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Síntese da evolução urbana:


de suas origens à cidade
.contemporânea.
1. Evolução urbana: introdução
Estudar-se-á aqui a cidade sob seus aspectos históricos, ou seja, quando,
como e por que surgiu, como se desenvolveu através dos tempos e, sobretudo,
como. sua evolução e estrutura sofreram as influências do meio físico, do desen-
volvimento das ciências e tecnologia e, finalmente, das formas econômicas de
produção.
Pretende-se com tais estudos, ainda que sumários, atingir os seguintes
objetiyos principais:
a) Facilitar ao aluno de planejamento a leitura, a compreensão da cidade·
atual, como obra de arte "aberta", ambígua, no sentido de possuir múltiplos
significados, todos, porém, bem definidos e ordenados. A leitura de um signo
f' :;./ ~ _.,_ ; __
._ _ --.--.
- ,.- '"-- .1";

2081 Célson Ferrari


Urbanismo B
se amplia em significadçs pela conhecimento de suas origens. Os estudas históricas ~Na cansenso da maioria dos.historiadores, o gue seQara a História da mé-
das fatos urbanas têm prestada grande contribuição ao. urbanismo. Os monumentos, -Hístória é a aQarecimenta dos documentos e.scJito$~O.utfQs,_delimi~nas com
as ruas, as praças, enfim, a cidade em seu traçado. geral são. permanências que, a aparecimento. da pão. au da cidade.
de acarda com a maior ou menor vitalidade de suas formas, conseguiram chegar ---{)
---
(\"\ pré-História não. canheceu a cidade,.IJgs apen~dei~ais a~ proto-
até nós, através de múltiplas adaptações às mudanças da ser ou sociedade humana. -cidâfe:( g!;l.!LnjJL.erªm fixas e !,!!uda,.Yamde lugar ~ a ~xaustãa aõ-s~~.
Praças de mercado (função. comercial) transformam-se em praças de reunião. Robert Redfield em O mundo Primitivo e suas Transformações, escreveu:
CÍvica (função. política), ruas de veículos tornam-se passeios de pedestres, e assim "No neolítico etnográfica, as povoações apresentavam poucas centenas de habi-
por diante, numa demonstração de que a valor dos fatos urbanos reside, essencial- tantes. Na Europa pré-histórica, a maior povoação neolítíca já conhecida,
mente, em sua forma e não. em sua transitória função. Os estudos históricas nos arkaer, na Jutlândia,' compreendia 52 habitações pequenas, com um só cômodo;
propiciam meios de distinguir as permanências negativas, patológicas, das positivas 4 a número mais comum, porém variava entre 16 a 30 casas; assim a grupo. local
ou vitais. &J médio na época neolítica tinha, em média, de 200 a 400 membros".
b) Dar ao. leitor uma compreensão do processo de urbanização, isto é,
S~undo GORDON.s.!:i!!PE (~tOlladar ,-J!.rgue~ga e etnógrafo) _no_~-
mostrar-lhe de que maneira a meio física e a evolução da tecnología e das formas
htíco acanteceraIlL.duas revoluções ilT!partantes,. caracterizadas par dois movi-
de produção, cujo reflexo mais visível é a processa histórico da confrontação
mentas culturais qU€LPr.ovacaram mudanças sociais muita significativas:
dialética das classes sociais, afetam a processo de urbanização.
c) Fornecer subsídios ao. planejamento de novas cidades ou de renovação
'T
urbana, pelo estuda comparativo das soluções já encontradas e pela sua análise
crítica. -------
-a) Revolução Agrz'sola
O )lOmem, em fins da nealítica, cameççu a ungar, a arar, a selecionar
sementes.Jt1L~J.o.picias-ª-o....plantio. de alguns vegetai~ conhecer as
d) Dar ao aluno, ainda que superficialmente, um conhecimento geral sobre
dtações da ano., enfim, descabriu pracessas agrícalas raciau"ais. ~as a essa
a evolução das principais teorias urbanísticas.
evoJuçãe,-~ela_pr:'imeir,a=v:e.z.,...a~J1mem.passa:a~~el-weede~~agrz'coIas ~eça
'I -p
- 7 L-- :;/COv' ~ ~ a .~ent:aJ::i2;aE:Se~Surg~passi.bilidade de tracar o excedente agrícola-por 0U-tI0S
2. A cidade na pré-história e na antiguidade ben~ec9IlômicQS..:. Mas o aglomerado pré-mbano ~nda cantin!l1La.rn!lda.E. de !uga~
c~tãa do SQlo,s~b~m que com menor freqüêncía. A protQ-cidade já existe.

--~
2.1. A origem da cidade
~ b) Revolução urbana )
~;A ~LL~e-og.r,át:icCLe..,_acima-àe-tudo.,-sociaL..C.o.mo
~
fato sacial a cidade sumiu muito recentemente na.Jdístóría, co~da ~ As atividades agrícalas tarnaraJIl.:se_inc.ompatíveis com a criação. de gado
apàrecimentp camo fim ~stOria.Aílistória da Civilização começa com na mesrn;" área. Surg!C.-p_ois
a separação_entre a agricultura e o Qastoreia e a primeira
o -~r~cer --------===-
da cidade (do latim civitate), há cerca de 6.000 anas aI2enas~ divisão SoeiaCdo-t;abalh0~-0 ~gricultar.e_o-past~ ..A sociedade de classes preceaeu
pois, historicamente, a orl$~~c~de. -
~abend~as; ~q.~~ad~ p~esui:ní~l da Universo. é de 10 bilh?es de anos,
que a~ade da erra e de 5 brlh.~S~d.~an\os e que a do homem, aproximadamente, ~ -O pastor precisava das produtos agrícalas~ O agricultor, par outro lado
milhã de anos, e comparantla~se a idade da Terra (5 x 109 anos) necessitava das produtos animais. C~çaram_e.ntíi9.-a...apare€er-p0st0s,-de'traca,
( é de
a um ano. (3,5 dias 'í--... em~g!u fa'ltanda apenas 1 hora e 45 min para a onde Qastares e agricultore§ p..erm!ttay'am os seus Jllodutas: 4.c~cia., porém,
meia,naife--io últi so dia do ano. e a~6idade nas 30 segundas finais da ano, que nem._$.tmpr!?...!!...troJ:.<t
p.9dia ser procedida de fato: não era ocasião da colheita
mais ou menos. / ou não~haYiLpr:.onta~disf>onibi1idade M produtos animais. IA n~ce~idade q~~ daí
adveio d~_~e.~.:tr~em. as tracas_~omJlÍnas!:~~e):~regas-de pradutos; f~rçau
~ Os períados da pré-história são.: palealítico, mesolítico e neolítiço. No
a ap<!!..e.Ermentada escJJta. S-urguamas escribas: pessoas que sabiam representar
paleolítica e mesolítica a homem vivia em estada de selvag~ri.a, estado cultural
palavras e números com signas~'~\ --
caracterizada por uma economia de caça, pesca e coleta de alimentos in naturá
ecpor '1m artesanato. rudimentar de fabricação de instrumentos de Qedra lascada J..l,mtQ.aas 110stas de troca, foram surgindo. aglamera~ões....de-pess0a.s-Gamo
e~ NQ.nealítica, a homem passou a cul!ivar a_sQIQ,a domesticar os animais as sacerdotes, os saldadas e as artesãos; isto. é, a especializaçã~p!::afjssional.
a Qolir a pedra e a fabricar a15jeTõSaécêiã;Üca, deixando a selvggería.e.íngressaado
-'-" - --
1 Jutlândia _ península continental da Dinamarca.
na barbárie.

/
G Célson Ferrari ~
Urbanismo &-
o que vale a pena destacar é que ~ade, ao mesmoJ_em.p.o...queseconstitui
A ]moeda é criada d)ara .facilitar as troca§,.-Em resumo, a revolução urbana numlL-l1ova-técnica-de-dominação" dá à produção uma organízação, através da

-. ec~em..fins_do .Neolfticocec.princfpios .do pexíOdo j:tist9J:Í.fO. Coma cidade


s1!!giu a_História e a civilização!CO homem emergido de um estado ~l~a
divisão e e.mecializ~.ã.o dei trabalho. O poder militar se-aperfeiçoa com a cidade
(criação de fortalezas,. facilidade de recrutar sQldados_PLofissionalizando-os, fabri-
(paleolítico e mesolítico: pré-História) passa pela barbárie (neolítico: pré-História) ~ armas pelo artesanato urban.9t etc.), e dá-lhe-ensejo-de dominação política
e atinge o estado civilizado com o evento da cidade. E na cidadé nascente sobre os territórios vizinhos.
estavam as raÍzes do próprio Estado» ' - ....----- -
---- --- ARTHUR KORN em sua obra History Builds the Town, escreveu: "A cidade
Para explicar,: origem d~de, há algumas hip.óteses: é a pedra fundamental do Estado que emerge", salientando o papel político da
cidade e o resultado da progressiva desintegração da sociedade tribal pela divisão

0s aElomerados pIT-u~banos neolíticos ou proto-cidades se desenvolveram
do trabalho.
e~m-(;)Úgem-.às cidades': ~e-se em dúvida esta hiQQ..tese,çom o seguinte ;gu-
mento: Como muitas cidades antigas foram construídas no cimo dos morros, O novo gênero de vida que a cidade gerou trouxe uma nova dimensão à
as colheitas tinham que ser transportadas em a,9.iY..e' para serem armazenadas. experiência humvia. Antes das cidades, predominava uma ordem moral. A cidade,
Não é provável que os agricultores adotassem solução tão inadequada. Os que trouxe também uma ordem técnica, 'sre-é, o homem ~ssou a se organizar pela
levantam~s.Yt dúvida supõem' que a cidadetenha surgido um pouco mais tarde e, necessidade ou utilidade dess aniza j:o. A cidade pela sua heterogeneida~e
§ n<2alto das elevações, em virtude de acontecimentos relatados a seguir. Mas I3em
étnica, profissional de c as e costumes, enfraquece a ordem.moral e f.QI1ale..c..e
.~ todas as cidades da antiguidade se localizavam em pontos elevados, diga-se de a pr.dem técnica. Árrz:!' tb r:yU (I.'
;: passagem.
~L- (L)~ .(

Q , b fi cidade surgiu com a id~<!e dos metais .. O~os que desc.Q.b.rir.am..o,mo »< __:.2. A cidade ",História Antiga
do metal (pastores), possuindo armas mais poderosas qy'e_as...4.e_ped:r:a.,_dominaram
/ 2.2.1. As civilizações antigas
as _RQpw.açoes"ãgr~olas, qüe ainda ás usa~~:' P;~a prote~_e.s.SM'OJ!ORUl~ções I .
.óQL~ construíram cidades f~rtificadas em sítios el~ild2l. ]mJr2.ca ~proteção . As primeir~gvilizaç_ões desenvolveram-se nos ""'yales dos rios em vÍ!!ude
militªl:..r.e..c..ebiamtributos e subserviência_dO-povo-agI-icultQ;s[_ da fertilIdade do solo, facilidade de irrigação ede transportest Nilo (Egito), Tigre
r Na - realidade, as~cid~des '-d~
Mesopotâmia (Ur, UrucJ'Lgash, Babilônia) e Eufrates (tJêSopotâmia), Indus (Paquistão) e rios Amarelo e Yang-Tsé-Kiang
foram fundadas pelos invasores sumérios; a "polis" grega, pelos invasores aqueus; (China). O rio é o elemento unificador dos primitivos Estados.
as cidades de Creta pelos invasores egeus, etc. Essa luta entre pastores (guerreiros) A cidade de Ombos no Egito, é tida como a mais antiga cidade do mundo,
e agricultores (trabalhadores) segue o homem através da História até a extinção por vários autores, (4.000 A.C., portanto, há 6.000 anos),
dos povos bárbaros, na Idade Média. Gideon Sjoberg adotando o aparecimento da escrita como critério definidor
É--pouco provável que a hipótese (a) tenha-se verificado com exclusivi<k.de, da cidade, remonta suas origens há 5.500 anos (3.500 A.C.) na Mesopotâmia.
não só pelas razões expostas..-m~porque a criação da cidade, ao exigir a produção
Outras cidades antigas conhecidas são:
de excedentes ag!ic.olas,-ellLCaciter-permanente,--e-.taLqlliLPudesse manter uma
..pop.ulaçãO_.llLb.ana....nãü-pwdutora de seus alimentos,-_~slu'p'unha a existência de Na. Mesopotâmia: Lagash, Larsa, Erek, Kish, Eridú, Ur e Babilônia. lJfêi
umª-estr.!!1J!J_ll-de_classes~diyidi.d2-em "classe dominante" e "classe domina~". \ Babilônia são mais novas e contemporâneas de Tebas e Mênfis, no Egito.
{lssim---a-lúpó.1ese (b) é mais aceit.áY..eLp_o.I.qlliL.já
parte do pressuposto real da No Vale do Nilo: Tebas, Mênfis, Hieracompolis, Buto, etc.
ex~de_ uma.rclasse.domínante" co~JitJ!~.J~elos I!0vos invasores, pastores, , Na Bacia do Indus: Harapá, Moenjo-Daro, Chandu-Daro, Laore, etc.
guerreiros. A idade do ferro surge.em fins do.neolúíco marcando, d~al~rma,
cõiríoaparecimento da escrita e da cidade, a Qrige~S-te.mI!os históricos ou Estas cidades da bacia do Indus são contemporâneas das grandJs pirâmides

-
civilizados. -
A cidade pode ter nascido, algumas vezes, do mercado enquanto sítio
(market-place), e outras, da proto-cidade transformada pela função comercial
. egípcias (2.700 A.C.).
Na região da P~a:
. '.-:::::J
Jericó, Biblos, Megido, Jerusalém, ,Tiro , etc.
Na China: em 1.100 A.C. surge Pequim com o nome de Ki.
(hipótese a), Nesse caso porém, a cidade comercial deve ter surgido sob a proteção
Os chineses eram. agricultores e demoraram a fundar grandes cidades. Em /
de uma cidade-estado, cuja "classe dominante", pela imposição das armas de seus
1409 Pequim recebeu um tratamento urbanístico que impressiona até hoje pela
soldados dela retirava um "mais-produto" para sua manutenção, como também
para sustentar os artifíces, soldados, sacerdotes, etc.
sua grandiosidade e religiosidade.
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ri' ..,J-'" Urbanismo 213
212 Célson Ferra'; t'0 r.P'fJ"
JO''l- ,JQ;
~/) Em 1.600 A.C. Tebas, no Egito, possuia 250.000 habitantes e seus habitantes
queixa~m-se já da jnsuportável poluição atmosférica e tráfego da cidade.

Breves comentários sobre algumas cidades antigas:

Harapá e Moenjo-Daro (Paquistão)


Apresentavam um característico ímpar dentre as cidades antigas. Eram
construídas dentro do sistema tabuleiro de xadrez ou ortogonal. Foram encontrados
vestígios de sistema dinâmico de esgotos em suas ruas. As quadras eram edificadas
segundo essa concepção ora retomada em alguns loteamentos e desmembramentos
modernos: casas voltadas para o interior da quadra. Com as paredes cegas, o
ambiente interno ficava isolado do externo. Para a Índia, local de intenso calor,
já representava uma solução de conforto térmico além de sua função estratégica
& 3 predominante de defesa.
<=:

E
f s:
Õ
Moenjo-Daro possuía duas zonas distintas: a cidade alta e a baixa. O principal
~ o edifício da parte alta era o dos Grandes Banhos com uma piscina de 11,70 m
~ E
de lado e 2,40 m de profundidade?
.Q ~ "
'2
"'-o
"Quem construiu essas grandes cidades e nelas viveu? A origem de seus
O
II ~ "'" habitantes é um mistério. As cidades não parecem ter crescido gradualmente, como
11I
lú ee
"
a.
Ur ou Paris, mas ter sido deliberadamente construídas de acordo com um plano,
O ::>:
I
como Washington, Nova Delhi ou Camberra ... Isso sugere que os pais da civili-
zação Indus não apenas provieram de algum lugar fora do subcontinente, mas
ci
também vieram de muito longe." (Arnold J. Toynbee in "De Leste a Oeste" -
~
::l Ibrasa - S. Paulo - 1959 - às fls. 154)
00
ti: -v :po..nc:1.AJ 'O txempl/t) oLo yVvy~; n'\.1 J" +o ok. v~ CI"elaoU:
Babilônia (Mesopotâmia) ,

\J.
líI
~bi1ônia do século XIX A:C. atin iu seu eríodo
áureo. HERÓDOTO o ai da História' descreveu-a como sendo um~grande cidade
cercada por muralhas de 21 Km de lado, de 80 metros_de altura,» espessura de
1
c( 20 metros; ossuindo 110 ort'ts maciças de cobre. Suas ruas eram lar as e retas
li e- ~ssuía_pr.édiQs de_3 e 4 p~entos. - . - -- -
ti
~c.cL~el que essa muralhiLcicl.á.pic.a_tenhLexistido..-EoLPMcial·
~
Q mente destruída e pilhada por XERXES (486465 A.C. filho de DARIO.
til
I Pequim (China)
Da China, a cidade mais importante é Pequim. Ela teve vários nomes:
Ki Yen, Yen-Tcheu, Yen-King, Chung-Tu e Khan-Balik. O atual, só foi fixado
quando seu imperador Yung-Loh a remodelou toda, em 1409, criando amplas
avenidas, parques e seus famosos jardins de traçados ,simétricos é grandiosos.

2 Sobre Moenjo-Daro veja-se a revista da Unesco editada pela Fundação Getúlio Vargus:
Correio, fevcrciro/1974, ano 2, nl? 2, pp. 9-18.
214 Célson Ferrari Urbanismo 215

Ki ou Chi foi construída em 1.100 A.C. e destruída em 226 A.C. por


CHE-H~ANG-TI. Ressurge depois sob as designações sucessivas de Yen, Yen-Tchau,
Yen-King e Tchong-Tu (Chung-Tu). Foi destruída pelos bárbaros de GENGIS
KHAN em 1215, de nossa era. KUBILAY KHAN construiu à nordeste da cidade
precedente uma nova cidade chamada Khan-balik (cidade do Khan, em mongol).
A dinastia dos Ming mudou-lhe o nome para Pei-King ou Pequim (Paz do Norte).
~
A vida urbana na China, surgiu muito tarde, pois lá, a economia se baseava
na agricultura, predominantemente, e sua civilização rural não criou metrópoles
milenares. As capitais não duravam mais que suas dinastias transitórias.
No Egito e Mesopotâmia, principalmente, as cidades eram estruturas frágeis,
perecíveis, que não deixaram vestígios em torno de palácios, templos ~ monu-
mentos colossais e eternos. Refletem tais estruturas o despotismo político dôs--reis
e deuses através de seus prepostos na terra, os sacerdotes. É a cidade da antiguidade,
um privilégio da classe dirigente, qual seja a dos reis-sacerdotes do Egito, e a do
poder militar dos reis-comerciantes da Mesopotâmia. É o símbolo do despotismo
e da opressão dos poderosos sobre um povo oprimido cuja moradia não deixou
sequer vestígios de sua efêmera e miserável existência.

surgiu a pa~r <k 2.0QO_A..C.-a~


-
2.2.2. Povos e cidades da Grécia

~o mar Egeu, I!recedendo a cultura da enínsul gregas.na.ílha.da.Creja


ão cretense ou egéia. ili-egeu ovos
portadores d armas-de bronze, dominam os ne1álrtQS bárbaros ue usavam armas
de p~. Em.Creta ..fundam-se-cidades como Cnossos, Eaistos e Mália. Na península
grega fundam-se praças fortes militares: Orcomenos, Tebas, Argos, Tirinto e Micenas.
No século XVI A.C. os a ueus, povos indo-europeus que usavam armas de
_......... -~ - o _. - - ~

ferro ocu~uase toda a enínsula gr~ga. Eram eles os jônios, eólios e


dórios, principalmente. Em 1450 A.. o ag~us~invadem Creta e destroem Cnossos.
Com a uéd de ' 'nossos--Micenas capital.de uma federaçao de cidade - stadós
no- ontinente, assa,a te maior importância. Tróia, na Ásia Menor, é destruída
pelo povo grego, em formação, em 1300 A.C. Os aqueus, juntamente com os
cretenses (egeus) dominados, seriam os mais importantes componentes étnicos
do povo grego.
i.. "Al.Sidades crete ses das quais temos ruínas bem co~s_de alguns e:;;cAL-A (~...,..) o
palácios, tinham ruas em CUIYa de, nível; eram estreitas e pavimentadas com rede r I
d~ água e esgoto. ~ o 100 2s:Jo •
d A Civilização rmcernca era militarista e comercial. Suas fidades tinh~ CRET"Â
muralhas roteto as, de alYenaria de pedra ciclópica. '" .,..,..-,"\..
-4 . -
2:j As cidades--mi€ênÜ;a deram origem às rimitivas cidades gr2s que er~
um -labirirrtc--de.cbeccs...sern dre!ill~m_eem_esgütos~canalizados. rua com
abaulamentn.ínverüdo, servia de canal de esgoto. Segundo G. CHILDE, a socie- )
-s-, dade micênica era bárbara. Figura 10.2 - Península grega e mar Egeu.
216 Célson Ferrari
Urbanismo 217
r Com exceção dos templos e das mural~ (os governantes eram sacerdotes-
j -reis comerciantes), oLdemais edifícios eram de construção sjm~erecíyel.
taL9,ual-oCDma_no-Egito e Mesü.p-otâ~r..ifteipa-l-mente.
""- .
A ágora (praça do mercado) e a cidade eram irregulares na forma. A ágora,
aos poucos, foi passando de praça do mercado para espaço político: Nela os gregos
discutiam seus problemas e votavam diretamente suas leis. A Grécia conheceu,
)
por isso, a única democracia direta, não representativa. O cidadão livre grego
exercia seus direitos políticos pela votação direta e livre manifestação do pensa-
mento.

Atenas - séculoJI" D.C. (A9o..-a e e.n+O r-no)

i e:SCA~A. <.....,)
\ 1° 'I'
Figura 10.4 - Milcto.

, Um dos primefros urbanistas conhecidos, HIPÓDAMOS DE MILETO,


seculo V A:C., fez amosos rojefôs de algumas--eiº-ª-des. Ele;ãféná algum tempo,
e:a. conhecido como o pai do sistema de xadrez. stabeleceu esse si a para
vangs CIdades gregas. Após a descoberta de Harapá e Moenjo-Daro, constatou-se
Figura 10.3 - Atenas c sua ágora.
que não tinha sido ele o primeiro a usar e referido sistema.
I,

I
218 Célson Ferrari

HIPÓDAMOS observava a orienta 'ão e dimensícna ento das ruas segundo Urbanismo 219
a intensidàdê'dê seus usos. Até hoje, aqui no Brasil muitas cidades nao observam essa
com barreiras naturais. Influiu também na concepção de suas estruturas Pér amo
hierarquização em seus"""sistemasviários, com evidente desperdício de espaço urbano. g
~or exemplo foi construída sobre uma elevada montanha, constituindo.se nu~
Atribui-se ao urbanista jônio HIPÓDAMOS e seus discípulos os planos das os mais engenhosos planos urbanísticos da antiguidade.
seguintes cidades: Pireu, Túrio, Rodas, Selino, Cirene, Pérgamo, Alexandria, Mileto,
Nieéia, ete. todos segundo o sistema tabuleiro de xadrez. 2.2.3. Roma"
~
No século X A C os
.í' Procurava ele atingir a es eeializa ão de função ~onas urb~5 ~ de . " etnucas, vm
. d
os provavelmente
da Lídia _ Á .
efeitos estéticos e o desenvolvimento da ág~a c~o eSI1ao isolado e cívico. ~~nor -. fU~da~m o império etrusco na península itálica. Suas cidades princiP;::
Sua idade-íâea nao everia abrigar mais de 10.000 "cídadãos'? e seu espaço /..:I . ~ram con _e~I as c~mo as ""~odecápolis" e eram: Tarquínia, Cerveteri, Vulci,
devia subdividir-se em três partes principais: a dos deuses, a do Estado ea dos VeIOS, Vetuloma, OrvIeto, ChIUSI,Perugia, Ruselae, Cortona, Volterra e Arezzo.
i indivíduos. C.olocava a ágora (espaço cívico) no centro geométrico da -cidade,
,,---próxima dos edifícios públicos. ~ ~ na pe~;~~~l m~ta~?s dOAlSéCUlO VIII A.C. os gregos passaram a fundar colônias
t T t S" a I a rca. " gumas delas: Nápoles (Neapolis), Messina. Agrigento
A cidade de Mileto, reconstruída em 480 A"C. (fora destruída pelos persas aren o, iracusa, Selino, etc. ' ,
em 494 A.C.), segundo plano de seu filho Hipódamos, cobria 90 ha, dos quais
. ~~d A civilização urbana não é autóctone na Europa. Resultou da ação coloni-
52 ha eram parques e jardins. O sistema viário foi projetado segundo o sistema za "ora de povos procedentes do Oriente e dos gregos que também VI"era d "
tabuleiro de xadrez. Onente. m o

Atenas, nessa época - século V - tinha 300.000 habitantes, dos quais ~ ~resumível da fundaçã:..o-1Le...Rmna.,_Lo_al1Q...
de 754 A.C. Teria sido
115.000 eram escravos, de acordo eQm estimativa de Gomme, citada por A. KORN. ~~~~a~1C or descende dos anti os troianos. Com a destruição de Tróia em
- - A--- - .. , os troianos comandados por ENE-IAS di " " '
ARISTOTELES e PLATAO viviam neste século, e achavam Atenas dema- itálica) e fo _. ' ingiram-se ao Lácio (península
~siadamente grande. Segundo eles, a população id~al de uma cidade seria de -. rmaram com os abongmes um povo único. ASCANHO, fllho de
ENEIAS, fundou Alba. De Alba partiu RÓMULO ue fu d "
( 1.9.000 "cidadãos", no que concordavam com HIPODAMOS, mentos latinos e sabinos. q n ou Roma com ele-
A cidade grega atinge um dos objetivos da-arte urbana: É orgânica no sentido
. Além ~~s "dodecapólis" ~ das colônias gregas, durante muito tempo, divul-
de que tem Cãaa orga"7rrr gar onde deve cumprir sua função específica, sendo
c go~ se. a n~tIcIa de que tena havido nas planícies do rio PÓ, por voJ.ta de 2000 A C
por isso exaltada pelos adeptos do u 11: 'smo orgánico. Por sua forma e arqui-
a civilização das "Terremares" (de terra marma: terra gorda fi' til) E . :'
tetura, a ci ãâ/ con emporânea tem suas raízes na Grécia. ate t '. , er I. xame mais
n o e mmucIOSO dos vestígios das "cidades" d . " _...
t d . essa suposta clVlhzaçao indicaram
A sociedade helênica era divida em ricos e pobres, bem como em livres e o avia, tratar-se de obras de irrigação agrícola. '
escravos. Dentre os livres, destacava-se uma classe nobre e de donos de terra, t3 ',--" RQllltL--AG--Séoo-le-Al-à f1ossa- - .
além de uma classe mercantil muito ativa e rica. A cidade reflete essa dicotomia ê I"·. erll, graças ao g ande desenvolvimento tecno-
entre o poder político e o poder econômico pelo destaque que dá ao castelo do
16 QgJ.co da en?enhana romana, conseguia atingir P,.2 ulaçãõ que só foi iguaJãda
u .por ouc s_cIdades QS·temI1os atuais' milhão de h bít t P ~
rei e da nobreza (acrópole) e ao mercado (ágora). À medida que a democracia Q 19 d -. 3
a 1 an es! ossuia Roma'
~ ..;g~e~~ue forneciam 1·900.000 m /dia à Cidade, esgotos dinâmicos rua;
se instaura nas cidades gregas, a ágora passa a disputar com a acrópole o poder i
/

~ p~~e,ntadas, "46.602 prédios de apartamentos, tendo alguns até 8 andares


político: torna-se a assembléia do povo, o espaço cívico da "polis". A ágora das \
~ 80 ~acIOs ara os nobres,. além de ser protegida por muralhas. '
cidades gregas naturais, como o forur.i dos romanos, situava-se perifericamente.
"i>
O alto pad - d t ' .

[
Assim como nas cidades do Egito e Mesopotâmia,

não deixaram vestígios.


a população (classe pobre)
residia sob coberturas precárias construídas na meia encosta dos morros e também. Q . ,rao
d o ~enYQIYlmento tecOQlógico
a ecmca romana permitiu a construção de prédios em
aIvenana de ate 8 andares! Constitui Ro
desenvolvi "
,- ••••(,J.••_~~
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su estIvo exe
sobre <> "",.,1" tO!} "
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r-.Q-ua '
c.ll.!a
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10 da nfluencia
=o..
A geomorfologia acidentadíssima da Ática foi a principal responsável pelo ?ç Os romanos fund~ram colônias, todas construídas dentro do sistema orto-
aparecimento das Cidades-Estados, gregas, já que as isolava entre si, protegendo-as gonal e amuralhadas: Timgad - na Argélia Aosta na It T SOlh C
C I I t (Ch ' a Ia, I c ester; hester:
o c ies er ester-castelo), na Inglaterra' Colonía na AI h .,
, , eman a, etc.
3 "Cidadãos", isto é, homens livres. Incluindo-se as mulheres, os escravos e estrangeiros, .' ~ram cid~des fortificadas: que defendiam o Estado romano e sua popula ão
não deveria ultrapassar 100.000 habitantes. agflc?la sedentana. Sempre a Irreconciliável antinomia entre pastores (soldad~S)
e agncultores. "
Urbanismo 221
220 Célson Ferrari
o desenvolvimento de Roma capital do vasto Imperium Romanum, é, sobre
tudo, o resultado da pujança econômica uesse Império.
Um traço peculiar do planejameet di Roma foi a-criação-de-vias pJ:inci ais
com colunf!jas, arcos-e-cnonu e tos. Outro característico é a existência das
I luxuosas termas. Os jardins úblicos_ eram poucos Ill.as muito freqüentes nas
mansões os ricos romanos.
As massas VIVIam em promiscuidade, em edifícios de apartamentos e os
nobres em palácios de grande luxo e conforto.
A escravidão e a servidão que, a pouco e pouco, constituíram a única forma
de trabalho produtivo do gran e Império, relegaram o tra alho à condição de
ativMade_jnJffior. O resultado da aceitação esse conceito neg~do Trabalho
foi --ª-l1aralisação dQ d.e.senvólvimento -te~nológico,a ·queda da produtividade
~grÍcola e arte~al e o conseqüente enfraquecimento do Im12§:.io.
No ano de 476, ODOACRO, rei dos érulos, conquista Roma. Dá-se a gueda
do Impenã Romano do Ocidente, e inicia-se a Idade Média. De 476 a 1453
se estende a Idade Média. Em 1453 caiu o Império Romano do T e..-O.s.Jur..c..o.s.
Fig. lO.S·b - Silchester (Calleva Atrebatium) tomaram Bizâncio ou Constantinogla. Princi iam empos..moderno corri-a
Fig. lO.5·a - Plano de Tirngad - Co- vendo-se o foro, as portas, pousa- Renascença.
lônia romana: das, termas, o templo e o anfi-
teatro dessa colônia romana. A tomada de Roma em 476 significou o fim da "paz romana". Ondas
sucessivas de bárbaros começaram a invadir o império romano, que não tinha
N
mais uma organização defensiva capaz de detê-los. Não é um "acidente" na
História, mas a conseqüência da luta econômica secular entre agricultores (seden-
tários) e pastores (n~des).
i-------
3. A urbanização medieval
C~ueda do Império Romano do Ocidente a Euro a. é envolvida ~O!
um estado de 8!!e!!ª-p'erma~
D9- sécu~o_V_a.o IX,_ilÇontece.1!-a_grande_desur:banização .. A cidade era
um alvo fácil às pilhagens dos povos bárbaros. Assim, os citadinos fugiam para
os campos num processo acentuado de desurbanízação.' Vjena, na Áustria, por
dois séculos chegou a desaparecer dos mapas europeu}t'Roma, na época de
CARLOS MAGNO, chegou a ter apenas 20.000 habitantés. As estradas, abando-
nadas, desapareceram. Com exceção das cidades marítimas, as interioranas, foram
morrendo, em sua grande maioria. Nessa época surgiu na Europa o feudalismo.
--------- - --
Mesmo no Império de CARLOS MAGNO (768 a 814) não havia uma cidade
capital.
( EscalQ
i
Surgem pequenos burgos_de traçado irregular e .pestilentos. As ruas eram
[; estreitas --avI"mentadas.osisteIDa de..esgotos era estático. As casas não abriam
Fig. 10.S-c - St. Albans (Verulamíum), a cidade pré-histôrica, a Roma janelas para as ruas defenden<!o-~ do mau cheiro.
dos primeiros tempos e a Roma do auge de sua civilização.
222 Célson Ferrari Urbanismo 223

A igreja ou catedral é o centro da vida comunit' ria. O regime é verdadeira- Do século IX ao século XI, há uma sucessão contínua de invasões de
mente teocrático: o poder dos bispos, dominando os homens e as terras. O teatro, bárbaros e sarracenos na Europa Continental. A chegada dos árabes ao Mediterrâneo
a arena, o banho público da Roma pagã desaparecem e os deuses do paganismo fez cessar o comércio marítimo. Paris é invadida e saqueada, sucessivamente,
são substituídos pelos santos cristãos. em 845, 857 e 861. Os dinamarqueses (VIKINGS) invadem a Inglaterra. Normandos
conquistam o este europeu e fundam o reino de Novgorod - núcleo do atual
Alguns mosteiros fundados por religiosos deram origem a cidades, poste-
Estado russo, cuja capital foi Kiev e, mais tarde, Moscou.
riormente. Ex.: Wurzburgo, Brandeburgo e Oldenburgo, na Alemanha.
~ Nesse período, ou mais precisamente, j1.Qsséculos IX e X, já existiam na
Rússia as seguintes cidades: Belgorod (980), Beloozero (muito antiga), Vasilev
(988), Vyshgorod (946), Vruchy (977), Izborsk(862),· Iskorosten (946), Kiev
(muito antiga), Novgorod (algumas fontes dizem-na muito antiga outras dão o
ano de 862 como o de sua fundação), Polotsk (862), Pskov (903), Rodnya (980),
Rostov (862), Smolensk (muito antiga), Turov (980), Chermigov (907) e muitas
outras. Parece fora de dúvida que tais cidades foram fundadas pelos eslavos.
A are cem no mente as muralhas, que na "paz romana" não se faziam

,~-
necessárias. Surgiram mais burgos e castelos forÍificãdos_na Inglaterra e baluartes
. ---
na França em defesa da população _contra as constantes- invasões bárbaras.
Ao mesmo tempo que o feudalismo crescia, os mercadores da orla marítima
intensificavam o seu comércio, a partir do século XI. O burgo assume novas

comerciantes reunidos em "corporações de mercadores" ou "guildas". O homem


medíezal.nãc.zíze.Jsolado:
ração de ofíci
-
funções: abriga os artesãos que se associam em "corporações de ofícios" e os

p.ertence.dLumJnosteiro,...!.J,IJll.. alácio, a um~ _corpo-


a uma" uilda" enfim a uma comunidade qualquer.
O capital comercia) começa.a.se.expandij através dO_CQIDérci.Q..!laci~al e
internacional elas rotas marítimas, ~o origem a uma burguesia rica que
co~om-o senhores feudais, aristocráticos. (Burguês era o
habitante do burgo, em oposição aos nobres que residiam nos castelos.)
O crédito e o capital usurário surgem no século- XI, intensamente, como
VRUCMV decorrência do capital mercantil que se acumulava desde o século IX, principal-
• mente, nos portos do Mediterrâneo, e, em particular, em Veneza. A família Fugger
possuía cerca de 10.000 mineiros empregados, navios, sendo que imperadores e
o papa eram seus dependentes. Outras famílias de fortuna incalculável: os Peruzzi,
os Medicis, etc.
r O poder dos bispos sobre as cidades é total na Idade Média e vem desde
\ o século VII, impondo um regime teocrático sobre o regime municipal da anti-
güidade. Movimentos comunais reinvindicando o retorrto do poder temporal
PRINCIPAIS CIDA.OES RU&&ÀS municipal começam a surgir nos séculos XI e XII.
sÉCUL.O )(11 E METADE 00 SÉC.UL.O )(111 Do século XII ao século XV ocorre 0_ seguinte:
E.cala I r:1
o
=~__ j::==IIII--'=1
;lOO 400
=::::f-~
~
1<,.,. Al umas mercadorias,_ll!!ILchel@rem.a seus destinos, tinham..sle atravessar
~ras dos senhores feudais e pagar altas tarifas de pedágio. sto obstaculizava
I· v H~vQ.. o desenvolvimento do comércio. Os mercadores então ue à época já possuíam
Figura 10.6 - Cidades russas principais no século XII e metade do século XIII. m~ o e.coni>mWe,-fmancia am a implantação_ <!.emonarquias, a fim de
224 Célson Ferrari Urbanismo 225

e~ragueJ;.eLJ senhores feudais e eliminar os pedágios. Na França, por exemplo, O mercantilismo se desenvolve apoiado pela ex ansão do capital comercial
de Ruão a Nantes, havia cerca de 70 pedágios. Nos estroncamentos viários implan- (capital derivado das trocas de bens e do a Vial usurário (capital derIva õ da
tam-se feiras que floresceram sobretudo, no século XIII, em toda a França, renumera ao o ró rio capital). facilitou e incentivou a expansão do capital
Inglaterra e Itália, principalmente. usurário a Reforma reli 'osa iniciada or Lutero: a usura que era condenada pela
Igreja passou a ser aceita pelos reformistas. ca us rário, através dos juros
Assim em fins da Idade Média, os interesses mercantilistas haviam conso-
lidado as tiranias. A ética divorcia-se da política passando os fins (manutenção excessivos ex ropria e enfraH!leCe ..Q.Lll\l..qlleJlOsp'rodutores,-geralmente artesãos,
qu~ não.jíveram outra alternativa ~Eão a de ingressar nas fábricas como assala-
da tirania) a justificar todos os meios empregados para atingí-los. MAQUIA VEL
riados, como roletários. Comep a desenvo ver-se uma incipiente in ustria manu-
procurou justificar esse divórcio em O Principe (1513) onde estabelece os prin-
fatureira. / ~ -- - ~-- --
cípios recomendáveis à implantação de uma, tirania, ainda que fazendo-se uso da I
violência e da fraude. ~ À. ~ o-...r;,t--..M A descoberta dos metais preciosos na América robusteceu o mercantilismo
. c?iCI" europeu o.. colonialismo. \ . -
Esse período da Idade Média é aracterizado or a intensa urbanização. ..,; -

O comércio e as cidades renascem a partir do século XIII. o mesmo secu o surge É de se notar que esse mercantilismo ainda não é o regime capitalista,
a cate r gotica e a Súmula Teológica de Tomás ti q ino que representavam embora prepare o caminho para ele.
uma renovação da fé católica. No século XIII, Paris passa de 100.000 habitantes <c. As cidades conti aumenllu sua im ortância nesse p,eríodo histórico.
a 240.000 habitantes; Veneza de 100.000 habitantes chega a ter 200.000 habi- A. cavalaria, suprema arma da Idade Média, pe;Je terreno par;;;-~tilharia e a
tantes; Florença passa de 45.000 habitantes a 90.000 habitantes. infantaria. Os canhões tornam obsoletas as muralhas apenas defensivas. As cidades
(( . de de fins da Idade M.' ia é nitidamente burwsa~ Na Idade Média, descem das colinas para as- lanícies e os traçados regulares dominam. As ruas
"todo plano era uma projeção direta dos objetivos dos clérigos, dos senhores p~s a uradiar de U.1Rapraça celltgl de on e·os_c ões defendem, estrategica-
feudais ou dos mercadores"." Castelo e catedral dominam o perfil das cidades mente, as entr aa.d cidade.
medievais. Qualitativamente, a cidade do medievo é superior à inóspita cidade A Renascença artís.W;a-domina-to.da_LALquitetma e a Arte llrbana.se-CQ.n-
antiga porque mais humanizada: possui hospital, estalagem para forasteiros e asilo fuode G9ffi Q pl.anejafHetlt€H:l-l'lTano.1\ Igreja ou catedral que na Idade Média
de inválidos e pobres, todavia, não possui jardim público. O jardim é particular, não é isolada, regra-geral, das demais construções, passa a ter destaque especial em
doméstico, íntimo. É jardim e pomar ao mesmo tempo em que se cultivam flores, grandes praças ajardinadas. Fontes esculturais, estátuas, colunas e obeliscos decoram
hortaliças e árvores frutíferas. -, as praças. A arte urbana copia da arquitetura seu desenvolvimento clássico.
O fim da Idade Média é caracterizado pela forma ão das monar uias e ~ Em fin: do século XVI a cidade passa a ser olhada. ~bretudo como es aço

-
expan~ do mercantilismº _

4. A cidade nos. tempos modernos


polític~o u centro de decisão oderoso, de grande importância estratégica.
Desde o declínio do mundo clássico ~o, apenas na Renascença uma teoria
urbanística é reformulada. A _cidade é em ai ns casos amuralhada, mas sua
~- ----- - ------ ---- lha não tem caráter a 2lIDJiS de ens'vo com9 na Idade Média. ~ ao mesmo
tem o ofensiva. Sob o aspecto doutrinal, as leis da perspectiva são regras de
4.1. A Renascenç.fl..~a cid~ssica construção das vias e praças, edificadas dentro de princípios da mais rígida
(jo ,q.u.e-maIC3-a-OfÍge
dos teml20s modernos, sob o aspecto cultural é a simetria e proporção. As construções, de caráter monumental, eram salientadas
pelas perspectivas de ruas largas, confluindo para elas.
~ça\ movimento de retorno às artes e conhecimentos da antigüidade
clássica helêníca que provocou uma ampla renovação cultural, social e religiosa, Grandes ra as Ço ro'etadas às vezes fora da área urbanizada~ên-
durante os séculos XVI e XVII, principalmente. diçe puramente decorativo. Em Roma, BERNINI projeta a famosa praça de
São Pedro, e sob Sisto V, Domenico ontana projeta "Ia piú grande Roma".
Com a ueda de Constantinopla, todo o comércio ue se fazia através do
Medi-ter-râneo';1foL-0rien-te Médie,se-desleca-lléH'a-o-A-tlântico. ~a, 1. Em Veneza, é construída a célebre p. aça de São Marco, e em Paris surgem as
praças Real (hoje, de Vosges) e praça das itórias. Na Itália ainda, se projeta
Ing1a·tu~potências navais e inicia-se o ciclo das grandes'
'naveg~~ a cidade de Pienza, é feita a ampliação de Ferr a e a reforma de Vigevano, dentro
do mais puro estilo renascentista.
Até o Renascímentc a arte dOLjardins se resumia na aprop.riação pela
4 FRANÇOISE CHOAY em The Modem City: Planning in the 19th Century, p. 7. cidade de es a os J~rdes_natm:a.is_qw: .JJUILCJll.caQQS
e. domesticados, ou então
226 Célson Ferrari Urbanismo 227

o eu tivo de áreas verdes o 'sti as. Agora, os jardins se Jxpandem em amplas


praças com desenhos geométricos, escalonados em di~rsos planos. Por suas
dimensões e grandes escadas ou rampas não se prestam ao passeio. É o 'ardim
monumental para ser visto e ouco usufruído.

4';" A cidade barrgça


i

Na evolução histórica da arte, ao classicismo renascentísta segue-se o estilo


barroco. Barroca era a p'érola defeitoosa. e'orativamente, chamou-se de bãr"roca
a- ~
de. ~comunica ~ão, passou a valorizar-se
•.. _
que, negando o realismo clássico das' roporções imutáveis 7iiõrmas rígidas
---..
çpm a cõirtIilmição eSp'ontânea ..•do artista .
A arte barroca é "aberta" na acepção moderna que lhe dá UMBERTO ECO,
no sentido de ser dinâmica, mutável conforme o ângulo de observação, permitindo
uma multiplicidade de significados. cidade barroca' espetáculo-Rara
~ lhos. Em termos de Estética inforrnacional, o barroco é de rep,ertório mais rico
e possui um!ID!...!!laior dejllformaçã~ue estilo renascentista.
'º'traça~
a não ser- a ar u'
cidades ..-n da difere do das cidades clássic.aL
ijl!e_de.-clássi~passa.U-a..b.au;o.ca g ~antl m is
\
\
~
o
"3
<.>
ri ue e movimento o su b r., Continua a- êiistir aquele mesmo monu- '1';1
o
mentalismo clássico das praças e jardins e dos traçados rádio-concêntricos. A escala 'O
o
humana continua esquecida, no traçado urbano.i Em Paris, surgem praças, como
as de Versalhes, Vendôme e Concórdia e as 'ruas de La Paix, de Castiglione,
~
de Rivoli e des Pyramides; projeto de ANTOLINI para Milão; na Alemanha

••c::
.c:
surgem Mannheim, Munique, Potsdam e Carlsruhe , principalmente. ;
JOHN NASH, inspirado na rua de Rivoli-Paris, projeta para Londres a ;:l!!
Regent Street, ligando Portland Place a Carlton House (181201819). Em Paris,
os projetos de HAUSSMANN retomam ao classicismo, perdendo em substância.
O artificialismo geométrico dos jardins clássicos se atenua com o retorno
à natureza, preconizado por Milton (Paraíso Perdido) e Rousseau, dentre outros
autores. Por volta dos anos 1700, o jardim clássico começa a tornar-se parque
com arvoredo, córregos e um propositado desalinho. Bons exemplos desses parques
são em Londres: Kensington, Green Park, Hyde Park, Batersea Park e Saint-James
Park. É o jardim paisagista ecleticamente combinado com o clássico.
Todavia. a arquitetura da cidade bar ca é retórica, não é aberta como
aparenta sg..e perde-se em fáceis efeitos de gosto kitsc . SQb o aspecto argui-
tetfuUço a cidade barroca tende..pan-a-aristocraGia (grandiloqüência de formas)
en uanto é burguesa em seu aspecto socioeconômico.

~\ A Revolução industrial: a cidade burguesa do capitalismo


/ I o~ror,i~eGonômica...c.os1umam situar a revolução industrial
en re os anos-de..-1-7.6Q.,.e-18~G,peFíed9-efl'Ht\:le-pr-edeminaW-aindéW1~s o
neoclassicismo.... A arquitetura neoclássica, renascentista, representa um rompi,
1
228 Célson Ferrari
Urbanismo 229

mento da arte com a tecnologia pelo seu servilismo ao modelo clássico, em desres-
peito até à funcionalidade do elemento estrutural (Colunatas sem sentido, cornijas
desnecessárias, tímpanos que não ocultam telhados, etc.). ~rática construtiva
se~esloca áa arquitetura paüULeng.enhatia. A técnica sobrepõe-se à arte.
r Em fins do século XVIII e início do século XlX,..s.w:g~ade da Máquina,
.caracterizada por algumas descobertas important§.: \
WATT desenvolee a máquina de vapor entre 1765 e 1774; RICHARD
ARKWRIGHT em 1785 difunde o uso do tear mecânico, inventado, em 1770,
~ HARGREAVES, para o fio de algodão; em 1784, GUILHERME MURDOCH
(~~~strói a primeira locomotiva de vapor ainda rudimentar; VOLTA, em 1800,
inventa a pilha elétrica; em 1825 uma máquina de vapor transporta 50 toneladas
de carvão pela estrada Stokton-Darlington"; em 1825 é inventado o eletroímã;
em 1828, VICAT descobre o cimento; em 1829, a locomotiva "Rocket" de
STEPHENSON, percorre o trecho Liverpool-Londres; FARADAY, em 1831,
constrói o primeiro dínamo e FOURNEYRON inventa a turbina hidráulica; em
1832 é construída a primeira ferrovia francesa ligando Lyon a Saint-Etienne;
oi
.'9 em 1856, é inventado o conversor Bessemer para a fabricação de aço; em 1859
;::s a American Drake extrai petróleo do subsolo de Titusville-Pensilvânia; em 1860
!:l
'"
c: é construído por LENOIR o primeiro motor de exploção de gás; em 1865 surge
o

-e
.,o o motor de gasolina; em 1866, o engenheiro SlEMENS constrói o primeiro
os
-e dínamo industríal; EDISON instala a primeira central térmica, em 1882; e muitas
Ü outras invenções e descobertas nos campos das engenharias mecânica e elétrica.
.,;
...•
r- f ~J.la-fa.\(.0rec.e.11- aparecisnento o-industFial4smo_e .0--...,
.,
-)
-e
capitalismo .
o
c: ~o condições fundamen aiLpara-o_apafeeimento do capitalismo a exis-
o ~
tência de:
~ "'.;
"
o a)S-ª2.ital us.unuio e comerl!ial. .
...•.o ~
~ b),Mão-de-obra !lssalariada abundante.
o o
(;)
I
~ 00
c) Mercado consu ~~.dor.
o
o ~ I C9 o a arecimento da fiação e tecelagem mecânicas e o conseqüente apa-
<N
e;::s recimento das fábr~e numero de artesãos fiadores e ~ce@~ltue tinha
o ~ \
seus ofícios em seus lares, fica desempregado~ Com essa abundância de mão-de~obra,
o
.•.. \
co~rande ca ital comercial e usurário acumulado. através da economia
<:) mercantilista e com um amplo merca o consumidor da o ar suas co ônias, aI ID!L
p~ da Eur-ºW principalmente a Inglaterra e França, ram origem ao sistema
capitalista baseado nas livres forças do mercado (lib rãli mo o ômico do
"laissez-faíre ").
~=

5 Em 1853, por iniciativa do Barão de Mauá, foi inaugurada no Brasil o 19 trecho da


antiga Estrada de Ferro Central do Brasil.
230 Célson Ferrari Urbanismo 231

As cidade come ariam a crescer ex losivamente. ~~s inc!i!~trias localizam-se TABELA 10.2: RELAÇAO DAS MAIS POPULOSAS CIDADES DO MUNDO.3*
y na cidade, a' d apseveitar proxímrdad d rnãb"'="cte-úbr:
e-d m~-
sumidor e a "urbe" passou a ser centro de produção, em caráter prioritário, pela Cidades Populaç/io
;::tPiiiTicira vez na História. Todas essas mudanças cogstituem o que se convencionou
1~) Xangai 10.820.000 hab.
chamar de ~ução Industrial, que é um fenômeno sociológico complexo. 2é!) Tóquio 8.678.642 hab.
A cidade, co ,o de-In:odução~e eeméroio, se..divide sm difúenteuonas çarac- 311) , Cidade do México 8.591.750 hab.
4é!) Nova lorque 7.894.862 hab.
t~rizadas por aíjyjda cionais redomina teso Assim é que, surgem as zonas
5I!) Pequim 7.570.000 hab.
industriais, comerciais, residêneiâs de J)"a-ixo,médio e alto padrão, etc., refletindo 6é!) Moscou 7.528.000 hab.
a injustiça das classes sociais (...i. dicotomi ptodução-consumo origina na cidade 7é!) Sâ'o Paulo 7.198.608 hab.
8é!) 7.167.600 hab.
d~os 1iii'!ãBônicos: trabalhadores ~esjtlindo em cortiços favelas ce t ais ou 9é!) C L~re
lcutá 7.031.382 hab.
periféricas e proprietários dos meios de rodução (burgueses em ai bs resi- 10<}) B mbaim 5.970.575. hab.
d'enciais.
( . FONTES: The Europa Year Book - 1976 'ê---~lmanaqUe Abril 1977
Em 1800, no início da Revolução Industrial, contavam-se apenas 20 cidades
de mais de 100.000 habitantes e nenhuma cidade que atingisse 1.000.000 de Obs.: As áreas metropolitanas não estão compreendidas nesta Tabela.
habitantes; e apenas 1,7% da população mundial era urbana; em 1850, já existiam
4 cidades com 1.000.000 ou mais de habitantes; em 1900 esse número subiu I
para 19. A população urbana mundial está cre cendo à razão de 6,5% ao ano, o que
quer dizer que ela dobrará em apenas 11 a os.No Brasil, a taxa anual de cresci-
Entre 195Ú e 1960 constatou-se que existiam:
mento urbano foi de 5,2% na década de 60, uito embora suas cidades médias
141 cidades com mais de 1.000.000 de habitantes; 12 cidades entre 5 e de 100.000 a 250.000 hab. no mesmo período, rescessem à razão de 9,7%!
10 milhões de habitantes; 1.460 cidades com mais de 100.000 habitantes; 3 cidades
com mais de 10 milhões de habitantes e 13% da população mundial era urbana, Houv.e um crescimento maior das cidades e~ detrimento da população rural.
em 1950. Nunca as CIdades cresceram tanto como sob o regime capitalista de produção.

C No Brasil, a população total cresceu de 1950 a 1960 de 17,8% e sua popu-


lação urbana cresceu de 70,2%; de 1960 a 1970 a população total cresceu de TABELA 10.3: PERCENTUAL DE POPULAÇÃO URBANA DE ALGUNS
PAíSES, EM 1960.
31,2% e a urbana de 62,9%.
L ---r- PaJses %
! ~ r'

L.-yc= ~0)1J ) Inglaterra . . . . . . . . _ . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81%


Israel ........•.••.................. ' . 78%
TABELA 10.1: DISTRIBUiÇÃO INTERCONTINENTAL DAS GRANDES CI- Rep. Federal Alemã . 71%
DADES. Austrália . 69%
Dinamarca ..................•........................ 67%
Cidades com mais Cidades com mais Cidades com mais Estados Unidos ................•...........•....•...... 69,9%
Continente de 1 milhão de de 2 milhões de de 5 milhões de Bélgica//. ...............•...•....................... 63%
habitantes habitantes habitantes Chile 'l~;, . 66,5%
Venez ela .....•.•................................•.. 62,5%
36,4% 40,4% México . 50,7%
Américas 45 19 5 50%
34,4% Brasil . 45,1% 6
Ásia 43 16 34,1% 2 20%
Europa + URSS 33 25,9% 9 19,1% 3 30%
África 4 2,2% 1 2,1% - -
Oceania 2 1,1% 2 4,3% - -
6 Isto, adotando-se o critério de considerar como população urbana, todas as pessoas que
TOTAL 127 100% 47 100% 10 100%
habitam as sedes de municípios e distritos. Pelo critério da ONU, que só considera urbana a
população de núcleos de 20.000 ou mais habitantes, a taxa 'do Brasil seria de 29% aproxi-
FONTE: Anuário Demográfico das Nações Unidas, 1967. madamente.

"
J
I'

( 232 }Ccl/.WJn Ferrar!


Urbanismo 233
.t.
De I H30 11 I ~OO, Londres passou de 2 milhões para 4 milhões de habitantes.
ç>s termos "urbaniz~o", "urbanismo", com a acepção de planejamento
Paris, no mesmo período, passou de 1 milhão para pouco mais de 2 milhões de \
u~o foram formulados pela primeira vez na segy!!.da..m.etade do séculq passadÇ>.
habitantes. Bcrllrn, do início do século XIX até 1890, teve sua população aumen-
Parece que quem se utilizou pela primeira vez do termo "Urbanização" foi ILDE-
tada de 150.000 para 1.300.000. ~ento básico passou.-a:WeOGupar os
FONSO CERDÁ, em 1867, em sua obra pioneira: Teoria Geral da Urbanização.
governos porque cidades inteiras foram atingidas por violentas epidemia!!.
I, Empregou-o para explicar a organização das cidades resultantes da revolução indus-
I O industrialismo já existia antes da r.evQIl!9.ãq,industrial, na Europa, mas trial, em seu sentido sociológico atual, de forma surpreendentemente antecipadora.
a ..!!rbanização foi incrementada pela fábrica. \Diversas pessoas já~se preocupavam
com os problemas urbanos criados pelo industrialismo, e alguns como FRANÇOIS
, Com -., í
~ a revolução io@strial surge o mbanismo moderno.
FOURIER, escreveram livros sobre o assunto. O Novo Mundo Industrial e Societário )I Como a cidade moderna é filha do capitalismo, é conseqüência do regime
foi escrito por FOURIER, em 1829, tendo criado uma habitação do tipo comunal vigente, todos os seus males d{rivam desse regime econômico, dizem os urbanistas
a que denominou: o falanstério. A residência seria próxima à fábrica. Haveria marxistas, chamando de ide~gos aos que pretendem resolver os problemas
"creches" para a guarda das crianças. Quando ele escreveu sua obra, KARL MARX urbanos sem mudar, primeiramente, o regime polítíco'" No entretanto, o urba-
e ENGELS não haviam ainda estruturado o socialismo científico. Era um socia- nismo russo padece dos mesmos males, nada tendo criado de original até agora.
lismo utópico." Seria a crítica improcedente ou não teria o socialismo russo atingido os verdadeiros
objetivos do socialismo?
ROBERT OWEN, em 1813, escreveu Uma Nova Visão da Sociedade; JAMES
SILK BUKINGHAM, em 1849, publicou: Males Nacionais e Remédios Práticos /: O'uirbanísmo moderno começou com as teorias'~:
onde defendia a idéia de que as cidades deveriam ser compartimentadas segundo ~ ARTURO SORIA Y MATA - 1882 com sua cidade linear; CAMILO SITTE
as classes sociais. Além desses, literatos (BALZAC, ZOLA, DICKENS, etc.) filó- - 1889, preocupado com a estética urbana; EBENEZER HOWARD - 1898 _
sofos (COMTE, ENGELS, MARX), sociólogos (LE PAY, DURKHEIM), geógrafos criador da cidade jardim; TONY GARNIER - 1901 - com sua cidade industrial;
(VIDAL DE LA BLACHE, BRUNHELS, RATZEL, MARTONE), arquitetos e os PATRICK GEDDES - 1915 - e suas originais concepções teóricas.
próprios papas cuidam de resolver os problemas criados pelo capitalismo e que
Depois desse período inicial da teoria urbanística, utópica em alguns casos,
se manifestam nas cidades capitalistas, com veemência, através de crescente
surgiu LE CORBUSIER com o chamado Urbanismo racionalista. O homem passa
urbanização.
a ser uma unidade estatística considerando-se, sobretudo, os aspectos quantitativos
Os-problemas urbanos começaram a preocupar os governos ensejando o do urbanismo. Defende LE CORBUSIER as grandes densidades .demográflcas,
aparecimento das primeiras leis urbanísticas: \ - sob o aspecto econômico, altamente aceitáveis. É o apologista incondicional do
Ogoverno grego, em 1835, fixa normas urbanísticas para o projeto e implan- arranha-céu, da máquina de morar.
tação de novas cidades e vilas, determinando que as cidades devem ser concebidas BRUNO ZEVI, renomado crítico de arte italiano, escreveu que o raciona-
segundo um esquema ortogonal e as vilas conforme um traçado circular ou lismo de LE CORBUSIER é a predominância do absurdo-lógico querendo significar
quadrado com as habitações locadas ao redor dos edifícios públicos. Em conse- que suas concepções, ousadas até ao absurdo, eram lógicas. Parece-nos que a
qüência dessa determinação governamental foram fundadas: Nova Esparta, Nova qualificação de "racionalista" dada ao urbanismo é redundante ou pejorativa.
Corinto e Nova Tebas, Na Itália, em 1865, é elaborada uma legislação urbanística
sobre saneamento, comunicação e estética da cidade. Contra o racionalismo de LE CORBUSIER, surgiram, na opinião de BRUNO
ZEVI:
Surgiu em 1874 na Suécia uma lei urbanística: Preceituava que toda a cidade
de mais de 10.000 habitantes deveria elaborar seu plano de expansão. Prússia a) O Equivoco (Russo, que é uma volta ao c1assicismo; praças e avenidas
(1875), Holanda (1901), Inglaterra (1909), França (1919), etc., seguem o exemplo monumentais, colun,tas nos edifícios, etc.
da Suécia, elaborando leis urbanísticas semelhantes. b) A "Retórica monumental nazi-fascista" (Alemanha). O nazismo e o
fascismo precisando de promoção tentavam obtê-Ia através de obras monumentais.
c) O urbanismo orgânico, representado pelos americanos e escandinavos,
Os adeptos de FOURIER, nos Estados Unidos, fundaram muitos falanstérios, tendo sido através dos arquitetos FRANK LLOYD WRIGHT e ALV AR AALTO, americano
I
o de BROOK FARM o mais conhecido. No Brasil, cerca de 200 colonos europeus fundaram
um falanstério em Saí, município de São Francisco, Santa Catarina, segundo citação de
GILBERTO FREYRE em "Um engenheiro francês no Brasil", p. 369.
8 Leia-se sobre o assunto, Miséria de Ia Ideologia Urbanistica de FERNANDO RAMON.
234 Célson Ferrari Urbanismo 235

e escandinavo, respectivamente. Cogitou-se de dar à cidade, a estrutura de um


organismo vivo: multicelular, polinucleada. À semelhança de um organismo, que
tem órgãos diferençados, procurou-se organizar os núcleos urbanos de forma
escalonada atribuindo-se às funções urbanas o papel de criar as formas urbanas.
Essa similitude, contudo, não deve ser confundida com igualdade, pois, a
cidade não é um ser vivo, a não ser figuradamente. No planejame~to de uma cidade
orgânica, já se chegou a extremos de assemelhá-Ia a uma árvore, estruturalmente,
o que levou C. ALEXANDER a contestar essa organicidade escrevendo conhecida
obra de análise e crítica intitulada: The City is not a Tree.
Finalmente surge o urbanismo contemporâneo, síntese do orgânico e do
racional-;-representado, predominantemen1e, pelos ingleses. BRUNO ZEVI escreveu:
"O plano de Londres de 1944 sintetiza 100 anos de urbanismo europeu".
As "New towns" inglesas representam, em alguns casos, essa síntese ou,
na pior das hipóteses, a luta em busca da síntese. O projeto de "HOOK" - New
Town Industrial - é um dos mais significativos dos últimos anos. As "new towns"
foram construídas à partir do "New Towns .Act" editado em 1946 pelo governo
inglês, visando a descentralização industrial e urbana de Londres.

4.4. Os próceres do urbanismo contemporâneo

4.4.1. ARTURO SORJA Y MATA, espanhol, republicano, conspirador,


espírito ilustrado e irriquieto, em 1882 e 1883, através de uma série de artigos
publicados no jornal madrilenho "EI Progresso", defendeu a idéia de que a raiz
de todos os males da época residia na forma das cidades. Dizia ARTURO SORJA
Y MATA: "Que pede, o que reclama imperiosamente a vida urbana? Terreno
barato e comunicações rápidas, freqüentes e econômicas. Pois bem, a estas
premissas conduz, logicamente, a cidade linear que delinearemos uma vez mais:
Uma só rua de 500 m de largura e de comprimento que fosse necessário, entenda-se
bem, do comprimento que fosse necessário, tal será a cidade do futuro, cujos
extremos podem ser Cádiz e São Petersburgo, ou Pequim e Bruxelas. Coloquem-se
ao centro desta imensa rua, ferrovias e rodovias, tubulações para água, gás e
eletricidade, piscinas, jardins e de trecho em trecho pequenos edifícios para os
diferentes serviços municipais de incêndio, de saúde, segurança e outros, e ficarão
resolvidos ao mesmo tempo quase todos os complexos problemas que engendra
a vida urbana de grandes massas populacionais".
ARTURO SORIA Y MATA, genial criador da cidade linear, deixou-nos uma
série t princípios urbanísticos ainda perfeitamente válidos. Exemplos:
'Do problema da locomoção derivam-se todos os demais da urbanização"
ou "A forma das cidades é o resultado fatal da estrutura da sociedade que as ocupa"
ou "Onde não vive uma árvore tampouco pode viver um ser humano". (Miséria
de ia Ideologia Urbanistica, F. RAMÓN).
2 6 '''/,\'/1/1 F rturl
Urbanismo 237

S RIA Y MA'I A combate a cidade circular, com os seguintes argumentos conseqüências, as responsabilidades dessa conceituação que seria a de negar o
prin 'ipllls: próprio processo de planejamento, como o fez CAM~L SITTE, coerentemente:
a) Terrenos centrais, muito caros (procura muitíssimo maior que a oferta). "As obras de arte não podem criar-se senão individ almente ... " Acontece que
a criação artística existe, inegavelmente, no planejan nto integrado urbano e se
b) ongestionamento no centro da cidade.
manifesta na Arquitetura urbana que é parte do planejamento e não todo o plane-
c) Marginalização da população periférica, principalmente. jamento ... Por intuição artística não se cria uma estrutura urbana, consubstanciada
num zoneamento de usos do solo e num sistema viário, através de um processo
Na cidade linear tais inconvenientes não se verificam porque:
de planejamento completo que compreende pesquisas, análise da pesquisa, diagnose
a) Quando há crescimento da cidade, a avenida central pode-se alongar e prognose, por meio de elaboração de matrizes de mudanças do sistema, modelos
indefinidamente. parciais ou totais e técnicas aprimoradas de avaliação e controle. '.
b) A oferta de terrenos na área central, sendo praticamente ilimitada mantém Referindo-se às cidades romanas, construídas pelo povo dizia o arquiteto
o equilíbrio oferta-procura, e impede a especulação imobiliária. Os terrenos das SlTTE:
zonas residenciais teriam uma uniformidade de preço.
"Assim, pois, não era causalidade, senão a grande tradição de arte
Além disso, as comunicações entre os diferentes pontos da cidade são fáceis viva em todo um povo, a que produzia, aparentemente sem planos, as dispo-
e rápidas. sições urbanas. O mesmo ocorria na Idade Média e no Renascimento". É o
antiurbanista que fala.
O urbanismo moderno adota a estrutura linear, não com as dimensões e
funções de ARTURO SORIA Y MATA, ~as com a e~~rutu~~ dele. S.ubs.titui,~ Absurdo que todo um povo tenha uma tradição de arte, capaz de orientá-Io
,
eixo longitudinal, monumental, por uma trama linear ou trama direcional , na construção de cidades, quando se sabe que essa tradição sempre foi um
como propõe DOXIADlS. privilégio das elites. As cidades, ou cresciam naturalmente, construindo-se nelas
edifícios, monumentos e praças de seus artistas, ou eram, realmente, planejadas ...

4.4.2. CAMILO SITTE, arquiteto austríaco, que nos deixou sua mensagem
em um livro famoso "Construção de cidades segundo princípios artísticos" (1889),
4.4.3. EBENEZER HOWARD, taquígrafo do Parlamento Britânico, em
1889, publicou: Tomorrow: a Peaceful Path to Real Reform que, em 1902 foi
II
preocupava-se com o desaparecimento da vida cívica e formas artísticas das
cidades. Estudou a função e distribuição das praças públicas, fazendo com que
a mesma voltasse a ser um Centro Cívico urbano.
reeditado com o título: Garden Cities of Tomorrow.

Embora tenha conseguido que apenas duas cidades na Inglaterra, Letchworth


~l
e Welwyn, fossem planejadas,se'gundo sua concepção quase todos os bairros das r
Era um esteta urbano, não um planejador. Era o antiurbanista até.
cidades, habitados por gente de renda mais alta, passaram a ser "cidades jardins",
Inculpa-se o automóvel, de ter feito desaparecer as praças, os locais d.e ainda que falsamente, de um modo geral-, I

reunião e os passeios pedestres e, conseqüentemente, de ter causado o de~apare=l- II


Em seu livro, HOWARD propõe {compra de 2.400 ha: 400 ha seriam espaço
mento da vida comunitária e cívica. Mas, à época de SITTE o automovel nao
urbano, e 2.000 ha seriam espaço agrícola, ao redor da cidade.
existia. A causa não seria mais profunda? Nossos sistemas de produção e consumo
não seriam os responsáveis? É um problema em debate e de difícil solução. HOWARD chamou a esse espaço agrícola, "cinturão agrícola" não tendo
jamais o chamado de "cinturão verde" ou green belt como tornou-se conhecido
Dizia CAMILO SITTE: mais tarde.
IrAs obras de arte não podem criar-se por comissões nem escritórios, se não
A terra pertence à comunidade ou ao Município, o que elimina a especu-
individualmente, e o plano da cidade, que tem por dever produzir um
lação imobiliária. A planta da cidade compõe-se de uma praça circular central, I

efeito artístico, é uma de tantas'\ '<,


algumas ruas concêntricas à praça e algumas ruas radiais. A cada anel de casas
Mas, acontece que o plano de uma cidade é muito mais do que uma ob~a segue-se outro ocupado por jardins e assim sucessivamente. A natureza deve estar
de arte.Yé uma obra científica também, enquanto produto de uma mtegraçao sempre presente na cidade. A essa estrutura corresponde uma população de
multidisciplinar. Alguns arquitetos, numa desculpável atitude de defes~ de sua 32.000 habitantes, aproximadamente.
categoria profissional, valorizam o instante "mágico" da criaçã~ artlst~c~ no As casas são de dois pavimentos, geminadas de 6 a 8 unidades. As ruas têm 1

processo de planejamento integrado sem, contudo, assumirem, ate suas últimas 32 metros de largura.

J
238 Célson Ferrari
Urbanismo 239

A CJ[:~~DE - JARDIM
DE E. HO'vJARO
( Parte do Plono)
I- PREFEITU ••••••
a- SALA PE CONCE-RTO.s
3- TEATRO
4- BI8UOTECA
5· HOSF'>ITAI-
6" Museu, GAL-E.RIA P6 .A..R,-e.

APEAS,
-CIDADE.,
'400ha.
- zONA RURAL.
2.000hOl .

POPULAçÃo,
.32.000 hob;j-antes

ESCALA
,.,."

Figura 10.10 - Três diagramas da cidade-jardim de Howard.


240 Célson Ferrari Urbanismo 241
; I

ARTURO SORJA Y MATA fez uma crítica correta à cidade jardim de "Uma nova era industrial se abre. Tal e como na Idade da Pedra, disttu-
HOWARD na revista "La Ciudad Lineal" de 20 de setembro de 1904, em artigo ~imos ~~je . dois períodos, o Paleolítico': o Neolítülo, ~a era Industrial,
transcrito por FERNANDO DE TERÁN em seu livro: La Ciúdad Lineal: Antece- e necessano diferençar duas fases, a Paletotecmca e a N~otecnica".
dente de um Urbanismo Actual. 9
E prossegue, explicitando a posição do trabalhador em cada uma dessa.
ordens:
4.4.4. TONY GARNIER, arquiteto francês de Lyon, projetou entre 1901 "Sob a forma paleotécnica, o trabalhador dirigido como está, como todos
e 1904 uma cidade industrial com características lineares. nós, por sua educação tradicional, ao salário monetário, em vez de ao orça-
mento virtual, não tem tido uma casa adequada, nem mesmo aquilo qu .
Sua "Cité Industrielle" destinava-se a abrigar 35.000 habitantes - O projeto
poderia qualificar-se como uma casa decente. Mas, quando a ordem neotécnica
compreende duas grandes áreas: uma residencial e outra industrial, separadas por
chegar. .. o trabalhador construirá sua vivenda e se porá a planejar a cidade,
uma zona verde.
a projetar seu centro cívico, tudo semelhante senão superior a das glórias
passadas da história".
Escreveu em 1915, um livro: Evolução das Cidades, republicado em 1949
com o título: Cidades em Evolução - iCities in Evolutionv, que passou a ser
muito conhecido depois da divulgação que lhe deu seu discípulo LEWIS
MUMFORD. Nesta obra expõe algumas teorias sobre a cidade e seus problemas,
ressaltando, sobretudo, o caráter político dos mesmos.
GEDDES, pela primeira vez, chamou a atenção para a importância dos
aspectos sociais do planejamento regional e urbano e ensinou que todo planeja-
mento deve se basear em pesquisas.

4.4.6. CHARLES EDOUARD JEANNERET (LE CORBUSIER) - LE


CORBUSIER era um fascinado pela cidade grande, pelo domínio dos arranha-céus:
"Grandes cidades, células ardentes do mundo: delas surge a paz ou a guerra,
a abundância ou a miséria, a glória, o espírito triunfante ou a beleza. A grande
cidade expressa as potências do homem: as casas, que obrigam um ardor ativo,
elevam-se em uma ordem insigne". ~

Imaginou uma cidade de 3 milhões de habitantes. Vinte e quatro arranha-céus


Yigura 10.11 - A cidade industrial de Garnier. centrais de 60 andares com 10.000 a 50.000 empregados cada um: negócios,
hotéis, escritórios, etc. Viveriam neste centro de 400.000 a 600.000 habitantes.
Rodeando o centro mais 600.000 habitantes. Longe: a indústria. Os trabalhadores
vivendo em cidades-jardins de 2.000.000 de habitantes ou mais. É preciso dis-
4.4.5. PATRICK GEDDES - Em 1910, um pouco antes da 1~ Grande
tanciar os subúrbios. Escreveu: "Penso pois, com toda frialdade, que devemos
Guerra Mundial, na Escócia, PATRJCK GEDDES, cientista de múltiplas especia-
aceitar a idéia de demolir o centro das grandes cidades e reconstruí-lc e que é
lizações, naturalista, sociólogo, sexólogo, etc. anuncia que uma nova ordem
necessário suprimir o cinturão piolhento dos arrabaldes ... "
se aproxima: a ordem neotécnica, sucedendo à ordem paleotécnica então predo-
minante. Segundo ele: Sua cidade é segregacionista. Criticado por esta atitude pouco democrática,
escreveu:
"Muito me cuidei de não sair do terreno técnico. Sou arquiteto e não
9 TERÁN, FERNANDO La Ciudad Lineal:Antecedente de un Urbanismo Actual. Madrid: me obrigarão a fazer política" ... afirmando que pretendia apenas dar uma ordem
Editorial Ciencia Nueva - 1968, p. 78. a uma situação de fato, a uma sociedade cristalizada em classes.
242 Célson Ferrar!
Urbanismo 243

Baseou o urbanismo moderno em quatro postulados concisos, fundamentais:'?


.a! "Acabar com o antagonismo entre a cidade e o campo é uma d0rimeiras
1ÇJ)Descongestionar o centro das cidades para fazer face às exigências da condições para a coletivização" dizia KARL MARX. Para acabar com .0 antago-
circulação. nismo propôs-se a redução da cidade a uma faixa estreita ao longo das estradas
2ÇJ)Aumentar a densidade do centro das cidades para realizar" o contato e rios. Era" a desurbanização linear do país - uma ideologia negativista e sem
sentido, defendida por MILIUTIN e outros.
exigido pelos negócios.
/
3<?) Aumentar os meios de circulação, ou seja, modificar completamente a LE CORBUSIER em carta dirigida ao urbanista russo MOISE GINZBURG
concepção atual da rua que se encontra sem efeito diante do fenômeno novo dos diz entre outras coisas: "O desurbanismo é uma interpretação mistificada de um
meios modernos de transportes: metrôs ou automóveis, aviões, trens, etc. princípio de LENIN. LENIN disse: se se quer salvar o camponês é necessário
4ÇJ) Aumentar as superfícies plantadas, única maneira de assegurar a higiene
suficiente e a calma útil ao trabalho atento exigido pelo novo sistema dos
negócios". Aparentemente paradoxais, esses postulados são coerentes entre si e
de inquestionável racionalídade.
Esquema preconizado para a cidade contemporânea de LE CORBUSIER:
a.
via

vtu
Q,HI+---
vtQ

a. (CIDA.DES-JARDIM)

B, ÁREAS NAO URBAN lZADAS


C'. 24 ARRANHA- cEtus

Figura 10.12 - A cidade contemporânea de Le Corbusicr.

A - cidades jardins - 2.000.000 habitantes.


B - terrenos livres - não urbanizados.
C - cidade, composta de 3 retângulos concêntricos: no mais central há mais de 24
arranha-céus com uma densidade demográfica bruta de 3.000 habitantes/ha (400.000
a 600.000 habitantes comércio, hotéis, negócios, jardins, parques, etc, com 95% de
superflcie plantada); ao redor da zona central segue-se uma zo~a residencial luxuosa
com densidade de 300 hab/ha bom 85% de superHcie plantada (lotes fechados,
murados). Nas zonas residenciais viveriam 600.000 habitantes. Nas áreas B situam-se
o aeroporto, áreas industriais, hipódromo, universidade, serviços públicos. etc.
Nas zonas residenciais as superquadras medem 400 X 200 m ou 600 X 400 m,
diminuindo-se assim o número de cruzamentos e a área de ruas.

4.5. Evolução urbana em alguns paises

4.5.1. Rússia - Em 1930 houve, entre os urbanistas russos, ampla discussão


entre duas teorias: a da desurbanização linear e a da urbanização funcional.

10 LE CORBUSIER, Urbanisme, Editions Vicent, Paris: Fréal & Cia., nova edição, 1966,
p.92.
Figura 10.13 - Desurbanízação linear. Diagrama de Hilberseiner.
1\
I

244 Célson Ferrari ~ismo 245


• I'

transportar a indústria às aldeias; não disse: se se quer salvar ao cidadão ... Esse conjunto de distritos servidos por uma escola primária e outros equipamentos
A vida em coletividade fornece a produção industrial e intelectual. A dispersão comunitários (clube, centro de saúde, correio, etc.) chama-se "rádio" (8.000 a
obstaculiza o desenvolvimento espiritual e debilita os reflexos da disciplina 12.000 habitantes) e corresponde a "unidade de vizinhança" do organicismo
material e intelectual... o homem aspira à urbanização; Um dos projetos de norte-americano. Os espaços verdes formam uma rede contfnua através da cidade.
desurbanização de Moscou propõe cabanas de palhas no bosque. Esplêndida A publicação da ONU, Urbanization: Development Policies and Planning informa,
idéia! Mas só para o Week-end".'! diferentemente, que os microdistritos residenciais das cidades russas abrigam de
8.000 a 12.000 habitantes e que alguns microdistritos formam um distrito
ENGELS escreveu: "A separação entre cidade e campo condenou a popu-
residencial de 25.000 a 50.000 habitantes.
lação rural a milênios de atraso e a população urbana à escravidão do trabalho
assalariado. Destruiu a possibilidade de qualquer desenvolvimento cultural na Um dos maiores urbanistas russos, N. A. MILlUTIN, propôs o seguinte
primeira e de qualquer desenvolvimento físico na segunda".12 esquema linear para as novas cidades russas:
b) Urbanização funcional que consistia na substituição das grandes cidades
e das aldeias, por um maior número de cidades industriais e agrícolas de 40.000
a 50.000 habitantes' onde o consumo seria inteiramente coletivizado. A casa
familiar seria substituída pela casa comunitária, com capacidade para 4.000 pessoas
ou mais. As crianças seriam cuidadas em creches e locais apropriados. Urbanizar
eliminando-se as grandes cidades era evidentemente, diminuir o ritmo de desen-
volvimento do País. Defendia essa tese os "urbanistas" dirigidos pro SABSOVITCH.

Ambas as teorias foram consideradas desviacionistas pelos dirigentes russos,


assim como a alternativa de LE CORBUSIER representada pela Ville Radieuse
de 1933.
O Instituto de Planificação Urbana entregou o projeto de suas cidades a
arquitetos russos e estrangeiros. Assim, a cidade jardim foi aceita. As cidades-
-satélites foram empregadas para resolver o problema de descentralização e
expansão. Aceitando a sugestão dos "urbanízadores" a agricultura foi considerada
uma função urbana, tanto quanto a indústria. Procurou-se não eliminar a cidade,
mas transformar o campo de modo a acabar a dicotomia campo-cidade. O campo
deverá urbanizar-se pela criação de cidades-agrícolas, com industrialização da
população agrícola. Procura-se a nítida separação entre a zona residencial e a
industrial. A atividade comercial foi centralizada e passou a ocupar áreas reduzidas
nas cidades.
Uma cidade passou a ser um organismo polinucleado, policêntrico, de distritos
iguais projetados para uma massa indiferençada de habitantes. No centro ficam
os principais órgãos administrativos, as mais altas instituições sociais e culturais
e os grandes armazéns. Os distritos residenciais abrigam de 2.000 a 6.000 pessoas
e possuem: jardim de infância, restaurante; creches, armazéns, casa de socorro, etc.
~R~OVIÂ
Correspondem, aproximadamente ao escalão "unidade residencial" do escalona-
mento urbano orgânico norte-americano. As escolas primárias, servem ao mesmo
tempo a mais de um distrito e estão situadas nas áreas verdes que as separam.

Fig. 10.14 - Diagramas lineares de Magnitogorsk e Stalingrado (hoje Volvogrado).


11 Citação de P. CECCARELLI in La Construccion de Ia Ciudad Soviética, pp. 81 e 82.
NOTA: Os equipamentos recreativos e' desportivos se localizam nas áreas verdes. O equipa-
12 P. CECCARELLI, idem, p. 84. mento escolar nas áreas residenciais.

/ ),
246 Célson Ferrari Urbanismo 247 (

o projeto' de MILIUTIN satisfaz a tarefa principal do planejamento dos 4.5.2. Inglaterra


diferentes centros de habitação que é a de distribuir, de forma a mais racional,
as funções fundamentais da cidade socialista: a produtiva e a residencial. A revolução industrial alcançou na Inglaterra sua maior intensidade na
primeira metade do século XIX. Uma série de importantes invenções, iniciadas
I Um pouco de história da evolução urbana na Rússia:'Parece que as primeiras na segunda metade do século XVIII, encontraram no grande capital usurário
cidades russas encontradas já nos séculos XI e X, foram fundadas pelos eslavos,
acumulado na Inglaterra, por força de seu mercantilismo altamente desenvolvido,
principalmente, ao longo das vias fluviais Dníeper-Volkhov e alto Volga. Em fins
condições de se implantarem. A máquina de fiar (1765), a máquina de vapor
do século IX e começo de século X o feudalismo se estabeleceu como um sistema
(1782), a máquina de tecer de CARTWRIGHT (1785), a locomotiva, o navio
social. As cidades russas dós séculos Xl e XlII eram centros administrativos onde
a vapor e outros inventos criaram o industrialismo moderno e o proletariado.
havia divisão de trabalho e uma separação das atividades comerciais e industriais
das agrícolas. As maiores cidades desses períodos desenvolveram-se em regiões de A produção de ferro, na Inglaterra, que em 1740 era de 17.000 t. passou a
maior desenvolvimento agrícola: região de Kiev, de Galich-Volyn, de Polotsk- ser de 2.000.000 t. em 1850; o número de teares movidos a vapor (10.000 em
-Smolensk, de Rostov-Suzdal e de Ryazan. Essas áreas eram separadas por regiões 1823) atingiu em 1855, a 400.000.13 Estradas de rodagem, de ferro, canais são
de vastas florestas e pantanoso Se o comércio não criou cidades, é certo que construidos. Ao lado de todo esse desenvolvimento, as cidades começaram a
proporcionou o crescimento das mesmas. A agricultura, o artesanato e as relações crescer de forma galopante. (Tabela 10.4).
feudais de trabalho é que deram origem às cidades russas.
No século XlII, GENGIS KHAN domina o ducado de Kiev. TABELA 10.4: CRESCIMENTO DAS CIDADES INGLESAS NO INíCIO DO
SÉCULO XIX.
- Nos séculos XlV e XV as cidades russas são destruídas pelos tártaros, apesar
de serem fortificadas como as cidades do Oeste Europeu.v Em contraste com as Cidade 1801 1841
cidades medievais da Europa Ocidental, muitas das cidades russas possuíam forti-
ficações de madeira. O mercado (torg ou torgovishche) era o centro cívico da Liverpool 82.000 hab. 299.000 hab.
cidade e se situava usualmente, aó lado do rio, em posição não central da cidade, Manchester 75.000 hab. 252.000 hab.
Birminghan 71.000 hab. 202.000 hab.
levando-se em conta os fatores geográficos. Note-se a semelhança dessa localização
Bradford 13.000 hab. 67.000 hab,
e função cívica do mercado com as das cidades gregas.
Geralmente, a praça do mercado continha uma ou mais igrejas . FONTE: DAWSON, Keith The Industrial Revolution Pan Books, 1972, p. 16.
../'

As cidades eram, geralmente, construídas de madeira, em virtude de seu


prolongado e intenso inverno>
Kiev, chamada a "mãe das cidades russas" e sua região formaram o primitivo O agravamento do nível de vida e das condições de higiene das cidades
território russo (hoje Ucrânia). Em 1169 a hegemonia de Kiev é substituída pela atingiu seu ponto crítico em meados do século passado. Epidemias diversas
de Novgorod. Moscou começa sua ascensão a partir de 1326. Ivan 111impõe a
supremacia de Moscou sobre os reinos vizinhos (1462-1505). Ivan, o terrível
assolaram o paíS.14 Surgiram por essa época as primeiras leis sanitárias e de saúde
pública: Towns Improvement Act (1847) e Public Health Act (1848). Em 1875
(1523-1584) consolida o Império Russo e adota o título de czar. NICOLAU 11 surge o Public Health Act do qual resultou o modelo de planejamento típico
(1894-1917) foi o último czar derrotado pela revolução socialista de novembro das cidades do norte, tais como: Preston e Leeds. .
de 1917 que leva à formação da U.R.S.S.: União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas.
Entre 1917 e 1965 mais de 900 novas cidades foram criadas na Rússia.
De 1917 até começos da década de 30 a Rússia foi um país de economia, predo-
minantemente agrícola. Em 1928 teve início o primeiro Plano Qüinqüenal com
13 A produção de carvão de 6 X 106 t. (1770) passa a 49,4 X 106 t. (1850); os produtos
duas metas prioritárias: desenvolvimento da indústria pesada e criação de novas
de algodão crescem de 8.000 t. (1760) a 300.000 t. (1850).
zonas -industriais nas regiões orientais, menos desenvolvidas. Seguiram-se outros
planos qüinqüenais e a URSS experimenta uma notável urbanização. A população 14 "Descobriu-se que em Preston, em um conjunto de 442 residências, 2.400 pessoas

urbana cresceu 33% de 1926 a 1938 enquanto que a população total aumentou dormem em 852 camas" - Relatórios de Chadwick, em 1845, para a "Comissão Real para
a Saúde das Cidades". Citação de A. KORN em "La Histeria Construye Ia Ciudad", p. 126.
de 18%.
248 Célson Ferrari Urbanismo 249

Em 1898, conforme já se viu, E. HOWARD publicou Tomorrow: a Peaceful


Path to Real Reformn reeditada em 1902, como: Garden Cities of Tomorrow.
Foi fundada a Garden City Association, logo depois.
A primeira legislação inglesa sobre planejamento urbano surge em 1909:
The Town Planning Act e autoriza os governos locais a elaborarem planos de
ordenação do solo, de. saneamento básico e de proteção da estética urbana ..
Em 1910, PATRICK GEDDES, pela primeira vez, ensina que o planejamento
regional ou urbano deve sempre ser precedido de uma pesquisa sistemática.
Em 1913 é fundado o Royal Town Planning Institute que caracteriza o
aparecimento do planejamento urbano inglês.
As cidades jardins nesse País tiveram grande repercussão. Em 1903, no
projeto de uma "cidade nova" - "New Town" - situada em Letchworth, algumas
idéias de HOWARD foram empregadas pelo arquitetos BARRY PARKER e
RAYMOND UNWIN. Este último, R. UNWIN, associado a EDWIN LUTYENS,
projetou, segundo os mesmos princípios da cidade jardim, em 1907, o "Hampstead
Garden Suburb" .15 E as primeiras "new-towns" sofreram todas, forte influência
da cidade-jardim de HOWARD: obediência a um plano diretor, reserva de espaços
,;
I
para os equipamentos comunitários, um padrão de espaços vazios e a definição dos gp
limites urbanos por um anel verde. '"
As idéias de LE CORBUSIER, principalmente, as de sua La Ville Radieuse 2'"
Vl

--
(1922), foram aproveitadas mais tarde em algumas "new-towns". Em fins da década I
li>
de 1920 o conceito de cidade satélite surgiu dos estudos de planejamento regional, o
então' em seus princípios. Uma cidade satélite que surgiu desse conceito foi
•..os
Wythenshawe, próxima de Manchester. .~
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A comissão Barlow teve por objetivo estudar a descentralização das indústrias e .s


L '""
a dispersão da população industrial de Londres, sendo que o relatório de SCOTT e ,••
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ti)
BARLOW é considerado a melhor síntese sobre o assunto.
Sob o aspecto do planejamento do uso do solo, os planos do Condado de
Londres (County of London Plan) e da Grande Londres (Greater London Plan),
elaborados, respectivamente, em 1943 e 1944, sintetizam de forma a mais com-
pleta, todas as correntes de pensamento vigorantes sobre o assunto até então. O pri-
meiro teve por autores principais ABERCROMBIE e FORSHA W e o segundo, o
mesmo ABERCROMBIE. Propõem a criação de subúrbios satélites nas cidades exis-
tentes próximas ao cinturão verde (GREENBELT) de Londres e sugerem a criação
e localização das "novas cidades": as New-Towns.
Sob o aspecto formal, pode-se distinguir três fases na construção das New-
-Towns. A primeira compreende as projetadas entre 1946 e 1950; pertencem à

lS Esse projeto suburbano de cidade jardim gerou, no mundo todo, uma infinidade de
loteamentos com os nomes de "cidade jardim", "jardim América", "jardim Europa", "jardim
Japão", etc., que de jardim apenas ostentam o nome enganoso.
élson Ferrari

segunda fase as cidades de Cumbernauld (1955), de Hook (não construída, infeliz-


mente) em 1960 e Skelmersdale (1961);'finalmente, ao terceiro grupo pertencem

II
as de~s.
As cidades do primeiro grupo (Basildon, Bracknell, Crawley, Harlow,
Hatfield, Hemel Hempstead, Stevenage, Welwyn Garden City, Aycliffe, Corby, t:-::] INDÓSTRIAS

Cwmbran, Peterlle, East. , das cidades-jar-


Kilbride, Glenrothes), derivaram sua forma o ÁREAS
RESIDENCIAIS
dins e do conceito de vizinhança16.\Além disso, eram projetadas para populações • ESCOLAS
limites, geralmente, entre 50.000 e 80.000 habitantes. Eram dimensionadas para
75 habitantes por hectare (zona residencial) e densidade de 125 trabalhadores por
hectare (zona industrial). Foram criticadas por falta de coesão e senso de localiza-
ÇãO./:
O segundo grupo caracterizou-se pelo abandono das formas de baixa-densi-
dade pela conscientização da influência do automóvel sobre o espaço urbano\A
idéia de unidade de vizinhança foi abandonada porque as altas densidades adotadas
faziam com que as caminhadas à pé ao centro da cidade fossem sempre possíveis.
Influenciadas por STEIN e WRIGHT (RADBURN), os planejadores ingleses fizeram
essencial ao projeto a secregação veículo/pedestre. As concepções estéticas de LE
CORBUSIER influenciaram o estilo e forma das cidades desse período: Cumber-
nauld é disso um exemplo marcante.
As cidades da terceira fase (MiltonKeynes, Newton, Peterborough, Redditch,
Runcorn, Telford, Warrington, Washington, Irvine e Livingston) têm em comum a
importância dada aos deslocamentos de pessoas e veículos e a forma "celular" ado-
tada. O Relatório de BUCHANAN (1963) influenciou muito na elaboração dos
planos dessa última fase, principalmente, no que se refere ao conceito de hierarqui-
zação das vias urbanas e ao seu conceito paralelo de meio ambiente. Há um reno-
vado interesse pela estrutura linear urbana .. O conceito de espaço ambiental e o
retorno à idéia da unidade de vizinhança, originou uma estrutura celular escalonada
(unidade de residência, unidade de vizinhança, setor, distrito, microdistrito, etc.).

4.5.3. Estados Unidos da América do Norte


l-Assim como no Brasil, o europeu, após o descobrimento do território dos
E.U.A., não encontrou cidades nele: Em contraste, porém com o Brasil, o coloni-
zador norte-americano que desembarcou com o MAY FLOWER, mais de um século
após o início da colonização das terras brasileiras, não permaneceu no litoral,
criando uma "urbanização de caranguejo". Embrenhou-se para o oeste com o firme
propósito de colonizar e permanecer na nova pátria de sua eleição. A superioridade
da urbanização e colonização americanas sobre a brasileira não advém, como muitos
pensam, da superioridade racial do anglo-saxão sobre o português. VIANNA MOOG
em seu conhecido livro Bandeirantes e Pioneiros, esclarece as razões dessa diferença

16 Os conceitos de unidade de vizinhança e de coesão comunitária eram, àquela época, de


modo pioneiro, exaltados por CLARENCE PERR Y nos EUA. Figura 10.16 - Cumbernald.
Urbanismo 253
252 Célson Ferrari

de colonização, desfazendo os errôneos argumentos racistas de autores consagrados,


como HOUSTON STEWART CHAMBERLAIN, GOBINEAU, GUSTAVE LE
BON e outros. As teorias racistas também fizeram adeptos no Brasil e em toda a
América Latina. Em 1897, conforme VIANNA MOOG, JOAQUIM MURTINHO
assim se referia às possibilidades de desenvolvimento industrial do Brasil: "Não
podemos, como muitos aspiram, tomar os Estados Unidos da América do Norte
como tipo para nosso desenvolvimento industrial, porque não temos as aptidões
superiores de sua raça, força que representa o papel principal no progresso indus-
trial desse grande povo".
(Os principais fatores do contraste de colonização entre os dois países são os
que se seguem, muito embora não expliquem tudo: \
I
a) Fator econômico - Sabe-se que a história se processa através de fatores
predominantemente econõmícos.lOs Estados Unidos POSSUía.llcarvão e petróleo e
aí está, em grande parte,explicada a diferença de desenvolvimento entre os dois
países. O carvão mineral brasileiro é de qualidade .ínferior a do americano e petróleo,
só recentemente, nos foi permitido descobrí-Io. A acumulação de renda deveu-se a
uma utilização de recursos naturais e a uma agricultura de exportação cujos exce-
dentes permaneciam no país e eram distribuídos, igualitariamente, pela população.
(b) Fator orográfico - A Serra do Mar constitui, no Brasil, uma barreira natu-
ral à penetração. Nos Estados Unidos, toda a costa atlântica, numa extensão de
300 Km é constituída por uma planície. A cadeia dos A1leghenies e dos Apalaches
que então surgem, são, mais facilmente, transponíveis ou contornáveis que a Serra
do Mar. Depois seguem-se novamente a planície até as Montanhas Rochosas, pró-
ximas ao Pacífico. No Brasil, a Serra do Mar, a Serra Geral e Serra da Mantiqueira
(Maciço Atlântico) constituem sérios obstáculos à implantação de estradas de ferro
e rodovias.
c) Fator hidrográfico - Os Estados Unidos possuem a melhor rede hídrográ-
fica do mundo com relação à navegação fluvial. O Mississipi é um verdadeiro mar
interior. No Brasil, principalmente na zona temperada, os poucos grandes rios exis-
tentes não são navegáveis: o São Francisco é interrompido a 250 Km da costa pela
cachoeira de Paulo Afonso, o Paraná possui Sete Quedas, o Tietê é todo enca-
choeirado. Temos é verdade o Amazonas, o maior rio do mundo, mas que corre por
terras situadas na linha do Equador, de densas florestas e de difícil aproveitamento

11\\\\\\\\1 I ~ t econômico.
c) O fator clima - A diversidade do clima dos Estados Unidos contribui para
formação de uma agricultura diversificada. O frio levou o americano a desenvolver
uma indústria para cornbatê-lo: tecidos de lã, aquecedores de água e ar, roupas
especiais, etc. O otimismo de PERO VAZ DE CAMINHA ao dizer a el-rei que
"querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo" referindo-se às nossas terras e clima
Figura 10.17 - Runcorn. infelizmente, não é verdadeiro.
d) Outros fatores: psicológicos (o colono americano veio com a família com o
propósito de lançar raízes em sua nova pátria em virtude das perseguições religiosas
254 Célson Ferrari
r Urbanismo 255

na Europa, principalmente; o português veio sozinho para enriquecer-se e retomar a


pátria); religiosos (o americano era calvinista e como tal intransigente com os vícios
do jogo, bebida, luxo, etc., mas polarizado por uma idéia fixa de acumular riqueza
e poder; o português era católico, contrário à usura e, conseqüentemente, ao
crédito, ao financiamento, etc.)."?
I .
As cidades renascentistas, reticulares, em tabuleiros de xadrez, passaram para
a América do Norte."> . ~
,7 .
Nova York fOI fundada pelos holandeses, na ilha de Manhattan, com o nome
de Nova Amsterdã, na foz do rio Hudson, no ano de 1626.' Possuía um traçado
irregular e uma muralha (wall) onde hoje fica a Wall Street. Ao estender-se além da
muralha o fez segundo um plano retilíneo, com avenidas no sentido Norte-Sul e
ruas no sentido Leste-Oeste (tabuleiro de xadrez). Deve seu excepcional cresci-
mento a sua condição de excelente porto e ao fato de possuir ótimas comunicações
com o interior, tanto para as exportações como para as importações. Na mesma
costa atlântica Boston, Charleston, Baltimore e Filadélfia não gozavam das mesmas
facilidades de comunicação com o interior.
Com a revolução industrial, em meados dó século passado, desenvolvem-se as
cidades ligadas à indústria do ferro e aço, que se valem do carvão da Pensilvânia,
do minério de ferro das margens do Lago Superior (Michigan e Wisconsin) e do
capital e capacidade empresarial acumulados em Nova York. São elas: Bufalo, Cle-
veland, Detroit, Pittsburgh e Chicago, um pouco depois. Nesse período, consolida-se
ainda mais o papel polarizado r de Nova York.
Antes de 1900, Nova Orleans, São Francisco e Minneápolis cresceram como
Cen+ro
centros comerciais do golfo do México e da bacia do Mississipi (Nova Orleans - PERSP6CTl vA~5:6UN DO
pL-ANrA L-'ENP""ANT C 17~')
Louisiana), do vale central da Califórnia (S. Francisco - Califórnia) e as planícies
centrais do país (Minneápolis - Minnesota).
Figura 10.18 - Washington D. c. - Estados Unidos.
Entre 1900 e 1940 duas cidades, principalmente, crescem como centros
comerciais e de serviços: Los Angeles (sul da Califórnia) e Kansas City (planícies
centrais). Possui uma grande praça central onde cruzam-se, ortogonalmente, duas amplas ave-
nidas. Há no projeto um princípio de zoneamento caracterizado por lotes de tama-
I Depois de 1940, refletindo o desenvolvimento do setor terciário da economia,
nhos diferentes conforme a zona e um princípio de hierarquização de vias. É seu
outras cidades americanas experimentam grande crescimento! Seattle (Washington),
traçado retilíneo, ortogonal, cruzando-se as ruas formando quadrados e retângulos.
Dallas (Texas), Houston (Texas), Fênix (Arizona), Oklahoma City (Oklahoma),
É um misto de tabuleiro de xadrez e grelha.
Atlanta (Georgia), San Diego (Califórnia). De um modo geral, em virtude do cresci-
mento do setor terciário, a população norte-americana urbanizou-se, a taxas eleva- Savannah, fundada em 1733, segundo um traçado ortogonal em gelha, monó-
das, a partir de 1950. tono, apresenta um princípio de diferençação de vias (vias de trânsito e vias de ser-
viço). As casas estão abertas para um jardim interior. A preocupação pelo verde
Filadélfia, foi fundada em 1682, na confluência dos rios Delawre e Schuylkill,
público já aparece no traçado de Savannah que possui três grandes parques.
por WILLlAN PENN, num local habitado já, desde o início do século pelos suecos.
Fugindo ao traçado puramente retilíneo, a que não escaparam nem mesmo
17 Segundo CALVINO, Deus escolhe seus eleitos à revelia de suas obras e méritos, aben-
cidades como São Francisco de topografia acidentada, há poucas exceções: Aná-
çoando a riqueza. Legitimou o calvinismo, a usura e o "turpe lucrum" (lucro obtido no comér- polís, Washington, Detroit e Chicago.
I I
cio). Essa idéia de vincular o capitalismo ao calvinismo parece ser de MAX WEBER. A moderna
historiografia rejeita essa vinculação weberiana.
I ! Anápolis, fundada em 1649, na foz do rio Severn, na baía de Chesapeake, é a

I
I
256 Célson Ferrari Urbanismo 257

primeira cidade norte-americana a apresentar uma estrutura formada de duas praças


circulares ligadas por uma avenida, dentro de um conjunto de ruas ortogonais.
Washington foi projetada pelo major PIERRE L'ENFANT, em 1781, caracte-
rizando-se por uma concorrência de vias diagonais em dois pontos da cidade: o Capi-
tólio e a Casa Branca. Essas diagonais foram traçadas sobre um traçado ortogonal,
havendo grandes jardins e esplanadas. A cidade implantada difere um pouco do
traçado original, conservando-o porém, em essência. )
Detroit teve origem num forte fundado por ANTOINE DE LA MOTHE
CADILLAC, em 1701. Em 1796, Detroit passa a pertencer aos Estados Unidos. Em
1807, é feito um projeto de extensão de Detroit segundo um traçado de diagonais
formando trama de triângulos eqüiláteros e sucessão de unidades radioconcêntricas.
Chicago foi fundada por JOHN KINZIE em 1804, às margens do Lago
Michigan. Um grande incêndio destruiu o centro da cidade que foi reconstruído
segundo plano de DANIEL H. BURNHAM e EDWARD BENNET, em 1909. O
traçado é inspirado no plano barroco de Versalhes (Paris), em absoluto desprezo
pelos problemas sociais da época.
A primeira grande contribuição norte-americana ao urbanismo, surgiu em
1928: CLARENCE. STEIN e HENRY WRIGHT; projetaram perto de Nova York, a
Radburn. Pela primeira vez se procurou numa cidade "a domesticação do auto-
móvel". Até hoje sua concepção é aceita como moderna, como inovadora. Pro-
curou-se separar o trânsito de automóveis do de pessoas, através de superblocos
ou superquadras. As moradias são construídas com as fachadas principais voltadas
para o interior das quadras, e seus fundos, para os acessos, constituídos por
culs-de-sac, loops, de formas diversas. O veículo entra pela via de acesso e, chega
aos fundos da residência. A fachada fica voltada para os pátios internos onde há
vegetação, sombra, espelhos d'água, caminhos de pedestres, etc. Os pedestres em
geral, caminham dentro da superquadra, enquanto o veículo passa pelas vias que a
circundam. As pessoas não se cruzam com automóveis, eliminando-se o perigo de Figura 10.19 - Radbum - "the town for the motor age". (Diagrama do Plano de
acidentes e afastando-se da moradia o ruído e a poluição. Clarence Stein e Henry Wright.)
Depois surgiram as greenbelts: cidades inteiramente limitadas em extensão e
população. A primeira foi construída em 1936 por HALES J. WALKER em Mary- Nos Estados Unidos, LUDWIG HILBERSEIMER, imigrante alemão, contra-
land a 16 Km de Washington e se chamou Greenbe1t. Surgiram depois: Greenhills tado para ensinar Urbanismo em Chicago, em 1938, e o arquiteto amerícano
(Ohio) Greendale (Wísconsín), Greenbrook (Nova Jersey) e outras mais. São cidades FRANK LLOYD WRIGHT, propõem também uma desurbanização, ou seja, uma
limitadas por um cinturão verde. dispersão urbana à escala do automóvel privado. Lutam pela implantação de uma
baixíssima densidade demográfica urbana, pela quase "ruralização" da cidade, ale-
As greenbelts são empreendimentos estatais, projetadas e implantadas sem o
gando os benefícios da vida rural e as facilidades de !ápida comunicação e loco-
necessário apoio das comunidades interessadas. Daí a razão do relativo fracasso das
greenbelts. moção através do automóvel privado.
À partir de Radburn as propostas americanas de planejamento urbano, até FRANK LLOYD WRIGHT em sua Broadacre City expõe uma teoria, até
quase a metade deste século, são empiristas, isto é, fundadas na experiência já acu- certo ponto, organicista. Entende-se como orgânica ou organicista toda teoria urba-
mulada e analisada tendo-se em conta, principalmente, a presença do automóvel na nística baseada em modelos criados à semelhança dos organismos vivos, tanto no
vida urbana. Repete-se, neles, a mesma rigidez dos planos racionalistas, isto é, que se refere à organização espacial quanto à organização social. Em Broadacre
faltam-Ihes abertura. City, WRIGHT procurou criar uma comunidade que pudesse desfrutar, simuLtanea-
)
258 Célson Ferrari Urbanismo 259

mente, da vida urbana e rural, numa tentativa utópica de eliminar a contradição


I) l~I==========~=~~~8~,~.~~~,~,6~~~o~1
==========~J) l~I======== campo-cidade. É uma teoria romântica que a experiência demonstrou ser errônea.
Atualmente, os americanos, ao modo dos ingleses, passaram a projetar e im-
plantar novas cidades como satélites de metrópoles congestionadas: Jonathan
(Minnesota - 50.000 hab.), Park Forest South (Illinois - 110.000 hab.) Saint
Charles (Maryland - 78.000 hab.); Maumelle Little Rock (Arkansas - 52.000 hab.);
Flower Mound Dallas (Texas - 64.000 hab.); Cedar-Riverside (Minnesota -
30.000 hab.); Riverton (Rochester N.Y. - 25.600 hab.); San Antonio Ranch (Texas
- 89.000 hab.); Woodlands (Texas - 150.000 hab.); Gananda (Rochester - N.Y.
õõ 50.000 hab.).
N

'"...• O urbanismo contemporâneo nos Estados Unidos conta com trabalhos muito
originais, dos quais destacam-se os de CHRISTOPHER ALEXANDER, JANE
JACOBS, LOUIS KAHN, KEVIN LYNCH, PAUL RUDOLPH, WILLIAM PEREIRA,
P. GOODMAN, etc.
CHRISTOPHER ALEXANDER, arquiteto versado em matemática, a partir da
análise combinatória tenta matematizar a teoria urbanística elaborando estudos
analíticos muito importantes. Neste sentido, sua obra publicada mais conhecida é
Notes on the Synthesis of Form, Cambridge, Mass., 1964. Em estudos de "modelos
de planos de usos do solo", SCHLAGER valeu-se dos trabalhos analíticos de C.
ALEXANDER.
KAHN é um teórico do urbanismo e em seu estudo para o centro de Fila-
délfia, sem modificar a trama de ruas existentes, projeta uma rede tridimensional
para o trânsito de pedestres e de veículos, de grande flexibilidade, e propõe uma
mecanização e hierarquização do trânsjto com. ~s" ou torres de estaciona-
mento, além de criar um centro cívico.
'-- Os estudos de análise das estruturas ~rritoriais regionais e urbanas alcançaram
elevado nível de teorização nos EstadosUnidos, através dos estudos de WALTER
ISARD, EDWARD ULMAN, LOWDON WINGO Jr., RAYMOND VERNON,
WILLIAM ALONSO, JOHN R. FRIEDMANN, IRA S. LOWRY, EDWIN von
BOVENTER, etc.
Também os estudos de circulação urbana atingiram grande desenvolvimento
naquele país, principalmente, no que se refere à projeção de trânsito através de
modelos matemáticos complexos e de precisão.
Desde 1917 que os planejadores norte-americanos têm seu American City
Planning Institute, órgão de classe profissional.
-----r----------~
"\

4.5.4. Outros paises


../

A Finlândia tem uma tradição de planejamento urbano que remonta ao século


XVII quando o reino Suécia-Finlândia era uma potência mundial.t Já naquele
tempo, cerca de 15 de suas atuais cidades foram planejadas segundo os esquemas
,r";:::,==== renascentistas, geométricos. O mais conhecido desses planos é o de Harnina, cidade
260 Célson Ferrari Urbanismo 261

de traçado ortogonal, em forma estelar, cujo plano datado de 1722 foi renovado, jeto de seu centro (core) foi vencido por AARME ERVI (1953) que conseguiu uma
em 1962, por OLLl KIVINEN. clareza de expressão e uma harmonia dificilmente igualáveis em projetos semelhan-
ixcomo as construções, em sua maciça maioria, eram de madeira, havia sempre tes. Lembra uma cidade-jardim pela abundância de espaços vazios e verdes.
incêndios devastadores que proporcionavam a oportunidade de um novo plano à A urbanização da França, iniciada à época do Império Romano, intensificada
cidade devastada~Uma legislação urbana de 1856 estipulava que as cidades deveriam em fins da Idade Média pelo desenvolvimento do mercantilismo, atravessa a Renas-
ser constituídas de zonas de incêndio, separadas entre si por Iargas avenidas, prote- cença, os tempos modernos e chega à Revolução Industrial em meados do século
toras, que impediam a passagem do fogo de uma zona a outra, Avenidas, jardins passado, com algumas realizações no setor do planejamento urbano: os mosteiros
amplos, arquitetura de estilo "império", sebes verdes unindo os edifícios entre si, do século VI foram a origem de inúmeras cidades francesas, castelos e vilas da época
edifícios públicos construídos em parques abertos (ideal neoclássico), dão às de CARLOS MAGNO, criados para defender o Império Franco, deram origem a
cidades finlandesas do século XIX uma paisagem agradável. cidades (Halle, Merseburgo, Magdeburgo, etc.); nos séculos IX e X, aldeias e cidades
CAMILO SITE teve alguma influência sobre o planejamento na Finlândia, fronteiriças são amuralhadas, em virtude das invasões bárbaras, assim como castelos
provocando um breve retorno às praças medievais, em fins do século passado. são construídos, até que no século XIV todas as cidades estavam protegidas por
Neste século, em seus primeiros 50 anos, predominou o "monumental" na arqui- muralhas. Entre 1220 e 1350, mais de 300 fortalezas ou novas cidades foram fun-
tetura e no planejamento urbano. Em Helsinque, os conjuntos residenciais dos dis- dadas em França. Porém, apenas algumas dessas fundações se transformaram em
tritos de Eira e Kulosaari, foram construídos conforme os princípios da "Art cidades verdadeiras. Essas cidades ou fortalezas eram chamadas "baluartes". Geral-
Nouveau". mente, possuíam um plano retangular ou quadrado, eram protegidas por um fosso
e uma muralha e, algumas, por um castelo ou cidadela.
ELlEL SAARINEM, autor do célebre livro The City , que traz uma impor-
tante contribuição à teoria do planejamento urbano, em 1915, ainda na Finlândia, '\:(A cidade renascentista francesa exalta, pelo Grande Estilo, o despotismo. Os
fez o plano de Munkkiniemi - Haaga, inspirado na teoria da cidade-jardim de palácios do Louvre e Versalhes são monumentos à grandiloqüência arquitetônica,
Howard. Entre 1911 e 1915, SAARINEN elaborou o plano diretor de Budapest, ao Grande Estilo, ao absolutismo.
venceu o concurso para a elaboração do plano diretor de Tallinn e preparou, junta- Entre 1853 e 1869, o barão HAUSSMANN, sob o beneplácito de NAPO-
mente com outro planejador, um esquema para o plano de Helsinque. Projetou LEÃO 111, pela primeira vez, encara uma renovação urbana como um técnico, um
SAARINEN, entre outras obras, os distritos marginais ao lago de Chicago, em 1923. urbanista e não como um esteta, um arquiteto, na acepção restrita do termo. Abre
Alguns projetos significativos que se seguiram: - subúrbio-jardim de Hel- amplas avenidas à época dos veículos à tração animal (velocidade média: 4 Km/ho- I
sinque chamado Kapyla (1921-1924), financiado pelo poder público municipal; ra) que até hoje servem ao trânsito motorizado (velocidades superiores a 80 Km/ho- lil
área residencial das indústrias Sunila por ALVAR AALTO (1936) e a Vila Olímpica ra).
para os Jogos Olímpicos de 1940 por H. EKELUND e M. VALIKANGAS. Mais modernamente, em França surgem TONY GARNIER (La Cité Indus-
O planejamento regional começou na Finlândia, em 1940, com o projeto de triel/e) e LE CORBUSIER (Une Vil/e Contemporaine, Plan Voisin, La Ville Radi-
AL VAR AALTO do vale do rio Kokenaki. euse, projeto de Argel, Nemours, etc.). Atualmente, há destacados urbanistas em
Depois da 2~ Grande Guerra, AL VAR AAL TO desempenhou papel impor- França estudando problemas ligados ao urbanismo subterrâneo, urbanismo subma-
tantíssimo na reconstrução das cidades finlandesas, assim como OTTO MEURMAN rino, às estruturas urbanas projetadas para o futuro, à metodologia do planejamento
e OLLl KIVINEN. urbano e regional, à análise regional, à economia urbana, à construção de novas
cidades, etc.
'\l(0 mais conhecido projeto urbanístico da Finlândia contemporânea é a cidade-
-jardim de Taplólrfi. Foi projetada por uma equipe pluriprofissional dirigida por 'C/'A França possui uma tradição respeitável no ensino do Urbanismo que lá
HEIKKI VON HERTZEN, diretor executivo da Fundação de Habitação. O projeto principiou por volta de 1916.~(
principiou em 1951. '~O início .da urbanização da Alemanha parece-se, historicamente, com a da
Tapíola é uma nova cidade situada no Golfo da Finlândia a 11 Km à oeste França. Teve origem na colonização levada a efeito pelo poderoso Império Romano
de Helsinque. Inicialmente foi projetado um núcleo de 17.000 habitantes para uma e, posteriormente, pela Igreja Romana~\Nos séculos IV e V seu território é invadido
cidade de 80.000 habitantes. Em relação às suas 4.575 unidades residenciais, 6.000 pelos germanos, povos indo-europeus, de diversas origens: alamanos, bávaros, fran-
empregos foram previstos em todas as categorias menos na de indústria pesada. A conianos, saxões e turíngios. Do século VI ao IX, de CLOVIS a CARLOS MAGNO,
população é balanceada, econômica e socialmente, evitando-se predominância de surgem reinos na Alemanha que prestam vassalagem aos francos, com exceção dos
determinados estratos sociais ou de famílias de padrões de renda uniformes. O pro- saxões, que são submetidos a CARLOS MAGNO, finalmente. Nesse período a
262 Célson Ferrari Urbanismo 263

Alemanha é evangelizada pelos missionários católicos e muitos mosteiros são funda- de cidades, tais como a de Hemmingen - Westerfeld; bairros residencias de Berlim
dos, transformando-se, posteriormente, em cidades. (Markisches Viertel, ao norte, e Britz-Buckow-Rudow, a sudeste); bairros residen-
ciais de Hamburgo; renovação das áreas centrais de Munique, Essen, Bremen, Colô-
Com o esfacelamento do Império Carolíngio surge, na Alemanha, um feuda-
nia, Kassel, Dusseldorf, etc. O plano de Buckow-Rudow à sudeste de Berlim Ociden-
lismo aguerrido e forte, cujo aparecimento foi favorecido pelas invasões de novas
tal é comumente chamado de Plano Gropius de vez que foi elaborado por WALTER
hordas bárbaras: normandos, dinamarqueses, húngaros, morávios, etc. Cidades forti-
GROPIUS. Outros planejadores que se destacaram na Alemanha Ocidental do após
ficadas e mosteiros se fundam: Friesack, Chorin, Lehnin, Gransee e outras. Em
~ guerra: HEINLE, WISHER e Associados (Vila Olímpica de Munique, 1872) WAL-
1134, Lubeck é reconstruída, das cinzas a que fora reduzida pelos eslavos. Depois
TER SCHWAGENSEHEIDT e TASSILO SITTMANN (Frankfurt), FRITZ
do ano 1200, muitas cidades se fundam nas regiões da Prússia, Saxônia, Silésia,
EGGELING (Nova Cidade de Wulfen), H.B. REICHOW (Nova Cidade de
Áustria e Polônia: Berlim, Breslau, Kovno, Brest-Litovsk, Riga e outras mais. Em
Sennestadt), FRANZ REIDEL (plano da comunidade de Langwasser à sudeste de
1400, Colônia fundada pelos romanos, era a mais importante cidade alemã, com
Nuremberg, para 60.000 hab.) e outros mais.
30.000 habitantes.
Na Alemanha Oriental, um dos mais importantes planos urbanísticos implan-
Os mercadores flamengos e banqueiros italianos, a partir do século XIII,
tados foi o da reconstrução do centro de Dresden. Algumas novas cidades foram
haviam estabelecidos um intenso comércio transalpino e as cidades do sul da Ale-
projetadas e construídas: Schwarze Pumpe, Houerswerda, Schwedt (no rio Oder) e
manha se desenvolveram muito: Augsburgo, Nuremberg, Ulm e Estrasburgo.
Halle-Neustadt.
A Liga Hanseática que controlava cerca de 80 cidades e todo o comércio do
O projeto de expansão de Rostock, o mais importante porto da Alemanha
norte da Europa deu grande desenvolvimento à urbanização da Alemanha e de seus
Oriental, é um de seus mais famosos planos urbanísticos, assim como o plano de
vizinhos, principalmente, da Holanda. As cidades que se situavam nos mares inte- renovação urbana de Erfurt,
riores da Europa (Mediterrâneo e Báltico) e nas vias de ligação entre eles cresceram
muito durante o período medieval. Com o deslocamento do eixo comercial europeu
4.5.5. Evolução urbana~o Brasil
para o Atlântico (portugal, Espanha, Inglaterra e Holanda), a urbanização desloca-se ~ -;;
para a orla atlântica da Europa. 4.5.5.1.\ economia portuguesa, à época da descoberta do Brasil, era me...r.cap-
Nuurante o Renascimento, na Alemanha, a cidade também adota em alguns ~. Havia em Portugal, um regime semifeudal, representado por uma aristo-
casos, o "grande estilo": Carlsruhe e Mannheim, ambas, port~ fluviais do Reno, são cracia patrimonial e uma monarquia absoluta aliada aos mercadores, em sua grande
"ernbelezadas" segundo os modelos parisienses de Versalhes. maioria, estrangeirot Convém lembrar,de passagem, que a dinastia então reinante,
fundada pelo bastardo Mestre de Avis, D. João I (1385-1580), fora apoiada pela
~m 1868 é editada na Alemanha a primeira legislação urbanística, no Grande burguesia comercial.
Ducado de Badert:-Dava ela à autoridade municipal competência para fixar o alinha-
mento das edificações e a divisão da rua e dos lotes para edificações. Assim, o ?f ~lill de tomar posse-das t~rras d~s~~b~rtas, ~ortygaLdiy:~~ís em c,api=-
sistema viário, na teoria do planejamento urbano foi o primeiro a merecer os cui- anias hereditárias - visando atraves da illlclativa nvada colonIza-lo e es lor -10.
dados da lei. Só em fins do século XIX é que surgiram as primeiras ordenações O fracasso desse sistema levou a coroa portuguesa a criar o sistema de Governo
sobre usos do solo, na Alemanha. ~~ Aos donatários, colonos e governadores gerais cabia a relevante
~nção de fundar cidadeS na colônia. A primeira cidade unda, a no B.rÂ8i.l.:.Il~ceter
O movimento artístico de maior relevo surgido na Alemanha deste século tal- sido Igaraçu em Pernambuco e SZ4(Seguiram-se depois as segu.itl1~escidades:
vez tenha sido o criado pela BAUHAUS, escola de arte e arquitetura fundada por Marim (Olinda) em 1530 (Pe Recife (PEJ~1531,J'ao/Vlcen (SP) e Ita-
W. GROPIUS em Weimar, em 1919 e transferi da para Dessau (1925-1932). Com a nhaém (SP) ["m 1532, Vit ria ( S) em V5r:), Vil~ do ~ereira (Salvador) (B ) em
subida de HITLER ao poder em 1933, os mais representativos artistas da 1536, Vial d~ São Jorge ( héus (BA) em h 540;Santos (sI» ~,543, It 'aracá
Bauhaus, refugiaram-se nos Estados Unidos: GROPIUS, LUDWIG, HILBERSEI-
(PE) em 1548~alvador(B m 1549,SãO~ -Io(1554),P r:anaguá(PR)-em 1560
MER, NEUTRA, WASSILY KANDINSKI, PAUL KLEE, LUDWIG MIES VAN
DER ROHE, LAZSLO MOHOLY-NAGY e outros.
Rio de Janeiro (Gin em 1565, Ni-tet:ói-fR:-Jem 1573 e outras mais \fi) fJ ~

Após a 2~ Guerra Mundial, ainda obedientes aos princípios da Carta da Ate-


18 Martim Afonso de Souza instala a 22/janeiro/1532 a Câmara de Vereadores chamada
nas (1933-CIAM), algumas obras de urbanização foram executadas: desde 1945, República Municipal, a primeira a se implantar no Brasil. As novas Repúblicas foram instaladas
Hanover foi reconstruídá e totalmente planejada; a renovação de Kreuzkirche é um em Olinda (1537), Santos (1545), Salvador da Bahia (1549), Santo André da Borda do Campo
dos primeiros exemplos de estudos de áreas centrais destruídas; algumas extensões (1553) ...
) Urbanismo> 265
,
mbora o capital mercantil não se aplique à produção, no Brasil, excepcio-
nalmente, para assegurar sua posse, os mercadores portugueses e holandeses inves-
tiram na empresa colonial açucareira, principalmente, em Pernambuco ~
?'Quando em 1580 Portugal é anexado ao }eino da Espanha é proibida aos
holandeses a comercialização do açúcar brasileiro. O produto na época provinha do
trabalho escravo, tendo portanto baixo custo. O mercado para isto na Europa era
bom, sendo a distribuição feita a preço razoável. Pernambuco, o maior centro açu-
careiro do País, foi, então, invadido pelos. holandeses, que ofereceram tais e tantas
vantagens aos produtores de açúcar, que acabaram por aderir ao invasor, ou pelo
menos por aceitar, indiferentes, o domínio holandês. Portugal mais tarde recuperou
o domínio das terras invadidas, com o auxílio dos brasileiros.
r Nossa civijização desenvolveu~se ao lon o do litoral, tendo sido, jocosamente,
chamada por gu , e CIV'ização de caranguejo". A sociedade era escravagista e
~@ rural. (Açúcar, gado, lavoura.) A cidade não tinha nenhuma importância
Rolítica ou economlca e era pobre. Todavia, era um instrumento de congUlsta1.....de_
~;-minação militar e eCQn~ sobre a--.(;.Qlô.Ilia. "A cidade foi fundada pelo
' Conquistador para atender aos mesmos objetivos a que serve ainda hoje: incorporar
\ a população indígena à economia trazida e desenvolvida pelo Conquistador e seus
I
\ descendentes". 19 •
Figura 10.21 - Diagrama do tabuleiro de xadrez brasileiro.
Í'Posteriormente, na área açucareira o astoreio se arou-se da a ricultur~
Aquele se embre ou para o interior do aís e esta fIxou-se no litoral. A sociedade
fIcou então, assim dividida..:.... ,, Exemplos de cidades originadas de aldeamentos indígenas: Missão Nova,
Missão das Almas, etc. (Norte e Nordeste); Santa-Cruz- São Mateus, Piúma, Bena-
~ L~t0lJ!l:sociedaç!~ escr~ .sta mercan tilista. vente-{Bahia>-Espírito Santo); Itaboraí ou-São-Pedro da Aldeia (Rio de Janeiro);
'" .[!JJp;i@: .regime_semi:WJ,ldal,_Qll..d~ trabalhador é um servo dos donos das São Paulo, Itapecerica, Embu, São Miguel, Sant' Ana do Parnaíba, etc. (São Paulo).
t~ (O rabalhador vendia sua rodu ão em troca de su .manúi~nçãõLe e;a li;;e
para vender sua orça de trabalho a quem quisesse, ao menos teoricamente.) O fIZ- 4.5.5_3. Cidades de Origem Militar
.fe~dalismo brasileir~ ~ãié as "êIuZadas" do europeu-, re resentadas _pelas "ban-
deíras't.?" na opinião de alguns autores. Algumas cidades que tiveram origem na função militar: Salvador (BA), Natal
(RN); Fortaleza (CE); Manaus (AM), Belém (PA), Santarém (PA), Marzagão (GO);
.......4.5.5.2. Aldeamentos indtgenas Óbidos (PA); Castro (PR); Avanhandava (SP); Laguna (SC), Desterro (hoje Floria-
nópolis) (SC); Sacramento (MG).
/os primeiros embriões de cidades surgiram nos aldeamentos indígenas, feitos
pelos jesuítas e franciscanos, dominicanos ou salesianos. Eram do estilo "tabuleiro
-4.5.5.4. Ciclos econômicos e suas cidades
de xadrez", ocupando a igreja uma posição de destaque em uma praça (o largo da
matriz). _ a) Ciclos do açúcar e da mineração
19 Citação de Andrew Gunder Frank in "Urbanização e subdesenvolvimento" - Rio de O ciclo da mineração causou o aparecimento da várias cidades. Tanto ele-
Janeiro - Zahar - 1969, p. 28. quanto o do açúcar eram escravagistas, mas, no período da mineração, os escravos,
20 Esse "feudalismo" brasileiro como de resto, o latino-americano é sui generis, ou seja, servos e homens livres trabalham, lado a lado, em condições mais humanas.
assemelha-se ao feudalismo europeu sem se igualar a ele. Economicamente, o feudalismo se ( Sob o aspecto socioeconômico, entre os senhores e escravos surgiu a classe
apresenta como um sistema fechado, dominado por uma classe social - os barões ou senhores -
intermediária entre a realeza e o povo. O produtor era dono dos próprios meios de produção.
média, que deu origem mais tarde à burguesías Neste ciclo, cresceu, de uma maneira
Portugual medieval era um Estado patrimonial e não feudal. Veja-se sobre' o assunto, de RA Y- muito acentuada, o mercado de trocas, pois dentro da região não havia possibilidade
MUNDO FAORO, Os Donos do Poder. de os mineiros produzirem todo o necessário para sua manutenção. Este comércio
266 Célson Ferrari Urbanismo 267

gerou um grande deslocamento de tropas para as Minas Gerais, e, conseqüente- Em 1850, sob a pressão da Inglaterra, a monarquia promulga lei proibindo o
mente, a abertura de novos caminhos e a criação de inúmeros núcleos urbanos. O tráfego de escravos no Brasil. A Inglaterra exerceu pressão nesse sentido por razões
pólo mineiro teve o mérito de promover a integração do centro do País com as econômicas: o açúcar brasileiro, graças à mão-de-obra escrava, concorria com o
regiões pecuaristas do Nordeste e do Sul. inglês, no mercado mundial, a preços vantajosos. O capital comercial empregado no
Sob o aspecto demográfico, a mineração atraiu um grande fluxo de popu- tráfico de escravos passou a ser investido no café, e em menor escala numa indústria
lação branca, européia, responsável pela etnia prevalecente no ~País.21 O ciclo da nascente no país.
mineração originou dois tipos de cidades: Como o café era produto de exportação, os países importadores começaram a
a.i. - Cidades que surgiram nos locais de mineração, tais como: construir estradas de ferro aqui. Todas eram estradas colonialistas, nitidamente vol-
tadas para a exportação e nunca para a integração do país. Elas eram de bitolas dife-
Em Minas Gerais: Ouro Preto, Mariana, Sabará, Caetê, Queluz, São João DeI
rentes, característicos de traçado diferentes, velocidades de projeto diferentes, infra-
Rey, Estrela do Sul, Diamantina, Congonhas do Campo.
-estrutura diferente, não se interligando. Enquanto isso, nos Estados Unidos os
Em Goiás: Goiás, Ouro Fino, Meia-Ponte (hoje: Pirenópolis), Jaraguá, Santa colonos se preocupavam em levar a civilização de Leste para Oeste, construindo
Luzia, Cavalcante, Arraias, etc. estradas que davam progresso a estas regiões. Eram estradas pioneiras, que deram
Em São Paulo: Apiaí e Eldorado Paulista '(antiga Xiririca). condições de sucesso a grande marcha para o distante oeste ("far west"). No Brasil,
ao contrário, as estradas de ferro foram empós da colonização já encontrando fun-
Em Mato Grosso: Cuiabá e Mato Grosso.
dados as aldeias e pousos que depois se transformaram em cidades.
No Paraná: Curitiba e Paranaguá.
A partir de 1850, o escravo passou a custar muito caro. Com a intensificação
No Rio Grande do Sul: Lavras e Encruzilhada do Sul. da agricultura cafeeira, o trabalho escravo tomou-se insuficiente e incompatível
a.2. - Cidades nascidas da circulação provocada pela mineração (pousos, com uma estrutura econômica rentável. O negro tinha poucos conhecimentos, era
encruzilhadas, postos de pedágio, passagens difíceis): Exemplo: Pouso Alegre, Pouso caro, de baixa produtividade e fugia muito. Os cafeicultores passaram então a utili-
Alto, Passa Três, Passa Quatro, Passa Vinte, Registro, Curral d'EI Rei,22 Lajes, Soro- zar-se dos imigrantes. Veio muita gente da Europa, com civilização e cultura mais
caba, Mogi-Guaçu, Feira de Sant'Ana, Malhada Grande, Feira de Conquista, Casa elevadas que as predominantes aqui. Houve uma renovação urbana acentuada no
Branca, etc. Brasil. Nossa arquitetura enriqueceu-se com a contribuição dos imigrantes italianos,
alemães, ingleses, etc. e o fenômeno de urbanização, além de acentuar-se, enrique-
Aspectos arquitetônicos e urbanísticos: desenvolveu-se na época uma arquite-
ceu-se, formalmente. É que a burguesia, àquela época, não era "crioula", nacional:
tura barroca, de valor inestimável, sobretudo pela sua originalidade.
era estrangeira (portugueses e ingleses) e ligada às economias européias.
As cidades nascidas nesse ciclo, na área de mineração, passaram, então, a ser
Com a abolição da escravatura a 13 de maio de 1888, os latifundiários do
nossas cidades barrocas. São barrocas na arquitetura de seus edifícios, mas, quanto
café que já estavam desgostosos com a monarquia apoiaram a implantação da
a traçado, são de concepção medieval: ruas estreitas, curvas, semhierarquização de
República, em 1889. A República, regime próprio da burguesia, no Brasil, surgiu do
vias e sem zoneamento.
feudalismo latifundiário mais evoluído, não escravocrata, paraxodalmente.
b) Ciclo do café Por que Rui Barbosa não se elegeu presidente da República a despeito de sua
...-- O café é um produto que necessita de latifúndios e de mão-de-obra abundante notoriedade em todo o País? Simplesmente porque era um lídimo burguês, cujos
para conseguir excedentes exportãveís Poi, primitivamente, escravagista. interesses de desenvolvimento industrial, urbano, se opunham aos interesses daque-
,
les que pretendiam conservar o País como seleiro de matéria-prima do mundo, im-
Não fosse a acentuada imigração de população branca provocada pela descoberta do
21 portando os produtos manufaturados. Dizia-se: "O Brasil é um país essencialmente
ouro nas Minas Gerais, principalmente, a população brasileira atual se assemelharia, etnica- agrícola", pretendendo com isso dizer que deveria permanecer "exclusivamente
mente, à do Caribe, pelo predomínio da raça negra. agrícola".
22 Curral d'El-Rei, nasceu da fazenda do Cercado, fundada pelo paulista JOÃO LEITE Com a monocultura do café, intensifica-se a urbanização e modernização de
DA SILVA ORTlZ, o Anhanguera 11, em 1701. Logo, Cercado se tornou um verdadeiro alguns núcleos." Novas cidades foram surgindo como "bocas de sertão": Campinas,
"curral" do gado vindo da Bahia e da região do S. Francisco para abastecer as zonas aurfferas
do rio das Velhas e um próspero povoado ali se formou: Curral d'El-Rei. Duzentos anos mais
tarde surgiria naquele mesmo local, Belo Horizonte 01eja-se ABÉLIO BARRETO em Bello 23 O processo de urbanização se reflete no crescimento prodigioso de São Paulo: de
Horizonte - Memária, histórica e descriptiva, Belo Horizonte: Livraria Rex, 1936, 356 pp.) 31.385 habitantes, em 1872, passa para 47.696 em 1886 e atigen 64.934 habitantes em 1890.
Urbanismo 269
268 Célson Ferrari

Limeira, Pirassununga, Descalvado, São Carlos, Araraquara, Mogi-Mírim, Casa TABELA 10.5: CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO PAULISTA.
Branca, Mococa, Ribeirão Preto, Marília, Bauru, depois as cidades do norte do Datas dos
Paraná. Muitas delas já tinham sido fundadas como antígospousos, cruzamentos de Pop, total %* Pop. Urb. %* Pop. Rural %*
CENSOS
vias de transporte, incipientes núcleos de mineração, ou tendo origem nos "patri-
mônios" doados pelos proprietários de terra para sua urbanização, mas adquiriram 1940 7.180.316 - 3.168.111 - 4.012.205 -
1950 9.134.423 27,2 4.804.211 51,6 4.330.212 7,9
foros de cidade com a chegada do café. Continua a prevalecer o traçado retilíneo
1960 12.974.699 42,0 8.149.979 69,2 4.824.720 11,4
ortogonal, quase sempre do tipo "tabuleiro de xadrez" com sua rua principal par- 1970 17.958.693 38,4 14.432.244 77,2 3.526.449 6,2
tindo da estação ferroviária, com uma praça (geralmente, uma quadra) contendo a
igreja matriz, ostentando, porém, uma arquitetura mais moderna, cosmopolita, e * Incrementos populacionais em %.
mais e melhores equipamentos urbanos (iluminação das vias publicas, bondes, sanea-
mento básico e pavimentação). +Pressionados pelos' problemas urbanos os a~nistradores principiaram a en-
carar o planejamento como um meio de resolvê-Ios.

.-, c) Ciclo da industrialização A rigor, o planejamento urbano iniciou-se com o plano de Brasílía." É sem
duvida, o primeiro plano urbanístico elaborado em bases científicas, representando
'Áté 1930 'as condições socioeconômicas do Brasil não são favoráveis à indus- uma síntese intuitiva, porém, genial, das teorias racionalistas e empiristas, conhe-
trialização. Apenas durante a 1~ Grande Guerra (1914-1918), dadas as dificuldades cidas à época do projeto, representada por uma trama linear modificada. Após
de importação, desenvolve-se no Brasil (São Paulo, principalmente) uma pequena Brasflia, muitos escritórios especializados em planejamento regional e urbano sur-
indústria de substituição de bens ímportados.> giram no País e centenas de planos de renovação e extensão urbanas foram elabo-
rados, bem como planos de distritos ou cidades industriais e de grandes conjuntos
Depois com o cracking mundial de 1929 que aqui repercutiu intensamente
residenciais.
abalando a economia cafeeira, o tenentismo burguês de nossas forças armadas im-
planta a Revolução de 30, derrubando o feudalismo agrário do poder e dando --Antes de Brasília, o único plano sério conhecido é o da Cidade dos Motores
autenticidade à república brasileira.No Brasil, a burguesia só assume o poder depois feito por J. L. SERT, que não foi implan\ado.'-
da revolução de 30. Com essa revolução, através de uma legislação protecionista e. Só mesmo, eufemístícamente, pode-se considerar como' planejamento urbano
trabalhista, a indústria incipiente pôde desenvolver-se. É o marco zero de nossa o processo de trabalho que levou alguns técnicos a elaborarem os "planos" de Belo
revolução industrial. Horizonte (engenheiro AARÃO REIS), Qgiânia.{AIÍLIO CORREIA LIMA-e-irmã.Qs.
De passagem, seja lembrado que o ciclo do café preparou os caminhos para o COIMBRA BUENQ), Aracajú (engenheiro SEBASTIÃO PIRRO), Teresina, Ara-
surgimento da industrialização. A "fazenda" de café difere, substancialmente, do garças, Fortaleza (arquiteto português SILVA PAULET), Piracicaba, Londrina e de
"engenho" de açücar. O "engenho" é auto-suficiente, ruralista e aristocrata. A "fa- outras cidades brasileiras. Na melhor das hipóteses, são simples traçados urbanos
zenda" é uma forma de exploração capitalista do solo, dependente da comerciali- convencionais, sem regulamentação de zoneamento, sem hierarquização de vias e
zação urbana e quase burguesa. HANDELMANN, numa intuição certeira, chamou sobretudo sem a implementação necessária e indispensável ao prosseguimento do
ao cafeeiro de "planta democrática". Além do mais, .tendo os colonos origem processo de planejamento. Isto, sem falar nos aspectos sociais e econômicos, não
urbana, em sua maciça totalidade, contribuíram parao desenvolvimento da pequena considerados no processo. Eram planos para a época em que foram elaborados: só
indústria, principalmente, da agroindústria. dentro dessa relatividade de tempo podem ser aceitos como planos. Em verdade,

""\
"* // A cidade derrotou o campo, em termos de predomínio político e econômico
a partir de 1930, acentuando-se a urbanização do país':A correlação entre industria-
não passavam de "riscos" de cidades ...

lização e urbanização fez com que as regiões mais industrializadas (São Paulo, Rio 24 A idéia de situar a capital do país em seu interior, longe do litoral, é bem antiga.
de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul) sofressem um aumento demográfico VELOSO DE OLIVEIRA, em 1810, aconselhara a D. JOÃO VI: "Que a Corte não se fixe
superior às demais regiões e com que suas cidades crescessem mais que as outras. em algum porto marítimo... principalmente se ele for grande e em boas proporções para
o comércio, mas em lugar são, ameno, aprazível, isento do tropel das gentes indistinta-
A urbanização mais se acentuou após a 2~ Grande Guerra quando a industrialização
mente acumuladas". Em 1823, JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA, o Patriarca,
adquiriu novo e vigoroso impulso. não só sugerira a mudança da capital para o planalto central corno dera-lhe o nome: Brasflia.
Vejam-se os incrementos populacionais do Estado de São Paulo nas três últi- Foi no governo de J. KUBITSCHECK que a mudança da capital foi autorizada pela lei
n'? 2874 de 1.9 de setembro de 1956.
mas décadas (Tabela 10.5).
270 Célson Ferrari Urbanismo 271

Figura 10.22 - Plano de Belo Horizonte.

5. A cidade do futuro (ficção e ciência)

7- ARTURO SORIA Y MATA, criador genial da cidade linear, dizia que os


males contemporâneos derivam das formas das cidades.\
Alguns urbanistas de tendências marxistas diziam que como a forma da
cidade é resultado da forma de produção capitalista (que exige grande concentração
dos fatores de produção e se baseia na propriedade privada do solo), o correto seria
abolir a causa desses males: o sistema capitalista. A solução preconizada por alguns,
seria a desurbanização. Mas qualquer economia, socialista ou capitalista, necessita
da cidade para o seu desenvolvimento pelas economias de escala que gera.
Outros acusam especificamente, a propriedade privada do solo urbano, como
causa de todo o caos urbano. ·'Assim é que WRIGHT MILLS, em 1959 escreveu:
"Não são acaso, a ganância capitalista e a acumulação de capital o denominador
comum de toda essa "ordem"? Não são característicos de nosso meio os interesses
privados imobiliários e a publicidade desabrida? Para eles, nossas cidades não são
desordenadas: ao contrário, acham-nas tão ordenadas como os arquivos de seus
títulos de propriedade" (Miséria de Ia ideologia urbanistica, F. RAMÓN, p. 143.)
Diante disso tudo, surge a questão fundamental: Pode-se mudar a cidade sem
se mudar o regime econômico que lhe deu origem? Figura 10.23 - Plano de Brasília.
r
272 Célson Ferrari Urbanismo 273

__ A nosso ver, a cidade contemporânea, filha, sem dúvida alguma, originalmente Há propostas ainda para as "cidades-torres". RINO LEVI, concorrendo ao
da forma de produção capitalista, é uma conquista de nossa civilização comum, Concurso de Brasília, em 1957, apresentou audacioso plano que era "um esquema
capitalista ou socialista, desejosa de desenvolvimento econôm~co, desejos~ de c~n- aberto, uma imagem de cidade otimista, inédita, um marco da utopia do século XX
sumir cada vez mais o supérfluo, amante do conforto matenal, etc. Sena preciso fincado no deserto", no dizer elegante de BRUNO ZEVI. Eram quatro edifícios,
retomar a uma civilização agrária, negar o progresso, para mudar a cidade? com rede viária elevada, de 300 m de altura, que .atordoaram o júri e o levaram a
Algumas tentativas de solução para os males da cidade: Unwin, o planejador inquinar a concepção de mecanicista e inexeqüível.
das duas cidades jardins inglesas (LETCHWORT e WELWYN) disse, ante a Comissão ~ Outros tentam tornar a vida urbana possível nos desertos, através de um
Barlow .em 1939: "A nacionalização do solo seria a solução mais completa do pro- sistema de água e esgotos interligados, sem perda dos dejetos c1oacais. \)-
blema": referindo-se ao problema da distribuição da população industrial na Grã-
Muitos urbanistas pesquisam a possibilidade de se construírem cidades
-Bretanha. segundo grandes, sistemas estruturais, lançando as bases do urbanismo espacial.
O gráfico abaixo] mostra, esquematicamente, corno a propriedade pri:~da do Kenzo Tange formulou uma solução espacial para Tóquio. Yona Friedmann fez
solo trabalha contra a prosperidade, consumindo parte dos lucros das atividades tentativa semelhante para Paris.
produtivas e da cidade: Estuda-se também a utilização de uma trama linear em vários níveis, que
Unwin, diz que se a propriedade privada deixasse de existir sobraria 'para foi, parcialmente, utilizada em Hook, cidade nova inglesa, por exemplo.
investimentos e para o governo local toda a renda que lhe é destinada. Outros estudos visam a construção de cidades prefabricadas, desmontáveis,
, KROPOTKlN e BORSODI (Russos) - propõem acabar com as cidades, utilizando-se da tecnologia do perecível.
fazendo do país inteiro, uma cidade. Suas teorias são consideradas desviacionistas, e Estaria a solução em ,se retomar aos sistemas utópicos, produzindo cidades
as vantagens da vida urbana são inegáveis para serem simplesmente repelidas. ideais, no esquema racionalista empirista, organicista, etc., como o fizeram:
A solução mais correta virá, por certo, de pesquisas de novas formas de vida LÚCIO COSTA, LE CORBUSIER, F. L. WRIGHT, GROPIUS, HILBERSEIMER,
urbana. NIEMEYER, e muitos outros?
Existem instituições que estão estudando novas formas de cidade: Na França, Para finalizar este capítulo, eis algumas idéias que, por certo, estarão pre-
estudam-se cidades subterrâneas, para o caso de uma guerra atômica; Detroit sentes na cidade do futuro:
Edison Company, iniciou estudos sobre o futuro da região urbana de Detroit;
a) Verticalidade ordenada do crescimento urbano. As cidades grandes deverão
outros urbanistas estudam cidades submarinas ou flutuantes, como os ingleses e
crescer em sentido vertical, por meio de edifícios-bairros, edifícios-torres, orde-
japoneses.
nados na paisagem urbana com a finalidade de se conseguir: altas densidades
PROPRIEDADE demográficas, ,descongestionamentos, áreas verdes e recreativas em abundância,
etc.
PRIVADA
b) A Cibernética deverá ser colocada a serviço da vida urbana, na automação
/
dos transportes coletivos, no controle automático dos serviços públicos em geral,
etc. (2~ Revolução Industrial - mecanização do trabalho mental.)
c) Novos meios de transportes urbanos que deverão afastar-se da superfície
do solo (subterrâneo, aéreo ou elevado).
d) Abolição, talvez, da rua, por desnecessária.

e) Abolição da propriedade privada do solo urbano."

25 O solo das "New Towns" é de propriedade da Development Corporation do Min. da


Habitação, bem como a grande maioria dos imóveis, De acordo com o decreto-lei nÇl 271
Figura 10.24 - Esquema do funcionamento da economia urbana. de 28/2/1967 em seu artigo 79 (cap. 14.5) no Brasil já se pode abolir os inconvenientes da
274 Célson Ferrari Urbanismo 275

") f) O "funcionalismo" deve sobrepor-se a to~o "formalisrno" 2~a máquina que os planos urbanos sejam abertos, flexíveis, de modo a permitirem o maior
cidade. Sempre que se buscou a cidade-arte, a urbanidade foi aviltada. grau de liberdade possível na adaptação do planejado às novas situações emergentes.
Por exemplo, em vez de se definir previamente todas as funções urbanas futuras
g) Finalmente, o aproveitamento das oportunidades oferecidas pela tecno-
de uma cidade é mais lógico dar-lhe as melhores condições e organizá-Ia para seu
l~a do perecível. Sempre se procura nas edificações, o imperecíve~. Queren.do .usar
desenvolvimento "deixando a cada cidade a possibilidade de encontrar seu estilo
tudo aquilo que tenha duração muito grande, às vezes buscam-se mcongruencias e
particular", conforme afirmou GEORGES CANDILIS ao se referir ao projeto de
desvantagens, como estas: pontes que afunilam estradas, made~quadas aos nossos
fluxos de trânsito' unidades habitacionais obsoletas tanto sob o aspecto dos ma- uma nova cidade de 100.000 habitantes. Isto não significa um retorno ao "laissez-
-faire", já que a necessidade de planejamento é hoje indiscútivel e verdade corri:
teriaisquanto fun;ionalmente; edifícios públicos inadequados à~ novas funções: etc.
Como a demolição e reconstrução de tais obras custam muito dinheiro, vao se queira aceita até por leigos. A um dogmatismo rígido de escolas urbanísticas,
cada uma com seus preceitos sagrados e intocáveis, oponha-se a riqueza de um
eternizando em prejuízo da comunidade. Dever-se-á construir tudo, pensando na
planejamento flexível que permita um relacionamento social espontâneo e livre
sua pronta e rápida substituição. Um material que dure de 15 a 20. ~nos, pode
e uma superposição natural das funções urbanas.
ser desmontável, ou demolido facilmente. Muitos autores, portanto, ja defendem
tais idéiás e lutam pela implantação da tecnologia do perecível. Todavia', o enve- Sobre a cidade do futuro há que se dizer ainda uma palavra final: o urbanismo
(urbe-cidade) tende para o orbanismo (orbe-mundo) porque em futuro não muito
lhecimento planejado objetivando o crescimento da demanda, imperante na pro-
fitópolis - a cidade do lucro - deve ser evitado a tudo custo.
1 remoto, o antagonismo entre cidade e campo terá desaparecido pará dar lugar
a um mundo totalmente urbanizado.
Diante do exposto e já que a busca de formas estruturais ótimas pa~a n~s~as
cidades não chegou ainda a termo satisfatório, é prudente e até mesmo científico Há uma derradeira perspectiva para que tal não suceda: o despovoamento
da terra pelo emprego maciço das armas atuais de destruição. Os sobreviventes
por certo escolherão outros caminhos para seu desenvolvimento, já que o nosso
provou ser autodestrutivo. Todavia, se optarem novamente pela urbanização do
mundo, após a catástrofe, diremos, repetindo FERNANDO RÂMON: "Daqui eu
os saúdo e lhes desejo mais sorte do que a que tivemos" (Miséria de Ia ideologia
urbanistica, p. 161).,

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a intuição artística, não podem ser desprezadas no planejamento urbano. Intuição e raciona-
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