos com nomes de lugares e dois de não lugares (Ulitsa – “rua”, em
russo), e Dubrovka (que quer dizer “lugar desabitado”). Mais do que
falar de um determinado ambiente, entretanto, o tema do verão da
Melissa aborda uma pergunta ancestral: “Quem sou eu?”.
FORÇAS QUE
MUROS NÃO
PODEM CONTER
a arte contribui para que a liberdade deixe de ser zona proibida no mundo

TEXTO PAULA ALZUGARAY


ILUSTRAÇÕES LAURA TEIXEIRA

QUANDO GOVERNOS de países ocidentais respondem


à maior crise migratória da história construindo e fortificando
muros, recusando-se a receber e dar passagem a refugiados da
Síria, do Afeganistão, do Iraque, do Marrocos ou do México, a arte
contemporânea é um lúcido e decisivo canal de resistência.
O mesmo arame metálico que estabelece as cercas militares
que proliferam em fronteiras dá forma a trabalhos em exibição na
14ª edição da Documenta, uma das maiores exposições do planeta,
que acontece a cada cinco anos em Kassel, na Alemanha. O
material bélico está presente, especialmente entre as produções
dentro de tubos de concreto. Uma ácida ironia, naturalmente. Para a
de artistas residentes em Atenas – principal porto de chegada de
Bienal de Veneza de 2015, ele havia feito um vídeo documentando a
refugiados e epicentro da crise humanitária europeia hoje.
manufatura de um sino com material descartado de armas de guerra.
Num mundo em que se multiplicam símbolos da intolerância,
“The Bell Project” está em exibição no importante KW Institute for
artistas da D14 chamam a atenção para dramas individuais
Contemporary Art, em Berlim, até agosto.
entre populações banidas e esquecidas, buscando
Mas a campanha pela liberdade não é exclusividade da Documenta 14,
devolver-lhes condições básicas de orgulho, esperança e
da Bienal de Veneza ou de São Paulo. Está pulverizada em eventos e
autoconfiança. Caso de Hiwa K, curdo nascido no Iraque
ações de muito menor penetração midiática, espalhadas pelo mapa.
e residente em Berlim, onde é exilado político. Ele fugiu
Diásporas e migrações povoam discursos desde que a arte é arte.
de seu país antes da Guerra do Iraque, cruzando a pé
Estavam na Paris do começo do século 20, nas pesquisas de artistas
as montanhas até a fronteira iraniana com a Turquia
imigrantes como Picasso, Modigliani, Gris, Kertész. E estão nos
chegando, por fim, à Alemanha.
manifestos de artistas ativistas contemporâneos como a cubana Tania
Hiwa K realizou para a D14 a instalação pública
Bruguera, que no projeto “To The Unknown Migrant” (2012) convidou
“When We Were Exhaling Images” (2017),
artistas e ativistas a desenvolver monumentos efêmeros em locais onde
edificando 20 apartamentos provisórios
o papel histórico dos migrantes foi apagado ou severamente agredido.
Assumindo a forma de objetos estéticos ou de prática social, a arte
atua sobre consciências, contribuindo para que a liberdade deixe de
ser uma zona proibida – como coloca um cidadão curdo num dos
vídeos de Hiwa K.

Paula Alzugaray é curadora, crítica de arte, editora


e jornalista especializada em artes visuais. Doutora em
Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e mestre em
Ciências da Comunicação pela ECA-USP. É diretora de
redação da revista cultural seLecT e editora da seção
quinzenal de artes visuais da revista Isto É.
PA R A Í S O
ORGÂNICO
a moda praia sai para
dançar e volta para a areia
de novo, de manhã. nesse
mood da coleção mapping,
fotografado nas dunas
mágicas do ceará,
uma elegância fresh e
sensual, em looks de tons
quentes e inspirados
na natureza

FOTOS CECILIA DUARTE


MODA GI MACEDO
DIREÇÃO CRIATIVA ERIKA PALOMINO
DIREÇÃO DE ARTE KLEBER MATHEUS
BELEZA AMANDA SCHÖN
com produtos Lee Stafford e Kryolan
MELISSA COSMIC + SALINAS
MELISSA BELLEVILLE MELISSA KOENJI
MELISSA MELROSE
MELISSA HARMONIC MAXI BOW MELISSA BROADWAY
MELISSA SAUCE SANDAL 3 MELISSA COSMIC SANDAL + SALINAS
MELISSA ELA MELISSA CARIBE VERÃO + SALINAS
MELISSA ULITSA
MELISSA ULITSA MELISSA SAUCE SANDAL 3

Top VON TRAPP Vestido MARTINS.TOM


Lenço GUCCI
Maiô KIMONO

MELISSA COSMIC + SALINAS M E L I SS A C O SM IC S A N D A L + S A L IN A S

Maxicardigan ROOM Blusa JOÃO PIMENTA


Colete ISABEL MARANT Saia GIVENCHY
Calça JOÃO PIMENTA

MELISSA BELLEVILLE MELISSA CARIBE VERÃO + SALINAS

Maiô ROSA CHÁ Chapéu ACNE STUDIO


Veste OCKSÅ Top SALGA BEACH
Calça CASA JUISI

MELISSA KOENJI MELISSA ELA

Vestido JUISI BY LICQUOR Look GILDA MIDANI


sob Vestido OSKLEN

MELISSA HARMONIC MAXI BOW MELISSA MELROSE

Blusa MAREU NITSCHKE Colete MODEM para CARTEL 011


Calça GAL Lenço ALCAÇUZ
Maiô GUCCI Calça STELLA MCCARTNEY

MELISSA BROADWAY

Conjunto YVES SAINT LAURENT

COORDENAÇÃO DE MODA CLESSI CARDOSO


TRATAMENTO DE IMAGEM BRUNO REZENDE
ASSIST. FOTOGRAFIA EDU MALTA E RENATO TOSO
ASSIST. ARTE RENATA TELES
ASSIST. BELEZA CAMILA DE ALEXANDRE E RENATA BRAZIL
COORDENAÇÃO GERAL RODOLFO BELTRÃO
PRODUÇÃO EXECUTIVA NELBA CARDOSO
CASTING BILL MACINTYRE
Alguns produtos podem sofrer distorção na cor ou não estarem disponíveis para venda. MODELOS EVE MORAES (MEGA) E MARIANE CALAZAN (WAY)

MELISSA MELROSE
O FUTURO DA
MODA É
ALL TOGETHER
uma visão menos previsível do estilo hi-lo propõe novas formas de

FOTOS: BALENCIAGA, INÊS SCHERTEL E IKEA / DIVULGAÇÃO


harmonia ao superar o preconceito estético sobre códigos do vestir

TEXTO VIVIAN WHITEMAN

QUANDO A MODA COMEÇOU a falar de hi-lo, mal imagi-


nava o que estaria por vir. A ideia de misturar peças de labels de marca
com outras bacanas e acessíveis parecia só mais um desses momentos
em que um pouco de bom senso torna tudo mais divertido no mundo
pela valorização estética das mais diferentes culturas e origens. O arte-
fashionista. Foi um erro de avaliação. O hi-lo trouxe na bagagem ques-
sanal é um tipo de high fashion presente em toda parte. As rendas e os
tionamentos muito mais profundos e importantes. Todo modaholic manja
tressês brasileiros, a pintura em tecido de diversos países da África, os
os códigos do high, ou ao menos sabe lidar com eles. Já o que se chama
bordados do Leste Europeu, os tingimentos indianos, as pinturas japone-
de low é mais complexo de definir. O low pode ser uma peça de fast-
sas, a lista é longa: tem o tamanho da história da humanidade. O legado
-fashion, uma bijoux diferentona da rua 25 de Março (região central de
de populações e países com maioria negra deve ser especialmente ob-
São Paulo), mas também pode ser um acessório com design inteligente
servado. A moda, por muito tempo, silenciou essas vozes e se aproveitou
e preço competitivo, pode ser uma pulseirinha ou uma sandália de couro
de seus códigos sem dar os devidos créditos.
que você comprou em uma viagem ao Nordeste, um enfeite de cabeça
Movimentos como o afropunk, que usa a estética africana com elemen-
vendido numa banquinha no México.
tos da vestimenta e da contestação popular dos punks, e o afrofuturis-
Algumas coisas entram para a categoria do low não só pelo preço ou pela
mo, que projeta um futuro com a presença marcante dos negros em
falta de design caprichado, mas por serem populares, por não estarem
lugares de destaque, estão diretamente conectados com a questão da
conectadas a uma certa ideia antiquada de sofisticação. A verdade é que
valorização dessas culturas.
muitas vezes elas são desvalorizadas pelo preconceito estético.
Aos poucos, o hi-lo vai dando espaço para o all together, uma visão
Outro erro grave de avaliação que a reflexão ajuda a corrigir. O mix, a
mais ampla e capaz de desenhar novas harmonias, de aprender com
união, a convergência são os grandes motores da moda do futuro. Motor
as diferenças, de entender que o valor de uma peça pode ser medido
que está sendo projetado aqui e agora. E que só pode ser alimentado
de diversas maneiras e de criar outra compreensão do luxo. Quando a
valorização das pessoas e de suas trajetórias encontra espaço na moda,
coisas bonitas acontecem.

Vivian Whiteman é editora de moda e colunista da


revista Elle Brasil. Foi editora da Folha de S.Paulo, para
a qual fez as primeiras de muitas coberturas das fashion
weeks ao redor do mundo. Pesquisa as relações entre a
moda e mudanças sociais de comportamento,
já entrevistou um robô, é fã dos desfiles de Miuccia
Prada e mãe coruja de uma menina incrível que adora
rabiscar paredes.
CORPOS
DISSIDENTES
políticas globais endurecidas impõem aos refugiados outras identidades
culturais – grave crise e um dos principais paradigmas dos nossos tempos
TEXTO BRUNO MENDONÇA
FOTO CASSIA TABATINI

PODERÍAMOS CULPAR OS ASTROS pelo momento atual,


Saturno ou os trânsitos retrógrados de Mercúrio, mas o fato é que de
nada adianta. O presente tem exigido de todos um repensar sobre as
questões micro e macropolíticas da vida. Vemos, dia após dia, que
diversas estruturas, sistemas e formatos criados por nós mesmos, en-
quanto sociedade, não funcionaram. O agora mostra, infelizmente, que
políticas escravocratas que geraram problemas de ordem racial e de
embora tenhamos conquistado muito, também fracassamos. Podemos
classe. Se atualmente se discute cada vez mais essas questões pós-
olhar para isso de maneira fatalista ou como potencial de mudança. Se
coloniais, vê-se na verdade um choque entre passado, presente e
por um lado vemos grupos se movimentando nessa direção, por outro
futuro, a partir de uma sobreposição de cortes nunca estancados,
também assistimos, em escala global, nações inteiras, instituições,
um misto entre sangue vivo e pisado, fruto de séculos de agressões e
organizações e outros grupos sociais tomarem a direção oposta, justa-
violências contra o outro. Refugiados são um reflexo triste desse corpo
mente não se ressignificando, mas tropeçando em velhos preconceitos.
que virou commodity de uma forma irreversível, desse corpo que virou
Uma onda reacionária assola o planeta, tendo como protagonistas
vítima de sua própria civilização e humanidade. Um corpo que reve-
líderes de extrema direita e a manutenção de um sistema econômico
la toda a nossa intolerância, seja ela religiosa ou de outra ordem. O
cada vez mais opressor, um verdadeiro pós-capitalismo selvagem.
corpo dessas pessoas é mais uma dessas questões que o contemporâ-
Dentro dessa complexa equação sociopolítica e econômica, talvez um
neo apresenta – o problema vivo que a filosofia pós-estruturalista tem
dos sintomas mais evidentes seja a retomada massiva de movimentos
como objeto ou que campos intelectuais distintos tentam entender
migratórios, gerando, a partir da problemática dos refugiados e imi-
e/ou resolver. Corpos que resultaram de uma política que não foi a do
grantes ilegais, um verdadeiro paradigma para o campo das relações
afeto, política essa que a fotógrafa Cassia Tabatini imprime em suas
internacionais. A artista e pesquisadora brasileira Giselle Beiguelman
imagens, que ilustram este texto. De forma sutil e poética, ela realiza
discorre no artigo “A Era dos Muros”, sobre a dramática realidade de
retratos de jovens refugiados e de imigrantes ilegais residentes na
um mundo que, na contramão da dissolução das fronteiras criadas no
cidade de São Paulo, principalmente vindos de países do continente
passado, as tem fortalecido, por meio de atitudes protecionistas e xe-
africano. Não vemos vítimas aí, mas sujeitos que querem ser vistos e
nófobas. Em seu texto, Beiguelman revela dados alarmantes: se com o
que trazem essa potência de mudança e estão interessados em uma
fim da Guerra Fria, após a derrubada do Muro de Berlim, o número de
sociedade mais humanizada. Nesse contexto de pós-verdades em
barreiras políticas caiu de 15 para 13, depois da histórica data de 11 de
que vivemos, refugiados criam ou são o que o teórico José Miguel
setembro de 2001, a política de construção de obstáculos saltou para
G. Cortés, professor de Teoria da Arte da Faculdade de Belas Artes
50. Tais números apontam para a movimentação retrógrada diante dos
de Valência (Espanha), chama de “cartografias dissidentes”, ou seja,
movimentos progressistas e de expansão. A questão dos refugiados
desestabilizam, pois trazem à tona comunidades que passaram por
nos coloca em contato com feridas mais profundas, tanto de práticas
longos processos de invisibilidade a partir de um recorte histórico de
colonialistas que resultaram em processos catastróficos, quanto de
mundo de caráter eurocêntrico, criando uma espécie de hegemonia
narrativa. Tais “cartografias dissidentes” são emergentes, desterritoria-
lizam, forçam as fronteiras, nos propondo a criação de novos mapas.

Bruno Mendonça é artista e pesquisador, formado


em Comunicação Social pela Universidade Mackenzie
e com extensão em Artes Visuais pela FAAP. É mestre
em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, e seus
trabalhos desdobram-se basicamente em publicações,
performances na qual explora a linguagem do spoken
word, instalações e ações de caráter colaborativo.
Nos últimos anos foi membro do Grupo de Crítica e
Curadoria do Centro Cultural São Paulo, e participou
como crítico convidado na 32ª Bienal de São Paulo.
LINHAS
PA R A L E L A S

na tendência mais conceitual,


que olha para a arquitetura
como ponto de partida,
uma pegada cool na forma de
editar as roupas e usar sua
melissa. brinque com silhuetas,
diferentes proporções e
desconstruções inesperadas

FOTOS CASSIA TABATINI


MODA GEORGE KRAKOWIAK
DIREÇÃO CRIATIVA ERIKA PALOMINO
DIREÇÃO DE ARTE KLEBER MATHEUS
BELEZA AMANDA SCHÖN
com produtos Lee Stafford e Kryolan

MELISSA SAUCE SANDAL 3


MELISSA MAR WEDGE MELISSA MARY JANE
VIVIENNE WESTWOOD ANGLOMANIA
+ MELISSA CHARLIE MELISSA KAZAKOVA
MELISSA DAIKANYAMA MELISSA JAMIE + JASON WU
MELISSA KOENJI MELISSA ULITSA
MELISSA MELROSE MELISSA DAIKANYAMA
MELISSA VIXEN MELISSA LADYLESS
MELISSA SAUCE SANDAL 3 MELISSA KOENJI

Camisa de seda MAX MARA Casaco RALPH LAUREN para FROU FROU BRECHÓ
Saia de couro sintético LADO BASIC ​Camiseta de algodão LEVI’S
Calça jeans DIESEL

MELISSA M A R WEDGE MELISSA U L I T S A

Blusa de moletom AMP Blusa PIERRE CARDIN


Saia de couro INFINITI Saia de algodão CRUISE

VIVIENNE WESTWOOD ANGLOMANIA MELISSA MELROSE


+ MELISSA CHARLIE
Camisa de seda MAX MARA
Jaqueta jeans LEVI’S Short de cetim MAX MARA
Calça jeans AMP

MELISSA KAZAKOVA MELISSA DAIKANYAMA

Saia jeans LEVI’S ​Casaco TOMMY HILFIGER ​


Camisa de algodão LEVI’S Calça MAX MARA
Blusa PELICAN AND PARROTS

MELISSA DAIKANYAMA MELISSA VIXEN

Calça jeans LEVI’S Calça jeans LEVI’S


Camiseta de algodão B.LUXO

MELISSA JAMIE + JASON WU MELISSA LADYLESS

Vestido de algodão LACOSTE Camisa de algodão LEVI’S


Top LASER
Calça de couro CRUISE

TRATAMENTO DE IMAGEM BRUNO REZENDE


PRODUÇÃO DE MODA CAROL PEREOLI E BIA AMARAL
ASSIST. FOTOGRAFIA EDU MALTA
ASSIST. ARTE RENATA TELES
ASSIST. BELEZA RENATA BRAZIL
COORDENAÇÃO GERAL RODOLFO BELTRÃO
PRODUÇÃO EXECUTIVA NELBA CARDOSO
CASTING BILL MACINTYRE
MODELOS DAIRA (ALLURE), BRENDA PIVATTO (WAY),
Alguns produtos podem sofrer distorção na cor ou não estarem disponíveis para venda. SWEIA HARTMANN (WAY), JOÃO ZANELLA (FORD)
A PELE
QUE
HABITO
um bom projeto arquitetônico é
sutil aos olhos e intenso ao coração

TEXTO LAURA ARTIGAS


ILUSTRAÇÃO FABIO GURJÃO

UM PROJETO DE ARQUITETURA de um espaço (ou a


falta dele) influencia profundamente as nossas sensações. A incidên-
cia de luz natural e o número de divisórias de uma casa, por exem-
plo, são elementos definitivos para o tipo de relação que construímos
com as pessoas com quem convivemos.
A “Casinha” (1942), primeira casa que meu avô, o arquiteto Vilanova
Artigas, projetou como morada, e onde brinquei na infância, tem apenas
as portas de entrada e um único banheiro. Para os estudiosos, é um de-
leite formal. Para mim, sempre foi o lar que ele fez para a namorada (a
vovó). A vivência neste espaço livre foi determinante para solidificar a
relação de confiança e cumplicidade como um casal longevo. Ao cami-
nhar pelos ambientes fascinantes do MASP, em São Paulo, dificilmente
pensamos sobre o gênero do seu idealizador. Lina Bo Bardi, a autora
do projeto, se autointitulava “arquiteto”. Ela escreveu seu nome na
história da cidade – feito até hoje raro para as mulheres desse meio. Em
38 anos do Prêmio Pritzker (espécie de Oscar da arquitetura), apenas
duas mulheres foram laureadas: a iraniana Zaha Hadid (1950-2016) e a
japonesa Kazuyo Sejima, cujo título foi dividido com seu sócio no es-
critório SANAA. Por aqui, mais da metade dos registros profissionais
feitos no Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) são de mulhe-
res. Paradoxalmente, poucos nomes femininos reverberam com força
no mercado e na mídia.
A carioca Carla Juaçaba quebra a regra e vem ganhando notoriedade
neste grupo ainda restrito. Ela levou o Prêmio Arcvision, dedicado às
mulheres, em sua primeira edição (2013). Sua obra transita entre a
arquitetura e a expografia. Nas casas que desenha, sua preocupação é
respeitar o entorno e a história do lugar. “A arquitetura pode ser encanta-
dora de maneira imperceptível. Sentir-se feliz em um espaço não passa
por teorizar sobre suas formas”, diz.
Ela criou a megaestrutura de andaimes da exposição “Humanidade”, du-
rante a conferência sobre meio ambiente Rio+20, em 2012. “A proposta foi
reverenciar a geografia de Copacabana”, relembra. A opção pelo material
efêmero se relacionava com o contexto do período e com a responsa-
bilidade ambiental demandada pelo evento. “O Rio de Janeiro vivia
em obras em função dos eventos que viriam (Copa do Mundo e Jogos
Olímpicos), e o material pôde ser reaproveitado em outras construções”,
complementa. Como Lina Bo Bardi, Carla também prefere dispensar
atribuições femininas ao seu trabalho. Contudo, ela observa:
Laura Artigas é jornalista, roteirista e diretora. Estudou
“Lendo os poemas da polonesa Wisława Szymborska (vencedora do cinema em Buenos Aires, e escreveu e dirigiu o documentário
Nobel de Literatura em 1996) penso que dificilmente um homem escre- “Vilanova Artigas: O Arquiteto e a Luz”. É diretora de conteúdo
do programa Desengaveta, GNT/Globosat. Paralelamente,
veria daquele jeito”. Certamente meu avô adiria que a boa arquitetura
atua como jornalista de moda e de comportamento, e cuida
não precisa ser definida por gênero e, sim, por amor. do blog Moda pra Ler (modapraler.com).
AT R AV E S S A N D O
PONTES
para nátaly neri, quando o assunto é amor,
dar o primeiro passo na direção certa se faz fundamental

TEXTO NÁTALY NERI


ILUSTRAÇÃO CATARINA BESSELL

MEU RELACIONAMENTO COM o Jonas sempre foi uma


viagem, não só no sentido literal, por estarmos realmente distantes geo-
graficamente – ele em Minas Gerais, eu em São Paulo: entre nós há uma
ponte, uma ponte que liga dois mundos diferentes, dois universos distintos,
duas pessoas contrárias por essência – e não é porque gosto de cebola e
Estar no meio de uma ponte não é confortável como estar à margem dela,
o Jonas não, porque ele é reservado e eu mais sociável, nem porque ele
ainda dentro do espaço que tão bem conhecemos. A ponte não é coberta,
gosta de dormir de barriga para cima e eu de lado. Mas, simplesmente,
não é segura, nem familiar. Tem muita chuva, muito vento, muito sol. É um
porque pessoas não se parecem, por mais que existam pontos em comum.
terceiro universo que se ergue quando duas naturezas se encontram. Um
Ali está, enfim, a ponte, longa, e que durante esses anos todos tentamos
terceiro universo que contém um pouco de cada um, um terceiro universo
atravessar de mil maneiras.
que acaba se tornando extensão do seu próprio.
Comecei sozinha, peguei minhas malinhas e fui à luta. Tão cansada, tão
Percebemos, ao longo de nossos quase cinco anos de namoro, que o mais
solitária. Jonas ao longe, à margem de seu universo, sentado em uma ca-
difícil de uma relação é fazer essas travessias, e que não há como não as
deira de balanço me esperando chegar, dizia: “Vem amor”, e eu, “Já estou
fazer. Pessoas são diferentes, inquestionavelmente diferentes. Quando
indo”, e quanto mais me aproximava, mais raiva me dava – afinal, quem
se escolhe estar do lado de alguém não se pode querer transformar, nem
estava andando era somente eu.
querer se anular para que algo se construa. Atravessar a ponte com a outra
Ao chegar perto do mundo de Jonas, permaneci por pouco tempo, o
pessoa não é abandonar quem você é, não é ignorar os seus desejos, as
mau-humor e o esgotamento da viagem não me deixaram aproveitar. Quan-
suas individualidades: é estar ligada a elas e ainda conseguir compreender
to mais perto dele estava, mais longe de casa eu ficava. Irritei-me e fui em-
as do parceiro. Perdemos muito tempo nos forçando, anulando o outro,
bora – abatida e furiosa. Com tanta ira, que meus passos fortes abalaram
achando que ao nos abrirmos para os desejos alheios, estaríamos anulan-
as estruturas de madeira daquela ponte que se construiu provisoriamente
do o nosso próprio eu, anulando a nossa vida pela pessoa amada – e, atu-
para ligar esses dois universos. Entrei em casa e reencontrei-me, e de longe
almente, não há nada menos feminista do que isso. Achávamos que cons-
gritei: “Agora você é que vem!”. E ele veio. Largou o seu mundo e veio ao
truir essas pontes e atravessá-las nos diminuiria enquanto seres completos,
encontro do meu. A segunda travessia foi ainda mais complicada, a ponte já
nos inferiorizaria. Ceder parecia sinônimo de fraqueza. Ter saído de mim
não estava mais em boas condições. Jonas se machucou ainda mais, torceu
até onde senti que podia e ter buscado ver a vida pela ótica do Jonas abriu
o pé, sujou-se, cortou-se, parou para descansar, pensou em voltar enquanto
os meus olhos, expandiu as minhas ideias, me fez crescer, me desenvolveu,
eu dizia: “Se eu fui, agora é a sua vez de vir”. E ele veio.
me transformou em alguém um pouco melhor do que eu era antes.
Ao chegar, ele estava pior do que eu já estive. A ponte ainda mais des-
Esse terceiro espaço que casais constroem ao se relacionar só é ruim se não
truída, Jonas triste, exausto, com raiva e absolutamente longe do seu
houver respeito de seus próprios limites. Só é ruim se não houver diálogo, só
universo. A gente sempre sente saudade de casa. Ele não estava disposto
é ruim se ambos não estiverem igualmente dispostos. “Até aqui eu posso ir,
a ficar, e eu não voltaria. Foi sozinho, e seus passos fortes de raiva destru-
daqui para frente não mais, tudo bem para você?”, “Tudo bem”. Se estiver
íram nossa travessia de vez. Passamos muito tempo na margem de nossos
bem seguimos juntos, se não, o que foi construído não terá sido em vão.
próprios mundos, gritando um com o outro. Não tínhamos como não
Jonas e eu aprendemos a lidar com as distâncias ao longo do nosso namoro.
gritar, não havia mais como se aproximar para que o outro pudesse ouvir.
A distância mais fácil foi a geográfica: oito horas de viagem e tudo estava
Gritamos por muitos meses, não nos entendíamos, não nos ouvíamos, não
resolvido. Ao contrário do que muitos pensam, a nossa maior dificuldade
existiam mais pontes. Cansados de gritar decidimos reconstruí-la, dessa
nunca foi o fato de namorarmos à distância e só conseguirmos nos encontrar
vez com estruturas permanentes, para que esta não caísse com nossos
duas vezes ao ano. A saudade, a vontade de tocar, estar perto, conversar,
passos fortes, que sempre existirão.
sempre existiu! Sempre foi muito latente! Mas ao longo de nossa caminha-
Jonas e eu sabíamos que demoraria, não se constrói uma boa carcaça do
da entendemos que as idas e vindas necessárias para que o relacionamen-
dia para a noite. Cada um teria que fazer a sua parte, cada um teria que
to se mantivesse estava em nós, não nas rodovias do Brasil.
dar um passo de cada vez, pregar um prego, apertar alguns parafusos
Aqui falo de barreiras naturais entre seres humanos. Falo de esforços
e, assim, nos encontraríamos no meio. Quando nos encontramos, tudo
necessários para construir qualquer relação, sejam elas sexualmente
fez sentido. Os dois precisavam sair. O caminho seria mais rápido, mais
amorosas ou não. Temos que atravessar pontes todos os dias: com nossos
simples, nos enxergaríamos mais, nos ouviríamos mais e nem estaríamos
amigos, famílias etc. São elas que nos colocam de pé, são elas que nos
tão longe de casa.
mostram outras formas de existirmos e que alteram universos enquanto
desenvolvem os nossos próprios.

Nátaly Neri é estudante de Ciências Sociais da Unifesp,


e dona de um canal bombado no YouTube chamado Afros
e Afins, que aborda questões que vão da beleza negra ao
empoderamento feminino.
I N V IS IBIL IDA DE
U R B ANA
escute, enxergue & reflita: exercitar a empatia é a
melhor dinâmica para não se perder em meio à multidão

TEXTO LUIZA FUTURO


ILUSTRAÇÃO LAURA TEIXEIRA

SEMPRE ACOMPANHADO DAS redes sociais, autoriza- INVISIBILIDADE / SUPERCIDADE Anonimato nas grandes cidades Integração social e financeira dos refugiados
mos a onipresença da multidão (dos conhecidos às celebridades) Iniciativas que trabalham questões ocultas nas grandes cidades. Projeto: Talk to me Projeto: Abraço Cultural
em nossas vidas; no entanto, nos sentimos cada vez mais solitários. Um movimento que promove a conversa entre estranhos nas cidades. Uma escola de idiomas, que ensina francês, inglês, espanhol e árabe
O paradoxo de se sentir sozinho em meio à multidão já se cristalizou Vulnerabilidade de moradores de rua Uma plataforma que ajuda a criar diálogos e por meio dessa troca, tendo como professores os refugiados. O projeto potencializa a geração
como sensação. Inclusive, é nas supercidades onde nos sentimos Projeto: SP Invisível combater o excesso de anonimato e a indiferença, nas metrópoles. de renda e a troca de experiências culturais entre a comunidade e os
mais sós, mas a metrópole, que parecia ser o próprio antídoto para a Amigos se juntam para mostrar o que era invisível em São Paulo. Com a talktomeday.org refugiados. www.facebook.com/abcultural
solidão – uma população densa, inúmeras possibilidades de cultura criação de um perfil cuidadoso e carinhoso dos moradores de rua, é pos-
e comércio –, revela justamente o contrário. Com tantos estímulos, sível compartilhar suas histórias de vida. www.instagram.com/spinvisivel Guerra contra as drogas: Cracolândia O preconceito em relação aos refugiados
os habitantes das megalópoles tornam-se mais distraídos e centra- Projeto liderado por José Carlos Matos Projeto: RefugeesAre.US
dos em si mesmos, despreocupados com o estado de sua percep- Vulnerabilidade da comunidade LGBT O grito mais conhecido e esperado na Cracolândia é: “Olha o pão, meus Com o olhar totalmente empático, um grupo internacional de publicitá-
ção. No cotidiano, essa desatenção tem como consequência momen- Projeto: Casa 1 irmãos!”. Esse é o anúncio de que o gari José Carlos Matos, de 47 anos – rios criou uma campanha que tem o objetivo de confrontar o preconceito
tos de absoluta falta de empatia. Situada no centro da capital paulista, a Casa 1 é o resultado de um que todos os dias sai do Embu da Artes (Grande SP) e pega mais de três estereotipado em relação aos refugiados. refugeesare.us
É sabido que os níveis de depressão, ansiedade e solidão são mais crowdfunding para a criação de um centro cultural e de apoio à comuni- ônibus até o terminal Princesa Isabel (na região central) – está na área
altos em ambientes urbanos em comparação às áreas rurais. Uma dade LGBT. Liderado pelo jornalista Iran Giusti, o espaço (a ideia é que para distribuir pão e água aos usuários de drogas em situação de rua. Situações de guerra e vulnerabilidade em fronteiras
pesquisa realizada pela ComRes, conforme divulgou o site do jornal no futuro existam 150 residências iguais) abriu as portas em janeiro de Projeto: Clowns Without Borders
britânico The Guardian, em 2013, revelou que 52% dos londrinos 2017. Das 10h às 22h, o endereço oferece moradia para pessoas que es- Alguns artistas profissionais e circenses levam a arte, o bom humor e a
se sentem sozinhos, o que torna a cidade a mais solitária do Reino tão em situação de risco, programação de cursos, debates e atividades INVISIBILIDADE / FRONTEIRAS diversão para lugares onde crianças e famílias estão vivendo uma situa-
Unido. A boa notícia é que a empatia é uma habilidade humana: para a comunidade. www.facebook.com/casaum Conheça as iniciativas que trabalham questões ocultas em destinos ção de conflito crítica, como desastres naturais e guerras.
como tocar um instrumento, praticar esportes ou dançar, ela pode ermos, como as fronteiras entre países. clownswithoutborders.org.uk
ser exercitada. O primeiro passo é mostrar-se atento à existência do Visibilidade da mulher no mercado editorial
outro, que pode ser um indivíduo ou uma situação a que não esta- Projeto: Leia Mulheres Crise mundial dos refugiados
mos acostumados a presenciar. Para trazer a visibilidade da mulher na literatura, três amigas criaram o Filme: Human Flow Luiza Futuro é pesquisadora cultural. Com mestrado na Goldsmiths, University
Finalmente, para apurar o olhar e aprimorar a forma como percebemos Leia Mulheres, um grupo literário que funciona em quase todo o Brasil, e Um longa-metragem produzido durante a jornada pessoal do artista chi- of London, onde aprofundou seu conhecimento em sociedade e cultura por meio
de uma abordagem interdisciplinar, combinando principalmente estudos de afeto e
os acontecimentos ao nosso redor, selecionamos pessoas e projetos que tem como objetivo estimular a leitura de textos literários e de livros nês Ai Weiwei por 22 países, visitando campos e fronteiras de refugiados. feminismo. Seu objetivo é desafiar as possibilidades de criação de conhecimento,
que, com sensibilidade e criatividade, combatem a invisibilidade. de escritoras. leiamulheres.com.br www.youtube.com/watch?v=rWgC5pCR1AE em relação aos estudos culturais.
FÁBRICA
DE SONHOS
um dia mágico, em que
600 convidados puderam
conhecer o local onde
a melissa é produzida, e
depois presenciar in loco NO DIA 17 DE MAIO, lançamos a coleção Mapping com um desfile
o lançamento da nova em Fortaleza. Foi uma grande surpresa para todos os 600 convidados,
que se reuniram no hotel Marina Park para um brunch, e de lá foram
coleção. quem esteve
embarcados em ônibus que os levariam para um destino desconheci-
lá nunca vai esquecer. do. Era a fábrica da Melissa na cidade: “a fábrica de sonhos”, como a
confira um pouco batizou Edson Matsuo. Os visitantes entravam em grupos para conhecer
da emoção que rolou as principais etapas da produção, desde a seleção da matéria-prima e a
escolha da matriz até a Melissa estar pronta para ganhar o mundo. “É um
sonho que estamos realizando. Há muito tempo queríamos proporcionar
FOTOS HICK DUARTE E NICOLAS GONDIM
uma experiência para mostrar o nosso processo produtivo, como nasce
uma Melissa”, conta Raquel Scherer. “Por questões de logística a gente
não tinha conseguido ainda. Ao trazer os convidados para cá, queríamos
mostrar não as máquinas, mas as pessoas que fazem a Melissa”, diz
Paulo Pedó. O projeto contou com direção criativa de Erika Palomino,
integrando o tema da coleção ao universo da própria indústria.
O staff de cada setor explicava os processos para os visitantes, que
saíam encantados do galpão principal da gigantesca estrutura, que
funciona 24 horas e tem mais de 2 mil funcionários. Para construir
essa experiência, foram necessários sete meses de planejamento,
entre muitas reuniões e visitas da equipe a Fortaleza.
Num galpão anexo foi montado uma espécie de lounge, com drin-
ques e comidinhas, onde os Zabumbeiros Cariris fizeram um show no
término da visitação. Assim que o último grupo finalizou o circuito,
uma pilha de caixas foi removida e todos puderam entrar na “sala de
desfile”, cuidadosamente escondida até então. Nesse espaço,
recém-repaginado, foi criada uma passarela pelo meio das esteiras de
produção, que ficaram operantes até entrarem as primeiras modelos.
Os assentos foram montados com caixas e sacos de PVC reaproveita-
dos, configurando duas grandes “ruas” de 70 metros de comprimento,
no projeto de cenografia de Roni Hirsch. O espaço ganhou iluminação
de cinema, desenhada pelo premiado diretor Caetano Vilela. A trilha
sonora misturou elementos industriais com timbres étnicos e sofisti-
cada tessitura comandada pelo DJ Felipe Venancio. Maurício Ianês
idealizou as roupas (inspiradas em uniformes e na própria fábrica) e a
performance do desfile, que tinha quatro entradas diferentes, buscan-
do refletir a sensação de uma grande calçada, com pessoas vindas de
todos os lados. Ao casting de 50 modelos, composto por profissionais
de Fortaleza, São Paulo e Rio de Janeiro, somaram-se 130 funcioná-
rios da fábrica local e da situada em Sobral, que customizaram seus
looks com mensagens e palavras fofas nos jeans e nas camisetas.
A cada entrada deles na passarela, ouviam-se muitos aplausos.
Um dos momentos mais marcantes foi o áudio do depoimento de
Neillyana Rodrigues, que contou a sua inspiradora história de vida e
ALEX DIAS, UM DOS DESTAQUES DO ELENCO DO DESFILE
de amor pela Melissa. Ela desfilou cheia de orgulho – e muita gente ali
derrubou lágrimas de emoção.
BRUNA GRANDINI

O MAQUIADOR FELIPE RAMIREZ COM A MODELO ANA HERRERA

BERNARDO BRANCO

os looks das modelos foram inspirados nas roupas e uniformes dos próprios
funcionários, arrematados por bandeiras, como a do ceará e a do méxico. no styling,
pitadas de moda praia e elementos da linha de produção. já o elenco da fábrica usou
MAURÍCIO IANÊS ORIENTANDO OS FUNCIONÁRIOS DA FÁBRICA

camisetas e coletes customizados. na maquiagem, toques de cor e alegria

BRUNA

o artista plástico maurício ianês


assinou a performance da
passarela, com 50 modelos
e 130 funcionários, num casting
que priorizou a diversidade,
em ação inédita que rolou com
a fábrica em funcionamento

ALINA DORZBACHER

MALU BORTOLINI
PLASTIC
LOVERS
melissa convida time de apaixonados para conhecer a fábrica
em fortaleza e assistir de pertinho ao desfile da nova coleção

TEXTO GABI FARIAS


FOTOS HICK DUARTE E NICOLAS GONDIM
GABRIELLA NUNES

ÉRAMOS CINCO INSIDERS presentes no desfile


da Melissa – negros, brancos, pardos, héteros, gays, homens,
mulheres, cis e trans. Um grupo diversificado, assim como a
grife, dentro de um lugar plural.
O Mateus (@mattkeus) traduziu bem o nosso sentimento:
“Sempre foi o meu desejo assistir ao desfile da Melissa. Os
funcionários, a emoção de estar do lado de toda a equipe, com
pessoas bacanas, caso do Edson Matsuo, foi absolutamente
mágico”. Já o Guilherme (@ufano_) visivelmente emocionado,
emendou: “Quando o desfile estava acontecendo, me senti
numa verdadeira imersão – parecia um sonho do qual não
queria mais acordar. Aí a música tocou, as modelos entraram
RICK WANDERLEY
na passarela, e o meu coração acelerou! Depois foi a vez de os
funcionários da fábrica desfilarem, e o depoimento incrível que
todos nós ouvimos foi o máximo. Tive que segurar o choro para
não borrar a maquiagem”.
Para mim, foram recordações de um dia fascinante. Coloquei os
pés na fábrica e senti aquele cheiro característico que tanto amo.
Não consegui segurar as lágrimas, pois foi difícil acreditar que
estava vivendo aquela experiência. Mas era verdade – eu estava
ali, fazendo parte da história! A coleção, as pessoas, os sorrisos,
tudo na Melissa lembra alegria e espontaneidade. E nós nos
sentíamos muito especiais por cada momento. Minhas palavras
e impressões se fundem com a própria viagem, o calor e o mar
de Fortaleza; o brilho cristalino das águas e a suavidade da brisa
descrevem com perfeição o nosso verão tropical. A Adriana
(@drikgoncalves) disse que adorou ver os funcionários fazendo
o papel de tops. E, claro, testemunhar o depoimento de uma pes-
soa realizada por trabalhar naquele lugar nos fez pensar sobre
LUCIANO SANTOS
como é importante realizar sonhos. Além disso, tivemos a chance
ANA BEATRIZ
de descobrir como funciona a linha de produção que dá forma
aos pares de Melissa que amamos.
Concentro-me nessas imagens enquanto escuto o disco do
Leonard Cohen tocar na vitrola. A voz grave e calma do cantor
canadense contrasta com as imagens vivas, as cores e as
batidas do meu coração. Assim como a voz dele cantando
Dance me to the End of Love me envolve, o desfile da Melissa
foi um festival de acolhimento e de abraços. Abraços da equipe,
abraços de estranhos, mas todos abraços capazes de contagiar
exclusivamente pelo carinho.
Gabi Farias (@gabsfarias) tem 23 anos e é uma geminiana típica – Saí de lá perdida em meus pensamentos. Eles não sabiam onde
“dessas inconstantes e que nunca estão satisfeitas”. Graduanda em se fixar. Eram tantos os modelos novos, tanta gente interessan-
psicologia, ela confessa que participar ativamente do mundo das
te e tantas histórias incríveis, que os desejos me escapam e me
melisseiras é uma forma de se realizar: “Na minha vida, as únicas
coisas nos eixos são o meu casamento com o Arthur e a Melissa”. deixam surpresa por caberem dentro de mim.
FELIPE ROCHA

PHELIPE SEVERIANO NEILLYANA RODRIGUES

CIBELE RAMM

numa apresentação de
30 minutos, os modelos
vinham de quatro entradas
diferentes, desfilando entre
as esteiras de produção,
refletindo também o efeito
randômico das ruas; os
convidados aplaudiram de pé
LUCAS DE ASSIS

SABRINA VIEIRA
PLASTIC DREAMS #18
DIREÇÃO ERIKA PALOMINO
EDITORA PATRÍCIA FAVALLE
COORDENAÇÃO RODOLFO BELTRÃO
PROJETO GRÁFICO E DIREÇÃO DE ARTE KLEBER MATHEUS
IDENTIDADE VISUAL VERENA SMIT
DESIGN GRÁFICO RENATA TELES
REVISÃO CÍCERO OLIVEIRA
TRADUÇÃO MARIO VILELA
COLABORADORES AMANDA SCHÖN, BILL MACINTYRE, BRUNO MENDONÇA,
CASSIA TABATINI, CATARINA BESSELL, CECÍLIA DUARTE, CLESSI CARDOSO,
FABIO GURJÃO, GABI FARIAS, GEORGE KRAKOWIAK, GI MACEDO, HICK DUARTE,
JULIANA AZEVEDO, LAURA ARTIGAS, LAURA TEIXEIRA, LUIZA FUTURO,
ELLE FADANI
MAURÍCIO IANÊS, NÁTALY NERI, PAULA ALZUGARAY, VIVIAN WHITEMAN

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