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Eduardo – O capitalismo é
uma máquina de fazer pobres.
Inclusive na Europa. Os pobres
não estão aqui, só. O pobre é
parte integrante do sistema de
crescimento. As pessoas acham
que o crescimento diminui a
pobreza. O crescimento, na
verdade, produz e reproduz a
pobreza. Na medida em que ele
tira gente da pobreza, ele tem
que criar outros pobres no lugar.
O capitalismo conseguiu melhorar a condição de vida do
operariado europeu porque jogou para o Terceiro Mundo as
condições miseráveis. Então, era o operário daqui sendo
explorado para que os pobres operários de lá fossem menos
explorados. Essa oposição que eu fiz entre índio e pobre é,
na verdade, uma crítica direta, explícita, a uma boa parte da
esquerda, a esquerda tradicional, a velha esquerda que está
no poder, que divide o poder por concessão da direita, dos
militares e tal, e é muito voltada para a ideia de
desenvolvimento. Uma coisa era o desenvolvimentismo do
Celso Furtado, naquela época. Acho, inclusive, um insulto à
memória dele. O Celso Furtado estava vivendo uma outra
época, um outro mundo, um outro modelo. E as pessoas
hoje continuam a falar essas palavras de ordem que têm 40,
50, 60 anos, como se fosse a mesma coisa. Mas, qual é o
problema? O problema é que a esquerda de classe média, o
intelectual de esquerda, vê o seu Outro essencialmente
como um pobre. Pobre é uma categoria negativa, né? Pobre
é alguém que se define pelo que não tem. Não tem dinheiro,
não tem educação, não tem oportunidade. Então, a atitude
natural em relação ao pobre, e isso não é uma crítica, é o
ver natural, é que o pobre tem que deixar de ser aquilo.
Para ele poder ser alguma coisa, ele tem que deixar de ser
pobre. Então a atitude natural é você libertar o pobre,
emancipar o pobre das suas condições. Tirá-lo do trabalho
escravo, dar a ele educação, moradia digna. Mas,
invariavelmente, esse movimento tem você mesmo como
padrão. Você não se modifica, você modifica o pobre. Você
traz o pobre para a sua altura, o que já sugere que você está
por cima do pobre. Ao mesmo tempo, você torna o pobre
homogêneo. Sim, porque se o pobre é definido por alguém
que não tem algo, então é todo mundo igual.
E o que é um índio?
E a segunda?
O desespero é um luxo?