Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Ora, sendo que no caso a ETT não se encontra registada enquanto tal, nos termos do artigo 173.º,
o contrato de trabalho por tempo indeterminado para cedência temporária celebrado por uma
ETT não titular de licença para o exercício da respectiva actividade, é considerado nulo, e ainda
constitui uma contra-ordenação muito grave, nos termos do n.º 7 do mesmo preceito.
Por outro lado, tal como já atrás mencionado, o contrato de utilização temporário só pode ser
celebrado a termo resolutivo, certo ou incerto, tal como decorre do previsto no artigo 178.º, ora
no caso ele foi celebrado por tempo indeterminado, o que também configura uma violação da lei,
logo o contrato de utilização seria nulo, já que este tipo de contrato visa a satisfação temporária
da necessidade da empresa, não podendo exceder a duração da causa justificativa, nem o limite
de dois anos com as renovações.
No caso em análise, fazendo a hipótese referência à profissão de actor de Vítor, é possível fazer a
dedução de que estamos perante um contrato de trabalho dos profissionais de espectáculos e de
audiovisual, cujo regime legal está consagrado na Lei n.º 4/2008, com as alterações significativas
da Lei 28/2011.
Este contrato também é um contrato de trabalho de regime especial, sobretudo por estarem
relacionados com a própria prestação laboral, dois motivos essenciais, explicitados pela Professora
Palma Ramalho: 1) por consubstanciar-se numa actividade artística (o que pode exigir uma
configuração especial dos deveres do trabalhador e do empregador e suscitar problemas de
autoria da obra intelectual ou artística); 2) porque esta actividade está ligada à produção e
organização de espectáculos públicos (o que passa por uma indexação à temporada de
espectáculos e pela adaptação das regras laborais comuns nas matérias relativas ao tempo e ao
local de trabalho e aos contratos a termo, entre outros.
Ora, no artigo 1.º-B, da Lei nº4/2008 relativo ao âmbito de aplicação da lei, nomeadamente que o
contrato é delimitado pela conjugação do critério da actividade prestada e o critério da destinação
dessa actividade, podemos considerar que Vitor se encontra abrangido pela lei.
A contratação, por 1 ano, de Vítor remete-nos para a celebração de um contrato a termo, que tem
acolhimento no artigo 7.º, da Lei 4/2008. De acordo com o n.º 6 do artigo citado, o contrato de
trabalho a termo certo tem de ter a duração máxima de seis anos e não lhe é aplicável o regime
previsto no Código do Trabalho em matéria de contratos sucessivos e limite de renovações.
Relativamente ao facto de Vítor ter continuado a trabalhar, não se vislumbra que o pudesse fazer
tal como decorre do previsto no n.º 2, do artigo 7.º, da Lei 4/2008, quer isto dizer que, a
renovação só teria lugar caso tivesse havido um acordo expresso entre as partes, sendo
presumível, por essa razão, que a regra ser é a da não renovação automática. O trabalhador
Relativamente à dispensa do trabalhador (Vítor) por dois meses, poderíamos levantar a questão se
estaríamos perante a figura do trabalho intermitente, previsto no artigo 8.º, da Lei 4/2008, que
assenta, essencialmente, na distinção entre tempo de trabalho efectivo e tempo de inactividade
(tempo de não trabalho).
Ora, de acordo com o seu n.º 3, o tempo de trabalho efectivo corresponde ao tempo de duração,
promoção e preparação do espectáculo público, bem como a deslocação para os mesmos, caso
revistam carácter itinerante; enquanto o tempo de não trabalho corresponde, a tempo de
inactividade. Neste sentido, parece-nos que o Vitor se enquadra nesta última situação, porém,
durante esse período, os direitos e garantias de Vítor mantêm-se, de acordo com o seu n.º 5 e 6,
nomeadamente o direito à compensação retributiva de valor não inferior a 30 % ou 50 % da
retribuição normal, aos complementos retributivos, designadamente subsídios de férias e de
Natal, tendo o empregador a obrigação de pagar pontualmente a compensação retributiva, bem
como em não admitir novos trabalhadores ou renovar contratos para actividades artísticas
susceptíveis de poderem ser desempenhadas pelo trabalhador em situação de inactividade.
.
Proposta de resolução do caso prático n.º 10
Nesta hipótese estamos perante dois tipos de contratos: 1) na alínea a) um contrato de trabalho a
bordo; 2) na alínea b) um contrato de trabalho portuário.
Relativamente ao primeiro, o contrato de trabalho a bordo é um contrato de trabalho de regime
especial, sendo regulado pela Lei n.º 15/97, com as alterações da Lei n.º 114/99, sendo que nos
termos do n.º 1, do artigo 3.º do supracitado diploma, este contrato é definido como aquele pelo
qual o inscrito marítimo, titular de cédula marítima válida, abreviadamente designado por
marítimo, se obriga, mediante retribuição, a prestar a sua actividade profissional a um armador de
pesca, sob a autoridade e direcção deste ou do seu representante legal.
Este contrato tem na sua matriz a especificidade de que as prestações de trabalho serem
precisamente realizadas a bordo de embarcações de pesca e em terra.
Ora, António recebendo a proposta para ir trabalhar como pescador, logo o pressupõe que
desempenhará a sua actividade a bordo de embarcações de pesca, estando por essa razão tal
contrato de trabalho sujeito a forma escrita e devendo conter as menções, tal como decorre do
artigo 6.º, da Lei n.º 15/97, sendo certo que a falta de forma é sempre imputável ao armador, só
sendo a nulidade do contrato invocável pelo marítimo, nos termos do n.º 3, do supracitado artigo,
do mesmo diploma.
Esta tipologia de contrato de trabalho pode ser celebrada a termo, certo ou incerto, tal como
resulta do seu artigo 5.º.
No caso António é contratado por um período de 6 meses, ainda que a hipótese não nos forneça
elementos que nos permita saber se estamos perante alguma das situações em que o contrato a
termo pode ocorrer, nomeadamente se se verifica uma natureza transitória ou temporária do
trabalho a prestar, ou se se trata do início de laboração de uma empresa armadora ou de uma
contratação de marítimos à procura de primeiro emprego, ou até da contratação de um
desempregado de longa duração, consideramos que existe um dos fundamentos acima referidos,
elencados no n.º 2, do artigo 5.º.
É ainda importante referir o aspecto do tempo de trabalho, sendo que temos um regime especial,
devidamente estipulado nos artigos 18.º e seguintes, da Lei n.º 15/97, nomeadamente em relação
ao período normal de trabalho (artigo 18.º), ao descanso mínimo diário (artigo 20.º - onde é
estipulado que na faina da pesca, o descanso não pode ser inferior a 8 horas e 6 horas devem ser
consecutivas), ao trabalho suplementar (artigo 21.º) e ao descanso semanal (artigo 22.º - onde é
estipulado que deve existir pelo menos 1 dia de descanso semanal que deve coincidir com o
domingo).
Relativamente ao segundo, o contrato de trabalho portuário, tem por objecto a prestação da
actividade de carga e descarga e navios ou outras embarcações nos portos, tal como afirma a
Professora Palma Ramalho a “especificidade do contrato decorre precisamente da prestação
laboral que envolve a sujeição do trabalhador à autoridade do porto, mas passa por operações
sucessivas de cedência do seu trabalho aos capitães dos navios que atracam no porto”, estamos
pois perante uma relação triangular, o que faz com que este contrato se assemelhe, de alguma
forma, ao contrato de trabalho temporário.
Quanto ao regime desta modalidade de contrato, este tem um regime próprio, mas disperso,
designadamente, o regime jurídico do trabalho temporário através do DL n.º 280/93 – actualizado
pela Lei n.º 3/2013, o regime jurídico da actividade portuária previsto no DL n.º 298/93 e a
operação de cedência dos trabalhadores regulada no Dec-Reg. N.º 2/94, sendo que esta última é
titulada por um contrato de utilização, o que nos remete, mais uma vez, para a ideia do contrato
de trabalho temporário.
No caso em discussão, estamos perante a matéria relacionada com a contratação celebrada com
trabalhadores com capacidade de trabalho reduzida ou com trabalhadores portadores de
deficiência.
Tal matéria encontra-se regulada no artigo 84.º e seguintes, do CT, nomeadamente temos dois
estatutos especiais: 1) o do trabalhador com capacidade reduzida (artigo 84.º) e o do trabalhador
portador de deficiência ou doença crónica (artigo 85.º).
Estas disposições legais impõem que o empregador se adeque a um trabalhador com capacidade
de trabalho reduzida, bem como em adoptar medidas adequadas para que a pessoa com
deficiência ou doença crónica tenha acesso a um emprego, ao seu exercício e progressão (artigo
84.º, n.º 1 e 86.º, n.º 1).
Relativamente a esta temática, importa referir a enorme dificuldade em delimitar o conceito de
trabalhadores com capacidade de trabalho reduzida ou portadores de deficiência, sendo certo que
na hipótese apresentada não temos elementos para definir em qual das categorias se insere o
trabalhador em causa, logo a dificuldade persiste.
A Professora Maria do Rosário Palma Ramalho refere também essa dificuldade de delimitação,
referindo que as duas categorias sobrepõem-se parcialmente, uma vez que o critério utilizado
para a sua delimitação é diferente, enquanto na primeira categoria, são valorizados os efeitos da
incapacidade (inaptidão) do trabalhador para o trabalho; na segunda categoria, são valorizados os
motivos dessa incapacidade (deficiência ou doença crónica).
Ainda que a dificuldade de conceptualização acima referida esteja patente, importa referir que a
sua versão mais ampla tem acolhimento na Lei n.º 38/2004, de 18 de Agosto, nomeadamente no
seu artigo 2.º, ainda que a este respeito, possa haver legislação complementar, tal como decorre
do artigo 8.º, n.º 4, do CT.
Ora, no caso em concreto, assumindo que estamos perante um trabalhador de mobilidade
reduzida, o que se enquadra na situação prevista no artigo 84.º, do CT, existem um conjuntos de
objectivos essenciais (que são comuns a ambas as categorias): 1) garantir a igualdade de
tratamento e de direitos destes trabalhadores e os demais (artigo 13.º, da CRP e artigos 23.º, 24.º
e 25.º, do CT); 2) facilitar o acesso destes trabalhadores ao mercado de trabalho (artigos 84.º, n.º
2, 85.º, n.º 2 e 86.º 2, do CT); 3) favorecer a adaptação das condições de trabalho à situação
específica destes trabalhadores (artigos 84.º, n.º 1 e 3, artigo 85.º, n.º 1, do CT).
Neste sentido, o empregador está obrigado a disponibilizar maiores espaços comuns de circulação
nas instalações por força de ter um trabalhador que se move apenas em cadeira de rodas.
É então fácil de constatar que para estes trabalhadores existe uma maior tutela de igualdade de
tratamento, concretizada através de medidas de acção positiva e da exigência de adaptação das
condições de trabalho à situação particular destes trabalhadores, tal como já anteriormente
referido.
Deste modo, esta adaptação especial das condições de trabalho, pode ser verificada não apenas
do ponto de vista da criação de condições físicas, através de maiores espaços ou rampas de
acesso, como também do ponto de vista social, através da não sujeição à obrigação de prestar
trabalho suplementar, tal como decorre do artigo 88.º, do CT, sendo certo que mais medidas
especiais de protecção, particularmente no que respeita à sua admissão, condições de prestação
de actividade, adaptação de postos de trabalho e incentivos ao trabalhador e ao empregador,
possam ser estabelecidas por lei ou IRCT, conforme dispõe o n.º 3, do artigo 84.º e o n.º 4, do
artigo 86.º, ambos do CT.