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Olá pessoal!
Introdução
Imagine que você pegou uma receita ótima na internet de esmalte e quer testar no
seu ateliê mas como foi tirada de um site americano possui um ingrediente difícil de achar
no Brasil.
Eu uso o programa GlazeMaster, de John Hasselberth e estou muito feliz com ele.
Lá eu posso fazer alterações comparando a composição original de materiais e esmaltes
enquanto trabalho com o outro.
Eis uma tela do programa com a Nefelina Sienito e a Albita nas escolhas de
materiais para comparação. Note como há diferença na composição analítica.
Sem Título
A partir daí, abrimos a opção de trabalhar com um esmalte na parte esquerda e
usamos a receita original do lado direito da tela. Para substituir a nefelina sienito eu
escolho um pouco de albita, feldspato potássico, dolomita (que dá o magnésio) e o
carbonato de cálcio (whiting – que dá o cálcio). Eu vou adicionando ou diminuindo a
quantia de cada um até que as proporções da formula de Seger sejam semelhantes (campo
Unity). Vejam como fica:
2.png
Vemos acima como fica o resultado. Percebam como nas linhas dos fundentes
(Alkalis), as proporções estão bem similares. O problema é que tem sílica (SiO2) e
alumina (Al2O3) demais na substituição. Eu resolvo isso diminuindo a quantidade de
sílica que eventualmente terá na formula do esmalte. Para diminuir o teor de alunina,
baixando a quantidade de caulim ou ball clay certamente terão um efeito positivo.
Conclusão
Embora seja difícil ter certeza da composição química das matérias-primas, creio
ser possível substituir ingredientes dando uma aproximação mais científica nas pesquisas
usando um software para cálculo de esmaltes. Embora essa abordagem seja puramente
teórica, creio ser possível ter resultados parecidos no seu ateliê aos vistos nos lugares de
onde surgiram as receitas dessa maneira.
Notem que embora o feldspato, companheiro usual das cinzas na criação dos
esmaltes, não tenha apresentado fusão, a albita, que é um feldspato com abundância de
sódio, obteve um bom resultado.
Albita x Cinzas
O próximo passo foi compor uma tabela de proporções ascendentes de descendentes
de albita e cinzas.
Albita 80% 70% 60% 50%
folhas de palmeiras
As folhas secas caídas são apanhadas no quintal do ateliê e eu as queimo em uma
churrasqueira. O fogo é lento para que todo o carvão se transforme em cinzas.
O Resultado
Depois de decidir na proporção, eu fiz duas aplicações diferentes em várias peças.
Uma foi por pulverização e outra, por mergulho.
Esse foi o resultado da aplicação por mergulho:
O resultado feito com a aplicação do pulverizador foi o resultado que achei mais
interessante. A peça apresentou um tom amarelado onde o esmalte ficou mais fino e tons
azulados onde ficou mais grosso.
Fazer esmaltes de cinzas para cone 6 não é só possível como dá resultados muito
surpreendentes. Ainda estou no início do processo de pesquisa mas já consigo ter
resultados muito satisfatórios.
Até o próximo post!
Teoria dos Esmaltes Cerâmicos – Parte I
Introdução
Olá pessoal! Estive um pouco sumido do blog mas agora eu gostaria de apresentar
um assunto muito importante para nós ceramistas: o esmalte cerâmico.
É um tema um tanto técnico e extenso então vou dividir esse assunto em vários
posts para não ficar muito cansativo. Quanto à questão técnica, vou manter o texto bem
fácil de ser entendido para qualquer leitor que tenha uma noção básica de química.
Definição
Esmalte é uma camada vítrea que aderida à argila por meio de queima, impede que
a peça como todo se suje, além de dar beleza.
Hoje em dia, definimos que um esmalte cumpre sua função quando os seus três
componentes principais: formador de vidro, fundente e estabilizador trabalham em
conjunto para criar uma camada atraente, de acordo com o propósito de seu criador.
Composição
O principal componente do esmalte é o formador de vidro, sendo que os outros
(fundente e estabilizador) funcionam como coadjuvantes. Isso porque o formador de vidro
é composto principalmente pela sílica (óxido de silício). Esse elemento, pelo seu ponto
de fusão ser muito alto (1.710º C), requer uma queima muito alta e dispendiosa. Então,
descobriu-se que adicionando os fundentes, o derretimento é realizado a uma temperatura
substancialmente mais baixa.
O problema dessa mistura de formador de vidro e fundente é que o esmalte escorre
muito facilmente durante a queima. Ainda mais que a maioria das peças cerâmicas têm
paredes verticais e a tendência do esmalte escorrer por gravidade é maior. Então, entra
em cena o estabilizador: ele tem a função de frear o escorrimento do esmalte, aumentando
sua viscosidade.
John Britt usa uma analogia com o carro para descrever esses três elementos. O
formador de vidro seria o carro em si, seu elemento principal. O fundente seria o
acelerador e o estabilizador, o freio. Já os chineses faziam uma analogia dos componentes
do esmalte com os ossos, a carne e o sangue do nosso corpo. O conteúdo de sílica
(formador de vidro) age como uma estrutura, nossos ossos. Já o estabilizador é a carne,
que confere o corpo ao esmalte e os fundentes fazem derreter, assemelhando-se ao sangue.
É importantíssimo lembrar da composição básica explicada acima e a função de
cada componente pois tudo o que se seguirá no estudo dos esmaltes baseia-se
nisso. Talvez seja útil guardar mentalmente uma analogia que lhe for mais fácil de
assimilar para que esse conceito fique bem gravado.
Quanto aos elementos químicos mais comuns usados nos componentes, temos:
formadores de vidro: a sílica, o boro e o pentóxido de fósforo;
fundentes: elementos alcalinos metálicos (óxido de lítio, óxido de sódio, óxido de
potássio), alcalinos terrosos (óxido de magnésio, óxido de cálcio, óxido de bário)
e óxidos metálicos, que reagem com a sílica na queima e formam silicatos, como
o óxido de zinco, óxido de chumbo, óxido de boro;
estabilizadores: alumina (óxido de alumínio).
Vou explicar mais sobre os elementos químicos usados nos esmaltes no próximo
post. Por hora, vamos pular esse assunto e falar da…
A Origem dos Esmaltes
Alguns autores afirmam que os primeiros esmaltes datam desde antes de 12.000
anos a.C., e são encontrados nas miçangas esmaltadas feitas no Egito antigo. Os egípcios
descobriram que misturando areia ou arenito com sal acontecia uma fusão dos elementos
quando levados ao fogo. Essa técnica ficou conhecida como pasta egípcia (ou faiança
egípcia). Por volta de 3.000 a.C., os egípcios estavam usando esmaltes extensamente em
seus trabalhos. Esses eram esmaltes de cobre alcalinos e eram usados com proficiência
como coberturas decorativas. Mais tarde, no sudoeste asiático, os esmaltes foram usados
para dar força extra e maior durabilidade aos tijolos, ladrilhos que cobriam paredes e
potes. Por volta de 1.500 a.C., os esmaltes já eram usados como camadas à prova d’água,
práticas e higiênicas.
Cerâmicas da Parede dos Quartos Funerários do Rei Djoser, Egito, 2630–2611 a.C.,
Museu Metropolitan de Nova Iorque
O conhecimento de que os sais solúveis se cristalizam sobre a superfície durante a
secagem de suas peças, contribuindo para a formação do esmalte foi usado para
desenvolver esmaltes como engobes (argilas líquidas). Os esmaltes de chumbo foram
usados para evitar dificuldades que surgiram com o uso dos sais solúveis e no século
XVIII, a solubilidade dos fundentes alcalinos foi superada com sucesso pelo uso de fritas.
As fritas cerâmicas são um material básico usado na produção de esmaltes
cerâmicos em queimas de baixas temperaturas. São produzidas a partir de uma mistura
de matérias primas diversas que, quando queimadas, passam por diversas alterações
físico-químicas.
Os esmaltes a base de chumbo também foram usados na China desde pelo menos
os anos 200 a.C. O seu desenvolvimento seguiu paralelamente aos esmaltes bem mais
conhecidos de porcelanas e outras argilas de alta-queima. Os esmaltes de alta-queima
surgiram ao observar que as cinzas vindas da queima à lenha funcionavam como
fundentes na superfície da cerâmica. Passou-se, assim, a utilizar esmaltes de argilas de
alta-queima compostos de cinzas de árvores, argila e feldspatos. Com a melhoria na
construção dos fornos, temperaturas mais altas foram sendo alcançadas e refinados
exemplares eram produzidos já pelo século X.
O manganês e o ferro têm várias valências, por exemplo o óxido vermelho (férrico)
de ferro, Fe2O3, é ácido e refratário mas o óxido preto (ferroso) de ferro é fundente e
alcalino.
Dependendo do tipo de queima, o interior do forno pode ter uma quantidade maior
ou menor de oxigênio. Em ambientes com quantidade suficiente de oxigênio, dizemos
que a queima é por oxidação. Caso contrário, quando há escassez de oxigênio na câmara,
há a redução. O óxido de cobre pode conferir de modo dramático cores diferentes, sendo
verde na oxidação e o vermelho na redução. O mesmo ocorre para o ferro, podendo ser
amarelado em oxidação e verde ou azul em redução.
O ferro como pigmento. A esquerda, em ambiente de oxidação, no meio, ambiente
neutro e a direita, de redução. fonte: Chinese Glazes, Nigel Wood.
Apesar de estar no mesmo grupo, o zinco (Zn) não é tecnicamente de transição pois
seu orbital d está totalmente cheio de elétrons. Ele não é usado como pigmentador mas
como fundente em temperaturas médias. Na próxima fileira dos elementos, está o zircônio
(Zr), usado para opacificar os esmaltes e o cádmio (Cd), usados em pigmentos de esmaltes
amarelos e vermelhos. O molibdênio (Mb) e o tungstênio (W) são usados em esmaltes
cristalinos iridescentes.
Ouro (Au), prata (Ag) e platina (Pt) são usados por ceramistas em pinturas em
cerâmicas.
Lantanídeos (terra rara) e Actinídeos
O elemento cério (Ce), praseodímio (Pr), neodímio (Nd) e érbio (Er) são pouco
usados na cerâmica e quando são têm a função de darem cor aos esmaltes. O praseodímio
é usado com o silicato de zircônio para dar a cor amarela. Seu óxido se funde à 932º C e
é muito tóxico.
Adições de terras raras nos esmaltes, da esquerda para direita: óxido de neodímio,
óxido de érbio e óxido de praseodímio. fonte: https://ceramicartsnetwork.org
Os outros lantanídeos podem das cores fluorescentes mas só quando iluminados por
luz ultravioleta.
Na série dos actinídeos, temos o urânio (U), que foi usado no início do séc. XX
como pigmentador de esmaltes para dar a cor amarelo-clara ou laranja mas foi
abandonado por sua característica radioativa.
Outros Metais
O grupo dos outros metais (ou grupo de metais de pós-transição), tem a aparência
brilhante metálica dos metais de transição mas são metais fracos, sendo mais maleáveis.
O alumínio é muito importante para os ceramistas. É um dos elementos mais
abundantes da crosta terrestre, componente das argilas e usado como estabilizador,
tornando o esmalte mais viscoso. Presente como alumina (óxido de alumínio), que é
anfotérico. Possui uma temperatura de fusão bem alta, 2.050º C.
O estanho (Sn) é usado principalmente como opacificador e foi muito usado como
fundo branco das cerâmicas majólicas.
O óxido de chumbo (PbO) já foi muito usado como fundente de baixas
temperaturas, por ter ponto de fusão baixo. Hoje em dia, por sua toxicidade, vem sendo
substituído por fritas à base de outros elementos (bário, lítio, etc.).
Não metais
No grupo dos não metais está o Boro (B), que é tanto fundente como formador de
vidro. O silício (Si) é um elemento importantíssimo para os esmaltes pois ele é o
principal formador de vidro. A sílica, que é seu óxido, é a base de quase todos os minerais.
Como escrito na parte 1 deste post, seu ponto de fusão é alto mas ao lado de fundentes, o
ponto de fusão da mistura abaixa, formando o que chamamos na química de mistura
eutética (explico no próximo post sobre isso). A sílica é um óxido ácido, que reage com
metais fundentes alcalinos.
O carbono (C) é o coadjuvante em muitas moléculas usadas pelos ceramistas. E seu
formato carbonato (óxido de carbono), ele se combina com diversos elementos alcalinos
e metais de transição. Ao ser levado ao forno, ele se volatiliza em gás carbônico (CO2)
liberando gases na formação do esmalte.
O fósforo (P) é usado como fundente e opacificador em cerâmicas de alta queima.
Também nesse grupo está o oxigênio (O), que é muito reativo e presente na maioria dos
elementos usados pelos esmaltes tanto na forma de óxidos ou carbonatos.
O selênio (Se) é usado como pigmento laranja e vermelho nos esmaltes.
Semana que vem, vou escrever mais sobre as características químicas dos
elementos dos esmaltes, as reações entre eles durante a queima e a fórmula molecular
unificada.
Até lá!
Fontes:
Bloomfield, Lisa. Chemistry for Potters. Ceramics Monthly, Fev. 2016.
Fernandes, Tácito. Teoria de prática de
esmaltes. https://www.facebook.com/notes/t%C3%A1cito-fernandes/teoria-de-
pr%C3%A1tica-de-esmaltes/2247493835871/
Britt, John.The Complete Guide to Mid-Range Glazes. Ed. Lark, NY.
Hamer, Frank e Janet. The Potter’s Dictionary: of Materials and Techniques.
Sexta edição. Ed. Bloomsbury.
Teoria dos Esmaltes – Parte III
Olá pessoal! Seguindo os posts dedicados aos esmaltes, esta semana eu vou escrever
sobre as características físico-química dos esmaltes e explicar como calcular a fórmula
de unidade molecular de Seger.
A Natureza dos Vidros
Estudamos que o esmalte é composto principalmente pelo formador de vidro. Ele é
que dá a característica impermeável e lisa que encontramos na superfície cerâmica. Os
vidros são elementos únicos que não são nem líquidos ou sólidos. São elementos
conhecidos por estarem em um estado chamado amorfo.
Sólidos são estruturas altamente organizadas. Neles estão os cristais, como o sal,
com seu milhões de átomos alinhados. Sua estrutura é previsível. Os vidros não possuem
essa organização mas também não são tão desorganizados quanto um líquido.
Abaixo podemos comparar a disposição molecular do óxido de silício em seu estado
cristalino (esquerda) e seu estado vítreo (direita).
Nefelina Sienito 40
Carbonato de Cálcio 20
Sílica (Quartzo) 30
Caulim 10
Total 100
Primeiro passo é pegar o massa molecular para os principais óxidos (na wikipedia
tem esses dados).
Si02 Al2O3 Na2O K2O MgO CaO F
5º passo: dividir os moles de cada óxido pela soma dos moles dos fundentes.
Temos o resultado final, representado pela última linha de cálculo. O que fizemos
foi pegar cada óxido por representação de quantidade molecular e colocar cada um deles
em relação aos fundentes. Assim, criou-se um padrão sendo a soma dos fundentes sua
unidade. Com isso, podemos analizar os esmaltes de maneira muito mais completa, só
olhando sua fórmula de Seger!
No próximo post, vocês vão saber como usar esse conhecimento para predizer o
comportamento dos esmaltes.
Até lá!
Fontes:
https://www.scientificamerican.com/article/fact-fiction-glass-liquid/. Scientific
American.
digitalfire.com. Digital Fire.
Bezerra Brandão, Bráulio. Curso de Engenharia Mecânica.
http://www.ebah.com.br/
Donald Sadoway, 3.091SC Introduction to Solid State Chemistry, Fall 2010 (MIT
Courseware). http://ocw.mit.edu (acessado em 7/8/2018). Licença Creative
Commons Attribution-Noncommercial-Share Alike.
How to Calculate the Unity Molecular Formula. Ceramics Material Workshop.
http://www.youtube.com/watch?v=HyLjAg1_8_4 (acessado em 8/8/2018).
Youtube.
Teoria dos Esmaltes – Parte IV
Olá amigos e amigas! Este é o último post da série sobre a teoria dos esmaltes. Vou
escrever hoje sobre como identificar um bom esmalte com a base teórica que tivemos até
agora.
Com o conhecimento teórico, os ceramistas deixaram de confiar somente na
experiência e puderam identificar possíveis falhas nos esmaltes antes mesmo de testá-las
no forno. Isso ajudou muito, economizando muito tempo e dinheiro. O estudo dos
esmaltes deixou de ser um trabalho empírico tornando-se uma ciência. É claro que a
prática é imprescindível para o emprego de esmaltes: a correta aplicação, o controle da
queima, tudo se soma para termos boas queimas no final. O domínio teórico é só uma
ferramenta que contribuiu para resultados positivos.
Escrevi no último post que a fórmula da unidade molecular de Seger permitiu um
conhecimento mais profundo do comportamento de um dado esmalte. Vamos ver agora
quais são os parâmetros usados para caracterizar um bom esmalte. Vale salientar que
esses parâmetros são usados para cerâmicas utilitárias. É possível que esmaltes que
estejam fora dessas regras ainda possam ser usados em outros tipos de cerâmicas por
serem interessantes esteticamente.
Regras para um bom esmalte
1 – Deve ter sílica suficiente
Sílica é a espinha dorsal de um esmalte e o principal formador de vidro. Sem sílica
suficiente, não se pode fazer um bom esmalte.
2 – Deve ter alumina suficiente
Ceramistas acreditavam que para se ter um bom esmalte deveríamos ter uma
quantidade mínima de alumina no esmalte. Entretanto, podemos ter até bastante alumina
se a proporção de fundentes mais o boro compensar essa adição.
3 – O esmalte deve derreter-se completamente
Parece óbvio mas muitos esmaltes que aparentam serem foscos ou semi-foscos são
assim porque não foram completamente derretidos. Fazer esmaltes sem o derretimento
completo faz com que eles apresentem uma série de problemas nas cerâmicas funcionais.
Acompanhe a queima e use sempre cones pirométricos para assegurar que suas peças
atingiram a temperatura correta para a formação de seus esmaltes. Além disso, use
receitas adequadas para a temperatura que o seu forno irá queimar.
4 – Use níveis moderados de pigmentos e opacificantes
Depois de um certo limite, mesmo em um ótimo esmalte esses elementos
conseguem vazar da rede vítrea e contaminar a comida ou bebida que fica em contato
com o esmalte. Alguns desses elementos são tóxicos e embora a quantidade que vaza é
pequena, lembremos que essas peças são de uso diário, então é sempre bom ficar de olho.
Abaixo está o nível máximo recomendado por % de esmalte base
Carbonato de Cobre 4,0%
fonte: http://www.lakesidepottery.com/
Em cerâmicas funcionais esse efeito não é desejável. O que se deve fazer nesse caso
é achar no esmalte um coeficiente de expansão térmica compatível com a argila utilizada.
É, assim, um problema a ser resolvido individualmente, dependendo da argila utilizada.
Porém alguns cuidados gerais são úteis:
1. Não aplique uma camada muito grossa de esmalte
2. Peças grandes apresentam maiores problemas em relação a interação esmalte/
argila
3. Confira se os níveis de alumina e sílica do seu esmalte estão nos níveis aceitáveis
(veja em gráfico de Stull)
Alguns laboratórios especializados possuem aparelhos chamados dilatômetros, que
calculam precisamente o coeficiente de expansão térmico da argila. Sabendo disso, o
trabalho de ajuste fica bem mais fácil. Para nós, ceramistas artesanais, nos restam os
testes. Quase todos os programas de cálculo de esmaltes que existem hoje em dia
fornecem cálculos de coeficientes de expansão. Troque os elementos para adequar seu
esmalte obedecendo o seguinte raciocínio:
Se o seu esmalte apresenta craquelamento, diminua o coeficiente de expansão
térmica do esmalte.
Se ele estiver soltando, aumente o coeficiente de expansão térmica.
Segue a tabela de English e Turner de coeficiente de expansão para os principais
óxidos que pode ser útil nesse processo. Vejam que o sódio e potássio possuem alto
coeficiente de expansão térmica. Seu uso exagerado pode causar craquelamento. Ao
contrário, elementos como o lítio e o magnésio podem ajudar a diminuir esse problema.
Óxido Coeficiente (x10-6/ºC)
BaO 14,0
CaO 16,3
MnO2 5,7
Li2O 7,45
MgO 4,5
K2O 39,0
Na2O 41,6
ZnO 7,0
Fe2O3 10,4
TiO2 10,6
B2O3 -6,53
Al2O3 1,4
SiO2 0,5
PbO 10,6
P2O5 7,45
SnO2 3,65
ZrO2 2,3
SrO 13,5
O Gráfico de Stull
Em 1912, um pesquisador chamado R. T. Stull criou um gráfico na tentativa de criar
uma forma de visualizar graficamente o comportamento dos esmaltes em relação à
variações de alumina e sílica.
Para fazer o gráfico, a quantidade de fundentes foi fixada em 0,3 moles de sódio e
0,7 moles de cálcio (R2O:RO de 0,3:0,7). Todos os testes foram queimados no cone 11.
Para a linha de esmaltes principais, Stull delimitou por retas que passam pelos
pontos I, P, R e L. Para o limites entre os tipos de esmaltes, ele criou as seguintes retas:
M – J – não fundidos – foscos
N – U – foscos – semi-foscos
N – K – semi-foscos – brilhantes
Q – T – brilhantes
O – S- brilhantes – não envidraçados (sub queimados)
A área hachurada estão os esmaltes que apresentaram craquelamento.
Podemos ver que, mantendo os fundentes constantes, a qualidade do esmalte de ser
brilhante, fosco, craquelado ou sub queimado é determinada pelo nível de sílica e
alumínio e suas proporções. Stull previu que os esmaltes serão foscos se a proporção de
de sílica para alumina for 5:1 ou menor. Aumentando essa relação, o esmalte torna-se
brilhante.
Ele também viu que os esmaltes serão sub queimados com a relação de sílica para
alumina acima de 12:1.
Ele previu também peças craqueladas, mostrado pela área hachurada. Essa área
apresenta níveis baixos tanto de alumina quanto de sílica.
Esse gráfico é muito preciso em relação aos resultados e usado até hoje, inclusive
em outras temperaturas de queima. McLeod fez um trabalho reproduzindo esse
experimento em queimas no cone 6. Para isso, adicionou 0,15 moles de Boro para poder
compensar a diminuição de temperatura e os resultados foram quase idênticos.
Em sites como Glazy.org, todos os esmaltes de sua base de dados são inseridos no
gráfico de Stull.
Conclusão
A interação entre os elementos do esmalte durante a queima é intrincado e
misterioso para muitos. Muitas das mudanças que ocorrem durante a queima não estão
sob o controle do ceramista. Nosso maior desafio é tentar dominar os materiais da terra,
incluindo o casamento entre a argila e o esmalte, que é o nosso produto final. É claro que
o nosso trabalho tem certas doses de incertezas mas armados com o entendimento dos
princípios que transformam os elementos em esmaltes, podemos evoluir nessa arte mais
rapidamente.
Fontes:
McLeod, Sue. Understanding cone 6 Nceca presentation. 2018.
Site Glazy.org. http://help.glazy.org/concepts/limits/#glaze-limit-formulas
Katz, Matt. Boron in Glazes. Ceramic Network.
https://ceramicartsnetwork.org/wp-
content/uploads/2008/10/TF_BoroninGlazes_0912.pdf
Hesselberth, John. Roy, Ron. Mastering Cone 6 Glazes. Ed. iBook.
Esmaltes de Cinzas
Através do calor do forno que queima a cerâmica, grande parte dos materiais entram
em combustão ou se fundem. Dentre esses elementos, as cinzas vegetais são um dos
componentes mais tradicionais. Elas são usadas como ingredientes de esmaltes e
são muito populares entre os ceramistas do extremo oriente. Esmaltes antológicos como
celadon, chun, tenmoku… Na verdade, é difícil nomear um esmalte oriental que não
utiliza (ou pelo menos utilizou em sua formulação original) a cinza.
As cinzas vegetais podem variar em sua composição dependendo do tipo de planta, sua
idade ou até mesmo se o espécime está sadio ou doente. As monocotiledôneas (como a
grama e o arroz) são mais ricas em silício, material refratário e formador de vidro. Já as
dicotiledôneas contém cálcio e magnésio, dois elementos fundentes.
Como todos sabem, para se preparar as cinzas é necessário queimar o material
vegetal. Porém, somente cerca de 1% da massa vegetal torna-se cinzas. Isso porque boa
parte é transformada em calor nas chamas das fogueiras. A parte que não é combustível,
como os minerais básicos, permanecem como cinzas. Esses minerais são o resultado da
absorção de elementos inorgânicos necessários para a vida da planta. As cinzas são, por
assim dizer, um extrato dos elementos primordiais oferecidos pelo solo.
Para utilizar as cinzas como esmalte é desejável que o forno atinja, pelo menos, cone 10
(cerca de 1.300º C). Para as cinzas de arroz que, como disse, são mais ricas em silício, as
temperaturas devem ser superiores à isso. Além disso, a queima por redução é a que mais
se adequa aos esmaltes de cinzas.
O Preparo
O preparo não é complexo mas é trabalhoso. Você pode queimar a madeira em uma
churrasqueira, se quiser. Mas raspe o interior dela e limpe bem para que restos de
ferrugem não contaminem as cinzas com o ferro. Também é bom queimar um tipo
somente de madeira. Isso porque se você quiser repetir a receita, terá mais chances de
resultados parecidos na próxima vez que for fazer. A queima deve ser lenta para assegurar
combustão completa do material. Isso pode demorar de dois à três dias.A queimada
madeira
Depois de completamente queimado, você deverá separar as cinzas dos pedaços de
carvão e outras impurezas. Use uma peneira de malha 80 e coe o material. Atenção: as
cinzas possuem substâncias muito cáusticas que podem entrar no aparelho respiratório e
causar sérias irritações. Use uma máscara e luvas durante esse processo!
Após a coagem das cinzas, você terá duas opções: poderá lavar ou utlizá-las do jeito que
estão como ingredientes de um esmalte. As vantagens da lavagem é que você consegue
retirar os elementos solúveis que fazem com que o esmalte escorra muito. Para isso,
coloque as cinzas em um balde e encha de água. Misture bem. No dia seguinte, descarte
a água e as impurezas que estiverem na tona. As cinzas deverão estar depositadas no
fundo. Repita esse processo por 4 ou 5 vezes até que a água descartada esteja clara. Após
isso, deixe a cinza secar em uma placa de gesso e guarde para o uso no esmalte.
Composição
Agora, resta fazer os testes para ver como as cinzas que você produziu vão ficar depois
de queimadas.
Seguem as sugestões de receitas para os testes do livro de Brian Sutherland, Glazes from
Natural Sources:
Teste 1:
Feldspato 50% 60% 70% 80%