MUITO AOS CONCEITOS, PARECE QUE NÃO É ISSO QUE ELA QUER NO MOMENTO. FIQUE A VONTADE PARA APROVEITAR O QUE TIVER BOM, PODE DESCARTAR, TROCAR, ARRUMAR. O QUE FIZ FOI MEIO NA CORRERIA E NÃO FICOU MUITO BOM. TAMBÉM PRECISA ACERTAR REFERENCIAS E NORMAS DO TRABALHO. NO INCIO ESTAVA TENTANDO FAZER UMA INTRODUÇÃO, MAS NEM SEI SE O TRABALHO PRECISA SER DIVIDIDO POR PARTES. MAS... VAMOS LÁ... SEI QUE VAMOS CONSEGUIR QUALQUER COISA VAMOS NOS FALANDO
Trata-se de um recorte da história da psicanálise cujo fundador Sigmund Freud,
médico vienense se relaciona com seu amigo e também médico Wilhen Fliess. Num período em que Freud estava se questionando e formulando suas primeiras idéias do que se tornaria as teorias da psicanálise, “é provável que as cartas de Sigmund Freud a seu amigo mais íntimo, Wilhelm Fliess, constituam, isoladamente, o grupo de documentos mais importantes da história da psicanálise” (Masson, 1986, pg1). Quando Freud iniciou a correspondência, tinha 31 anos, era professor de neuropatologia na Universidade de Viena. Após estudar em Paris com o neurologista Jean Matin Charcot e recém casado com Martha Bernays inicia seu trabalho de clínica neurológica.( Masson, 1986). Fliess residia em Berlim, era médico especialista em nariz e garganta, dois anos mais novo que Freud, manteve uma correspondência por meio de cartas entre os anos de 1887 e 1902. As teorias desenvolvidas por Fliess nas áreas de biologia geral, área na qual tinha grandes interesses são atualmente consideradas excêntricas e indefensáveis, porém, foi considerado um homem de grandes capacidades (FREUD, 1996). Adepto de uma teoria mística e organicista da sexualidade, Fliess era uma espécie de duplo de Freud. Dominado por uma visão paranóica da ciência, misturava as teses mais extravagantes (e também as mais inovadoras) sem conseguir organizá-las em um sistema de pensamento adequado à realidade. Relacionando a mucosa nasal com as atividades genitais, pensava que a vida estava condicionada por fenômenos periódicos que dependiam da natureza bissexuada da constituição humana. Já observava o Carter polimorfo da sexualidade infantil (ROUDINESCO, pg 240). Na cidade de Viena, em outubro de 1887, ocorreu o primeiro encontro entre W. Fliess e Freud, através de Josef Breuer seu médico e professor. Nesse período, os dois jovens médicos encontravam-se sob a influência da escola alemã de Hermann Von Helmholtz, tinham interesses em comum, como a sexualidade, e intencionavam construir uma nova teoria biológica e darwiniana da vida psíquica do homem, buscando subsídios na medicina e na ciência de seu tempo. Enquanto jovens, estavam à procura de uma identidade intelectual, e nesse contexto construíram uma amizade que apesar de curta, foi intensa e acompanhada de um grande número de correspondências, das quais apenas a parte de Freud ficou conhecida (Roudinesco, 1998). Poucos meses depois do primeiro encontro, Freud escreve a primeira carta endereçada a Fliess, a partir de então, tornaram-se correspondentes de uma serie de cartas que iriam mapear a gênese e progressão da psicanálise. Em 1890 iniciaram seus congressos particulares, denominação dada por eles a encontros que realizavam nas cidades de Viena, Berlim e em outras cidades austríacas e alemãs. Assim, tornaram-se amigos íntimos, foi com Fliess que Freud, mais do que com qualquer outra pessoa expressou seus sentimentos e pensamentos particulares e profissionais. Ambos eram médicos e judeus, conversavam sobre realidades da vida em família e era para Fliess que Freud relatava experiências sexuais primitivas de seus pacientes que não era bem aceito por outros colegas médicos mais conservadores, o que explica a assiduidade das cartas. Desse modo, Freud teve em Fliess seu único expectador por muitos anos (livro) Dentre os contemporâneos de Freud, inicialmente Fliess era mais acessível às suas idéias. Desse modo, Freud tinha liberdade em lhe comunicar seus pensamentos por meio de suas cartas e documentos denominados Rascunhos, nos quais, continham relatos organizados de suas idéias em evolução e primeiros esboços de suas primeiras obras. Dentre eles o mais importante contendo umas 40 mil palavras é o denominado Projeto para uma Psicologia Científica (FREUD, 1996). Por meio da regulares correspondências, Freud descreveu o que denominou de sua autoanálise, “ao longo das páginas, descobrimos como ele adotou as teses do amigo sobre a sexualidade para transformá-las, e depois como elaborou suas primeiras hipóteses sobre a histeria, a neurose e o Édipo” (Roudinesco, 1998, pg 240). As cartas também relataram a gênese de A interpretação dos Sonhos e o abandono da teoria da sedução, segundo a qual toda neurose se explicaria por um trauma real. A renúncia a essa teoria se deu em 21 de setembro de 1897, quando Freud comunicou a Fliess em uma carta que se tornaria notável, as palavras não acredito mais na minha neurótica. Na evolução de sua teoria, Freud renuncia a hipótese do trauma para conduzir sua teoria numa ciência capaz de esclarecer a realidade com a qual ele se confrontava. A correspondência foi encerrada em setembro de 1902. Essa ruptura levou Fliess a se sentir perseguido e passou a acusar Freud de plágio. Este destruiu as cartas do amigo para que sua relação com ele não ficasse exposta futuramente (Roudinesco, 1998). Estes importantes documentos ficaram desconhecidos até a época da segunda guerra mundial, período em que parte dessa correspondência se perdeu. A descoberta desse material e seu salvamento devem-se a Princesa Marie Bonaparte. Esse material obtém uma conexão significativa com a história da psicanálise e o progresso das ideias de Freud (FREUD, 1996). Preocupado em não desvelar para a posteridade sua relação com Fliess, Freud destruiu as cartas do amigo. Mas em 1936, Charles Fliess (1899-1956), irmão mais velho de Robert, vendeu a um comerciante as cartas de Freud, que seu pai guardara ate a morte. Foi então que Marie Bonaparte as comprou e as conservou, contra a opinião do mestre, que se recusava obstinadamente a que fossem publicadas, nem queria que elas fossem conhecidas. Em 1950, com a ajuda de Ernst Kris e de Anna Freud, ela publicou algumas, sob o titulo O nascimento da psicanálise. Só em 1985foi enfim publicada uma edição completa, depois de um escândalo nos Arquivos de Freud (ROUDINESCO, pg 240).
As escritas de Freud endereçadas ao W. Fliess, e os ocasionais encontros entre
eles, que trata entre outros assuntos de pesquisas em andamento, estudos de casos de pacientes, relatos de sonhos, ponderações relativos a si mesmo e ao amigo, e ainda, formações do inconsciente relacionados à chamada autoanálise, testemunharam não somente a invenção da psicanálise, mas também do psicanalista. Nesse sentido, Freud ao construir suas teorias se desloca para o lugar inédito de analista (Estilos da clinica 2010) Em nenhuma época o criador de um campo totalmente novo do conhecimento humano revelou tão abertamente e com tantos detalhes os processos de raciocínio que conduziram a suas descobertas. Nenhum dos textos posteriores tem o imediatismo e o impacto dessas primeiras cartas, nem tampouco revela tão dramaticamente os pensamentos mais íntimos de Freud no decorrer do próprio ato de criação.( Masson,1986. pg1)
O que o fundador da psicanálise nomeia como autoanálise, de acordo com Ernest
Jones (1953), foi a interpretação do “sonho da injeção de Irma” e a morte do pai, após esses eventos a autoanálise passa a ganhar impulso, sistematicidade e finalidade. Nesses dois eventos, Freud passa a se deparar com o enigma da feminilidade. Em 15 de outubro de 1895, Freud escreve a Fliess sobre o que denominou o “grande segredo clínico” das neuroses de defesa, onde ele explica que a histeria é originária de um desprazer sexual e a obsessão deriva de um prazer sexual, tal experiência de desprazer e prazer ocorre antes da puberdade. Assim, o grande segredo clínico mencionado é que ocorre uma experiência primária de gozo, sendo que na histeria é experimentado passivamente, é o gozo do Outro, enquanto que na obsessão o gozo é do próprio sujeito, o que leva a uma autorecriminação. Na seqüência de sua correspondência, Freud trata com Fliess sobre a teoria da sedução, levantando a hipótese da teoria da sedução paterna, assunto que lhe causa estranheza. Na carta de 28 de abril de 1897, ele narra um caso de uma moça que confessa que o pai a levava regularmente para a cama.
Ainda sobre os estudos da histeria, Freud escreve sobre as fantasias histéricas,
uma produção do inconsciente que até então lhe escapara. Tais fantasias são provenientes de coisas que foram ouvidas e só futuramente compreendidas. Esse assunto é tratado na missiva de 02 de maio de 1897, onde as fantasias são qualificadas como estruturas ou ficções protetoras servindo para o alívio pessoal. Nessa correspondência acompanha também o Rascunho L, no qual descreve que as fantasias são consideradas como “fachadas psíquicas” por não darem acesso direto às lembranças. Prosseguindo, no Rascunho M, Freud explica que a fantasia substitui a parte faltante da recordação, tornando impossível a lembrança de onde emanaram os sintomas. As fantasias não possuem relações cronológicas e combinam acontecimentos passados que o sujeito ouviu do discurso parental que o precede com coisas que o próprio sujeito viu. Portanto, a fantasia articula sujeito e objeto, como ficção protetora, a fantasia também se aproxima e aproxima Freud do ficcional, como evidencia o manuscrito seguinte, o Rascunho N, no qual lemos que fantasia e ficção recorrem a mecanismos idênticos. Assim, a fantasia é uma maneira de lidar com o sexual traumático.