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PORTUGUÊS BRASILEIRO:
FORMATO MORFOPROSÓDICO E LATITUDE FUNCIONAL
GarlcsAlexandreGONÇALVES 1
• RESUMO: Estudo dos processos não-concatenativos do português brasileiro, com base na Morfologia Prosódica
(MCCARTHY; 1981,1986). Descrição do formato morfoprosódico da Reduplicaçâo, do Thincamento, da Hipocorização e do
Blend Léxica].
• PALAVRAS-CHAVE: Morfologia não-concatenativa; interface fonologia-morfologia; morfologia prosódica.
Introdução
1
Doutor ern lingüística pela UFRJ, com Pós-Doutoramento na UNICAMP, professor Adjunto III de Língua Portuguesa (UFRJ) e
Pesquisador-Bolsista do CNPq. Departamento de Letras Vernáculas - Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ - 20.711 -050 -
Rode Janeiro - RJ. E-mail: carlexandre@bol.com.br
W Alía,SâoFaulo,48{l):9-28,2004
es), Sufixação (pagod-eiro), Prefixação (in-certo), Composição (puxa-saco) e Circunfixação
(des-alm-ado) são processos que se m a n i f e s t a m pela c o n c a t e n a ç ã o de afixos ou
de radicais, de modo que há c o n d i ç õ e s ó t i m a s para a i s o l a b i l i d a d e de m o r f e m a s ,
No e n t a n t o , há processos que, mesmo considerados m a r g i n a i s , dão mostras
de que o português, sobretudo o brasileiro, também faz uso de expedientes morfoprosódicos
para formar uma nova p a l a v r a ou para e x t e r n a r o p o n t o - d e - v i s t a do f a l a n t e a res-
peito de algo ou a l g u é m . Esses processos s ã o os s e g u i n t e s :
2
Reduplicação
Em C o u t o (1999), e n c o n t r a - s e u m a c o l e ç ã o de processos de r e d u p l i c a ç ã o
utilizados no português do Brasil. Dessa lista, duas operações são p a r t i c u l a r m e n t e
p r o d u t i v a s : (i) a cópia da s í l a b a t ô n i c a de p r e n o m e s p a r a f o r m a r h i p o c o r í s t i c o s
( p r i m e i r a c o l u n a de 01) e (ii) a r e p r o d u ç ã o de t o d os os e l e m e n t o s de u m v e r b o
para formar u m s u b s t a n t i v o , na g r a n d e m a i o r i a das vezes l e x i c a l i z a d o (segunda
coluna).
2
De acordo com Río-Torto (1998), processos como a Mesclagem lexical ('chafé') e o Truncamento (' vagaba') não têm qualquer
paralelo no português europeu. Em Araújo (2000), encontra-se uma discussão pormenorizada das diferenças entre a morfologia do
PBedoPE.Emlrnhasgerais,asduas variedades dispõem de um conjunto nuclear de regras de formação de palavras, mas "oPB lança
mão de recursos ausentes na Gramática do PE" (Araújo, op.cit.,p9). Ao que tudo indica, os processos não-concatenativos estão na
base das diferenças entre as duas variantes.
Hipocorização
Truncamento
12 Ma,SãoFaulo,48(l):9-28,20M
ao e n u n c i a d o , ao r e f e r e n t e ou ao i n t e r l o c u t o r . Dessa m a n e i r a , o T r u n c a m e n t o 3
Como não há d i s t a n c i a m e n t o de s i g n i f i c a d o e n t r e a p a r t e (a f o r m a r e d u z i -
da) e o todo (a p a l a v r a - m a t r i z ) , pode-se dizer que o T r u n c a m e n t o não a p r e s e n t a
f u n ç ã o l e x i c a l . De f a t o , f o r m a s c o mo ' c o m u n a ' (por c o m u n i s t a ) e ' b a t e r a ' (por
baterista) não têm por finalidade a nomeação e/ou a caracterização de seres, eventos
ou estados. Tais c o n s t r u ç õ e s t ê m a f u n ç ã o de a d e q u a r a idéia c o n t i d a no i t e m
l e x i c a l "às necessidades de u t i l i z a ç ão d a q u e l a idéia - ou d a q u e l e i t e m - p a r a a
f o r m a ç ã o de u m t i p o e s p e c í f i c o de e n u n c i a d o " (BASÍLIO, 1987: 66). E m l i n h a s
gerais, f o r m a ç õ e s t r u n c a d a s são r e s p o n s á v e i s pela e x p r e s s ã o do p e j o r a t i v o , re-
v e l a n d o o p o n t o - d e - v i s t a do f a l a n t e sobre o que diz, c h a m a n d o a t e n ç ã o de seu
i n t e r l o c u t o r para algo a v a l i a d o n e g a t i v a m e n t e .
Como se vê em (04), o T r u n c a m e n t o reproduz parte da base, mas t a m b é m se
m a n i f e s t a pelo a c r é s c i m o de u m a v o g a l f i n a l n e m sempre e x i s t e n t e na p a l a v r a -
m a t r i z ('vestiba', por ' v e s t i b u l a r ' , 'estranja', por ' e s t r a n g e i r o ' , e 'sarja', por 'sar-
g e n t o ' ) . A v o g a l -a f u n c i o n a , pois, como u m a e s p é c i e de a f i x o de T r u n c a m e n t o ,
que, por isso, pode ser considerado processo s i m u l t a n e a m e n t e não-concate/iativo
(cópia) e a g l u t i n a t i v o ( a c r é s c i m o de v o g a l f i n a l ) .
Mesclagem lexical
3
Redução Vocabular (ALVES, 1990), Abreviação (SANDMANN, 1990), Braquissemia (MONTEIRO, 1987) e Retroformação (SÂNDALO,
2001) são variações terminológicas usadas para descrever esse processo de formação de palavras que, ao contrário da prefixação e
da sufixação, consiste na diminuição do corpo fônico da palavra derivante.
Siglagem
14 Alfa,SáoFaulo,48(l):9-28,20O4
(07) PT - p e t i s t a , pró-PT, p e t i c e , p e t i s m o
AIDS - a i d é t i c o , a n t i - A I D S
MOBRAL - mobralense, pré-Mobral
UFO - ufólogo, u f o l o g i a
Os processos l i s t a d o s e e x e m p l i f i c a d o s ao l o n g o da s e ç ã o 1 s ã o c o n s i d e r a -
dos n ã o - c o n c a t e n a t i v o s pela f a l t a de e n c a d e a m e n t o . De f a t o , as bases não s ã o
m o d i f i c a d a s pelo a c r é s c i m o de afixos, p a l a v r a s ou radicais, como nas o p e r a ç õ e s
a g l u t i n a t i v a s . Ao c o n t r á r i o , s ã o d e l i m i t a d a s por u m r e s t r i t o r que e f e t i v a m e n t e
c o n t r o l a seu t a m a n h o . E m b o r a seja r e s p o n s á v e l pelo status n ã o - l i n e a r dos p r o -
cessos, é esse r e s t r i t o r que p a r t i c u l a r i z a cada u m a das o p e r a ç õ e s a q u i e x a m i n a -
das.
O formato da reduplicação
08).
Como a p r e s e n ç a de u m e l e m e n t o e m coda - u m a n a s a l n ã o - e s p e c i f i c a d a
para p o n t o , u m a v i b r a n t e ou u m a s e m i v o g a l a n t e r i o r - b l o q u e i a a o p e r a ç ã o e a
maioria esmagadora das bases vem a ser u m dissílabo paroxítono , é possível a d m i t i r 4
Output
mar que a Reduplicação bane sílabas finais travadas, em favor de abertas, e incide
b a s i c a m e n t e em pés binários com c a b e ç a à esquerda. E s t r u t u r a s 'CV.CV - as que
e m e r g e m na f o r m a ç ã o de s u b s t a n t i v o s d e v e r b a i s r e d u p l i c a t i v o s - são i n d i s c u t i -
v e l m e n t e ó t i m a s em p o r t u g u ê s: n e n h u m a o u t r a f o r ma da língua pode ser menos
'Aspoucasformasmonossilábicasfcai-caOetn^
problema marginal nessa análise. De qualquer forma, levandoem conta os resultados de Araújo (2000), 90% dos casos de reduplicação
em verbos incidem em bases dissilábicas.
5
Emoutras palavras, reduplicantes tendem a manifestar apenas um sutx»n]unto de opções fonotáticas permitidas pela língua. A
expressão "emergência do não-marcado" (MCCARTHY: PRINCE, 1994) explicita a idéia de que línguas desenvolvem estruturas não-
marcadas nos contextosem que a influência da fidelidade não é tão imperativa.
(10) André > Dedé Artur > Tutu J o s é > Zezé Sueli > Lili
Carlos > C a c á Glória > Gogó Nílton> Nini Vivian > Vivi
Alberto>Bebé Augusto>Gugu J o s e f i n a > Fifi Valquíria> Kiki
A n g é l i c a > Gegé Américo Memé Fátima > Fafá
dade absoluta com a do prenome, uma vez que não preserva a coda ('Artur' > 'Tutu')
ou o onset complexo ('Glória' > 'Gogó') da p a l a v r a - m a t r i z . Como na Reduplicação
de verbos, efeitos de m a r c a ç ã o g o v e r n a m o conteúdo s e g m e n t a l do r e d u p l i c a n t e ,
que, nesse caso, deverá apresentar, n e c e s s a r i a m e n t e, o f o r m a t o CV. Nos verbos,
as Condições de M a r c a ç ã o a t u a m no próprio input, b l o q u e a n d o bases que conte -
n h a m s í l a b a s t r a v a d a s ou pés m o n o s s i l á b i c o s . Nos h i p o c o r í s t i c o s , por sua vez,
tais c o n d i ç õ e s a g e m sobre uma f o r m a de output: o m o l d e .
Ao contrário do redobro de formas verbais, a Reduplicação e m hipocorísticos
é processada em dois momentos diferentes. Primeiramente, a circunscrição prosódico
reduz a p a l a v r a - m a t r i z ao t a m a n h o de u m a s í l a b a , como se vê em (11) a b a i x o .
Essa s í l a b a é p o s t e r i o r m e n t e a v a l i a d a pelas C o n d i ç õ e s de M a r c a ç ã o (não c o m -
plexidade no onset; não coda) e passa a ser base para a afixação de RED. Na nominalização
de verbos, a c i r c u n s c r i ç ã o f u n c i o n a como u m alvo, para o q u a l s e g m e n t o s meló-
dicos são mapeados. Na f o r m a ç ã o de h i p o c o r í s t i c o s , d i f e r e n t e m e n t e , a c i r c u n s -
crição v e m a ser u m d e l i m i t a d o r prosódico q u e impõ e m i n i m a l i d a d e à p a l a v r a -
matriz.
(11) Input: /Base/
I ^~ c i r c u n s c r i ç ã o ( C o n d i ç õ e s de M i n i m a l i d a d e :
molde / i /O restrito r de palavr a prosódica)
Condições de Marcação |
('complex; não coda) /RED + / lül
[ a b i
Output j a b
6
Há casos de reduplicação em que a sílaba levada para o molde não é a tônica, comodemonstradoem Gonçalves (2004). Hipocorísticos
comoVavá' (de'Valdemar'), 'Vivi' (de'Violeta')e'Lulu'(de'Luciana')são formados a partir da primeira sílaba do antropônimo.
Somente um modelo baseado em rest nçõas pode dar conta das variações encontradas na formação de hipocorísticos, o que é feito
em Gonçalves (2004). Dados como esses não foram considerados por ora.
(12) C o n d i ç õ e s s o b r e o m o l d e : A s í l a b a do m o l d e d e v e a p r e s e n t a r o f o r m a -
to CV, de modo que não são p e r m i t i d o s onsets
c o m p l e x o s ou codas.
7
Para Gonçalves (2001), esse sistema de Hipocorização é o acionado primeiramente. Restrições prosódicas (ausência de onset na
penúltima sílaba ou estruturas silábicas mais complexas) podem levai aos demais sistemas (Reduplicação à esquerda ('Dudu', de
'Eduardo', e 'Lelê', de Leandro) ou à direita da base ('Dedé', de 'André', e 'Teteu', de 'Mateus') e parsing à esquerda ( 'Edu', de
'Eduardo', e 'Rafa', de 'Rafael')).
(14) Felipe > Lípe Raquel > Quél Alexandre > Xánde
Antônio > Tónho Isabel > Bél Edivaldo > Valdo
A u g u s t o > Gúto Marímar > Már F e r n a n d o > Nándo
Filomena > Ména N i c o l a u > Láu Reginaldo > Náldo
Roberto > Beto M i g u e l > Guél Rosimeire > Méire
A v o g a l t ô n i c a do pé mais à d i r e i t a c o n s t i t u i a p r i m e i r a m o r a do t r o q u e u .
H a v e n d o coda o u d i t o n g o pesado (BISOL, 1989) na s í l a b a f i n a l , o t r o q u e u s e r á
m o n o s s i l á b i c o , c o m o e m ' Q u e l ' ('Raquel') e ' L a u ' ( ' N i c o l a u ' ) . Se n ã o h o u v e r r a -
mificação no núcleo o u na r i m a da sílaba f i n a l , ao contrário, t e r - s e - á u m t r o q u e u
d i s s i l á b i c o , c o m o e m ' L e n e ' ( ' M a r i l e n e ' ) e ' X a n d e ' ( ' A l e x a n d r e ' ) . Os l i m i t e s da
circunscrição prosódica sempre c o i n c i d e m com os l i m i t e s da sílaba, pois (i) onsets
nunca d e s g a r r a m de suas r i m a s , (ii) n ú c l e o s n ã o s ã o apagados o u inseridos, (iii )
nem codas s ã o ressilabificadas. E m (15), aparece f o r m a l i z a d o o p r o c e d i m e n t o da
c i r c u n s c r i ç ã o prosódica. Tanto e m ' M a r i l e n e ' q u a n t o e m ' R a q u e l ' , a m a r g e m d i -
reita da base c o i n c i d e c o m a m a r g e m d i r e i t a da c i r c u r s c r i ç ã o prosódica e, c o n -
s e q ü e n t e m e n t e , com a m a r g e m d i r e i t a do molde para a formação do hipocorístico.
Da d i r e i t a para a esquerda, forma-se u m pé b i m o r a i c o , que separa a s e q ü ê n c i a da
base a ser u t i l i z a d a na H i p o c o r i z a ç ã o .
(15) I I
/ \ / \
Ma. r i . [le. ne ] Ra . [ q u e 1 1
E<r D ## E <- D # #
No T r u n c a m e n t o , a c i r c u n s c r i ç ã o m a p e i a u m a s e q ü ê n c i a que n ã o aparece-
^~ circunscrição negativa
(17) (CJ) Ö ü 0~ . parâmetro do pé: forme um pé binário |o a])
I
• • /\D OJ |_R I
. parâmetro da d i r e c i o n a l i d a d e : E
Forma de Base D e s a s s o c i a ç ã o + -a
8
lai procedimento analítico, conforme McCarthy (1986), consiste em omitir informações na representação subjacente, preenchidas
mais tarde, com o propósito de se obter a representação de superfície. Dessa maneira, a presença de uma estrutura prosódica nâo-
preenchida engatilharia um processo automático de cópia dos segmentos da base.
D i s c r e p â n c i a s s e g m e n t a i s e n t r e moldes e h i p o c o r í s t i c o s d e v e m ser e n t e n -
didas como r e s u l t a n t e s do p a p e l d e s e m p e n h a d o pelas Condições de Boa-Forma-
ção Silábica (11). Como os r e d u p l i c a n t e s , t a m b é m os hipocorístico s b a n e m q u a l -
quer tipo de complexidade no onset, de modo que seqüências CC são sempre simplificadas.
Nos t r u n c a m e n t o s , há tolerância q u a n t o à p r e s e n ç a de ataques complexos, como
se vê em (19). Dessa maneira, discordo de Araújo (2000), para q u e m o T r u n c a m e n to
é u m t i p o de processo morfológico em que emergem e s t r u t u r a s n ã o - m a r c a d a s . No
meu entender, o slogan "emergênci a do não-marcado" (McCARTHY; PRINCE, 1994)
somente faz s e n t i d o nos casos de R e d u p l i c a ç ã o e Hipocorização. O T r u n c a m e n t o
- que não n e c e s s a r i a m e n t e forma pés b i n á r i o s e s í l a b a s a b e r t a s e não i m p e d e a
p r e s e n ç a de onsets c o m p l e x o s - é c a r a c t e r i z a d o por p r i v i l e g i a r Fidelidade sobre
M a r c a ç ã o , sendo m u i t o mais fiel à base, preservando u m a s e q ü ê n c i a da p a l a v r a -
matriz que, levando em conta a ação da analogia (BASÍLIO, 1998), pode ser reinterpretada
como raiz.
O formato do Blend
(20) MWd*
MWd MWd
9
A grande maioria dos sufixos do português apresenta o mesmo formato da circunscrição negativa: um dissílabo iniciado por vogal
que, com o onset da base, formará a penúltima sílaba da palavra derivada.
(23) p (a r m ) a e
IV I V
O R O R
a e
p o 1 i t i c a n a g e m
Nos casos em que as bases são totalmente dessemelhantes, não haverá descontinuidade
morfológica. A quebra será feita com base no melhor rastreamento das bases (maior
g r a u de i d e n t i d a d e ) . Por exemplo, ' p o r t u g u ê s' e ' e s p a n h o l' não a p r e s e n t a m q u a l -
quer s e g m e n t o em c o m u m , do p o n t o - d e - v i s t a da e s t r u t u r a ç ã o s i l á b i c a . Nesse
10
10
Asemelhança fônica deve ser interpretada não como a mera presença de um segmento comum, mas como uma semelhança em
termos de posição na estrutura da sílaba. Assim, embora 'show' e 'comício' apresentem uma vogal média posterior em comum (/o/
), essa identidade não é estrutural, uma vez que as rimas são diferentes: na primeira palavra, arimaé ramificada (/ow/), enquanto
na segunda a rima é constituída unicamente da vogal média (/o/). Dessa forma, 'show' e 'comício' são interpretadas como
dessemelhantes, sendo o Blend formado a partir do padrão 2 ('showmício').
11
De acordo com Villalva (2000), Rio-Torto (1998) e Silveira (2002) não são produtivos os chamados compostos aglutinados, cujo
produto leva a uma só palavra prosódica.
Em r e s u m o , a M e s c l a g e m L e x i c a l é u m processo de f o r m a ç ã o de p a l a v r a s
que acessa i n f o r m a ç õ es fonológicas, como (a) a posição do a c e n t o de P I e P2, (b)
o g r a u de s e m e l h a n ç a f ô n i c a e n t r e as bases e (c) a n a t u r e z a e s t r u t u r a l da se-
qüência c o m p a r t i l h a d a pelas formas a c o m b i n a r . Por esses m o t i v o s , deve ser vis-
ta não c o mo u m caso de s u b s t i t u i ç ã o s u b l e x i c a l , c o m o as c r i a ç õ e s a n a l ó g i c a s ,
mas como uma fusão que leva à c o n c a t e n a ç ã o não-linear de bases, o que faz c o m
que essa o p e r a ç ã o se d i f e r e n c i e da C o m p o s i ç ã o , cuja l i g a ç ã o s e m p r e se dá por
encadeamento, seja ele por justaposição ('baba-ovo', bajulador) ou por aglutinaçã o
('girassol', t i p o de f l o r ) .
Palavras Finais
25
Alfa,SãoPaulo, 48(1): 9-28,2004
rem dos demais por e n v o l v e r e m m a p e a m e n t o de mais de u m a base. No p r i m e i r o
caso ( M e s c l a g e m L e x i c a l ) , u m a p a r t e da p a l a v r a 1 é f u n d i d a c o m u m a p a r t e da
p a l a v r a 2, r e s u l t a n d o n u m a t e r c e i r a f o r m a , cujo c o n t e ú d o f i n a l pode ser i n t e r -
pretado pela soma dos c o n t e ú d o s parciais ('psicogélico' = u m psicólogo e v a n g é -
lico). A S i g l a g em t a m b é m faz uso de mais de u m a p a l a v r a - m a t r i z , mas há m a i o r
d i s t a n c i a m e n t o e n t r e base e p r o d u t o , de modo que os f a l a n t e s m u i t a s vezes não
c o n s e g u e m rastrear a e x p r e s s ã o de onde provém o a c r ô n i m o . U m a vez que pelo
menos duas bases p a r t i c i p a m de sua formação, Mesclas e Siglas p o d em ser i n t e r -
p r e t a d a s como casos de C o m p o s i ç ã o , apesar de as p r i m e i r a s o p e r a r e m c o m , no
máximo, duas p a l a v r a s - m a t r i z es ('gayúcho' = ' g a ú c h o ' + 'gay') e as últimas com
u m númer o que t e n d e a ser s u p e r i o r a dois ('IBGE' - ' I n s t i t u t o Brasileir o de Ge-
o g r a f i a e E s t a t í s t i c a ' ) . Mesclas Lexicais e Siglas se c a r a c t e r i z a m pelo a p r o v e i t a -
mento de pelo menos duas bases, mas, ao contrário da Composição, u t i l i z a m ape-
nas f r a g m e n t o s delas, o que nos leva a c o n c l u i r que não há c o n c a t e n a ç ã o e s t r i -
ta, mas fusão n u m p l a n o m u l t i l i n e a r .
E n q u a n t o Siglagem e Blend quase sempre a p r e s e n t a m função l e x i c a l , t e n -
do o produto a finalidade de nomear uma nova entidade, favorecendo a lexicalização,
hipocorísticos e t r u n c a m e n t o s são sempre utilizados com função expressiva, m u i t o
embora o t i p o de expressividade seja d i f e r e n t e em cada u m . Na Reduplicação, há
casos que e v i d e n c i a m f u n ç ã o l e x i c a l (verbos r e d u p l i c a d o s ) e casos u n i c a m e n t e
com função expressiva, de modo que esse processo se apresenta"como m u l t i f u n c i o n a l
em p o r t u g u ê s (COUTO, 1999).
P o r t a n t o , s ã o b a s i c a m e n t e c i n c o as d i f e r e n ç a s e n t r e os processos (a) de
Afixação Não-Linear (Reduplicação), (b) de Encurtamento (Truncamento e Hipocorização)
e (c) de Fusão ( M e s c l a g e m L e x i c a l e Siglagem) :
(1) os dois p r i m e i r o s g r u p o s têm c o mo input u m a ú n i c a base, a p a r t i r da
q u a l opera a c i r c u n s c r i ç ã o prosódica; os do terceiro, ao contrário, r e q u e r e m pelo
menos duas bases;
(2) as o p e r a ç õ e s dos g r u p o s (a) e (b) podem ser consideradas d e r i v a c i o n a i s ,
ao passo que as do g r u p o (c) devem ser i n t e r p r e t a d a s como casos de c o m p o s i ç ã o ;
(3) os processos do grup o (a) levam o m a t e r i a l rastreado a se a d j u n g i r à forma
de base, o que não a c o n t e c e com os demais;
(4) os mecanismo s do g r u p o (b) não f o r m a m p a l a v r a s novas, haja v i s t a que
o i t e m d e r i v a d o - que pode ser c o n s i d e r a d o s i n ô n i mo do d e r i v a n t e - é m a r c a d o
pela f u n ç ã o expressiva (BASÍLIO, 1987);
(5) os do grupo (c) apresentam função lexical, uma vez que o produto é geralmente
uma nova p a l a v r a na língua.
No decorrer do t e x t o , p r o c u r e i r e f u t a r a tese de que esses "processos m a r -
g i n a i s de f o r m a ç ã o de p a l a v r a s " são i d i o s s i n c r á t i c o s (ALVES, 1990; MONTEIRO,
1987). A regularidade de tais operações provém da integração de primitivos morfológicos
com p r i m i t i v o s prosódicos e, por isso, uma a b o r d a g e m mais compreensiva de tais
fenômenos requer enfoque a p a r t i r da i n t e r f a c e M o r f o l o g i a - F o n o l o g i a . Os proce-
d i m e n t o s a n a l í t i c o s da M o r f o l o g i a Prosódica - moldes e c i r c u n s c r i ç õ e s - possi-
bilitam descrever processos não-concatenativos de modo bastante natural, explicitando
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