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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS


Ética e Filosofia Política III - FLF0463
Professor Alberto Ribeiro G. de Barros

Guilherme Gomes da Silva, nº USP 8046020

Liberdade em Skinner: a terceira via para além da distinção entre liberdade positiva
(comunitarista) e liberdade negativa (liberal)

O presente artigo tratará da concepção de liberdade adotada por QUENTIN SKINNER


que, de maneira geral, pode ser considerada negativa em virtude de a ausência de dominação
ou de interferência arbitrária ser o seu traço distintivo em relação às outras concepções de
liberdade positiva (comunitarista) e negativa (da tradição liberal) consideradas pelo autor.

Para melhor compreender esse conceito, deve-se ter em mente que SKINNER se
expressa a partir de um dúplice ponto de vista: como historiador das ideias e como filósofo
político.

SKINNER é considerado um dos membros da chamada “Escola de Cambridge”, dentre


os quais se utiliza de uma metodologia chamada contextualismo linguístico. Para ele, na
condição de historiador das ideias, seu método de análise consiste em situar o texto dentro do
contexto (histórico, político e linguístico) do qual ele faz parte, não sendo suficiente, por sua
vez, a exegese puramente interna de grandes obras ou ainda um contextualismo sociológico
dos textos.

A razão de ser desse método é, por um lado, criticar a comumente análise de textos
sobre filosofia moral, política e de outras esferas do conhecimento de maneira anacrônica,
como: tentativas que buscavam a todo custo encontrar ideias perenes e universais na
interpretação dos textos; que antecipavam teorias, cujo aparecimento somente ocorreria
posteriormente; que enxergam em textos sistemas fechados de ideias e etc.1

Por outro lado, devido a fortes influências de filósofos da linguagem como


WITTGENSTEIN e AUSTIN (principalmente pela teoria dos atos de fala desse último), SKINNER
sustenta ser insuficiente a compreensão de um texto a partir do significado das suas sentenças.

1
Essas críticas podem ser vistas com mais detalhes no artigo: “Meaning and understanding in the history of
ideas”. In: SKINNER, Quentin. Visions of Politics: Regarding Methods. Vol. 1. Cambridge: Cambridge
University Press, 2002, pp. 57-89.

1
Passam a ser relevantes também as intenções do autor, devendo-se ressaltar aqui que não se
trata de compreender as motivações de quem escreveu (ou seja, não se trata de uma
interpretação psicologista). Em outras palavras, deve compreender a dimensão ilocucionária
do ato (de escrever), isto é, entender também o que um determinado autor quis dizer com
aquilo que foi dito.2

Desse modo, para a compreensão do contexto linguístico no qual determinado autor se


insere, passa a ser importante não apenas a leitura do texto dele, mas também, na medida do
possível, daqueles escritores que fizeram parte daquele momento, por exemplo: para
interpretação do conceito de liberdade em HOBBES, como veremos na sequência, SKINNER
dará grande importância aos autores que escreveram sobre o mesmo tema na época em que o
filósofo em questão viveu.

Dito isso, para entendermos a concepção de liberdade sustentada por SKINNER,


devemos partir da distinção entre liberdade negativa e positiva e, apesar de em ambas as
situações haver disparidade entre seus expoentes, tomaremos como ponto de partida a
distinção defendida por ISAIAH BERLIN, na medida em que esse também foi o pressuposto
para o historiador inglês.3

Conforme explica SILVA, nenhum outro pensador da liberdade no século XX exerceu


maior influência do que BERLIN. Ele consolidou a distinção entre liberdade positiva e
negativa, defendendo essa última, na medida em que seria a única compatível com a natureza
pluralista das sociedades modernas.4

A liberdade positiva, para BERLIN, muitas vezes, confundir-se-ia com outros conceitos
(como fraternidade, igualdade e solidariedade); estaria associada à autorrealização ou
abnegação do indivíduo, ao autogoverno ou ao domínio de si próprio; levaria em conta
principalmente as condições que os indivíduos devem preencher para atingir seus objetivos
(como o uso da razão crítica ou, para aqueles que não a possuem, seriam dependentes de certo
paternalismo, ou seja, dependentes de indivíduos dotados de razão); e seria aquela “liberdade”
presente nos regimes totalitários presenciados pelo mundo no século XX.5

2
Sobre o método adotado por Skinner, as suas críticas e respostas, além de Meaning and Understanding, ver
também: “Interpretation and the understanding of speech acts”. In: SKINNER, Quentin. Visions of Politics, cit.,
pp. 103-127; e o terceiro capítulo de SKINNER, Quentin. Liberdade antes do Liberalismo. Trad. de Raul Fiker.
São Paulo: UNESP, 1999.
3
Cf. SKINNER, Quentin. “A Third Concept of Liberty”. In: Prodeedings of the Bristish Academy, n°117, 2002,
p. 238.
4
“Maquiavel e o conceito de liberdade em três vertentes – do novo republicanismo”. In: Revista Brasileira de
Ciências Sociais. Vol. 25, n° 72, fevereiro/2010, p. 55.
5
Quatro ensaios sobre a liberdade. Trad. de Wamberto H. Ferreira. Brasília: UNB, 1981, pp. 142 e seguintes.

2
Já a ideia negativa de liberdade, em BERLIN, estaria relacionada com a ausência de
constrangimento, entendendo-se esse último por um ato de interferência externa ao agente e
que tem a capacidade de impedi-lo em perseguir suas escolhas e atividades. Logo, quanto
maior for a área de ausência de interferência, mais livre determinado indivíduo será.6

Segundo SKINNER, essa concepção de BERLIN tem sua origem em HOBBES,7 no


Leviatã, mas sofreria de limitações de abrangência. Isso porque faltou a ele uma análise mais
aprofundada de THOMAS HOBBES – análise essa realizada pelo historiador inglês a partir da
metodologia anteriormente explicada. HOBBES, na verdade, ao tratar da liberdade, criticava a
concepção difundida na Inglaterra daquele período por alguns autores, como HENRY NEVILLE,
ALGERNON SIDNEY, JOHN MILTON e MARCHAMONT NEDHAM. Esses, fortemente
influenciados pelas ideias de MAQUIAVEL (principalmente naquelas constantes nos Discorsi),
questionavam o relacionamento existente entre os súditos e o Estado, em um período
conturbado de guerras civis após o regicídio de 1649.8

HOBBES, por um lado, era totalmente contrário a qualquer concepção que associasse
liberdade individual com o ideal clássico de civitas libera ou “Estado Livre”. Essa
interpretação, segundo ele, não seria adequada para tratar da liberdade de homens
particulares.9 Em contraposição a isso, partindo da sua leitura do Discorsi de Maquiavel,
SKINNER verá outro tipo de liberdade negativa, que, por sua vez, estará em consonância com
os ideais da virtù e de serviço público.10

Com isso, enquanto os autores modernos (liberais) verão a liberdade como sendo o
oposto de interferência e coerção a partir das ideais de HOBBES, na leitura de SKINNER sobre
MAQUIAVEL, haveria uma terceira concepção de liberdade, que permitiria a inclusão de outros
elementos, sem que houvesse contradição com o próprio conceito.

De maneira resumida, portanto, pode-se dizer que SKINNER concorda com a


diferenciação realizada por BERLIN entre liberdade negativa e liberdade positiva. No entanto,
o ponto de discordância será que ele verá outra teoria da liberdade negativa, partindo
principalmente do republicanismo de MAQUIAVEL e do republicanismo inglês. Como dirá o

6
Cf. Quatro ensaios sobre a liberdade, cit., pp. 136/142; e SKINNER, Quentin. “A Third Concept of Liberty”,
cit., pp. 243/244.
7
No capítulo XXI, HOBBES sustentará que a liberdade significa ausência de oposição externa, sendo que, na
relação entre súdito e Estado, a lei representaria uma limitação da liberdade – Leviatã. Trad. de João P. Monteiro
e Maria Beatriz N. da Silva. 3a ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983, pp. 130-131.
8
Cf. Liberdade antes do Liberalismo, cit., pp. 22/26; e “A Third Concept of Liberty”, cit., pp. 246/255.
9
Cf. SKINNER. Quentin. Liberdade antes do Liberalismo, cit. pp. 55/56.
10
Cf. “The idea of negative liberty: Machiavellian and modern perspectives”. In: SKINNER, Quentin. Visions of
Politics: Renaissance Virtues. Vol. 2. Cambridge: Cambridge University Press, 2002, p. 130.

3
autor: “enquanto eu concordo com Berlin de que há dois conceitos de liberdade, um positivo e o outro
negativo, eu discordo com a premissa dele de que, sempre que falamos de liberdade negativa,
devemos falar sobre ausência de interferência. Parece-me, como eu tentei mostrar, que nós herdamos
duas teorias rivais e incomensuráveis da liberdade negativa, embora em tempos recentes tenhamos
geralmente forçados a ignorar uma delas”11

Conforme ensina SILVA, em SKINNER (assim como em outros autores como PHILIP
PETTIT), a ideia de liberdade adotada por MAQUIAVEL não estava relacionada com aquela
concepção positiva dos neoatenientes, mas sim, tratava-se de uma concepção negativa de
liberdade que, por sua vez, distinguir-se-ia também daquela clássica concepção negativa e
liberal de liberdade, uma vez que, nessa concepção neorromana (tal como denominada por
Skinner), não haveria contradição entre liberdade e lei.12

Isso é assim porque, conforme BARROS, na concepção republicana de liberdade, há a


suposição de que ser livre significa escolher os meios para alcançar determinado fim, assim
como praticar ações tendo em vista o interesse comum. Contudo, uma vez que nem todas
essas ações são espontâneas, surgirá a necessidade de coerção legal dos cidadãos para praticá-
las.13

Além disso, SKINNER teria simplificado a tese dele adotada em Liberdade antes do
Liberalismo, após anotações feitas por PETTIT. Se antes SKINNER via que a liberdade para os
pensadores clássicos do republicanismo inglês era entendida tanto como ausência de
dependência arbitrária de terceiros, como também ausência de interferência nas escolhas que
alguém estaria apto a realizar, o historiador inglês entenderá, posteriormente, que a existência
de um poder arbitrário seria o que configura uma afronta fundamental à liberdade, de modo
que se pode concluir que a liberdade (negativa) neorromana, inspirada no republicanismo
clássico e inglês, é considerada como ausência de dominação ou ausência de uma
interferência arbitrária.14

Percebe-se, com isso, a diferença na concepção de liberdade se comparada com aquela


defendida por BERLIN. Enquanto este conceituaria a liberdade individual a partir da ausência
de qualquer tipo de interferência intencional de terceiros, PETTIT sustentará que não é
11
“A Third Concept of Liberty”, cit., pp. 243/244.
12
“Maquiavel e o conceito de liberdade em três vertentes – do novo republicanismo”, cit., p. 38.
13
“Liberais, comunitaristas e republicanos: a questão da liberdade”. In: Síntese - Revista de Filosofia, Vol. 41, n°
131, 2014, p. 355.
14
Cf. SILVA. Ricardo. “Maquiavel e o conceito de liberdade em três vertentes – do novo republicanismo”, cit.,
pp. 48 e 56. Nesse sentido, assim afirmará SKINNER em um texto posterior: “a mera consciência de viver na
dependência da boa vontade de um governante arbitrário serve, por si, para restringir nossas opiniões e limitar,
portanto, a nossa liberdade” - “A Third Concept of Liberty”, cit., pp. 256/257.

4
qualquer tipo de interferência intencional que se contrapõe à liberdade republicana, mas
apenas as interferências arbitrárias, entendendo-as como sinônimo de dominação. Com isso,
chega-se à fórmula sintética: liberdade como ausência de dominação.15

Essa denominação, por sua vez, decorre do fato de que a concepção neorromana de
liberdade tem sua influência no direito romano, pois nele, liberdade (libertas) era identificada
como ausência de domínio (dominium), entendendo-se esse último como a submissão de uma
posse ao poder (in potestas) ou ao direito de outrem (alieni iuris). Partindo dessa premissa, o
escravo não teria liberdade, mesmo que não sofresse impedimento físico para agir, na medida
em que a condição legal dele no direito romano indicava a dependência a uma vontade
(arbitrária) do senhor.16

Por fim, é importante destacar que há uma diferença entre a participação dos cidadãos
na concepção neorromana daquela existente na concepção positiva de liberdade. Segundo
SILVA, SKINNER não considera que a participação dos cidadãos na esfera pública seria algo de
menor importância para a manutenção da liberdade, assim como entende que o historiador
inglês não permanece preso à tradição liberal, que dá ênfase aos direitos individuais (na
verdade, SKINNER chega até mesmo a defender a prevalência dos deveres sobre os direitos). 17
O ponto é que a liberdade é muito mais vistas como status do que oportunidade ou exercício,
de modo que a participação serve para assegurá-la, em vez de se configurar como a essência
da liberdade. Além disso, SKINNER não adotaria uma concepção particular de bem como
reguladora da participação dos cidadãos (algo que pode ser visto, porém, em uma ideia
positiva de liberdade), ou seja, não se trata de defender o agir dos indivíduos em busca de um
mesmo bem comum.18

Nesse contexto, enquanto a princípio a ideia negativa de liberdade adotada por BERLIN
teria lugar inclusive em um regime despótico (na medida em que bastaria o indivíduo não
sofrer interferência na sua esfera individual), a ideia de liberdade neorromana, ao exigir uma
participação dos indivíduos na defesa da liberdade do corpo político, terá seu lugar apenas em

15
Cf. SILVA, Ricardo, “Liberdade e lei no neorrepublicanismo de Skinner e Pettit”. In: Lua Nova, n° 74, 2008, p.
181.
16
Cf. BARROS. Alberto Ribeiro Gonçalves de. "Liberais, comunitaristas e republicanos: a questão da
liberdade", cit. pp. 355-356.
17
“A razão de desejar trazer de volta a visão republicana de política não é para ela nos fale como construir
uma democracia genuína, na qual o governo é para o povo como resultado de ser pelo povo. […] É
simplesmente porque transmite uma advertência que, embora possa ser indevidamente pessimista, dificilmente
podemos nos dar ao luxo de ignorar: a menos que coloquemos nossos deveres antes de nossos direitos, devemos
esperar encontrar nossos próprios direitos comprometidos” - “The Paradoxes of Political Liberty”. In: The
Tanner Lectures on Human Values. Harvard University, 1984, p. 250.
18
Cf. SILVA, Ricardo, “Liberdade e lei no neorrepublicanismo de Skinner e Pettit”, cit., pp. 168-169.

5
um Estado livre, assim entendido com independente e com capacidade de autogoverno e onde
não houvesse uma imposição de particular de bem aos cidadãos. 19 A rigor, portanto, somente
pode haver liberdade republicana em um regime democrático e pluralista.

BIBLIOGRAFIA:

BERLIN, Isaiah. Quatro ensaios sobre a liberdade. Trad. de Wamberto H. Ferreira. Brasília:
UNB, 1981.
BARROS. Alberto Ribeiro Gonçalves de. "Liberais, comunitaristas e republicanos: a questão
da liberdade". In: Síntese - Revista de Filosofia, Vol. 41, n° 131, 2014, pp. 345-358.
HOBBES, Thomas. Leviatã. Trad. de João P. Monteiro e Maria Beatriz N. da Silva. 3 a ed. São
Paulo: Abril Cultural, 1983.
SILVA, Ricardo. “Liberdade e lei no neorrepublicanismo de Skinner e Pettit”. In: Lua Nova,
n° 74, 2008, pp. 151-194.
_________________. “Maquiavel e o conceito de liberdade em três vertentes – do novo
republicanismo”. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais. Vol. 25, n° 72, 2010, pp. 37-58.
SKINNER, Quentin. “The Paradoxes of Political Liberty”. In: The Tanner Lectures on Human
Values. Harvard University, 1984, pp. 227-250.
_________________. Liberdade antes do Liberalismo. Trad. de Raul Fiker. São Paulo:
UNESP, 1999.
_________________. Visions of Politics: Regarding Methods. Vol. 1. Cambridge: Cambridge
University Press, 2002.
_________________. Visions of Politics: Renaissance Virtues. Vol. 2. Cambridge: Cambridge
University Press, 2002.
________________. “A Third Concept of Liberty”. In: Prodeedings of the Bristish Academy,
n° 117, 2002, pp. 237-268.

19
Cf. BARROS. Alberto Ribeiro Gonçalves de. "Liberais, comunitaristas e republicanos: a questão da
liberdade", cit., p. 358.

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