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PROCESSOS MORFOLÓGICOS NÃO-CONCATENATIVOS DO

PORTUGUÊS BRASILEIRO:
FORMATO MORFOPROSÓDICO E LATITUDE FUNCIONAL

GarlcsAlexandreGONÇALVES 1

• RESUMO: Estudo dos processos não-concatenativos do português brasileiro, com base na Morfologia Prosódica
(MCCARTHY; 1981,1986). Descrição do formato morfoprosódico da Reduplicaçâo, do Thincamento, da Hipocorização e do
Blend Léxica].
• PALAVRAS-CHAVE: Morfologia não-concatenativa; interface fonologia-morfologia; morfologia prosódica.

Introdução

O o b j e t i v o deste t e x t o é mostrar que o português, apesar de ser u m a língua


de Morfologia p r e d o m i n a n t e m e n t e a g l u t i n a t i v a , t a m b ém faz uso de processos não-
c o n c a t e n a t i v o s (McCARTHY, 1981) para a m p l i a r seu v o c a b u l á r i o o u para expres-
sar carga emocional variada. Proponho que essas operações morfofonológicas sejam
distribuídas em três grupos: (a) Processos de Afixação Não-Linear (Reduplicaçâo),
(b) de E n c u r t a m e n t o ( T r u n c a m e n t o e Hipocorização ) e (c) de Fusão ( M e s c l a g e m
Lexical e Siglagem) .
Não descritos de f o r m a s i s t e m á t i c a e m nossa língua e i n t e r p r e t a d o s como
i r r e g u l a r e s pela maior p a r t e dos estudiosos que lhes d e d i c a r a m a l g u m a a t e n ç ã o
(ROCHA, 1998; FREITAS, 1998; LAROCA, 1994; S A N D M A N N , 1990; BASÍLIO* 1987),
processos n ã o - c o n c a t e n a t i v o s e n c o n t r a m g u a r i t a ern a b o r d a g e n s n ã o - l i n e a r e s ,
como a M o r f o l o g i a Prosódica (McCARTHY, 1986; M c C A R T H Y ; PRINCE, 1990), e
podem ser considerados c i r c u n s c r i t i v o s (LACY, 1999): i n t e i r a m e n t e d e s p r o v i d o s
de c o n t e ú d o s u b j a c e n t e , t ê m m a t e r i a l i z a ç ã o s e g m e n t a i r e s u l t a n t e da d e l i m i t a -
ção de u m domínio sobre a(s) base(s) e t a m a n h o d e t e r m i n a d o por r e s t r i ç õ e s so-
bre a f o r ma prosódica.
Na história da Morfologia, processos não-concatenativos - os "mal-comportados
da formação de palavras" por não se ajustarem bem ao modelo Item-e-Arranjo (JENSEN,
1991, p.74) - foram diretamente responsáveis pelo esvaziamento da noção de morfema,
que de "coisa" t a m b é m passou a ser i n t e r p r e t a d o como "regra". A razão desse m a l -
c o m p o r t a m e n t o , mostra Spencer (1991, p. 133), repousa no fato de tais o p e r a ç õ e s
não constituírem " m o r f o l o g i a p u r a , mas m o r f o l o g i a que requer acesso a i n f o r m a -
ções p r o s ó d i c a s ", r e s u l t a n d o da i n t e g r a ç ã o de p r i m i t i v o s morfológicos ( r a d i c a l ,
afixo) c o m p r i m i t i v o s prosódicos ( m o r a , p é ) .
Com o advento das Fonologias Não-Lineares, operações não processadas pela
adjunção s i n t a g m á t i c a de morfemas foram progressivamente ganhand o destaque,

1
Doutor ern lingüística pela UFRJ, com Pós-Doutoramento na UNICAMP, professor Adjunto III de Língua Portuguesa (UFRJ) e
Pesquisador-Bolsista do CNPq. Departamento de Letras Vernáculas - Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ - 20.711 -050 -
Rode Janeiro - RJ. E-mail: carlexandre@bol.com.br

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passando de Morfologia-fundo à Morfologia-figura. Desde McCarthy (1981) - abordagem
p i o n e i r a sobre a infixação em á r a b e a p a r t i r do padrão CCC de raízes - , v e m cres-
cendo o interesse por processos não-concatenativos: diversas análises sobre Reduplicação,
Infixação e Ablaut proporcionaram o rápido desenvolvimento da Morfologia Prosódica
(McCARTHY, 1986) e, nos dias de hoje, operações desse tipo são de interesse centra l
na c h a m a d a Teoria da Correspondênci a (McCARTHY; PRINCE, 1995), u m a e x t e n -
são da Teoria da O t i m a l i d a d e a p l i c a d a à M o r f o l o g i a (BENUA, 1995).
Pesquisas sobre f e n ô m e n o s n ã o - a g l u t i n a t i v o s são v i t a i s para a c o n s o l i d a -
ç ã o da Teoria da C o r r e s p o n d ê n c i a , cuja r e l e v â n c i a v e m sendo q u e s t i o n a d a nos
últimos anos ( H A L E ; KISSOCK; REISS, 2000 ; WALTHER, 2001). E s t á sendo posta
em x e q u e a c o - e x i s t ê n c i a de vários c o n j u n t o s de r e s t r i ç õ e s de f i d e l i d a d e n u m a
Gramática - I n p u t - O u t p u t (McCARTHY; PRINCE, 1993), O u t p u t - O u t p u t (FUKAZAWA,
1997), Base-Reduplicante (McCARTHY; PRINCE, 1995) e Base-Truncamento (BENUA,
1995). Para resolver esse impasse, processos de cópia, como os analisados neste
t e x t o , vêm e m e r g i n d o da obscuridade e o c u p a n d o l u g a r de d e s t a q u e na Lingüís-
tica c o n t e m p o r â n e a .
No p r e s e n t e a r t i g o , além de s a l i e n t a r que a m o r f o l o g i a p o r t u g u e s a não se
o r g a n i z a u n i c a m e n t e pela s u c e s s ã o l i n e a r de f o r m a t i v o s , b u s c o : (1) m a p e a r as
estratégias não-aglutinativas utilizadas com função lexical ou expressiva no português
b r a s i l e i r o ; (2) m o s t r a r como elas se m a n i f e s t a m em nossa língua; (3) a p r e s e n t a r
os d i s p o s i t i v os morfo-prosódicos ativado s por elas; e, por f i m , (4) a r g u m e n t a r em
favor do r e c o n h e c i m e n t o de três tipos b á s i c o s de processos - os de Afixação Não-
Linear, os de E n c u r t a m e n t o e os de Fusão.
Esta abordagem, que deve ser i n t e r p r e t a d a como descritiva, não propõe uma
a n á l i s e dos f e n ô m e n o s à luz da Teoria da Correspondência, o que é feito em Gon-
ç a l v e s (em p r e p a r a ç ã o ) . Com o i n t u i t o de r e f u t a r a idéia de q u e as c o n s t r u ç õ e s
a q u i e x a m i n a d a s s ã o " i m p r e v i s í v e i s " ( S A N D M A N N , 1990), " n ã o - s u s c e t í v e i s de
f o r m a l i z a ç ã o " (LAROCA, 1994) ou mesmo "processos m a r g i n a i s de f o r m a ç ã o de
palavras" (ALVES, 1990), utilizo a Morfologia Prosódica (McCARTHY; PRINCE, 1990)
para i n i c i a r u m a d e s c r i ç ão da c o n t r a p a r t e n ã o - c o n c a t e n a t i v a da M o r f o l o g i a por-
tuguesa.
O texto aparece estruturado da seguinte maneira: na seção 1, listo e exemplifico
os processos que considero n ã o - a g l u t i n a t i v o s em p o r t u g u ê s , c o m ê n f a s e e m sua
l a t i t u d e f u n c i o n a l . Na s e ç ã o s e g u i n t e , destaco as s e m e l h a n ç a s e as d i f e r e n ç a s
e n t r e eles, a n a l i s a n d o o f o r m a t o morfoprosódico de cada u m . Por f i m , elenco as
p r i n c i p a i s c o n c l u s õ e s do t r a b a l h o , a p r e s e n t a n do as m o t i v a ç õ e s que me l e v a r a m
a d i s t r i b u i r as o p e r a ç õ e s nos g r u p o s a c i m a m e n c i o n a d o s .

Processos não-lineares do português brasileiro

Estudos sobre o português, t r a d i c i o n a l m e n t e alicerçados na noção de " i t e m " ,


t e n d e m a conceber a M o r f o l o g i a como u m módulo s i n t a g m a t i c a m e n t e d e t e r m i n a -
do pelo e n c a d e a m e n t o de f o r m a t i v o s . Sem dúvida a l g u m a , o português é u m a lín-
gua q u e se a j u s t a b e m a u m a d e s c r i ç ã o que isola e n t i d a d e s m o r f o l ó g i c a s , u m a
vez que a g r a n d e m a i o r i a das o p e r a ç õ e s é, de f a t o , a g l u t i n a t i v a . F l e x ã o ( f e l i z -

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es), Sufixação (pagod-eiro), Prefixação (in-certo), Composição (puxa-saco) e Circunfixação
(des-alm-ado) são processos que se m a n i f e s t a m pela c o n c a t e n a ç ã o de afixos ou
de radicais, de modo que há c o n d i ç õ e s ó t i m a s para a i s o l a b i l i d a d e de m o r f e m a s ,
No e n t a n t o , há processos que, mesmo considerados m a r g i n a i s , dão mostras
de que o português, sobretudo o brasileiro, também faz uso de expedientes morfoprosódicos
para formar uma nova p a l a v r a ou para e x t e r n a r o p o n t o - d e - v i s t a do f a l a n t e a res-
peito de algo ou a l g u é m . Esses processos s ã o os s e g u i n t e s :
2

Reduplicação

Em C o u t o (1999), e n c o n t r a - s e u m a c o l e ç ã o de processos de r e d u p l i c a ç ã o
utilizados no português do Brasil. Dessa lista, duas operações são p a r t i c u l a r m e n t e
p r o d u t i v a s : (i) a cópia da s í l a b a t ô n i c a de p r e n o m e s p a r a f o r m a r h i p o c o r í s t i c o s
( p r i m e i r a c o l u n a de 01) e (ii) a r e p r o d u ç ã o de t o d os os e l e m e n t o s de u m v e r b o
para formar u m s u b s t a n t i v o , na g r a n d e m a i o r i a das vezes l e x i c a l i z a d o (segunda
coluna).

(01) F á t i m a > Fafá Puxa-puxa 'doce'


Angélica > Gegé Bate-bate ' c a r r i n h o de a u t o p i s t a '
Carlos > Cacá Pega-pega 'brincadeira infantil'
Barnabé > Bebé L a m b e - l a m b e ' m á q u i n a fotográfica'
André > Dedé Pula-pula ' b r i n q u e d o de p a r q u e de d i v e r s ã o '

Por copiar segmento s de u m a base, o r e d u p l i c a n t e não a p r e s e n ta c o n t e ú d o


segmentai. Dessa maneira, o morfema reduplicativo pode ser considerado subespecificado,-
codificando nada além de uma representação prosódica. Embora envolvam reduplicação,
os dados de (01) d i f e r e m e m vários aspectos. A p r i m e i r a c o l u n a e x e m p l i f i c a ca-
sos de cópia p a r c i a l (apenas p a r t e da base é r e p r o d u z i d a ) , e n q u a n t o a s e g u n d a
i l u s t r a casos de cópia t o t a l (a p a l a v r a é r e d u p l i c a d a por i n t e i r o ) . Além disso, a
c i r c u n s c r i ç ã o - p r o c e d i m e n t o a n a l í t i c o que d e l i m i t a u m domínio p r o s ó d i c o so-
bre bases (McCARTHY, 1991) - f u n c i o n a como u m alvo para o q u a l segmentos me-
lódicos são mapeados, na s e g u n d a c o l u n a : o r e d u p l i c a n t e é a n e x a d o à p a l a v r a -
matriz. Nos hipocorísticos, ao contrário, a circunscrição funciona como um delimitador
que e f e t i v a m e n t e redu z a base ao t a m a n h o de u m a s í l a b a , q u e s e r á p o s t e r i o r -
mente r e d u p l i c a d a .
Do p o n t o - d e - v i s t a s e m â n t i c o , a r e d u p l i c a ç ã o que c a r a c t e r i z a os dados da
p r i m e i r a coluna deve ser vista não como processo que forma nova u n i d a d e lexical,
uma vez que hipocorísticos e a n t r o p ô n i m o s d i f e r e m u n i c a m e n t e q u a n t o ao v a l o r
e s t i l í s t i c o / c o n t e x t u a l , f u n c i o n a n d o , na v e r d a d e , como s i n ô n i m o s . No caso dos
verbos, há f u n ç ã o s i n t á t i c a ( m u d a n ç a de classe) e, m u i t a s vezes, o s u b s t a n t i v o

2
De acordo com Río-Torto (1998), processos como a Mesclagem lexical ('chafé') e o Truncamento (' vagaba') não têm qualquer
paralelo no português europeu. Em Araújo (2000), encontra-se uma discussão pormenorizada das diferenças entre a morfologia do
PBedoPE.Emlrnhasgerais,asduas variedades dispõem de um conjunto nuclear de regras de formação de palavras, mas "oPB lança
mão de recursos ausentes na Gramática do PE" (Araújo, op.cit.,p9). Ao que tudo indica, os processos não-concatenativos estão na
base das diferenças entre as duas variantes.

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sinaliza u m a a ç ã o c o n t i n u a m e n t e r e p e t i d a , como se vê e m (02), o qu e nos leva a
interpretar a Reduplicação como u m morfema aspectual de i t e r a t i v i d a d e , seguindo
Araújo (2000).

(02) corre-corre pinga-pmga


coça-coça empurra-empurra
beija-beija agarra-agarra
raspa-raspa roça-roça

Hipocorização

De acordo com G o n ç a l v e s (2001, p. 1), Hipocorização é o processo pelo q u a l


nomes próprios s ã o abreviados a f e t i v a m e n t e , " r e s u l t a n d o n u m a f o r m a d i m i n u t a
que mantém identidade com o prenome ou com o sobrenome original". Hipocorísticos
devem ser i n t e r p r e t a d o s , pois, como apelidos. Se, por u m lado, hipocorístico s s ã o
apelidos, por outro apelidos não são, necessariamente, hipocorísticos. Em o u -
tras p a l a v r a s , a seta q u e r e l a c i o n a esses dois c o n c e i t o s n ã o é b i d i r e c i o n a l , u m a
vez que a p e l i d o, na q u a l i d a d e de hiperônimo, é, nas p a l a v r a s de M o n t e i r o (1987,
p. 187), " t e r m o g e r a l de q u e os h i p o c o r í s t i c o s c o n s t i t u e m e s p é c i e " .
Para haver Hipocorização, é n e c e s s á r i o qu e o t e r m o a f e t i v o a p r e s e n te rela-
ç ã o de c o r r e s p o n d ê n c i a c o m o p r e n o m e (GONÇALVES, 2001), isto é, deve h a v e r
fidelidade suficiente para que o antropônimo seja rastreado. Dessa maneira, 'Chico'
é hipocorístico de 'Francisco', mas não ' Q u i n o ' , analisad o apenas como a p e l i d o .
Em Gonçalve s (2001), apresenta-se uma lista de sistemas de Hipocorizaçã o
e n c o n t r a d o s no p o r t u g u ê s do B r a s i l . O m o d e l o default, e x e m p l i f i c a d o e m (03),
preserva o a c e n t o l e x i c a l das p a l a v r a s - m a t r i z e s , escaneando, da d i r e i t a p a r a a
esquerda, um troqueu moraico. Se a sílaba final apresentar coda, o pé será monossilábico
( c o l u n a 1). Caso c o n t r á r i o , o t r o q u e u será c o n s t i t u í d o de duas s í l a b a s leves (co-
l u n a 2).

(03) Raquel > Quel Felipe > Lipe


Irineu > Neu M a r i l e n a > Lena
M i g u e l > Guel Leopoldo > Poldo
Marimar > Mar A u g u s t o > Guto
Marissol > Sol Fernando > Nando

Com função de a t i t u d e s u b j e t i v a (BASÍLIO, 1987), a Hipocorização n ã o leva


à formação de u m a nova palavra, não apresentando, p o r t a n t o , função l e x i c a l . Por
seu c a r á t e r e s s e n c i a l m e n t e a f e t i v o , esse processo se assemelha à l i n g u a g e m i n -
f a n t i l , fazendo e m e r g i r formas n ã o - m a r c a d a s (McCARTHY; PRINCE, 1994).

Truncamento

Formações truncadas (04) sinalizam o impacto pragmático do falante em relação

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ao e n u n c i a d o , ao r e f e r e n t e ou ao i n t e r l o c u t o r . Dessa m a n e i r a , o T r u n c a m e n t o 3

pode ser c o n c e b i d o como recurso morfológico de n a t u r e z a e x p r e s s i v a , e s t a n d o


relacionado, p o r t a n t o , à modalização a p r e c i a t i v a (LOURES, 2000), a t r a v é s da q u a l
o l o c u t o r i m p r i m e sua m a r c a ao e n u n c i a d o , i n s c r e v e n d o - s e , e x p l í c i t a ou i m p l i -
c i t a m e n t e , na mensagem .

(04) delega (delegado) salafra (salafrário ) Maraca ( M a r a c a n ã )


sapa (sapatão) analfa (analfabeto) estranja (estrangeiro)
cerva (cerveja) g u r j a (gorjeta) vagab a (vagabunda )

Como não há d i s t a n c i a m e n t o de s i g n i f i c a d o e n t r e a p a r t e (a f o r m a r e d u z i -
da) e o todo (a p a l a v r a - m a t r i z ) , pode-se dizer que o T r u n c a m e n t o não a p r e s e n t a
f u n ç ã o l e x i c a l . De f a t o , f o r m a s c o mo ' c o m u n a ' (por c o m u n i s t a ) e ' b a t e r a ' (por
baterista) não têm por finalidade a nomeação e/ou a caracterização de seres, eventos
ou estados. Tais c o n s t r u ç õ e s t ê m a f u n ç ã o de a d e q u a r a idéia c o n t i d a no i t e m
l e x i c a l "às necessidades de u t i l i z a ç ão d a q u e l a idéia - ou d a q u e l e i t e m - p a r a a
f o r m a ç ã o de u m t i p o e s p e c í f i c o de e n u n c i a d o " (BASÍLIO, 1987: 66). E m l i n h a s
gerais, f o r m a ç õ e s t r u n c a d a s são r e s p o n s á v e i s pela e x p r e s s ã o do p e j o r a t i v o , re-
v e l a n d o o p o n t o - d e - v i s t a do f a l a n t e sobre o que diz, c h a m a n d o a t e n ç ã o de seu
i n t e r l o c u t o r para algo a v a l i a d o n e g a t i v a m e n t e .
Como se vê em (04), o T r u n c a m e n t o reproduz parte da base, mas t a m b é m se
m a n i f e s t a pelo a c r é s c i m o de u m a v o g a l f i n a l n e m sempre e x i s t e n t e na p a l a v r a -
m a t r i z ('vestiba', por ' v e s t i b u l a r ' , 'estranja', por ' e s t r a n g e i r o ' , e 'sarja', por 'sar-
g e n t o ' ) . A v o g a l -a f u n c i o n a , pois, como u m a e s p é c i e de a f i x o de T r u n c a m e n t o ,
que, por isso, pode ser considerado processo s i m u l t a n e a m e n t e não-concate/iativo
(cópia) e a g l u t i n a t i v o ( a c r é s c i m o de v o g a l f i n a l ) .

Mesclagem lexical

Também chamados de Cruzamentos Vocabulares (SANDMANN, 1990: SILVEIRA,


2002), Palavras-Valise (ALVES, 1990) e M i s t u r a s (SÂNDALO, 2001), Mesclas Lexicais
são formas criadas pela j u n ç ã o de duas palavras já existentes na língua, como se
vê em (05). Diferentes dos compostos, que tendem a preservar o conteúdo segmentai
das bases ( ' p o r t a - l u v a s ' e ' b ó i a - f r i a ' ) , Mesclas são c a r a c t e r i z a d a s pela i n t e r s e -
ção de palavras, de modo que é impossível recuperar, através de processos fonológicos
como crase, elisão e h a p l o l o g i a , as s e q ü ê n c i a s p e r d i d a s .

(05) chafé (chá + café) s a c o l é (saco + p i c o l é )


g a y r o t o (gay + garoto) c a r i ú c h o (carioca + g a ú c h o )
cantriz (cantora + atriz) p s i c o g é l i c o (psicólogo 4- e v a n g é l i c o )
m a t e i (mato + m o t e l ) a p e r t a m e n t o ( a p a r t a m e n t o + aperto)

3
Redução Vocabular (ALVES, 1990), Abreviação (SANDMANN, 1990), Braquissemia (MONTEIRO, 1987) e Retroformação (SÂNDALO,
2001) são variações terminológicas usadas para descrever esse processo de formação de palavras que, ao contrário da prefixação e
da sufixação, consiste na diminuição do corpo fônico da palavra derivante.

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Como assinala Silveira (2002), a M e s c l a g e m , na g r a n d e m a i o r i a dos casos,
s i n a l i z a o p o n t o - d e - v i s t a do emissor em r e l a ç ã o ao o b j e t o do e n u n c i a d o , c o mo
em ' t r i s t e m u n h o ' ( ' t e s t e m u n h o ' + ' t r i s t e ' ) , que e x t e r n a l i z a a opinião do f a l a n t e
sobre o t e s t e m u n h o , c o n s i d e r a do difícil, penoso ou custoso. A p e j o r a t i v i d a d e é,
sem dúvida, o caso por e x c e l ê n c i a da e x p r e s s ã o s u b j e t i v a do f a l a n t e (BASÍLIO,
1987). É nesse c a m p o que as Mesclas e n c o n t r a m seu maior p o t e n c i a l de uso, re-
v e l a n d o i n t e n ç ã o d e p r e c i a t i v a do emissor, como ocorre em ' c r i l o u r o ' (negro que
se faz passar por l o u r o , t i n g i n d o os cabelos), ' v a g a r a n h a ' ( p r o s t i t u t a e m exces-
so) e 'Chattoso' (Mattoso Camara Jr., por sua obra, considerada "chata" pelos alunos
da Fac. de Letras da UFRJ).
A Mesclagem, além de apresentar função d i s c u r s i v a , t a m b é m pode ser usa-
da para formar novas unidades lexicais, a exemplo do que ocorre com as já dicionarizadas
' s a c o l é ' ( u m t i p o especial de picolé, em f o r m a de saco) e ' p o r t u n h o l ' ( m i s t u r a de
português com espanhol). Assim, esse tipo de processo, ao contrário do Truncamento
e da Hipocorização, t a m b é m apresenta função lexical , servind o para r o t u l a r e/ou
c a r a c t e r i z a r seres, eventos ou estados.
Condições prosódicas d e v e m ser satisfeitas no m o l d e das Mesclas, de modo
que o processo não é a r b i t r á r i o , mas r e g i d o s o b r e t u d o pela s e m e l h a n ç a fônica
e n t r e as bases, como destacarei na s e ç ã o s e g u i n t e . A s i s t e m a t i c i d a d e dessa ope-
ração só pode ser observada na interação Morfologia-Prosódia, o que difere Mesclagem
de Composição, fazendo do p r i m e i r o u m a o p e r a ç ã o c i r c u n s c r i t i v a e do s e g u n d o
u m processo a g l u t i n a t i v o .

Siglagem

Siglagem, Redução S i n t a g m á t i c a (LAROCA, 1994), Acronímia (MONTEIRO,


1987) e A b r e v i a ç ã o ( S A N D M A N N , 1990) s ã o t e r m o s q u e f a z e m r e f e r ê n c i a a u m
processo que c o n s i s te na c o m b i n a ç ã o das i n i c i a i s de u m n o m e c o m p o s t o ou de
uma e x p r e s s ã o . Os dados de (06) e v i d e n c i a m que o s e g m e n t o i n i c i a l pode ser u m
som ou u m a s í l a b a .

(1) CUT ( C e n t r a l Ú n i c a dos T r a b a l h a d o r e s )


BANERJ (Banco do Estado do Rio de J a n e i r o )
EMBRATEL (Empresa Brasileira de t e l e c o m u n i c a ç õ e s )
PT (Partido dos Trabalhados)
CDF (Cabeç a de Ferro)

Uma vez criados e d i f u n d i d o s , os a c r ô n i m o s passam a ter a u t o n o m i a e m re-


lação ao s i n t a g m a que lhes de u o r i g e m . M u i t a s vezes, o f a l a n t e , apesar de reco-
nhecer o s i g n i f i c a d o do a c r ô n i m o , não c o n s e g u e r a s t r e a r a e x p r e s s ã o o r i g i n a l ,
a n a l i s a n d o a s i g l a c o m o p a l a v r a p r i m i t i v a . Sendo p a s s í v e i s de r e c e b e r a f i x o s ,
como em (07), acrônimos podem formar derivados, o que c o m p r o v a ser a Siglagem
u m processo em que p r e d o m i n a a funçã o l e x i c a l .

14 Alfa,SáoFaulo,48(l):9-28,20O4
(07) PT - p e t i s t a , pró-PT, p e t i c e , p e t i s m o
AIDS - a i d é t i c o , a n t i - A I D S
MOBRAL - mobralense, pré-Mobral
UFO - ufólogo, u f o l o g i a

O d i s t a n c i a m e n t o das formas de base advém da p e q u e n a r e l a ç ã o de i d e n t i -


dade e n t r e a sigla e a e x p r e s s ã o , u m a vez que apenas a s e q ü ê n c i a i n i c i a l é c o p i -
ada. Em d e c o r r ê n c i a, é g r a n d e a p r o b a b i l i d a d e de o a c r ô n i m o s u p l a n t a r de vez o
sintagma-base, a exemplo do que v e m ocorrendo com CPF ( a b r e v i a ç ã o de 'Cadas-
tro de Pessoas F í s i c a s ' ) , que já não m a n t é m q u a l q u e r r e l a ç ã o de c o r r e s p o n d ê n c i a
com a e x p r e s s ã o que lhe de u o r i g e m .
Na próxima s e ç ã o , p r o c u r o mapear as s e m e l h a n ç a s e as d i f e r e n ç a s e n t r e as
o p e r a ç õ e s ora a p r e s e n t a d a s . Para t a n t o , p r o p o n h o u m f o r m a t o morfo-prosódic o
para cada u m a , u t i l i z a n d o a c i r c u n s c r i ç ã o - p r o c e d i m e n t o a m p l a m e n t e d i f u n d i -
do no p a r a d i g m a da M o r f o l o g i a Prosódica (MAcCARTHY; PRINCE, 1990).

Sobre o formato morfo-prosódico dos processos

Os processos l i s t a d o s e e x e m p l i f i c a d o s ao l o n g o da s e ç ã o 1 s ã o c o n s i d e r a -
dos n ã o - c o n c a t e n a t i v o s pela f a l t a de e n c a d e a m e n t o . De f a t o , as bases não s ã o
m o d i f i c a d a s pelo a c r é s c i m o de afixos, p a l a v r a s ou radicais, como nas o p e r a ç õ e s
a g l u t i n a t i v a s . Ao c o n t r á r i o , s ã o d e l i m i t a d a s por u m r e s t r i t o r que e f e t i v a m e n t e
c o n t r o l a seu t a m a n h o . E m b o r a seja r e s p o n s á v e l pelo status n ã o - l i n e a r dos p r o -
cessos, é esse r e s t r i t o r que p a r t i c u l a r i z a cada u m a das o p e r a ç õ e s a q u i e x a m i n a -
das.

O formato da reduplicação

D i f e r e n t e dos o u t r o s processos, a R e d u p l i c a ç ã o pode ser c o n s i d e r a d a " u m


tipo " d i f e r e n t e" de afixação " (STRUIJKE, 2000, p.2, grifo nosso), pois o r e d u p l i c a n t e
é l i n e a r m e n t e ligad o à f o r m a p r o j e t a d a para o molde, v i a c i r c u n s c r i ç ã o prosódica
(McCARTHY; PRINCE, 1995). Nos exemplos listados e m (01), não há como d e c i d i r
se a p o r ç ã o r e d u p l i c a d a é p r e p o s t a ou p o s p o s t a à base, u m a vez q u e a c ó p i a é
t o t a l : nos h i p o c o r í s t i c o s , a s í l a b a CV é i n t e i r a m e n t e r e p r o d u z i d a , e n q u a n t o na
n o m i n a l i z a ç ã o todo o verbo sofre r e d o b r o .
Na n o m i n a l i z a ç ã o , a base é a 3-pessoa do s i n g u l a r do presente, uma f o r ma
n e u t r a do p o n t o - d e - v i s t a c o g n i t i v o (BYBEE, 1985; GÉHARDT, 2001). Os dados de
(08) e v i d e n c i a m que não há q u a l q u e r t i p o de m o d i f i c a ç ã o e s t r u t u r a l em r e l a ç ã o
à base - u m dissílabo paroxítono sem coda. E s t r u t u r a s menos marcadas c o n s t i t u -
em t e n d ê n c i a nesse t i p o de R e d u p l i c a ç ã o , u m a vez que o processo opera u n i c a -
m e n t e c o m f o r m a s v e r b a i s cuja 3 pessoa t e r m i n e e m v o g a l ( s e g u n da c o l u n a de
1

08).

Alfa, São Faulo,4S(l):9-28,2304 15


(08) pisca-pisca *retém-retém
bole-bole *advém-advém
pinga-pinga *quer-quer
raspa-raspa *corrói-corrói

Como a p r e s e n ç a de u m e l e m e n t o e m coda - u m a n a s a l n ã o - e s p e c i f i c a d a
para p o n t o , u m a v i b r a n t e ou u m a s e m i v o g a l a n t e r i o r - b l o q u e i a a o p e r a ç ã o e a
maioria esmagadora das bases vem a ser u m dissílabo paroxítono , é possível a d m i t i r 4

que a c i r c u n s c r i ç ã o escaneia toda a p a l a v r a prosódica para forma r o s u b s t a n t i v o


d e v e r b a l r e d u p l i c a t i v o . O m e c a n i s m o d e r i v a c i o n a l se processa como e m (09) a
seguir. O input i n c l u i a base v e r b a l e o m o r f e m a r e d u p l i c a t i v o , que, na represen-
t a ç ã o a b a i x o , a p a r e c e como p r e f i x o , m u i t o e m b o r a essa escolha seja a r b i t r á r i a
(STRUIJKE, 2000). A circunscrição d e l i m i t a a própria base (uma p a l a v r a prosódica
- CO), pois todos os segmentos do verbo apresentam correspondente no reduplicante .

(09) Input: / RED + BaseV/


^- circunscrição
[O O ] CO
I molde
[a b c d 1

Output

Em (09), a c i r c u n s c r i ç ã o modela u m a p a l a v r a prosódica (CO), cujo c o n t e ú d o


s e g m e n t a i será i n t e i r a m e n t e copiado por RED. As l i n h a s de c o r r e s p o n d ê n c i a que
r e l a c i o n a m o "recheio" do molde com o output e v i d e n c i a m t o t a l i d e n t i d a d e e n t r e
base e r e d u p l i c a n t e , de modo que não há q u a l q u e r discrepância - n e m mesmo de
t r a ç o s - e n t r e esses e l e m e n t o s . Como se vê, a R e d u p l i c a ç ã o de f o r m a s v e r b a i s
r e a l m e n t e pode ser d e f i n i d a como u m t i p o de a f i x a ç ã o , t a n t o do p o n t o - d e - v i s t a
morfossintático (por envolver mudança de classe e por veicular o conteúdo 'iteratividade'),
q u a n t o do p o n t o - d e - v i s t a da posição em r e l a ç ã o à base.
De acordo c o m M c C a r t h y e Prince (1995), r e d u p l i c a n t e s t e n d e m a apresen -
tar e s t r u t u r a s f o n o l o g i c a m e n t e n ã o - m a r c a d a s , levando-se em c o n t a o leque de
possibilidades f o n o t á t i c a s da l í n g u a . Com base nos dados de (08), podemos afir-
5

mar que a Reduplicação bane sílabas finais travadas, em favor de abertas, e incide
b a s i c a m e n t e em pés binários com c a b e ç a à esquerda. E s t r u t u r a s 'CV.CV - as que
e m e r g e m na f o r m a ç ã o de s u b s t a n t i v o s d e v e r b a i s r e d u p l i c a t i v o s - são i n d i s c u t i -
v e l m e n t e ó t i m a s em p o r t u g u ê s: n e n h u m a o u t r a f o r ma da língua pode ser menos

'Aspoucasformasmonossilábicasfcai-caOetn^
problema marginal nessa análise. De qualquer forma, levandoem conta os resultados de Araújo (2000), 90% dos casos de reduplicação
em verbos incidem em bases dissilábicas.

5
Emoutras palavras, reduplicantes tendem a manifestar apenas um sutx»n]unto de opções fonotáticas permitidas pela língua. A
expressão "emergência do não-marcado" (MCCARTHY: PRINCE, 1994) explicita a idéia de que línguas desenvolvem estruturas não-
marcadas nos contextosem que a influência da fidelidade não é tão imperativa.

16 Alfa, SãoPaulo, 48(1): 9-28,2C04


marcada que u m dissílabo p a r o x í t o n o c o n s t i t u í d o de s í l a b a s a b e r t a s.
A R e d u p l i c a ç ã o u t i l i z a d a na f o r m a ç ã o de b i p o c o r í s t i c o s t a m b é m pode ser
considerada a f i x a ç ã o , mas difere da e n c o n t r a d a em verbos por e n v o l v e r u m me-
canismo t r a n s d e r i v a c i o n a l (McCARTHY; PRINCE, 1995). Nesse caso, a s í l a b a tô-
nica do p r e n o m e é m a p e a d a pela c i r c u n s c r i ç ã o e, u m a vez s a t i s f e i t a s as C o n d i -
ções de Boa-Formação Silábica, passa a funciona r como base para a Reduplicação,
de modo que o reduplicante guarda mais semelhança com o molde que com o antropônimo
p r o p r i a m e n t e d i t o . Vejam-se os dados de (10):

(10) André > Dedé Artur > Tutu J o s é > Zezé Sueli > Lili
Carlos > C a c á Glória > Gogó Nílton> Nini Vivian > Vivi
Alberto>Bebé Augusto>Gugu J o s e f i n a > Fifi Valquíria> Kiki
A n g é l i c a > Gegé Américo Memé Fátima > Fafá

Em todos os exemplos de (10), o hipocorístico apresenta a mesma sílaba tônica


que o a n t r o p ô n i m o c o r r e s p o n d e n t e . Essa s í l a b a , no e n t a n t o , não g u a r d a i d e n t i -
6

dade absoluta com a do prenome, uma vez que não preserva a coda ('Artur' > 'Tutu')
ou o onset complexo ('Glória' > 'Gogó') da p a l a v r a - m a t r i z . Como na Reduplicação
de verbos, efeitos de m a r c a ç ã o g o v e r n a m o conteúdo s e g m e n t a l do r e d u p l i c a n t e ,
que, nesse caso, deverá apresentar, n e c e s s a r i a m e n t e, o f o r m a t o CV. Nos verbos,
as Condições de M a r c a ç ã o a t u a m no próprio input, b l o q u e a n d o bases que conte -
n h a m s í l a b a s t r a v a d a s ou pés m o n o s s i l á b i c o s . Nos h i p o c o r í s t i c o s , por sua vez,
tais c o n d i ç õ e s a g e m sobre uma f o r m a de output: o m o l d e .
Ao contrário do redobro de formas verbais, a Reduplicação e m hipocorísticos
é processada em dois momentos diferentes. Primeiramente, a circunscrição prosódico
reduz a p a l a v r a - m a t r i z ao t a m a n h o de u m a s í l a b a , como se vê em (11) a b a i x o .
Essa s í l a b a é p o s t e r i o r m e n t e a v a l i a d a pelas C o n d i ç õ e s de M a r c a ç ã o (não c o m -
plexidade no onset; não coda) e passa a ser base para a afixação de RED. Na nominalização
de verbos, a c i r c u n s c r i ç ã o f u n c i o n a como u m alvo, para o q u a l s e g m e n t o s meló-
dicos são mapeados. Na f o r m a ç ã o de h i p o c o r í s t i c o s , d i f e r e n t e m e n t e , a c i r c u n s -
crição v e m a ser u m d e l i m i t a d o r prosódico q u e impõ e m i n i m a l i d a d e à p a l a v r a -
matriz.
(11) Input: /Base/
I ^~ c i r c u n s c r i ç ã o ( C o n d i ç õ e s de M i n i m a l i d a d e :
molde / i /O restrito r de palavr a prosódica)
Condições de Marcação |
('complex; não coda) /RED + / lül
[ a b i

Output j a b

6
Há casos de reduplicação em que a sílaba levada para o molde não é a tônica, comodemonstradoem Gonçalves (2004). Hipocorísticos
comoVavá' (de'Valdemar'), 'Vivi' (de'Violeta')e'Lulu'(de'Luciana')são formados a partir da primeira sílaba do antropônimo.
Somente um modelo baseado em rest nçõas pode dar conta das variações encontradas na formação de hipocorísticos, o que é feito
em Gonçalves (2004). Dados como esses não foram considerados por ora.

Alfa, São Faulo,43(l):&-28,2004 17


Nas formas verbais, a c i r c u n s c r i ç ã o faz u m m a p e a m e n t o c o m p l e t o da base
e leva para u m alvo (o molde) todos os segmentos u t i l i z a d o s por RED. Em (11), ao
c o n t r á r i o , C o n d i ç õ e s de M i n i m a l i d a d e a t u a m no input ( p r e n o m e ) , g e r a n d o u m
output (molde), que, por sua vez, passa a ser o input sobre o qual atuarão as Condições
de Boa-Formaçã o Silábica f o r m u l a d a s em (12) a seguir. É nesse m o m e n t o da d e r i -
vação que aparece RED, cuja tarefa é r e p r o d u z i r a base por c o m p l e t o , l e v a n d o ao
output f i n a l .

(12) C o n d i ç õ e s s o b r e o m o l d e : A s í l a b a do m o l d e d e v e a p r e s e n t a r o f o r m a -
to CV, de modo que não são p e r m i t i d o s onsets
c o m p l e x o s ou codas.

Pela r e p r e s e n t a ç ã o precedente (11), somos forçados a i n t e r p r e t a r o proces-


so como t r a n s d e r i v a c i o n a l (McCARTHY; PRINCE, 1990), u m a vez que há necessi-
dade de u m nível i n t e r m e d i á r i o e n t r e base e p r o d u t o : o m o l d e é a fôrma g e r a d a
pela c i r c u n s c r i ç ã o , mas t a m b é m a f o r m a (1) a ser r e g u l a d a pelas C o n d i ç õ e s de
M a r c a ç ã o e (2) sobre a q u a l a t u a o m o r f e m a r e d u p l i c a t i v o .
C o n c l u i n d o , a R e d u p l i c a ç ã o , apesar de c i r c u n s c r i t i v a , e n v o l v e a f i x a ç ã o .
Essa a f i x a ç ã o é " d i f e r e n t e " , nos t e r m o s de S t r u i j k e (2000), p o r q u e não possu i o
esqueleto CV e a melodia fonêmica. O reduplicante, por não apresentar especificação
s e g m e n t a i , t o m a emprestado da base todos os seus elementos, i n c l u i n d o a e s t r u -
tura silábica e a estrutura melódica.

O formato do truncamento e da hipocorização

O T r u n c a m e n t o e a Hipocorização se assemelham por p r o m o v e r e m d i m i n u i -


ção no corpo tônico da p a l a v r a - m a t r i z , mas não p o d e m ser c o n s i d e r a d o s a f i x a -
ção, no sentido e s t r i t o do t e r m o , pelo fato de a porção copiada não se a d j u n g i r ao
m o l d e . D i f e r e n t e s da R e d u p l i c a ç ã o , esses processos " s e p a r a m u m a s e q ü ê n c i a
da base" (CABRÉ, 1994, p.4, grifo nosso), mas são b a s t a n t e d i f e r e n t e s em f o r m a e
em função, de modo que não considero a Hipocorização u m t i p o de T r u n c a m e n t o ,
como s u g e r e m , e n t r e o u t r o s , C o l i n a (1996) e Pineros (2000).
Do ponto-de-vista morfoprosódico, quatro são as diferenças entre Truncamento
e Hipocorização: (a) a (não)formação de palavras mínimas, (b) a (não)superficialização
de e s t r u t u r a s marcadas, (c) a ( n ã o ) e x i s t ê n c i a de a f i x o de r e d u ç ã o e, por f i m , (d)
o t i p o de c i r c u n s c r i ç ã o u t i l i z a d o no processo ( p o s i t i v a ou n e g a t i v a ) .
Em primeiro lugar, a Hipocorização default (GONÇALVES, 2001) sempre isola 7

u m a p a l a v r a m í n i m a na língua, de modo que o h i p o c o r í s t i c o n u n c a e x t r a p o l a o


l i m i t e de duas s í l a b a s ( c o l u n a 1, de 13). O T r u n c a m e n t o , ao c o n t r á r i o , t e n d e a
f o r m a r t r i s s í l a b o s (coluna 2).

7
Para Gonçalves (2001), esse sistema de Hipocorização é o acionado primeiramente. Restrições prosódicas (ausência de onset na
penúltima sílaba ou estruturas silábicas mais complexas) podem levai aos demais sistemas (Reduplicação à esquerda ('Dudu', de
'Eduardo', e 'Lelê', de Leandro) ou à direita da base ('Dedé', de 'André', e 'Teteu', de 'Mateus') e parsing à esquerda ( 'Edu', de
'Eduardo', e 'Rafa', de 'Rafael')).

18 Alfa, SãoFaulo, 48 (1): 9-28,20O4


A u g u s t o > Guto Delegado > Delega
Filomena > Mena Salafrário > Salafra
Irineu > Neu Baterista > Batera
Isabel >. Bel Vagabunda > Vagaba
Fabrício > Bico C o m u n i s ta > Comuna
Débora > Deba Marginal > Margina

O processo de H i p o c o r i z a ç ã o se i n i c i a c o m a d e f i n i ç ã o de u m domínio so-


bre a p a l a v r a - m a t r i z . Dois p a r â m e t r o s regem essa d e l i m i t a ç ã o : (a) o do pé (a for-
m a ç ã o de u m t r o q u e u m o r a i c o - ( l n n l ) ) e (b) o da d i r e c i o n a l i d a d e (da d i r e i t a
para a esquerda do a n t r o p ô n i m o - E f D # # ) . Esses p a r â m e t r o s d e f i n e m a c i r -
c u n s c r i ç ã o p o s i t i v a , j á q u e o c o n t e ú d o s e g m e n t a i d e s c a r t a d o é o q u e f i c a fora
desse domínio (McCARTHY; PRINCE, 1990), Portanto, o m a t e r i a l q u e aparece no
hipocorístico é e x a t a m e n t e a q u e le r a s t r e a do pela c i r c u n s c r i ç ã o prosódica , q u e
atua no s e n t i d o de isolar u m a p a l a v r a m í n i m a : u m t r o q u e u m o r a i c o é copiado do
domínio-fonte (a p a l a v r a - m a t r i z ) para o domínio-alvo (o m o l d e ) . Vejam-se m a i s
dados e m (14):

(14) Felipe > Lípe Raquel > Quél Alexandre > Xánde
Antônio > Tónho Isabel > Bél Edivaldo > Valdo
A u g u s t o > Gúto Marímar > Már F e r n a n d o > Nándo
Filomena > Ména N i c o l a u > Láu Reginaldo > Náldo
Roberto > Beto M i g u e l > Guél Rosimeire > Méire

A v o g a l t ô n i c a do pé mais à d i r e i t a c o n s t i t u i a p r i m e i r a m o r a do t r o q u e u .
H a v e n d o coda o u d i t o n g o pesado (BISOL, 1989) na s í l a b a f i n a l , o t r o q u e u s e r á
m o n o s s i l á b i c o , c o m o e m ' Q u e l ' ('Raquel') e ' L a u ' ( ' N i c o l a u ' ) . Se n ã o h o u v e r r a -
mificação no núcleo o u na r i m a da sílaba f i n a l , ao contrário, t e r - s e - á u m t r o q u e u
d i s s i l á b i c o , c o m o e m ' L e n e ' ( ' M a r i l e n e ' ) e ' X a n d e ' ( ' A l e x a n d r e ' ) . Os l i m i t e s da
circunscrição prosódica sempre c o i n c i d e m com os l i m i t e s da sílaba, pois (i) onsets
nunca d e s g a r r a m de suas r i m a s , (ii) n ú c l e o s n ã o s ã o apagados o u inseridos, (iii )
nem codas s ã o ressilabificadas. E m (15), aparece f o r m a l i z a d o o p r o c e d i m e n t o da
c i r c u n s c r i ç ã o prosódica. Tanto e m ' M a r i l e n e ' q u a n t o e m ' R a q u e l ' , a m a r g e m d i -
reita da base c o i n c i d e c o m a m a r g e m d i r e i t a da c i r c u r s c r i ç ã o prosódica e, c o n -
s e q ü e n t e m e n t e , com a m a r g e m d i r e i t a do molde para a formação do hipocorístico.
Da d i r e i t a para a esquerda, forma-se u m pé b i m o r a i c o , que separa a s e q ü ê n c i a da
base a ser u t i l i z a d a na H i p o c o r i z a ç ã o .

(15) I I
/ \ / \

Ma. r i . [le. ne ] Ra . [ q u e 1 1
E<r D ## E <- D # #

No T r u n c a m e n t o , a c i r c u n s c r i ç ã o m a p e i a u m a s e q ü ê n c i a que n ã o aparece-

Ma, São Paulo,48(1): 9-28,2004 19


rá na forma diminuta. Em outras palavras, a circunscrição é negativa, pois o conteúdo
segmentai fora do domínio é o que será a p r o v e i t a d o na forma t r u n c a d a . Vejam-se
os dados e m (16), a seguir. D i f e r e n t e da Hipocorização , o T r u n c a m e n t o não leva
em c o n t a o a c e n t o l e x i c a l da p a l a v r a - m a t r i z e sempre f o r m a p a r o x í t o n a s , i n d e -
p e n d e n t e m e n t e da p a u t a a c e n t u a i da base.

(16) japa (japonês) sapa ( s a p a t ã o ) trava (travesti)


c o m u n a ( c o m u n i s t a ) sarja (sargento) vagaba (vagabunda)
frila (free-lancer) granfa(grã-fino) malcra ( m a l - c r i a d o )

Os dados de (16) revela m que o T r u n c a m e n t o opera de modo s e m e l h a n t e em


nomes simples e em compostos que f u n c i o n a m como u n i d a d e vocabular, do p o n -
t o - d e - v i s t a fonológico. C o n s t r u ç õ e s como ' g r a n f a ' e ' f r i l a ' , o r i g i n á r i a s dos c o m -
postos 'grã-fino' e 'free-lancer', r e s p e c t i v a m e n t e , a p r e s e n t a m o mesmo c o m p o r -
t a m e n t o de p a l a v r a s como ' t r a v a ' e 'sarja', f o r m a d a s a p a r t i r dos nomes s i m p l e s
' t r a v e s t i ' e ' s a r g e n t o ' , nesta o r d e m . E m t o d os os casos, forma-se u m pé binário,
da esquerda para a d i r e i t a , do q u a l s e r á a p r o v e i t a d o s o m e n t e o p r i m e i r o onset
que, a l i n h a d o à voga l -a, constituirá a última sílaba da p a l a v r a b r a q u i s s e m i z a d a .
Nesse s e n t i d o , a r e p r e s e n t a ç ã o s u b j a c e n t e do T r u n c a m e n t o pode ser a n a l i s a d a
como u m a s e q ü ê n c i a de s í l a b a s v a z i a s: a ú l t i m a é i n t e i r a m e n t e d i s s o c i a d a e a
p e n ú l t i m a t e m sua coda d e s c a r t a d a , sendo c o p i a d o s o m e n t e o onset - seja ele
simples, como e m 'Maraca', ou complexo, como em 'salafra'. As s í l a b a s a n t e r i o r e s
(uma ou duas) constituirão p a r t e da forma que servirá de base para a a f i x a ç ã o de
-a. Em t e r m o s de r e p r e s e n t a ç ã o , t e r í a m o s o s e g u i n t e :

^~ circunscrição negativa
(17) (CJ) Ö ü 0~ . parâmetro do pé: forme um pé binário |o a])

I
• • /\D OJ |_R I
. parâmetro da d i r e c i o n a l i d a d e : E

da Forma de Base, após d e s a s s o c i a ç ã o


D ##
. parâmetro do a l i n h a m e n t o : alinhe -a à direita

Forma de Base D e s a s s o c i a ç ã o + -a

Ex.: ba. te. r (is. ta) +-a = batera


ves. t i . b (u. lar ) +-a = vestiba
fia. g r ( a n . te) +-a = flagra
sa. p (a. tão) + -a = sapa

Essa análise preserva a idéia de que morfemas possuem representações subjacentes.


Nesse s e n t i d o , f o r m a ç õ e s t r u n c a d a s s e r i a m c a r a c t e r i z a d as por u m a r e p r e s e n t a -
ç ã o s u b e s p e c i f i c a d a , q u e consiste na p r e s e r v a ç ã o de todo o m a t e r i a l fônico, da
8

8
lai procedimento analítico, conforme McCarthy (1986), consiste em omitir informações na representação subjacente, preenchidas
mais tarde, com o propósito de se obter a representação de superfície. Dessa maneira, a presença de uma estrutura prosódica nâo-
preenchida engatilharia um processo automático de cópia dos segmentos da base.

20 Alfa, Sãoftulo,48(l): 9-28,2004


esquerda p a r a a d i r e i t a , a t é o onset do pé m a i s à d i r e i t a do i t e m d e r i v a n t e , i n -
cluindo-o, já que o m a t e r i a l após esse onset é c i r c u n s c r i t o n e g a t i v a m e n t e . Esse
padrão geral só é violado q u a n d o a p e n ú l t i m a s í l a b a da p a l a v r a - m a t r i z não apre-
senta o ataque. Por exemplo, em 'confa', f o r m a d o a p a r t i r de ' c o n f i a n ç a ' , não são
copiados os s e g m e n t o s que i m e d i a t a m e n t e precede m o pé binário mais à d i r e i t a
da p a l a v r a . Ao c o n t r á r i o , esse pé é i n t e i r a m e n t e descartado, fazendo c o m que a
circunscrição avance para a esquerda e p r o m o v a a cisão em ' f i ' ( c o n . f [ i . a n . ç a) +
-a). Dados como esse r e v e l a m que a sílaba f i n a l do T r u n c a m e n t o deve necessari-
amente a p r e s e n t a r onset, em d e c o r r ê n c i a da a f i x a ç ã o de uma v o g a l .
Como se pode perceber, os dois fenômenos discutidos nesta sub-seção apresentam
diferenças consideráveis. A Hipocorização forma palavras mínimas, leva em conta
o a c e n t o l e x i c a l da base o não faz uso de q u a l q u e r t i p o de a f i x o . Além disso, a
c i r c u n s c r i ç ã o prosódica age p o s i t i v a m e n t e , l e v a n do a porção r a s t r e a d a a cons-
t i t u i r o hipocorístico. O T r u n c a m e n t o , ao contrário, não f o r m a p a l a v r a s m í n i m a s
e é cego à p a u t a a c e n t u a i da base. A c i r c u n s c r i ç ã o u t i l i z a d a é a n e g a t i v a , o que
faz com que a s e q ü ê n c i a m a p e a d a seja d e s c a r t a da para fins de a d j u n ç ã o de u m
s u f i x o : a v o g a l -a. O u t r a d i f e r e n ç a e n t r e os processos s ã o os e f e i t o s de m a r c a -
ção, d i s c u t i d o s a seguir.
Por se assemelhar à l i n g u a g e m i n f a n t i l , no s e n t i d o de p r i v i l e g i a r M a r c a ç ã o
sobre Fidelidad e (GONÇALVES, 2001), a Hipocorização se s u j e i t a a Condições de
Boa-Formação Silábica, o que não acontece com o Truncamento. De fato, os exemplos
de (18) m o s t r a m h a v e r d i f e r e n ç a s e n t r e o m a t e r i a l c i r c u n s c r i t o e o q u e e f e t i v a -
mente aparece nos h i p o c o r í s t i c o s . E s t r u t u r a s s i l á b i c a s menos c o m p l e x a s cons-
t i t u e m tendência nesse tipo de formação, que privilegia sílabas destravadas (coluna
1), onsets s i m p l e s ( c o l u n a 2), a l é m de não se i n i c i a r e m por v o g a i s ( « o l u n a 3).

(18) Francisco > C h i c o Alexandre > Xánde M a r i a n a > Nana


Roberto > Beto E u c l i d e s > Kíde Joelma > Mélma
A u g u s t o > Guto Gertrudes > Túde Eduardo > Dado

D i s c r e p â n c i a s s e g m e n t a i s e n t r e moldes e h i p o c o r í s t i c o s d e v e m ser e n t e n -
didas como r e s u l t a n t e s do p a p e l d e s e m p e n h a d o pelas Condições de Boa-Forma-
ção Silábica (11). Como os r e d u p l i c a n t e s , t a m b é m os hipocorístico s b a n e m q u a l -
quer tipo de complexidade no onset, de modo que seqüências CC são sempre simplificadas.
Nos t r u n c a m e n t o s , há tolerância q u a n t o à p r e s e n ç a de ataques complexos, como
se vê em (19). Dessa maneira, discordo de Araújo (2000), para q u e m o T r u n c a m e n to
é u m t i p o de processo morfológico em que emergem e s t r u t u r a s n ã o - m a r c a d a s . No
meu entender, o slogan "emergênci a do não-marcado" (McCARTHY; PRINCE, 1994)
somente faz s e n t i d o nos casos de R e d u p l i c a ç ã o e Hipocorização. O T r u n c a m e n t o
- que não n e c e s s a r i a m e n t e forma pés b i n á r i o s e s í l a b a s a b e r t a s e não i m p e d e a
p r e s e n ç a de onsets c o m p l e x o s - é c a r a c t e r i z a d o por p r i v i l e g i a r Fidelidade sobre
M a r c a ç ã o , sendo m u i t o mais fiel à base, preservando u m a s e q ü ê n c i a da p a l a v r a -
matriz que, levando em conta a ação da analogia (BASÍLIO, 1998), pode ser reinterpretada
como raiz.

Alfa, SãoPauio,48 (1): 9-28,20C4 21


(19) salafrário > salafra free-lance r > f r i l a
f l a g r a n t e > flagra m a l - c r i a d o > malcra
grã-fino > g r a n i a e s t r a n g e i r o > estranja

De fato, a supressão encontrada nos casos de T r u n c a m e n t o é sempre de u m a


s e q ü ê n c i a fônica t o m a d a como a f i x o . Nas p a l a v r as de Basílio (1987, p. 38), t e m -
9

se esse processo " q u a n d o u m a p a l a v r a é i n t e r p r e t a d a como sendo u m a c o n s t r u -


ç ã o base -I- a f i x o e e n t ã o o a f i x o é r e t i r a d o p a r a se f o r m a r u m a o u t r a p a l a v r a ,
c o n s t i t u í d a apena s da suposta base". A porção s u p r i m i d a pode não a p r e s e n t a r
q u a l q u e r status morfológico, não sendo, n e c e s s a r i a m e n t e , u m s u f i x o ( ' v e s t i b -
ular', 'sap-atão', 'cerv-eja' e 'Marac-anã', entre outros). Do ponto-de-vista cognitivo,
no entanto, é possível analisar o Truncament o como processo de reanálise (ALVES,
2002), sendo a c i r c u n s c r i ç ã o n e g a t i v a i n t e r p r e t a d a como s u f i x o e o q u e r e s t a ,
após a d e l i m i t a ç ã o , como base. Tem-se, p o r t a n t o , mais u m a d i f e r e n ç a , desta fei-
ta morfológica , e n t r e Hipocorização e T r u n c a m e n t o .

O formato do Blend

Mesclas L e x i c a i s têm sido i n t e r p r e t a d a s como u m a s u b c a t e g o r i a de c o m -


postos, u m a vez que os m o r f e m a s que p a r t i c i p a m de sua f o r m a ç ã o são l i v r e s ou
potencialmente livres (LAUBSTEIN, 1999; PINEROS, 2000; S A N D M A N N , 1990). Como
morfemas l i v r e s e q u i v a l e m a palavras morfológicas (MWds), a d m i t e - s e que mes-
clas e compostos c o m b i n a m MWds para gerar u m novo lexema. Esse novo lexema,
dessa forma, c o n s t i t u i uma M W d complexa, representada por M W d * , como em (20)
a seguir:

(20) MWd*

MWd MWd

Nos Blends, a combinação de palavras promove r u p t u r a na ordem linear estrita


por meio de u m ovelapping, que leva a uma c o r r e s p o n d ê n c i a de u m - p a r a - m u i t o s
e n t r e f o r ma de base e form a cruzada. Como r e s u l t a d o , u m a das bases é realizada
s i m u l t a n e a m e n t e c o m u m a p a r t e da o u t r a . Veja-se (21) a b a i x o :

9
A grande maioria dos sufixos do português apresenta o mesmo formato da circunscrição negativa: um dissílabo iniciado por vogal
que, com o onset da base, formará a penúltima sílaba da palavra derivada.

22 Alfa, São Paulo, 43(1): 9-28,2004


Em l i n h a s g e r a i s , Mesclas p o d e m ser e n t e n d i d a s c o mo " a j u n ç ã o de dois
vocábulos, sendo que o segundo é usado para c o m p l e t a r u m a p a r t e do p r i m e i r o "
(LAUBSTEIN, 1999, p . l ) ; dessa f o r m a , d i s t i n g u e m - s e de c r i a ç õ e s a n a l ó g i c a s (22),
aqui i n t e r p r e t a d a s como s u b s t i t u i ç õ e s s u b l e x i c a i s , por e n v o l v e r e m a i n c o r p o r a -
ção de uma palavra invasora na chamada palavra-alvo. A palavra-alvo (base) apresenta
uma porção fonológica que c o i n c i d e com a e n c o n t r a d a n u m a f o r m a de l i v r e - c u r -
so da língua. Em ' m a c u m b a ' , por e x e m p l o , a s e q ü ê n c i a ' m á ' , que não a p r e s e n t a
q u a l q u e r status m o r f o l ó g i c o , é i d ê n t i c a ao a d j e t i v o ' m á ' . A p a l a v r a i n v a s o r a é
p r o j e t a d a a p a r t i r dessa s e q ü ê n c i a , l e v a n d o consigo suas e s t r u t u r a s m é t r i c a e
silábica. 'Boa' p r o m o v e o c o n s t i t u i n t e ' m a ' à c o n d i ç ã o de r a d i c a l , s u b s t i t u i n d o
s u b l e x i c a l m e n t e essa s e q ü ê n c i a .

(22) m ã e d r a s t a (madrasta tão boa como u m a mãe)


bebemorar (comemorar à base de bebidas)
t r i c h a ( h o m o s s e x u al a f e m i n a d o em demasia; três vezes b i c h a )
h a l t e r o c o p i s m o ( l e v a n t a m e n t o de "copos" c o m b e b i d a a l c o ó l i c a )

Blends não o p e r a m como c r i a ç õ e s a n a l ó g i c a s , não p o d e n d o ser analisados


como s u b s t i t u i ç õ e s s u b l e x i c a i s . A Mesclagem, na verdade, v e m a ser o r e s u l t a d o
da fusão de dois v o c á b u l o s que a t u a m e m p l a n o s a l t e r n a t i v o s , ao c o n t r á r i o das
formações a n a l ó g i c a s , cujas bases o p e r a m em planos c o m p e t i t i v o s . Nesse último
caso, o a l v o é apenas u m a das p a l a v r a s , e a i n t e r s e ç ã o das bases é ocasiona da
pela r e a n á l i s e i n t e n c i o n a l da f o r m a - a l v o .
Cruzamentos são, p o r t a n t o , j u n ç õ e s de duas palavras: p a l a v r a 1 (PI) e pala-
vra 2 (P2). O p o n t o de q u e b r a (local e m que essa fusão ocorre) p e r m i t e l e v a n t a r
a l g u m a s c o n c l u s õ e s acerca da e s t r u t u r a l e x i c a l das Mesclas. Em l i n h a s gerais,
há dois padrões para Blends no p o r t u g u ê s do Brasil: (a) u m para os casos e m que
PI e P2 a p r e s e n t a m a l g u m t i p o de s e m e l h a n ç a fônica e (b) o u t r o para aqueles em
que P I e P2 são t o t a l m e n t e d e s s e m e l h a n t e s do p o n t o - d e - v i s t a s e g m e n t a i . Essa
( d e s ) s e m e l h a n ç a fônica d e t e r m i n a r á o p o n t o de q u e b r a .
Se as duas p a l a v r as e n v o l v i d a s são m o n o s s í l a b a s , a u n i d a d e após a q u e b r a
pode ser i d e n t i f i c a d a como r i m a . A mescla de ' p a i ' c o m ' m ã e ' , o r i g i n a n d o ' p ã e '
(pai zeloso ou p a i que c u i d a do f i l h o sem a p r e s e n ç a da m ã e ) , separa o onset da
rima, a p r o v e i t a n d o o ataque de P I e a r i m a de P2, como se vê na r e p r e s e n t a ç ã o a
seguir.

(23) p (a r m ) a e

IV I V
O R O R

a e

Dados como (23) nos l e v a m a i d e n t i f i c a r a r i m a como u n i d a d e de produção


nos Blends. Contudo, existe o p r o b l e m a de detectar q u a l é a porção das bases que

Alfa, SáoPaulo,48(l): 9-28,2004 23


vêm antes e depois da q u e b r a . Bastant e clara nos m o n o s s í l a b o s , essa s i t u a ç ã o é
mais d e l i c a d a no caso de v o c á b u l o s m a i o r e s . As p a l a v r a s 'saco' e ' p i c o l é ' a p r e -
s e n t a m u m a sílaba em c o m u m ('co'). Essa s e m e l h a n ç a d e t e r m i n a não só a i n t e r -
s e ç ã o das palavras, como t a m b é m a posição das bases no i n t e r i o r da Mescla. Em
d e c o r r ê n c i a de a sílaba 'co' ser á t o n a f i n a l em 'saco', o Blend p r e s e r v a r á o acen-
to de ' p i c o l é ' , fazendo com que essa f o r m a f u n c i o n e como P2 ( c a b e ç a l e x i c a l do
C r u z a m e n t o ) e seja r e s p o n s á v e l pela p a u t a a c e n t u a i da nova f o r m a ç ã o ( ' s a c o l é '
- picolé em saco). Caso c o n t r á r i o , a m i s t u r a não d a r i a c e r t o . R a c i o c í n i o seme-
l h a n t e pode ser e n c a m i n h a d o à j u n ç ã o de 'política' com ' s a c a n a g e m ', cujo Blend
é ' p o l i t i c a n a g e m ' . A p r e s e n ç a de u m a s í l a b a c o m u m ('ca') d e t e r m i n a o p o n t o de
q u e b r a : como essa s í l a b a é á t o n a em ' p o l í t i c a ' , P2, a c a b e ç a l e x i c a l ( n ú c l e o da
Mescla), s e r á ' s a c a n a g e m ' , que l e v a r á seu a c e n t o l e x i c a l p a r a a nova p a l a v r a ,
como se vê em (24):
(24) p o l í t i c a s a c a n a g e m

p o 1 i t i c a n a g e m

Nos casos em que as bases são totalmente dessemelhantes, não haverá descontinuidade
morfológica. A quebra será feita com base no melhor rastreamento das bases (maior
g r a u de i d e n t i d a d e ) . Por exemplo, ' p o r t u g u ê s' e ' e s p a n h o l' não a p r e s e n t a m q u a l -
quer s e g m e n t o em c o m u m , do p o n t o - d e - v i s t a da e s t r u t u r a ç ã o s i l á b i c a . Nesse
10

caso, a q u e b r a s e r á f e i t a nas t ô n i c a s , sendo a p r o v e i t a d a s as duas s í l a b a s i n i c i -


ais de ' p o r t u g u ê s ' e a sílaba f i n a l de ' e s p a n h o l ' , r e s u l t a n d o em ' p o r t u n h o l ' (mis-
t u r a de português com espanhol). A o u t r a possibilidad e ('espaguês'), por ser mais
opaca, d i f i c i l m e n t e l e v a r i a às bases que m o t i v a r a m o processo. O mesmo aconte-
ce com ' s e l e m e n g o ' (o F l a m e n g o , t i m e de f u t e b o l carioca, c o m p a r a d o à s e l e ç ã o
b r a s i l e i r a ) , ' c a r i ú c h o ' ( g a ú c h o que v i v e m u i t o t e m p o no Rio e já se c o n s i d e r a
carioca) e ' s h o w m í c i o ' (comíci o c o m a p r e s e n t a ç ã o de s h o w s m u s i c a i s ) .
O que segue ou o que precede o p o n t o de q u e b r a n e m sempre é u m c o n s t i -
t u i n t e morfológico, fazendo c o m que o Blend seja v i s t o como f e n ô m e n o d i s t i n t o
da Composição, cujo e n c a d e m e n t o preserva a i n t e g r i d a d e das bases, mesmo que
a t u e u m processo fonológico, como a crase ( ' a g u a r d e n t e ' ) , que m o d i f i q u e u m a
delas. A despeito das s i m i l a r i d a d e s m o r f o s s e m â n t i c a s (SILVEIRA, 2002), há u m a
diferença c r u c i a l e n t r e Blends e compostos: nos compostos r e g u l a r e s " , cada u m
dos f o r m a t i v o s projet a sua própria p a l a v r a prosódica (PWd), e n q u a n t o nos Blends
os dois f o r m a t i v o s l e v a m a u m a só PWd, como se vê e m (25):

10
Asemelhança fônica deve ser interpretada não como a mera presença de um segmento comum, mas como uma semelhança em
termos de posição na estrutura da sílaba. Assim, embora 'show' e 'comício' apresentem uma vogal média posterior em comum (/o/
), essa identidade não é estrutural, uma vez que as rimas são diferentes: na primeira palavra, arimaé ramificada (/ow/), enquanto
na segunda a rima é constituída unicamente da vogal média (/o/). Dessa forma, 'show' e 'comício' são interpretadas como
dessemelhantes, sendo o Blend formado a partir do padrão 2 ('showmício').

11
De acordo com Villalva (2000), Rio-Torto (1998) e Silveira (2002) não são produtivos os chamados compostos aglutinados, cujo
produto leva a uma só palavra prosódica.

24 Alfa, São Paulo, 48 (1): 9-28,2004


ba ba o vo

Em r e s u m o , a M e s c l a g e m L e x i c a l é u m processo de f o r m a ç ã o de p a l a v r a s
que acessa i n f o r m a ç õ es fonológicas, como (a) a posição do a c e n t o de P I e P2, (b)
o g r a u de s e m e l h a n ç a f ô n i c a e n t r e as bases e (c) a n a t u r e z a e s t r u t u r a l da se-
qüência c o m p a r t i l h a d a pelas formas a c o m b i n a r . Por esses m o t i v o s , deve ser vis-
ta não c o mo u m caso de s u b s t i t u i ç ã o s u b l e x i c a l , c o m o as c r i a ç õ e s a n a l ó g i c a s ,
mas como uma fusão que leva à c o n c a t e n a ç ã o não-linear de bases, o que faz c o m
que essa o p e r a ç ã o se d i f e r e n c i e da C o m p o s i ç ã o , cuja l i g a ç ã o s e m p r e se dá por
encadeamento, seja ele por justaposição ('baba-ovo', bajulador) ou por aglutinaçã o
('girassol', t i p o de f l o r ) .

Palavras Finais

No decorrer do t e x t o , frisei que os processos morfológicos a q u i e x a m i n a d o s


d i f e r e m dos d e m a i s (Composição, Flexão e D e r i v a ç ã o ) por não e n v o l v e r e m s i m -
ples adjunção sintagmátíca de formativos a bases. Tendo em vista a falta de encadeamento,
propus que esses mecanismos sejam analisados como não-concatenativos em português.
Apesar de s e m e l h a n t e s nesse aspecto, t a i s o p e r a ç õ e s d i f e r e m e m vários o u t r o s
(p. ex., f u n ç ã o e f o r m a t o morfoprosódico), o que me l e v o u a d i s t r i b u i - l a s e m t r ê s
grupos: (a) Afixação Não-Linear (Reduplicação), (b) E n c u r t a m e n t o ( T r u n c a m e n t o
e Hipocorização) e (c) Fusão (Siglage m e M e s c l a g e m L e x i c a l ) .
Os três p r i m e i r o s f e n ô m e n o s se a s s e m e l h a m por r e q u e r e r e m m a p e a m e n t o
melódico a p a r t i r de uma ú n i c a forma de base: uma s e q ü ê n c i a da p a l a v r a - m a t r i z
é c o p i a d a e a f i x a d a ( R e d u p l i c a ç ã o ) o u passa a f u n c i o n a r c o m o u n i d a d e l e x i c a l
a u t ô n o m a ( T r u n c a m e n t o e H i p o c o r i z a ç ã o ) . Esses processos m a n i p u l a m u m a só
base e podem ser considerados casos de Derivação, no sentido de levar a u m vocábulo
diferente com o redobro (Reduplicação) ou com a supressão de segmentos (Truncamento
e H i p o c o r i z a ç ã o ).
Ao c o n t r á r i o da H i p o c o r i z a ç ã o e do T r u n c a m e n t o , a R e d u p l i c a ç ã o u t i l i z a
a g l u t i n a t i v a m e n t e o conteúdo s e g m e n t a i rastreado pela c i r c u n s c r i ç ã o prosódica.
Por esse m o t i v o , pode ser c o n s i d e r a d a " a f i x a ç ã o d i f e r e n t e " (STRU1JKE, 2000) -
uma a f i x a ç ã o não-linear. T r u n c a m e n t o e Hipocorização s e p a r a m u m a s e q ü ê n c i a
da base, podendo ser vistos como processos de encurtamento. Embora tomem emprestado
do d e r i v a n t e todos os seus e l e m e n t o s , o m a t e r i a l c o p i a d o n u n c a é a d j u n g i d o às
palavras-matrizes.
Os dois últimos f e n ô m e n o s (Blend e S i g l a g e m ), s e m e l h a n t e s e n t r e si, dife-

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rem dos demais por e n v o l v e r e m m a p e a m e n t o de mais de u m a base. No p r i m e i r o
caso ( M e s c l a g e m L e x i c a l ) , u m a p a r t e da p a l a v r a 1 é f u n d i d a c o m u m a p a r t e da
p a l a v r a 2, r e s u l t a n d o n u m a t e r c e i r a f o r m a , cujo c o n t e ú d o f i n a l pode ser i n t e r -
pretado pela soma dos c o n t e ú d o s parciais ('psicogélico' = u m psicólogo e v a n g é -
lico). A S i g l a g em t a m b é m faz uso de mais de u m a p a l a v r a - m a t r i z , mas há m a i o r
d i s t a n c i a m e n t o e n t r e base e p r o d u t o , de modo que os f a l a n t e s m u i t a s vezes não
c o n s e g u e m rastrear a e x p r e s s ã o de onde provém o a c r ô n i m o . U m a vez que pelo
menos duas bases p a r t i c i p a m de sua formação, Mesclas e Siglas p o d em ser i n t e r -
p r e t a d a s como casos de C o m p o s i ç ã o , apesar de as p r i m e i r a s o p e r a r e m c o m , no
máximo, duas p a l a v r a s - m a t r i z es ('gayúcho' = ' g a ú c h o ' + 'gay') e as últimas com
u m númer o que t e n d e a ser s u p e r i o r a dois ('IBGE' - ' I n s t i t u t o Brasileir o de Ge-
o g r a f i a e E s t a t í s t i c a ' ) . Mesclas Lexicais e Siglas se c a r a c t e r i z a m pelo a p r o v e i t a -
mento de pelo menos duas bases, mas, ao contrário da Composição, u t i l i z a m ape-
nas f r a g m e n t o s delas, o que nos leva a c o n c l u i r que não há c o n c a t e n a ç ã o e s t r i -
ta, mas fusão n u m p l a n o m u l t i l i n e a r .
E n q u a n t o Siglagem e Blend quase sempre a p r e s e n t a m função l e x i c a l , t e n -
do o produto a finalidade de nomear uma nova entidade, favorecendo a lexicalização,
hipocorísticos e t r u n c a m e n t o s são sempre utilizados com função expressiva, m u i t o
embora o t i p o de expressividade seja d i f e r e n t e em cada u m . Na Reduplicação, há
casos que e v i d e n c i a m f u n ç ã o l e x i c a l (verbos r e d u p l i c a d o s ) e casos u n i c a m e n t e
com função expressiva, de modo que esse processo se apresenta"como m u l t i f u n c i o n a l
em p o r t u g u ê s (COUTO, 1999).

P o r t a n t o , s ã o b a s i c a m e n t e c i n c o as d i f e r e n ç a s e n t r e os processos (a) de
Afixação Não-Linear (Reduplicação), (b) de Encurtamento (Truncamento e Hipocorização)
e (c) de Fusão ( M e s c l a g e m L e x i c a l e Siglagem) :
(1) os dois p r i m e i r o s g r u p o s têm c o mo input u m a ú n i c a base, a p a r t i r da
q u a l opera a c i r c u n s c r i ç ã o prosódica; os do terceiro, ao contrário, r e q u e r e m pelo
menos duas bases;
(2) as o p e r a ç õ e s dos g r u p o s (a) e (b) podem ser consideradas d e r i v a c i o n a i s ,
ao passo que as do g r u p o (c) devem ser i n t e r p r e t a d a s como casos de c o m p o s i ç ã o ;
(3) os processos do grup o (a) levam o m a t e r i a l rastreado a se a d j u n g i r à forma
de base, o que não a c o n t e c e com os demais;
(4) os mecanismo s do g r u p o (b) não f o r m a m p a l a v r a s novas, haja v i s t a que
o i t e m d e r i v a d o - que pode ser c o n s i d e r a d o s i n ô n i mo do d e r i v a n t e - é m a r c a d o
pela f u n ç ã o expressiva (BASÍLIO, 1987);
(5) os do grupo (c) apresentam função lexical, uma vez que o produto é geralmente
uma nova p a l a v r a na língua.
No decorrer do t e x t o , p r o c u r e i r e f u t a r a tese de que esses "processos m a r -
g i n a i s de f o r m a ç ã o de p a l a v r a s " são i d i o s s i n c r á t i c o s (ALVES, 1990; MONTEIRO,
1987). A regularidade de tais operações provém da integração de primitivos morfológicos
com p r i m i t i v o s prosódicos e, por isso, uma a b o r d a g e m mais compreensiva de tais
fenômenos requer enfoque a p a r t i r da i n t e r f a c e M o r f o l o g i a - F o n o l o g i a . Os proce-
d i m e n t o s a n a l í t i c o s da M o r f o l o g i a Prosódica - moldes e c i r c u n s c r i ç õ e s - possi-
bilitam descrever processos não-concatenativos de modo bastante natural, explicitando

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que eles não c o n s t i t u e m , de fato, " m o r f o l o g i a p u r a " , mas " m o r f o l o g i a fonológica" ,
nas p a l a v r a s de M c C a r t h y (1986).

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