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De autoria do Deputado Luiz Paulo (PSDB), a Lei da Autovistoria, como também vem
sendo chamada, determina que todos os prédios comerciais e residenciais com menos de
25 anos promovam vistorias em suas instalações a cada dez anos. No caso de edifícios
com mais de 25 anos, a inspeção tem de ser feita em intervalos de cinco anos. Estão
isentos da obrigação apenas os condomínios de até dois pavimentos e aqueles com área
construída inferior a mil metros quadrados.
A nova legislação vem reforçar a lei municipal nº 2.550/1997, válida apenas para a cidade
do Rio de Janeiro, que já abordava o assunto, mas era ignorada por boa parte dos
gestores condominiais. “Infelizmente, determinados vácuos legislativos somente são
preenchidos depois que os desastres acontecem. A lei da autovistoria reforça o preceito de
que os proprietários devem zelar pela segurança e solidez de suas propriedades. Porém,
sendo mais específica, definindo prazos, requisitos e punições, essa nova lei contribui
ainda mais para o assunto. O objetivo é proteger a segurança de todos, reforçando o dever
do síndico”, salienta André Luiz Junqueira, supervisor jurídico do escritório Schneider
Associados.
A vistoria periódica, segundo a norma, deve ser efetuada por um engenheiro, arquiteto ou
empresa que sejam legalmente habilitados pelos Conselhos de Engenharia e Arquitetura.
Ao final da visita, o profissional emitirá um laudo técnico, no qual devem constar as
anomalias encontradas durante a vistoria, suas características e causas, e as medidas a
serem tomadas pelo condomínio para a reparação dos problemas. “A Lei 6.400 não
especifica todos os requisitos do laudo, pois esses detalhes provavelmente serão
trabalhados na regulamentação da lei através de decretos e atos administrativos do Poder
Executivo”, completa o advogado André Luiz.
A lei permite ainda que, em qualquer momento da vistoria, assim que for constatada
irregularidade que ponha em risco a comunidade condominial, o profissional responsável
acione o órgão municipal competente, para que sejam tomadas providências para o
isolamento do local.
Assim que o laudo for emitido, o síndico terá de convocar uma Assembleia para comunicar
todos os condôminos sobre as conclusões do documento. De acordo com a lei, o
documento deverá ser arquivado no próprio condomínio e apresentado sempre que algum
órgão governamental o solicitar. Em caso de perda ou extravio, caberá ao administrador
solicitar uma segunda via ao profissional ou contratar uma nova vistoria. “No texto da lei, as
prefeituras deverão elaborar um modelo do laudo exigido e esse desenho não pode
demorar a ser liberado, afinal de contas os acidentes estão acontecendo e a lei busca
evitá-los”, alerta Geraldo Victor, gerente geral de Condomínios da APSA.
A preocupação de José Carlos tem razão de ser. Construído em 1978, o Astral Sul nunca
passou por uma inspeção geral em suas instalações. Depois de 30 anos, é provável que o
condomínio precise de reparos, e o síndico já notou alterações significativas em algumas
áreas. “O prédio foi construído para outra realidade. Hoje, a gente tem uma série de
aparelhos eletrônicos que sobrecarrega, principalmente, a parte elétrica do condomínio.
Temos problemas aqui. Ao assumir como síndico, fiz uma revisão nas instalações anti-
incêndio do prédio. As mangueiras estavam furadas e as pessoas não sabiam nem como
abrir os extintores de água para combater o fogo. Há problemas também com as
tubulações de gás. Elas são antigas, de ferro e, com o tempo, a tendência é que corroam,
provocando escapamento”, destaca o gestor de São Conrado.
A APSA já vem reunindo esforços para auxiliar os síndicos nessa empreitada. De acordo
com o gerente geral de Condomínios, Geraldo Victor, a administradora está preparando
seus profissionais para esclarecer eventuais dúvidas dos gestores. Além disso, assim que
a Prefeitura publicar o modelo de laudo técnico a ser emitido, a empresa disponibilizará
aos clientes engenheiros e arquitetos capacitados para atender os dispositivos legais.
“Pretendemos acompanhar nossos clientes na condução do cumprimento do que compor o
laudo, prestar os esclarecimentos, auxiliar na busca de soluções viáveis e condução dos
processos decorrentes das decisões”, afirma Geraldo.
O advogado André Luiz Junqueira recomenda, no entanto, atenção aos gestores que
precisarem realizar correções nas dependências. “É o condomínio quem vai arcar com as
despesas, salvo se for apurado que o responsável seja um dos condôminos ou qualquer
outra pessoa. Tudo deve ser bem documentado e acompanhado por um advogado e um
perito. Do contrário, o condomínio pode ter que arcar com mais despesas do que precisaria
ou pode demorar para resolver problemas de sua responsabilidade”.
Erigido em 1990, assim como muitos condomínios da cidade, o Golden Place nunca havia
passado por qualquer vistoria. Assustado com o incidente, o síndico da Tijuca pretende
chamar o mesmo engenheiro para realizar uma inspeção geral no condomínio e já estuda
a possibilidade de reformar o telhado do playground, que vem dando sinais de desgaste.
“O primeiro sinal de que algo não vai bem está no aspecto visual dos acabamentos,
quando os revestimentos – emboços pintados, cerâmicas, granitos e outros – se
apresentam manchados, estufados, trincados, com rejuntamento deficiente.
Independentemente de sinais, em se tratando de fachadas e marquises, ou seja, de locais
em que a queda de fragmentos podem causar acidentes com vítima fatal, é de fundamental
importância a manutenção preventiva periódica”, salienta o engenheiro Lucio Barros.
A lei 6400/2013 foca a vistoria em áreas sensíveis dos edifícios, sendo elas “estruturas,
subsolos, fachadas, esquadrias, empenas, marquises e telhados, e em suas instalações
elétricas, hidráulicas, sanitárias, eletromecânicas, de gás e de prevenção a fogo e escape
e obras de contenção de encostas”. Pode não parecer, mas cada um desses espaços e
estruturas oferece riscos de naturezas diversas quando não preservados. Um subsolo mal
conservado, por exemplo, é passível de acarretar a ruptura das contenções laterais, o que
faz penetrar água no solo gerando o rebaixamento do terreno.
As instalações elétricas e hidráulicas são outros itens que exigem bastante atenção. “O
profissional escalado para a vistoria deve priorizar a análise dos pontos passíveis de
acidentes termoelétricos, que são as fontes de ignição mais conhecidas em edificações.
Além disso, tem de verificar a conformidade da chave de desligamento elétrica geral
quanto ao acesso e a operabilidade e as seccionadoras automáticas contra curtos-circuitos
e sobre temperatura. Quanto às instalações hidro-sanitárias, merece atenção sua
conectividade com as redes das concessionárias ou despejos em corpos hídricos”, afiança
Fernando Azevedo, engenheiro civil e de segurança do trabalho.
O engenheiro Lucio Barros pontua que uma vistoria liderada por um profissional qualificado
não só afastará possíveis riscos de acidentes como também será eficiente para reduzir
gastos no condomínio. “A inspeção geral é de fundamental importância para a redução de
acidentes e de eventuais desperdícios de energia, água e materiais, ou seja, se colocada
em prática além de melhorar a segurança promoverá uma redução no custo da
manutenção condominial. Mais do que uma lei, a autovistoria deveria ser utilizada como
um manual prático nos condomínios”.
Os síndicos, no entanto, não precisam esperar a inspeção profissional para livrar seus
condomínios dos riscos de um incêndio. Dicas simples podem afastar esse fantasma que
ronda o cotidiano condominial. Segundo o engenheiro Fernando, o primeiro passo é
revisar, adequar e conservar os sistemas ativos e passivos de proteção contra incêndio e
pânico. É importante também que o condomínio treine seus funcionários e alguns
condôminos sobre como proceder em um princípio de incêndio e como usar
adequadamente os equipamentos de primeira intervenção.
Talvez por isso, a arma mais poderosa na guerra contra o fogo seja a informação. É
preciso conscientizar os condôminos sobre a responsabilidade de cada um para a
manutenção da segurança do condomínio. A política de conscientização passa, em
especial, por uma exposição sobre os perigos oferecidos pelos eletrodomésticos. Eles
exigem manutenção e não podem ficar ligados enquanto os condôminos estão fora de
casa.
Nesse sentido, o Corpo de Bombeiros Militar do Rio de Janeiro possui, desde 2011, um
projeto para a regularização de condomínios quanto às normas de segurança contra
incêndio e pânico. O objetivo é, por meio de palestras mensais e gratuitas, levar
informações para síndicos e administradores sobre cuidados exigidos e manutenção de
equipamentos. “A Lei 6.400 pode ser mais um ‘empurrão’ que os condomínios precisavam
para olhar um pouco mais para a segurança e solidez de seus imóveis”, finaliza o
supervisor jurídico André Luiz Junqueira.