Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
interpenetrations of love.
> Key words
words: Psychoanalysis, conjugality, identification, ideals, subjectivity
ano XVI, n. 176, dezembro/2003
permanece inconsciente sob a forma de ponto, sem que haja investimento sexual
uma fantasia, podendo ocorrer a coexis- direto. Essas três modalidades podem ser
tência de várias identificações. Nessa fase entrelaçadas no jogo identificatório da
da teorização, o conceito de identificação conjugalidade, resultando ora num pro-
assemelhava-se à idéia de imitação, em- cesso enriquecedor das subjetividades
bora não fosse equivalente à mesma. dos parceiros, ora empobrecedor, ou até
A partir de estudos como “Totem e tabu” patológico, nos casos em que o objeto é
(1912), “Luto e melancolia” (1915) e “Sobre tomado como substituto do eu.
o narcisismo” (1914), a noção de incorpo- O. Mannoni (1987) discute o processo for-
>42
mador do eu que deriva de sucessivas Embora consideremos que o protótipo
identificações e desidentificações e tece da identificação é a incorporação do ob-
uma analogia com a assimilação que é jeto sexual, a estruturação da subjetivida-
pertinente ao processo de crescimento de é um processo contínuo e permanen-
corporal. O sujeito cresce porque assimi- te e não há como detectar uma represen-
la aquilo de que se pode apropriar e não tação do incorporado primitivo que ori-
porque se entope de alimento. ginou o primeiro desejo. Observamos que
Esse argumento nos conduz às distinções a escolha de objeto encarna esse incor-
de Torok e Abraham (Torok, 1968; porado primitivo e o reencena em vários
Abraham e Torok, 1972) entre incorpora- tempos e segundo diferentes modalida-
ção e introjeção. Os autores, resgatando des, sendo as modalidades básicas as es-
a discussão de Ferenczi, ressaltam que o colhas narcísica e anaclítica. Na conjugali-
movimento de introjeção não é da ordem dade evidencia-se a revivescência do que
da compensação e sim do crescimento, originou o primeiro desejo, viabilizando a
da expansão. Eles concebem o psiquismo continuidade do processo elaborativo do
submetido a dois princípios: o alargamen- material que fora recalcado.
to e o retraimento. O sujeito é exposto e Eiguer (1985) ressalta que a escolha amo-
submetido à novidade, às heranças, aos rosa equivale às formações de compro-
traumas, aos prazeres e aos encontros. A misso inconscientes, como sintomas ou
forma como cada um integra esses fato- lapsos, enaltecendo as funções de descar-
res é que resultará na expansão ou no re- ga pulsional, alívio econômico e mecanis-
traimento da subjetividade. O sujeito inte- mo defensivo. O autor valoriza o aspecto
gra as representações dadas pelos obje- resolutivo, restitutivo e simbólico do en-
tos, introjetando-as, e não os objetos em contro amoroso, na medida em que pos-
si, incorporando-os. sibilita a elaboração do conflito edípico.
A incorporação é considerada como fra- Abraham (1962) discute a questão da ope-
casso da introjeção. Do nosso ponto de ração simbolizante de identificação, que
vista, na conjugalidade, os sujeitos podem ocorre por meio da transformação de
artigos
soal”, uma identificação que remonta ao servir de modelo, ele se transforma num
ano XVI, n. 176, dezembro/2003
amorosa, na escolha narcísica o sujeito Dessa forma, ela relaciona os ideais à or-
toma o eu ideal como modelo e na esco- dem da ilusão.
lha anaclítica é o ideal do eu que serve de Dentro dessa perspectiva, o ideal do eu é
suporte. o herdeiro do narcisismo, o representan-
pulsional > revista de psicanálise >
se do ego” (1921), passa a colocar a função ria, e o supereu é uma instância que ope-
do ideal do eu em primeiro plano, dife- ra propiciando a formação do ideal. Des-
renciando-a nitidamente do eu. O autor de a perda da onipotência infantil, que
enfatiza as funções de auto-observação, resulta das inevitáveis falhas maternas no
consciência moral, censura dos sonhos e cuidado do bebê, da experiência de desi-
sua influência sobre o recalcamento e lusão, os ideais representam, simult\ânea
acrescenta o valor da distância entre o e paradoxalmente, o desejo de retorno
ideal do eu e o eu real. A distância entre ilusório e uma defesa contra esse retorno,
essas duas instâncias é muito variável e uma tentativa de substitui-lo simbolica-
>47
mente. Com base nessa perspectiva, enfa- poéticas, representando um tipo especí-
tizamos que a relação amorosa é repre- fico de fantasia que torna-se pública e
sentativa dessa tentativa substitutiva. configura-se no mundo exterior.
Os ideais derivam da primeira experiência
Da experiência ilusória à busca de satisfação que constitui a origem do
de integração desejo de completude, são relacionados
No texto freudiano, a distância entre o ao domínio da fantasia e da ilusão. Em
ideal do eu e o eu foi valorizada e relaci- Freud, a ilusão relaciona-se, inicialmente,
onada com a capacidade sublimatória do com a recuperação do narcisismo perdi-
sujeito (Freud, 1921). Chasseguet-Smirgel do e, ao longo da obra, passa a represen-
(1975) ressalta que na experiência amoro- tar uma defesa contra o reconhecimento
sa, desde a escolha do parceiro, sujeito e da inevitabilidade da destrutividade hu-
objeto representam a objetivação da re- mana. A ilusão pode ser vista como fon-
lação entre o eu e o ideal do eu, respec- te de alienação ou como elemento estru-
tivamente, como se o parceiro fosse ca- turante.
paz de encarnar seu ideal. Consideramos que, na conjugalidade, re-
Durante todo o processo de subjetivação, velam-se o papel estruturante da ilusão e
que se perpetua por toda a existência, o dos ideais a ela relacionados, responsá-
sujeito busca preencher o intervalo que veis pela manutenção da relação amoro-
se instaura entre o eu e seu ideal. É a per- sa. Na trama identificatória, esses são os
da do estado narcísico inicial que propi- componentes básicos e estruturantes que
cia o reconhecimento do objeto e o mo- produzem transformações nas subjetivi-
vimento de criação dos ideais. Esse movi- dades dos parceiros.
mento visa à integração do eu e a relação O papel da ilusão na dialética dos proces-
amorosa participa desse esforço integra- sos de identificação e de individuação, foi
dor. A conjugalidade depende do reco- desenvolvido por Winnicott (1951). O au-
nhecimento do objeto como discrimina- tor enfatiza que o sujeito constitui-se
do do eu e da criação de ideais compar- dentro do terreno ilusório da relação fu-
artigos
tilhados. Os ideais, por sua vez, impulsio- sional mãe-bebê, em que a solidão rela-
nam o desenvolvimento psicológico gra- ciona-se com a presença e não com a au-
ças à promessa ilusória que incorporam sência. A presença da mãe suficientemen-
de retorno ao estado de completude. te boa permite ao bebê desenvolver a ca-
pulsional > revista de psicanálise >
1988.
M ANNONI, O. (1987). A desidentificação. In:
EIGUER, A. Um divã para a família. Porto Alegre: MANNONI, M. (Org.). As identificações na clínica
Artes Médicas, 1985. e na teoria psicanalítica. Op. cit.
pulsional > revista de psicanálise >
une question pour la clinique psychanalitique casca e o núcleo. São Paulo: Escuta, 1995.
du couple. Genérations. Paris, n.23, p. 43-46, WINNICOTT, D. (1951). Objetos transicionais e fe-
2001. nômenos transicionais. In: Textos seleciona-
FLORENCE, J. (1987). As identificações. In: MANNO- dos: da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro:
NI , M. (Org.). As identificações na clínica e na
Francisco Alves, 1988.
teoria psicanalítica. Rio de Janeiro: Relume-
Dumará, 1994. Artigo recebido em junho de 2003.
FREUD, S. (1895). Estudos sobre a histeria. In: Aprovado para publicação em novembro de 2003.
>50