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FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA

LITERATURA
AULA 2

Prof. Phelipe de Lima Cerdeira


CONVERSA INICIAL

Em nosso primeiro encontro, demos início à nossa disciplina valorizando


o quanto todas as nossas discussões servirão como um alicerce para o
amadurecimento de conhecimentos iniciados no período de formação escolar,
mas que, agora, serão ampliados e tensionados por meio do reconhecimento de
críticas e das teorias que fundamentam os estudos literários. Desde o primeiro
momento, estabelecemos um diálogo franco e bastante objetivo, o que permite
que possamos avançar com tranquilidade e com muita segurança para pensar
sobre a literatura.
E, já que estamos falando em refletir sobre a literatura, foi também em
nosso primeiro encontro que ratificamos o quanto a sua definição sofreu
transformações ao longo dos séculos. Desde a origem da palavra – com base
no seu radical latino littera –, a literatura acabou estando relacionada à arte de
escrever ou, décadas depois, à ideia das belas artes, dos textos legitimados
como merecedores de serem lidos. Com as contribuições de teóricos literários
como Antoine Compagnon (2009), Tzvetan Todorov (2009) e, no Brasil, Antonio
Candido (2004), aprendemos sobre a importância de pensar a literatura para
além de um texto considerado como bem escrito, vislumbrando, portanto, a
literatura por meio do seu contexto de enunciação e da sociedade da qual ela
faz parte.
Tudo isso, como disse anteriormente, é um resumo de nossa caminhada
até aqui. Agora, cabe-nos o desafio de seguir refletindo, tendo como objetivo
dois eixos principais: primeiro, destacando o preceito estruturalista de pensar
a literatura por meio de uma suposta utilização específica da linguagem (o
que um círculo de pensadores chamará de literariedade); segundo, dedicando
espaço para apresentar brevemente os principais gêneros literários, desde
a concepção clássica desenvolvida por Aristóteles na obra Poética, valorizando,
depois, a concepção dos gêneros literários segundo a crítica literária
contemporânea. Com o objetivo de pensar especificamente sobre algumas das
formas atreladas aos gêneros literários, serão elencados alguns exemplos.
Outrossim, finalizaremos esta aula abordando o impacto causado pelo horizonte
pós-moderno para o estudo teórico dos gêneros literários, valorizando a
porosidade entre os gêneros e as suas formas.

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Para facilitar o desenvolvimento de todo o raciocínio, esta aula será
dividida nos seguintes temas:

1. Contextualizando;
2. Literatura & Linguagem;
3. Os gêneros literários clássicos;
4. O impacto do Romantismo e algumas formas dos gêneros;
5. Pós-modernidade: quais são os limites entre os gêneros?

É sempre importante reforçar que, ao falar de literatura, espera-se que


leitura seja sempre uma ação presente e necessária. Conto com a sua
participação aqui e também em nossas conversas por meio das videoaulas, dos
fóruns e das atividades extracurriculares que possam vir a ser oferecidas. Que
possamos estabelecer um diálogo profícuo até o final deste módulo,
(re)descobrindo um mundo chamado literatura.

TEMA 1 – CONTEXTUALIZANDO

A definição sobre o que é literatura segue valendo o esforço e a


problematização de diferentes teóricos, pesquisadores e estudantes de Letras.
Aos olhos de Antonio Candido, transforma-se em um “direito inalienável”
(Candido, 2004, p. 191), isto é, que não pode ser transferido ou destituído. Todos
nós temos, portanto, direito à literatura, às reflexões que ela pode gerar por meio
de uma das suas manifestações.
Ao pensar em suas funções, será também o crítico brasileiro o
responsável por apontar três dimensões ligadas ao plano literário: “(1) ela [a
literatura] é uma construção de objetos autônomos como estrutura e significado;
(2) ela é uma forma de expressão, isto é, manifesta emoções e a visão do mundo
dos indivíduos e dos grupos; (3) ela é uma forma de conhecimento, inclusive
como incorporação difusa e inconsciente” (Candido, 2004, p. 176).
Como é possível perceber, ao se refletir a respeito das três funções
atreladas à literatura, não passa despercebido o fato de que ela se constitui por
meio de objetos autônomos, distanciando qualquer expectativa paradidática, por
exemplo. Além disso, o fato de perceber a literatura como um discurso que
manifesta sentidos e projeta múltiplos discursos explica o quanto

[...] convém lembrar que ela não é uma experiência inofensiva, mas
uma aventura que pode causar problemas psíquicos e morais, como
acontece com a própria vida, da qual é imagem e transfiguração. Isto
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significa que ela tem papel formador da personalidade, mas não
segundo as convenções; seria antes segundo a força indiscriminada e
poderosa da própria realidade. Por isso, nas mãos do leitor o livro pode
ser fator de perturbação e mesmo de risco (Candido, 2004, p. 175-176).

A afirmação de Candido retomada aqui não busca alertar um caráter


negativo transferível à literatura, muito pelo contrário. Ao crivar que a literatura
oferece uma “experiência que não é inofensiva”, o crítico valoriza o quanto o
plano literário pode se transformar em uma maneira oportuna para promover
pontes, valorizar as (inter)relações entre os discursos e, por fim, demonstrar
disposição para combater modelos estagnados. Talvez, observar a literatura sob
esse prisma tenha sido a inspiração para que a cartunista Laerte produzisse a
charge presente na Figura 1, a seguir.

Figura 1 – Charge da Laerte

Fonte: Blog Revide, 2019.

Não nos dedicaremos, nesse momento, a uma análise mais aprofundada


da charge enquanto gênero textual e dos sentidos construídos por meio da
conjunção entre texto verbal – “Você está cercado de ignorantes! Saia desse
livro com as mãos para cima!!” – e texto não verbal, representado por uma
multidão que brada (monocromaticamente) em uníssono e observa alguém
lendo um livro em um típico banco de praça. O que nos é caro para a nossa
discussão é como o texto criado por Laerte acaba ratificando a ideia de que a
literatura pode acionar novas perspectivas para quem lê e, ao mesmo tempo,
apontar certos perigos para quem não comunga com o mesmo ideal.
Ao oferecer uma leitura que jamais é inofensiva, a literatura – seja por
meio de um conto, de um romance, de uma crônica etc. – abre, certamente,
caminhos outros para abordar um mesmo tema. A linguagem e a língua
enquanto código se constituem como importantes ferramentas dessa
manifestação, ainda que, como já sabemos, não são suficientes para definir se
um texto é ou não literatura. De qualquer forma, quando nos deparamos com
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poemas como Leite, leitura, do poeta paranaense Paulo Leminski, passa a ser
inevitável não pensar na força do jogo construído por meio da instância entre as
palavras.

Leitura complementar
Leite, leitura

letras, literatura,
tudo o que passa,
tudo o que dura
tudo o que duramente passa
tudo o que passageiramente dura
tudo, tudo, tudo
não passa de caricatura
de você, minha amargura
de ver que viver não tem cura

Leminski, [s.n.]
O poema de Leminski foi propositalmente escolhido para que possamos
avaliar o jogo construído entre a repetição e a inversão sintática lexical, a busca
pela oralidade e por temas aparentemente banais que, em um nível mais
profundo do texto literário, apontam como a literatura acaba se convertendo em
tema de si própria. Como o leite, a literatura alimenta, dá e prolonga a vida, mas
não cura.
Mais uma vez, outros fatores são fundamentais para que a sequência de
frases seja lida como um conjunto de versos e estes como o resultado de um
poema, de literatura. Seja como for, gostaríamos de dedicar a próxima seção
para falar sobre a relação quase simbiótica entre literatura e linguagem.

TEMA 2 – LITERATURA & LINGUAGEM

Não é apenas o poema Leite, literatura que nos desperta a atenção devido
ao jogo de rimas e da engenhosidade dos enunciados que são entretecidos para
criar múltiplos sentidos. O próprio crítico literário Antonio Candido protagonizou
diversos ensaios nos quais ganhava relevância a questão da forma e do uso
estratégico do código (da linguagem) para a formulação do texto literário. Da
mesma maneira, em Teoria da literatura: uma introdução (1983) – uma das obras
mais emblemáticas para os estudos da teoria literária –, o estudioso Terry
Eagleton acaba aclarando como, durante muito tempo, dava-se crédito para “[a]
especificidade da linguagem literária”. Para o autor, “aquilo que a distinguia de
outras formas de discurso, era o fato de ela ‘deformar’ a linguagem comum de
várias maneiras” (Eagleton, 1983, p. 4).

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O imaginário de que apenas a literatura era capaz de deformar, ou melhor,
de utilizar a linguagem sob nuances e propriedades únicas acabou atravessando
os anos. No entanto, foi no início do século XX, por meio da obra A arte como
artifício (1917), do russo Víctor Sklovski, que a intenção de querer provar que a
literatura se resumia a uma maneira distinta de utilizar a linguagem tomou fôlego.
Trata-se do marco do que ficou conhecido como Estruturalismo Russo,
perspectiva crítica e teórica dedicada a estudar o plano literário por meio da sua
forma, afastando-se de qualquer variável externa ao texto, tais como questões
históricas, influências culturais, marcas biográficas etc.
Segundo os estruturalistas russos, o tecido literário poderia ser explicado
sempre por meio da sua estrutura, da sua forma, da capacidade de um texto ao
utilizar o código linguístico. Ao se basearem primeiramente nos estudos da lírica,
esses teóricos buscavam provar que o que garantia a ideia do literário era
justamente o trabalho com base na palavra (seja por conta das rimas, do vasto
vocabulário utilizado ou pelo uso criativo de figuras de linguagem, por exemplo).
Toda essa então propriedade de forjar a língua poderia, segundo os
estruturalistas, ser entendida como literariedade ou literaturidade, ou seja, um
uso especial da linguagem. Ao desenvolver um panorama capaz de explicar o
que seria a literatura, o próprio teórico Eagleton resgata essa postura crítica
disseminada ao longo das primeiras décadas do século XX, lançando a seguinte
provocação:

Talvez a literatura seja definível não pelo fato de ser ficcional ou


“imaginativa”, mas porque emprega a linguagem de forma peculiar.
Segunda essa teoria, a literatura é a escrita que, nas palavras do crítico
russo Roman Jakobson, representa uma “violência organizada contra
a fala comum”. A literatura transforma e intensifica a linguagem
comum, afastando-se sistematicamente da fala cotidiana (Eagleton,
1983, p. 2).

Tanto Eagleton como nós sabemos que a suposição, ainda que


interessante, é bastante inconsistente, sobretudo se avaliamos a produção
literária por meio das vanguardas (no Brasil, poderíamos pensar no
Modernismo). O que define se um texto é literário – vale sempre o reforço – é o
contexto no qual ele é inserido e, claro, a percepção e oficialização de uma
determinada comunidade cultural a respeito dos seus limites e possibilidades.
Quer um exemplo? Pense, a seguir, no seguinte fragmento em negrito,
que será intitulado aqui como Sentença 1:

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Sentença 1: “Teresa, você é a coisa mais bonita que eu vi até hoje na
minha vida, inclusive o porquinho-da-índia que me deram quando eu tinha
seis anos.”

Sem quaisquer outras informações e, principalmente, sem nunca ter lido


o enunciado anterior, será que todos nós diríamos que esse texto é um exemplo
de literatura? Você, por exemplo, diria que a sentença lida representa o seu
imaginário de um texto literário? Se não, por qual razão? Se sim, seria um
exemplo de qual gênero literário? Viu só como a tarefa de um crítico literário e
de um estudante de Letras não é nada simples?
Para as pessoas que julgaram a sentença como não sendo um exemplo
de literatura, é bem provável que a resposta seja por conta de que o trecho não
apresenta nenhuma identificação específica de um gênero literário ou mesmo
porque não parece usar o código linguístico de maneira rebuscada, no que se
padroniza – ou se espera – como padrão normativo escrito. Muitos, inclusive,
poderão dizer que se trata de um bilhete escrito sem muito cuidado, uma
confissão de algum enamorado, provavelmente, alguma criança ou adolescente,
afinal, a frase parece ser uma típica manifestação pueril, daquelas que nos
arrependemos de dizer depois que falamos. A sintaxe da frase, ou seja, a forma
como ela é encadeada não parece tampouco ser uma formulação complexa,
aproximando-se muito do que podemos realizar quando produzimos um texto
oral, não é mesmo?
Agora, analise a seguir o poema Madrigal tão engraçadinho, escrito por
Manuel Bandeira, um dos poetas brasileiros mais importantes do século XX,
dono de uma obra extensa e que acabou influenciando diversos momentos da
lírica no nosso país.

Leitura complementar
Madrigal tão engraçadinho

Teresa, você é a coisa mais bonita que eu vi até hoje na minha vida, inclusive
[o porquinho-da-índia que me deram
[quando eu tinha seis anos.
(Bandeira, 1993, p. 140)

Qual é exatamente a impressão que você tem do poema analisado? O


que lhe despertou mais atenção em termos do uso da linguagem, da língua
enquanto código? Algo lhe soou familiar? É evidente que as perguntas são uma

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provocação, uma proposta para que possamos refletir no impacto de um
conteúdo apresentado não apenas por meio de estruturas, mas de contextos de
enunciação diferentes. Ao reconstruir os versos de Bandeira em uma frase única
e apenas anunciar que se tratava de uma sentença, fora de qualquer contexto,
muitos de nós construímos um significado totalmente distinto do que poderia ser
oferecido por um leitor ao se deparar com o poema. A exigência imposta ao leitor
para decodificar o texto é diferente em cada caso. Agora, você acha que apenas
porque os versos foram acoplados é que a então literariedade acabou? É
evidente que não. Então, o que explica que leiamos textos com os mesmos
enunciados de maneira distinta?
Perceba, leitor, que tanto o que chamamos como Sentença 1 quanto o
poema Madrigal tão engraçadinho estão compostos pelas mesmas palavras,
seguem a mesma ordem. O que mudou além da forma? Muito. Basta começar
pela maneira com que os dois textos foram apresentados aqui nesta aula. No
primeiro caso, a Sentença 1 é exposta de forma objetiva, sem qualquer distinção
ou menção sobre o seu caráter literário; no segundo caso, no entanto, o próprio
enunciado construído – escrito por um pesquisador de literatura e presente em
um manual oficial da disciplina de Fundamentos Teóricos da Literatura –
outorgava: “Agora, analise a seguir o poema Madrigal tão engraçadinho, escrito
por Manuel Bandeira, um dos poetas brasileiros mais importantes do século XX,
dono de uma obra extensa e que acabou influenciando diversas momentos da
lírica no nosso país.”
Ainda que o exemplo pareça extremo ou simplifique diversas variáveis
concernentes ao fenômeno literário, há aqui uma resposta para que a ideia
estática de literariedade e o argumento da forma e do uso específico da
linguagem sejam questionados. A intimidade com a linguagem é uma
característica inegável e que muito personifica a literatura, no entanto, vale
lembrar que muitas escolas e escritores vão usar justamente tal atributo para
criar projetos que contestem ou que (des)construam um único modelo possível.
Sobre isso, Terry Eagleton ainda sacramenta:

A ideia de que existe uma única linguagem “normal”, uma espécie de


moeda corrente usada igualmente por todos os membros da
sociedade, é uma ilusão. Qualquer linguagem em uso consiste de uma
variedade muito complexa de discursos, diferenciados segundo a
classe, região, gênero, situação etc., os quais de forma alguma podem
ser simplesmente unificados em uma única comunidade linguística
homogêna. O que alguns consideram norma, para outros poderá
significar desvio [...] (Eagleton, 1983, p. 5, grifo nosso).

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TEMA 3 – GÊNEROS LITERÁRIOS CLÁSSICOS

Depois de ponderar a respeito da relação entre literatura e linguagem,


valorizando o quanto a dita literariedade não é um critério suficiente para
chancelar um texto como literário ou não, avançamos em nossa discussão para
falar sobre os gêneros literários.
Desde os tempos clássicos, na Grécia, já era possível rastrear o interesse
de alguns pensadores para categorizar e pensar a respeito das diferenças da
natureza dos discursos. Após Platão, passam a ser avaliadas as produções
ligadas à comédia, à tragédia, aos ditirambos (poemas construídos com base
em um certo padrão melódico) e às epopeias. Na perspectiva platônica, a
tragédia representaria uma espécie de arte maior, não apenas por conta de sua
formulação e base melódica (é necessário relembrar que a ideia do poético para
os gregos estava intimamente ligada a uma cultura oral e musical), mas também
em razão dos temas abordados.
Foi Aristóteles, no entanto, o responsável por desenvolver um ponto de
virada para pensar nesse assunto, sobretudo por meio de sua obra seminal
intitulada Poética (traduzida também como Arte poética). Nela, Aristóteles avalia
a gênese dos discursos histórico e poético (o que chamaríamos hoje de
literatura), valorizando o fato de que o que distingue cada um deles não é
exatamente a forma (o fato de o texto ser uma epopeia, uma apresentação
trágica ou um relato), mas, sim, o grau de observação de quem conta.
Comparando os nomes de Homero (tomado como a personificação da autoria
das epopeias, ou seja, do que não é história) e Heródoto (considerado o pai do
que, hoje, chamaríamos como discurso histórico), Aristóteles chancelará um
lugar de honra para a poesia, para a literatura, justamente por entender que esta
se dedica não a contar especificamente o que aconteceu, mas o que poderia ter
acontecido.
Além da diferenciação entre poesia (literatura) e história, estará na obra
Poética uma reflexão atenta para estudar os textos por meio de suas
particularidades, de sua natureza. Tratava-se, pois, de uma intenção de
classificar e ordenar certas experiências discursivas, a fim de que fosse viável
traçar comparativos e, de certa forma, estabelecer modelos de análise. Tal como
relembra a pesquisadora Angélica Soares em sua obra Gêneros literários (2007),
a própria palavra “gênero”, etimologicamente, está ligada à ideia de “nascimento,

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origem, classe, espécie, geração” (Soares, 2007, p. 7). Na intenção aristotélica
de determinar uma origem e de classificar, são definidos, assim, os gêneros
literários clássicos: a lírica (textos poéticos), a épica (textos narrativos) e o drama
(textos teatrais, divididos em tragédia e comédia).
Vale lembrar que, ainda em tempos clássicos, os gêneros literários foram
estudados por pensadores como Horácio, por exemplo. Ao longo do tempo, os
estudos relacionados aos gêneros literários ganharam também contribuições,
destacando uma observação bastante rígida e fixa, seja na Idade Média, seja no
Renascimento, seja por meio do prisma racionalista do francês Nicolas Boileau-
Despréaux. Será, todavia, a partir do século XVIII que os estudos relacionados
à compreensão dos gêneros literários ganharão maior dimensão, justamente
para questionar e (re)pensar limites e padrões.

TEMA 4 – IMPACTO DO ROMANTISMO E ALGUMAS FORMAS DOS


GÊNEROS

Na seção anterior, descobrimos como a literatura passou a ser observada


e, ainda, como a busca por uma classificação para particularizar a natureza dos
discursos acabou dando origem ao que se entende como gêneros literários. Se
na época clássica os gêneros assumiam certa rigidez, sendo divididos entre
épica, lírica e drama, a partir do século XVIII, diversos estudos passaram a
questionar, repensar e ampliar tais classificações. A grande ruptura ocorre após
uma mudança de concepção do poeta, do porta-voz literário. Segundo Angélica
Soares, “[a] concepção do poeta como um gênio, de cuja interioridade irrompe
intempestivamente a poesia, leva à valorização da individualidade e da
autonomia de cada obra, com o que se vê condenado todo tipo de classificação
da literatura” (Soares, 2007, p. 13).
Ao valorizar a liberdade de criação, a perspectiva para pensar os gêneros
literários ganha outra dimensão, minimizando certos padrões e normas para, na
verdade, buscar possibilidades. A ascensão de uma nova classe de poder, a
burguesia, acaba impactando o consumo e a produção da literatura, agindo
diretamente para a formulação de uma forma específica para narrar e que
atravessou o século XVIII e XIX, consolidando-se até a contemporaneidade: o
romance. Vale destacar que o desenvolvimento do romance, justamente por sua
gênese aberta, híbrida, acabará impactando o pensamento e a formulação de
novas formas e dos gêneros literários como um todo.
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Se voltamos a pensar nos gêneros e estabelecemos atenção especial
para a lírica, para a épica (ou narrativa) e para o drama, podemos ainda destacar
algumas das suas formas de manifestação, lembrando que essas, claro, não são
únicas e que, principalmente, acabarão protagonizando a partir do século XX
entrecruzamentos e diálogos bastante profícuos. Quanto às formas dos gêneros
literários, podemos propor a seguinte sistematização.

 Formas fixas do drama: comédia e tragédia.


 Formas fixas da lírica: balada, canção, elegia, haicai, ode, soneto,
madrigal, rondó, entre outros.
 Formas fixas da narrativa: epopeia, romance, novela, conto, crônica,
ensaio. Em sua obra Gêneros literários, Angélica Soares prefere distinguir
a crônica e o ensaio como “formas especiais” (Soares, 2007, p. 64), uma
vez que, para ela, ambos enlaçam propriedades muito específicas. A
abordagem crítica, como podem imaginar, não é uma unanimidade; em
nossa leitura, sobretudo por meio de um contexto pós-moderno, pensar
que apenas as duas poderiam ser inseridas em uma classificação tão
generalizante como “especiais” seria uma incorreção. Por isso, entende-
se ser mais interessante deixar as duas formas como outras
exemplificações do que poderíamos chamar de narrativa.

TEMA 5 – PÓS-MODERNIDADE: QUAIS SÃO OS LIMITES ENTRE OS


GÊNEROS?

Pouco antes de finalizar a seção anterior, já havíamos sinalizado sobre


como os estudos dos gêneros literários passaram a ser impactados, sobretudo
após as contribuições de teóricos que já identificavam certo caráter sinuoso entre
os gêneros e o seu potencial de imbricamento e comutação. Já por meio das
chamadas vanguardas europeias (o Surrealismo, o Ultraísmo, o Dadaísmo etc.)
e, no Brasil, por meio do que intitulamos como escola modernista, passa a ser
possível perceber como os gêneros literários demonstraram apreço pelo
diálogo, (des)construindo formas e padrões estáticos e, principalmente,
fissurando quaisquer obrigatoriedades esperadas pela forma.
Os gêneros literários passam a ser inseridos na esfera de discussão do
pós-modernismo, que dinamita toda e qualquer certeza, fissurando os grandes
relatos e, ainda, deflagrando a porosidade entre as fronteiras. No que diz respeito

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à literatura e aos gêneros literários, passamos a pensar em fenômenos híbridos,
como a prosa poética, a poesia narrativa, sem falar, é claro, de novos gêneros
como a memória, a não ficção, a autobiografia, a autoficção e as chamadas
fanfictions.

NA PRÁTICA

Baseando-se em todas as discussões deste segundo encontro, reflita a


respeito das questões a seguir.

1. A que está ligada a ideia de literariedade desenvolvida pelos


estruturalistas russos?
2. Explique com as suas palavras por que, segundo a teoria e crítica literária,
a ideia de literariedade não é suficiente para a definição do que é
literatura.
3. Em uma folha de estudos, faça um breve resumo a respeito dos principais
gêneros literários, buscando identificar elementos que os caracterizem.

FINALIZANDO

Neste segundo encontro, dedicamos atenção especial para finalizar a


problemática a respeito da ideia que se atribui à literatura. Para tanto, foi
salientado de forma mais atenta a relação entre o plano literário e a linguagem,
valorizando a proposição estruturalista da literariedade. Ao pensar em um
enunciado potencial, passa a ser possível entender o quanto a intimidade do
texto literário com a língua enquanto código não é, de fato, suficiente para a
definição da natureza literária. Mais uma vez, ganha relevância o entendimento
de que a literatura está diretamente atrelada a uma convenção e oficialização de
um grupo ou esfera social.
Da mesma maneira, foi possível seguir com os nossos estudos, abrindo
um novo capítulo para se apresentar o nascimento dos gêneros literários desde
a época clássica. Por meio da reflexão de Aristóteles, épica, lírica e drama se
consagram como o que podemos chamar de gêneros literários clássicos,
divididos com base em sua natureza de expressão. O rigor teórico atrelado à
forma, a partir do século XVIII, passa a ser então fissurado, impressão impactada
sobretudo por meio da compreensão de que toda obra é autônoma.

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Por último, foi reservada atenção para identificar algumas das formas fixas
atreladas aos gêneros literários, que, por conta de uma perspectiva pós-
modernista, parecem estar, cada vez mais, abertos à hibridação e ao diálogo.

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REFERÊNCIAS

ANDRUETTO, M. T. Hacia una literatura sin adjetivos. Córdoba: Comunic-Arte,


2013.

BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.

CANDIDO, A. Vários escritos. São Paulo: Duas cidades, 2004.

COMPAGNON, A. Literatura para quê? Belo Horizonte: UFMG, 2009.

EAGLETON, T. Teoria da literatura: uma introdução. São Paulo: Martins Fontes,


1983.

LAERTE. Você está cercado de ignorantes, saia desse livro com as mãos para
cima. Revide, 17 mar. 2015. Disponível em: <http://revide.blogspot.com/2015/03/
voce-esta-cercado-de-ignorantes-saia.html>. Acesso em 28 abr. 2019.

LOPES, P. C. Literatura e linguagem literária. BOCC, Lisboa. Disponível em:


<http://bocc.ubi.pt/pag/bocc-lopes-literatura.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2019.

MICHAELIS. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Disponível em:


<https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/>.
Acesso em: 28 abr. 2019.

PENSADOR. Paulo Leminski: Leite, literatura. Disponível em:


<https://www.pensador.com/frase/MTM1NzQ3/>. Acesso em: 28 abr. 2019.

SOARES, A. Gêneros literários. São Paulo: Ática, 2007.

TODOROV, T. A literatura em perigo. Rio de Janeiro: Difel, 2009.

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