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os jovens são o futuro do Brasil?1
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mente aqueles que vivem do trabalho2 e, particu- de mostra-se atemorizante. Concentra-se nessa re-
larmente, a população jovem. gião do país 31,9% dos jovens, cerca de 10,9 mi-
Ao nos referirmos à questão do emprego de lhões. É no Nordeste também que se encontra a
jovens, a acelerada globalização do mundo e os pior taxa de remuneração dos jovens de todo o
avanços tecnológicos oferecem novas oportunida- Brasil: 94,1% ganham até meio salário mínimo.
des de trabalho produtivo. Entretanto, para mui- Apenas 21,2% dos jovens de 15 a 19 anos da região
tos jovens, essas tendências apenas ampliam sua estão matriculados no ensino médio (Lassance, 2005).
vulnerabilidade. Estima-se que, mundialmente, Se observarmos os dados da PED 2006, notaremos
uma em cada cinco pessoas com idade entre quin- que a maioria dos jovens ocupados não consegue
ze e vinte e quatro anos está desempregada, ou conciliar a formação escolar e a profissional.3
seja, 88 milhões de jovens, que representam mais É nesse panorama que a demanda por mão-
de 40% do total de desempregados. Desses, 85% de-obra mais escolarizada e mais qualificada tem se
encontra-se em países ditos “em desenvolvimen- colocado como uma das exigências da economia
to”. E as perspectivas de melhoria não são anima- mundial e, desde a década de 1980, esse processo
doras, diante do prognóstico que aponta para a se faz acompanhar pela intensiva eliminação de
entrada de 660 milhões de jovens no mercado de postos de trabalho. Outros fatores considerados
trabalho nos próximos dez anos. A dúvida que se pelos estudiosos, como a redução do papel do Es-
coloca é se haverá oportunidades de emprego sufi- tado nas áreas sociais (a educação é um exemplo), a
cientes para essa força de trabalho e se os empre- reestruturação do trabalho, o desemprego estrutu-
gos seriam regulares considerando que cerca de ral e o aumento do emprego informal vieram afetar
93% dos empregos disponíveis para esse grupo dramaticamente a juventude dos setores mais em-
populacional caracteriza-se pela vinculação à eco- pobrecidos da sociedade. Certamente, os reflexos
nomia informal e baixa remuneração (OIT, 2005). produzidos a partir da articulação desses fatores
A Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), mostram-se mais perversos nos países de econo-
realizada pelo Departamento Intersindical de Esta- mia periférica, tal como é o caso do Brasil.
tística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) em O problema é complexo e suscita diferentes
2006, no Distrito Federal e em cinco regiões metro- possibilidades de análise em que se entrecruzam
politanas - São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizon- desigualdade social, origem de classe e discrimi-
te, Recife e Salvador –, registrou a existência de nação étnica.
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6,5 milhões de jovens entre dezesseis e vinte e À luz dessas considerações, a educação é
quatro anos. Foram identificados 3,2 milhões de fator estratégico na inserção socioprofissional do
desempregados entre a população ativa, sendo, des- jovem, tanto nos países ricos quanto pobres (Delors,
se total, 1,5 milhão de jovens de até vinte e quatro 1996; Escot, 1999). Entretanto, “tensão e
anos. A condição dos jovens era ainda pior em descontinuidade” caracterizam o percurso escolar
Salvador e Recife, com taxas superiores a 40%. da maioria dos jovens das classes desfavorecidas
Esse indicador evidencia as maiores dificuldades (Spósito, 1994). As lacunas no ensino, associadas
enfrentadas pelos jovens nordestinos na busca de a outras no plano dos direitos sociais e políticos
uma oportunidade ocupacional. A expressiva pre- na esfera nacional e local (Salvador), o caráter dual
sença juvenil na força produtiva urbana traz, por- do financiamento da educação (público e priva-
tanto, novos desafios aos que tentam formular so- do), evidenciado no fortalecimento do binômio
luções para o mercado de trabalho nacional. educação pública e baixos padrões de qualidade,
Quando focalizamos o Nordeste, a realida- 3
No Brasil, segundo Pochmann (2006), 34% dos jovens
de 15 a 17 anos estão matriculados no ensino médio,
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para 85% no Chile, na mesma faixa etária. “Os jovens de
Para o aprofundamento das formulações relativas à no- 15 a 24 anos são mais de 34 milhões, e metade não
ção de “classe que vive do trabalho” ver Antunes, 1995 estuda. Dos 17 milhões que estudam, um terço, ou 5,6
e 1999. milhões, está fora da série devida”.
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são alguns dos elementos que contribuem para e, particularmente, como se tecem as representa-
aprofundar as desigualdades na formação profis- ções sobre educação não-formal (ENF) como meio
sional dos jovens dos setores mais pobres da soci- de inserção socioprofissional.
edade (Charlot, 2000; Freire, 2002; Kuenzer, 2000).
Trata-se, ademais, de um quadro em que o Estado
brasileiro se exime de cumprir o seu papel no cam- BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE AS
po social, favorecendo a multiplicação de inter- CATEGORIAS DE ANÁLISE: educação não-
venções educativas não-formais em diferentes es- formal, inserção socioprofissional e juventude
paços paralelos à escola (Castro; Abramovay, 1998;
Gohn, 1999; Torres, 1990). Apesar da extensão e profundidade dos
Examinada a experiência educacional problemas sociais que afetam a juventude na soci-
vivenciada pelos setores empobrecidos da socie- edade brasileira, a carência de estudos pautados
dade, moradores, em geral de áreas onde os equi- nas representações formuladas pelos sujeitos di-
pamentos urbanos são inexistentes ou insuficien- retamente envolvidos é flagrante, e aprofundam-
tes, evidenciam-se o abandono e a repetência esco- se quando o foco são as experiências de educação
lar que acentua a distorção idade-série, tão comum não-formal. Spósito (2000) assinala a necessidade
entre os jovens pobres e negros. O percurso esco- de intensificação dos estudos e pesquisas que es-
lar da maioria desses jovens encontra-se tabeleçam as interfaces entre as temáticas: juven-
continuadamente submetido à experiência do “eter- tude, etnia e experiências não-escolares. Desse
no retorno” à escola, ou simplesmente à exclusão modo, as categorias educação não-formal e inser-
do sistema público de educação (Spósito, 1994). ção socioprofissional ganham centralidade neste
Junte-se a isso o ingresso precoce no mercado de trabalho, sobretudo quando a opção metodológica
trabalho, o mercado informal, a baixa remunera- privilegia o aspecto qualitativo.
ção e a discriminação étnica, alguns dos obstácu- Segundo Delors (1996), as diferenças
los para a inserção socioprofissional desses jovens conceituais entre educação formal, não-formal e
(Silva, 2001). Dados de 2005 para a região metro- informal inscrevem-se nos princípios da educa-
politana de Salvador registravam que 89,9% dos ção ao longo da vida, como entende a Unesco.
desempregados eram constituídos de negros e Comumente, a educação formal está vinculada ao
10,1% de brancos (SEI, 2005). poder público e implica freqüência obrigatória,
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processo em que os contextos político e provocado sobre a inserção dos jovens, especial-
socioeconômico, bem como os códigos culturais, mente nos setores mais pobres e menos
são elementos cruciais na construção do saber escolarizados. Aqui o elemento étnico emerge como
(Freire, 2002; Narang, 1992). um dos fatores mais restritivos à integração desses
Nessa perspectiva, a ENF procura respon- indivíduos na sociedade.
der às necessidades educativas, sociais e econô- A situação de risco social a que essas popu-
micas de uma população pobre e constituída, lações estão submetidas se amplia consideravelmente
notadamente, de jovens e adultos de países po- diante da visível ineficiência do Estado frente ao
bres e ricos (Torres, 1990; Bélisle, 2001; Delors, combate às desigualdades. Cada vez mais os indiví-
1996; Escot, 1999; Gohn, 1999; Narang, 1992). Sob duos são obrigados a assumir isoladamente o ônus
vários aspectos, essas experiências pedagógicas, desses riscos que se reproduzem e se aprofundam
desenvolvidas fora do contexto formal, se institu- dentro da lógica de desenvolvimento em curso no
em como alternativas de integração para uma po- mundo capitalista (Castel, 1999). Trata-se de um
pulação em situação socialmente vulnerável, para cenário em que a construção de alternativas tende a
a qual a conquista e valorização da confiança em si se estruturar de forma individualizada, contribuin-
mesma, a autonomia pessoal e a solidariedade res- do para a difusão de uma “cultura da violência”,
saltam a dimensão comunitária e emancipatória da que atinge diretamente os jovens dos bairros perifé-
ENF, tal como defendida por Narang (1992) e Freire ricos dos grandes centros urbanos, tal como ocorre
(1992). Portanto, o papel do Estado e da sociedade com os jovens do bairro de Plataforma na cidade de
civil é fundamental para dar maior significado a Salvador (Espinheira, 2003).
tais práticas. A implementação de políticas públi- Para Roulleau-Berger (1993) e Spósito
cas, a exemplo da distribuição de renda e da gera- (2000), diante do vazio produzido pela omissão
ção de empregos, são cruciais e não se descolam do Estado, outras esferas fora das instâncias
desses compromissos (Castel, 1999; Deniger, 1996). institucionalizadas passam a concorrer para a so-
Num quadro de fluidez e intermitência pre- cialização e processos de inserção dos jovens no
sentes nas formas institucionalizadas de inserção espaço urbano em geral. Nesse circuito não-
a que são submetidas essas populações, as inter- institucionalizado, as redes de solidariedade e de
venções socioeducativas se apresentam no âmbito sociabilidade são construídas individual e coleti-
cultural, artístico, associativo e (ou) voluntário vamente no contexto urbano.
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Galland, 1991) e nacional (Spósito, 1994, 2000), a semidirigida e o diário de campo. As contribui-
definição de juventude está vinculada à noção de ções de Becker (2000) e Roulleau-Berger (1993) se
“indeterminação”, nessa fase de transição. O aces- apresentaram como perspectivas adequadas para
so, não “automático”, para a “vida adulta” está re- esta investigação de inspiração etnográfica, reali-
lacionado à precariedade das relações de trabalho zada no meio natural, onde os processos interativos
e à instabilidade do emprego, sobretudo a partir cotidianos são valorizados pelo pesquisador.
dos anos 1980. Esse contexto terá influência De outro modo, a compreensão sobre as re-
marcante na ampliação da faixa etária referida à presentações que os jovens constroem a propósito
população jovem, tendência inicialmente observa- das suas trajetórias no contexto em que vivem –
da entre os estudiosos europeus e, mais recente- Plataforma, bairro do subúrbio ferroviário de Sal-
mente, entre pesquisadores brasileiros e asiáticos. vador –, como eles se vêem a si próprios e o mun-
A imprecisão do conceito de juventude, na do a seu redor, exigiu que as experiências e os
realidade brasileira, pode ser ilustrada pelo para- sentimentos (inter) pessoais, elementos subjetivos
doxo apontado por Spósito (2000). De um lado, o essenciais, fossem observados e interpretados
prolongamento da faixa etária para vinte e nove (Bogdan; Biklen, 1994; Roulleau-Berger, 1993).
anos, frente ao adiamento da inserção no mundo Interpretações que não se esgotam, ou, como diz
do trabalho, e, de outro, a inserção precoce (sobre- Pais (2006), não atingem “um ponto de saciedade”,
tudo na América Latina) no mercado de trabalho pois os próprios leitores exercem o papel de intér-
em busca do acesso aos bens de consumo, fator pretes (p. 25)
decisivo na integração do jovem em seu grupo so- Os temas abordados entre os jovens trata-
cial; e (ou) ainda, de maneira significativa, nos se- ram da motivação, da experiência escolar, da apren-
tores mais empobrecidos da sociedade, frente à ne- dizagem, dos reflexos pessoais e sociais das expe-
cessidade de contribuir no orçamento familiar. riências na educação não-formal e dos projetos de
Diante dessa imprecisão e, conseqüentemen- futuro.
te, das ambigüidades que o termo “juventude” Foram entrevistados dez jovens entre
comporta, optou-se aqui por denominar os parti- dezessete e vinte e seis anos de idade (quatro ho-
cipantes da pesquisa como jovens adultos. Isso mens e seis mulheres), em sua maioria negros, que
porque os princípios de autonomia e responsabi- freqüentavam as oficinas de teatro, de eletricidade
lidade são inerentes à inserção do jovem no mun- e o Programa Agente Jovem na Associação de Mo-
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das fontes e o suporte para a análise. Eles trouxe- os separa da “Cidade Alta”,5 símbolo da socieda-
ram informações sobre a realidade cotidiana dos de “integrada”, amplia as dificuldades para a in-
jovens do ponto de vista da família, da escola, do serção socioprofissional (Becker, 2000; Elias;
bairro, da associação de moradores e do trabalho. Scotson, 2001). Enfim, uma estrutura física que os
Por motivos éticos e já esperados nos trabalhos des- aliena da sociedade urbana contemporânea, o que
sa natureza, os participantes são designados por vem reforçar os déficits de integração (Castel, 1999).
nomes fictícios. Essa compreensão da realidade se eviden-
Os objetivos da pesquisa e a natureza dos cia na fala de vários jovens:
instrumentos adotados nortearam a adoção da aná-
lise de conteúdo temático (Bardin, 1977). As en- Ser jovem é não ter acesso a uma série de coisas
[...] É você estar consciente que pode ser vítima
trevistas e os dados oriundos do diário de campo de violência, você não tem proteção [...] (Soraia,
foram organizados, categorizados e tematizados, 17 anos).
Não tem um cinema no bairro. O Multiplex6 cus-
possibilitando a interseção das fontes. ta R$15,00; para quem vive no subúrbio os pais
Tal como já assinalado, o campo de pesqui- não podem pagar [...] (Yara, 26 anos).
É chato. É cair no pagode aos domingos [...] É ser
sa esteve centrado no bairro de Plataforma, subúr- um jovem alienado[..] (Narciso, 26 anos).
bio ferroviário da cidade de Salvador. O bairro foi
constituído como Vila Operária na segunda meta- Narciso,7 único dos entrevistados que mora
de do século XIX, a partir da inauguração da via só, faz uma reflexão ilustrativa da condição difícil
férrea e instalação de uma fábrica têxtil, hoje de subsistência numa cidade onde a cidadania é
desativada e em ruínas. Bairro antigo, periférico e ainda uma quimera para eles. Sob seus ombros e
estigmatizado pela pobreza, suas ocupações pre- céus, a responsabilidade de encontrar meios para
dominantes refletem a precariedade das condições sua existência não apenas material, como enfatiza,
de moradia, de saúde, de educação, de lazer, de expondo seus desejos:
cultura e de trabalho, acentuando tanto o empo-
brecimento quanto o agravamento da violência. A Sou eu comigo mesmo. Deus, eu e minhas neces-
sidades. Elas vão além de existir e comer. Eu tam-
pesca artesanal, o trabalho doméstico, o comércio bém tenho minhas fantasias: gastar com cosmé-
de rua são as possibilidades de sobrevivência de ticos [...] ir a uma festa, ir ao cinema, ir à praia
[...] ao porto da Barra [...].
homens e mulheres.
Em Plataforma, o foco da pesquisa voltou-se
Ao mesmo tempo, os jovens reivindicam a
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ros “nobres” e os “periféricos” de Salvador pode vira ou vamos terminar no trabalho doméstico,
como lavadeira não assalariada (Inaiá, 19 anos).
ser observado tomando como referência a Barra,8 A escola pública é difícil de contribuir para o
um dos bairros mais citados pelos jovens adultos mercado de trabalho porque tem cursos sem pro-
fessor, não tem livros [...]. O professor, ele mesmo
entrevistados como uma antítese a Plataforma. pensa que como é escola púbica, ele pode ensi-
Ser morador da “Cidade Baixa” significa não nar de qualquer jeito. Como pode nos preparar
para o trabalho? [...] (Pagu, 18 anos)
ser reconhecido, isto é, não ser cidadão – em ou-
tras palavras, viver a marca da segregação urbana. A confirmação dos estigmas citados está re-
Como nota Rolnik (2001), as cidades latino-ameri- gistrada na fala do único jovem que difere dos
canas expandiram-se sob a lógica da exclusão e demais pela cor branca de sua pele e pelo nível de
com o aval do poder público. Assim, a configura- escolaridade da mãe (ensino médio completo). Para
ção da cidade de Salvador seguiu essa mesma ló- ele, as dificuldades de emprego não estavam rela-
gica, favorecendo a estigmatização dos moradores cionadas aos seus atributos pessoais e lugar de
pobres, e seu enquadramento nas classes perigo- moradia, mas à ausência de ofertas de emprego no
sas (Espinheira, 2003, p. 75). subúrbio, distintamente de outros bairros mais
centrais de Salvador.
A polaridade subúrbio ferroviário e Cidade
Não temos vagas: o (não) trabalho Alta, tão evidente no imaginário dos jovens, tra-
duz a segmentação socioprofissional e cultural
As dificuldades em atender às exigências (Kuenzer, 2000; Spósito, 2000). As políticas pú-
em relação à escolaridade, à qualificação e à expe- blicas não reconhecem os jovens como sujeitos de
riência são explicitadas pelos jovens. Além do direito ao lazer, ao trabalho, à educação, etc. É no
preconceito de cor e aparência, os estigmas se es- contexto dessa ausência de reconhecimento que
tendem ao local de moradia, à violência, às drogas os jovens vão construir a representação de si mes-
e à pobreza. Ademais, a experiência da escola pú- mos no espaço urbano.
blica parece não contribuir para a inserção no mer- É unânime, entre os jovens, o desejo de
cado de trabalho. A violência dessas experiências obter uma inserção profissional, seja por meio de
emerge com força nos depoimentos: um estágio, seja no trabalho formal e (ou)
associativo. Apesar de todos os obstáculos exis-
Eles querem gente bonita para expor na vitrine, tentes, ao fim do trabalho de campo, pôde-se ob-
os modelos estipulados pela TV. O modelo deli-
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pido de ano [...] eu saio do colégio sem saber nada Os jovens percebem-se como sujeitos que
(Moema, 20 anos)
Cada vez mais os jovens são menos preparados ocupam um lugar no grupo. Nesse quadro, en-
para o mercado de trabalho [...] o governo não se contra-se a idéia do engajamento produzida pela
preocupa muito com os jovens de hoje como se
não soubesse que os jovens de hoje são o futuro de aprendizagem dialógica e pela ação, tal como nos
amanhã (Yara, 26 anos) assinala Freire (2002). A possibilidade de sair da
invisibilidade, de criar novas sociabilidades em
Como notam Abramo (2000); Almeida (2001) bases mais solidárias depreende-se do elo
e Deniger (1996), Estado e sociedade responsabili- integrador com o outro e com o meio. Diferente-
zam o indivíduo pelo fracasso, dissimulando a na- mente do que ocorre na experiência escolar, “se-
tureza política dos problemas nessa esfera. Com efei- dução” e “prazer” são associados às oficinas. A
to, o jovem sente-se responsável por seu fracasso, aprendizagem motiva, porque possui uma signifi-
da mesma maneira que o êxito socioprofissional é cação para o jovem, e integra-se à vida cotidiana,
atribuído ao próprio indivíduo. favorecendo a confiança em si e a esperança. É ai
que se verifica a valorização identitária em sua di-
mensão étnica e social, espaço em que os estigmas
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jovens são o futuro do Brasil? people Brazil’s future? les jeunes sont-ils l’avenir du Brésil?
Denise Helena P. Laranjeira - Doutora em Educação pela Université de Sherbrooke (Québec-Canadá). Atualmen-
te é Professora Adjunta de Sociologia da Educação na Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS,
coordenadora do Curso de Especialização em Educação e Pluralidade Sócio Cultural (DEDU-UEFS). É membro
do Núcleo de Pesquisa Trabalho, Tecnologia e Educação (NETTE-UEFS). Linhas de pesquisa: educação, juven-
tude e inserção socioprofissional.
Ana M. F. Teixeira - Doutora em Ciências da Educação pela Université Paris VIII. Professora Adjunta da
Universidade Federal de Sergipe (UFS/CECH/Departamento de Educação). Bolsista de Produtividade de Pes-
quisa da FAPESB e CNPq. Pesquisadora do Grupo Educação e Contemporaneidade.
Sylvain Bourdon - Doutor em Sociologia da Educação pela Université de Montréal. Professor titular na Faculdade
de Educação – Université de Sherbrooke (Québec-Canadá). Diretor da equipe de pesquisa sobre as transições e
aprendizagem (Equipe de Recherche sur les Transitions et l’Apprentissage - ÉRTA). Entre outras publicações
organizou o livro Les jeunes et le travail com Mircea Vultur, em 2007 e coordenou a publicação do livro
Pratiques et apprentissage de l’écrit dans les sociétés éducatives, com Rachel Bélisle, em 2006.
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